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Fernanda Jorge Martins – 3º Período @fernandamartins.med APG III SOFRIMENTO Objetivos: 1. Revisar os mecanismos de divisão e reparação celulares relacionados com o câncer. 2. Entender a relação do tabagismo com o câncer de pulmão e os outros aspectos epidemiológicos. 3. Estudar a etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas do câncer de pulmão. 4. Descrever o diagnóstico (os marcadores tumorais) e tratamento do câncer de pulmão. 5. Pesquisar as políticas públicas para a prevenção do tabagismo e a sua dependência. Divisão e Reparação Celular As células cancerosas comportam-se de forma diferente das células normais em nosso corpo. Muitas dessas diferenças estão relacionadas ao comportamento da divisão celular; Por exemplo, as células cancerosas podem multiplicar-se em cultura (fora do corpo, em uma placa de Petri) sem que sejam adicionados fatores de crescimento ou sinais de proteína que estimulam o crescimento. Isso é diferente das células normais, que necessitam de fatores de crescimento para crescer em cultura; As células cancerosas podem fabricar seus próprios fatores de crescimento, apresentar vias do fator de crescimento presas na posição "ligado" ou, no contexto do corpo, até mesmo enganar as células vizinhas e fazê-las produzir fatores de crescimento para sustentá-las; As células cancerosas também ignoram os sinais que deveriam levá-las a interromper sua divisão. Por exemplo, se células normais, cultivadas em uma placa de Petri, estão cheias de vizinhos por todos os lados, elas não vão mais se dividir. As células cancerosas, no entanto, continuam se dividindo e se empilhando umas sobre as outras em camadas irregulares; O ambiente em uma placa de Petri é diferente do ambiente no organismo humano, mas os cientistas pensam que a perda de inibição de contato em células cancerosas cultivadas em placas de Petri reflete a perda de um mecanismo que normalmente mantém o equilíbrio do tecido no corpo; Outra marca registrada das células cancerosas é sua "imortalidade replicativa", um termo extravagante para denominar o Fernanda Jorge Martins – 3º Período @fernandamartins.med APG III fato que elas podem se dividir muitas vezes mais do que uma célula normal do corpo. Em geral, as células humanas podem passar por apenas aproximadamente 40-60 rodadas de divisão antes de perderem a capacidade de se dividir, "envelhecer" e, finalmente, morrer; As células cancerosas podem se dividir muitas vezes mais do que isso, em grande parte porque elas expressam uma enzima chamada telomerase, a qual reverte o desgaste das extremidades do cromossomo que normalmente acontece durante cada divisão celular; Há outras diferenças entre as células cancerosas e as células normais que não estão diretamente relacionadas ao ciclo celular. Essas diferenças contribuem para seu crescimento, divisão e formação de tumores. Por exemplo, as células cancerosas obtêm a capacidade de migrar para outras partes do corpo, um processo chamado metástase , e de promover o crescimento de novos vasos sanguíneos, um processo chamado angiogênese (que fornece uma fonte de oxigênio e nutrientes às células tumorais). As células cancerosas também não se submetem à morte celular programada, ou apoptose, sob condições em que as células normais o fariam (por exemplo, devido a danos no DNA). Além disso, pesquisas recentes mostram que as células cancerosas podem sofrer alterações metabólicas que auxiliam um aumento do crescimento e da divisão celular. Câncer de Pulmão O câncer de pulmão é o mais comum dos tumores malignos, apresentando um aumento por ano de 2% na sua incidência mundial. A mortalidade por este tumor é muito elevada e o prognóstico da doença está relacionado à fase em que é diagnosticada; O tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Ele é responsável por 90% dos casos desse tumor. Mais homens que mulheres desenvolvem o câncer de pulmão, mas o número de casos em mulheres está aumentando. O risco de morte por câncer de pulmão é 22 vezes maior entre os fumantes do que entre os não fumantes; Essa neoplasia pulmonar pode também ser causada por produtos químicos – arsênico, asbesto, berílio, radônio, níquel, cromo, cádmio e cloreto de vinila, principalmente encontrados no ambiente ocupacional. Outros fatores relacionados a este tumor são os dietéticos (baixo consumo de frutas e verduras), genéticos, a doença https://pt.khanacademy.org/science/biology/dna-as-the-genetic-material/dna-replication/a/telomeres-telomerase Fernanda Jorge Martins – 3º Período @fernandamartins.med APG III pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) e a história familiar de câncer de pulmão. Às vezes, essa doença se desenvolve em indivíduos que nunca fumaram e a causa é desconhecida. Epidemiologia O câncer de pulmão é o câncer mais comum em todo mundo. Em 2002, estimava-se 1,35 milhão de casos novos, sendo 12,4% do número total de câncer. A metade dos casos ocorreu em países desenvolvidos; A incidência em homens ultrapassou 35/100 mil habitantes. A incidência nas mulheres chega a alcançar 12,1/100 mil habitantes. Contudo, em algumas regiões, a incidência em mulheres tem se aproximado da dos homens; De fato, a diferença regional é marcante. Na América do Norte e Europa Ocidental alcança 60 casos/100 mil habitantes; na Ásia, 30/100 mil habitantes; na Oceania, 40/100 mil habitantes; na América do Sul, 23,7/100 mil habitantes; na África, 2,4 – 12/100 mil habitantes; A diferença entre a incidência dos homens e mulheres é explicada, principalmente, pelo tabagismo: cerca de 90% dos casos é em decorrência do uso crônico do tabaco. Há um aumento de quase 20 vezes no risco de desenvolvimento de câncer nos fumantes em comparação com os não fumantes de cigarro, charutos ou cachimbos. O tabagismo passivo também está exposto a maiores riscos para desenvolver câncer de pulmão, segundo um grupo de estudo da “International Agency for Research on Cancer”. Etiologia O câncer de pulmão é uma doença principalmente de tabagistas. Mesmo havendo várias outras causas conhecidas, o número de casos de câncer de pulmão totalmente devidos a outros carcinógenos é baixo. Embora o asbesto possa causar carcinoma do trato aerodigestivo superior em não tabagistas, a combinação da fumaça do cigarro e das fibras do asbesto é particularmente carcinogênica, sendo os riscos multiplicados em vezes de somados; Os principais fatores de risco para o câncer de pulmão são: - Tabagismo; - Exposições ocupacionais a asbestos, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e sílica; - Poluição atmosférica; - Dieta rica em gordura e pobre em frutas, vegetais e legumes; - Doença pulmonar pré-existente (como a doença pulmonar obstrutiva crônica - DPOC); - Fatores do hospedeiro: polimorfismo de vários genes envolvidos no metabolismo de reparação do DNA (o p53, por exemplo) e controle do ciclo celular. Fernanda Jorge Martins – 3º Período @fernandamartins.med APG III O fumo contém oxidantes que se acredita ser importante causador de dano ao DNA, proteínas e lipídios. A fumaça do cigarro contém pelo menos 40 carcinógenos. Acredita-se que o principal deles seja o 3,4-benzopireno. Este pode induzir alterações como deleções no braço curto do cromossomo 3 encontrados em 50% dos casos de câncer pulmonar de não- pequenas células e em 100% dos casos de câncer pulmonar de pequenas células. Observa-se antes do desenvolvimento do câncer de pulmão uma série de mudanças morfológicas distintas (hiperplasia, metaplasia, displasia e carcinoma in situ); Os principais fatores de proteção contrao câncer de pulmão são: micronutrientes anti-oxidantes; carotenoides; vitaminas C e E; selênio. Fisiopatologia A OMS classifica o carcinoma broncogênico em dois grandes grupos histológicos: - Carcinomas de não-pequenas células (CNPC): os cânceres de não-pequenas células representam 75 a 80% de todos os casos. Esses incluem o adenocarcinoma, o carcinoma de células escamosas (epidermoide) e o carcinoma de grandes células. Os não-pequenas células geralmente se disseminam lentamente para outros órgãos no corpo e pode ser difícil detectá-los em estágios precoces. Este grupo pode ser dividido nos seguintes subgrupos: o Carcinoma de células escamosas (epidermoide): Variante papilar; Variante de células claras; Variante de pequenas células; Variante basiloide. o Adenocarcinoma: origem proximal (brônquica): acinar, papilar e sólido; origem distal: carcinoma bronquíolo alveolar. o Carcinoma de grandes células: carcinoma neuroendócrino de células grandes; carcinoma basiloide; carcinoma de células claras; carcinoma de células grandes com fenótipo rabdoide. o Carcinoma anaplásico de pequenas células o Carcinoma adenoecamoso ou misto (epidermoide + adenocarcinoma). - Carcinoma de pequenas células (CPC ou oat cells): os cânceres de pequenas células são responsáveis por 20 a 25% dos casos de câncer de pulmão. Eles se disseminam muito rapidamente no pulmões para outros órgãos. o Carcinoide neuroendócrino típico (produz substâncias do tipo carcinoide) o Carcinoide neuroendócrino atípico (libera substâncias vasoativas) o Variante: carcinoma de pequenas células combinado (CPC com elementos escamosos e/ou glandulares). Quadro Clínico Um sintoma comum é a tosse persistente ou a mudança no caráter de uma tosse crônica; Fernanda Jorge Martins – 3º Período @fernandamartins.med APG III Cerca de 25% dos carcinomas pulmonares são assintomáticos, sendo detectados incidentalmente com exames de imagem do tórax; Os sinais e sintomas podem resultar de progressão do tumor local, disseminação regional ou metástases a distância. Tumor Local Tumor local causa tosse, dispneia (decorrente de obstrução das vias respiratórias), atelectasia pósobstrutiva ou pneumonia, perda de parênquima (disseminação linfangítica); Pode ocorrer febre na vigência de pneumonia pósobstrutiva. A hemoptise é menos comum e a perda sanguínea é mínima, exceto em situações raras em que o tumor corrói uma grande artéria, provocando hemorragia maciça. Disseminação Regional Pode causar dor torácica pleurítica, dispneia, rouquidão (invasão tumoral do nervo laríngeo recorrente), hipóxia (decorrente de paralisia diafragmática pelo comprometimento do nervo frênico); A disseminação do tumor para o pericárdio pode ser assintomática ou provocar pericardite constritiva e tamponamento cardíaco. - Síndrome da veia cava superior: compressão ou invasão da veia cava superior, que desencadeia cefaleia, edema facial e dos membros superiores, rubor, falta de ar na posição supina, veias dilatadas; - Síndrome de Pancoat: quando tumores apicais, geralmente CPCNP, invadem o plexo braquial, a pleura ou arcos costais, desencadeando dor nos membros superiores, fraqueza e atrofia da mão ipsolateral; - Síndrome de Horner (ptose, miose e anidrose): quando há comprometimento da cadeia simpática paravertebral ou do gânglio estrelado cervical. Metátases Provocam sintomas que variam de acordo com a localização e podem se disseminar para outros órgãos: - Fígado: causa dor, saciedade precoce, náuseas e insuficiência hepática; - Cérebro: causa mudanças comportamentais, confusão mental, afasia, convulsões, paresia, paralisia, náuseas, vômitos e, por fim, coma e morte; - Ossos: causa dor intensa e fraturas patológicas; - Glândulas adrenais: raramente causa insuficiência adrenal. Síndromes Paraneoplásicas São sintomas que ocorrem em locais distantes de um tumor ou de suas metástases. Nos pacientes com câncer de pulmão incluem: Fernanda Jorge Martins – 3º Período @fernandamartins.med APG III - Hipercalcemia (o tumor produz proteína relacionada com hormônio paratireóideo); - Síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético, Síndrome de Eaton- Lambert (semelhante a miastenia), Síndrome de Cushing, Síndromes neurológicas; - Baqueteamento digital com ou sem osteoartropatia pulmonar hipertrófica; - Hipercoagulabilidade com tromboflebite superficial migratória (síndrome de Trousseau). Diagnóstico Raio-X do tórax, complementado por tomografia computadorizada são os exames iniciais para investigar uma suspeita de câncer de pulmão; Em pacientes assintomáticos sob risco de câncer de pulmão ou com sintomas precoces sugestivos (emagrecimento, tosse persistente, padrão de tosse diferente do habitual) a realização do Raio-X de tórax é de grande valor; A broncoscopia (endoscopia respiratória) deve ser feita para avaliar a árvore traquebrônquica e, eventualmente, permitir a biópsia (retirada de pedacinhos do tumor com uma agulha para exame). É fundamental obter um diagnóstico de certeza pela patologia; Uma vez obtida a confirmação da doença, é feito o estadiamento, que avalia o estágio de evolução, ou seja, verifica se a doença está restrita ao pulmão ou disseminada para outros órgãos; O estadiamento é feito por meio de vários exames, como biópsia pulmonar guiada por tomografia, biópsia por broncoscopia, tomografia de tórax, ressonância nuclear, PET-CT, cintilografia óssea, mediastinoscopia, ecobroncoscopia, entre outros. Tratamento O tratamento do câncer de pulmão requer a participação de um grupo multidisciplinar, formado por oncologista, cirurgião torácico, pneumologista, radioterapeuta, radiologista intervencionista, médico nuclear, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social; Para o adequado planejamento do tratamento, é necessário fazer o diagnóstico histológico e o estadiamento para definir se a doença está localizada no pulmão ou se existem focos em outros órgãos; Para os pacientes com doença localizada, e, particularmente, sem linfonodo (gânglio) aumentado (íngua) no mediastino (região entre os dois pulmões), o tratamento é cirúrgico, seguido ou não de quimioterapia e/ou radioterapia; Para aqueles com doença localizada no pulmão e nos linfonodos, o tratamento é feito com radioterapia e quimioterapia ao mesmo tempo; Fernanda Jorge Martins – 3º Período @fernandamartins.med APG III Em pacientes que apresentam metástases a distância, o tratamento é com quimioterapia ou, em casos selecionados, com medicação baseada em terapia-alvo; Portanto, o tratamento do câncer de pulmão depende do tipo histológico e do estágio da doença, podendo ser tratado com cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, e/ou modalidades combinadas. Políticas Públicas Portaria nº 957, de 26 de setembro de 2014 – Aprova as diretrizes diagnósticas e terapêuticas do câncer de pulmão; Desde 1989, o INCA desenvolve ações voltadas para o tratamento do tabagismo; Atualmente, nos 26 estados da Federação e no Distrito Federal, as secretarias estaduais de saúde possuem coordenações do Programa de Controle do Tabagismo que, por sua vez, descentralizam as ações para seus respectivos municípios atuando de forma integrada; As ações educativas, legislativas e econômicas desenvolvidas no Brasil vêm gerando uma diminuição da aceitação social do tabagismo, fazendo com que um número cada vez maior de pessoas queira parar de fumar, evidenciando a importância de priorizar o tratamento do fumante como uma estratégia fundamental no controle do tabagismo; A abordagem tendo por base o modelo cognitivo comportamentalé a técnica recomendada para o tratamento do tabagista; Entre suas premissas está o entendimento de que o ato de fumar é um comportamento aprendido, desencadeado e mantido por determinadas situações e emoções, que leva a dependência devido às propriedades psicoativas da nicotina. O tratamento objetiva, portanto, a aprendizagem de um novo comportamento, através da promoção de mudanças nas crenças e desconstrução de vinculações comportamentais ao ato de fumar, combinando intervenções cognitivas com treinamento de habilidades comportamentais. Referências Bibliográficas 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer, Coordenação de Prevenção e Vigilância, Divisão de Controle do Tabagismo e Outros Fatores de Risco de Câncer, 2005 – Deixando de Fumar sem Mistérios – Manual do Coordenador, Rio de Janeiro. 2. LONG, Dan L. et al. Medicina Interna de Harrison. 18 ed. Porto Alegre, RS: AMGH Ed., 2013. 2v. 3. Porth CM, Matfin G. Fisiopatologia. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. https://www.inca.gov.br/tabagismo https://www.inca.gov.br/programa-nacional-de-controle-do-tabagismo/programa-nacional-nos-estados https://www.inca.gov.br/videos/01-fumo-passivo
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