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ENTREVISTA COM A FAMÍLIA – MFC MEDICINA UFCSPA Na primeira visita com a família, é necessário, de forma respeitosa e inteligente, estabelecer conexão com cada um dos membros, se mostrando empático e apoiador. Dessa forma se conseguirá conquistar a confiança, e isso é fundamental para que os interesses de ambos possam ter sucesso. Quando a família é muito diferente do médico (ex.: família japonesa) é essencial que o médico faça esforços para apreender pontos de identificação entre os dois elos. A comunicação não verbal pode ser de extrema importância aqui. Há três habilidades especiais, descritas abaixo, que consideramos que aumentam o potencial para se estabelecer parceria firme entre profissional e paciente. 1) Rapport: diz respeito à construção da harmonia. Despertar sentimentos de aceitação e confiança. Assim que o rapport foi estabelecido, é necessário ouvir a pessoa, todas suas crenças pessoais e explicações sobre a doença que tem. 2) Organizar a entrevista: estruturar a entrevista de modo a articular a fala dos familiares, para que reconheçam a competência do profissional. É fundamental coordenar os discursos, instigando apenas uma pessoa a falar por vez – ressaltando o poder de liderança do médico e garantindo que todos possam ter voz. Encorajar que ninguém fale por outra pessoa, que cada um fale por si. Ainda, é essencial servir de modelo através do próprio comportamento, falando respeitosamente e demonstrando confiança na capacidade de cada um dos familiares. 3) Troca de comportamentos de risco por comportamentos saudáveis: identificar o comportamento de risco e validar a autonomia e responsabilidade de quem o comete “sua decisão é continuar fumando?”. Indagar com o paciente se este decidiu parar de fumar recentemente. Oferecer, ainda, apoio profissional e organizar um acompanhamento regular. Os estágios de motivação para mudança, segundo Prochaska, são: 1) pré-contemplação → nenhum plano de mudança; 2) contemplação → planejar mudar no futuro (6 meses); 3) preparação → planejar mudar em futuro próximo (1 mês); 4) ação → recente mudança positiva; 5) manutenção. É essencial, dessa forma, apoiar o paciente aconselhando-o, esteja ele em qualquer estágio da mudança. •Princípios gerais para atender famílias Cumprimenta-se apertando a mão de cada membro da família. Posiciona-se a família, assim, ao lado do paciente. Sempre cuidar para afirmar a contribuição de cada membro, assim como agradecer as emoções expressadas. Esclarecer os pensamentos de todos. Não ser tão crítico, e enfatizar os pontos positivos individuais. Além disso, é importante bloquear interrupções inoportunas. Caso haja desacordo, notifica-lo e considerar terapia familiar. Ademais, é importante não deixar uma pessoa monopolizar a conversa, interrompê-la, se necessário, e pedir a outra pessoa sua opinião. Nunca oferecer conselhos prematuramente e evitar tomar partido. •Cinco fases da entrevista 1) Cumprimentos: em torno de 5 minutos. Dar as mãos e orientar a família na sala. Falar com cada membro buscando a aproximação – possível identificação com algum subgrupo. Pode se propor aqui a elaboração do genograma. -Com uma pessoa deprimida, fala-se com voz baixa e calma! -Com pessoa que teve algum trauma recentemente e está ansiosa, falar de forma forte, confortante e convincente. -Com uma pessoa de difícil comunicação, é interessante buscar pontos de identificação. Jeito de falar, de sentar, de se comportar. Tudo que possa aproximar o contato. 2) Entendendo a situação: ouvir os objetivos da sessão. Observar, após, os conflitos entre os objetivos mencionados. Analisar os motivos de interesse para intervenção de doenças. 3) Discussão: Solicitar o ponto de vista de todos, e questionar como que eles passaram por outras situações parecidas desta. 4) Diagnóstico situacional: identificar os pontos fortes da família, os recursos médicos e os recursos comunitários. Mostrar sua visão perante tudo que lhe foi passado. Como o médico está, de fato, entendendo o problema. 5) Estabelecer planos: contribuir com informações médicas ou conselhos, e solicitar um plano da família. Firmar combinações, lembrando os objetivos. Perguntar se há dúvidas. Agradecer a participação e marcar um novo encontro. Referências: 1. Fernandes, C L C; Curra, L CD. Instrumentos de abordagem familiar . Programa de Atualização de Medicina de Família e Comunidade (PROMEF). Porto Alegre: Artmed. 2006. Cap 1 2. McDaniel, S H; Campbell, T L; Hepworth, J; Lorenz, A. Family-Oriented Primary Care. Second Edition. New York: Springer. 20 FERRAMENTAS DE ABORDAGEM FAMILIAR – GENOMAPA E ECOGRAMA – MEDICINA UFCSPA Na prática do médico da família e comunidade (MFC), há ferramentas que facilitam as abordagens com as famílias. O sucesso do médico ao abordar e “conquistar” uma família contribuirá para prevenção, investigação e tratamento dos casos. Há evidências de que a família influencia no que tange à conservação da saúde, desenvolvimentos de doenças e recuperação. Assim, se houver possibilidade de modificar a interação familiar a favor do desenvolvimento à saúde, o médico, nutrido de boas ferramentas, deve fazê-lo. De que forma a família tem participação no curso de doenças? A reação da família é importante para a evolução do quadro; o envolvimento familiar multiplica os recursos; informações colhidas de vários familiares enriquece o caso e favorece o diagnóstico; e a intervenção se torna mais efetiva se há envolvimento familiar. •Ciclo de vida: são as etapas pelas quais as famílias passam, cada qual com seus desafios. O entendimento desse ciclo brinda o profissional com ferramentas para intervir e resolver os entraves. Essas etapas podem ou não ser atravessadas por crises. A classificação, exposta abaixo, é a de McGoldrick, 1995. Em famílias socialmente vulneráveis, podem ocorrer fenômenos que encurtam as fases do ciclo de vida: gravidez precoce, início do trabalho também precoce, aglomeração de gerações dentro da mesma casa. •Caso clínico: Filha de 24 anos que resolve morar sozinha. Apresenta 4 episódios de dor de garganta em 6 meses, após ter saído de casa. Ainda tem dependência da mãe, que a ajuda nas tarefas e relata ao médico que a filha adoece porque saiu de casa. Como proceder? Primeiramente, tratar a queixa principal. Em um segundo momento, é importante discutir com a família questões de individualização, responsabilidades e autonomia. Cabe ao MFC encorajar esse desprendimento funcional da jovem, e fornecer amparo para as pessoas das quais a jovem está se desvencilhando. Como todo caso tem em si uma complexidade, há algumas ferramentas que o MFC pode utilizar para auxílio: •Genograma É um diagrama que coloca em pormenores o histórico familiar, a estrutura e papéis dos membros da família. Possibilita de forma visual toda a dinâmica que envolve determinada família. Eventos importantes como separação, nascimento e morte deve constar no diagrama. Para desenhar esse mapa, é necessário entrevista clínica contínua para a coleta e atualização das informações. Há a necessidade de alguma intimidade entre profissional e família. As doenças acometidas também devem ser contempladas, além dos conflitos acontecidos e a natureza da relação entre os membros. As vantagens de se usar essa ferramenta é a visão de contexto que ela traz, atravessando gerações e todas interações entre elas. Auxilia, ainda, a identificar aspectos comuns e problemas que acontecem de forma padronizada. Além disso, através do mapeamento do papel de cada um dentro de família, permite melhorar as relações e prevenir isolamentos. A imagem abaixo ilustra alguns símbolos do genograma. O genograma deve contemplar nomes, idades, estado marital, casamento prévio, filhos, doenças, eventos traumáticos, ocupações, emoções de proximidade, distância ou conflito. Ademais, colocar sempre três geraçõesda família a partir do informante. •Ecomapa É uma representação gráfica que liga as pessoas de uma família às estruturas sociais nas quais ela está imersa. Conecta, dessa forma, o núcleo familiar à comunidade e o meio no qual habita. Devem ser contemplados no ecomapa creche, escola, UBS, igreja, associação de moradores, relações significativas (amigos, vizinhos), trabalho e lazer. Um exemplo de ecomapa pode ser visualizado abaixo.
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