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Fichamento Manual de processo penal volume único 2019 - Renato Brasileiro Título 2 pontos 14 a 18

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UNEB – Universidade do Estado da Bahia
Disciplina: Direito Processual Penal I
Docente: 
Discente: 
LIMA, Renato Brasileiro. Manual de processo penal: volume único / Renato Brasileiro de Lima - 7. ed. rev., ampl. e atual. - Salvador: Ed. JusPodivm, 2019.
Renato Brasileiro em sua obra Manual de Processo Penal extrai todo o conteúdo do Processo Penal Brasileiro e consegue sintetizar de forma clara e acessível os temas relevantes. Nesse fichamento serão sintetizados os temas constantes no Título 2, pontos 14 a 18.
14. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL
Como visto anteriormente, a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito (CPP, art. 17). O arquivamento do inquérito policial também não pode ser deter minado de ofício pela autoridade judiciária. Incumbe exclusivamente ao Ministério Público avaliar se os elementos de informação de que dispõe são (ou não) suficientes para o ofere cimento da denúncia, razão pela qual nenhum inquérito pode ser arquivado sem o expresso requerimento ministerial.
Mesmo nos inquéritos relativos a autoridades com foro por prerrogativa de função, é do Ministério Público o mister de conduzir o procedimento preliminar, de modo a formar adequada mente o seu convencimento a respeito da autoria e materialidade do delito, atuando o Judiciário apenas quando provocado e limitando-se a coibir ilegalidades manifestas.
14.1. Fundamentos do arquivamento
O Código de Processo Penal silencia acerca das hipóteses que autorizam o arquivamento do inquérito policial, ou, a contrario sensu, em relação às situações em que o Ministério Público deva oferecer denúncia. Em que pese o silêncio do CPP, é possível a aplicação, por analogia, das hipóteses de rejeição da peça acusatória e de absolvição sumária, previstas nos arts. 395 e 397 do CPP, respectivamente. Em outras palavras, se é caso de rejeição da peça acusatória, ou se está presente uma das hipóteses que autorizam a absolvição sumária, é porque o Promotor de Justiça não deveria ter oferecido a denúncia em tais hipóteses.
14.2. Coisa julgada na decisão de arquivamento
A partir do momento em que uma decisão judicial é proferida, temos que, em determinado momento, tomar-se-á imutável e indiscutível dentro do processo em que foi proferida, seja porque não houve a interposição de recursos contra tal decisão, seja porque todos os recursos cabíveis foram interpostos e decididos. A partir do momento em que não for mais cabível qual quer recurso ou tendo ocorrido o exaurimento das vias recursais, a decisão transita em julgado.
Esse impedimento de modificação da decisão por qualquer meio processual dentro do pro cesso em que foi proferida é chamado de coisa julgada formal, ou ainda de preclusão máxima. Trata-se de fenômeno endoprocessual, pois a imutabilidade da decisão está restrita ao processo em que foi proferida.
14.3. Desarquivamento, a partir da notícia de provas novas, e oferecimento de denúncia, na hipótese do surgimento de provas novas
O arquivamento por falta de lastro probatório é uma decisão tomada com base na cláusula rebus sic stantibus, ou seja, mantidos os pressupostos fáticos que serviram de amparo ao arqui vamento, esta decisão deve ser mantida; modificando-se o panorama probatório, é possível o desarquivamento do inquérito policial.
Porém, para que seja possível o desarquivamento, é necessário que surjam notícias de provas novas. Explica-se: suponha-se que, em relação a um crime de homicídio, a despeito do esgotamento das diligências, não tenha constado dos autos da investigação policial qualquer elemento de informação quanto à autoria do fato delituoso. Arquivado o inquérito policial, uma determinada testemunha presencial resolve, então, comparecer perante as autoridades para noticiar que teria informações quanto ao provável autor do delito. Ora, diante dessa notícia de provas novas, é possível o desarquivamento do inquérito policial.
14.4. Procedimento do arquivamento
Apesar de o Código de Processo Penal traçar o procedimento do arquivamento no art. 28, é importante perceber que tal dispositivo tem aplicação restrita aos processos criminais de competência da Justiça Estadual. No âmbito da Justiça Federal, da Justiça Comum do Distrito Federal, da Justiça Eleitoral, da Justiça Militar, e também nas hipóteses de atribuição originária do Procurador-Geral da República ou Procurador-Geral de Justiça, há diferentes procedimentos quanto ao arquivamento. Vejamos, então, separadamente, cada um desses procedimentos.
14.4.1. Procedimento do arquivamento no âmbito da Justiça Estadual
O requerimento de arquivamento subscrito pelo Promotor de Justiça deve ser submetido à apreciação judicial. Se o juiz estadual concordar com a promoção ministerial, pode-se dizer que o arquivamento está aperfeiçoado. No entanto, se o juiz estadual não concordar com o pedido ministerial, aplica-se o art. 28 do CPP, por meio do qual os autos são enviados ao Procurador- -Geral de Justiça.
Ao remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, age o magistrado acobertado pelo princípio da devolução, por meio do qual o juiz devolve a apreciação da controvérsia ao chefe do Ministério Público, a quem compete a decisão final sobre o oferecimento (ou não da denúncia). Neste caso, ojuiz também exerce uma função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade.
14.4.2. Procedimento do arquivamento no âmbito da Justiça Federal e da Justiça Comum do Distrito Federal
No âmbito da Justiça Federal e da Justiça Comum do Distrito Federal, o procedimento do arquivamento é distinto. Atuam na Iainstância de tais Justiças, respectivamente, os Procuradores da República e os Promotores de Justiça do Distrito Federal, os quais são integrantes do Ministé rio Público da União, submetidos à Lei Complementar n° 75/93. Como essa Lei Complementar entrou em vigor após o Código de Processo Penal, cuja vigência se deu em 01° de janeiro de 1942, e passou a regulamentar o procedimento de arquivamento nas hipóteses de atribuição do Ministério Público Federal e do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, seus dispositivos devem ser lidos em cotejo com o art. 28 do CPP.
14.4.3. Procedimento do arquivamento na Justiça Eleitoral
Ao contrário da Justiça do Trabalho, da Justiça Federal, da Justiça Militar e da Justiça Es tadual, a Justiça Eleitoral não dispõe de um corpo próprio e permanente de magistrados, razão pela qual são utilizados os magistrados da Justiça Federal (Código Eleitoral, art. 25) e da Justiça Estadual (Código Eleitoral, art. 32), por períodos predeterminados.
Na mesma linha, quanto às atribuições do Ministério Público, compete ao Ministério Pú blico Federal exercer, no que couber, junto à Justiça Eleitoral, as funções do Ministério Público, atuando em todas as fases e instâncias do processo eleitoral (LC n° 75/93, art. 72). As funções eleitorais do Ministério Público Federal perante os Juizes e Juntas Eleitorais serão exercidas pelo Promotor Eleitoral. Esse Promotor Eleitoral será o membro do Ministério Público Estadual que oficiar junto ao Juízo incumbido do serviço eleitoral de cada Zona.
14.4.4. Arquivamento de inquérito nas hipóteses de atribuição do Procurador-Geral de Justiça ou do Procurador-Geral da República
Nos casos de atribuição originária do Procurador-Geral de Justiça (ou do Procurador-Ge ral da República), caso o órgão ministerial conclua pelo arquivamento do inquérito originário, apesar do teor do art. Io, caput, c/c art. 3o, inciso I, ambos da Lei n° 8.038/90, entende-se que, em regra, esta decisão não precisa ser submetida ao crivo do Poder Judiciário, na medida em que o tribunal respectivo não teria como se insurgir diante da promoção de arquivamento do Procurador-Geral, sendo inviável a aplicação do art. 28 do CPP.
 14.5. Arquivamento implícito
Na lição deAfrânio Silva Jardim, “entende-se por arquivamento implícito o fenômeno de ordem processual decorrente de o titular da ação penal deixar de incluir na denúncia algum fato investigado ou algum dos indiciados, sem expressa manifestação ou justificação deste procedi mento. Este arquivamento se consuma quando o juiz não se pronuncia na forma do art. 28 com relação ao que foi omitido na peça acusatória”.
 14.6. Arquivamento indireto
O arquivamento indireto ocorre quando o juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, fundamentado em razões de incompetência da autoridade jurisdicional, recebe tal manifestação como se tratasse de um pedido de arquivamento.
Quando o magistrado não concorda com o pedido de declinação de competência formulado pelo órgão ministerial, não pode obrigar o Ministério Público a oferecer denúncia, sob pena de violação a sua independência funcional (CF, art. 127, § Io). Há, assim, um impasse, porque o juiz se recusa a remeter os autos a outro juízo, por se considerar competente para o feito, ao passo que o órgão do Ministério Público recusa-se a oferecer denúncia, porque entende que a autoridade judiciária não é o juiz natural da causa. Não se trata de conflito de competência, porquanto o dissenso não foi estabelecido entre duas autoridades jurisdicionais. Também não se cuida de conflito de atribuições, já que o dissenso envolve uma autoridade judiciária e um órgão do Ministério Público.
Nesse caso, deve o juiz receber a manifestação como se tratasse de um pedido indireto de arquivamento, aplicando, por analogia, o quanto disposto no art. 28 do CPP: os autos serão remetidos ao órgão de controle revisional do Ministério Público, seja o Procurador-Geral de Justiça, no âmbito do Ministério Público dos Estados, seja a Câmara de Coordenação e Revisão, na esfera do Ministério Público da União. É este o denominado arquivamento indireto.135
 14.7. Arquivamento em crimes de ação penal de iniciativa privada
Em regra, ao se tratar do arquivamento do inquérito policial, costuma-se dar primazia ao seu estudo nas hipóteses de ação penal de iniciativa pública, já que, em tais casos, vigora o prin cípio da obrigatoriedade. Mas e nos crimes de ação penal de iniciativa privada? Seria possível o arquivamento do inquérito policial?
Como a decadência e a renúncia funcionam como causas extintivas da punibilidade em relação aos crimes de ação penal de iniciativa privada (exclusiva e personalíssima), depreende-se que a discussão em tomo do arquivamento nesse tipo de ação penal tem pouca, senão nenhuma relevância.
 14.8. Recorribilidade contra a decisão de arquivamento
Em regra, não cabe recurso contra a decisão judicial que determina o arquivamento do
inquérito policial, nem tampouco ação penal privada subsidiária da pública.
Ressalva importante quanto à recorribilidade deve ser feita quanto aos crimes contra a eco nomia popular ou contra a saúde pública, hipótese em que há previsão legal de recurso de ofício. Segundo o art. T da Lei n° 1.521/51, “os juizes recorrerão de ofício sempre que absolverem os acusados em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial”. Não se trata, o recurso de ofício, de um recurso propriamente dito, pois lhe falta a característica da voluntariedade. Tem-se, pois, verdadeira condição de eficácia objetiva da decisão, sendo que, nos casos em que a lei exige o recurso de ofício, a decisão só é apta a produzir seus efeitos regulares a partir da apreciação do feito pelo Tribunal.
 14.9. Arquivamento determinado por juiz absolutamente incompetente
Parte da doutrina entende que o arquivamento do inquérito por juiz absolutamente incom petente não está subordinado ao princípio da vedação de revisão pro societate, razão pela qual subsiste a possibilidade de instauração do processo penal perante o juízo competente, salvo nas hipóteses de arquivamento em virtude da atipicidade da conduta delituosa. Nesse caso, não é possível a aplicação do art. 8o, § 4o, do Pacto de São José da Costa Rica, visto que não se trata nem de sentença, propriamente dita, nem tampouco de sentença absolutória ou decisão decla- ratória extintiva da punibilidade.
A título de exemplo, se, num inquérito policial relativo ao crime de moeda falsa - o qual é de competência da Justiça Federal (CF, art. 109, IV) -, um Promotor de Justiça requerer a um Juiz Estadual o arquivamento dos autos por ausência de lastro probatório para o oferecimento de denúncia, tal decisão não estará protegida pelo manto da coisa julgada. Tomando conhecimento do referido delito, caberá ao órgão do Ministério Público Federal oferecer denúncia perante o juiz federal. Porém, além de oferecer denúncia, deverá suscitar um conflito de competência, a ser dirimido pelo STJ.
 15. TRANCAMENTO (OU ENCERRAMENTO ANÔMALO) DO INQUÉRITO POLICIAL
A instauração de um inquérito policial contra pessoa determinada traz consigo inegável constrangimento. Esse constrangimento, todavia, pode ser tido como legal, caso o fato sob investigação seja formal e materialmente típico, cuide-se de crime cuja punibilidade não esteja extinta, havendo indícios de envolvimento dessa pessoa na prática delituosa. Em tais casos, deve a investigação prosseguir. Todavia, verificando-se que a instauração do inquérito policial é ma nifestamente abusiva, o constrangimento causado pelas investigações deve ser tido como ilegal, afigurando-se possível o trancamento do inquérito policial, objeto de nosso estudo neste tópico.
Como visto acima, o arquivamento do inquérito policial é uma decisão judicial que resulta do consenso entre o órgão do Ministério Público, responsável pela promoção de arquivamen to, e o Poder Judiciário, a quem compete a respectiva homologação. Portanto, não se pode confundir o arquivamento, ato complexo que resulta do consenso entre o Ministério Público e o Juiz, com o trancamento do inquérito policial, medida de força que acarreta a extinção do procedimento investigatório, a qual é determinada, em regra, no julgamento de habeas corpus, funcionando como importante instrumento de reação defensiva à investigação que caracterize constrangimento ilegal.
 15.1. (Im) possibilidade de arquivamento de ofício de investigações nos casos de compe tência originária dos Tribunais.
Especificamente em relação ao arquivamento de investigações originárias, especial atenção deve ser dispensada ao art. 231, §4°, do Regimento Interno do STF. De acordo com o referido dispositivo, o relator tem competência para determinar o arquivamento, quando o requerer o Procurador-Geral da República ou quando verificar: a) a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; b) a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; c) que o fato narrado evidentemente não constitui crime; d) extinta a punibilidade do agente; ou e) ausência de indícios mínimos de autoria ou materialidade, nos casos em que forem descumpridos os prazos para a instrução do inquérito ou para oferecimento de denúncia: segundo disposto no art. 230-C do RISTF, instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá em sessenta dias reunir os elementos necessários à conclusão das investigações, efetuando as inquirições e realizando as demais diligências necessárias à elucidação dos fatos, apresentando, ao final, peça informativa, sendo que o Relator pode deferir a prorrogação desse prazo sob requerimento fundamentado da autoridade policial ou do Procurador-Geral da Repú blica, que deverão indicar as diligências que faltam ser concluídas.
 16. INVESTIGAÇÕES DIVERSAS
A atividade investigatória não é exclusiva da Polícia Judiciária.Com efeito, o próprio Código de Processo Penal, em seu art. 4o, parágrafo único, acentua que a atribuição para a apuração das infrações penais e de sua autoria não excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesmafunção.
 16.1. Comissões Parlamentares de Inquérito: inquéritos parlamentares
De acordo com o art. 58, § 3o, da Carta Magna, as comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
 16.2. Conselho de Controle de atividades financeiras (COAF)
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) foi criado pela Lei n° 9.613/98. Originariamente, estava inserido no âmbito do Ministério da Fazenda. Porém, com o advento da Medida Provisória n. 870, de Iodejaneiro de 2019, referido Conselho passou a funcionarjunto ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Grosso modo, tem a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas, receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilíci tas relacionadas à lavagem de capitais, sem prejuízo da atribuição de outros órgãos e entidades.
 16.3. Inquérito Policial Militar
De acordo com a Constituição Federal (art. 144, § 4o), “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares Percebe-se que a própria Constituição Federal excepciona da atribuição da Polícia Civil a investigação dos crimes militares.
O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação penal (CPPM, art. 9o).
 16.4. Investigação pelo Ministério Público
Na hipótese de o investigado ser membro do Ministério Público, a investigação não é atribuição da polícia judiciária, mas sim do respectivo Procurador-Geral, por força do art. 18, parágrafo único, da LC n° 75/93, e art. 41, parágrafo único, da Lei n° 8.625/93. Portanto, quando o investigado for membro da instituição, não há dúvidas de que sua conduta delituosa deve ser investigada pelo próprio Ministério Público. Portanto, a controvérsia acerca do poder investigatório criminal do Ministério Público diz respeito às infrações penais que não tenham como investigado um membro do Ministério Público.
De um lado, parte da doutrina e dos Tribunais Superiores posicionava-se contrariamente a esse poder investigatório ministerial com base nos seguintes argumentos: a) a investigação pelo Parquet atentaria contra o sistema acusatório, criando um desequilíbrio na paridade de armas; b) a Constituição Federal teria dotado o Parquet do poder de requisitar diligências e a instauração de inquéritos policiais (art. 129, VIII), mas não lhe conferira o poder de realizar e presidir inquéritos policiais;154c) a atividade investigatória seria exclusiva da Polícia Judiciária (CF, art. 144, § Io, IV, c/c art. 144, § 4o); d) não haveria previsão legal de instrumento idôneo para a realização das investigações pelo Ministério Público.
 16.5. Inquérito civil
Dentre as funções institucionais do Ministério Público está a de promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (CF, art. 129). Daí dispor o art. 8o, § Io, da Lei da Ação Civil Pública (Lei n° 7.347/85), que o Ministério Público poderá instaurar, sob sua pre sidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo publico ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
Funciona como um procedimento de natureza administrativa (não jurisdicional), de caráter pré-processual, não obrigatório, presidido pelo representante do Ministério Público, que se destina à colheita de elementos prévios e indispensáveis ao exercício responsável da ação civil pública.162
São duas as finalidades do inquérito civil: a) possibilitar a obtenção de dados e elementos visando instruir eventual ação civil pública; b) evitar o ajuizamento de demandas sem qualquer embasamento fático e/ou jurídico.
 16.6. Termo circunstanciado
No âmbito do Juizado Especial Criminal, não há necessidade de instauração de inquéritos
policiais. Prevê o art. 69, da Lei n° 9.099/95, que a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando as requisições dos exames periciais necessários.165
 16.7. Investigação pela autoridade judiciária
 16.7.1. Inquéritojudicial
Esse inquérito judicial estava previsto na antiga Lei de Falência (Dec.-lei n° 7.661/45, arts. 103 e seguintes), funcionando como um procedimento preparatório para a ação penal, presi dido por um juiz de direito, no qual era assegurado o contraditório e a ampla defesa. A nova lei de falências (Lei n° 11.101/05), no entanto, além de revogar o diploma anterior, não tratou do assunto, razão pela qual se conclui que já não existe mais o denominado inquérito judicial.
Atualmente, se houver prova da ocorrência de crime falimentar, o Ministério Público deve apresentar denúncia, se possuir elementos para tanto, ou requisitar a instauração de inquérito policial, nos termos do art. 187, caput, da Lei n° 11.101/05. O novo regramento vem ao en contro do sistema acusatório, impondo ao juiz um distanciamento das funções investigatórias, reservando-lhe o papel de acudir à fase preliminar apenas quando necessário para a tutela das liberdades fundamentais.
 16.7.2. Revogada Lei das organizações criminosas
Quando entrou em vigor, a Lei n° 9.034/95 (hoje revogada expressamente pela Lei n° 12.850/13) previa em seu art. 3oque a quebra do sigilo de dadosfiscais, bancários, financeiros e eleitorais poderia ser decretada de oficio pelo juiz, ainda na fase investigatoria. Referido dispositivo foi alvo de duras críticas por parte da doutrina, por possibilitar que o magistrado passasse a agir na fase investigatória (juiz inquisidor), auxiliando o trabalho investigatório da Polícia Judiciária e do Ministério Público, o que caracteriza evidente violação ao sistema acusatório e ao princípio da imparcialidade.
 16.7.3. Infrações penais praticadas por magistrados
Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do Magis trado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou Órgão Especial competente para o julgamento, a fim de que se prossiga na investigação (LC 35/79, art. 33, parágrafo único).
A nosso juízo, referido dispositivo deve ser lido à luz da Constituição Federal, que adotou o sistema acusatório em seu art. 129,1, do qual deriva a separação das funções de acusar, defender e julgar, além de reservar ao magistrado, na fase investigatória, o papel de mero garante das regras do jogo, devendo intervir apenas quando provocado para resguardar a proteção a direitos e garantias fundamentais. Ou seja, na fase investigatória, o juiz deve permanecer absolutamente alheio à qualidade da prova em curso, somente intervindo para tutelar violações ou ameaçade lesões a direitos e garantias individuais das partes, ou para resguardar a efetividade da função jurisdicional, quando, então, exercerá atos de natureza jurisdicional.
 16.8. Investigação criminal defensiva
De acordo com o Projeto do novo Código de Processo Penal (Projeto de Lei n° 156/09, art. 13), passará a ser facultado ao investigado, por meio de seu advogado, de defensor público ou de outros mandatários com poderes expressos, tomar a iniciativa de identificarfontes de prova emfavor de sua defesa, podendo inclusive entrevistarpessoas. Tais entrevistas deverão ser precedidas de esclarecimentos sobre seus objetivos e do consentimento das pessoas ouvidas. Como se percebe, como forma de se assegurar a efetiva isonomia entre as partes na persecução penal e o direito de defesa do imputado, o projeto do novo CPP passa a prever a possibilidade de investigação criminal defensiva. Mas o que se entende por tal espécie de investigação?
Segundo André Boiani e Azevedo e Edson Luís Baldan, a investigação defensiva pode ser definida como “o complexo de atividades de natureza investigatória desenvolvido, em qualquer fase da persecução criminal, inclusive na ante judicial, pelo defensor, com ou sem assistência de consulente técnico e/ou investigador privado autorizado, tendente à coleta de elementos ob jetivos, subjetivos e documentais de convicção, no escopo de construção de acervo probatório lícito que, no gozo da parcialidade constitucional deferida, empregará para pleno exercício da ampla defesa do imputado em contraponto a investigação ou acusações oficiais”.
 16.9. Investigação por detetive particular (Lei n. 13.432/17)
Em vigor desde o dia 12 de abril de 2017, a Lei n. 13.432 passou a dispor sobre o exercício da profissão de detetive particular, assim considerado “o profissional que, habitualmente, por conta própria ou na forma de sociedade civil ou empresarial, planeje e execute coleta de dados e informações de natureza não criminal, com conhecimento técnico e utilizando recursos e meios tecnológicos permitidos, visando ao esclarecimento de assuntos de interesse privado do contratante” (art. 2o). A regulamentação da matéria é complementada pelo Decreto n. 50.532/61 e pela Lei n. 3.099/57, que não foram revogados pela Lei n. 13.432/17.
 17. ACORDO DE NÃO-PERSECUÇÃO PENAL
 17.1. Conceito e previsão normativa
Na sistemática adotada pelo art. 18 da Resolução n. 181 do CNMP, com redação dada pela Resolução n. 183/18, cuida-se de negócio jurídico de natureza extrajudicial, necessariamente homologado pelo juízo competente, celebrado entre o Ministério Público e o autor do fato deli tuoso - devidamente assistido por seu defensor - , que confessa formal e circunstanciadamente a prática do delito, sujeitando-se ao cumprimento de certas condições não privativas de liberdade, em troca do compromisso do Parquet de promover o arquivamento do feito, caso a avença seja integralmente cumprida.
Como se pode notar, há um reconhecimento da viabilidade acusatória, já que o investigado se vê obrigado a confessar circunstanciadamente a prática do delito. Nesse aspecto, o acordo diferencia-se de outros institutos de Justiça negociada existentes no nosso ordenamento jurídico, como, por exemplo, a transação penal e a suspensão condicional do processo, que não exigem a confissão. No entanto, à semelhança destes, a aceitação e cumprimento do acordo não causam reflexos na culpabilidade do investigado.
 17.2. (In) constitucionalidade do art. 18 da Resolução n. 181 do CNMP
A melhor forma para a criação do acordo de não-persecução penal seria a aprovação de lei nesse sentido pelo Congresso Nacional. Disso não temos dúvida. Todavia, ante a inércia do Poder Legislativo em aprovar o Projeto de Lei n. 513/2013 do Senado Federal, que versa exatamente sobre o acordo, o Conselho Nacional do Ministério Público deliberou por aprovar a regulamentação da matéria através do art. 18 da Resolução n. 181. E é exatamente isso que será objeto de grande controvérsia: poderia uma Resolução do CNMP tratar do assunto?
Vejamos, separadamente, as duas correntes acerca da controvérsia, e seus respectivos argumentos:
a) Inconstitucionalidade do art. 18 da Resolução n. 181 do CNMP: de acordo com a Constituição Federal (art. 22,1), compete à União legislar sobre Direito Processual. É evidente que o art. 18 da Resolução n. 181 do CNMP versa sobre matéria processual, porquanto introduz no ordenamento verdadeira exceção ao princípio da obrigatoriedade. Se se trata de matéria atinente à ação penal, tal matéria jamais poderia ser objeto de criação por uma Resolução do Conselho Nacional do Ministério Público, órgão de natureza administrativa,178até mesmo porque é a própria Constituição Federal que confere ao Ministério Público, dentre suas funções institu cionais, a de promover, privativamente, a ação penal pública, naforma da lei (CF, art. 129,1).
 17.3. Requisitos para a celebração do acordo de não-persecução penal
Consoante disposto no art. 18 da Resolução n. 181 do CNMP, com redação dada pela Resolução n. 183/2018, a celebração do acordo de não-persecução penal está condicionada à observância dos seguintes requisitos:
a) Infração penal à qual seja cominada pena mínima inferior a 4 (quatro) anos: para aferição da pena mínima cominada ao delito, devem ser levadas em consideração as causas de aumento e diminuição de pena aplicáveis ao caso concreto (art. 18, §13, da Resolução n. 181 do CNMP);
b) Infração penal cometida sem violência ou grave ameaça à pessoa: conquanto o caput do art. 18 da Resolução n. 181 do CNMP faça uso da expressão crime não cometido com violên cia ou grave ameaça à pessoa, não há razão lógica para não se permitir a avença nos casos de contravenções penais. Nesse caso, é bem provável que seria cabível a transação penal. Logo, como este instituto despenalizador tem preferência sobre o acordo de não persecução penal (Resolução n. 181 do CNMP, art. 18, §1°, I), não haveria por que se cogitar da celebração desse negócio jurídico. Porém, na eventualidade de a contravenção penal não admitir a transação penal, parece-nos não haver óbice à celebração do acordo, sob pena de manifesta violação ao princípio da isonomia;
c) Não ser caso de arquivamento do procedimento investigatório: o acordo de não-perse cução penal só deve ser celebrado quando se mostrar viável a instauração do processo penal. Por conseqüência, se o titular da ação penal entender que o arquivamento é medida de rigor, não poderá proceder à celebração do acordo. O CPP silencia acerca das hipóteses que autori zam o arquivamento do procedimento investigatório. Não obstante, é possível a aplicação, por analogia, das hipóteses de rejeição da peça acusatória e de absolvição sumária, previstas nos arts. 395 e 397 do CPP, respectivamente. Destarte, as hipóteses que autorizam o arquivamento são as seguintes: I) ausência de pressuposto processual ou de condição para o exercício da ação penal; II) falta de justa causa para o exercício da ação penal; III) atipicidade da conduta; IV) existência manifesta de causa excludente da ilicitude; V) existência manifesta de causa excludente da culpabilidade, salvo a inimputabilidade do art. 26, caput, do CP; VI) existência de causa extintiva da punibilidade.
 17.4. Condições a serem impostas ao investigado
Para que o acordo seja celebrado, o investigado deverá assumir o dever de cumprir certas condições, de forma cumulativa ou não. Não se trata de pena, justamente por faltar uma das características fundamentais de toda e qualquer pena, qual seja, a imperatividade. Em outras palavras, em se tratando de pena, o Estado pode impor coercitivamente o seu cumprimento, pouco importando a voluntariedade do condenado. No acordo denão persecução penal, o investigado voluntariamente se sujeita ao cumprimento de certas condições não privativas de liberdade, que, se cumpridas, esvaziam o interesse processual no manejo da ação penal, dando ensejo ao arquivamento do procedimento investigatório. Enfim, como não há imputação (denúncia), nem tampouco, consequentemente, processo penal, não há e nem poderia haver a imposição de pena.
Essas condições necessariamente deverão ser não privativas de liberdade, versando sobre prestações claramente disponíveis (v.g., reparação do dano, renúncia a instrumentos do crime, etc.). Inserem-se, assim, na dicção da doutrina, “no âmbito de liberdade, de disponibilidade, que o investigado detém na celebração de negócios jurídicos. Afinal, todos os dias são firma dos contratos com esses objetivos, como se pode ver dos contratos de trabalho ou contratos de compra e venda, por exemplo”.
 17.5. Controle jurisdicional
Em sua redação original, o art. 18 da Resolução n. 181 do CNMP não previa nenhum tipo de controle jurisdicional prévio à celebração do acordo de não-persecução penal. Na con tramão de outros institutos semelhantes, como, por exemplo, a composição civil dos danos (Lei n. 9.099/95, art. 74, caput), a transação penal (Lei n. 9.099/95, art. 76, §4°), a suspensão condicional do processo (Lei n. 9.099/95, art. 89, §1°) e a própria colaboração premiada (Lei n. 12.850/13, art. 4o, §7°), o acordo de não-persecução penal não contava com nenhum tipo de controle jurisdicional prévio. Na verdade, a intervenção judicial se dava tão somente após o cumprimento do acordo, quando caberia ao Ministério Público a promoção do arquivamento do procedimento investigatório perante o juízo competente nos termos do art. 28 do CPP. Corria-se o risco, assim, de o indivíduo cumprir todas as condições pactuadas com o Ministério Público, mas não receber, ao final, o que lhe fora prometido como prêmio legal, a saber, o arquivamento do procedimento investigatório. Afinal, como o magistrado não participara da homologação do acordo, não estava vinculado ao quanto pactuado entre o investigado e o Ministério Público.
 17.6. Descumprimento injustificado das obrigações assumidas pelo investigado
Uma vez celebrado o acordo de não-persecução penal, o Ministério Público deixará de oferecer denúncia contra o investigado. Para tanto, é intuitivo que o agente cumpra todas as obrigações por ele assumidas por ocasião da avença. Não o fazendo, estará sujeito ao ofere cimento de denúncia, à semelhança do que já ocorre com o descumprimento injustificado da transação penal (súmula vinculante n. 35). É exatamente nesse sentido o teor do art. 18, §9°, da Resolução n. 181 do CNMP: “Descumpridas quaisquer das condições estipuladas no acordo ou não observados os deveres do parágrafo anterior, no prazo e nas condições estabelecidas, o membro do Ministério Público deverá, se for o caso, imediatamente oferecer denúncia”.
 17.7. Cumprimento integral do acordo de não persecução penal
Cumprido integralmente o acordo, o Ministério Público promoverá o arquivamento da investigação. Conquanto a resolução não seja explícita quanto ao fundamento para esse ar quivamento, a ideia é que, uma vez cumpridas as condições, esvazia-se o interesse processual no manejo da ação penal, tendo em conta que já estaria suficientemente satisfeita a pretensão punitiva estatal em virtude do cumprimento das obrigações a que se sujeitou o investigado. Na hipótese de arquivamento do procedimento investigatório criminal, ou do inquérito policial, quando amparado em acordo de não-persecução penal, a promoção de arquivamento será ne cessariamente apresentada ao juízo competente, nos moldes do art. 28 do CPP.

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