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A farmacologia é uma grande área da ciência que se dedica ao estudo dos fármacos, seus efeitos biológicos e a quais transformações nosso organismo submete aquele fármaco. Mas antes de entendermos como a farmacologia estuda isso, vamos entender o que é um fármaco? Diferentemente do que muita gente pensa, medicamento e fármacos são coisas distintas. Enquanto um medicamento consiste no produto farmacêutico com fins terapêuticos, profiláticos ou diagnósticos, contendo um ou mais princípios ativos, geralmente adjuvantes; os fármacos são as substâncias quimicamente definidas e com atividade biológica, ou seja, o princípio ativo de um medicamento. Agora que já sabemos o que é um fármaco, é importante dizer que a farmacologia se subdivide em duas áreas: a farmacodinâmica, a qual compete o estudo dos efeitos do fármaco sobre o organismo, a partir do momento em que ele encontra seu alvo; e a farmacocinética, que vamos estudar agora! ––––––––– Com o intuito de obter o sucesso terapêutico, reduzir a possibilidade de ocorrência de efeitos adversos, e controlar a ação terapêutica, é de suma compreender quais mecanismos envolvidos desde o momento de administração do fármaco até sua chegada no sítio de ação e o quanto de fármaco chega a esse local. Dessa forma, a farmacocinética estuda os processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção de um determinado fármaco, bem como as propriedades físico-químicas de determinadas moléculas e da membrana biológica pela avaliação dos mecanismos de travessia, a fim de entender como se dá a disposição desses fármacos no organismo. Permeação de fármacos pelas barreiras ––––––––––––––––––––––––––– 1. tipos de transporte • Difusão passiva: obedece a um gradiente de difusão, dependente da lipofilicidade do fármaco, a fim de que ele consiga atravessar as membranas celulares. Comumente, não apresentam problemas na absorção; • Difusão facilitada ou mediada por carreadores: Carreador aumenta a velocidade de transporte, mas de acordo com o gradiente de concentração. Reconhecimento por reação cruzada em alguns casos, ex: L- dopa que utiliza o carreador de aminoácidos no intestino para que sofra absorção. Pode atingir saturabilidade; • Transporte vesicular (endo e exocitose): Fármaco é endocitado por um compartimento celular e exocitado por outro; • Transporte ativo: Dependente do uso de ATP, podendo ocorrer contra o gradiente de concentração, podendo atingir a saturabilidade; 2. velocidade de difusão de moléculas pela membrana • Lei de Finck: Determina o fluxo passivo de moléculas de acordo com um gradiente de concentração Vel. do processo de difusão = (C1 – C2) x A x Pk onde: # C1 – Concentração maior # C2 – Concentração menor # Pk – Coeficiente de permeabilidade # A – Área de superfície de contato 3. coeficiente de partição lipídeo- água (R) • A grande maioria dos fármacos apresenta coeficiente de partição lipídeo-água relativamente baixo. Pk = R x D/M onde: # R – Coeficiente de partição lipídeo-água: depende de propriedades físico-químicas da molécula, sendo uma medida que determina com que facilidade a molécula passa do meio aquoso para o lipídico. # D – Coeficiente de difusão dentro da membrana (fase lipídica) # M – Espessura da membrana 4. grau de ionização • A maioria dos fármacos consistem em um ácido ou base fraca. Dessa forma, suas moléculas tendem a se manter em estado de molécula neutra, apresentando maior lipossolubilidade; à medida que moléculas ionizadas atraem a água, formando um complexo polar e, portanto, hidrossolúvel. • Vale ressaltar que a forma protonada de um ácido fraco constitui sua forma neutra, enquanto para uma base fraca seu estado não protonada constitui uma molécula neutra. • A passagem do fármaco pela membrana depende do gradiente de pH através da membrana e do pKa da molécula PKa = - log (Ka) Onde: # pKa – pH em que a concentração da forma ionizada é igual à da não-ionizada. • Segundo a Lei de ação das massas, em ambientes ácidos, a reação tende a se mover para esquerda. Já em um meio alcalino, a reação tende a se mover para a direita. exemplo –––––––––––––––––––– Absorção de ác. fraco (pKa = 4,4) entre o plasma (ph = 7,4) e o suco gástrico (ph = 1,4) pH = pKa + log [forma ionizada] [forma não ionizada] • Aspirina no estômago (cheio de H+) # Equilíbrio desloca no sentido de formação da forma não ionizada, o que gera ganho de lipossolubilidade. No entanto, a absorção é mais considerável no intestino, em decorrência da maior superfície de absorção • Aspirina no intestino (cheio de oh-) # Hidroxila sequestra o H+ para formar água e o equilíbrio desloca no sentido de formação de formas ionizadas, diminuindo a R. No entanto, em decorrência da maior área de superfície, a absorção é beneficiada. A absorção consiste no processo de transferência de um fármaco desde seu local de administração, até a corrente sanguínea. Dessa forma, é uma etapa importante em todas as vias de administração, com exceção da via intravenosa. No entanto, a depender da via de administração, posteriormente sua absorção, o fármaco segue fígado, onde pode ocorrer metabolização ou eliminação através da secreção biliar, antes que o fármaco chegue à circulação sistêmica e seja distribuído. A esse processo de metabolização ou eliminação, chamamos de efeito de 1° passagem, em que parte do fármaco é inativada, reduzindo sua biodisponibilidade. Sendo assim, a biodisponibilidade é definida como a fração do fármaco que chega à circulação sistêmica sem nenhuma alteração posterior à sua administração, associada ao efeito de 1° passagem ou ao comprometimento da absorção intestinal – para administração intravenosa, a biodisponibilidade é igual a 100%. vias de administração 1. via oral • A via oral, por vezes, também chamada de via errática recebe este apelido tendo em vista sua passagem em diversos locais que influenciam sobre a real dose administrada – como a passagem do fármaco por dois locais de pH distintos: o estômago e o intestino. • Em geral, ocorre pouca absorção do fármaco até que ele chegue ao intestino. No entanto, vários fatores contribuem ou comprometem a capacidade de absorção do trato gastrointestinal: # Dependendo do pH e pKa, há predominância de formas neutras ou ionizadas, o que interfere na lipossolubilidade e, consequentemente, em sua velocidade de absorção do fármaco. # Secreções intestinais, como liberação de HCl pode favorecer a absorção do fármaco em alguns casos e, em outros, destruí-lo e inativa- lo – quando é o caso, o fármaco tem sua via de administração dada de outra forma ou é encapsulado, para que seja dissolvido apenas no intestino. # Aumento do fluxo sanguíneo local, promove um maior o gradiente de concentração entre o fármaco e o compartimento, de forma que ele seja completamente difundido. # A motilidade do trato gastrointestinal pode favorecer ou comprometer a absorção, pela promoção da dissolução e diminuição do tempo de permanência e consequente absorção, respectivamente. # O tempo de esvaziamento gástrico influencia porque quanto mais rápido chega ao intestino, mais rapidamente o intestino é absorvido. # Microbiota sintetiza fatores que são importantes para a absorção de algumas vitaminas # Interações medicamentosas # Efeito de primeira passagem efeito de primeira passagem • Por difusão passiva o fármaco que saiu do intestino chega nas veias mesentéricas, que vão formar a veia porta hepática. A partir desse ponto o fármaco pode: # Não ser metabolizado # Pode ser intensamente metabolizado por enzimas hepáticas e ser inativado # Ser parcialmente metabolizado # Sofrer instalação de um ciclo êntero-hepático, sendo secretado com a bile biodisponibilidade e bioequivalência • Como dito anteriormente, a biodisponibilidade se relaciona a fração do fármacoque chega à circulação sistêmica sem ter sofrido qualquer processo de transformação, de forma a inativar completa ou parcialmente sua ação farmacológica. • É avaliada pelo fator de biodisponibilidade (F) # F (0 a 1) = a fração da dose que entra na circulação sistêmica após a administração do fármaco • Reduzem a biodisponibilidade oral # Baixa solubilidade # Absorção incompleta no TGI # Biotransformação na mucosa e/ou fígado • Assim, a biodisponibilidade somente se relaciona com a proporção total de fármaco que chega à circulação sistêmica, mas não com a velocidade com a qual o fármaco foi absorvido. Sendo assim, o mesmo fármaco administrado na mesma dose, mas em formas farmacêuticas diferentes podem ter o mesmo fator de biodisponibilidade, mas não serem bioequivalentes, porque sua velocidade (t máx.) foi diferente. 2. via sublingual • É utilizada para alguns fármacos, apesar da pequena região associada à absorção, visto que a drenagem venosa da boca provoca um desvio da circulação porta-hepática, visto que se dirige diretamente à veia cava superior. • Assim, essa via de administração apresenta vantagem quando comparada à via oral, visto que evita o efeito de 1° passagem e apresenta rápida absorção. No entanto, cabe ressaltar, que essa via de administração se torna inútil em casos de fármacos pouco lipossolúveis e de difícil absorção 3. via retal • Nesse caso, cerca de 1/3 superior é drenado pelas veias mesentéricas e 2/3 inferiores pelas veias hemorroidais, o que faz com que esses 2/3 não passe pelo fígado, o que leva a atenuação do efeito de 1° passagem. No entanto, seu processo de absorção pode ser incompleto e/ou irregular. Além disso, é possível que alguns fármacos promovam de irritação na mucosa. • Via muito utilizada em bebês, em pessoas desmaiadas, com intolerância gástrica e no pós- cirúrgico do trato gastrointestinal 4. vias parenterais • As principais vias de administração parenterais são: a via subcutânea, a via intravenosa e a via intra muscular • Controle da biodisponibilidade via intravenosa • O medicamento cai direto na corrente sanguínea e, portanto, não ocorrem limitações quanto a absorção do fármaco, que apresenta biodisponibilidade total. Não obstante, outro diferencial dessa via é a capacidade de controlar a liberação do fármaco de forma precisa e rápida. • Nesse caso, é necessário o monitoramento da resposta do paciente e é crucial que erros não sejam cometidos, visto que depois da injeção, geralmente não há como retirar o fármaco. • Há limitação quanto à lipofilicidade do fármaco via intramuscular • Dependendo do fluxo sanguíneo presente no local da injeção, os fármacos em solução aquosa são rapidamente absorvidos. Além disso, o aquecimento ou massagem na região e a prática de exercícios podem interferir até determinado ponto na taxa de absorção. • Caso o fármaco injetado esteja suspenso em solução oleosa ou em veículos de depósito, a absorção tende a ser lenta e constante. via subcutânea • Geralmente, apresenta constância e lentificação no processo de absorção, sendo utilizada para produzir um efeito prolongado. via intra-arterial • Via de administração pouco utilizada, em que o fármaco é injetado diretamente em uma artéria a fim de localizar seus efeitos em um tecido ou órgão. Via mais comumente utilizada em testes diagnósticos – tratamento de tumores hepáticos, câncer no pescoço e cabeça. • Apresenta atenuamento dos efeitos da 1° passagem. via intratecal • A barreira hematoencefálica e o líquido cefalorraquidiano, muitas vezes, impedem a entrada de fármacos no SNC. Dessa forma, o fármaco precisa ser diretamente injetado no espaço subaracnóide medular. • Intraperitoneal: Usada a nível laboratorial 5. outras mucosas via vaginal e nasal • Em ambas se objetiva efeito local. • Ademais, na via nasal pode haver absorção e apresentar efeito de taquicardia em crianças. via conjuntiva • São utilizados fármacos de aplicação tópica, objetivando efeito local. • Geralmente, os efeitos locais se relacionam com a absorção local pela córnea, que pode ser acelerada quando esta apresenta algum traumatismo. • Comumente, a absorção sistêmica resultante da drenagem pelo canal nasolacrimal não é desejada. • Grande absorção pelo plexo retro orbital via pulmonar • Podem ser utilizados fármacos gasosos e voláteis • Essa via de administração tem como objetivo um efeito sistêmico (anestésico), servindo também como uma via alternativa para a entrada de peptídeos e também efeito local, como no caso da asma. • Apresenta rápido acesso à circulação, com absorção quase instantânea e evita inativação associada ao efeito de 1° passagem. 6. via transdérmica • Nem todo fármaco apresenta a capacidade de ser absorvido pela intacta, a depender da superfície onde são aplicados e também de sua lipossolubilidade, visto que a pele atua como uma barreira lipídica – substancias altamente lipofílicas a atravessam. • Assim, cabe ressaltar que, nesses casos, a absorção pela pele pode ser ampliada utilizando uma suspensão do fármaco em um veículo oleoso e também pelo processo de fricção. • A derme, por outro lado, é livremente permeável a muitos solutos, o que torna a absorção sistêmica dos fármacos mais facilitada pela pele que sofreu abrasão, queimadura ou desnudamento. • Objetiva-se efeito local • Via alternativa para absorção sistêmica de algumas substâncias # Adesivos para angina # Cinetoses # Adesivos com nicotina # Reposição hormonal comparação: vias de administração parenterais x via oral via absorção Utilidade especial limitações e precauções oral • Variável • Mais conveniente e econômica; geralmente é mais segura • Depende da adesão do paciente A biodisponibilidade pode ser errática intravenosa • A absorção é evitada • Os efeitos podem ser imediatos • Adequada para grandes volumes e substâncias irritantes, ou misturas complexas, desde que diluídas • Valiosa para uso em emergências • Permite a titulação da dose • Geralmente necessária para pro te nas de alto peso molecular e fármacos peptídicos • Aumenta o risco de efeitos adversos • Em geral, as soluções precisam ser injetadas lentamente inadequada para soluções oleosas ou substâncias pouco solúveis subcutânea • Imediata, no caso de soluções aquosas • Lenta e prolongada, no caso das preparações de depósito • Adequada para algumas suspensões pouco solúveis e para instilação de implantes de liberação lenta • Inadequada para grandes volumes • As substâncias irritantes podem causar dor ou necrose intramuscular • Imediata, no caso das soluções aquosas • Lenta e prolongada, no caso das preparações de depósito • Adequada para volumes moderados, veículos oleosos e algumas substâncias irritantes • Adequada para a autoadministração (p. ex., insulina) • Contraindicada durante o tratamento anticoagulante • Pode interferir com a interpretação de alguns exames diagnósticos. Tabela adaptada do livro “As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman” A distribuição é o mecanismo pelo qual posteriormente à administração e absorção do fármaco, ele segue para a circulação sistêmica e, então se é difunde para os líquidos intersticiais e intracelulares. Dessa forma, consiste em um processo que depende não só das propriedades físico-químicas do fármaco, mas também de fatores fisiológicos do organismo – como débito cardíaco, fluxo sanguíneo regional, permeabilidade capilar e volume tecidual. Mas como se dá esse processo? Inicialmente, órgãos com alta irrigação sanguínea, como fígado, rins e cérebro recebem a maior parte do fármaco, enquanto para outros tecidos e órgãos, como pele, tecido adiposo e muscular, a liberação do fármaco ocorre mais lentamente, podendo demorar algumas horas, antes que a concentração do fármaco nostecidos esteja em equilíbrio com o nível sanguíneo. A difusão do fármaco para o líquido intersticial ocorre de modo rápido, com exceção do cérebro e alguns outros órgãos, tendo em vista a natureza altamente permeável da membrana endotelial dos capilares. Ademais, vale ressaltar que alguns fatores são determinantes para o processo de distribuição, sendo eles a lipossolubilidade e os gradientes de pH transmembrana, bem como a ligação relativa do fármaco às proteínas plasmáticas e macromoléculas teciduais. proteínas plasmáticas • Alguns fármacos precisam se ligar às proteínas plasmáticas a fim de circular pela corrente sanguínea. Assim, a concentração do fármaco, sua afinidade e número de locais de ligação determinam a fração de todo o fármaco presente no plasma ligado a essas proteínas. • A ligação plasmática é um processo não linear e saturável. • Para a maioria dos fármacos, a variação terapêutica das concentrações plasmáticas é limitada; assim, a amplitude de ligação e a fração livre são relativamente constantes. • A principal proteína carreadora de fármacos ácidos é a albumina, enquanto a glicoproteína ácida α1 é responsável por transportar os fármacos básicos. Pode haver também a ligação inespecífica a outras proteínas, mas em menor ocorrência. • Vale ressaltar que comumente essa ligação fármaco-proteína plasmática é reversível, embora haja a possibilidade de haver ligações covalentes de fármacos reativos, como no caso de agentes alquilantes. acúmulo em tecidos • Alguns fármacos apresentam a capacidade de se acumularem em tecidos, apresentando concentrações mais altas do que as encontradas no sangue ou em líquidos extracelulares. • Mas por que isso acontece? Duas são as explicações possíveis para esse acúmulo, a primeira se relaciona ao transporte ativo, já a segunda está associada à ligação tecidual – geralmente é reversível e ocorre com componentes celulares, como proteínas e fosfolipídeos. • Essa ligação tecidual pode atuar como um reservatório, prolongando a ação do fármaco naquele tecido ou em outros. No entanto, vale ressaltar que tanto a ligação tecidual como o acúmulo tecidual podem provocar efeitos tóxicos. redistribuição • Além da metabolização e excreção, outro fator que pode cessar o efeito farmacológico é o processo de redistribuição, no qual ele sai do seu local de ação e migra para outros tecidos. • Assim, a redistribuição contribui para a inatividade do fármaco principalmente quando este se trata de um composto lipossolúvel que atua no cérebro no sistema cardiovascular, sendo administrado por inalação ou via intravenosa, como é o caso do tiopental. • O tiopental é um fármaco que apresenta alta lipossolubilidade. Assim, em decorrência do grande fluxo sanguíneo que tem no cérebro, o fármaco atinge sua concentração máxima no cérebro cerca de 1 minuto depois da administração intravenosa. Posteriormente, a concentração plasmática diminui à medida que o tiopental se difunde para outros tecidos, como os músculos. • Com isso, a concentração do fármaco no cérebro se torna proporcional ao nível plasmático, tendo em vista a baixa taxa de ligação do tiopental aos componentes cerebrais. Dessa forma, tanto o início quanto o término da anestesia são rápidos, já que ambos se relacionam diretamente com a concentração do fármaco no cérebro. A lipofilicidade dos fármacos que permite sua passagem pelas membranas biológicas e facilitam seu acesso subsequente aos locais de ação, dificultam sua excreção. Grande parte dos agentes terapêuticos consistem em compostos lipofílicos filtrados pelos glomérulos e reabsorvidos – maioria deles – para circulação sistêmica à medida que percorrem os túbulos renais. Assim, o metabolismo dos fármacos em metabólitos mais hidrofílicos é essencial não só para sua eliminação adequada, mas também para cessação das suas atividades biológica e farmacológica. No entanto, em alguns casos, o organismo produz metabólitos com atividade biológica potente ou, ainda, com propriedades tóxicas. classificação O metabolismo dos fármacos pode ser classificado de duas formas: reações de funcionalização da fase I e reações de biossíntese da fase II, também chamada de conjugação. reações da fase 1 • Nesse tipo de metabolização, são introduzidos ou expostos grupos funcionais do composto original, como nas reações de hidrólise. • Em geral, resultam na perda da atividade farmacológica. No entanto, em casos raros, o metabolismo está associado à alteração da atividade farmacológica. • Os pró-fármacos são compostos farmacologicamente inativos produzidos a fim de maximizar a quantidade da substância ativa que chega ao local de ação. Essas substâncias são convertidas em metabólitos biologicamente ativos, em geral por hidrólise de uma ligação éster ou amida. # Ex: inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA). reações de conjugação da fase 2 • Nesse tipo de metabolização, há a formação de uma ligação covalente entre um grupo funcional do composto original ou do metabólito da fase I e o ácido glicurônico, sulfato, glutationa, aminoácidos ou acetato formados pelos processos endógenos. • Em geral, esses conjugados altamente polares são inativos e excretados rapidamente na urina e nas fezes. # Ex: metabólito 6-glicuronídico da morfina. sistemas enzimáticos • Os sistemas enzimáticos associados ao processo de metabolização são encontrados principalmente no fígado. No entanto, outros órgãos com função metabólica são os rins, o trato GI e os pulmões. • Posteriormente à administração oral de um fármaco, uma fração significativa dele pode sofrer inativação antes de atingir a circulação sistêmica, seja no epitélio intestinal ou fígado. Assim, o efeito de 1° passagem reduz a disponibilidade oral dos fármacos metabolizados. • Os sistemas enzimáticos envolvidos nas reações da fase 1 estão localizados principalmente no retículo endoplasmático, enquanto os sistemas enzimáticos de conjugação da fase 2 são predominantemente citosólicos. Durante o processo de excreção, os fármacos são eliminados sem qualquer modificação ou são convertidos a metabólitos. O rim é o principal órgão responsável pela excreção, no entanto ela também pode ocorrer de outras formas. No geral, os órgãos excretores – exceto pelos pulmões – apresentam maior facilidade de eliminar compostos polares em detrimento dos lipossolúveis, que necessitam sofrer metabolização a fim de formarem compostos mais solúveis. A excreção pode ainda ocorrer pelas fezes, geralmente, quando os fármacos foram administrados oralmente e não foram absorvidos, ou quando seus metabólitos foram excretados na bile, ou ainda quando são secretados no TG e não sofreram reabsorção. Outra forma de excreção que chama atenção é através da lactação, visto que as substâncias eliminadas podem causar efeitos farmacológicos indesejáveis para o bebê. excreção renal • A excreção de fármacos e seus metabólitos através dos rins se dá pela urina e apresentam três processos independentes, que são afetados pela função renal: filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. filtração glomerular • A quantidade do fármaco que chega ao lúmen tubular por filtração é proporcional à taxa de filtração glomerular e extensão da ligação plasmática do fármaco, de forma que apenas a fração livre é filtrada. • limitação quanto ao peso molecular do fármaco, mas quase não há restrições para o fármaco livre, ao contrário do que acontece para o fármaco ligado a proteina plasmatica – fármacos lipossolúveis e hidrossolúveis atravessam sem grandes problemas. secreção tubular • Além da filtração glomerular, os fármacos podem passar para a urina através da secreção tubular ativa mediada por transportadores. • Os transportadores como a P-gp e a MRP2,localizados na membrana da borda escovada apical, são responsáveis pela secreção dos ânions anfipáticos e metabólitos conjugados. Já os carreadores de solutos, que são mais seletivos para os fármacos catiônicos orgânicos, estão envolvidos na secreção das bases orgânicas. • Os transportadores de membrana, que estão localizados predominantemente no túbulo renal distal, também são responsáveis por toda a reabsorção ativa do fármaco do lúmen tubular de volta à circulação sistêmica; entretanto, a maior parte dessa reabsorção ocorre por difusão não aniônica. • Pode haver concorrência quando muitas substancias estão presentes ao mesmo tempo. # Consequência: fármaco excretado pelo rim de maneira eficiente, podem pode gerar interação medicamentosa. Ex: penicilina e probenecide # Probenecide não tem atividade terapêutica e por competir com a penicilina pelo transportador, pode aumentar seu tempo de meia-vida plasmatica reabsorção tubular passiva • Nos túbulos proximais e distais, as formas não ionizadas dos ácidos e das bases fracos sofrem reabsorção passiva global. No entanto, as células tubulares são menos permeáveis às formas ionizadas dos eletrólitos fracos, de tal forma que a reabsorção passiva dessas substâncias é influenciada pelo pH. • Assim, quando a urina tubular está mais alcalina, os ácidos fracos estão em grande parte ionizados e, desta forma, são excretados mais rapidamente e em quantidades maiores. Já quando a urina tubular estiver mais ácida, a fração do fármaco ionizado é reduzida, o mesmo acontece com sua excreção. • A alcalinização e acidificação da urina produzem efeitos contrários na excreção das bases fracas. • Durante a passagem tubular, o volume urinario se reduz muito, concentrando o fármaco. No caso de substâncias lipofílicas, por difusão passiva até 99% de reabsorção dessa substancia pode ocorrer. Portanto, consiste em um processo passivo e relacionado às propriedades físico-químicas da substancia # Ex: intoxicação com barbitúrico avaliação da função renal • Insulina: mede o fluxo de filtração glomerular. É completamente filtrada e não sofrem nem secreção nem reabsorção tubular • Creatinina: mede o fluxo de filtração glomerular. É completamente filtrada, é secretada no túbulo contorcido proximal. Não sofre reabsorção tubular. Creatinina clearance – medida da função renal excreção biliar e fecal • Na membrana canalicular do hepatócito existem transportadores responsáveis pela secreção de fármacos e metabólitos na bile. De lá, esses fármacos e metabólitos são, então, liberados no trato GI durante o processo digestivo. • Com isso, os fármacos e metabólitos podem ser reabsorvidos do intestino de volta ao corpo – no caso dos metabólitos conjugados como os glicuronídeos, pode haver necessidade de hidrólise enzimática pela flora intestinal. • Caso se prolongue, a reciclagem êntero-hepática pode promover significativamente a permanência de um fármaco ou toxina e seus efeitos no organismo, antes que ele seja eliminado por outras vias.
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