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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL Autora: Fabíola Radaê Gewehr Cargnin 658.0019 C257p Cargnin, Fabíola Radaê Gewehr Psicologia organizacional/ Fabíola Radaê Gewehr Cargnin. Indaial: UNIASSELVI, 2015. 104 p. : il. ISBN 978-85-7830-156-9 1. Administração Empresas – Aspectos Psicológicos. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Bárbara Pricila Franz Profa. Cláudia Regina Pinto Michelli Prof. Ivan Tesck Profa. Kelly Luana Molinari Corrêa Revisão de Conteúdo: Profa. Kelly Luana Molinari Corrêa Revisão Ortogramatical: Profa. Sandra Pottmeier Revisão Pedagógica: Profa. Bárbara Pricila Franz Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonarda da Vinci Copyright © Editora UNIASSELVI 2015 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Psicóloga, Especialista em Saúde Mental e Mestre em Administração. Experiência na área de docência em Administração e Psicologia e na área de Desenvolvimento Humano e Organizacional. Fabíola Radaê Gewehr Cargnin Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7 CAPÍTULO 1 Psique e Organização .................................................................. 9 CAPÍTULO 2 Dimensões Organizacionais ...................................................... 45 CAPÍTULO 3 Liderança nas Organizações .................................................... 75 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Bem-vindo(a) à disciplina de Psicologia Organizacional. Este caderno foi elaborado com o objetivo de contribuir para os seus estudos, bem como para ampliar seus conhecimentos a respeito da importância da psicologia para as organizações. Compreender o comportamento humano nas organizações, refletir sobre como favorecer a saúde mental para os trabalhadores e contribuir com a gestão através de projetos aliados aos objetivos organizacionais são movimentos que a psicologia está capacitada a fim de melhorar os processos organizacionais em que pessoas estão envolvidas. Deste modo, dividimos este caderno em três capítulos. O capítulo 1 – Psiquê e organização, trata de temas que envolvem o papel da psicologia nas organizações, e discute saúde mental e mal-estar no trabalho. O capítulo 2 – Dimensões organizacionais, aborda elementos que conferem singularidade e dinamismo para a organização. Essas dimensões dizem respeito à cultura, ao clima e aos modos de aprendizagem e comunicação, cruciais para análise que objetiva conhecer e entender com mais profundidade o funcionamento de uma empresa. A cultura, por exemplo, será discutida como um elemento que marca a singularidade entre uma organização e outra, sendo um fator explicativo para as diferenças de desempenho entre elas. Por fim, o capítulo 3 – Liderança nas organizações, traz um aprofundamento sobre perspectivas conceituais de liderança, sobre o papel da liderança na cultura e nos grupos e fenômenos da liderança e lideranças disfuncionais. Os capítulos foram constituídos de forma didática e complementar. Eles apresentam no corpo do texto um aprofundamento teórico, atividades de estudo, e indicam outras referências que podem ser consultadas, a fim de complementar seus estudos. Desejo a cada um, bons estudos e que consigam através das leituras, produzirem insigths e que estes os conduzam a obter/buscar cada vez mais conhecimento. Como diria Platão, “o conhecimento é o alimento da alma”. A autora. CAPÍTULO 1 Psique e Organização A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender a importância do papel da psicologia nas organizações; 9 Conhecer a dinâmica do funcionamento de uma organização no que tange seus aspectos subjetivos, de saúde mental; 9 Reconhecer os principais aspectos dos conflitos no trabalho e as novas formas de mal-estar social que interferem o funcionamento das pessoas no ambiente de trabalho e na vida social; 9 Propor estratégias para o desenvolvimento de pessoal, coerente com as demandas da organização. 10 Psicologia organizacional 11 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Contextualização A palavra “psicologia” é oriunda de uma união entre “psiqué” – que significa alma e “logia”, estudo. A alma ou mais especificamente a subjetividade humana é constituída pelos processos mentais conscientes e inconscientes que são objetos de estudo da psicologia. Quando essa ciência é transportada para o contexto das organizações, significa dizer que as questões subjetivas que são expressas no dia a dia da empresa ganham um olhar diferenciado, de um profissional que tem como objetivo a compreensão e a promoção de saúde mental de indivíduos e grupos. Na empresa, o psicólogo é um mediador, entre os objetivos da organização e as demandas dos colaboradores. Funciona como um ego auxiliar nessa intrincada estrutura em que operam, muitas vezes, visões, valores, crenças e objetivos diferentes. Por muito tempo as organizações foram consideradas espaços racionais, em que as pessoas que faziam parte do quadro de colaboradores eram vistas apenas como objetos de produção. As emoções e os conflitos inerentes as relações humanas, eram ameaças ao sistema burocrático, assim como, a tomada de decisão e a eficácia poderiam ser empobrecidos pelo caos oriundo desses fenômenos. Porém, uma tentativa de reconhecer a cultura e a subjetividade humana possibilitou a emancipação de um olhar que, por sua vez, introduziu o terreno do irracional nas análises do que era uma organização (GAULEJAC, 2007). Esse irracional englobava a saúde mental da organização como um todo – operadores de produção, administrativo e gestores. De certa forma, isso possibilitou que novas considerações pudessem ser feitas, entendendo o campo do trabalho como sistemas complexos e humanos. Desse modo, abriu-se espaço para a atuação de psicólogos, uma vez que estes se ocupam principalmente, das questões de ordem mais profunda, que envolvem a subjetividade e os fenômenos psíquicos. Nesse sentido, é possível constatar que a Psicologia Organizacional tem como cenário de pesquisa e de trabalho, não só os objetivos organizacionais, nem as demandas pessoais dos colaboradores, mas um cenário que interagem as características do trabalhador, a natureza do trabalho, a estrutura organizacional bem como, o ambiente externo. (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014). O papel do psicólogo está caracterizado por diversas e diferentes funções, dentre elas: avaliação de perfil, diagnóstico organizacional, gestão de conflitos, socialização organizacional, trabalho com grupos, desenvolvimento de lideranças, 12 Psicologia organizacional inclusão organizacional, motivação, processo de gestão autônoma, assesment, coaching, dentre outras atividades. Mas a especificidade da psicologia vem quando, mesmo diante de instrumentais tecnicistas, a sua função primordial é dar impulso a emergência do sujeito nas organizações atentando-se à promoção de saúde mental no trabalho. Nesse sentido, vem a pergunta: “como fazer com que as organizações compreendam a importância do trabalho do psicólogo nas organizações e como o psicólogo pode efetivamente ajudar na gestão da empresa? Este caderno tem a pretensão de oferecer reflexões acerca dessas questões, bem como apresentar ideias, facetas, de como acontece essa interlocução da psicologia com o campo da administração. Psicologia nas Organizações A psicologia nunca poderá dizer a verdade sobre a loucura, pois é a loucura que detém a verdade da psicologia. Michel Foucault.A Psicologia Organizacional, é uma das diversas áreas da psicologia enquanto ciência e profissão. Nesse campo, o profissional psicólogo está apto para atuar diante dos fenômenos psicológicos de forma a promover saúde e auxiliar a organização quanto a sua gestão, contribuindo de forma ética e social. A contratação desse profissional não é mérito apenas das grandes empresas, mas contribui significativamente nas empresas de pequeno e médio porte. Quais fenômenos psicológicos são estes? Manifestações do aparelho psíquico, individualidade, subjetividade, mundo interno, pensar e sentir o mundo, consciência, inconsciente, vivências, engrenagens de emoções, motivações, comportamentos, habilidades e potencialidades, experiências emocionais, conflitos pulsionais, psique, pensamento, sensações, entendimento de si e do mundo, manifestações da vida mental. Porém, não esquecendo que o homem é um ser plural, ou seja, que é influenciado pelo mundo e o influencia com suas ações. O profissional psicólogo está apto para atuar diante dos fenômenos psicológicos de forma a promover saúde e auxiliar a organização quanto a sua gestão, contribuindo de forma ética e social. A contratação desse profissional não é mérito apenas das grandes empresas, mas contribui significativamente nas empresas de pequeno e médio porte. 13 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Por meio da Resolução CFP n.º 013/2007 o Conselho Federal de Psicologia regulamentou 11 áreas de especialidades em psicologia para fins de registros de psicólogos especialistas no Sistema Conselhos de Psicologia, são elas: Psicologia Escolar/Educacional, Psicologia Organizacional e do Trabalho, Psicologia de Trânsito, Psicologia Jurídica, Psicologia do Esporte, Psicologia Clínica, Psicologia Hospitalar, Psicopedagogia, Psicomotricidade, Psicologia Social e Neuropsicologia. A ideia é a “psicologia em todos os contextos”. Para que se chegasse a um conceito amplo, como o apresentado acima, da função da psicologia no contexto das organizações, outras fases anteriores foram vivenciadas no desenvolvimento da POT, no Brasil. POT é uma sigla utilizada para abreviar a palavra – Psicologia Organizacional e do Trabalho. A inserção inicial da psicologia nas organizações foi denominada “Psicologia Industrial” (século XIX) e seu foco era dado mais exclusivamente ao processo de seleção de pessoas e ao chamado psicotécnico, ou seja, a função do psicólogo era mais direcionada ao processo de contratação de pessoal - busca e seleção das pessoas ideais para os cargos da empresa; posteriormente, diante de outras demandas que foram surgindo no contexto organizacional, principalmente com a expansão do crescimento industrial, o psicólogo deu ênfase em questões que envolviam a produtividade e os processos produtivos, ou seja, trabalhava-se em vista da empresa e do capital; atualmente o nome atribuído a esta área é “Psicologia do Trabalho”, que conforme analisa Zanelli, Bastos e Rodrigues (2014), foi ampliada em virtude das mudanças sociais, que demandaram rever a relação homem x trabalho. Esse profissional, portanto, não deixando de lado os objetivos organizacionais, passou a preocupar-se conjuntamente com a saúde do trabalhador. Essa transformação da atuação da psicologia no contexto organizacional, foi decorrente dos impactos dos avanços tecnológicos, pois com os novos modelos e sistemáticas do trabalho, os formatos organizacionais precisaram ser repensados e os modelos de gestão reestruturados. Resumidamente, o campo da Psicologia Organizacional se preocupa com, as organizações (produtividade, qualidade, competitividade), com a gestão (modelos de gestão de pessoas, políticas de pessoal) e com os trabalhadores (em termos de 14 Psicologia organizacional saúde, bem-estar e qualidade de vida) de uma forma integrada, com fenômenos articulados em complexa rede de multideterminações recíprocas (ZANELLI; BASTOS; RODRIGUES, 2014, p. 560). Além disso, o psicólogo nas organizações hoje, tem um papel fundamental, pois cresce a necessidade das pessoas conciliarem trabalho e família, uma vez que passam muito mais tempo trabalhando devido as exigências da dinâmica social-econômica, ao mesmo tempo que a intensificação do estresse exige da empresa uma cíclica reflexão e atuação assertiva e promotora de saúde diante dos efeitos oriundos dessas mudanças. Notem que, a preocupação desse profissional, não está nos problemas de ordem individual, mas na dimensão grupal e organizacional, levando em consideração o sujeito no grupo, na organização e no social. Portanto, o psicólogo não exporta suas técnicas clínicas para a empresa, mas sim, se ocupa dos conceitos originários da psicologia, tanto do campo individual quanto social, para compreender os fenômenos organizacionais auxiliando com intervenções mais abrangentes. Para Bastos, Yamamoto e Rodrigues (2013), os desafios para a atuação em psicologia organizacional e do trabalho envolvem uma operação que caminha para além de uma atuação tecnicista. Dito de outra forma, uma profissão, embora tenha um arsenal de técnicas e conhecimentos específicos, precisa necessariamente sempre estar repensando suas bases e contextualizando seus conhecimentos, principalmente porque independentemente de onde esse profissional atuará, está embebido de uma realidade social complexa e repleta de conflitos, contradições e desigualdades que precisam ser postas em reflexão o tempo todo. Para Bastos, Yamamoto e Rodrigues (2013), a atuação do psicólogo nas organizações não fica restrito à organização e seus processos, nem mesmo aos indivíduos em sua particularidade, mas se ocupa da reflexão sobre os impactos do trabalho sobre a vida social. Com isso, os temas convocados para discussão são: saúde mental, bem-estar, estresse, assédio, natureza do trabalho, desemprego, grupos. Em outras palavras, essa área tem um domínio que se expande dos problemas clássicos da indústria sob o regime de produção em massa, no qual se constitui inicialmente, para lidar com problemas mais globais de organizações distintas e inseridas em um mundo cada vez mais dinâmico devido aos avanços tecnológicos e ao processo de globalização (BASTOS; YAHAMOTO; RODRIGUES, 2013, p. 33). O psicólogo nas organizações hoje, tem um papel fundamental, pois cresce a necessidade das pessoas conciliarem trabalho e família, uma vez que passam muito mais tempo trabalhando devido as exigências da dinâmica social- econômica, ao mesmo tempo que a intensificação do estresse exige da empresa uma cíclica reflexão e atuação assertiva e promotora de saúde diante dos efeitos oriundos dessas mudanças. 15 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Por isso, é importante que os psicólogos se permitam buscar atualizações para compreender o que está acontecendo a sua volta de forma crítica e partindo do seu próprio ponto de vista profissional. Isto, pois existem atividades que são realizadas não só pelos profissionais da psicologia, mas por administradores e engenheiros, que apesar da excelência, existem demandas as quais pela própria formação, não é possível identificar ou tratar. Cada uma das áreas tem a sua importância e é preciso compreender até onde cada uma pode chegar e assumir o seu papel transformador. Isso se caracteriza para além da atuação no contexto da empresa, uma relação de compromisso social que o profissional assume diante da sociedade. Mas essa visão mais ampla ainda é pouco compreendida pelas organizações, pela sociedade e até mesmo para alguns psicólogos da área. Muitas são as críticas que impregnam a imagem do psicólogo Organizacional e do Trabalho. Dito isso, cabe aqui algumas interrogações importantes que servem para uma reflexão: Você já trabalhou ou trabalha em uma organização que tem esse profissional atuando? Qual a função que ele exerce? Ele contribui para um ambiente de trabalho mais saudável? Sua opinião sobre o papel do psicólogo organizacionalmudou a partir da leitura que realizou até aqui? A figura abaixo apresenta algumas dessas críticas, fundamentais para se pensar no papel do psicólogo e naquelas apropriações que não são suas funções: Figura 1 - Discursos externos que impregnam a imagem da psicologia Organizacional Fonte: Adaptado de Bastos, Yamamoto e Rodrigues (2013). 16 Psicologia organizacional O psicologismo e o sociologismo são constatações antigas e inadequadas se levadas em consideração separadamente frente a dinâmica das organizações. Primeiro, porque o psicologismo enfatiza a subjetividade, negligenciando os aspectos relativos ao meio em que o sujeito está inserido, seja a sociedade ou o núcleo menor que é a organização. E, o sociologismo, porque atribui tudo à esfera social perdendo de vista que esse social foi constituído a partir do psíquico e vice-versa. Esses discursos reducionistas e extremos que comprometem e limitam a imagem da Psicologia nas organizações - a visão tecnicista, o caráter instrumental, a visão alienada aos interesses do capital e o papel alienado de controle social, contribuem para que ela seja mal compreendida pela sociedade restringindo-a ou por estar somente ao lado dos interesses da empresa e do capital, ou ainda, somente ao lado do trabalhador. Essa condenação tem raiz naquela formulação inicial da Psicologia Industrial que focava o ajustamento do indivíduo ao trabalho através da testagem, desconsiderando todo contexto em torno dessa relação e da Psicologia Organizacional do início do século XX que buscava a adaptação do sujeito aos moldes da produção. A Psicologia Organizacional e do Trabalho hoje, tem seu foco ampliado e tem uma premissa básica que leva em conta a construção de ambientes de trabalho que favoreçam o desenvolvimento das organizações tendo em vista a qualidade de vida no trabalho para todos. As organizações só existem porque as pessoas a constituem, desse modo, não é preciso eliminar nem as organizações, nem as pessoas para que esse conjunto seja engajador, que alcance méritos e atinja objetivos. O psicólogo deve auxiliar a empresa no desenvolvimento de estratégias externas e internas mais éticas para a obtenção de resultados, ou seja, que a finalidade econômica não seja um pressuposto que condiz com o dilema “a qualquer preço”, mas sim, com a concepção de um crescimento econômico em prol de ações sustentáveis, a longo prazo e humanizadas; que suas medidas de desempenho levem em conta os aspectos financeiros, mas também os sociais e ambientais; que a sua estrutura organizacional seja comunicante, ou seja, dialogue com os diferentes setores da empresa e da sociedade, já que ela é, um veículo transformador e é transformada pelo espaço em que está inserida (BASTOS; YAMAMOTO; RODRIGUES, 2013). A Psicologia Organizacional e do trabalho hoje, tem seu foco ampliado e tem uma premissa básica que leva em conta a construção de ambientes de trabalho que favoreçam o desenvolvimento das organizações tendo em vista a qualidade de vida no trabalho para todos. As organizações só existem porque as pessoas a constituem, desse modo, não é preciso eliminar nem as organizações, nem as pessoas para que esse conjunto seja engajador, que alcance méritos e atinja objetivos. 17 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Pesquisas vem apresentando que o papel do psicólogo, na maior parte das vezes está ligado ao ponto de vista técnico envolvendo somente avaliação de desempenho, diagnóstico, consultoria, apontando certo desencontro com a psicologia e suas possibilidades de intervenção. Em contrapartida, há um movimento de alguns psicólogos que atenuam para a intervenção em fenômenos psicológicos dentro da organização. Mais do que nunca é preciso rever a essência do que é uma organização, pois nos dias atuais vive-se um enaltecimento da satisfação imediata através do consumos, que traz como consequência o esfacelamento dos laços sociais e a emergência de novos sintomas que provocam novas formas de mal-estar, como os expressos nas diferentes modelos de alienação e exclusão: racismo, bullying, mobbing, burnout, acidentes de trabalho, consumo desenfreado, solidão (GAULEJAC, 2007; BERNAL, 2010). Por isso, é preciso avançar nesta lógica arcaica de psicologia organizacional e propor uma análise mais profunda do contexto, pois a psicologia tem uma grande responsabilidade diante do adoecimento no trabalho. É preciso que ela se autorize a trabalhar com a subjetividade humana nesse contexto e a partir de suas intervenções frente aos transtornos mentais, ofereça mudanças, traduzindo os interesses do trabalhador e os interesses da produção numa interface possível e não adoecedora. Tendo em vista essa complexidade, o capítulo que segue apresentará uma discussão sobre a saúde mental e o trabalho preocupando-se com as repercussões dessa relação na sociedade atual. Tendo em vista o conceito e atribuições da Psicologia Organizacional, como ela poderia auxiliar a sua empresa a promover um ambiente de trabalho mais humanizado? De que forma você e ela podem dialogar? Existem revistas específicas que tratam de assuntos relacionados a psicologia, organização e trabalho. A Revista Psicologia Organizações e Trabalho - RPOT - é uma publicação trimestral da Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho (SBPOT). Sua missão é contribuir para a divulgação do saber científico nessa subárea da Psicologia em nosso país. Acesse 18 Psicologia organizacional e mantenha suas informações sobre a área atualizadas em: <http:// submission-pepsic.scielo.br/index.php/rpot/index>. Existe ainda a SBPOT – Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho que é um site que tem a intenção de promover e divulgar o conhecimento científico e tecnologias da área. Disponível em: <http://www.sbpot.org.br/>. Saúde Mental e Trabalho Somos de carne mas temos que viver como se fossemos de ferro. Freud. Na maioria das vezes, quando se fala em saúde mental, imediatamente as pessoas pensam na ausência de doença, ou seja, aquele que tem saúde mental está isento de doenças ou ainda, de certos sofrimentos. Mas, a saúde mental implica muito mais que a ausência de doenças mentais. Para a Organização Mundial de Saúde o conceito de saúde mental é amplo e implica levar em conta as diferentes teorias que abordam o tema, as diferenças culturais e julgamentos subjetivos, de modo que não é possível ter um conceito unívoco. Mas aponta que o termo inclui a concepção de capacidade de um indivíduo de buscar um equilíbrio entre as atividades e o esforço em direção a resiliência psicológica. Pessoas que conseguem manter sua saúde mental compreendem que não é possível atender à todas as demandas da vida, que a perfeição é um ideal de plenitude difícil de atender, que as pessoas possuem seus limites próprios e que é preciso reconhecê-los. Sentem diferentes emoções como alegria, amor, satisfação, tristeza, raiva e frustração e são capazes de solicitar ajuda quando essas emoções estão prejudicando a sua vida e a rotina das suas ações. A Saúde Mental implica o sujeito e como ele reage frente às exigências impostas pela vida, não tem a ver com a quantidade de problemas que cada um enfrenta, mas como cada um enfrenta aquilo que o acomete. Já o trabalho, a literatura nos traz diferentes e distintos conceitos, mas inicialmente podemos pontuar que ele implica um saber-fazer, um engajamento do próprio corpo nas atividades, treino, capacidade de refletir, criar, por em ação. Pode também, ter um significado objetivo e subjetivo que está ligado consecutivamente 19 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 à sobrevivência e a realização pessoal. E ainda, o trabalho tem um sentido ligado a possibilidade do indivíduo de modificar o meio e a si próprio a partir daquilo que ele faz e produz, constituindo desta forma, a própria sociedade em que vive. O homem, desde o seu princípio, para o seu sustento e sobrevivênciarealizava algum tipo de atividade em direção a uma necessidade humana, mas segundo Bernal (2010), isso não era necessariamente trabalho, pois esse conceito é muito mais complexo do que esse arranjo. Para ele, o trabalho surge com a modernidade, com outros significados oriundos de três fenômenos importantes: Figura 2 - Fenômenos que influenciaram na constituição do conceito de trabalho Fonte: Adaptado de Bernal (2010). A junção desses três modelos: econômico, cultural e político, foram transformando a noção de trabalho como instrumento, e no início do século VIII, introduzindo-se como sinônimo de produção e riqueza. Para Bernal (2010, p. 15), “o trabalho nunca teve antes as funções que tem hoje, cada vez mais no centro de nossas vidas, tendo convertido-se, inclusive, em nossa vida”. Borges e Mourão (2013) através de um apanhado em busca de argumentos para compreender se o trabalho é uma categoria social estruturante consulta a história do trabalho e apresenta alguns elementos importantes. No quadro abaixo você poderá compreender mais profundamente porque o trabalho se tornou uma categoria social que é, atualmente, uma condição estruturante na vida das pessoas: a) A noção de que o trabalho é uma categoria social estruturante tem uma das suas origens na obra de Marx, que entende o trabalho como atividades do ser humano em relação com a natureza. Neste sentido, o homem se diferenciaria dos demais animais à medida que no engenho da sua produção material, se expressa. 20 Psicologia organizacional b) Mas, nesta jornada político-econômica, o capitalismo, alienou o homem em seu trabalho impedindo-o de sua expressão e, portanto, “desominizando-o”, ou retrocedendo na imagem do homem, igualando-o com os demais animais. Mesmo alienado, o trabalho foi se estruturando, pois a força do capitalismo na direção da acumulação do capital exige a apropriação do trabalho, na forma de mais-valia. Além disso, paradoxalmente o capitalismo também glorificou o trabalho humano, tornando-o única maneira digna de ganhar a vida. c) Com o surgimento da sociedade do bem-estar, a exaltação ao consumo e ao lazer em detrimento do trabalho foram evidenciados. Com as mudanças no final do século XX, surgem os questionamentos do trabalho como uma categoria social estruturante (AZNAR, 1995; DE MASI, 2000; FORRESTER, 1997; GORZ, 1982; 1991; OFFE, 1992; RIFKIN, 1997). Entre as ideias desses autores estão noções como a de que as formas alienadas de trabalho e conteúdo vazio são insuperáveis e que não se terá trabalho de qualidade para todos; criticam a racionalidade do capitalismo e defendem a redução da jornada de trabalho com a ideia de geração de empregos e para que as pessoas possam se desenvolver e expressar suas habilidades e aptidões em outras esferas da vida, para além do trabalho. Fonte: Adaptado de Borges e Mourão (2013, p. 86). A partir das ideias expostas, os autores encerram suas concepções apontando que o trabalho continua sendo um elemento importante na estrutura social, sendo depois da família, a segunda esfera da vida mais valorizada. O trabalho, portanto, passa a fazer parte da subjetividade humana de tal forma que o homem é constituído a partir do que trabalha. O trabalho diz grande parte daquilo que se é, daquilo que se possui, de onde se mora, das roupas que se usa, ou seja, daquilo que se adquiriu ao longo do tempo. Qual o significado do trabalho na sua vida? Esta música da banda Legião Urbana retrata um pouco do sentimento de algumas pessoas em relação ao significado do trabalho. Preste atenção na letra e procure escutá-la caso houver interesse. 21 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Sem trabalho eu não sou nada; Não tenho dignidade; Não sinto o meu valor; Não tenho identidade; Mas o que eu tenho; É só um emprego; E um salário miserável; Eu tenho o meu ofício; Que me cansa de verdade [...] Fonte: Legião Urbana, Música de trabalho. Esta outra música de Arlindo Cruz que segue, retrata um outro paradoxo que tem a ver com o esvaziamento do desejo frente ao trabalho, em vista da sobrevivência, do preço do capital. Trabalhar somente pela sobrevivência, numa sociedade em que ele (o trabalho) é um atributo de muitas contingências além do labor, possivelmente gera sentimentos de não reconhecimento social, causando estagnação e desespero: Meu nome é trabalho mas eu tô pegado; A fim de um cascalho vou pra todo lado; Tenho cinco pirralhos chorando um bocado; Vê se quebra o galho doutor, tô desempregado; Me arranja um trabalho doutor, tô desempregado; Já fui pedreiro, carpinteiro; Motorneiro e até motorista; Já fui copeiro, fui caseiro; Jornaleiro e até jornalista [...] Fonte: Arlindo Cruz, Meu nome é trabalho. Para Siqueira e Martins (2013), o trabalho é considerado um dos contextos sociais relevantes para compreensão e promoção de saúde. Portanto, para contemplar a noção de promoção da vida saudável no contexto das organizações, é importante discutir sobre os conceitos de saúde social, saúde positiva, bem- estar, comportamento organizacional e saúde. O quadro abaixo, apresenta como cada um desses elementos se conectam com o trabalho e com questões que se referem à saúde mental, mais especificamente descreve alguns elementos que são importantes para que a saúde no âmbito organizacional seja promotora de um desenvolvimento sustentável e não adoecedor. 22 Psicologia organizacional a) Saúde Social: As condições responsáveis pela saúde social estariam ligadas ao comboio social – pessoas próximas ao indivíduo que exercem influência em sua vida, que constituem sua rede de relações sociais; integração social – participação ativa de um indivíduo em relacionamentos sociais, senso de comunidade e identificação com as regras sociais; suporte social – conjunto de crenças que condizem com “sou amado”, “sou valorizado”, “pertenço a uma rede social”. b) Saúde positiva: Habilidades para enfrentar situações de estresse; manutenção de suporte social e integração na comu- nidade; alta moral, satisfação e bem-estar; condicionamento físico e saúde física. c) Bem-estar: compõem 4 tipos: bem-estar subjetivo – tem a ver com o balanço emocional positivo em que o sujeito teve mais experiências emocionais positivas do que negativas; bem- estar psicológico – autoaceitação, relacionamentos positivos; autonomia, domínio do ambiente, propósito de vida, crescimento pessoal; bem-estar social – integração social, contribuição social, aceitação social, atualização social; bem-estar no trabalho – satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho, comprometimento organizacional afetivo. d) Comportamento organizacional e saúde em organizações: organizações positivas – que abdicam da exclusividade do lucro em prol do bem-estar dos colaboradores; comportamento organizacional positivo – aplicação de recursos positivos a fim de aumentar o desempenho no trabalho; capital psicológico – interação entre: eficácia, otimismo, esperança e resiliência em favor da execução bem sucedida de metas. Fonte: Extraído e adaptado de Siqueira e Martins (2013, p. 619 - 641). Ao longo do tempo o trabalho assumiu diferentes funções na vida das pessoas e pode-se dizer que uma delas está ligada à emancipação do sujeito, a possibilidade de reconhecimento social e de satisfação de necessidades básicas ou não básicas. Mas, de acordo com as ideias de Bernal (2010, p. 28,), “o trabalho às vezes escraviza o homem e sempre o controla”. 23 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Sobre isso, Freud (2006c, p. 87-88) vai nos brindar com seus escritos ao pontuar que: a atividade profissional constitui fonte de satisfação especial, se for livremente escolhida, isto é, se, por meio de sublimação, tornar possível o uso de inclinações existentes, de forças pulsionais persistentes ou constitucionalmente reforçadas. No entanto, como caminho para a felicidade, o trabalho não é altamente prezado pelos homens. Não se esforçam em relação a ele como o fazem em outras possibilidadesde satisfação. A grande maioria das pessoas só trabalha sob a pressão da necessidade, e essa natural aversão humana ao trabalho suscita problemas sociais extremamente difíceis. Tanto Freud quanto Bernal, introduzem a ideia de que o trabalho como é concebido hoje foi construído ao longo da história, mas não é próprio do homem, principalmente na dimensão que tomou. Desse modo, surge uma questão que intriga e merece um maior aprofundamento, ou seja, o que fez com que o trabalho tomasse a proporção e a importância que tem hoje? O que está por traz da ideia de que o trabalho é a essência do homem? Uma das vertentes de respostas, conforme já pontuou Bernal, está o capitalismo e sua forma de produção subjetiva que convoca o homem à um gozo desenfreado, do consumo a qualquer preço, das trocas superficiais e imediatas, do status. Não é o trabalho que está a serviço da vida, se não a vida à mercê do trabalho. Reconhecendo tais verdades é possível compreender a relação estabelecida entre saúde mental e trabalho, uma vez que, esses dois conceitos encontram-se num mesmo engodo e precisam ser debatidos conjuntamente. Para Davel e Vergara (2001), esta forma de trabalho em prol de um objetivismo e da garantia da eficácia condena o ser humano a viver em grande sofrimento e a organização a privar-se da mola essencial de sua dinâmica. Dito de outra forma, o excesso de burocracia, de formas e fórmulas prontas impede que a criatividade seja posta em jogo bem como, o próprio desejo, promotor de trabalho. Isso faz resultar num ambiente organizacional vazio, em que o indivíduo não é convocado a se apresentar junto à sua subjetividade, mas sim, com seu Q.I ou o próprio corpo no significante máquina. As relações do sujeito com o trabalho reduzidas à produção aumentam a possibilidade de adoecimento. Sobre isso Dejours (2004) vai falar que os trabalhadores nunca executam os procedimentos tal qual a empresa determina. Eles sabotam, encontram um O que fez com que o trabalho tomasse a proporção e a importância que tem hoje? O que está por traz da ideia de que o trabalho é a essência do homem? 24 Psicologia organizacional outro modo de fazer, pulam etapas, tudo isso para uma melhor realização do seu trabalho. Se não fosse isso, a produção entraria em colapso. A relação subjetiva do homem com o trabalho tem uma marca tão profunda que frustrações ou conflitos podem levá-lo a tomar medidas drásticas como o suicídio no próprio contexto da empresa (DEJOURS, 2004). Dejours é psiquiatra e psicanalista e estuda longamente as psicopatologias oriundas do trabalho. Em entrevista concedida alerta que suicídios sempre existiram, nas diversas esferas sociais e por diversos motivos ligados à uma frustração profunda diante da vida. Porém, nas organizações isso é algo novo, e apareceram inicialmente nas linhas de montagem de automóveis alemães. Esse fenômeno, por sua vez, causa impacto desastroso principalmente para o ambiente organizacional – pares, chefes, equipe, e é preciso que a organização decodifique a sua causa. Para Dejours (2004), as causas para o adoecimento no trabalho subjazem de técnicas de dominação que aos poucos foram sendo inseridas nos modelos de gestão – avaliação de desempenho, qualidade total e o outsourcing que paulatinamente transformou o trabalho em algo precário. A avaliação de desempenho, para Dejours (2004), colocou a concorrência em primeiro lugar no âmbito dos serviços, das empresas, dos indivíduos. Desse modo, as pessoas, com medo de perder o emprego, de não alcançar os prêmios oferecidos, de não serem reconhecidos, começam a competir entre si de forma que o êxito do colega torna-se uma ameaça, fragilizando toda a relação humana entre os pares em função do “ganho a qualquer custo”. Diante dos valores humanos fragilizados, muito rapidamente a ajuda mútua perde a força, as pessoas não se olham e não se falam e o que impera é a solidão e o individualismo. Sobre a qualidade total o autor a questiona, primordialmente por ela estar baseada em um ideal que é alucinante, pois não há como conceber a ideia de zero defeitos, zero acidentes. A partir desse ideal – da referência de qualidade total, é preciso pensar no que é possível realizar, levando em consideração o essencialmente humano, a possibilidade do erro, do defeito. Neste cenário o assédio passa a ser uma prática em que mesmo debaixo dos olhos dos colegas, ele não é denunciado, ou por medo ou por desconexão com o outro. Para quem vive essas situações no ambiente de trabalho, sem sequer poder contar com o testemunho de alguém que viu ou até presenciou, é assustador, diz Dejours (2014). Em relação ao outsursing – terceirização, que hoje é um assunto tão 25 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 comentado na política econômica do Brasil, vem a ser um outro ponto crítico para o autor. OUTSOURCING à expressão em inglês traduzida para por- tuguês como “terceirização”. No mundo dos negócios, o outsourcing é quando uma empresa contrata outra para desenvolver certa atividade interna. Hoje, um assunto muito discutido na mídia em função do Projeto de Lei n.º 4.330/04. Sobre este Projeto de Lei e algumas discussões a respeito do outsourcing, consulte a página do Jornal Estadão acessando o site: <http://economia.estadao.com.br/blogs/celso-ming/a-vez-da- terceirizacao/>. Para Bouyer (2015), em artigo recente, o traço marcante destes dispositivos do capital sobre o trabalho é a elevação do Sofrimento Social em níveis jamais vistos na história da produção e dos processos de trabalho. Ou seja, penosidade psíquica do trabalho; esgotamento emocional; violência simbólica; assédio moral; humilhação; opressão; repressão; conflito; luta; degradação das condições materiais, sociais, humanas e existenciais no trabalho - os quais surgem como consequência de outros também comuns ao moderno capital flexível: pressão temporal e intensificação do trabalho; individualização das performances; desregulamentação das relações de trabalho; flexibilização da produção (produção flexível); terceirização; acumulação flexível; reestruturação produtiva e produção enxuta; novas tecnologias de integração; novos mecanismos de controle, avaliação e mensuração do trabalho (alcance de metas exorbitantes; fidelização de clientes; maximização da qualidade, etc.) (BOUYER, 2015, p. 113). Abaixo é possível ver a entrevista com Dejours (2014) na íntegra, basta acessar o site: 26 Psicologia organizacional Dentre alguns importantes nomes da Psicologia que envolve discussões sobre saúde mental e trabalho, mais especificamente psicopatologia do trabalho, podemos citar: Jacques Christophe Dejours, psiquiatra e psicanalista do trabalho. Para este autor, “a organização do trabalho exerce sobre o homem a ação específica, cujo impacto é o aparelho psíquico. Em certas condições emerge um sofrimento que pode ser atribuído ao choque entre uma história individual, portadora de projetos, de esperanças e de desejos e uma organização do trabalho que os ignora”. Leia, também, uma entrevista concedida por ele, sobre suicídio no trabalho, através do link: <http://www.publico.pt/sociedade/noticia/um-suicidio-no-trabalho- e-uma-mensagem-brutal-1420732>. Nota-se, diante dessas discussões que o capital é sempre mais ágil em produzir novos dispositivos e mecanismos de controle que degeneram a condição social, humana e existencial dos trabalhadores. A compreensão por parte da gestão, da perversidade capitalista, da percepção da relação causal entre assédio moral, suicídio e trabalho são muito lentas ou surgem muito tarde, quando a empresa e o ambiente bem como, o social, estão adoecidos. Isso demostra que, existem situações cotidianas que estão imbricadas na cultura de uma nação, organização ou família que exercem sobre o indivíduo uma ação que pode estar na causa do sofrimento humano e que o conduz ao isolamento, ao estresse, à depressão, à perda de sentido da vida. Para Davel e Vergara (2001, p.21), atrás de todo empregado, técnico, gerente, engenheiro ou dirigente, encontramos uma pessoa que mobiliza sua subjetividade, a fim de realizar suas atividades. Pode acontecer que a organização na qual ela trabalhe não ofereça a possibilidade de expressão plena de sua subjetividade. Mas o que conhecemos das pesquisas empíricas e, em particular, das ciências do trabalho, é que isso pode ser muito problemático. O território das dimensões subjetivas, conforme Darvel e Vegara (2001, p. 25) pode ser representado pela figura que segue: Existem situações cotidianas que estão imbricadas na cultura de uma nação, organização ou família que exercem sobre o indivíduo uma ação que pode estar na causa do sofrimento humano e que o conduz ao isolamento, ao estresse, à depressão, à perda de sentido da vida. 27 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Figura 3 - Dimensões Subjetivas Fonte: Darvel e Vergara (2001). Nessa dimensão impera fundamentalmente a cultura de um local e aquela à qual se tem de referência, a estrangeira, que afetam diretamente os modos de subjetivação representadas, conforme a figura destaca, pela forma de se comunicar, se relacionar com os outros, modos de aprendizado e estilo de cognição, emoções, gênero, modelos de família, etc. Já a figura abaixo retrata, a dimensão do trabalho na vida de uma pessoa e o impacto que cada um dos elementos traz para a subjetividade. Como exemplo disso, tomemos o trabalho como fonte de oportunidades para interação e contato social. Bem, o trabalho ser a única fonte de estabelecimento de vínculos sociais, mostra o quanto a sociedade está disfuncional, pois além do trabalho é fundamental que outros e importantes laços sejam estabelecidos, pois muitas vezes, esse único vínculo estabelecido se limita ao espaço da empresa. Como consequência, é comum ver trabalhadores sentindo-se sozinhos e deprimidos. 28 Psicologia organizacional Figura 4 - Funções que o trabalho exerce na vida Fonte: Adaptado de Salanova, Gracia e Peiró (1996) apud Bernal (2010). Analisando o quadro, alguns pontos podem ser elencados: status e prestígio social são originários do que a pessoa faz e produz ou o quanto ela ganha e isso demonstra de certa forma, a limitação do que o trabalho proporciona ao homem em relação aquilo que faz; outro aspecto diz respeito a função de o trabalho ser fonte de oportunidades para desenvolver habilidades e destrezas, ora, a sociedade está organizada de tal forma que se a pessoa não trabalha tem sua capacidade reduzida de se desenvolver, pois é o único meio ofertado para isso. Tendo em vista esses desenhos, é preciso ter em mente que não é possível individualizar ou culpabilizar o sujeito diante do sofrimento no trabalho quando na verdade o contexto é social e também favorece indicadores de adoecimento; bem como, não se pode desresponsabilizar o sujeito que sofre e que não encontra subsídios próprios para sair deste lugar de sofrimento, pois isso diz muito sobre a sua dinâmica psíquica. Desse modo, é preciso pensar essa relação. Frente a isso, o psicólogo é aquele que auxilia o sujeito no processo de resgate da subjetividade, perdida ou massacrada pela falta de sentido no trabalho. Através da proximidade com as pessoas que compõem o quadro de trabalhadores, através da escuta de suas É preciso ter em mente que não é possível individualizar ou culpabilizar o sujeito diante do sofrimento no trabalho quando na verdade o contexto é social e também favorece indicadores de adoecimento; bem como, não se pode desresponsabilizar o sujeito que sofre e que não encontra subsídios próprios para sair deste lugar de sofrimento. 29 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 queixas ou ideias, a organização pode alcançar performances tão almejadas, pois a partir do momento em que o trabalhador sentir-se parte do grupo, renova-se o combustível que faz reagir, criar, interagir, o sujeito em uma outra dinâmica na busca de reconhecimento e bem-estar. Não é à toa que inúmeros livros que discutem sobre trabalho, subjetividade e organizações (DAVEL; VERGARA, 2001; BORGES; MOURÃO, 2013; ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2014) trazem a ideia de que as pessoas são um diferencial competitivo, mas não só por fazerem parte da vida produtiva da organização, mas por conferirem a ela (vida) aos processos e a gestão. Além disso, a força da composição do grupo que é única e inédita, é capaz de realizações incríveis. Se atualmente vive-se uma era do vazio, das relações frágeis e obsoletas, do apelo à exterioridade e repressão da interioridade, é preciso que a gestão adentre esses assuntos propondo um diálogo, pois este modelo afeta a forma como os homens trabalham. A racionalidade, a busca da eficácia, da melhor estratégia, do aumento da produtividade são importantes mas, estão tão fortemente enraizadas no cenário que envolve a economia financeira que a subjetividade que permeia a organização, tem pouca atenção. Um espaço de escuta deve ser introduzido, pois o ser humano usa a linguagem não só para comunicar informativamente, mas para dizer o que sente, o que pensa, e essas razões podem dar o caminho para manter ou promover vantagens organizacionais. Os gestores, os líderes, devem incorporar esse papel através da aproximação com a equipe, é nessa direção que o trabalho do psicólogo caminha, sendo um mediador. De maneira alguma o objetivo é propor uma clínica - organizacional, mas a partir do trabalho do psicólogo que a subjetividade, sem a qual a existência humana não seria possível, muito menos o trabalho, seja posta em jogo, pois é ela que vai conduzir os gestores às soluções de conflitos no contexto do trabalho, minimizando as possibilidades de adoecimento. A longo prazo, a empresa encontrará inúmeros benefícios nessa forma de atuação, pois o que é essencialmente humano, que é o motor da vida, se reprimido, pode provocar um grande caos. Quando a gestão de uma empresa permite que a subjetividade tenha uma via de realização, os resultados podem surpreender, inclusive em relação aos resultados organizacionais ligados à meta e performance. Essa noção não diz respeito ao um-a-um, do eu individual, mas do nós que permeia um grupo (DAVEL; VERGARA, 2001). Se atualmente vive-se uma era do vazio, das relações frágeis e obsoletas, do apelo à exterioridade e repressão da interioridade, é preciso que a gestão adentre esses assuntos propondo um diálogo, pois este modelo afeta a forma como os homens trabalham. 30 Psicologia organizacional Mas como perceber e trabalhar com a subjetividade? A subjetividade é a parte mais íntima do ser, designa a singularidade, a espontaneidade e está incorporada nos pensamentos, condutas, emoções, ações. O importante é que os gestores se questionem sobre: o que os colaboradores estão sentindo, pensando e fazendo? E suas práticas irão depender da demanda e de criatividade. Não existem fórmulas generalistas e que servem para todos. De fato a proximidade com o sujeito/trabalhador não garante o desaparecimento das problemáticas organizacionais, mas pode, de forma significativa, reduzir, em função das práticas humanizadoras, a força de um acting out – passagem do pensamento ao ato, como no suicídio, ou os altos índices de turnover - rotatividade e absenteísmo – faltas. Resumidamente, a ideia central do psicólogo nas organizações, seria o de propor atividades de promoção de saúde, atentando-se aos modos de gestão e quando identificado pontos de conflitos, buscar identificar as suas raízes e quiçá, tocar os gestores quanto aos fenômenos empoderando-os à aproximarem-se da singularidade de cada indivíduo pertencente ao seu grupo. As práticas adotadas pelo psicólogo, portanto, para promoção de saúde mental no trabalho estariam muito mais ligadas a uma condição de análise e da elaboração das intervenções compatíveis à cultura da empresa, natureza de suas inter-relações, aspectos sociais, do que simplesmente adotarum manual generalista de estratégias de adaptação do trabalhador ao trabalho. Pensando nos conceitos ligados à subjetividade e trabalho, a sua empresa possui uma via de escuta e expressão da subjetividade humana? Ou ainda, a sua empresa está interessada no que o colaborador tem a dizer? Nas ideias que tem a agregar? Na sua queixa, na sua frustração diante da realização de suas atividades? Mas como perceber e trabalhar com a subjetividade? A subjetividade é a parte mais íntima do ser, designa a singularidade, a espontaneidade e está incorporada nos pensamentos, condutas, emoções, ações. O importante é que os gestores se questionem sobre: o que os colaboradores estão sentindo, pensando e fazendo? E suas práticas irão depender da demanda e de criatividade. Não existem fórmulas generalistas e que servem para todos. 31 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Se você quiser conhecer mais sobre Psicologia e Saúde Mental, existem bons livros sobre este assunto. BERNAL, Anastasio Ovejero. Psicologia do Trabalho em um mundo globalizado: como enfrentar o assédio psicológico e o estresse no trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2010. MAL - Estar no Trabalho Para Gaulejac (2007), os paradigmas que hoje estão no fundamento da ciência da gestão, compõem fatores que instrumentalizam os indivíduos, os alienando enquanto sujeitos criativos e subjetivos, promovendo um esvaziamento de sentido frente ao trabalho. Dito de outra forma, vivemos um tempo em que a gestão legitima uma perspectiva utilitarista, contábil, racional em nome do desempenho da qualidade, da eficácia, da competição afastando a possibilidade de um trabalho humano. Uma sociedade marcada por paradoxos que colocam as pessoas sob pressão. PARADOXOS à “Autonomia Controlada” à “Você é livre para trabalhar 24horas” à “Graças as novas tecnologias, mais tempo se ganha, menos tempo se tem” à “A riqueza aumenta enquanto que a vida parece sempre mais difícil para muitos” Diante da pressão psicológica, ao invés de caminharem em busca de soluções coletivas de questionamento do modelo em que vivem ou em que trabalham, as pessoas assumem a responsabilidade sozinhas, ou seja, “eu sou o culpado”, “não Os paradigmas que hoje estão no fundamento da ciência da gestão, compõem fatores que instrumentalizam os indivíduos, os alienando enquanto sujeitos criativos e subjetivos, promovendo um esvaziamento de sentido frente ao trabalho. 32 Psicologia organizacional sou bom o suficiente para atender a máxima da empresa”. Essa reação defensiva individual produz diferentes tipos de adoecimentos como, por exemplo, Burnout, Estresse, Esgotamento no trabalho, Depressão e até suicídio. Para Gaulejac (2007), na gestão de metas e projetos, as pessoas são iludidas com a ideia de que irão poder realizar-se pessoalmente na empresa, obter crescimento e desenvolvimento ou ainda, que poderão vir a tornar-se futuros gestores se apresentarem bons desempenhos. O eu ideal do sujeito é cativado por esse contrato narcísico oferecido pela organização, mas que, na maioria das vezes, não passam de uma grande ilusão que produz um imaginário enganador. Desta maneira, os indivíduos são pressionados a correrem e competirem entre si, sem saberem exatamente atrás do que estão correndo e quanto mais se esforçam para buscar excelência, cada vez mais se distanciam dos outros. Para o autor citado, a depressão é quando o eu do sujeito, diante da frustração de não ter alcançado às exigências do meio, ao invés de reconhecer que o ambiente de trabalho possui aspectos que promovem o adoecimento, leva a reconhecer que a falha diz respeito a sua própria incapacidade ou falha. Dito isto, é importante frisar que não é possível culpabilizar ou individualizar o sujeito sobre o seu mal-estar, mas levar em consideração que este sujeito é social e está envolto de um sistema social-econômico-político que contém um enredo que também desperta formas de adoecimento. Também, não é possível desresponsabilizar o sujeito e delegar somente a empresa o sofrimento no trabalho, pois os sujeitos possuem escolhas e, além disso, funcionamentos psíquicos que podem contribuir para o desenvolvimento de doenças psicológicas. Porém, segundo Bernal (2010), algumas doenças podem ser intensificadas em virtude de uma combinação entre variáveis psíquicas e psicossociais, ou seja, não são acontecimentos isolados, mas sim, complexos e que precisam ser levados em consideração sujeito, organização e o contexto social da época. Para Gaulejac (2007, p. 29) “a gestão não é um mal em si. É totalmente legítimo organizar o mundo, racionalizar a produção, preocupar-se com a rentabilidade. Com a condição de que tais preocupações melhorem as relações humanas e a vida social”. A globalização trouxe como consequências o aumento do desemprego, insatisfação profissional e trabalhos precários. Com isso, aumentou também o estresse, o esgotamento profissional ou burnout e o assédio moral no trabalho ou mobbing. A gestão não é um mal em si. É totalmente legítimo organizar o mundo, racionalizar a produção, preocupar-se com a rentabilidade. Com a condição de que tais preocupações melhorem as relações humanas e a vida social. 33 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Bernal (2010) aponta que a globalização trouxe como consequências o aumento do desemprego, insatisfação profissional e trabalhos precários. Com isso, aumentou também o estresse, o esgotamento profissional ou burnout e o assédio moral no trabalho ou mobbing. Quanto ao estresse o autor aponta que é uma forma complexa de sofrimento no trabalho que afeta principalmente um indivíduo com baixa autoestima e com escasso apoio social. Porém, embora os traços de personalidade do trabalhador podem influenciar o seu surgimento ou intensificação, é na organização que deverão ser buscadas as causas. Abaixo você poderá compreender algumas das causas do estresse no trabalho. Além disso, pode ficar atento a como percebê-lo no seu ambiente de trabalho. Veja o quadro a seguir. 1 - Trabalho excessivo ou insuficiente no cargo exercido: ter muito trabalho ou pouco são situações estressantes, pois angustia e entedia. 2 - Avaliação de desempenho deficiente: perceber que não se está fazendo um bom trabalho produz estresse, mas não ter indicações de como melhorá-lo, o intensifica. 3 - Más condições objetivas do trabalho: condições de trabalho desagradáveis: muito frio, muito calor, níveis elevados de ruídos, entre outros, produz estresse. 4 - Mudanças organizacionais: a rotina, muitas vezes é uma forma de defesa e quando isso é ameaçado, dependendo da forma que as mudanças são impostas, pode levar os trabalhadores a terem problemas de adaptação e isso ser fonte de estresse. 5 - Frustração no desenvolvimento profissional: as empresas costumam promover promoções que se não forem atendidas produzem frustração e consequentemente estresse. Fonte: Adaptado de Bernal (2010). 34 Psicologia organizacional Como prevenir o estresse? Para GAULEJAC (2007), não existe receita pronta em relação às formas de como sair de situações de sofrimento, mas é preciso inventar formas possíveis de serem implementadas no ambiente organizacional, de acordo com a natureza do problema e cultura da empresa. Quanto ao estresse, os meios individuais de enfrentamento são as menos eficientes, pois os trabalhadores têm pouco controle sobre a organização, portanto, menos poder de transformação diante dos fatores estressores. É preciso um esforço cooperativo em que operam as técnicas grupais, pois dentro de um grupo o apoio social e as forças que operam sobre o indivíduo podem trazer empoderamento diante de situações vulneráveis; técnicas organizacionais que consistem em modificações importantes na cultura da empresa ou na estrutura organizacional - formas de liderar, redefinição de critérios de seleção, de desenvolvimento de carreira, promoção no trabalho, benefícios,remuneração, dentre outros. Isso não significa dizer que os meios individuais de busca de redução do estresse ou mesmo de prevenção não sejam importantes, pois o sujeito precisa conhecer suas limitações e suas fortalezas para poder modificar circuitos de relações com o mundo. Mas não são únicas e as mais eficazes quando se trata de ambiente organizacional. O estresse é um fenômeno multifacetado que não possui um conceito unívoco, portanto, surge, uma nomeação mais específica com a Síndrome de Burnout, tendo essa como característica a presença de diversos agentes potencialmente estressores. Outras formas de sofrimento no trabalho são citadas por Bernal (2010) como consequência da globalização: Burnout e Mobbing. Que veremos na sequência. Figura 5 - Consequências Psicossociais da Globalização Fonte: A autora. Não existe receita pronta em relação às formas de como sair de situações de sofrimento, mas é preciso inventar formas possíveis de serem implementadas no ambiente organizacional, de acordo com a natureza do problema e cultura da empresa. 35 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Síndrome de Burnout A síndrome de Burnout, conhecida como síndrome do esgotamento profissional, foi descoberta em 1970 pelo psicanalista Hebert Freudenberger, após constatar que sofria deste mal. A palavra Burnout vem do inglês to burn out, que significa “queimar- se por completo”. É caracterizada pela dedicação exagerada à atividade profissional. A primeira conferência Nacional sobre Burnout foi realizada na Filadélfia em 1981 (BERNAL, 2010). Atualmente, o esgotamento tem sido um tema comumente discutido pela área de gestão, bem como percebido como formas de sofrimento dentre os colaboradores. Dentre os fatores que estão na base da síndrome do esgotamento no trabalho estão: I) esgotamento emocional - sensação de não conseguir mais suportar a situação; II) despersonalização – atitude impessoal e negativa com os usuários e, III) falta de realização pessoal – sentimento de que aquilo que se realiza no trabalho não traz realização (BERNAL, 2010). De forma geral, esta síndrome interfere nos níveis institucionais, sociais e pessoais, uma vez que esses três universos se conectam entre si e se influenciam entre si. Portanto, se esta problemática se origina em função do trabalho é possível afirmar que ela consequentemente irá afetar além do indivíduo, a organização como forma de ação e reação e vice-versa. Os sintomas mais gerais identificados no esgotamento no trabalho e que são semelhantes ao estresse podem ser divididos em 3 grandes categorias: físicos, psíquicos ou cognitivos – afetivos e comportamentais. A figura abaixo apresenta os aspectos constitutivos de cada categoria, trazendo apenas alguns exemplos, pois entende-se que o universo relacionado a esse tipo de sofrimento contém inúmeros tipos de sintomas. Além disso, não estão presentes ao mesmo tempo, no mesmo indivíduo que está acometido pela síndrome, ou seja, podem ter combinações distintas. A síndrome de Burnout, conhecida como síndrome do esgotamento profissional, foi descoberta em 1970 pelo psicanalista Hebert Freudenberger, após constatar que sofria deste mal. A palavra Burnout vem do inglês to burn out, que significa “queimar- se por completo”. É caracterizada pela dedicação exagerada à atividade profissional. Os sintomas mais gerais identificados no esgotamento no trabalho e que são semelhantes ao estresse podem ser divididos em 3 grandes categorias: físicos, psíquicos ou cognitivos – afetivos e comportamentais. 36 Psicologia organizacional Figura 6 – Sintomas do Burnout Fonte: Adaptado de Bernal (2010). Uma das estratégias de prevenção das organizações em relação aos diferentes tipos de estressores no ambiente de trabalho é o desenvolvimento de sistemas de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT). De acordo com Borges e Mourão (2013), a QVT busca humanizar as relações de trabalho proporcionando mais satisfação dos colaboradores frente as atividades laborais e está associada à felicidade, ao bem-estar, à saúde e a segurança no trabalho. Para Borges e Mourão (2013), a QVT precisa ser adotada, principalmente, como medida de caráter preventivo, em que as estratégias adotadas servem como motivação para o trabalhador. Essas medidas cuidam tanto do bem-estar físico e psicológico e não apenas do trabalho e podem estar relacionadas com estratégias que beneficiem o trabalho exercido, reconhecimento dos resultados alcançados, relacionamento com o grupo e com o líder, benefícios e salário. Pesquisa recente (BRITO; SILVA; MEDEIROS; OBREGON; LOPES, 2014) buscou verificar através de 575 entrevistas com trabalhadores no Brasil, as relações entre QVT e Síndrome de Burnout e concluiu que existe uma relação estreita entre estes dois aspectos, principalmente no que diz respeito aos baixos níveis de satisfação da qualidade de vida no trabalho, ou seja, quanto menor os índices de satisfação (reconhecimento profissional, relacionamento grupal, benefícios) maior a possibilidade de esgotamento emocional e Síndrome de Burnout. Para Bernal (2010), é fundamental que as empresas proponham formas de enfrentamento e/ou prevenção para o Burnout, pois os estressores que compõem a síndrome são percebidos como crônicos e pertencem ao modo de funcionamento da organização. 37 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Quanto às estratégias organizacionais de enfrentamento ou controle em relação ao esgotamento emocional, o autor destaca alguns pontos importantes, conforme mostra a tabela que segue. Mas antes, um questionamento do LEO para refletir. Destas estratégias expostas abaixo, quais delas podem ser utilizadas e adaptadas para a sua organização para fins de prevenção da Síndrome de Burnout? Vale uma discussão em uma MESA REDONDA com seus pares ou setor de desenvolvimento humano, já que o esgotamento do trabalho está presente em muitos ambientes organizacionais. Serve também como ideias para consultorias e o Coaching! Abaixo, quadro com algumas estratégias para prevenção do Burnout no trabalho: Quadro 1 – Estratégias para prevenir o Burnout Estratégias de Prevenção Programas de socialização antecipatória Uma boa socialização antecipatória preparará os funcionários de forma suficiente para não se esgotarem facilmente, já que reduzirão as frustrações que são comuns nos primeiros anos de trabalho. Avaliação e retroinformação Estilo de liderança que busque o equilíbrio entre uma orientação voltada para as tarefas e voltada para as pessoas, estabelecendo uma comunicação contínua e apropriada que planeje o ambiente de forma eficaz, que permita a participação nas tomadas de decisões, que fomente a criatividade e inovação e estabeleça redes de apoio social aos colaboradores. Desenvolvimento organizacional Levar a cabo os programas de desenvolvimento organiza- cional que visam melhorar o ambiente e o clima organizacional. Outras estratégias Reestruturação e redefinição do posto de trabalho; estabe- lecimento de objetivos claros para as funções das pessoas; aumento de recompensas; estabelecimento de linhas claras de autoridade; melhoria das redes de comunicação. Fonte: Adaptado de Bernal (2010). 38 Psicologia organizacional Para Gaulejac (2007) estas ações em nível organizacional, primordialmente, devem em sua essência, possibilitar que o trabalhador torne-se e sinta-se sujeito de valor e importante para a organização. E os sujeitos devem recusar práticas que lhes prejudiquem em relação aos seus próprios valores. Assédio Moral no Trabalho: Mobbing Os termos mobbing, bullying, assédio moral, assédio psicológico no trabalho têm sido utilizados como sinônimos para definir o terror psicológico vivido por alguns trabalhadores no contexto de organizações. Uma cartilha elaborada em 2013 pela subcomissão de gênero com participação da comissão de ética do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, que teve como objetivo abordar através deconceitos e exemplos este relevante e atual tema, pontuou que O assédio moral são atos cruéis e desumanos que caracterizam uma atitude violenta e sem ética nas relações de trabalho, praticada por um ou mais chefes contra seus subordinados. Trata-se da exposição de trabalhadoras e trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes durante o exercício de sua função. É emocionalmente a relação da vítima com a organização e o ambiente de trabalho, o que põe em risco a saúde, a própria vida da vítima e seu emprego (BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2013, p.13). Para Bernal (2010), o mobbing é uma das principais fontes de estresse, e foi através dos estudos sobre os fatores estressores no ambiente de trabalho é que se chegou ao seu conceito. Considera uma praga do século XXI e argumenta que as empresas que buscam promover qualidade de vida no trabalho criam estratégias, principalmente, para reduzir ou eliminar o impacto deste fenômeno nas relações de trabalho. Diversas cartilhas foram elaboradas como meio de divulgar e prestar mais esclarecimentos para a comunidade em relação a este mal que pode ser evitado se as organizações estiverem atentas sobre os fenômenos do ambiente organizacional e dispuserem de estratégias de prevenção. O Núcleo de Estudos e Ações sobre Violência no Trabalho - NEAVT da Câmara Legislativa do Distrito Federal é mais um destes locais que pesquisadores da área de atendimento psicossocial realizam estudos e produzem materiais como cartilhas e textos como forma de promover uma luta contra o mobbing. Em 2008, este núcleo criou um material intitulado “Violência no trabalho: reflexões, conceitos e orientações” como forma de propagar este fenômeno. 39 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Bernal (2010, p.168), considera que “foi a nossa atual situação do trabalho que tornou o mobbing frequente, caracterizada por um darwinismo social exacerbado e uma competição cruel de todos contra todos, em um contexto de incerteza, de ameaça e de medo do futuro, próprios do neoliberalismo.” Acrescenta ainda que este cenário favoreceu com que pessoas com vulnerabilidades psíquicas como os narcisistas, encontrassem um terreno fértil para exercer condutas aterrorizantes. Na cartilha do MTE (BRASIL, 2013, p. 14), é exposta uma contextualização de como o assédio moral acontece: A vítima escolhida é isolada do grupo, sem explicação. Passa a ser hostilizada, ridicularizada e desacreditada no seu local de trabalho. É comum os colegas romperem os laços afetivos com a vítima e reproduzirem as ações e os atos do (a) agressor (a) no ambiente de trabalho. O medo do desemprego, e a vergonha de virem a ser humilhados, associados ao estímulo constante da concorrência profissional, os tornam coniventes com a conduta do assediador. Sobre isso Bernal (2010) aponta que o mobbing está contido nas relações pessoais de um grupo que são guiadas pela personalidade de um líder que sofre de carências psicológicas e emocionais comprometedoras. Além disso, apesar de, muitas vezes, o assediado possuir características de uma personalidade submissa, que vira alvo do assediador, problemas como ansiedade, paranoia, depressão são consequências e não a causa do processo de assédio. Ou seja, não é porque o sujeito possui uma personalidade mais vulnerável que vira alvo do assediador, mas sim que o assediador consegue, nestes indivíduos, exercer sua loucura. Em contrapartida, pessoas que trabalham exclusivamente pelo salário e não vivem a organização de forma total em suas vidas, conseguem mais facilmente se livrar do assédio moral, muitas vezes, até trocando de empresa. As dificuldades de identificar e quantificar o mobbing no ambiente de trabalho se deve, principalmente, ao fato de seu conceito ainda não estar bem definido e alguns casos serem diagnosticados erroneamente. Com isso, precisar o quanto este fenômeno ocorre em um ambiente de trabalho ainda é fonte de estudos. Para Bernal (2010), nos casos de mobbing, o assediador e seu grupo atingem a vítima, isolam-na e destroem sua autoestima, colocando-as sob tensões muito fortes que produzem muita ansiedade levando, inevitavelmente, a situações de doença ou suicídio. Quanto aos O assediado possuir características de uma personalidade submissa, que vira alvo do assediador, problemas como ansiedade, paranoia, depressão são consequências e não a causa do processo de assédio. Ou seja, não é porque o sujeito possui uma personalidade mais vulnerável que vira alvo do assediador, mas sim que o assediador consegue, nestes indivíduos, exercer sua loucura. 40 Psicologia organizacional sintomas, podemos dizer que eles são semelhantes ao estresse, porém, de forma mais intensificada, duradouras e que acarretam consequências mais drásticas por parte da saúde do assediado (BERNAL, 2010). Sobre o suicídio Dejours (2012, p. 365) nos presenteia com as seguintes constatações: 1. o suicídio sobrevém num contexto de transtornos psicopa- tológicos reconhecidos e que começaram a se manifestar muito antes do episódio crítico; 2. o suicídio sobrevém num contexto de franca depressão, mas, na ausência de quaisquer antecedentes psicopatológicos, a depressão parece estreitamente ligada à degradação da situação do trabalho; 3. enfim, certos suicídios são cometidos por trabalhadores que sofrem pela sua relação com o trabalho, mas não apresentam qualquer transtorno psicopatológico. Os suicidas inesperados deixam perplexo seu meio profissional, tanto quanto as famílias e os próximos e constituem um verdadeiro desafio clínico e teórico, na medida em que escapam a toda descrição psicopatológica conhecida. Diante deste cenário surge uma interrogação: Qual o papel do psicólogo diante do fenômeno mobbing? De que forma ele pode auxiliar a organização a identificar e tratar deste mal que afeta o sujeito/trabalhador e traz consequências negativas para o ambiente organizacional e para os negócios? 41 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 O simples fato de estabelecer uma aproximação com a vítima, oferecendo-lhes apoio social, costuma gerar bons resultados. Porém, existem outros meios importantes de estar combatendo este mal dentro da organização. Quanto as formas de prevenção ou medidas organizacionais podemos citar, nos apropriando das ideias de Bernal (2010): à Incorporar plano de formação e informação da empresa, os aspectos relativos aos riscos psicossociais em geral e ao assédio psicológico em específico; à Desenvolver junto à direção habilidades sociais, de comunicação, aspectos como empatia, trabalho em equipe, capacidade de resolução de conflitos; à Definir uma política de comunicação fluente, transparente, justa e participativa; à Incorporar uma declaração de princípio e de política empresarial sobre o assédio psicológico. Essas são algumas das ideias, quais são as suas? Se você quiser complementar a visão crítica sobre a gestão, este livro poderá ajudá-lo: GAULEJAC, Vicent. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. SP: Ideias & Letras, 2007. Atividades de Estudos: 1) Qual a importância do psicólogo no contexto das organizações, hoje? O simples fato de estabelecer uma aproximação com a vítima, oferecendo- lhes apoio social, costuma gerar bons resultados. Porém, existem outros meios importantes de estar combatendo este mal dentro da organização. 42 Psicologia organizacional __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) No caso da Avaliação de Desempenho, utilizada por muitasempresas atualmente, por que ela é criticada por Dejours (2014)? Qual outra forma possível de realizar uma avaliação do desempenho dos colaboradores? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 3) Diante de situações de burnout e mobbing no ambiente de trabalho, quais ações poderiam ser promovidas para combatê-las? _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ _______________________________________________________ 43 Psique e OrganizaçãoCapítulo 1 Algumas Considerações Neste capítulo, procuramos contemplar a psicologia organizacional de modo que apresentássemos o papel do psicólogo nesse contexto e a importância do seu olhar que considera a subjetividade como promotor do trabalho. É importante salientar que diante da sociedade que vivemos hoje, produtora de demandas de adoecimento bastante significativas, oriundas de uma concatenação do capitalismo selvagem, a presença do psicólogo no contexto das organizações pode ser uma peça importante para minimizar os impactos consequentes deste cenário. Além disso, diante da complexidade do ser humano, nenhuma abordagem ou teoria sozinha daria conta de compreendê-lo ou de encontrar práticas 100% eficazes que dariam conta das problemáticas existentes no ambiente organizacional. É preciso que psicólogos, administradores, gestores e a própria equipe, contribuam nesse debate em busca de soluções. No próximo capítulo, serão abordados assuntos que envolvem dimensões organizacionais como a cultura, clima, aprendizagem, comunicação e liderança nas organizações como forma de complementar nossos estudos sobre a Psicologia Organizacional. Referências BASTOS, V. B.; YAMAMOTO, O. M.; RODRIGUES, A C A. Compromisso social e ético: desafios para a atuação em psicologia organizacional e do trabalho. In: BORGES, L. O.; MOURÃO, L. (Orgs.). O trabalho e as organizações: atuações a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013. BERNAL, A. O. Psicologia do trabalho em um mundo globalizado: como enfrentar o assédio psicológico e o estresse no trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2010. BORGES, L. de O.; MOURÃO, L.. O Trabalho e as Organizações: Atuações a partir da Psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013. Nomes escritos por extenso, destoando das demais referências quanto ao padrão. BOUYER, G. C. Sofrimento social e do trabalho no contexto da área “saúde mental e trabalho. Psicologia & Sociedade, 27(1), 106-119, 2015. 44 Psicologia organizacional BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Assédio moral e sexual no trabalho. – Brasília: MTE, ASCOM, 2009. BRITO, L. C; SILVA, A. H; MEDEIROS, F. S. B; OBREGON, S, L; LOPES, L. F. D. Síndrome de burnout e abordagem biopsicossocial de qualidade de vida no trabalho: um estudo na região sul do brasil. XVII SemeAd. Seminários em Administração. Out, 2014. DAVEL, E.; VERGARA, S. C. (Orgs.). Gestão com pessoas e subjetividade. São Paulo: Atlas, 2001. DEJOURS, C. Subjetividade, trabalho e ação. Revista Produção. v.14, n.3, p. 27-34, Dezembro, 2004. ______. Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal. 2014. Disponível em: <http://www.publico.pt/sociedade/noticia/um-suicidio-no-trabalho-e-uma- mensagem-brutal-1420732>. Acesso em: 15 ago. 2015. ______. Psicodinâmica do trabalho e teoria da sedução. Psicologia em estudo. Maringá, v. 17, n. 3. p. 363-371, jul/set. 2012. FREUD, S. (1930~1929). O mal-estar na Civilização. In: _____. O futuro de uma Ilusão, o mal-estar na civilização e outros trabalhos. Edição Standard brasileiras das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 2006c. v. XXI, p. 73-148. GAULEJAC, V. Gestão como doença social: ideologia, poder gerencialista e fragmentação social. 3. ed. SP: Ideias & Letras, 2007. SIQUEIRA, M. M. M; MARTINS, M. C. F. Promoção de Saúde e Bem-estar em organizações. In: BORGES, L. O.; MOURÃO, L. (Orgs.). O trabalho e as organizações: atuações a partir da psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013. ZANELLI, J. C; BASTOS, A. V. B; RODRIGUES, A. C. A. Campo profissional do psicólogo em organização e no trabalho. In: ZANELLI, J. C.; BORGES- ANDRADE, J.; BASTOS, A. V. B. (Orgs.). Psicologia, Organizações e trabalho no Brasil. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. CAPÍTULO 2 Dimensões Organizacionais A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Conhecer os principais componentes da cultura organizacional e de que forma ela influência no clima organizacional; 9 Elaborar propostas de intervenção sobre problemas contemporâneos relacionados à área de gestão de pessoas; 9 Ser capaz de compreender as teorias de comunicação e aprendizagem projetando estratégias de avaliação e melhoria destes fenômenos no contexto da organização. 46 Psicologia organizacional 47 Dimensões OrganizacionaisCapítulo 2 Contextualização No capítulo anterior, tivemos a oportunidade de discutir sobre o papel da psicologia nas organizações tendo em vista a relação do Homem X Trabalho e aspectos importantes como saúde mental e tipos de sofrimento no trabalho. No presente capítulo, buscamos compreender, dimensões que conferem singularidade e dinamismo para a organização. Essas dimensões dizem respeito à cultura, ao clima e aos modos de aprendizagem e comunicação, cruciais para análise que objetiva conhecer e entender com mais profundidade o funcionamento de uma empresa. A cultura e o seu reflexo no clima da organização são relações importantes de serem estudadas, principalmente porque indicam o nível de satisfação e insatisfação dos colaboradores apontando potencialidades e fracassos, bem como sugerindo possibilidades de mudanças no contexto da empresa e do trabalho. As formas de aprendizagem e comunicação fazem parte deste universo e dizem respeito as formas e estratégias adotadas para atingir objetivos e viabilizar um espaço de trabalho humanizado. Diante disso, a Psicologia Organizacional é solicitada a aprofundar sua produção de conhecimento e contribuir com a organização, principalmente pelas condições singulares que o contexto apresenta e que frequentemente demanda adaptações em função das constantes mudanças da sociedade. Este capítulo não pretende apresentar formulas padronizadas para resoluções de problemas da área de gestão de pessoas, mas busca contribuir com reflexões teóricas e possibilidades de intervenções, tendo em vista o auxílio do profissional de psicologia. Cultura Organizacional Os homens trazem dentro de si não somente a sua individualidade, mas a humanidade inteira, com todas as suas possibilidades. Goethe O conceito de cultura é utilizado por diversas áreas de estudo, produzindo uma diversidade de ideias. Por antropólogos é introduzida para se referir aos costumes e rituais elaborados pela sociedade ao longo da sua história;
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