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PREPARAÇÃO DE TECIDOS PARA EXAME MICROSCÓPICO O procedimento mais usado no estudo de tecidos é a preparação de cortes histológicos que podem ser estudados com a ajuda de um microscópio. No microscópio de luz (também chamado de microscópio óptico ou fotônico) a imagem pode ser examinada porque um feixe de luz é transmitido através do corte. Considerando que tecidos e órgãos são normalmente espessos demais para permitir a passagem de um feixe de luz, eles devem ser seccionados para se obterem cortes delgados. No entanto, células vivas, camadas muito delgadas de tecidos ou membranas transparentes de animais vivos (por exemplo, o mesentério, a cauda de um girino, a parede de uma bolsa existente na bochecha de hamsters) podem ser observadas diretamente te ao microscópio sem necessidade de seccioná-las. Desta maneira, é possível estudar essas estruturas por longos períodos sob diversas condições fisiológicas ou experimentais. Na maioria dos casos, porém, os tecidos e órgãos devem ser fatiados em seções ou cortes histológicos muito delgados, que são colocados em lâminas de vidro antes de serem examinados. Estas soluções são obtidas a partir de tecidos e órgãos que necessitam sofrer uma série de tratamentos prévios para então poderem ser fatiados por meio de instrumentos de grande precisão chamados micrótomos. Um preparado microscópio ideal deveria ser preservado de tal forma que sua estrutura e composição molecular seriam as mesmas que tinha no corpo Isto é as vezes possível, porém na prática é difícil de realizar, de modo que distorções e perda de componentes, fenômenos que em conjunto são chamados de artefatos, quase sempre estão presentes. Fixação Para evitar a digestão dos tecidos por enzimas presentes no interior de células (autólise) ou por bactérias e para preservar a estrutura e a composição molecular, fragmentos de orglios devem ser tratados antes ou o mais rapidamente possível depois de sua remoção. Este tratamento é chamado fixação e pode ser feito por substâncias químicas ou, menos frequentemente, por métodos físicos. Na fixação química os tecidos são geralmente imersos em soluções de agentes desnaturantes ou de agentes que estabilizam as moléculas formando pontes com moléculas vizinhas. Estas soluções são chamadas de fixadores. Como demora algum tempo para que o fixador se difunda completamente pelo interior dos tecidos, estes geralmente devem ser cortados em fragmentos pequenos antes de serem imersos no fixador, para facilitar a penetração do fixador e, por conseguinte, garantir uma boa preservação das suas estruturas. Alternativamente, pode ser utilizada a perfusão intravascular do fixador, que deste modo alcançar a intimidade dos tecidos rapidamente pelos vasos sanguíneos, sendo a fixação melhor. Um dos melhores fixadores rotineiros para microscopia de luz é uma solução isotônica tamponada de formaldeído do a 4%. A química do processo de fixação é complexa e nem sempre bem compreendida. Formaldeído e glutaraldeído, outro fixador extensamente usado, são conhecidos por reagir com os grupos amina (NH) das proteínas dos tecidos No caso de glutaraldeído, a sua ação fixadora é reforçada pelo fato de ser um dialdeído que promove a formação de ligações cruzadas entre proteínas. Devido à alta resolução oferecida pelo microscópio eletrônico, é necessário um cuidado muito maior na fixação para preservar detalhes da ultra-estrutura das células e da matriz Para esta finalidade uma fixação dupla usando uma solução de glutaraldeído tamponado, seguida por uma segunda fixação em tetróxido de ósmio, tornou-se um procedimento padrão em preparações para estudos ultra-estruturais. O efeito do tetróxido de ósmio é preservar e fornecer contraste aos lipídios e proteínas. Inclusão Para obter seções delgadas como micrótomo, após terem passado pela fixação os fragmentos de tecidos e órgãos devem ser infiltrados com substâncias que lhes proporcionem uma consistência rígida. Dentre as substâncias que têm esta propriedade, as mais utilizadas são a parafina e algumas resinas de plástico. A parafina é habitualmente usada para microscopia de luz, enquanto as resinas são usadas para microscopia de luz e eletrônica. O processo de impregnar os tecidos com parafina é chamado inclusão ou embebição e geralmente é precedido por duas etapas: desidratação e clareamento. A água é inicialmente extraída passando os fragmentos por diversos banhos de soluções de concentrações crescentes de etanol em água (normalmente de etanol 70% a etanol 100%). Após a desidratação o etanol presente nos fragmentos deve ser substituído por uma substância intermediária (geralmente um solvente orgânico) que é miscível tanto em etanol como no meio que foi escolhido para inclusão (parafina ou resina). Para a inclusão em parafina a substância intermediária mais comumente usada é o xilol. Quando os fragmentos de tecidos são embebidos e saturados com o solvente orgânico, eles ficam transparentes ou translúcidos. A seguir são colocados em parafina previamente derretida em uma estufa, normalmente a 58-60°C. O calor causa a evaporação do solvente e os espaços existentes dentro dos tecidos são preenchidos com parafina. Tecido embebido em parafina se torna rígido depois de ter sido retirado da estufa. No caso de tecidos a serem embebidos com resinas plásticas, eles também são desidratados em etanol dependendo do tipo de resina usada, depois infiltrados com solventes de plástico. O etanol ou o solvente é depois substituído por soluções de plástico que endurecem por polimerização. A inclusão em resina plástica pode evitar alguns dos efeitos da alta temperatura das estufas, produzindo menos artefatos que os da parafina permitindo a obtenção de sexo mas delgadas. Os blocos rígidos que contém os tecidos são então levados a um micrótomo, onde são seccionados por uma lâmina de aço ou de vidro de modo a fornecer cortes de 1-10 um de espessura. Após serem seccionados, os cortes são colocados para flutuar sobre uma superfície de água aquecida, de onde são colocados sobre lâminas de vidro, onde aderem e onde serão depois corados. Um modo completamente diferente de preparar secções de tecidos pode ser feito submetendo os tecidos a um congelamento rápido. Desta maneira, os tecidos são fixados por congelação (um método físico), ficando ao mesmo tempo rígidos e, assim, prontos para serem seccionados. Um micrótomo para tecidos congelados - o criostato - foi desenvolvido para a produção de cortes de tecidos congelados. Pelo fato deste método permitir a preparação rápida de cortes sem passar pelo longo procedimento de desidratação e inclusão descrito acima, eles são habitualmente usados em hospitais para analisar espécimes obtidos durante procedimentos cirúrgicos. Congelar tecidos é também muito útil para o estudo histoquímico de enzimas muito sensíveis ou de moléculas pequenas, pois o congelamento, ao contrário da fixação química, não inativa a maioria das enzimas e mantém as pequenas moléculas em seus locais originais. Quando se deseja estudar lipídios presentes nos tecidos, é aconselhado o uso de secções congeladas, pois a imersão de tecidos em solventes como xilol dissolve as substâncias. Coloração Para serem estudados no microscópio, a maioria dos cortes histológicos devem ser corados. Isto porque, com poucas exceções, a maioria dos tecidos é incolor, de modo que observá-los ao microscópio de luz será muito pouco proveitoso. Foram desenvolvidos métodos de coloração que não só tornam evidentes os vários componentes dos tecidos, como também facilitam a distinção entre eles. A seletividade com que os corantes coram os componentes dos tecidos pode ser maior ou menor. A maioria dos corantes se comporta como compostos ácidos ou básicos e tende a formar ligações eletrostáticas (salinas) com radicais ionizados dos tecidos. Os componentes dos tecidos que se coram bem com corantes básicos são chamados de basófilos, e os que têm grande afinidade por corantes ácidos são chamados de acidófilos.O azul de toluidina e o azul de metileno são exemplos de corantes básicos. A hematoxilina comporta-se como um corante básico, ligando-se às estruturas basófilas dos tecidos. Os principais componentes dos tecidos que ionizam reagem com corantes básicos o fazem por conter ácidos na sua composição - ácidos nucléicos, glicosaminoglicanas e glicoproteínas ácidas. Corantes ácidos (por exemplo, orange G, eosina, fucsina ácida) coram principalmente os componentes acidófilos dos tecidos como as mitocôndrias, os grânulos de secreção, proteínas citoplasmáticas e colágeno. Dentre todos os corantes, a combinação de hematoxilina e eosina (HE) é a mais comumente usada. A hematoxilina cora em azul ou violeta o núcleo das células e outras estruturas ácidas (como porções do citoplasma ricas em RNA e a matriz da cartilagem hialina). A eosina, por outro lado, cora o citoplasma e o colágeno em cor-de-rosa. Muitos outros corantes são usados, como os tricrômicos (por exemplo, os corantes de Mallory e de Masson). Os tricrômicos, além de mostrar muito bem o núcleo e o citoplasma, ajudam a diferenciar colágeno e músculo liso entre si. Uma técnica especialmente boa para observar e diferenciar colágeno é o uso do corante picro-sirius associado com luz polarizada (ver Microscopia de polarização). Embora a maioria dos corantes seja útil para visualizar os vários componentes dos tecidos, eles normalmente oferecem pouca informação sobre a natureza química dos componentes dos tecidos. Em muitos procedimentos (ver Imunocitoquímica) as estruturas são evidenciadas por um precipitado ou por um corante fluorescente, mas as células e os seus limites não são visíveis. Neste caso é usado um contracorante - trata- se de um corante aplicado a um corte apenas para permitir a visualização dos contornos das células ou núcleos. Uma outra maneira de evidenciar componentes de células e tecidos é a sua impregnação por metais, como prata e ouro, método comum para estudar tecido nervoso. O procedimento inteiro, desde a fixação até a observação de um tecido em um microscópio de luz, pode demorar de 12 h a 24 dias, dependendo do tamanho do tecido, do fixador e do meio de inclusão utilizados. MICROSCOPIA DE LUZ Por meio do microscópio de luz, preparações coradas são examinadas por iluminação que atravessa o espécime. O microscópio é composto de partes mecânicas e ópticas (Fig.1.2). O componente óptico consiste em três sistemas de lentes: condensadora, objetiva e ocular. O condensador concentra a luz e projeta um feixe luminoso sobre o espécime. A objetiva projeta uma imagem aumentada do objeto em direção à ocular, que novamente amplia a imagem e a projeta na retina, em uma tela, em um negativo fotográfico ou em um detector (como uma câmera CCD). Para imagens projetadas na retina, a ampliação total dada pelo microscópio é igual ao aumento da objetiva multiplicado pelo aumento da ocular. Resolução O fator mais crítico para o microscópio fornecer uma imagem detalhada é seu poder de resolução, que é definido como a menor distância entre duas partículas ou duas linhas que permite que elas sejam vistas como dois objetos separados. O poder de resolução máximo (também chamado de resolução ou limite de resolução) do microscópio de luz é de aproximadamente 0,2 µm; esta resolução permite a obtenção de boas imagens aumentadas de 1.000 a 1.500 vezes. Objetos menores que 0,2 µm (como por exemplo a membrana da célula ou um filamento de actina) não podem ser distinguidos com este instrumento. Igualmente, dois objetos, como duas mitocôndrias ou dois lisossomos, serão vistos como um só objeto se eles estiverem se parados por menos de 0,2 µm. O que determina a riqueza de detalhes da imagem fornecida por um sistema óptico é seu limite resolutivo e não seu poder de aumentar de tamanho os objetos. A propriedade de aumentar só tem valor prático se for acompanhada de poder de resolução. Este depende essencialmente da objetiva, enquanto a lente ocular apenas aumenta a imagem real projetada pela objetiva. Quando se comparam objetivas de ampliações diferentes, é possível verificar que as que fornecem aumentos maiores também têm poder de resolução mais elevado. Os limites da microscopia têm sido alargados pelo uso de vídeo-câmeras de alta sensibilidade e resolução que permitem a digitalização de imagens que podem ser usadas em computadores para análise quantitativa por meio de aplicativos de análise de imagem. Objetos que não são visíveis diretamente pela ocular podem ser visualizados por uma vídeo-câmera. Estes sistemas também são úteis para estudar células vivas por períodos longos de tempo, porque usam luz de baixa intensidade e evitam o dano celular que pode resultar de uma iluminação intensa. MICROSCOPIA DE CONTRASTE DE FASE E DE CONTRASTE DIFERENCIAL DE INTERFERÊNCIA Alguns sistemas ópticos permitem a observação de células e cortes não corados. Espécimes biológicos não corados são geralmente transparentes e difíceis de serem observa dos com detalhes, pois todas as partes do espécime têm quase a mesma densidade óptica. Porém, a microscopia de contraste de fase usa um sistema de lentes que produz imagens visíveis de objetos quase transparentes (Fig. 1.3). A microscopia de contraste de fase é baseada no fato de que a luz muda sua velocidade ao atravessar estruturas celulares e extracelulares que tenham índices de refração diferentes. Estas mudanças são usadas pelo sistema de contraste de fase para fazer com que as estruturas apareçam mais claras ou mais escuras e fazem deste tipo de microscopia uma ferramenta poderosa para observar células vivas. Outro instrumento para observar células ou secções de tecidos não corados é a microscopia de contraste diferencial (microscopia de Nomarski), que produz uma imagem aparentemente tridimensional (Fig. 1.3). MICROSCOPIA DE POLARIZAÇÃO Quando raios de luz passam através de um filtro polarizador (como um filtro Polaroid), eles saem vibrando em uma só direção. Um segundo filtro colocado com seu eixo principal perpendicular ao primeiro filtro bloqueará a passagem da luz. Se, porém, um tecido que tiver estruturas formadas por átomos e moléculas com um alto grau de orientação (como celulose, colágeno, cristais, microtúbulos e microfilamentos) for colocado entre os dois filtros, a estrutura molecular repetitiva e orientada modifica o plano de vibração da luz que emerge do primeiro filtro, fazendo com que estas estruturas aparecem luminosas contra um fundo escuro após passarem pelo segundo filtro (Fig. 1.4). A capacidade que as estruturas têm de girar o plano de vibração da luz polarizada é chamada birrefringência. MICROSCOPIA CONFOCAL A profundidade de foco no microscópio de luz é relativamente longa, especialmente quando são usadas objetivas de pequeno aumento. Isto significa que uma grande espessura do espécime é vista em foco simultaneamente, causando a superposição da imagem originada de um objeto tridimensional. Uma das características mais importantes do microscópio confocal é o fato de que ele torna possível focalizar um plano de foco muito delgado do espécime. Os princípios nos quais este microscópio se baseia são os seguintes: 1) o espécime é iluminado por um feixe de luz muito estreito (no microscópio de luz um feixe muito grande ilumina o espécime); 2) a imagem coleta do espécime me deve passar por um pequeno orifício. A consequência esse arranjo é que só a imagem originada do plano focalizado alcança o detector, enquanto as imagens de planos anteriores e posteriores são bloqueadas (Fig. 1.5). A luz proveniente de fora do plano de foco é em grande parte eliminada, a definição do objeto focalizado fica melhor e a localização de componentes do espécime pode ser feita com muito mais precisão que no microscópio de luz. Por razões práticas o seguinte arranjo é usado na maioria dos microscópios confocais (ver Fig. 1.6): 1) a iluminação é provida por uma fonte de laser, 2) como esta fornece um ponto de iluminação muito pequeno, ele deveser varrido sobre o espécime para permitir a observação de uma área maior do espécime; 3) o componente do espécime que é de interesse deve ser marcado com uma molécula fluorescente (isto significa que uma secção rotineira não pode ser estudada); 4) a luz usada para formar uma imagem é aquela que é refletida pelo espécime; 5) a luz refletida é capturada por um detector, onde o sinal é ampliado eletronicamente para ser visto em um monitor. Como somente um plano focal muito delgado é focalizado de cada vez (também chamado de secção óptica), é possível reunir os vários planos de um espécime e reconstruí-los em um objeto tridimensional. Para realizar todas estas funções, os microscópios confocais dependem da grande capacidade de computação. MICROSCOPIA DE FLUORESCÊNCIA Quando certas substâncias são irradiadas por luz de um certo comprimento de onda, elas emitem luz com um comprimento de onda mais longo. Este fenômeno é chamado fluorescência. Na microscopia de fluorescência as secções de tecidos são geralmente irradiadas com luz ultravioleta e emitem luz na porção visível do espectro, fazendo com que as substâncias fluorescentes apareçam brilhantes sobre um fundo escuro. O microscópio de fluorescência possui uma fonte de luz ultravioleta muito intensa e filtros especiais que selecionam o comprimento de onda dos raios luminosos que atingem o espécime e também dos raios que são emitidos pelo espécime. Substâncias fluorescentes com afinidade por moléculas presentes nas células ou na matriz podem ser usadas como corantes fluorescentes, como alaranjado de acridina, que pode combinar-se com o DNA e RNA. Quando observado em um microscópio de fluorescência, o complexo DNA alaranjado de acridina emite fluorescência de cor verde amarelada e o complexo RNA alaranjado de acridina emite fluorescência vermelho-alaranjada. Assim, é possível identificar e localizar os dois tipos de ácidos nucléicos nas células através da microscopia de fluorescência (Fig. 1.7). Outra aplicação importante resulta da combinação química de substâncias fluorescentes (como o isotiocianato de fluoresceína - FITC) com moléculas que se ligam especificamente a componentes das células e tecidos, permitindo assim a identificação destes componentes através da fluorescência que eles irão emitir (ver Detecção de moléculas em cortes histológicos por meio de interações moleculares de alta afinidade). MICROSCOPIA ELETRÔNICA A microscopia eletrônica de transmissão e de varredura se baseia na interação entre elétrons e componentes dos tecidos. Microscopia Eletrônica de Transmissão O microscópio eletrônico de transmissão é um sistema de produção de imagens que teoricamente permite uma altíssima resolução (0,1 nm) (Fig. 1.8). Na prática, porém, a resolução obtida pela maioria dos bons instrumentos se situa ao redor de 3 nm, resolução que permite que espécimes ampliados até 400.000 vezes sejam vistos com detalhes. Infelizmente, este nível de ampliação só pode ser usado para analisar partículas ou moléculas isoladas, pois cortes delgados de células e tecidos podem ser observados com detalhes em aumentos de até cerca de 120.000 vezes. O funcionamento do microscópio eletrônico de transmissão se baseia no seguinte princípio: elétrons podem ser desviados por campos eletromagnéticos de uma maneira semelhante à refração produzida na luz por lentes de vidro. Os elétrons são liberados pelo aquecimento de um delicado filamento metálico (geralmente tungstênio) em vácuo. Os elétrons libertados por este filamento (chamado de catodo) são então submetidos a uma diferença de voltagem de 60-120 kV existente entre o catodo e o anodo, que é um prato metálico com um orifício em seu centro (Fig. 19). Desta maneira, os elétrons são atraídos pelo anodo e acelerados, atingindo altas velocidades. Após atravessarem o orifício do anodo eles formam um feixe de elétrons que percorre o tubo do microscópio. No tubo, o feixe de elétrons passa pelo interior de bobinas elétricas e é desviado de maneira análoga ao que acontece com um feixe luminoso em lentes de vidro, porque elétrons desviam seu trajeto quando são submetidos a campos magnéticos. Por esta razão, as bobinas dos microscópios eletrônicos são chamadas de lentes eletromagnéticas. A configuração do microscópio eletrônico é muito semelhante à do microscópio de luz, embora o trajeto dos elétrons em geral se dê de cima para baixo (Fig. 1.9). A primeira lente é uma condensadora que focaliza o feixe de elétrons no espécime. Alguns elétrons interagem com átomos do corte ao atravessá-lo e continuam seus trajetos em direção às outras lentes, enquanto outros simplesmente cruzam o espécime sem interagir com ele. A maioria dos elétrons atinge a lente objetiva que produz uma imagem aumentada do objeto, a qual é projetada nas outras lentes que por sua vez aumentam a imagem ainda mais. Pelo fato da nossa retina não ser sensível a elétrons, para se observar uma imagem os elétrons necessitam ser projetados sobre um detector - uma placa fluorescente, um negativo fotográfico ou uma câmera CCD. Como a imagem no microscópio eletrônico de transmissão é produzida pelo balanço da quantidade de elétrons que atingiram o detector e elétrons que foram retidos no tubo do microscópio, a imagem resultante é sempre em preto e branco. As áreas escuras de uma micrografia eletrônica costumam ser denominadas de elétron-densas, enquanto as áreas claras são chamadas de elétron-lucentes ou elétron-transparentes. Para haver uma interação adequada entre o espécime e os elétrons, o microscópio eletrônico utiliza cortes muito delgados (40-90 nm de espessura), e para conseguir estes cortes os tecidos são incluídos em resinas plásticas, como as do tipo epóxi. Os blocos assim obtidos são tão duros que navalhas de vidro ou de diamante são necessárias para seccioná-los. Os cortes são coletados em pequenas grades de metal medindo cerca de 3 mm de diâmetro, as quais são colocadas no interior do tubo do microscópio para serem observadas. Técnicas de congelação permitem o exame de tecidos por microscopia eletrônica sem a necessidade defixação e inclusão em resina. Com estas técnicas há menos artefatos em comparação com as técnicas convencionais, embora as técnicas de congelação sejam muito trabalhosas. Tecidos congelados podem ser seccionados e submetidos a técnicas citoquímicas e imunocitoquímicas ou podem ser fraturados (criofratura, freeze fracture) para fornecer detalhes da estrutura interna de membranas celulares. Microscopia Eletrônica de Varredura A microscopia eletrônica de varredura fornece imagens pseudotridimensionais das superfícies de células, tecidos e órgãos. Neste microscópio eletrônico um feixe muito pequeno de elétrons é movido sequencialmente de modo a esquadrinhar (varrer) o espécime. Diferentemente do microscópio eletrônico de transmissão, no microscópio de varredura os elétrons não atravessam o espécime (Fig. 1.10). Os elétrons interagem com uma camada muito delgada de metal previamente aplicada ao espécime e são refletidos pelos átomos do metal. Estes elétrons são capturados por um detector que os transmite a amplificadores e outros dispositivos de forma que o sinal é finalmente projetado em um tubo de raios catódicos (um monitor), resultando em uma imagem em preto e branco. As fotografias resultantes são de fácil interpretação, pois apresentam imagens que parecem ser iluminadas e possuem locais claros e outros sombreados. O microscópio eletrônico de var madura mostra somente uma visão de superfícies. O interior de órgãos pode ser analisado congelando células ou órgãos e em seguida fraturando-os para expor as suas superfícies internas. Veja alguns exemplos de imagens obtidas com este tipo de microscopia nas Figs. 123124174 19.6 e 21.11. RADIOAUTOGRAFIA EM SECÇÕES DE TECIDOS A radioautografia é o estudo de processos biológicos em cortes de tecidos por meio de radioatividade. A radioautografia permite a localização de substâncias radioativas em tecidos peloefeito de sua radiação em emulsões fotográficas. Cristais de brometo de prata presentes na emulsão agem como micro detectores de radioatividade da mesma maneira como eles respondem à luz em um negativo fotográfico. A primeira etapa da radioautografia é fornecer moléculas radioativas às células. Muitos tipos de moléculas podem ser usados, dependendo da finalidade do estudo: aminoácidos radioativos, nucleotídeos radioativos, açúcares radioativos etc. Estas moléculas são chamadas precursores, porque podem ser usadas pelas células para sintetizar moléculas maiores, como proteínas, ácidos nucléicos, polissacarídeos e glicoproteínas. Cortes dos tecidos a serem analisados são cobertos no escuro com uma emulsão fotográfica. As lâminas são mantidas em caixas à prova de luz e, depois de um tempo de exposição adequado, elas são reveladas fotográficamente e examinadas ao microscópio. Os cristais de brometo de prata da emulsão que foram atingidos por radiação originam pequenos grânulos pretos de prata metálica que indicam a existência de radioatividade no tecido; as estruturas do corte que contêm moléculas radioativas são portanto cobertas por estes grânulos. Este procedimento pode ser usado tanto em microscopia de luz como eletrônica (Fig 1.11). Muitas informações podem ser obtidas pela localização de radioatividade em componentes de tecidos. Se tiver sido usado um aminoácido radioativo como precursor, é possível conhecer quais células de um tecido produzem mais e quais produzem menos proteínas, porque o número de grânulos de prata existentes sobre as células é proporcional à intensidade de síntese de proteína. Se for usado um precursor radioativo de DNA (como timidina radioativa), é possível determinar quais e quantas células de um tecido estão se preparando para dividir. Podem também ser analisados eventos dinâmicos, por exemplo: 1) se queremos saber onde na célula é produzida uma proteína, se ela é secretada e qual o seu trajeto na célula durante a secreção, podem-se injetar vários animais com um aminoácido radioativo e sacrificá-los em diferentes tempos depois da injeção. Os rádio autógamas dos cortes podem mostrar a migração das proteínas radioativas sintetizadas e secretadas. 2) Se queremos saber onde são produzidas células novas em um órgão e para onde elas migram, podem-se injetar vários animais com timidina radioativa e sacrificá-los em vários tempos depois da injeção. Os radioautogramas mostram onde as células se dividem e para onde elas migram, se este for o caso (Fig. 1.12). CULTURA DE CÉLULAS E TECIDOS Em um organismo complexo as células são banhadas pelo plasma sanguíneo que contém centenas de moléculas diferentes. Células vivas podem ser mantidas e estudadas fora do corpo, o que é muito útil para estudar o efeito isolado de moléculas sobre um tipo de célula ou tecido. A cultura de células permite também a análise direta do comportamento de células vivas por meio de um microscópio, e além disso várias experiências que não podem ser executadas em um animal vivo podem ser feitas in vitro. As células e os tecidos são cultivados em soluções de composição conhecida (sais, aminoácidos, vitaminas) às quais são frequentemente adicionados componentes do soro. Para preparar culturas de um tecido ou órgão, as células devem ser inicialmente separadas mecanicamente ou por meio de tratamento enzimático. Uma vez isoladas, as células podem ser cultivadas em suspensão ou podem ser colocadas sobre uma placa de Petri (feita de vidro ou plástico) ou sobre uma lamínula de vidro, superfícies sobre as quais elas costumam aderir e crescer sob forma de uma única camada de células (Fig. 1.3). Culturas feitas desta maneira são chamadas culturas primárias. Muitos tipos de células assim isolados a partir de tecidos normais ou patológicos e que foram desde então mantidos in vitro constituem agora linhagens permanentes de células. A maioria das células obtidas de tecidos normais tem uma duração de vida finita, programada geneticamente. No entanto, modificações (principalmente relacionadas com oncogenes; ver Cap. 3) podem promover a imortalidade das células in vitro, processo este chamado de transformação, que pode ser o primeiro passo da mudança do estado de uma célula normal em direção a uma célula cancerosa. Por causa do fenômeno da transformação e de outras melhorias na tecnologia do cultivo celular, a maioria dos tipos de células podem ser agora mantidos indefinidamente no laboratório. Todos os procedimentos com células e tecidos vivos devem obviamente ser executados em uma área estéril usando-se soluções e equipamento estéreis. FRACIONAMENTO CELULAR Organelas e outros componentes das células e tecidos podem ser purificados e isolados por meio de uma técnica chamada fracionamento celular. Este é um processo físico pelo qual é usada força centrífuga para separar organelas e componentes celulares em função de seus coeficientes de sedimentação. O coeficiente de sedimentação de uma partícula depende de seu tamanho, forma, densidade e viscosidade do meio em que está suspensa (Fig. 1.14). As organelas e moléculas obtidas por estas técnicas podem ser analisadas ao microscópio eletrônico para se verificar sua pureza (Fig. 1.15) e sua composição química, e funções podem ser estudadas in vitro.
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