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PEDRO HENRIQUE MARTINS – MED100 GASTRO – CRISTINA CIRROSE HEPÁTICA E HIPERTENSÃO PORTAL Grupo de doenças do fígado caracterizadas por lesão crônica e persistente em indivíduo geneticamente predisposto, que fazem uma inflamação intersticial crônica, tendo uma tentativa de reparação com tecido fibroso, levado a formação de nódulos de regeneração e perda da arquitetura hepática e de sua função. Essas lesões podem ser causadas por agentes virais, medicamentosos, autoimunes que agridem o fígado de forma crônica e persistente, ou por causas desconhecidas (cirrose criptogênica) CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA: - Alcoólica - Pós-necrótica (pós-hepatite B e C) - Biliar - Metabólica/genética (hemocromatose, wilson, esteato hepatite, deficiência alfa-1-anti-tripsina) - Autoimune - Induzida por drogas (metotrexato, isoniazida) - Obstrução do fluxo venoso - Criptogênica CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA: - Compensada - Descompensada: deve-se identificar a causa da cirrose para começar tratar o mais rápido possível. FATORES PRECIPITANTES PARA A DESCOMPENSAÇÃO: - Hemorragia digestiva - Infecções - Distúrbios hidroeletrolíticos (gastroenterite com diarréia, cirrótico com anasarca – edema generalizado, que ao tratar, desidrata e perde eletrólitos) - Ingestão proteica excessiva (microbiota transforma em amônia que não será depurada encefalopatia) - Constipação Intestinal (mais tempo de proteínas sendo absorvidas e metabolizadas em amônia) - Drogas psicoativas (benzodiazepínicos, narcóticos e alcóol – aumenta meia vida, pois o fígado não consegue metabolizar por completo) - Shunts portossistêmios (naturais,cirurgias, tips – transjugular intra-hepática) ou piora da função hepatocelular feito em pacientes que não conseguem controlar hemorragia digestiva alta SINTOMAS PERIFÉRICOS DA INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA - Eritema palmar - Leuconíquia - Asterixe - Atrofia muscular - Baqueteamento digital - Icterícia - Aranhas vasculares - Hálito hepático - Xantelasmas - Ginecomastia - Cabeça de medusa - Hepatoesplenomegalia - Equimoses - Perda de pêlos pubianos - Testículos atróficos - Edema periférico - Ascite - Hérnia paraumbilical ICTERÍCIA: Alteração nos processos de transporte, conjugação e principalmente na excreção biliar. A bilirrubina predominantemente aumentada é a direta. Em alguns casos pode ocorrer colúria, hipocolia/acolia fecal e prurido. Transporte albumina produzida no fígado transporta a bilirrubina indireta para ser conjugada. Conjugação enzima UDP glicuronil transferase fica dentro dos hepatócitos e é responsável por conjugar a bilirrubina indireta em direta, no entanto, como o fígado está comprometido, há poucas enzimas. Excreção biliar a excreção da bilirrubina direta para os canalículos é dependente de energia (ATP), logo, o fígado pouco funcionante, tem menos ATP dentro dos hepatócitos. Etapa mais prejudicada! PEDRO HENRIQUE MARTINS – MED100 GASTRO – CRISTINA LEUCONÍQUIA: Linhas de ‘Muerhcke’ são caracterizadas por bandas transversas duplas esbranquiçadas, associada a hipoalbuminemia (albumina menor que 2,2g/dl), refletindo anormalidade vascular no leito ungueal EQUIMOSES: Ocorrem devido à plaquetopenia, ocasionada pelo hiperesplenismo, retendo e armazenando células sanguíneas, podendo levar até a um quadro de anemia. TELEANGIECTASIAS: Lesões vasculares constituídas por uma arteríola central de onde migram pequenos vasos. Predominam principalmente no tronco, membros superiores e face, com patogênese desconhecida (pode estar relacionada ao aumento da relação estradiol/testosterona livre em homens, circulação hiperdinâmica, diminuição da capacidade angiogênica em cirróticos mais velhos por alcoolismo. A prevalência de AV é maior em cirróticos por álcool comparados com cirróticos de outras etiologias. GINECOMASTIA: Relação aumentada entre o estradiol/ testosterona livre em homens, com níveis baixos de testosterona e alteração da resposta do eixo hipófise- hipotálamo. Fígado não consegue metabolizar estrogênio, ocorrendo baixa produção de testosterona, levando a uma feminilização da fisionomia BAQUETEAMENTO DIGITAL: Aumento do tecido conjuntivo vascularizado da porção terminal das falanges distais. Na cirrose hepática, o hipocratismo digital ocorre por dilatação das anastomoses arteriovenosas nos quirodáctilos. ASTERIX OU FLAPPING: Tipo de tremor característico da presença de encefalopatia hepática. Parece um movimento de bater de asas. Paciente faz extensão de seus braços e dobra seus punhos para trás. Nessa manobra, os pacientes com encefalopatia exibem o flapping – isto é, um movimento súbito do punho para frente, devido a hiperamoniemia nos núcleos da base do cérebro, ocasionando uma síndrome extrapiramidal. CONTRATURA DE DUPUYTREN: Fibrose da fáscia palmar que causa rigidez articular e terá como consequência a dificuldade em estender os dedos. Risco superior em alcoolista, diabético, fumante, hipercolesterolemia ou HIV EXAMES LABORATORIAIS: - Aumento da TGO e TGP: lesão hepatocelular. Em necrose extensa, podem estar diminuídas. o Razão TGO/TGP > 3: sugere lesão por álcool - Fosfatase alcalina, GGT, Bilirrubina direta: indica lesão ductal e colestase o Aumento da GGT (metabolização de drogas): sugere uso de álcool, barbitúricos e outras drogas - Albumina e TAP: mede a função sintética do fígado - α feto PTN: dosar a cada 4 a 6 meses, pois a cirrose é um fator de risco para o hepatocarcinoma CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA – CHILD PUGH (BEATA): CLASSIFICAÇÃO DE MELD: Creatinina, bilirrubina, INR e sódio PEDRO HENRIQUE MARTINS – MED100 GASTRO – CRISTINA BIOMARCADORES INDIRETOS: Parâmetros bioquímicos que avaliam grau de fibrose do fígado DIAGNÓSTICO: - Biópsia hepática (PADRÃO OURO): o Invasiva e pode ser percutânea, transjugular / intra-operatória risco de sangramento e infecção o Define etiologia, padrão evolutivo e orienta o tratamento o É desnecessária quando a etiologia é conhecida, HP e insuficiência hepatocelular, alterações bioquímicas e US característica. - Elastografia hepática: o Não invasivo e indolor o Através da elasticidade do fígado estima a extensão da fibrose por velocidade de onda - US abdominal: o Não substitui a biópsia, mas oferece sugere o diagnóstico o A US de abdome total associada ao doppler colorido do sistema porta consegue avaliar hipertensão portal, estimando a pressão da veia porta e se o fluxo é hepatopetal – da veia porta direto para o fígado – ou se é fluxo hepatofugal pelas colaterais. o Rastreamento do carcinoma hepatocelular US + α-FETO PTN cada 4 a 6 meses - TC e RNM de abdome: Não são exames de eleição. Usa nos casos de suspeita de tumor no fígado - Angio TC: Quando há suspeita de obstrução venosa TRATAMENTO DA CIRROSE: - Não há tratamento específico, trata a causa base. Caso esteja em estágio inicial é reversível. - Em estágios graves, o transplante se torna uma opção, mas mesmo assim, precisa tratar causa base. - Vacinar para Hepatite A, B, pneumocócica e influenza TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES DA CIRROSE: - Hemorragia digestiva alta, ascite, PBE (peritonite bacteriana espontânea), encefalopatia, síndrome hepatorrenal e hepatopulmonar. NUTRIÇÃO NO CIRRÓTICO - Desnutrição ocorre em 20% dos cirróticos compensados e em mais de 80% dos descompensados, predispondo a uma maior chance de infecção, que irá descompensar mais ainda. Causada por anorexia, hipercataolismo, má-absorção, restrições dietéticas. - Encefalopatias graus I e II dieta com proteína animal (10-30 g/ dia) e o restante proteína vegetal - Encefalopatiasgraus III ou IV nutrição enteral exclusiva com solução rica em aminoácidos de cadeia ramificada. Ou seja, restringe ingesta de proteína animal. - Restrição de sódio não deve ser inferior a 2 g/dia - Restrição hídrica só quando a concentração sérica de sódio for inferior a 120 meq/l. - Repor vitaminas hidrossolúveis (vitamina-b1) e vitaminas A, D, E, K (lipossolúveis). - Reposição de Ferro e Ácido Fólico HIPERTENSÃO PORTAL - Veia porta contribui com 80% do suprimento total de O2 para o fígado (20% da artéria hepática) - Fluxo sanguíneo portal no homem é de 1000 a 1200 ml/min e com pressão portal de cerca de 7mmHg - Espaços porta é formado por: ducto biliar + ramo da artéria hepática + ramo da veia porta - Veia porta = veia esplênica + veia mesentérica superior. - Antes da esplênica se juntar, ela recebe a drenagem da veia mesentérica inferior. - Veia porta se ramifica até chegar nos sinusóides hepáticos. - Leva oxigenação, mesmo sendo veia e leva sangue para ser depurado. PEDRO HENRIQUE MARTINS – MED100 GASTRO – CRISTINA As células endotelias que formam os capilares sinusóides não possuem membrana basal e possuem enormes fenetrasções, permitindo uma facilidade para passagem de moléculas grandes como albumina. Acima delas, estão presente as células de Kupffer (macrófagos do fígado) que fagocitam e depuram as toxinas bacterianas que vem do trato digestório e as células de ITO/estrelares que armazenam vitmina A e produzem tecido fibroso na instalação da cirrose. A veia porta não consegue controlar o fluxo de sangue, pois não tem válvula. Quem regula a quantidade de sangue que chega até a veia porta é o leito esplâncnico. E ela também se comunica com as colaterais: veias umbilicais, esofágicas, gástricas, retais. Hipertensão portal: síndrome clínica caracterizada por aumento acentuado da pressão venosa do sistema portal, com formação de colaterais portossistêmicas (desviam o sangue para a circulação geral) e desenvolvimento de circulação hiperdinâmica. Dependendo de onde aconteça o aumento da resistência da veia porta, podemos classificar a hipertensão portal nos 3 tipos definidos abaixo: - Pré-hepática: o Eixo esplenoportal trombose o Aumento do fluxo portal mastocitose o Mista linfona não-hodglin, leucemia, doença mieloproliferante - Hepática: o Pré-sinusoidal esquistossomose (ovos), hepatite crônica o Sinusoidal cirrose alcóolica e hepatite alcóolica o Pós-sinusoidal doençavenoclusiva - Pós-hepática: o Cardíacas pericardite, IC direita COMO SURGE A HIPERTENSÃO PORTA Exemplo de um cirrótico por hepatite B. O vírus funciona como um agente agressor crônico e persistente do fígado, logo, essa agressão acaba ativando as células de Kupffer que irão liberar substancias para ativar as células de ITO, iniciando a produção de tecido fibroso que irá ocluir as fenestrações entre as células endoteliais, depositando-se entre e sobre elas. Quando as fenestrações são ocluídas ocorre uma perda funcional do fígado, pois através dessas fenestrações ocorria a depuração de substancias ruins e a saída de albumina, cuja a mesma, iria para circulação posteriormente. Existe uma lei em física que diz que a pressão dentro de um vaso é diretamente proporcional ao fluxo de sangue que chega a esse vaso e a resistência a drenagem desse vaso. Aplicando isso a veia porta, temos que quem determina o fluxo de sangue que chega até ela, são as artérias mesentéricas, e quem determina a resistência a drenagem é o interstício dos hepatócitos. Como tanto os sinusóides quanto o interstício estão lotados de tecido fibroso, eles perdem a elasticidade e ficam enrijecidos, isso por sua vez, aumenta a resistência a drenagem. A célula de ITO além de produzir tecido fibroso, se transforma em um miofibroblasto que fica contraído sobre as células endoteliais, aumentando mais ainda a resistência. Graças ao grande poder de regeneração hepática, toda essa agressão estimula a formaçãode nódulos, que nesse caso, não funcionam bem por não conseguir comunicar as ilhas de reparação com a veia centrolobular e nem com os sinusóides que ainda funcionam, ou seja, esses nódulos são não funcionantes e acabam tornando mais rígido ainda o parênquima hepático. Capilarização dos sinusóides deposição de tecido fibroso sobre as células endotelias dos capilares sinusóides. Isso oclui as fenestras e prejudica as trocas e depuração que ocorria. PEDRO HENRIQUE MARTINS – MED100 GASTRO – CRISTINA A veia porta por sua vez, como não consegue drenar corretamente o sangue para dentro do fígado, fica hipertensa e cheia de sangue, logo, ela joga sangue para dentro das veias colaterais que anteriormente quase não tinham fluxo sanguíneo. Com essa divisão de sangue, a veia porta deveria ficar menos hipertensa, mas não consegue. Isso ocorre devido ao alto numero de bactérias no TGI e as que ingerimos, as quais liberam toxinas e substâncias vasodilatadoras. Se o fígado estivesse funcionante, elas seriam depuradas e inativadas. Ocorre uma vasodilatação arterial da circulação sistêmica e da circulação esplâncnica, aumentando mais ainda o fluxo portal. A veia porta tenta empurrar sangue para dentro das colaterais, mas em contrapartida, o leito esplâncnico dilatado vai empurrar mais sangue para dentro da veia porta. Essa circulação colateral irá causar varizes de esôfago + varizes de fundo gástricos, que podem levar a uma hemorragia digestiva alta Como o fígado está sem função, as substâncias fruto da degradação de alimentos do trato digestório, não vão chegar ao fígado para serem depuradas, com isso, a amônia, que é fruto da degradação de proteínas, não vai ser depurada, e como consequência, através das colaterais ela vai parar nos vasos cerebrais e se acumula nos núcleos da base levando a uma encefalopatia hepática. Quando ocorre a vasodilatação arterial sistêmica, devido ao óxido nítrico, o nosso organismo entende que estamos entrando em hipotensão, dessa forma, os baroreceptores carotídeos e aórticos vão deflagrar mecanismos para aumentar essa pressão. - Ativação do sistema nervoso simpático vasoconstrição periférica renal síndrome hepatorenal - Ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona maior retenção de água e sódio aumento da pressão sanguínea aumento da pressão hidrostática + pressão coloidosmótica baixa pela baixa produção de albumina pelo fígado vaza líquido para terceiro espaço ascite - Vasodilatação ocorre no leito pulmonar e com a baixa pressão coloidosmótica, vaza líquido para o interstício pulmonar troca gasosa é prejudicada insuficiência respiratória síndrome hepatopulmonar INVESTIGAÇÃO - ANAMNESE: Sangramento gastrointestinal, resultados EDA, alcóol, hemotransfusão, hepatites, medicamentos - EXAME FÍSICO: sinais de insuficiência hepática DIAGNÓSTICO - EDA: Padrão OURO para diagnóstico de varizes de esôfago e gástricas. - USG abdominal com Doppler: avalia fígado, baço, veias portais, circulação colateral e ascite, além da direção do fluxo (HEPATOPETAL ou HEPATOFUGAL) e velocidade. - Gradiente de Pressão da Veia Porta (HVPG): Padrão OURO para medida de pressão portal: O balão é introduzido pela veia femoral ou jugular sob fluoroscopia (cateterismo). Muito invasiso, não realizado. ESQUISTOSSOMOSE - Parasita: Schistosoma mansoni - Formas: aguda, crônica e hepatoesplênica - Ovos e vermes adultos realizam alterações vasculares obstrutivas portais (aumento da carga parasitária e grande nº ovos + imunologia) - Fibrose periportal ramos pré-sinusoidais - Hipertensão porta ocorre por uma ação mecânica devido aos ovos obstruindo os ramos pré sinusoidais + citocinas produzidas pelo parasita, que levam a uma fibrosedesses ramos pré sinusoidais - Predomínio de hipertensão portal sobre alterações funcionais do fígado classicamente o paciente tem MUITA hipertensão porta e pouca cirrose (fibrose) - Geralmente esses pacientes possuem ascites imensas e morrem por hemorragia de varizes esofágicas e de fundo gástrico
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