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PANCREATITE AGUDA Inflamação do parênquima pancreático desencadeado por um processo autodigestivo. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O DEFINIÇÃO: Processo inflamatório agudo do pâncreas, de acometimento variável que vai de leve a grave, com acometimento de outros órgãos. *Pancreatite aguda não vira crônica CLASSIFICAÇÃO DA PANCREATITE AGUDA (PA): • Leve: Edematosa, 80-90% dos casos, baixíssima mortalidade (<1%). • Grave: Necrohemorrágica, mortalidade de 10- 30%, associada à Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) e pode evoluir para uma Síndrome de Disfunção Múltipla de Órgãos (SDMO) e morte. ETIOPATOGENIA → Teoria da colocalização! • Insulto ao pâncreas → Fusão dos lisossomos aos zimogênios no parênquima → Ativação enzimática dentro dos ácinos → Autodigestão tecidual → Inflamação. Se PA GRAVE (10- 20%): Autoperpetuação do processo inflamatório → Lesão endotelial → Ruptura de vasos → Hemorragia → Necrose. • *Zimogênios: São formas inativas das enzimas pancreáticas, usualmente esses zimogênios só são ativados no lúmen duodenal, para evitar a autodigestão. ETIOLOGIA • Lítiase Biliar (1º) e Álcool (2º): 80% dos casos, no caso do álcool não é por etilista crônico e sim por libação, bebeu muito álcool previamente. • Dislipidemia: Hipercolesterolemia familiar, trigicérides bem alto (quase mil). • Trauma: Síndrome do tanque (que cai na barriga da criança), principal causa pediátrica! • Drogas: Imunossupressores, anti-retrovirais, • Infecções virais: • Parasitoses: Um áscaris, raro. • Autoimune: IgG4, considerar em paciente com história de doença autoimune. • CPRE: Pode causar, por isso o exame tem que ser feito de modo TERAPÊUTICO apenas. • Idiopática: Quando não se sabe a causa. QUADRO CLÍNICO • Dor no quadrante superior: Muito forte, tipo facada, em faixa e que irradia para o dorso. • Nausêas e vômitos: Vários vômitos, o processo inflamatório causa uma gastroparesia (proximidade anatômica) e acarreta em vômitos que não fazem a dor melhorar após vomitar! • Desidratação: Paciente geralmente com as mucosas esbranquiçadas, secas, desidratado. EXAME FÍSICO • Posição antálgica: A famosa prece maometana ou atitude genupeitoral faz com que o paciente tenha menos dor. • Abdome doloroso a palpação • Distensão abdominal • Sem irritação peritoneal: O pâncreas é retroperitoneal, só tem peritonite nos casos mais graves. • Casos graves → Sudorese intensa, hipotensão, taquicardia. • Equimoses: Paciente gravíssimo. o Sinal de Halsted-Cullen: Equimose periumbilical, o umbigo parece um cu, de Cullen. o Sinal de Grey-Turner: Equimose em flancos. o Sinal de Fox: Equimose em região inguinal, na base do pênis. o Paniculite ou “gordurite”: Necrose gordurosa subcutânea. AVALIAÇÃO POR LABORATORIAL • Amilase: Mais sensível, não é específica, sobe e cai precocemente (pode estar normal com 5 dias), os valores estão 3-5x o valor de referência. • Lipase: Mais específica, curva mais longa, demora pra subir e se mantém por 5-7 dias. • Aumento de AST/TGO: O aumento dessa enzima tem VPP (Valor Preditivo Positivo) de 95% de ser uma PA por litíase biliar. SINAL DE CULLEN SINAL DE GREY-TURNER V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Hiperglicemia: Ocorre por aumento da resistência insulínica sistêmica. • PCR: Marcador de complicação local (necrose) se o estiver > 15mg/dL 48h após admissão. EXAMES DE IMAGEM • Rotina de Abdome Agudo: Sempre pedir, não dá pra ver o pâncreas mas afasta outras causas. o Alça sentinela, sinal de Gobiet: Dados que podem ser indicativos de pancreatite. • TC de abdome com contraste: Método de escolha para avaliar o pâncreas, é o que melhor observa a presença de necrose, líquido livre, etc. • USG de Abdome: Exame obrigatório! Não visualiza bem o pâncreas mas tem boa visualização da via biliar e do pâncreas, então é preciso para descartar litíase biliar. • Rotina de Abdome Agudo: Sempre pedir, não dá pra ver o pâncreas mas afasta outras causas. Se for outra causa, vai ter pneumoperitônio. o Alça sentinela, sinal de Gobiet: Dados indicativos de pancreatite no RX. • RNM ou EUS: Pouquíssimo utilizados, pois são muito mais caros que a TC e possuem o mesmo nível de acurácia. DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS DE BANKS → 2 de 3 Critérios! • Clínica compatível: Dor em abdome superior, em barra/faixa que irradia para o dorso. • Enzimas (amilase/lipase): Espera-se o aumento de pelo menos 3x das enzimas. • TC: Melhor exame para avaliar o pâncreas. CRITÉRIOS DE GRAVIDADE → 2 PERGUNTAS! • Tem falência orgânica? Se sim, transitória ou permanente? • Tem necrose? Se sim, infectada ou estéril? SCORE DE RANSON: Criado em 1974, pouco utilizado na prática mas cai muito na residência, tem 11 parâmetros para avaliação, 5 na admissão e 6 após 48h. *Além disso, existe uma relação diretamente proporcional da letalidade da doença com o número de critérios, conforme tabela abaixo. CRITÉRIO DE APACHE II • Avaliação imediata • Pode ser repetido • Complexo: Não precisa decorar critério. GRAVE ≥ 3 V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O o 14 parâmetros, sendo 12 variáveis o Se o score der > 8 → PA grave CRITÉRIOS DE GLASGOW: O único que usa albumina, grave se ≥ 3. CRITÉRIOS DE ATLANTA (2012) : Um dos mais utilizados na prática, classifica a PA em 3 subtipos que tem como máxima “a doença se torna grave com a presença de SIRS”. SCORE BISAP: Score pequeno, o seu nome é um mnemônico para ajudar a lembrar, simples e que pode ser feito à beira do leito, são 5 parâmetros que ajudam a qualificar o paciente como grave: CRITÉRIOS DE MARSHALL: Grave ≥ 2 CRITÉRIOS DE SOFA: Grave ≥ 3 INDICAÇÕES DE TC • Diagnóstico clínico duvidoso • Pancreatite grave: Ranson > 3, apache II > 8, piora clínica, PCR > 15mg / dL pós 48h da dor. Marcador de complicação local (necrose)! CRITÉRIOS DE BALTHAZAR Um score tomográfico muito importante para avaliar alterações no pancrêas na pancreatite aguda, mas NÃO FALA DE NECROSE NOS CRITÉRIOS. Por isso, é quase sempre associada com a necrose! COMO AVALIAR COMPLICAÇÕES SISTÊMICAS: Escolher um score! Ranson, Marshall, Atlanta, Balthazar. COMO AVALIAR COMPLICAÇÕES LOCAIS: PCR pós 48h do surgimento dos sintomas + tomografia (Balthazar + Necrose). CRITÉRIOS DE PETROV → TENDÊNCIA ATUAL! PANCREATITE AGUDA LEVE: Sem necrose e sem falência orgânica. PANCREATITE AGUDA MODERADA: Necrose estéril e/ou falência orgânica transitória. PANCREATITE AGUDA GRAVE: Necrose infectada OU falência orgânica persistente. PANCREATITE AGUDA CRÍTICA: Necrose infectada e Falência orgânica persistente. TRATAMENTO PANCREATITE AGUDA LEVE • Hidratação venosa vigorosa e individualizada: Muito importante, a desidratação é uma das consequências mais importantes da doença, então é muito importante evitar choque. • Analgelsia: O paciente geralmente sente muita dor, por isso é recomendada a terapia com narcóticos, principalmente os opiáceos. (A morfina antes não era recomendada, mas não há evidências na literatura que ela faça mal). • Suporte nutricional: Dieta zero até a melhora do quadro, geralmente o paciente volta a se alimentar depois de 3-5 dias. PANCREATITE AGUDA GRAVE • Hidratação venosa vigorosa: É a medida mais importante, pois o paciente com PA grave perde muito líquido para o retroperitônio, a indicação geral é que sejam reposto pelo menos 6L de solução cristalóide (Ringer Lactato como principal escolha) em 24h. • Suporte Nutricional: Os pacientes devem ficarsem comer por cerca de 4 semanas, então é necessário realizar uma sonda nasojejunal preferencialmente nas primeiras 48h para realizar a nutrição enteral rica em proteínas e pobre em lipídeos. A NPT só é recomendada em casos de intolerância à sonda ou se as necessidades nutricionais não forem contempladas pós-48h. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O • Aminas Vasopressoras: Noradrenalina se o paciente estiver em choque (geralmente sirético ou séptico). • Sonda nasogástrica em sanfonagem: Em casos de vômitos coercitivos, é necessário limpar a cavidade gástrica para evitar esses problemas. *ATB Profilático? Drogas Antiprotease? Essa medidas CAÍRAM POR TERRA e NÃO devem ser realizadas no paciente com necrose pancreática estéril, o tratamento deve ser imposto apenas se infecção. • Se infecção: Imipenem 10-14 dias. SITUAÇÕES ESPECIAIS CPRE + PAPILOTOMIA ENDOSCÓPICA: É indicado realizar o procedimento nas primeiras 72h em PA por litíase biliar associada a um quadro de colangite e/ou icterícia progressiva moderada/grave para retirada dos cálculos impactados no colédoco. COLECISTECTOMIA SEMIELETIVA: Todos os pacientes com pancreatite aguda biliar devem ser submetidos à colecistectomia antes de receber alta! O procedimento deve ser postergado para quando houver melhora do quadro e associado à uma CPRE para investigar cálculos no colédoco. *CIRURGIA NO PÂNCREAS? Indicado apenas se necrose infectada com gás no retroperitônio → Abordagem: tirar os pedaços necrosados do pâncreas (necrosectomia). • Quando? Sempre após 14 dias! COMPLICAÇÕES NECROSE PANCREÁTICA INFECTADA: Deve ser suspeitada em casos de manutenção da inflamação sistêmica, leucocitose ou a presença de gás no pâncreas via TC, o diagnóstico deve ser confirmado através da punção do líquido com auxílio radiológico e o tratamento consiste em duas medidas. • ATB: Deve ser iniciado assim que a cultura por confirmada e o fármaco vai de acordo com a bactéria infectante, usualmente a terapia é realizada com Meropenem. • Necrosectomia: Fundamental, deve ser realizada por via cirúrgica aberta e a recomendação é que seja feita após 15 dias de instalação do quadro, para pegar um pâncreas mais recuperado. PSEUDOCISTO: Coleção líquida intra ou peripancreá- tica por mais de 4 semanas, envolvida por uma cápsula de fibrose. Coleções líquidas por menos de 4 semanas • Diagnóstico: Se houver piora do quadro álgico e massa palpável em região epigástrica, o paciente deve ser submetido à TC que vai mostrar o pseudocisto. • Tratamento: Se o paciente estiver estável, esperar completar 6 semanas pois o cisto tem chance de regredir. Intervir se (1) O cisto tiver se expandindo, (2) presença de sintomas e (3) complicações. o Cirurgia: Drenagem interna para órgãos adjacentes (estômago, duodeno e jejuno), cistogastrosto-mia, cistoduodenostomia… o Punção guiada por TC: Em cistos complicados, tenta puncionar tudo e avalia possível cirurgia. o Descompressão endoscópica: Utilizada em cistos com localização próxima à parede abdominal. • Complicações: Obstrução gastroduodenal ou biliar, hemorragia (principal e mais temida), fístulas e abscessos. ABSCESSO PANCREÁTICO: É um pseudocisto infectado, o paciente apresenta uma evolução com leucocitose, febre, edema. • Tratamento: Antibioticoterapia + Drenagem inicial via TC para minimizar os danos e posterior intervenção cirúrgica, se necessário. TROMBOSE DE VEIA ESPLÊNICA Varizes segmentares, restritas ao fundo gástrico, fazer tratamento endoscópico e condução de varizes.
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