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2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 1 FARMACOLOGIA AULA 1 e 2 Farmacocinética CONCEITOS • Farmacologia: Ciência que estuda a interação de determinada substância química com o sistema biológico. • Efeito benéfico: Fármaco ou medicamento gera cura da doença, função profilática, possibilita ou confirma diagnóstico, ou alivia sintomas. • Efeito maléfico: Tóxico (veneno). Estudado pela toxicologia. • Fármaco: Substância química conhecida e de estrutura química definida, dotada de propriedade farmacológica. Sinônimo de princípio ativo. • Medicamento: Produto farmacêutico que contém um fármaco ou mais, geralmente em associação com adjuvantes farmacocinéticos. • Droga: Toda e qualquer substância que gera modulações fisiológicas em um organismo vivo, podendo gerar efeito benéfico e maléfico. • Remédio: Qualquer substância ou procedimento que gere benefício ao organismo. OBJETIVO TERAPÊUTICO • Obter a resposta terapêutica; • Minimizar os efeitos adversos; • Melhorar a qualidade de vida; • Evitar a progressão da doença. • Exemplo: Indivíduo com hipertensão que passa a tomar anti-hipertensivo. → Desfecho primordial: Redução da morbimortalidade cardiovascular. → Desfecho secundário: Redução do nível da pressão arterial. HISTÓRIA Inicialmente, a farmacologia surge com remédios à base de ervas e observações, ligada ao misticismo, crenças exotéricas e religião. Tal situação é alterada a partir da Revolução Científica, no final do século XVII com Galileu refutando as ideias de Aristóteles. A medicina era eficaz no diagnóstico, devido a precisão da observação, no entanto, o tratamento era debilitado. Com o surgimento da química começam a ser usadas as substâncias em experimentos com animais, oriundas de produtos naturais. A partir disso, a química orgânica proporciona a síntese laboratorial e modificações estruturais, visando o melhor efeito dos fármacos. No século X, surgem as boticas, responsável pelo comércio de substâncias químicas e pelo início do desenvolvimento da indústria farmacêutica. Com isso, temos o desenvolvimento dos fármacos sintéticos. Entre os séculos XVIII e XIX temos o avanço da patologia, fisiologia, bioquímica e biologia molecular, áreas as quais contribuíram para o desenvolvimento da farmacologia. PRODUÇÃO DE UM FÁRMACO 1. Pesquisa básica de uma substância nova, através da síntese, testes e escrutínio. A química estuda esse produto através da biofísica molecular, observando a interação com possíveis receptores e seus efeitos. 2. Testes pré-clínicos em animais, normalmente, é utilizado dois modelos. Determinam segurança, tolerabilidade e mecanismos de ação (farmacocinética). 3. Após liberação pelo órgão federal regulatório entramos na fase clínica. 4. Na fase I temos indivíduos saudáveis e estuda-se a segurança e tolerabilidade da substância nova. 5. Na fase 2 temos indivíduos saudáveis e doentes, em grupos pequenos, podendo ser feito ensaio duplo- cego ou placebo controlado. Nesse momento, estuda-se a eficácia. 6. Na fase 3 temos apenas indivíduos doentes em grande quantidade e é iniciado um ensaio clínico randomizado, divididos em grupo controle e grupo tratado. 7. Caso seja aprovado, a patente é liberada por tempo variável e o produto é utilizado para o tratamento. TALIDOMIDA A talidomida foi sintetizada na década de 50, na Alemanha Ocidental, era um sedativo hipnótico com propriedades inflamatórias utilizado para o tratamento da insônia. Alguns anos depois foi identificado a sua ligação com o desenvolvimento de má formações dos membros em fetos, passando a ser considerado um medicamento teratogênico. Tal situação ocorreu mesmo após a realização de diversos testes e estudos, os quais são feitos durante para a aprovação de um fármaco, realizados antes, durante e após a sua produção. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 2 8. A fase IV é conhecida como farmacovigilância, realizada após a comercialização, com o intuito de descobrir os efeitos adversos. TIPOS DE MEDICAMENTO • Referência: Medicamentos com novos princípios ativos ou que são novidades no tratamento de doenças. A eficácia e a segurança são comprovadas nos ensaios pré-clínicos e clínicos. → Ex: Aspirina sintetizada no final do século XIX pela Bayer. • Genérico: Medicamentos que apresentam o mesmo princípio ativo que um medicamento de referência. Podem ser produzidos após o fim da patente. Na embalagem do remédio genérico há uma tarja amarela contendo a letra G. Como esse tipo de medicamento não tem marca, o consumidor tem acesso apenas ao princípio ativo do medicamento. Também deve passar por teste para sua produção, no entanto, é produzido mais rapidamente e, por isso, é mais barato. → Ex: Ácido acetilsalicílico. • Similar: São identificados pela marca ou nome comercial e possuem o mesmo princípio ativo, na mesma forma farmacêutica e via de administração dos medicamentos de referência. Pode ter validade, veículo ou adjuvantes diferentes. → Ex: AAS. BIOEQUIVALÊNCIA • Bioequivalência Farmacêutica (Droga A = Droga B): Mesmo princípio ativo, mesma dose e mesma via de administração. • Bioequivalência Terapêutica (Droga A = Droga B): Mesma biodisponibilidade e mesma taxa de extensão e absorção. MARGEM DE SEGURANÇA TERAPÊUTICA • É o intervalo de concentração de um fármaco dentro do qual existe uma alta probabilidade de conseguir a eficácia terapêutica com toxicidade mínima na maioria dos pacientes. • Ampla margem de segurança: O risco de ter efeito tóxico é mínimo, apresentando uma boa janela terapêutica. • Estreita margem de segurança: ÍNDICE TERAPÊUTICO • É a janela terapêutica de um medicamento. • Relação entre a dose tóxica (DT50) e a dose efetiva (DE50). • Dose mínima eficaz em 50% dos indivíduos até a dose mínima tóxica em 50% dos indivíduos. 𝑰𝑻 = 𝑫𝑻𝟓𝟎 𝑫𝑬𝟓𝟎 • Variação na absorção oral de 4 formulações de digoxina: Mesma substância com 4 formulações diferentes. → Digoxina: Digitálico utilizada no tratamento de Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). É um medicamento com janela terapêutica estreita, podendo causar efeito tóxico dependendo da sua formulação. → Gráfico: Formulação azul e laranja apresentam efeito subterapêutico, a formulação vermelha LEPTINA A leptina é um hormônio que regula a saciedade, diminuindo o apetite. Inicialmente, foi um medicamento utilizado para o emagrecimento. Foram feitos teste em camundongos obesos e funcionou, porém, nos humanos obesos já se tem esse hormônio aumentado. Dessa forma, não foi efetivo nos humanos. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 3 apresenta efeito terapêutico efetivo e a formulação preta apresenta efeito terapêutico tóxico. As linhas tracejadas indicam o período da janela terapêutica. FARMACOLOGIA GERAL FARMACOCINÉTICA • Determinar a posologia (dose, intervalo, duração do tratamento); • Escolher a via de administração; • Atingir concentrações plasmáticas efetiva no sítio de ação. FARMACODINÂMICA • Interação do fármaco com sítios alvos (receptores). ABSORÇÃO • Caminho do medicamento desde o local em que ele é administrado até a corrente sanguínea. → Na via intravenosa não há processo de absorção, pois o fármaco é liberadodiretamente na sangue. • Para alcançar o local de ação é necessário atravessar barreiras biológicas: → Epitélio gastrintestinal; → Endotélio vascular; → Membranas plasmáticas. MODALIDADES DE ABSORÇÃO • Processo passivo: → Difusão simples ou passiva: A favor do gradiente de concentração, sem gasto energético. ▪ Medicamentos pequenos e lipossolúveis. → Filtração: Por exemplo, a filtração glomerular renal, na qual por diferença de concentração de íons o fármaco consegue atravessar os capilares. • Processo ativo: → Difusão facilitada ou por poros: Fármacos pequenos e hidrossolúveis conseguem passar por aquaporinas juntamente com moléculas de água. → Transporte ativo: Fármacos maiores que necessitam de carreadores e vão contra o gradiente de concentração, necessitando de gasto energético para conseguir prosseguir. → Fagocitose (vesicular): Substâncias sólidas são englobadas pela membrana e trazidas para o interior da célula. → Pinocitose (vesicular): Substâncias líquidas são englobadas pela membrana e trazidas para o interior da célula. → Exocitose: O vacúolo contido no interior da célula se funde a membrana e é liberada a substância. PROPRIEDADE DA MEMBRANA PLASMÁTICA • Bicamada lipídica: Favorece a entrada de substâncias lipossolúveis. • Fluidez: Possibilidade de um transporte entre as células, no qual as moléculas se movem lateralmente. • Proteínas: Possuem diferentes funções, servindo tanto como alvo para ação de drogas, quanto como passagem para a entrada delas na célula. • Seletiva: Relativamente impermeável às moléculas polares (hidrossolúveis). 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 4 FATORES QUE INFLUENCIAM NA ABSORÇÃO • Lipossolubilidade: Solubilidade na bicamada lipídica, permitindo a travessia por difusão simples. → ↑ absorção. • Hidrossolubilidade: Absorção por transportadores específicos ou canais e poros. → ↓ absorção. • Estabilidade química: Substâncias altamente reativas podem interagir com proteínas da membrana impedindo a difusão, reduzindo a absorção. → Estabilidade: ↑ absorção. → Instabilidade: ↓ absorção. • Carga elétrica: Polaridade, ionização, pH do meio. → Apolar: ↑ absorção. → Polar: ↓ absorção. • Forma farmacêutica: Comprimidos, cápsulas, soluções. • Velocidade de dissolução: Forma farmacêutica e alimentação são exemplos de fatores que podem influenciar na velocidade. Por exemplo, caso o indivíduo tenha uma dieta baseada em gordura, um medicamento lipossolúvel será dissolvido mais rapidamente. Além disso, o tempo de esvaziamento gástrico também pode interferir. • Concentração no local de absorção: Depende do pK, pH do meio e do coeficiente de partição gordura e água. • Peso molecular: Tamanho, volume da molécula. POLARIDADE MOLECULAR • pKa (constante de dissociação ácida): Valor de pH específico para cada substância no qual 50% estarão na forma ionizada e os outros 50% na forma não ionizada. • Uma droga formada por um ácido fraco em pH de meio ácido tem ionização reduzida e absorção aumentada. • Uma droga formada por uma base fraca em pH de meio ácido tem ionização aumentada e absorção reduzida. • Exemplo: Substância deve atuar no estômago, então ela não deve ter característica básica, pois ela será má absorvida. • A extensão da área de absorção também influenciará no processo de absorção juntamente com o pH. Por exemplo, o intestino é majoritariamente básico, porém ele irá absorver em maior quantidade uma droga ácida quando comparado ao estômago. Isso ocorre, pois, a área absortiva intestinal é muito maior do que a área gástrica, ocorrendo uma compensação. • O pH também interfere na escolha da via de administração do fármaco, já que, por exemplo, uma droga básica não será bem absorvida em pH ácido. Logo, não deverá ser administrada por via oral devido ao pH ácido do estômago. • A polaridade tem grande importância na solubilidade e na absorção. • Fármacos apolares, lipossolúveis, sem carga, não ionizados são absorvidos por difusão passiva ou simples. • Quando o fármaco apresenta grupamentos polares (-OH, -NO2, -COOH), formando um dipolo elétrico temos uma molécula polar, sendo a absorção reduzida. NÍVEL NORMAL DE pH COMPARTIMENTO pH Sangue 7.2 – 7.6 Cólon 7.0 – 7.5 Saco conjuntival 7.3 – 8.0 Duodeno 4.8 – 8.2 Jejuno e Íleo 7.5 – 8.0 Leite materno 6.5 – 6.7 Boca 6.2 – 7.2 Estômago 1.0 – 3.0 Suor 4.3 – 4.7 Uretra 5.0 – 7.0 Vagina 3.4 – 4.2 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 5 FORMAS FARMACÊUTICAS • São preparações constituídas por um ou mais fármacos, associados a substâncias auxiliares de formulação, denominadas adjuvantes. • Líquidas: Suspensão, solução. • Sólidas: Comprimidos, cápsula, cápsula gelatinosa, drágea. • Semissólidas: Creme, pomada, gel. • Gasosas: Aerossol, nebulização. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO FATORES DE INTERFERÊNCIA PARA ESCOLHA • Tempo necessário para início do tratamento; → Emergência: Via parenteral, intravenosa. → Ambulatorial: Via oral. • Idade do paciente; → Idosos apresentam perda de fração de tegumento da pele, tecido muscular e tem alterações na capacidade absortiva da pele, que podem interferir na ação de um fármaco semissólido para via cutânea, por exemplo. • Conveniência; → Via oral é mais conveniente do que uma via venosa intermitente, na qual eu preciso manter o acesso. • Obediência do paciente a terapia; • Duração do tratamento; • Efeito local ou sistêmico da droga. CARACTERÍSTICAS DOS LOCAIS DE ABSORÇÃO MUCOSA BUCAL • Circulação venosa desemboca na veia jugular, fugindo do metabolismo hepático; • Evita inativação pelo suco gástrico; • Absorção rápida especialmente sublingual. MUCOSA GÁSTRICA • Velocidade de esvaziamento é um importante parâmetro para absorção; • Água, pequenas moléculas, não eletrólitos, lipossolúveis e drogas ácidas sofrem difusão passiva; • Facilita a absorção de ácidos fracos. MUCOSA INTESTINO DELGADO • Principal e mais extensa superfície de absorção do trato gastrointestinal; • pH varia nas regiões (duodeno entre 4 e 5); • Maioria das drogas tem absorção intestinal por difusão passiva. MUCOSA RETAL • Absorção de drogas não absorvidas no intestino, cólon; • Indicada se a via oral não o for; • Pacientes inconscientes; • Pacientes com êmese, vai direto a veia cava. MUCOSA NASAL • Não usada habitualmente; • Não tem fácil absorção; • Efeito mais local; • Cocaína e heroína. ALVÉOLOS PULMONARES • Epitélio pavimentoso simples forma delgada barreira entre o ar alveolar e o espaço intersticial; • Rica vascularização capilar; • Gases e vapores líquidos são prontamente absorvidos. PELE • Medicamentos com efeito local. REGIÕES SUBCUTÂNEAS E INTRAMUSCULAR • Absorção efetuada pelos capilares sanguíneos 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 6 VIAS DE ADMINISTRAÇÃO ENTERAIS Entram em contato com o sistema digestivo Oral Sublingual Retal PARENTERAIS DIRETAS Não entram em contato com o sistema digestivo e tem efração de tegumento Endovenosa Instramuscular Subcutânea Intra-articular Intraperitonial Intratecal ou subaracnóide Peridural ou epidural PARERENTERAIS INDIRETAS Não entram em contato com o sistema digestivo e não tem efração de tegumento Tópica Inalatória Intranasal Intravaginal Oftálmica VIAS ENTERAIS • Entram em contato com o sistema digestivo, podendo ser tanto por via oral quanto por via anal. • Via Oral: É a modalidade mais conveniente, utilizada nos testes de bioequivalência.Pode ser de uso interno ou enteral. → Efeito: Exerce efeito local no TGI ou é absorvido pela mucosa gastrintestinal e ter efeito sistêmico. → Alvos: Boca (mucosa bucal e sublingual), intestino delgado, reto e em menor extensão estômago e intestino grosso. → Formas farmacêuticas: Comprimidos, cápsulas, drágeas, soluções, suspensão, emulsão, elixir e xaropes. → Vantagens: Fácil administração, indolor, menor custo e segura, possuindo fácil reversão na intoxicação aguda. → Desvantagens: ▪ Absorção lenta; ▪ Absorção limitada pelas características físico- químicas do fármaco (hidrossolubilidade), êmese, inativação por enzimas digestivas ou pH do ácido gástrico e irregularidades na absorção (interação com alimentos) ou na propulsão (diarreia). ▪ Cooperação do paciente (impraticável em pacientes em coma ou êmese). ▪ Pode sofrer metabolismo hepático de 1ª passagem reduzindo a sua biodisponibilidade. → Fatores que afetam biodisponibilidade: Tempo de desintegração, velocidade de dissolução, pH do meio, esvaziamento gástrico, área de superfície, tempo de trânsito intestinal e interação com alimentos. • Via Sublingual: Absorção e início de ação rápidos, pois abaixo da língua temos uma drenagem venosa, que drena direto para a veia cava superior. Dessa forma, ela não passa pelo metabolismo hepático de primeira passagem. → Recomendada como via alternativa para drogas que possuem baixa biodisponibilidade na via oral. BIODISPONIBILIDADE A biodisponibilidade é o primeiro de muitos fatores que determinam a relação entre a dose e a intensidade de ação. É o quanto da substância está disponível após a absorção, o quanto chega ao compartimento central de ação. Ela é influenciada por diferentes fatores, como: • Propriedades físico-química; • Formas farmacêuticas; • Super ou submedicados; • Desintegração e dissolução; • Dose; • Via de administração. A única via que temos certeza de que apresenta 100% de biodisponibilidade é a via intravenosa. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 7 • Via Retal: → Efeito: Ação local ou sistêmica. Importante lembrar que 50% da drenagem hemorroidária caminham para veia porta, os outro 50% chegam direto na veia cara inferior. Sendo assim, apenas metade sofrerá metabolismo hepático de 1ª passagem, tendo esse efeito reduzido quando comparado com a via oral. → Recomendada como via alternativa para pacientes comatosos, em êmese e crianças. VIAS PARENTERAIS DIRETAS • Não entram em contato com o sistema digestivo e tem efração do tegumento. • Intravenosa ou Endovenosa: Utilizada em infusões contínuas, dose única ou em boulos. Preferência em casos de urgência. → Vantagens: Efeito imediato com biodisponibilidade de 100%. Além disso, possibilita a administração de grandes volumes e de substâncias irritantes para outras vias. → Desvantagens: Necessidade de material estéril e profissional capacitado, incômoda para o paciente e possui menor segurança. É imprópria para substâncias insolúveis e oleosas (suspensões). Além disso, possui risco de flebite (trombose venosa superficial), infecção e trombose. • Instramuscular: A agulha deve se encontrar no músculo e podem ser aplicadas até 10 ml da substância. → Absorção: Depende do fluxo sanguíneo local, por exemplo, o músculo deltoide tem maior absorção que o glúteo, por isso ele é preferência para aplicação. Se há calor, massagem, exercícios temos aumento dela, no entanto, compressas frias reduzem a absorção. Além disso, o tipo de preparação também interfere na absorção, soluções aquosas são rapidamente absorvidas em coração a suspensões. → Vantagens: Início mais rápido que a oral, possibilita a administração em pacientes incapacitados de deglutir, com êmese e diarréia. Além disso, é mais segura que a intravenosa e não sofre efeito de primeira passagem. → Desvantagens: Pode apresentar efeitos adversos como dor, desconforto, hematoma e lesão muscular, impossibilita a administração de substâncias irritantes, com pH fora da neutralidade ou na osmolaridade. • Subcutânea: Para aplicação a agulha deve se encontrar abaixo da pele. Um exemplo comumente aplicado por essa via é a insulina subcutânea. → Absorção: Lenta, mas constante, provocando efeito duradouro. → Devem ser aplicadas substâncias não irritante, com pequeno volume (até 2 ml). → Pode apresentar efeitos adversos como dor, abcesso, fibrose e infecção. EFEITO DE PRIMEIRA PASSAGEM Uma vez administrado o fármaco, antes de chegar à circulação sistêmica, ele é drenado do trato gastrintestinal pela veia porta até o fígado. Ao entra no organismo por via oral, o fármaco apresentará 100% de biodisponibilidade, ao chegar no intestino delgado, enzimas presentes nos enterócitos fazem o metabolismo ocorrendo perda da substância original. Em seguida, ele pode chegar ao fígado, onde também são metabolizados por enzimas presentes nos hepatócitos, promovendo mais diminuição do percentual de biodisponibilidade daquele fármaco. Por fim, ele é liberado em direção a veia cava e chega ao coração, sendo assim distribuído pelo organismo. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 8 VIAS PARENTERAIS DIRETAS ESPECIAIS VIAS FORMAS FARMACÊUTICAS INTRA-ARTERIAL Utilizada para exames diagnósticos INTRA-CARDÍACA Reanimação cardiovascular INTRAPERITONEAL Não utilizada clinicamente INTRATECAL administração no liquor Técnica especializada - Anestesiologistas PERIDURAL Técnica especializada - Anestesiologistas RESUMO DAS VIAS COMUNS DE ADMINISTAÇÃO VIA PADRÃO DE ABSORÇÃO UTILIDADE ESPECIAL LIMITAÇÕES E PRECAUÇÕES ORAL • Variável, depende de muitos fatores. • Mais conveniente; • Econômica; • Geralmente mais segura. • Depende da adesão do paciente; • Biodisponibilidade pode ser errática e parcial. INTRAVENOSA • Absorção é evitada; • Efeitos podem ser imediatos; • Adequada para grandes volumes, substâncias irritantes e misturas completas, desde que diluídas. • Valiosa para uso em emergências; • Permite a titulação da dose; • Necessária para proteínas de alto peso molecular e fármacos peptídicos. • Aumenta o risco de efeitos adversos; • Soluções precisam ser injetadas lentamente • Inadequada para soluções oleosas. INTRAMUSCULAR • Imediata, no caso de soluções aquosas; • Lenta e prolongada, no caso das preparações de depósito. • Adequada para volumes moderados; • Veículos oleosos e algumas substâncias irritantes; • Adequada para a autoadministração. • Contraindicada durante o tratamento anticoagulante; • Pode interferir com a interpretação de alguns exames diagnósticos (ex: creatinocinase). SUBCUTÂNEA • Imediata, no caso de soluções aquosas; • Lenta e prolongada, no caso das preparações de depósito. • Adequada para algumas suspensões pouco solúveis e para instilação de implante de liberação lenta. • Inadequada para grandes volumes; • As substâncias irritantes podem causar dor e necrose. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 9 VIAS PARENTERAIS INDIRETAS • Não entram em contato com o sistema digestivo e não tem efração do tegumento. • Via Inalatória: Utilizada por formas farmacêuticas em gases (anestésicos gerais) e aerossol (broncodilatadores e glicocorticóides). → Efeito: Local ou sistêmico. → Absorção: O tamanho da partícula interfere na absorção, preferencialmente, elas devem ser pequenas. O epitélio alveolar é amplamente irrigado, por isso, os efeitos são quase imediatos, apresentando uma absorção rápida. Além disso, não sofremetabolização hepática de primeira passagem. → Vantagens: Administração localizada de pequenas doses com ação rápida, resultando em baixa ocorrência de efeitos adversos sistêmicos. A sua eficácia terapêutica é boa, mas depende do tamanho das partículas. Utilizados nebulizados e inaladores. • Via tópicas e transdérmicas: → Efeito: Local ou sistêmico. → Alvos: Superfície da pele, estrato córneo, epiderme, derme e anexos (unhas, glândulas sudoríparas). → Formas farmacêutica: Diversas. → Vantagens: Rede vascular eficiente permite as drogas atravessarem estrato córneo e epiderme. → Absorção: Rápida. • Via Transdérmica: Necessita de dispositivos adequados, multifásicos na forma de adesivos. Há um controle da taxa de liberação na pele. → Efeito: Sistêmico. → Vantagens: Evita-se inconveniente da via intravenosa, elimina o risco de perda de biodisponibilidade, drogas com índices terapêutico estreitos ou meias-vidas curtos (efeito prolongado com dose menor), redução de efeitos colaterais e frequência, término rápido. → Absorção: Depende da lipossolubilidade e integridade da derme. APLICAÇÕES TÓPICAS VIAS FORMAS FARMACÊUTICAS CONJUNTIVA Córnea é uma barreira biológica Gotas oculares ou pomadas INTRANASAL Gotas nasais ou aerossóis INTRAVAGINAL Óvulos vaginais, cremes e pomadas OUVIDO EXTERNO Gotas auriculares, cremes e pomadas DISTRIBUIÇÃO • Ocorre após o processo de absorção ou não. • É o conjunto de processos os quais o fármaco é transferido da circulação sistêmica para os diversos tecidos. • Chegam numa forma ligada a proteínas (conjugada) ou forma livre. → Somente na forma livre ele pode chegar ao sítio alvo, reservatórios, sofrer biotransformação no fígado e excretado. → Sempre haverá equilíbrio entre a forma livre e a forma conjugada. • Tecidos sensíveis: Aqueles onde ocorre o efeito do fármaco. • Tecidos ativos: São biotransformadores, onde ocorre metabolização. • Tecidos hemoptoicos: Responsáveis pela excreção do fármaco e seus metabólitos. • Tecidos indiferentes: Servem de reservatório temporário. PELE COMO BARREIRA Quando temos efração de tegumento da pele, como uma queimadura, a barreira da pele é perdida, o que permite a entrada das substâncias e sejam distribuídas de maneira sistêmica. Substâncias muito lipossolúveis (organofosforados) podem ser absorvidas mesmo com a pele integra, como exemplo delas temos os pesticidas. Com isso, pomada tópicas apresentam uma absorção imprevisível, variando sua permeabilidade devido a presença ou ausência da pele como barreira. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 10 FATORES QUE INTERFEREM NA DISTRIBUIÇÃO • Diferenças das propriedades físico-químicas: Lipossolubilidade e grau de ionização. → Fármaco lipossolúvel, de baixo peso molecular, apolar, não ionizado, sofre difusão facilitada. Possui distribuição favorável, dependente do gradiente de concentração. → Fármaco hidrossolúvel, de alto peso molecular, apolar, ionizado, depende dos transportes de membrana. • Fluxo sanguíneo dos tecidos: Quanto mais vascularizado for o tecido, mais rápido ele receberá o fármaco. → No caso de fármaco hidrossolúvel, de alto peso molecular, apolar, ionizado, o fluxo sanguíneo não será fator primordial para afetar a distribuição e sim os transportes de membrana. • Permeabilidade do endotélio capilar: Propriedade que permite a troca seletiva de substâncias. → Moléculas lipossolúveis pequenas, como o gás carbônico e o oxigênio, deslocam-se livremente por difusão. → Moléculas hidrossolúveis não passam através da paredes do endotélio e dependem de poros, os quais são áreas estreitas, limitando o movimento de moléculas grandes. • Ligação a proteínas plasmáticas: Tal fator reduz a distribuição, metabolismo e excreção, servindo como reservatório. → Ligação promíscua, havendo competição. → Caso tenhamos uma fração livre aumentada, que não era indicativo com aquela terapêutica, pois houve uma interação com a proteína plasmática, pode-se desenvolver um efeito tóxico. → Albumina: Maior parte das drogas ácidas. → α1-glicoproteína ácida: Maior parte das drogas básicas. → Fármaco livre (não ligado): Constitui a fração farmacologicamente ativa. • Ligação tecidual: Pode gerar uma acumulação em concentrações mais elevadas nos tecidos que no sangue ou líquido extracelular. → Mantém o efeito prolongado do medicamento até ser completamente eliminado. → Podem funcionar como depósitos capazes de estabelecer equilíbrio da parte livre da droga. → Tecido adiposo: Fármacos lipossolúveis são armazenados por solubilização na gordura. ▪ Ex: 70% do barbitúrico tiopental altamente lipossolúvel pode estar presente na gordura corporal em até 3 horas após administração. CINÉTICA DE UM COMPARTIMENTO • Quantificar a distribuição em um organismo como um todo é difícil. • É possível quantificar a distribuição em fluídos biológicos como sangue, plasma, por exemplo. • Considerando todo organismo como um compartimento, temos que o volume distribuído é igual a diferença entre a dose administrada e o volume eliminado. • A concentração plasmática do fármaco vai diminuindo com o passar do tempo de forma linear, até chegar um ponto de concentração mínima e o efeito ser extinguido. ALTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS DEVIDO A FALÊNCIA HEPÁTICA • Falência hepática: ↓ Albumina e ↑ Fração do fármaco livre. • ↓ Albumina plasmática → ↓ Pressão osmótica → ↑ Fluído tecidual → ↑ Volume de distribuição de fármacos hidrossolúveis (gentamicina, metotrexate). INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA • Fármaco A sozinho: Uma porção dele fica ligada e uma porção pequena fica livre até atingir o estado de equilibro. • Fármaco A e fármaco B: Caso o fármaco B tenha afinidade pela mesma proteína plasmática que o fármaco A, o A passa a ter uma porção livre maior. Tal situação tem maior risco de efeitos adversos ou inesperados. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 11 • Exemplo: É administrada uma dose de 75ml de um fármaco. Após 1 hora é medido a eliminação dele e encontra-se o valor de 25ml, isso significa que 50ml desse fármaco foi distribuído. • Com isso, saberemos se o fármaco se distribui muito ou pouco entre os tecidos. • Volume distribuição: Volume fictício, uma variável matemática, que vai prever, a partir de uma dose administrada, o quanto foi distribuído depois de um intervalo de tempo. A sua unidade é dada em L/min ou L/hora. → Valor grande: Indica que o fármaco se distribui muito entre os tecidos. → Valor pequeno: Indica que o fármaco se distribui pouco entre os tecidos, ficando concentrado no sangue. → Exemplo: O Diazepam tem volume de distribuição de 140 L/hora, indicando que ele se distribui muito entre os tecidos. CINÉTICA DE DOIS COMPARTIMENTOS • O organismo é dividido em compartimento central e compartimento periférico. → Compartimento central: Corresponde ao sangue e órgãos melhor perfundidos, como cérebro, pulmão, rins e fígado. → Compartimento periférico: Recebem mais lentamente o medicamento administrado. Tecidos com menor perfusão, como tecido adiposo, músculo esquelético e pele. • Caso a substância possua baixo volume de distribuição, se mantendo no volume central, mais rápido ela é eliminada. • A concentração plasmática do fármaco vai diminuindo com o passar do tempo. Sempre haverá um equilíbrio entre o valor que tem no compartimento central e no compartimento periférico. → Fase α ou meia-vida de distribuição: O tempo que leva para que haja a distribuição e ocorra o pseudo-equilíbriode distribuição. Ou seja, intervalo de tempo para que todos os tecidos tenham alguma quantidade do fármaco. → Fase β ou meia-vida de eliminação: Mais lenta, pois depende das enzimas, dos processos de biotransformação e dos transportadores para eliminação, seja pela via renal, bile ou fezes. → Os processo de absorção, distribuição, biotransformação e excreção, após um período, vão estabelecer um equilíbrio químico dinâmico, entre a concentração do sangue com os tecidos. → Quando atingir esse equilíbrio, sabemos que existe quantidade suficiente do princípio ativo no sítio-alvo e no organismo, para manter essa concentração no sítio-alvo por um intervalo de tempo, e que após dele devemos repor. VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO • Nível plasmático desejado do fármaco. • Volume de distribuição (Vd): Relaciona a concentração plasmática (ou no fluido que for medido) com a quantidade de fármaco presente no organismo (dose). → Vd pequeno: A captação pelos tecidos é limitada. Mais presente no sangue, mais rapidamente ele chega aos órgãos metabolizadores e é metabolizado e menos tempo ele fica no organismo, tendo tempo de efeito reduzido. → Vd grande: Indica uma ampla distribuição para os tecidos. Menos presente no sangue, mais lentamente ele é eliminado e mais tempo ele fica no organismo, tendo tempo de efeito elevado. 𝑉𝑑 = 𝐷𝑂𝑆𝐸 𝐴𝐷𝑀𝐼𝑁𝐼𝑆𝑇𝑅𝐴𝐷𝐴 𝐶𝑂𝑁𝐶𝐸𝑁𝑇𝑅𝐴ÇÃ𝑂 𝑃𝐿𝐴𝑆𝑀Á𝑇𝐼𝐶𝐴 REDISTRIBUIÇÃO • Fim de um efeito de determinada substância, sem levar em consideração a biotransformação e a eliminação. • Exemplo: Administração de tiopental IV, é um fármaco lipossolúvel, barbitúrico, hipnótico, 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 12 sedativo, utilizado antes do benzodiazepínico. Em uma administração IV, os efeitos dele são identificados 1 minuto após a administração, pois o cérebro é muito irrigado, ele é lipossolúvel e não sofreu absorção. No cérebro (compartimento central) ele não se liga a moléculas do SNC, chegando rápido e saindo rápido, efeito conhecido como redistribuição. Tal efeito serve como parâmetro para identificar o fim do efeito, porque ele sai do local. → Inicialmente, com a administração de uma dose de tiopental IV o plasma apresenta 100% da dose e vai diminuindo conforme a distribuição. O cérebro, tecido mais vascularizado, recebe o fármaco primeiro, enquanto tecidos menos vascularizados recebem depois. Da mesma forma que chega rápido ao cérebro, ele sai rápido, sendo armazenado no tecido adiposo, onde, posteriormente, podemos ver o aumento de sua dose. FATORES ESPECIAIS DE INFERÊNCIA • O cérebro apresenta barreiras biológicas para impedir a entrada de substâncias estranhas, que possam interferir na homeostase da região. → Barreira hematoencefálica: Formada por junções oclusivas (zonas de oclusão) das células do endotélio capilar com as células glias pericapilares, associadas a bombas de efluxo (glicoproteína P). • Barreira placentária: Apresenta bomba de efluxo, mas não restringe tanto a passagem como a barreira hematoencefálica. → Velocidade pequena de transferência; → Difusão passiva; → Difusão facilitada de fármacos - pH do feto é ligeiramente mais ácido que o da mãe. → Drogas que atravessam: Lipossolúveis, apolares e baixo peso molecular. ▪ Ex: Hipnóticos, A.G., álcool, morfina e heroína. → Toxicidade sobre o feto: ▪ Talidomida: Membros deformados (teratogenia); ▪ Anticoagulante: Hemorragia fetal e neonatal; ▪ Tetraciclinas: Dentição anormal; ▪ Sulfonamidas: Icterícia neonatal. METABOLISMO OU BIOTRANSFORMAÇÃO • Preparar o princípio ativo para que ele seja eliminado. → Modificações enzimáticas; → Tornar a molécula do princípio ativo, inativa e facilmente excretada. • Gerar metabólitos não deletérios ao organismo para que sejam eliminados. • Xenobióticos: Substâncias estranhas a vida. • Faz parte dos programas de avaliação clínica e pré- clínica de novos fármacos (OMS). • Conhecimento farmacocinético relevante ao uso adequado e seguro. • Otimização farmacocinética: → Redução do número de metabólitos ativos; → Cinética mais previsível; → Redução de variabilidade individual; → Depuração metabólica da lugar a depuração renal. • Exemplo: → Imidazólicos: Modo de ação seletivo contra a biossíntese do ergosterol, causa a lise do fungo. No entanto, sofrem extenso metabolismo de primeira passagem. → Bis-triazólico: Resultantes da alteração da estrutura química dos imidazólicos, reduzindo a perda de biodisponibilidade e mantendo a eficácia. • Exemplo: → β-bloqueadores: O propranolol foi o primeiro a ser produzido e comercializado, a partir dele surgiram variações com diferenças estruturais e novas propriedades. Por exemplo, o metoprolol apresenta extenso metabolismo e foi adicionado 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 13 um ciclopropano, passando a ser chamado de betaxolol, e diminuindo esse metabolismo. PROCESSO DO METABOLISMO • Fármacos lipossolúveis: Passam facilmente através de membranas celular, mas tem dificuldade de serem eliminados por depuração renal, pois a base da urina é aquosa. Com isso, a biotransformação o transforma em metabólitos hidrossolúveis, facilitando sua eliminação. • Fase I: Tem como objetivo transformar a substância, criando ou expondo grupamentos. → Enzimas presentes no retículo endoplasmático, principalmente o grupo do citocromo P450. → Reações oxidativas: Codeína, ibuprofeno. → Reações de hidrólise: Anestésicos como lidocaína e procainamida. → Reações de redução: Cloranfenicol e nitroglicerina. • Fase II: É a fase de conjugação, ligando com estruturas químicas hidrossolúveis. → Enzimas presentes no citosol. → Glicuronidação, sulfatação, N-acetilação, metilação ou conjugação com glutationa. • No entanto, alguns processos metabólicos resultam podem gerar metabólitos ativos, com atividade igual, menor ou maior que a droga ativa, podendo causar efeitos adversos. • Também pode ocorrer de utilizar um pró-fármaco (droga inativa) e após o processo de metabolização ela se tornar um metabólito ativo. → Ex: Enalapril é um pró-fármaco pertencente a classe dos inibidores de enzima conversores de angiotensina, análogo ao captopril (trata hipertensão arterial). Ele é administrado, sofre metabolização e gera o enalaprilato, que é a molécula ativa responsável pelo efeito farmacológico. → Tal mecanismo é utilizado em substâncias que possuem grande perda de biodisponibilidade por via oral. • Os enterócitos também possuem grupos enzimáticos capazes de metabolizar os fármacos e excretá-los. • Em seguida, os fármacos não eliminados serão encaminhados para os hepatócitos através de transportadores SLC. • Nos hepatócitos é onde encontramos o maior número de grupamentos enzimáticos e é o local principal para a ocorrência do metabolismo. → Pode ocorrer o metabolismo de primeira passagem ou o fármaco pode ser reabsorvido do sangue. → A eliminação do fármaco pelo fígado é feita por meio da bile. • Circulação entero-hepática: A drenagem do lúmen intestinal desemboca na veia porta, podendo assim, fazer com que o fármaco que já tenha passado pelo fígado e tenha sido eliminado com a bile no intestino, seja reabsorvido pelos enterócitos, entre na corrente sanguínea e chegue ao fígado novamente. → Ex: O ezetimiba é um fármaco usado para tratamento da obesidade, que age impedindo a absorção de colesterol ou fitoesteróis. Ele atua nos transportadores de colesteróis nos enterócitos. Constantemente é eliminado e reabsorvido pelo fígado, seu efeito perdura por mais tempo, mesmo com seus metabólitos, pois eles também agem nos transportadores.TRANSPORTADORES • ATP-binding cassete (ABC): Costumam ser bombas de efluxo, apenas simporte. → Ex: Glicoproteína P presente na barreira hematoencefálica do SNC e na barreira placentária. • Solute carrier (SLC): Costumam ser transportadores do tipo antiporte. → Ex: Transportadores catiônicos e aniônicos nos rins, no fígado. → Ex: Recaptadores de serotonina, dopamina e noradrenalina no SNC. CITOCROMO P450 (CYP) • Grupo enzimático principal para realização da fase I do metabolismo. Ele se encontra ancorado no retículo endoplasmático. → Possui um grupo prostético heme (ferro- porfirina), é a mesma estrutura da hemoglobina. O oxigênio se liga a essa parte. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 14 → NADPH-oxidorredutase acoplado, o qual libera um eletro, que na presença de oxigênio no grupo heme oxida um determinado fármaco. • Características: → Existem múltiplas formas, capacidade de metabolizar diversas substâncias (polimorfismo). → Uma única enzima metaboliza muitos compostos. Assim como, um único composto pode ser metabolizado por diversas enzimas. → Variedade na taxa de metabolismo entre indivíduos. → São promíscuas, então um fármaco em maior quantidade pode se ligar mais em uma enzima do que outro. Assim como, nutrientes, um alimento pode interagir com uma enzima e diminuir o metabolismo de um determinado fármaco. É um grande fator para se considerar da interação medicamentosa. • Local: Expressas em todo trato gastrointestinal, fígado, pulmão, rim e SNC. • Representação: CYP1A2, o primeiro número é a família, a letra é a subfamília e o segundo número é o produto gênico. → CYP3A4 e CYP2D6 são as mais importantes. Caso ocorra a presença de mais oxigênio do que de substrato (fármaco), temos a formação de ânion superóxido. A existência de espécies reativas de oxigênio é deletéria as células, causando danos hepáticos. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 15 INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA NO CYP • Inibição enzimática: Queda na velocidade de metabolização, resultantes em efeitos farmacológicos prolongados e maior incidência de efeitos tóxicos do fármaco. → Fármaco serve como substrato e diminuir a ação metabólica. Com isso, outro fármaco associado pode deixar ser metabolizado. CYP1A2 Ciprofloxacina, Fluoxetina, Nefazodona CYP2C9 Amiodarona, Clopidrogel, Fluvastatina, Fluoxetina, Fluxonazol, Miconazol, Metronidazol, Ritonavir CYP2D6 Quinidina, Fluoxetina, Paroxetina, Sertralina, Cimetidina, Amiodarona, Haloperidol, Ticlopidina, Ritonavir CYP2E1 Cimetidina, Agrião CYP3A4 Cetoconazol, Itraconazol, Eutromicina, Grapefruit, Fluoxetina, Diltiazem, verapamil, Claritromicina, Omeprazol, Ritonavir, Indinavir, Saquinavir • Indução enzimática: Elevação na expressão ou na velocidade do processo enzimático, resultando em um metabolismo acelerado. Diminuição da biodisponibilidade e maior efeito de primeira passagem. → Um fármaco pode induzir e aumentar sua própria metabolização. → Ex: Usuária de anticoncepcionais orais que toma chá de São João, essa erva induz o metabolismo dos AC orais estimulando a enzima. CYP1A2 Fenobarbital, Cigarro, Cafeína, Omeprazol, Fenitoína, Carbamazepina, Vegetais crucíferos CYP2C9 Rifampicina, Carbamazepina, Etanol CYP2D6 Getação CYP2E1 Etanol, Isoniazida, Ritonavir CYP3A4 Carbamazepina, Prednisona, Dexametasona, Fenobarbital, Fenitoína, Hormônio de crescimento MONOXIGENASES CONTENDO FLAVINA (FMO) • Grupo enzimático menos importante para realização de fase I, sofre pouco polimorfismo genético e estão expressas em alto nível no fígado. • Não são induzidas ou inibidas facilmente, não ocorrendo efeito de interação medicamentosa. • FMO3: É a mais abundante responsável pela fase 1 nas moléculas de nicotina, ranitidina, cimetidina, clozapina, itoprida. • N-óxido de trimetilamina (TMAO): Componente presente no peixe e metabolizado pela FMO. Quando temos o acúmulo dessa molécula, devido a deficiência genética, causa o odor de peixe em alguns indivíduos. ENZIMAS HIDROLÍTICAS • Grupo enzimático para realização de fase I. • Enzima epóxido hidrolase: Hidrólise de epóxidos produzidos pela CYP. • Epóxidos: São eletrófilos altamente reativos, interagem com nucleófilos. → Ligam-se a nucleofílicos (DNA e RNA). • Com a hidrolisação dos epóxidos eles sofrem transformação celular, impedindo a ligação deles com os nucleófilos, reduzindo a toxicidade. • Ex: O ácido valpróico (anticonvulsivante) inibe a epóxido hidrolase cromossômica, consequentemente, temos mais epóxidos que podem gerar efeitos adversos. ENZIMAS DE FASE 2 • UDP-Glicuroniltransferase (UGT): Moléculas que vão reagir com as moléculas que vieram da fase 1 tranferindo ácido glicurônico formando glicuronídeos, tornando a molécula mais hidrossolúvel para eliminar. → UGT1: Mais envolvida com metabolismo de fármacos. → UGT1A1: Hidrolise da bilirrubina, que vem do metabolismo do heme. O seu acúmulo pode gerar hiperbilirrubinemia, tal estado está associado a síndrome de Gilbert e Crigler-Najjar (CN) com icterícia. ▪ Gilbert: Tem baixa atividade de UGT1A1. ▪ CN I: Não tem atividade de UGT1A1. ▪ CN II: Tem baixa atividade de UGT1A1. FATORES QUE AFETAM O METABOLISMO • Idade: Mais jovens e mais velhos tem menor atividade das enzimas do complexo do citocromo P450. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 16 → Crianças: Sistema enzimático de oxidação não amadurecido e ausência de reações de conjugação. → Idosos: Perda de massa hepática diminui metabolismo geral. • Variação genética: Perda completa da atividade, redução da capacidade catalítica ou aumento da atividade. → Polimorfismo genético: Taxa de metabolização diferente entre indivíduos e ação farmacológica diferente entre etnias. ▪ Ex: Aldeído desidrogenase, importante para o metabolismo do álcool, está ausente em 50% dos asiáticos. • Estado nutricional: Altera a atividade do citocromo P450 (carência de vitaminas C, E e B reduzem velocidade de biotransformação). • Dieta: → As enzimas que metabolizam os fármacos são as mesmas que metabolizam os nutrientes. → Inibidores de monoaminoxidase (MAO): Grupo de fármacos usados no tratamento da depressão, interage com alimentos ricos em tiramina (peixes, queijos, vinhos). A tiramina é um agonista indireto adrenérgico. ▪ Fármaco que inibe um grupo enzimático (MAO) impede que parte de um alimento seja degradado por esse mesmo grupo e causa um efeito adverso. ▪ Quando inibirmos a MAO teremos efeitos adrenérgicos, como aumento da hipertensão, palpitações, dores de cabeça. • Gênero: Fígado das fêmeas de rato tem menor capacidade de metabolizar xenobióticos, tornando- as mais susceptíveis. • Doenças: Hepatopatias principalmente, devido ao comprometimento do sistema enzimático. Deve ser feito o ajuste da dose, devido ao aumento da fração ativa do fármaco. → Ex: Cirrose e esteatose hepática. EXCREÇÃO OU ELIMINAÇÃO • Principais vias: → Renal; → Pulmonar; → Hepato-biliar. • Secundárias: → Leite materno; → Suor; → Saliva; → Lágrimas; → Fezes. VIA RENAL • Filtração glomerular: É um processo passivo, que filtra fármaco livre, sem ligação a proteína plasmática com características próprias. Sai do sangue, passa pelo glomérulo renal e entra na luz tubular. • Secreção tubular ativa: Saída do sangue por canais transportadores indo direto para a luz tubular. → Os fármacos devem passar pela barreira basolateral e a luminal. → Os transportadores são devia de mão dupla. • Reabsorção tubular passivar: Saída da luz tubular por canais transportadores em direção ao sangue. • SECREÇÃO TUBULAR RENAL Ânions orgânicos Cátions orgânicos Salicilatos Noradrenalina Furosemida Adrenalina Tiazídicos Atropina Ureia Dopamina Amilorida FÁRMACOS ELIMINADOS INALTERADOS NA URINA Porcentagem Fármacos 75 a 100% Furosemida, lisinopril, gentamicina, atenolol, digoxina e metformina 50 a 75% Penicilina, cimetidina, neostigmina, procaianamida e tetraciclina ≈50% Clopidogrel, atropina, trimetoprim, salbutamol e cefalotina FATORES QUE INFLUENCIAM • Características químicas do fármaco. → Ex: A administração de ácido acetil salicílico (AINE) e a furosemida (diurético) causa interação medicamentos, pois ambos resultam em ânions orgânicos após o metabolismo. Com isso, eles competirão pelo mesmo transportador, por isso os anti-inflamatórios não esteroides (AINE) interferem na ação de diuréticos. • Competição de dois fármacos pelo mesmo mecanismo de excreção: • pH da urina (varia de 5 a 8): O pH básico favorece a excreção de droga ácida. Já o pH ácido favorece a excreção de droga básica. → Ex: Um medicamento com caráter ácido no sangue passa pela membrana do néfron e chega na urina. Caso a urina esteja com pH ácido, ele não será ionizado e a tendência é de que ele seja reabsorvido. Se a urina estiver básica ele se ioniza e permanece na urina. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 17 • Insuficiência renal; • Idade; • Redução do fluxo sanguíneo renal: Ocorre em casos de hemorragias ou insuficiência cardíaca. SUBSTÂNCIA E LOCAIS DE EXCREÇÃO • Pulmões: Anestésicos gerais gasosos, substâncias voláteis. • Pele: Substâncias que se depositam na queratina. • Fezes: Substâncias ingeridas via oral, não absorvidos. • Secreções externas: Saliva, lágrima, secreção nasal, suor, leite materno. DEPURAÇÃO OU CLEARANCE (CL) • Volume de sangue totalmente depurado de um fármaco por unidade de tempo (mL/min). • Influência na meia-vida. • Cinética de primeira ordem: Taxa de eliminação é feita em proporção, por unidade de tempo. → Ex: Um fármaco que a cada hora 20% dele é eliminado independente da dose. • Cinética de ordem zero: Taxa de eliminação é saturável, tem uma quantidade específica. → Ex: Um fármaco que a cada hora é metabolizado 10 mg. 𝑪𝑳 = 𝑻𝒂𝒙𝒂 𝒅𝒆 𝒆𝒍𝒊𝒎𝒊𝒏𝒂çã𝒐 𝒅𝒐 𝒇á𝒓𝒎𝒂𝒄𝒐 (𝒎𝒈 𝒎𝒊𝒏⁄ ) 𝒄𝒐𝒏𝒄𝒆𝒏𝒕𝒓𝒂çã𝒐 𝒑𝒍𝒂𝒔𝒎á𝒕𝒊𝒄𝒂 𝒅𝒐 𝒇á𝒓𝒎𝒂𝒄𝒐 (𝒎𝒈 𝒎𝒍⁄ ) MEIA-VIDA DE ELIMNAÇÃO (T1/2) • Tempo necessário para que a concentração plasmática seja reduzida em 50%. • Cinética de primeira ordem: Leva de 4 a 6 meia- vidas para atingir o estado de equilíbrio dinâmico. → Equilíbrio dinâmico: A taxa de fármaco que é administrada é a mesma que está sendo distribuída e eliminada. → Isso define o intervalo de doses para tomar o medicamento. → Ex: Medicamento que deve ser tomado de 6 em 6 horas para manter o equilíbrio de 100mg. Depois de 6 horas ele passa para 50 mg, então se toma o fármaco e totaliza 150 mg. Novamente, a concentração cai e vai para 75 mg. Entre a 4 e a 6 meia-vida temos um equilíbrio definido e, caso continue tomando o medicamento terá efeito e o problema será resolvido. Se não for respeitado, tomando o medicamento antes do horário, por exemplo, aumentamos a concentração e atingirá um novo equilíbrio. Tal situação poderá exceder a dose tóxica limitada na janela terapêutica e gerar efeitos tóxicos. • Dose de ataque: Feito é momento em que se precisa de um efeito imediato, uma emergência, na qual não se tempo de administrar doses de manutenção. Faz-se administração IV com a dose necessária para atingir a janela terapêutica. • Diminuir o intervalo de dose: Chance de resposta tóxica devido ao aumento da concentração, ultrapassando o limite da janela terapêutica. • Aumento do intervalo de dose: Mantém uma concentração sub-terapeutica. RELAÇÕES ENTRE T1/2, CL e VD • A meia-vida de eliminação é diretamente proporcional ao volume de distribuição (Vd). → Quanto mais ele se distribui, maior a meia- vida, pois se um fármaco tem ↑Vd é porque ele possui características químicas favoráveis, ficando menos tempo no sangue e sendo mais lentamente metabolizado, ficando mais tempo no corpo. • A meia-vida de eliminação é inversamente proporcional ao clearence. → Quanto mais rápido é a depuração, menor é a meia-vida, pois ele é eliminado mais rapidamente. • O clearence é inversamente proporcional ao volume de distribuição. → Quando temos ↑Vd o clearence é baixo, pois o fármaco não fica no sangue por muito tempo. 2 0 2 1 . 1 J Ú L I A M O R A I S 1 4 3 ( 2 0 1 9 . 2 ) | 18 FATORES QUE AFETAM A MEIA-VIDA EFEITO MAIS COMUM SOBRE A MEIA-VIDA Efeitos sobre o volume de distribuição Envelhecimento (diminuição da massa muscular → diminuição da distribuição) Diminuição Obesidade (aumento da massa adiposa → aumento da distribuição) Aumento Líquido patológico (aumento da distribuição) Aumento Efeitos sobre a depuração Indução do citocromo P450 (aumento do metabolismo) Diminuição Inibição do citocromo P450 (diminuição do metabolismo) Aumento Insuficiência cardíaca (diminuição da depuração) Aumento Insuficiência hepática (diminuição da depuração) Aumento Insuficiência renal (diminuição da depuração) Aumento ELABORAÇÃO E OTIMIZAÇÃO DOS ESQUEMAS POSOLÓGICOS Individualização da dose Peso; Idade; Superfície corporal; Interação de drogas; Estados patológicos. MEIA-VIDA DE ELIMINAÇÃO (T1/2) 𝐼𝑁𝑇𝐸𝑅𝑉𝐴𝐿𝑂 𝑃𝑂𝑆𝑂𝐿Ó𝐺𝐼𝐶𝑂 = 0,693 × 𝑉𝑑 𝐶𝐿 VOLUME DE DISTRIBUIÇÃO 𝐷𝑂𝑆𝐸 = 𝑉𝑑 × 𝐶𝑝 DEPURAÇÃO 𝐷𝐸𝑃𝑈𝑅𝐴ÇÃ𝑂 = 𝑘. 𝑉𝑑
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