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Trombose Venosa Profunda Lara Camila – Medicina – 5º Semestre Trombose é a solidificação do sangue no leito vascular ou no interior das câmaras cardíacas, em um indivíduo vivo. Trombo, que é a massa sólida de sangue que fica presa à superfície onde se originou, pode formar-se em qualquer território do sistema cardiovascular: cavidades cardíacas, artérias, veias e microcirculação. Coágulos são moldes completos da estrutura interna onde se originaram e geralmente são contraídos, descolando-se facilmente da superfície interna dos vasos ou do coração quando manipulados. ➢ Trombos são foscos, friáveis e aderentes à parede do vaso ou do coração; coágulos são elásticos, brilhantes e não aderentes. A fluidez do sangue é indispensável para que o sistema circulatório transporte o oxigênio e os nutrientes para as células e recolha e conduza os catabólitos até a sua via de eliminação. O sistema de coagulação sanguínea é um mecanismo de proteção que tem por finalidade tamponar eventuais sítios de fuga do sangue do interior dos vasos. Apesar de muito eficiente na prevenção de perda sanguínea, o sistema de coagulação também é uma ameaça ao organismo, pois a solidificação do sangue pode dificultar ou impedir a circulação. Por isso, temos também um sistema regulador da coagulação, representado por fatores anticoagulantes capazes de inibir ou limitar todas as fases do processo, ou de dissolver trombos após a sua formação (sistema fibrinolítico). ➢ O aumento da atividade coagulante ou redução da atividade anticoagulante favorece a formação de trombos; FORMAÇÃO TVP ETIOPATOGÊNESE A formação de trombos está associada a três componentes que compõem a Tríade de Virchow: (1) Lesão endotelial; (2) Alteração do fluxo sanguíneo; (3) Modificação na coagulabilidade do sangue; Lesão endotelial ➢ O endotélio tem ações pró e anticoagulante. Lesão estrutural do endotélio com solução de continuidade ocorre em traumatismos, por agressões químicas, em inflamações e em ateromas. A perda de células endoteliais expõe a membrana basal, sobre a qual as plaquetas aderem e são ativadas, iniciando a formação do trombo + ativação da cascata de coagulação sanguínea. Alterações funcionais mesmo sem destruição endotelial, são capazes de modificar o balanço entre fatores pró e anticoagulantes, favorecendo a trombose. Ex: hipóxia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, hipercolesterolemia, tabagismo e ateromas -> agridem o endotélio, tornando-o pró-coagulante. Alterações no fluxo sanguíneo ➢ Modificações na velocidade do sangue (aumento ou redução) e turbulência no fluxo sanguíneo (formação de redemoinhos ou movimento não linear/laminar) são importantes fatores na gênese de trombos. Retorno venoso diminuído – estase sanguínea – pode ocorrer devido a fatores sistêmicos, como insuficiência cardíaca e imobilidade no leito, ou locais, como compressão de vasos. ➢ TVP nos MMII é frequente em pacientes acamados, principalmente após cirurgias; A velocidade do fluxo sanguíneo torna-se progressivamente menor até o leito capilar, sendo as ondas pulsáteis cada vez menos intensas. Qualquer alteração no fluxo laminar por estreitamentos (estenoses) ou dilatações (aneurismas) anormais do sistema circulatório favorecem a formação de trombos; Com átrios dilatados e fibrilação atrial, há redução do fluxo (estase) nas aurículas, local onde os trombos se formam preferencialmente. ➢ Além da estase sanguínea, que produz hipóxia e lesão endotelial, a formação de trombos é favorecida também por alteração no fluxo, que promove ativação plaquetária Trombos auriculares crescem durante episódios de arritmia e representam risco constante de tromboembolismo devido ao fato de a atividade contrátil do coração favorecer sua fragmentação e desprendimento. FORMAÇÃO DO TROMBO EM ANEURISMA Aumento da coagulabilidade do sangue Pode ocorrer por: (a) aumento do número de plaquetas, (b) maior disponibilidade de fatores pró- coagulantes ou (c) redução de inibidores da coagulação. ➢ Após traumatismos, queimaduras, cirurgias extensas e outras agressões teciduais, há liberação de tromboplastina, que ativa a via extrínseca da coagulação. Observações: • Indivíduos com certos tipos de câncer possuem hipercoagulabilidade sanguínea e maior probabilidade de formar trombos em vários locais; • Anticoncepcionais orais + gravidez + período pós-parto associam-se a maior risco de trombose; • Síndrome de anticorpos antifosfolípides deve-se à formação de autoanticorpos contra componentes lipídicos, os quais podem agredir células endoteliais ou ativar plaquetas. Redução de fatores inibidores da coagulação pode ocorrer por: (a) perda urinária de amtitrombina III, como ocorre na síndrome nefrótica, (b) síntese anormal por defeitos genéticos; ➢ Pessoas com mutação pontual no fator V da coagulação têm risco aumentado de trombose venosa, provavelmente porque o fator V mutado torna-se resistente à inativação pela proteína C. EVOLUÇÃO | CONSEQUÊNCIAS 1- Trombólise espontânea 2- Organização do trombo 3- Recanalização do trombo 4- Calcificação do trombo 5- Colonização bacteriana 6- Formação de êmbolo O crescimento do trombo pode obstruir total ou parcialmente a luz do vaso ou das câmaras cardíacas, com prejuízo no fluxo sanguíneo. O trombo pode crescer e, após um tempo, sofrer dissolução ou organização. ➢ Trombos recente, muitas vezes, sofrem dissolução/trombólise espontânea pelo sistema fibrinolítico (Trombose terapêutica é empregada para dissolver trombos recentes com a utilização de ativadores do plasminogênio). Se não são dissolvidos, os trombos sofrem conjuntivização ou calcificação. ➢ A organização ocorre através da reação inflamatória na qual os fagócitos digerem as células do coágulo e a fibrina, ao mesmo tempo em que liberam fatores de crescimento e quimiocinas que atraem e ativam células que originam o tecido de granulação, que acaba incorporando o trombo à parede dos vasos ou do coração (conjuntivização). OBS: nos trombos oclusivos, pode haver proliferação endotelial que origina canais que permitem o fluxo de sangue através do trombo, restabelecendo parcialmente a circulação – recanalização do trombo. ➢ Calcificação distrófica em trombos forma concreções (flebólitos), mais comumente nas veias dos MMII, podendo ser visíveis em radiografia simples. Comum nos trombos sépticos e nos organizados, principalmente nos venosos (formando os “flebólitos”). O cálcio aparece como granulado basófilo. Os trombos também podem sofrer colonização bacteriana ou fúngica e causar endocardite valvar ou mural, tromboflebite e endarterite. Quando se fragmentam, esses trombos original êmbolos sépticos. Consequência principal dos trombos = obstrução do vaso no local de sua formação ou a distância -> isquemia (obstrução arterial) | redução da drenagem sanguínea (obstrução venosa) provocando hiperemia passiva (congestão) e edema. ASPECTOS MORFOLÓGICOS Tipos de trombos quanto à estrutura 1- Trombos vermelhos (“de coagulação”; “de estase”): ricos em hemácias, mais frequentes em veias - locais de fluxo lento e turbilhonado, a malha de fibrina consegue aprisionar grande quantidade de plaquetas - (flebotrombose). 2- Trombos brancos (“de conglutinação”): constituídos exclusivamente por plaquetas e fibrina (não são vistos macroscopicamente), associados às alterações endoteliais, sendo mais frequentes em artérias. 3- Trombos hialinos: constituídos por fibrina, associados às alterações na composição sanguínea, mais frequentes em capilares. 4- Trombo misto: formados por estratificações fibrinosas (brancas), alternadas com partes cruóricas (vermelhas). Originam-se em vasos com fluxo laminar e com maior velocidade; neles, misturam-se áreas claras com estrias vermelhas. São alongados, e apresentam três partes: (1) cabeça, (2) colo (onde encontramos as linhas de Zahn) e (3)cauda (parte flutuante, livre na corrente sanguínea, distal e proximal, e unida ao corpo. Em consequência dos ciclos de aderência e agregação plaquetária no trombo, com repetidas coberturas pela malha de fibrina e hemácias aprisionadas, formam-se camadas sucessivas de sangue solidificado, denominadas linhas ou estrias de Zahn. Áreas acidófilas com aspecto reticulado ou laminar (estruas de Zahn), onde predominam plaquetas e fibrina, e regiões onde a rede de fibrina aprisiona células do sangue, principalmente hemácias. ALTERAÇÕES DA FISIOPATOLOGIA DA TVP Alterações Regionais 1- Efeito mecânico: obstrução de uma ou mais veias por trombo ocasiona bloqueio do retorno venoso; Consequências: hipertensão venosa; dilatação e insuficiência valvular das veias profundas, comunicantes e ramos superficiais. 2- Reação inflamatória: desenvolve-se um processo inflamatório nas veias afetadas, que se estende nos tecidos vizinhos, inclusive artérias e nervos. 3- Efeitos reflexo: a irritação da parede da veia pelo trombo e a reação inflamatória atingem os filetes nervosos e desencadeiam um reflexo vasoespástico que compromete artérias e veias. Alterações Sistêmicas 1- Fase aguda: dores, edema, reações inflamatórias nos capilares linfáticos, febre, leucocitose, aumento do tempo de hemossedimentação, diminuição do tempo de coagulação. 2- Fase de defesa: diminuição súbita do edema, diurese abundante, retorno da temperatura ao normal, aumento do número de eosinófilos, maior sensibilidade à heparina. 3- Fase de esgotamento: nesta fase, o organismo se mostra incapaz de se defender contra as substâncias trombogênicas. As embolias ou novas localizações do processo podem aparecer. FATORES DE RISCO • Idade > 60 anos; > 40 anos tem 20x mais chances de TVP; • Neoplasia; • Internação hospitalar; • Procedimento cirúrgico (42%); • Grande trauma • Doença infecciosa aguda; • > 75 anos; • Neoplasia maligna; • Episódio prévio de doença tromboembólica ESCORE DE WELLS PARA TVP FLEGMASIA ALVANS DOLENS - INCHAÇO BRANCO DOLOROSO Resulta de uma oclusão mais limitada das veias ilíacas, que causa desconforto nas pernas e edema. No entanto, o retorno venoso é eficiente o suficiente para limpar o sangue venoso dérmico e subdérmico antes que ocorra a cianose. FLEGMASIA CERULEA DOLENS – EDEMA AZUL DOLOROSO 1- Aparecimento de dor intensa em região de membros inferiores 2- Edema significativo 3- Cianose e gangrena venosa (aumento da desoxihemoglobina nos tecidos subdérmicos em níveis de 1,5 a 5 mg%) IMPORTANTE: avaliação da perfusão do membro é fundamental nestes pacientes. EXAMES COMPLEMENTARES 1- D-dímero: subproduto da fibrinólise e elevação dos seus níveis sugere existência e lise recente de trombos. No entanto, apesar de possuir alta sensibilidade, é pouco específico já que está elevado em outras situações fisiológicas e patológicas, como: idade avançada, puerpério, gestação, cirurgia, trauma, neoplasia etc. 2- Eco doppler colorido 3- TC: útil para pacientes com suspeita de TVP, em que o Eco não pode ser realizado. 4- RM: indicado em situações em que o Eco seja inconclusivo. 5- Angiografia pulmonar: PADRÃO-OURO -> método invasivo + alto custo 6- Cintilografia pulmonar com mapeamento de ventilação-perfusão COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA Resulta da ativação sistêmica da coagulação sanguínea, caracteriza-se pela formação de trombos múltiplos especialmente na microcirculação. ➢ Os trombos são quase sempre microscópicos (microtrombos), hialinos e constituídos de plaquetas e fibrinas; são mais comuns nos rins, pulmões, encéfalo, coração e glândulas endócrinas. Com a formação generalizada de trombos de fibrina, ocorre ativação difusa do sistema fibrinolítico, o que leva ao consumo de fibrinogênio e de outros fatores de coagulação. Assim, ocorre hemorragia sistêmica, caracterizando a chamada coagulopatia de consumo. A CID tem, portanto, uma fase trombótica e uma fase hemorrágica, que podem acontecer simultaneamente. Diagnóstico: • Queda de fibrinogênio ( < 50%); • Redução do número de plaquetas; • Aumento de fibrinopeptídeos circulantes; Na fase hemorrágica o diagnóstico é mais fácil: surgimento de sufusões ou púrpuras na pele, às vezes com centro necrótico. Principais causas: • Condições obstétricas; • Embolia amniótica; • Descolamento prematuro da placenta; • Feto morto retido; • Traumatismo com destruição tecidual; • Infecções sistêmicas (principalmente bacterianas); • Neoplasias malignas (principalmente mieloides, linfoides e carcinomas metastáticos); • Pancreatite aguda necro-hemorrágica; • Agressões que se acompanham de resposta inflamatória sistêmica e choque séptico; Mulheres com problemas obstétricos, em traumatismos e em neoplasias metastásicas, há liberação de grande quantidade de tromboplastina (fator tecidual da coagulação) que inicia a cascata da coagulação sanguínea. Em agressões com destruição tecidual, em lesões necróticas extensas e em infecções, DAMP e PAMP caem na circulação e produzem resposta inflamatória sistêmica -> ativação do endotélio pró-coagulante. Choque séptico -> redução na velocidade sanguínea e modificações endoteliais favorecem a adesão plaquetária e a formação de microtrombos hialinos. ➢ OBS: muitos PAMP, principalmente de bactérias Gram-negativas, são ativadores da coagulação, o que explica a alta frequência de CID no choque séptico de origem bacteriana; Se o consumo de fatores da coagulação não é muito rápido, e é compensado por resposta adaptativa hepática e da medula óssea, a CID pode evoluir de modo crônico e insidioso.
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