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Endocardites bacterianas 1 Endocardites bacterianas Introdução ENDOCARDITES INFECCIOSAS → é um processo infeccioso que acomete o endocárdio (endotélio das valvas cardíacas); infecção provocada pela implantação de próteses valvares cardíacas. Apresenta-se como uma doença grave, com alto risco de morbidade e mortalidade e de elevada incidência; portadores de disfunção valvar, cardiopatia congênita ou de válvula cardíaca artificial apresentam maior risco de contrair a doença (anormalidades promovem a formação de sítios de instalação de bactérias). O PROGNÓSTICO DEPENDE → diagnóstico precoce (exames - hemocultura), tratamento adequado e reconhecimento de suas complicações. Histórico Classificação De acordo com o curso clínico Aguda Lesão invasiva, ulcerativa e necrosante, de difícil cura → intervenção cirúrgica e tratamento antimicrobiano prolongada. Normalmente, causada pela Staphylococcus spp (cocos, gram positivos, agrupados em cachos de uva, catalase +). Localmente destrutiva e rapidamente progressiva. Há disseminação local, com formação de abcessos, e sistêmica, com abcessos pulmonares, cerebrais, renais e esplênicos. Subaguda Normalmente, causada por agentes menos virulentos, geralmente pertencentes à microbiota normal da cavidade oral/orofaríngea (Streptococcus spp) e ataca, principalmente, valvas anormais ou previamente lesadas. Curso mais lento. Melhoras com o uso de antimicrobianos → processo de fibrose e cicatrização. De acordo com a doença valvar ou condição pré-existente Valvas anormais PREDOMINAM: Streptococcus spp (pneumoniae ou viridans) → cerca de 4060% dos casos em não usuários de drogas venosas (usuários são associados a microbiota normal da pele - Staphylococcus aureus ou epidermidis); a maioria pertencente ao grupo viridans Streptococcus salivaris, hominis, mutans) e alfa-hemolíticos, apresentam virulência relativamente baixa - síndromes subagudas, infectando defeitos congênitos e valvas previamente lesadas; a maioria compõe a microbiota normal da orofaringe e cavidade oral; Endocardites bacterianas 2 Staphylococcus spp → aumento do número de casos associados à usuários de drogas intravenosas e em pacientes com cateteres de acesso venoso prolongado (presentes na microbiota normal da pele); Enterococcus spp → são membros da microbiota do TGI e orofaringe (gastroenterite); FUNGOS → raro; normalmente, associadas à Candida spp em população de risco (imunocomprometidos e pacientes com acesso venoso central prolongado); HACEK → bacilos gram-negativos da microbiota da cavidade oral, com baixa virulência e difícil isolamento (hemoculturas negativas); associados à EI subagudas (por terem baixa virulência e fazerem parte da microbiota normal), com desenvolvimento de grandes áreas de vegetação. obs.: Aggregatibacter spp → coco-bacilo gram negativo; periodontites (ao cair na corrente sanguínea, pode causar danos sistêmicos) (adesinas - adesão ao dente, gengiva, e palato; fímbrias; invasinas → leucotoxinas (toxinas a células do sistema imune)/LPS (promovem febre)/inibidores de quimiotaxia (inibem citocinas e recrutamento leucocitário)/proteínas imunossupressoras/ligantes porção Fc - neutraliza o anticorpo). obs.: Cardiobaterium spp → coco bacilo gram negativo; endocardites. obs.: Eikenella corrodens → coco-bacilo gram negativo; microbiota oral. obs.: Kingella spp → bacilo gram negativo, baixa virulência; microbiota oral; imunocomprometidos; artrite séptica. USUÁRIOS DE DROGAS INTRAVENOSAS → a grande maioria não tem valvopatia prévia - contaminação por contaminação de agulhas; envolvimento da tricúspide 5060% dos casos), seguido de aórtica 25% e mitral 20%; agentes envolvidos → Staphylococcus aureus 60%, Enterococcus spp. e fungos. USUÁRIOS DE PRÓTESES VALVARES → são divididas em precoce (ocorrem nos primeiros 60 dias após a cirurgia) e tardia (relacionada à contaminação de próteses durante episódios de bacteremia transitória); normalmente, apresenta um período de latência entre a contaminação e o desenvolvimento da EI e se apresentam como EI subaguda (até 2 anos após a cirurgia). É incomum em crianças e em países desenvolvidos, estudos mostram que a idade média de EI é de 50 anos, associado ao aumento de doenças degenerativas e procedimentos invasivos. obs.: em próteses ou dispositivos ortopédicos, implantes etc podem gerar EI pela contaminação de próteses ou do ambiente e entrada de bactérias. Etiologia Em relação à EI: Predominam os Streptococcus spp 4060% dos casos) → Streptococcus viridans e Streptococcus bovis; Endocardites bacterianas 3 Seguidos pelos Staphylococcus spp 2030% dos casos) → Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus aureus. Outras bactérias gram positivas (Enterococcus faecalis) ou gram negativas (Pseudomonas aeruginosa → HACEK, provenientes do trato respiratório e orofaringe; atenção ao ambiente hospitalar - resistente à desinfecção; infecção em queimaduras) podem causar a EI !020% dos casos); Infecções fúngicas são causas mais raras → C. albicans, Histoplasma capsulatim (micose sistêmica), Aspergillus spp. obs.: EI por Streptococcus bovis deve-se pesquisar neoplasias de cólon. obs.: o Staphylococcus aureus pode causar EI em portadores de lesões cardíacas, implantação de próteses valvares cardíacas, em hospitalizados (cateteres e imunocomprometidos) e em usuários de drogas injetáveis. Etiologia associada ao quadro clínico AGUDA → Streptococcus beta-hemolíticos, S. aureus, Pneumococos - Streptococcus pneumoniae SUBAGUDA → S. viridans, Enternococcus faecalis, HACEK, Staphylococcus epidermidis (coagulase negativos) Patogênese das EI Patógenos ganham acesos à corrente sanguínea (manipulação dentária, implantação de dispositivos etc); a síndrome começa usualmente 2 semanas após o evento, com febre (por conta do LPS, sudorese noturna, perda de apetite e dores generalizadas; Ao encontrar endotélio lesionado/inflamado em válvulas, aderem à superfície da válvula cardíaca; Proliferação dos patógenos dentro da matriz → evasão da resposta imune; Formação de áreas de vegetação em locais de proliferação (bactérias, no interior do endotélio infectado, recobertas de fibrina - ajuda na evasão da resposta imune); Partículas de vegetação podem se desprender e disseminar (se não for tratada) → êmbolos, AVC, aneurismas, infartos e abcessos (complicações da EI. Evolução da patogênese das EI COLONIZAÇÃO VALVAR COMO OCNSEQUÊNCIA DE LESÃO MECÂNICA: Em uma lesão mecânica, há ativação adesão plaquetária e liberação de citocinas para maior atração, além da polimerização de fibrina para formação de coágulo e reparo da lesão. Em uma bacteremia transitória, as bactérias se aderem a esse coágulo e colonizam. Endocardite trombótica não bacteriana → bactérias se ligam ao coágulo e o colonizam durante a bacteremia transitória. Os monócitos aderidos liberam fatores teciduais e citocinas ao detectarem processo infeccioso → mais Endocardites bacterianas 4 plaquetas são atraídas e ativadas e a vegetação cresce → as células endoteliais são infectadas e podem ser lisadas por produtos bacterianos ou as bactérias podem persistir dentro das células (complicações). Não há fibronectina. COLONIZAÇÃO VALVAR APÓS PROCESSO INFLAMATÓRIO E LESÃO TECIDUAL: Durante a inflamação, há recrutamento leucocitário, via citocinas. Leucócitos ligam-se a integrinas (expressas pelo endotélio inflamado) e liberam fatores de crescimento e citocinas, o que aumenta a coagulação (tampão de coágulo). O tampão também é formado pelas plaquetas e fibrina. As células endoteliais ativadas expressam integrinas que promovem a deposição de fibronectina → adesão bacteriana → liberação de fatores de crescimento e citocinas, causando a coagulação do sangue, promoção da extensão da inflamação e a formação da vegetação → células endoteliais infectadas podem ser lisadas por produtos bacterianos ou as bactérias podem persistir dentro das células. Com a disseminação das bactérias e dos coágulos da vegetação, pode haver complicações,como sepse (choque), embolização e destruição valvar EI não tratada). Manifestações sistêmicas nas EI Manchas de Roth → verificada no exame fundoscópico; lesões hemorrágicas retianianas com palidez central, resultante de vasculite nos vasos retinianos; Embolia pulmonar séptica; AVC com embolia com focos hemorrágicos; Abcesso cerebral patogênico; Infarto esplênico; FENÔMENOS VASCULARES SISTÊMICOS → Infarto periféricos, petéquias, nódulos de osler (intradérmicos, dolorosos, nas polpas digitais, por deposição de imunocomplexos - podem depositar em diversos lugares, como nos rins - glomerulonefrite), lesão de Janeway (eritematosas ou hemorrágicas indolores nas regiões palmares e plantares), hemorragias subungueais (de Splinter - lesões lineares sob as unhas); Perfuração de válvula aórtica ou mitral; Marca-passo com vegetação. Endocardites bacterianas 5 Endocardites bacterianas 6 Diagnóstico Análise dos sintomas clínicos (cardiopatia predisponente, febre, fenômenos hemorrágicos). TRÍADE → febre, sopro, anemia. Associado aos exames laboratoriais. Exames inespecíficos HEMOGRAMA → anemia normo/normo e leucocitose; VHS → aumentado; PCR → aumentada; URINA I → proteinúria e hematúria microscópica; ELELTROFORESE DE HEMOGLOBINA → hipergamaglobulinemia. Exames específicos HEMOCULTURA → coleta de 2 ou 3 amostras com intervalo de 30 minutos em locais diferentes; ECOCARDIOGRAFIA → presença de vegetação; OUTROS → ECG/RX tórax: sinais de congestão pulmonar ou quadro de embolia. Epidemiologia Endocardites bacterianas 7
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