Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 03- Produtos Cárneos Emulsionados Definição: Produtos cárneos emulsionados são definidos como produtos preparados a partir de emulsões contendo água como fase contínua, gordura como fase descontínua e proteínas da carne como agentes emulsificantes. Emulsão verdadeira: Dispersão estável de um líquido imiscível em outro. Tamanho das partículas dispersas –0,1μou menos Emulsão cárnea: A maioria das partículas de gordura em emulsões cárneas apresenta diâmetro superior a 50 μ, não podendo ser considerada emulsão verdadeira → Quando o músculo, a gordura, a água e o sal são misturados e submetidos a mistura eficiente no cutter, forma-se uma massa cárnea estável que apresenta característica de uma emulsão de gordura em água, denominada batter Componentes das emulsões cárneas ● carne magra: ○ suína, bovina ou de aves ○ normalmente é do dianteiro ● sal: adição de sal é para elevar a força iônica e permitir a extração das proteínas ● gordura: pode ser na forma de toucinho e/ou carne gorda ● água: ○ adicionada na forma de gelo, entrando como um componente que resulta em uma viscosidade adequada para as propriedades termodinâmicas do cozimento e embutimento ○ deve ser adicionada aos poucos, para manter o batter em temperatura adequada para extração das proteínas→ a agitação intensa aumenta a temperatura do batter e caso a temperatura não seja mantida pode prejudicar a formação da emulsão (altas temperaturas rompem a emulsão) ● ingredientes não cárneos ● aditivos Proteínas miofibrilares ● Fundamentais no processamento de produtos derivados de carne e na carne fresca ● Responsáveis pelas estruturas coesivas induzidas pelo calor ● Influencia as propriedades sensoriais e físicas dos produtos cárneos ● Miosina, actina, tropomiosina, troponina são as principais proteínas miofibrilares ● Produzem matrizes em géis tridimensionais, viscoelásticas através das interações proteína-proteína para ligação de água, formando membranas fortes e coesiva na superfície dos glóbulos de gordura ● Estabilizam estruturas em produtos cominuídos e reestruturados sob ação do calor PROPRIEDADES FUNCIONAIS ● emulsificação ● solubilidade ● geleificação ● viscosidade ● capacidade de retenção de água ● capacidade de retenção de gordura ● retenção de flavor Parâmetros que influenciam as propriedades da emulsão ● input mecânico: eficiência e rapidez do equipamento utilizado vai influenciar na eficiência de extração ● calor: se T for alta, ocorre quebra e desestabilização da emulsão ● pH: relacionado à extração das proteínas → MP com pH mais longe do PI (ou seja, pH mais alto) são as melhores para aumentar a oferta de proteína, pois a funcionalidade da proteína é diretamente relacionada ao pH devido à extração das proteínas miofibrilares. Carne DFD e PSE tem menor oferta de proteínas porque muitas já estão desnaturadas ○ carne DFD: retém muita água, tem alto pH então embora consiga fazer a extração das proteínas, elas já estão saturadas com ligações de água → mas esses aspectos podem facilmente serem corrigidos com uso de aditivos ○ carne PSE: não retém água, não dá pra formar emulsão, tem proteínas desnaturadas ● força iônica: extração das proteínas miofibrilares deve ser em alta força iônica (adição NaCl) ● potencial de óxido-redução (Eh): se refere à capacidade do substrato oxidar ou reduzir seus elétrons. Os produtos cárneos tem mais potencial na superfície do que dentro da emulsão por causa da quantidade O 2 no sistema (obs: MO aeróbicos se desenvolvem em potencial positivo). Se o cutter ocorrer a vácuo, o produto vai ser de melhor qualidade, no não vácuo lidamos com bolhas de ar, porosidade. ● ingredientes não proteicos ● qualidade e tipo da proteína solúvel: a espécie da qual o músculo é proveniente, a idade do animal, o tipo de corte afetam a estabilidade, pois apresentam diferentes quantidades de proteínas miofibrilares (alto teor de colágeno e alto teor de gordura entremeada afetam negativamente a qualidade do produto) Etapas do processamento adição de carne magra + sal → moagem/cominuição → embutimento → cozimento → resfriamento COMINUIÇÃO ● redução das matérias primas a um estado particulado fino ● rompe fisicamente o tecido muscular, membranas e o sarcolema com o objetivo de liberar miofibrilas e miofilamentos, com conseqüente extração das proteínas miofibrilares em alta força iônica (0,6M ou superior) ● formação do batter (massa crua da emulsão antes do cozimento) ● Durante a cominuição (cutter), a temperatura da massa aumenta, ocasionando a fusão de algumas partículas de gordura e início da desnaturação protéica, onde a estrutura da proteína se abre, permitindo encapsular a gordura → cuidado para não exceder 16oC, pois pode haver quebra da emulsão ● tempo de batimento excessivo reduz o tamanho das partículas de gordura abaixo do ideal, aumentando a área superficial e isso requer mais proteína para envolver completamente sua superfície → se as partículas de gordura não estiverem completamente envolvidas pelas proteínas, elas podem desestabilizar a emulsão. ● O sal é o primeiro ingrediente a ser adicionado no cutter, devido à força iônica que permite a extração das proteínas miofibrilares e com isso elas ficam disponíveis para fazer a emulsão e só depois adiciona os ingredientes. EMBUTIMENTO ● Seleção do envoltório adequado (tripa ou artificial) ● Tripa: é natural, retira-se as fezes, passa pelo processo de lavagem e higienização, é armazenada em alguns solutos → é melhor que a artificial porque permite troca de calor melhor e maior durante o cozimento ● Minimiza a separação da gordurae quebra das membranas emulsionadas antes do aquecimento. COZIMENTO ● no cozimento e as proteínas se ligam entre si e formam uma rede proteica e englobam tanto água quanto gordura → o cozimento promove a gelificação (ligação cruzada entre as proteínas para formar uma matriz tridimensional), rede semi-rígida para água e gordura, crítica para estabilidade ao cozimento, textura, fatiamento, aparência → essencial para estabilidade da emulsão ● é o coração da segurança do processamento. Faz um sistema de rampas onde chega a determina T e fica um tempinho e vai fazendo isso até chegar na T de 72°C ● quebra da emulsão: é a coalescência dos glóbulos de gordura; normalmente ocorre durante o cozimento, mas pode ser somente percebida após o resfriamento → formam-se bolsões de gordura na superfície ou no interior do produto; pode ocorrer migração da gordura para as extremidades, ou apenas migrar para a superfície, tornando-a oleosa, o que é mais comum. ● se o tempo de espera para o cozimento for alto, o nitrito de sódio é diminuido e quando vai para a estufa pode ocorrer a germinação de esporos do C. botulinum RESFRIAMENTO ● A salsicha recebe um choque térmico com aspersão de água fria em local aberto, quero que vá de 72°C pra 25°C → O choque térmico determina a qualidade microbiológica e a qualidade do produto final. ● deve ser o mais rápido possível para garantir maior qualidade do produto final AULA 04- Produtos Cárneos Dessecados/Salgados (Charque, Jerked Beef, Carne de Sol) → Preservação de produtos cárneos pela redução de aw, fornecendo uma qualidade funcional e estabilidade microbiológica: a carne é um produto muito susceptível à contaminação microbiana pois possui alta aw (0,98-0,99), pH favorável ao desenvolvimento de patógenos (5,5-6,0) e potencial de óxido redução negativo no interior do músculo e positivo na superfície. → Por que dessecar e salgar a carne? Inexistência de cadeia de frio; excedente de produção; valor agregado; hábitos alimentares típicos Classificação dos produtos 1. Produtos cárneos com baixo teor de sal, sem qualquer preparo culinário antes do consumo (ex: Prosciutto italiano, Jamón espanhol, Pastirma da Turquia, Biltong sul africano, Cecina de Leon) 2. Produtos cárneos salgados e dessecados, que não necessitam de dessalga, preservados por curtos períodos de tempo, à T ambiente, mas precisam ser cozidos antes do consumo (ex: carne serenada, carne viagem, carne de paçoca, carne-mole, cacina, carne de sol) 3. Produtos cárneos salgados intensamente e dessecados, que necessitam de dessalga e cocção para o seu consumo (ex: charque, jerked beef brasileiros, charqui cubano e venezuelano) Papel do sal na conservação da carne ● o principal é a redução de a w : quanto mais NaCl, menor a a w , pois os íons Na e Cl ligam-se à água livre presente na carne ● choque osmótico, resultante da perda de água devido a adição de sal, provoca morte celular ou retardamento no crescimento celular (influencia multiplicação de MO) ● sal limita a solubilidade de O 2 , interferindo nas enzimas celulares (influencia multiplicação de MO) Charque X Jerked Beef X Carne de Sol ● o charque vem da época do Brasil colonial (1800), contudo esse produto começou a ser fraudado constantemente pela adição de água, como forma de diminuição dos custos de produção → disso surgiu o jerked beef, um produto com novos padrões de identidade que permitia maior teor de água final no produto (início de produção ilegal) ● hoje o charque é um produto bem mais raro (gourmet) e possui sabor mais forte/acentuado que o jerked beef ● PIQ (parâmetros de identidade e qualidade): ○ charque: ■ a w = 0,76 ■ UR= 45% ■ cinzas < 15% ■ cortes preferenciais: dianteiro e ponta de agulha ■ únicos dois ingredientes permitidos: carne + sal ■ mantas de 5mm ○ jerked beef: ■ a w = 0,78 ■ UR= 55% ■ cinzas < 18% → pode adicionar outros sais além do NaCl ■ embalagem a vácuo ■ presença de nitrito e nitrato: para efeitos antimicrobianos, pois pode ser que a distribuição de a w não seja uniforme (pode ter desenvolvimento de C. botulinum entre o produto e a embalagem) ■ mantas mais espessas ○ carne de sol: ■ a w = 0,94 ■ UR= 64-70% ■ sal = 5-6% ■ tempo de prateleira = 3- 4 dias ■ consumido em regiões semi- áridas e muito secas ■ não é reconhecido pelo SIF, pois um alimento com alta UR e alta a w e sem refrigeração não pode ser aprovado → é produzido pelo excedente de produção no nordeste/norte, sendo produzida em locais sem cadeia de frio → se tivesse legislação, não iria ser produzida, porque na legislação teria a obrigatoriedade de refrigeração e ficaria muito caro para estas regiões terem a parte de refrigeração, e isso faria com que houvesse muita fraude Fluxograma geral de processamento SELEÇÃO CORTES ● é desejável um teor de gordura subcutânea e intramuscular na porção selecionada para evitar elevada desidratação e perda das propriedades organolépticas ● alto teor de ácidos graxos insaturados é indesejável, pois a rancificação oxidativa é intensa → em carne de sol, esse fator não é tão importante, pois em alta a w e alta UR, a rancificação oxidativa não é favorecida DESOSSA ● dianteiros e traseiros desossados sem a habitual separação de cortes e transformados em mantas com espessuras uniformes ● cortes utilizados: dianteiros e ponta de agulha ● deve ser feito em T controlada: ambiente 12-15oC e os corte 8oC ● deve-se remover aparas de gordura cujo excesso dificultam a penetração do sal ● partes mais espessas devem ser seccionadas para facilitar a salga SALGA ÚMIDA ● a carne é exposta em tanques com salmoura contendo entre 25-26% de NaCl,além dos cloretos e sulfatos de cálcio e magnésio por 50 min ● existem técnicas de injeção e tumbleamento que reduzem o tempo da salga para 15-20 min ● a salmoura incorpora fosfatos de cálcio, potássio e magnésio, ácido lático, glicídeos, AA e outras substâncias extraídas das carnes ● a w da salmoura= 0,76-0,77 → impede a multiplicação de S.aureus presentes nas superfícies das mantas (a w miníma para S.aureus =0,86) ● acelera o processo de desidratação do processo inicial de saída de água, pois entra sal mais rapidamente e impede com que haja queima da carne. SALGA SECA ● coloca-se o sal em cima da carne → a carne tem contato direto com o NaCl ● a desidratação ocorre por osmose, em que a água no interior do tecido muscular vai para a superfície, fazendo uma salmoura que escoa da pilha de carnes com concentração aproximada de 18% de NaCl e uma a w miníma de 0,86. ● as mantas são colocadas com a parte gorda para baixo e disposição de sal em camadas ● Após 24-48 h, realiza-se a ressalga, sendo transferida para a próxima pedra em repetições até que a última camada se torne a primeira na pedra → temos a pilha de volta → pilha retorna para sua posição de origem, encerrando aqui a etapa de salga seca ● a sua faixa de a w não permite também a multiplicação do S.aureus, porém pode haver a produção de enterotoxinas. ● a espessura da camada de sal grosso e das peças de carne devem ser controladas para permitir a saída de água e drenagem do suco celular ● em geral cada manta tem 0,5 cm de sal grosso intercalado ● o uso de prensas reduz o controle e uniformiza as peças ● a salga seca e a salga úmida são etapas complementares → a sal pode desnaturar as camadas da superfície da carne e aí demora mais tempo para sair a água, e por isso elas são complementares, porque a salga úmida vai abrir uma frente de desidratação fazendo com que o sal entre no meio da carne e acelere o processo, diminuindo o tempo de ficar pronto TOMBAMENTOS ● as pilhas devem ser movimentadas a cada 24h para uniformizar a [ ] de sal, previne vermelhidão do charque e desenvolvimento de bactérias halo resistentes → bactérias halofílicas: necessitam de 1 até 30% de NaCl para crescimento ótimo e bactérias H=halotolerantes: crescem melhor sem adição de soluto, mas toleram concentrações moderadas de sal. ● o número de tombamentos depende do clima mas deve ser de no mínimo 4 ● a perda de peso média nesta etapa é de 19%. ● tombamentos são as inversões das peças, visando manter todas as mantas em contato com o sal e uniformizando a pressão sobre ela LAVAGEM COM HIPOCLORITO ● rápida imersão das mantas em água clorada, remove o excesso de sal (isso é bom porque senão na etapa de maturação a presença do sal promoveria uma lipólise e proteólise indesejada) e reduz a contaminação superficial. ● tanques de aço inox com água corrente ● A água deve ser refrigerada e tratada com ácido lático ou acético para abaixar o pH para ~5,5 MATURAÇÃO/ SECAGEM ● é a etapa responsável pelas maiores contaminações ● realizada em cabines cobertas e ventiladas e/ou em áreas abertas - varais ● recomenda-se não usar temperaturas maior do que 40oC ● as peças devem permanecer por um período de 4-5 dias ● uma alternativa é a maturação a sombra com temperaturas mais elevadas e umidade relativa controlada Peculiaridades do processamento de jerked beef ● exige-se uma sala climatizada a 15oC ● acondicionamento a vácuo do produto final ● uso de injetoras de salmoura e sais de cura em substituição à salga úmida ● tem espessura maior e propriedades sensoriais mais desejáveis Peculiaridades do processamento de carne de sol ● só tem salga seca → com esfrega intensa de sal nas peças, a seguir empilhadas sobre um tanque, permitindo-se, ou não, o escoamento da purga formada Aspectos relacionados a qualidade do produto ● contaminantes do sal são bactérias halofílicas: Halobacterium spp. ● água utilizada deve ser livre de poluentes, matéria orgânica e contaminantes químicos DEFEITOS RELACIONADOS A COR ● Vermelhão do charque: Halobacterium spp → sal contaminado com halofílicos. ● A coloração típica acastanhada, resultante da oxidação de mioglobina a metamioglobina acontece apenas na salga seca ● A cor final do charque quando comparada com a cor da matéria prima, é função da concentração de sal no seu interior TEXTURA E SABOR ● a textura do charque depende mais da CRA pelas proteínas do que da qualidade do colágeno. ● o sal desempenha papel pró-oxidante. ● uso de hipoclorito de sódio acelera a oxidação lipídica e reduz a vida de prateleira do charque quando comparada com lavagens em água potável. ASPECTOS MICROBIOLÓGICOS’ ● a flora microbiana do charque é semelhante à dos produtos curados → não é caracterizada por patógenos ● predominantemente formada por halófilos com capacidade de reduzir o pH do produto inicial. ● importante o acondicionamento a vácuo devido especialmente à infestação por pragas ● ocorre redução microbiana durante armazenamento do charque provavelmente devido à exaustão metabólica decorrente do consumo energético associado aos mecanismos de homeostase em ambientes agressivos → Clostridium botulinum ● o principal obstáculo à formação de toxina é a velocidade de redução de atividades de água, pois o crescimento de C. botulinum e a formação de toxinas são inibidos em valores < 0,94. Portanto, a a w final 0,76, impede a produção de toxina e crescimento do C. botulinum embalado a vácuo ● a toxina botulínica é termolábil sendo destruída a 80oC por 10 minutos
Compartilhar