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HEMOSTASIA DA COAGULAÇÃO Lara Camila – Medicina – 5º Semestre Hemostasia refere-se à coagulação fisiológica que ocorre em resposta ao dano vascular. A hemostasia é composta por uma sequência de eventos integrados que englobam vasos sanguíneos, plaquetas, fatores de coagulação, anticoagulantes naturais, proteínas da fibrinólise e seus inibidores; Objetivo: interromper sangramentos provenientes de lesão vascular. RESUMO INTRODUTÓRIO Após a lesão vascular, a resposta primária da hemostasia resulta na formação de um trombo plaquetário cujo efeito hemostático é transitório. A ativação dos fatores de coagulação culminará na geração de trombina e, em seguida, de uma rede de fibrina que irá estabilizar o trombo. Os anticoagulantes naturais controlarão a ação dos fatores de coagulação, impedindo que a geração de trombina e fibrina seja excessiva. Por fim, a fibrinólise dissolverá gradualmente a rede de fibrina, garantindo um fluxo sanguíneo normal ao longo do leito vascular. CÉLULAS ENDOTELIAIS As células endoteliais regulam o tônus vascular e garantem uma superfície antitrombótica para o fluxo sanguíneo; após lesão vascular ou determinados estímulos (citocinas inflamatórias), as células endoteliais passam a expressar propriedades procoagulantes. O endotélio vascular é um elemento central da hemostasia, pois produz diversos fatores que modulam a função plaquetária, a coagulação e a fibrinólise; O endotélio libera: óxido nítrico, prostaciclina, fator de ativação plaquetária e endotelina. ➢ Óxido nítrico: vasodilatador; inibidor da função plaquetária. ➢ Prostaciclina (PGI2): vasodilatador; inibidor da função plaquetária. ➢ Fator de ativação plaquetária (PAF): molécula de estrutura fosfolipídica que promove a vasoconstrição e a adesão de leucócitos no endotélio. ➢ Endotelina: o endotélio sintetiza a endotelina-1, que aumenta o cálcio intracelular, aumenta o tônus da musculatura lisa, causando vasoconstrição. Propriedades anticoagulantes ➢ Glicosaminoglicanos: potencializam a atividade de inibidores serino proteases, como a antitrombina, que inibe a atividade da trombina e o fator Xa. ➢ Componentes da via da proteína C: proteína C é um anticoagulante natural sintetizado pelo fígado, e as células endoteliais sintetizam e expressam componentes essenciais para sua ativação. A trombomodulina (TM) é uma proteína sintetizada pelas células endoteliais, que ao formar um complexo com a trombina, ativa a proteína C. A proteína C, por sua vez, promove proteólise dos fatores Va e VIIa, inativando-os e inibindo a formação de trombina. A proteína S, sintetizada pelo fígado e pelas células endoteliais, exerce a função de cofator da proteína C na inativação dos cofatores Va e VIIIa. OBS: a célula endotelial expressa o receptor endotelial da proteína C, que ao se ligar na proteína C, potencializa a ativação dessa proteína pelo complexo trombina-TM. ➢ Inibidor da via do fator tecidual (TPFI): inibe a ativação da coagulação dependente do fator tecidual ao interagir inicialmente com o fator Xa. Esse complexo, liga-se ao fator VIIa-fator tecidual, resultando na geração de um complexo quaternário (TPFI-Xa + VIIa-fator tecidual) que não possui atividade catalítica. Propriedades procoagulantes Em circunstâncias normais, as plaquetas circulantes não interagem com o endotélio vascular e, com a integridade vascular, o fator tecidual localiza-se nas camadas média e adventícia e, assim, não está em contato com o sangue circulante. No entanto, quando há lesão, elementos da matriz extracelular que compõem o subendotélio e o fator tecidual são expostos ao sangue circulante, iniciando a formação de um trombo na parede do vaso. ➢ As plaquetas aderem-se ao subendotélio e agregam-se umas as outras, através de proteínas de adesão, como o FVW e fibrinogênio. O fator tecidual, ao ser expresso, inicia a ativação da coagulação ao formar um complexo com o fator VIIa, culminando na geração de trombina e fibrina. Papel do endotélio na fibrinólise ➢ Ativador tecidual do plasminogênio (t-PA): sintetizado pelas células endoteliais, tem a função de formar um complexo com o plasminogênio na superfície do coágulo de fibrina, ativando o plasminogênio e plasmina, que irá degradar a rede fibrina. OBS: a célula endotelial também é capaz de sintetizar o inibidor do ativador tecidual de plasminogênio, que é o principal inibidor do t-PA. (PAI-1 inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1). Interação do endotélio com as células sanguíneas As células endoteliais expressam moléculas de adesão que regulam a adesão e a migração de leucócitos do meio intravascular para os tecidos. ➢ Ex: selectinas, moléculas de adesão intercelular, molécula de adesão vascular e moléculas de adesão celular plaqueta-endotélio. As células endoteliais também participam da resposta imune através da apresentação antigênica aos linfócitos T. PLAQUETAS São fragmentos de megacariócitos anucleados, com forma discoide; estima-se que seu período de vida na circulação seja de 8-12 dias, sendo que baço, fígado e medula óssea são os principais locais de remoção das plaquetas da circulação. O citoplasma das plaquetas contém organelas, como mitocôndrias, lisossomos e grânulos, denominados corpúsculos densos e grânulos-a. ➢ Os principais constituintes dos corpúsculos densos são: ADP, ATP, serotonina, pirofosfato e cálcio. ➢ O conteúdo dos grânulos-a inclui proteínas presentes no plasma, e que não são necessariamente sintetizadas pelos megacariócitos. Ou seja, as plaquetas são capazes de incorporar proteínas plasmáticas em seus grânulos-a. Os constituintes, são: proteínas de adesão (FVW, fibrinogênio, p-selectina), receptores de membrana, fatores de coagulação, inibidores da fibrinólise (PAI-1), anticoagulantes naturais (antitrombina e proteína S) etc. As glicoproteínas (GPs) expressas na membrana plaquetária funcionam como receptores das proteínas de adesão e estão envolvidas em diversas etapas da função plaquetária. Formação do trombo plaquetário Após lesão vascular, as plaquetas são capazes de responder rapidamente às propriedades trombogênicas das células endoteliais O fluxo sanguíneo tem papel fundamental na hemostasia, e é capaz de influenciar a dinâmica da formação do trombo. A velocidade do sangue é menor próximo a parede do vaso, quando comparada ao centro – onde é maior. Isso cria camadas justapostas com diferentes velocidades de fluxo, o que gera uma espécie de atrito entre elas, denominado sbear stress (“força de cisalhamento”); ➢ Em regiões de alto sbear stress, a interação entre plaquetas e o FVW assume extrema importância para garantir adesão plaquetária ao subendotélio e o início da formação do trombo. A adesão plaquetária ao subendotélio ocorre por meio da interação do receptor plaquetário (GPIb/V/IX) com o FVW. O FVW, quando há lesão vascular, liga-se ao colágeno exposto e sob condições de elevado sbear stress sofre mudanças em sua conformação, expondo o seu sítio de ligação para a GPIb/V/IX. ➢ Em regiões de baixo sbear stress, o colágeno é capaz de mediar a adesão plaquetária através da interação com os receptores plaquetários GP Ia/IIa e GPVI. A adesão desencadeia ativação plaquetária -> recrutamento de mais plaquetas para o local da lesão -> agregação (o FVW e o fibrinogênio formam pontes entre as plaquetas adjacentes) -> formação do trombo plaquetário. A ativação plaquetária é modulada por agonistas que, ao se ligarem em seus receptores, desencadeiam a liberação de constituintes dos grânulos plaquetários e a síntese de novos agonistas, amplificando o fenômeno de ativação. Principais agonistas da ativação plaquetária: trombina, ADP, tromboxano A2, serotonina, colágeno e epinefrina. Inibidor da ativação plaquetária: o principal mecanismo é o AMPc. A prostaciclina liberada pelas células endoteliais ativa a adenilciclase,que catalisa a formação do AMPc a partir do ATP. O aumento do AMPc inibe a liberação do cálcio citoplasmático do sistema tubular denso, e assim, impede a ação de diversas enzimas envolvidas na ativação plaquetária, A função plaquetária além da hemostasia Os grânulos-a são ricos em diversas proteínas associadas à inflamação e à angiogênese; ex: a P-selectina, ao ser expressa, irá mediar a interação da plaqueta com diversas células, como monócitos, neutrófilos, linfócitos e células endoteliais. Além disso, são ricos em quimiocinas que modulam a resposta inflamatória e fatores de crescimento que participam da angiogênese. COAGULAÇÃO: refere-se ao processo que leva à formação de fibrina. O processo de coagulação tem a potencialidade de amplificar um pequeno estímulo inicial em um tampão hemostático, composto por fibrina e plaquetas ativadas. Esse processo envolve três etapas: iniciação, amplificação e propagação. ➢ A regulação da coagulação ocorre em três níveis, e envolve três vias: proteína C (PC), antitrombina (AT) e inibidor da via do fator tecidual (IVTF) 1-Iniciação Dano vascular -> exposição do subendotélio ao sangue -> plaquetas aderem ao local danificado por meio de várias interações ➢ O Fator de von Willebrand (FVW), que normalmente circula no plasma, pode ligar-se ao colágeno exposto da matriz extracelular e à glicoproteína (Gp) Ib, presente na superfície plaquetária. Plaquetas, próximas ao subendotélio, ligam-se ao colágeno -> sinalização em cascata e ativação de integrinas plaquetárias que mediam a ligação das plaquetas com o subendótelio -> adesão plaquetária. Concomitantemente... Fator tecidual (FT), presente no subendotélio, é exposto -> liga-se ao FVII circulante no plasma -> FVII é ativado em FVIIa -> ativação dos fatores IX e X -> FXa se liga ao FVa (proveniente dos grânulos-a das plaquetas aderidas) e converte protrombina em trombina. ➢ A quantidade de trombina inicialmente gerada é insuficiente para a formação do coágulo, mas é suficiente para retroalimentar a coagulação através da ativação dos fatores V, VIII e XI e de receptores da superfície plaquetária. 2-Amplificação Inicia-se quando as pequenas quantidades de trombina (vindas da iniciação) atuam sobre os receptores plaquetários e fatores de coagulação; A interação da trombina com o PAR-1 (receptores Ativadores de Protease Plaquetária) engatilha um processo de sinalização em cascata, que resulta na ativação plaquetária. Assim, ocorre: (1) alteração no citoesqueleto plaquetário; (2) aumento da expressão de fosfatidilserina (FS) na superfície da plaqueta, permitindo a formação dos complexos de amplificação da coagulação; (3) desgranulação plaquetária com liberação dos conteúdos dos grânulos-a e denso, em especial o ADP que faz uma retroalimentação positiva nas plaquetas adajecentes, para ativá-las; O FV parcialmente ativado, presente nos grânulos-a, é rapidamente convertido na forma completamente ativa por ação da trombina ou do FXa. A trombina age ativando o FVIII e o FV. A ação da trombina sobre o FVIII, ativa-o e promove sua dissociação do FvW. Assim, a amplificação resulta na geração de plaquetas ativadas que possuem os cofatores Va e VIIa ligados em sua superfície. 3-Propagação As plaquetas ativadas, juntamente com os cofatores Va e VIIIa ligados em sua superfície funcionam como plataforma para o ancoramento de proteínas e formação de complexos na superfície plaquetária. O FIXa, formado na iniciação, liga-se às plaquetas ativadas de duas formas: dependente e independente do FVIIIa. ➢ Na ação dependente do FVIIIa, ocorre a formação do complexo FIXa/VIIIa (complexo tenase), que ativa o FX na superfície plaquetária. O FXa, ligado à plaqueta forma um complexo com o FVa que também está ligado à plaqueta (complexo Fxa/Va – complexo protrombinase, que é capaz de converter protrombina em trombina). A trombina cliva o fibrinogênio, convertendo-o em monômenos de fibrina. Esses monômeros se agregam em protofibrilas e, por fim, a trombina ativa o FXIII que estabiliza essas protofibrilas e torna o coágulo estável. ➢ A trombina ativa o fator FXI na superfície plaquetária, através de retroalimentação positiva. O FXIa, pode ativar o fator FIXa aumentando, assim, a formação de FXa. Fibrinólise: processo de lise do coágulo. Ocorre pela ação do sistema fibrinolítico, que atua sobre a fibrina formada, envolvendo várias proteínas: (1) plasminogênio (Pg); (2) ativador do plasminogênio tecidual (t-PA) e ativador de plasminogênio urocinase (u-PA); (3) inibidor do ativador de plasminogênio (PAI-1 e PAI-2); (4) inibidores de plasmina; (5) inibidor fibrinolítico ativado pela trombina (TAFI); Pg circulante se adere ao coágulo -> Pg é convertido em plasmina pela tPA (liberada pelo endotélio) -> plasmina cliva molécula de fibrina -> os produtos da degradação propiciam sítios adicionais para ligação de plasmina e t-PA que contribuem para a propagação da fibrinólise. ➢ O PAI-1 é produzido pelo endotélio vascular e plaquetas, e inibe o t-PA e u-PA ➢ Na presença de trombomodulina (TM) o TAFI, que é ativado pela trombina, inibe a fibrinólise através da modificação do substrato de fibrina. Controle da coagulação: as principais vias são a da proteína C/proteína S, antitrombina e do inibidor da via do fator tecidual.
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