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COMUNICAÇÃO CELULAR E RECEPTORES A comunicação entre as células, seja em um indivíduo uni ou pluricelular, é importante para nutrição, de- fesa, entre outros mecanismos de sobrevivência. Nos organismos multicelulares, é mais complexo, pois si- nais são enviados e captados pelas células para deter- minar metabolismos, iniciar ou parar vias bioquími- cas, indicar a necessidade de divisão ou apoptose, en- tre outros. Em uma comunicação característica entre células a célula sinalizadora produz um tipo particular de molécula-sinal que é detectada pela célula-alvo, que possui proteínas receptoras que reconhecem e respondem o estímulo inicial. A comunicação geralmente envolve a transmissão da molécula sinalizadora, o hormônio, pelo corpo por meio do sangue ou secreção direta próximo da célula alvo, como em células parácrinas, autócrinas e exócri- nas, com mediadores locais. Uma terceira forma de si- nalização é a neuronal, típica dos neurônios. A quarta forma é uma comunicação célula-célula me- diada por sinais, de curto alcance, que não requer uma molécula sinalizadora. As células fazem contato direto por moléculas presentes na membrana plasmá- tica da célula sinalizadora e receptores na célula alvo, sendo esta a sinalização dependente de contato. A resposta da célula a uma molécula-sinal depende da presença de proteína receptora, ou receptor, para essa molécula. Cada receptor é geralmente ativado por apenas um tipo de sinal. Sem o receptor apropriado, a célula será insensível ao sinal e não poderá reagir. Poucas moléculas-sinal extracelulares podem alterar o comportamento da célula-alvo de muitas maneiras diferentes - podem alterar a forma da célula, o meta- bolismo, a expressão gênica ou combinações desses. A transdução de sinal começa quando a proteína re- ceptora na célula-alvo recebe um sinal extracelular e o converte nos sinais intracelulares, atingindo proteí- nas efetoras que alteram o comportamento celular. As proteínas efetoras e o sistema de propagação va- riam de modo que diferentes células podem responder de forma diversa ao mesmo sinal – a comunicação depende de como a célula alvo recebe e interpreta o sinal. O tempo que uma célula leva para responder a um sinal extracelular varia muito, dependendo do que deve acontecer após a mensagem ter sido recebida. A secreção de moléculas pré-existentes, por exemplo, é rápida, enquanto a divisão celular é lenta por neces- sitar de produção proteica. Os receptores celulares podem ser de membrana/su- perfície celular ou intracelulares. Moléculas pequenas e hidrofóbicas, como hormônios esteroides, passam direto pela membrana e direcionam-se a proteínas re- ceptoras no citosol ou núcleo, chamados receptores nucleares, pois atuam como reguladores transcricio- nais no núcleo, regulando a expressão de vários grupos de genes e respostas metabólicas diferentes, essenciais na fisiologia. Gases dissolvidos também atravessam a membrana e regulam enzimas intracelulares diretamente, como o óxido nítrico (NO), que se difunde facilmente, mas tem meia vida curta – o que limita sua ação. Ele tem fun- ção vasodilatadora, reduzindo dor angina e causando a ereção peniana. A maior parte das moléculas utiliza proteínas recep- toras de superfície celular que fazem transdução de sinal. O processo de sinalização intracelular é como um telefone sem fio, no qual moléculas de sinalização intracelular passam a mensagem uma para a outra, ativando ou gerando uma nova molécula até uma en- zima metabólica ser ativada e a resposta celular ser efetivada. As vias de sinalização intracelular podem transmitir adiante, amplificar e fortalecer, integrar com sinais de outras vias e/ou distribuir o sinal para outra via ou uma proteína efetora. Assim, muitas etapas da sinali- zação estão sujeitas à modulação por outros fato- res, intra e extracelular. Algumas proteínas de sinalização intercelular atuam como interruptores moleculares, desligam outras proteínas que participam de vias, de forma que elas retornam ao estado original podendo atuar nova- mente. Existem duas classes de comutadores molecu- lares: a primeira concentra proteínas que são regu- ladas por fosforilação (proteína cinase e proteína fos- fatase), atuando em cascatas de fosforilação, com am- plificação, propagação e modulação do sinal) e a classe de proteínas de ligação a GTP – comutam entre o es- tado ativo (com GTP) e inativo (com GDP), esse grupo inclui os receptores ligados a proteínas G. Os receptores de membrana podem ser de três grupos: 1. Receptores associados a canais iônicos – trans- missão rápida, simples e direta. Transmissão de sinais pelas sinapses do sistema nervoso, trans- formam o sinal químico em elétrico, com abertura de canais conforme gradiente eletroquímico. 2. Receptores associados a proteínas G - medeiam respostas a uma enorme diversidade de molécu- las-sinal extracelulares, possuem uma estrutura de cadeia polipeptídica que atravessa a bicamada lipídica 7 vezes com várias subunidades. 3. Receptores associados a enzimas Um sinalizador pode ter receptores de grupos diferentes, resultando em respostas celulares distintas. Algumas drogas ou tranquilizantes, como heroína, ni- cotina e pimentas, mimetizam o ligante natural de um determinado receptor, ocupando os sítios de ligação do ligante natural, ou se ligam ao receptor em algum outro sítio, causando bloqueio ou super estimulação da atividade natural do receptor. Os receptores de proteína G atuam ativando-a por uma mudança conformacional das subunidades α, β e γ quando ligados à molécula sinal. Algumas regulam canais iônicos e outras ativam enzimas ligadas à membrana, como a adenilato-ciclase, responsável pela produção de AMP cíclico, e a fosfolipase C, que sinte- tiza moléculas sinalizadoras intracelulares. As cascatas de sinalização conectadas aos receptores associados à proteína G ocorrem muito rapidamente – a resposta do olho à luz ocorre em 20ms. As cascatas permitem amplificação do sinal inicial e precisam que as células se adaptem para serem capazes de detectar sinais de intensidade muito variada. Nos bastonetes dos olhos, a luz é captada pela rodopsina, um receptor de luz associado à proteína G, que estimula a trans- ducina (outra proteína G). A adaptação é importante em casos de pouca ou muita luz, com amplificação ou redução do sinal. A adaptação também acontece nas vias de sinalização que respondem aos sinais químicos. Ela permite que as células permaneçam sensíveis às mudanças de si- nal, respondendo em grandes e pequenos estímulos. A via do AMP cíclico pode ativar enzi- mas e genes. A proteína Gs estimula a adenilato-ciclase a produzir mais cAMP. Esse mensageiro pode ativar a enzima PKA, ocorrendo degradação de glicogênio, ou mudar a expressão gênica, ou ainda estimular a secre- ção de somastatina, A cafeína atua impedindo a degrada- ção do cAMP, A fosfolipase C gera moléculas de IP3 e diacilglicerol que regulam várias proteínas efetoras e aumenta o Ca²+ intracelular, o que ativa proteínas de resposta a Ca²+, como a calmodulina, e regula outras. Os receptores associados a enzimas são proteínas transmembranas que respondem bem a proteínas-si- nal que regulam crescimento, proliferação e diferenci- ação celular, funcionando como mediadores locais. As respostas a elas são lentas e precisam de muitas eta- pas de transdução que no final produzem mudanças na expressão gênica. Podem mediar reconfigurações rápidas e diretas do citoesqueleto, controlando a ma- neira pela qual a célula altera sua forma e se move. Esses receptores, quando anormais, são importantes no desenvolvimento de cânceres e tumores. Para transdução de sinal, o receptor acionar a ativi- dade enzimática de seu domínio intracelular (ou de uma enzima associada) quando uma molécula-sinal se liga ao seu domínio extracelular,ativando a função cinase e servindo de sítio para proteínas sinalizadoras. Algumas são fosforiladas e se tornam ativas ao intera- girem com o receptor, propagando o sinal; outras atuam como adaptadores que acoplam o receptor a outras proteínas sinalizadoras, com formação de um complexo de sinalização ativo. Receptores tirosina-cinase diferentes recru- tam grupos distintos de proteínas sinalizado- ras intracelulares, com diferentes efeitos. As fosfotirosinas dos receptores tirosina cinase ativam GTPase monomérica RAS, que também funciona como um interruptor molecular – é ativa com GTP e inativa com GDP. Quando ativa, inicia uma cascata de fosfo- rilação de serina/treonina-cinases, incluindo um mó- dulo de sinalização da MAP-cinase que resulta na fos- forilação de várias proteínas efetoras, incluindo regu- ladores de transcrição, que altera a capacidade celular de expressão gênica. Alguns receptores associados a enzi- mas ativam um caminho rápido para o núcleo – citocinas se ligam a recep- tores que ativam reguladores de transcrição (STATs) direto da mem- brana plasmática e seguem para o nú- cleo onde estimulam a transcrição de genes específicos. Essa via é usada por interferons, citocinas do sistema imune. Alguns receptores associados a enzi- mas estimulam o crescimento celular pois ativam a PI-3-cinase, que fosfo- rila fosfolipídeos de inositol específi- cos para produzir sítios lipídicos de ancoragem na membrana plasmática que permitem a reunião e ativação mútua de proteínas sinalizadoras es- pecíficas. Diferentes vias de sinalização intracelulares intera- gem, o que permite às células produzir uma resposta adequada a uma combinação complexa de sinais. Al- gumas combinações permitem que as células sobre- vivam, ao passo que outras causarão sua prolifera- ção. Na ausência de sinais, a maioria das células se suicida por apoptose.
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