Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hipertireoidismo AULA 9 - 09/03/2021 Endócrino Yasmin Pelógio de Macêdo Definição Refere-se ao aumento da síntese e liberação dos hormônios tireoidianos pela glândula tireoide Tireotoxicose refere-se a síndrome clínica decorrente do excesso de hormônios tireoidianos circulantes, secundário à hiperfunção da glândula tireoide ou não Doença de Graves A causa mais comum de hipertireoidismo é a Doença de Graves (autoimune) - Incidência de 20-50 casos/100.000 habitantes - O pico da incidência é entre 30-50 anos Como é a fisiopatologia? • Apresentação do antígeno tireoidiano pelas células apresentadoras de antígeno (HLA) • Estímulo à ação das células T, que estimulam por consequência os linfócitos B a se diferenciarem em plasmócitos • Plasmócitos produzirão anticorpos estimulatórios >> anti-TSH • Há uma hiperativação das células tireoidianas e secreção dos hormônios produzidos pela tireoide >> Aumento do metabolismo basal • Assim como ocorre na doença de Hashimoto (hipotireoidismo), o predomínio da resposta é imune humoral Dignósticos Diferenciais • Adenomas tóxicos (único - Doença de Plummer ou múltiplos) >> exame pela cintilografia demonstra apenas uma região hiperativada/hipercaptante secretando hormônios tireoidianos, o TSH é altamente suprimido, mas a glândula em si não produz hormônios, apenas a região do adenoma, as células do adenoma são independentes da ação do TSH devido à mutação ocorrida Bócio Multinodular Tóxico - Geralmente mais comum em idosos - Bócio de longa duração - Hipertireoidismo mais leve - TRAb negativo - Sem oftalmopatia - Bócio multinodular Adenoma Tóxico - Adultos jovens - Limitado a um único nódulo - Hipertireoidismo mais leve - Palpação e USG: nódulo > 3 cm - Pode causar T3 tireotoxicose - TRAb negativo - Mecanismo: mutações somáticas no receptor de TSH Obs.: Causas mais incomuns, predomínio é da Doença de Graves • Patologias não tireoidianas >> sintomas similares ao hipertireoidismo: Menopausa, ansiedade, síndrome do pânico, uso de cocaína ou de anfetaminas, feocromocitoma • Importante lembrar que assim como o hipotireoidismo pode ser causado pelo excesso de iodo, o hipertireoidismo também pode ser causado por excesso de iodo (o excesso de iodo causa mais comumente hipotireoidismo) Tireoidites A tireoidite pode desencadear um hipertireoidismo permanente - Dolorosas: Tireoidite Subaguda/ Granulomatosa/ de Quervain; Tireoidite infecciosa supurativa (stafilo ou strepto, a função tireoidiana é normal, mas pode haver tireotoxicose); Tireoidite por radioiodo (dor cervical 5-10 dias após a exposição ao radioiodo para tratamento da DG, com exacerbação do hipertireoidismo); Tireoidite pela palpação ou por trauma local - Não dolorosas: Tireoidite silenciosa ou linfocítica (deve ser considerada como a causa do hipertireoidismo em qualquer pessoa com menos de 2 meses de sintomas, sem bócio); Tireoidite pós- parto (ocorre até 1 ano após o parto, em 8-10% das gestações); Tireoidite por drogas (ex: Amiodarona - mais frequentemente causa hipotireoidismo - mas pode haver hipertireoidismo/tireoidites, tipo I: ocorre em paciente com doenças subjacentes tireoidianas que se expõe à droga, causando produção excessiva do hormônio tireoidiano; tipo II: tireoidite destrutiva, com liberação dos hormônios tireoidianos) Como avaliar inicialmente o paciente com tireotoxicose? >>> Anamnese - O tempo de início dos sintomas - Uso de medicamentos - Exposição ao iodo (realização de exames com contraste iodado ou uso de compostos com alto teor de iodo) - História familiar de doença autoimune de tireoide >>> Exame Físico - Peso - PA (hipertensão sistólica) e FC (geralmente aumentada) - Sinais oculares como retração palpebral, olhar fixo e sinal de lid-lag - A presença de sinais como hiperemia conjuntiva e palpebral, edema palpebral, quemose (inchaço da conjuntiva), paralisia de músculos extraoculares ou exoftalmia >> Oftalmopatia de Graves - No quadro de tireotoxicose, a pele geralmente é quente e úmida - Tremor fino de extremidades, fraqueza muscular proximal e hiperreflexia são achados frequentes - Bócio de tamanho variado é geralmente observado na doença de Graves (DG) e no bócio multinodular tóxico (BMNT) Manifestações Clínicas • Pele: sudorese excessiva, pela calorigênese aumentada; onicólise; hiperpigmentação; vitiligo e alopécia • Cardíaca: elevação da FC; aumento da pressão sistólica, podendo culminar com ICC com FE normal ou elevada; além do risco de arritmias, principalmente a FA em idosos • Metabólicas: diminuição das frações de HDL e LDL; hiperglicemia • Respiratórias: dispneia aos esforços • TGI: Perda de peso, devido ao aumento do metabolismo; aumento do trânsito intestinal; hiperfagia ou anorexia, principalmente nos idosos • Hematológica: anemia dilucional; estado protrombótico (risco de trombose) • Gônadas: aumento da SHBG, com redução da fração livre dos hormônios gonadais e aumento da aromatização no homem na periferia (ex: ginecomastia) • Ossos: aumento da reabsorção óssea, com risco de osteoporose • Psiquiátrica: transtorno de personalidade e de comportamento, elevando risco para psicose, depressão ou agitação Como ocorre a oftalmopatia de Graves? Há um infiltrado inflamatório, com presença de fibroblastos orbitários, miofibroblastos, adipócitos >> aumento da produção de ácido hialurônico e de glicosaminoglicanos (MEC) >> inflamação + edema >> na região periorbital >> exoftalmia + hiperemia conjuntiva + edema palpebral Como avaliar? Exoftalmometria é útil para medir o tamanho dos olhos em relação à órbita e para acompanhar se está havendo aumento ou regressão da proptose Obs.: Avaliação para saber se a oftalmopatia está ativa (início recente) ou se já é crônica a partir da pontuação obtida nos escores Manifestações Cutânea: avanço da doença • Edema pré-tibial (Mixedema): semelhante ao infiltrado inflamatório promovido pelos fibroblastos na oftalmopatia • Baqueteamento digital • Linfedema Diagnóstico Laboratorial - Nos pacientes com suspeita clínica de tireotoxicose, a avaliação inicial consiste na determinação dos níveis séricos do TSH e dos hormônios tireoidianos - A determinação dos níveis de TSH, por meio da metodologia ultrassensível (sensibilidade funcional < 0,02 mUI/L), é o método mais sensível para diagnóstico da tireotoxicose (primeiro TSH suprimido, para depois aumentar os níveis de T3 e T4) - Em fases iniciais da DG ou do adenoma funcionante, pode ocorrer aumento isolado de T3, condição cínica denominada de “T3-tireotoxicose” - Captação de Iodo (131I ou 123I): é útil no diagnóstico diferencial da causa da tireotoxicose, especialmente para diferenciar as tireoidites da DG e do BMNT. É contraindicada na gestação e na lactação (risco D) - A dosagem do anticorpo antirreceptor do TSH (TRAb) é raramente necessária para o diagnóstico do hipertireoidismo de Graves, sendo indicada apenas em casos selecionados - Como regra, considera-se adequado determinar os níveis de TRAb em gestantes com DG ou história médica pregressa de DG para avaliação do risco de tireotoxicose neonatal por passagem transplacentária dos anticorpos Tratamento O tratamento é inicialmente sintomático para suspeita ou diagnóstico de tireotoxicose Betabloqueadores - Esses medicamentos diminuem a FC, a PA, tremores, a habilidade emocional e a intolerância aos exercícios - O betabloqueador não seletivo - propanol - é o mais utilizado (de 20 a 80mg/dia) ou atenolol (mais seletivo, de 50 a 100mg/dia) Metimazol e Propiltiouracil • Inibem a tireoperoxidase e bloqueiam a síntese dos hormônios tireoidianos • A droga antitireoidiana possui também uma ação imunossupressora • O propil inibe também a conversão periférica do T4 em T3 • Ambas drogas cursam com recorrência de 40-50% após a suspensãodas mesmas • Não se usa em pacientes com tireotoxicose por tireoidite! • Posologia: - Metimazol (Tapazol) (5 a 10mg se T4L estiver 1-1,5x o limite superior: 10 a 20 mg se T4L estiver 1,5-2x o limite superior; 30 a 40mg se T4L estiver 2-3x o limite superior) - Propiltiouracil: 50 a 100mg- 3x/dia, dependendo da severidade do hipertireoidismo • Por que não usar o propiltiouracil? - Hepatotoxicidade (27% apresentam elevação das transaminases e pode causar hepatite fulminante) - Usar somente no primeiro trimestre da gestação - Talvez usar na crise tireotóxica (por inibir a conversão de T4 em T3) Como é a monitorização da terapia? • A medida do T4L e T3 total deve ser obtida 2-6 semanas após o início da terapia, dependendo da severidade da tireotoxicose. O T3 total deve ser avaliado junto com T4L, pois pode ficar elevado mesmo após a normalização do T4L. O TSH pode ficar suprimido vários meses após a terapia • Atingindo o eutireoidismo, a dose do ATD (antitireoidiano) pode ser reduzida em 30-50%, e o teste da função tireoidiana repetido em 4-6 semanas • A monitorização não deve ser a partir do TSH, pois ele se mantém suprimido por muito tempo (o TSH é monitorado no controle do hipotireoidismo) • Após 12-24 meses de tratamento, a DAT deve ser descontinuada Efeitos adversos dos antitireoidianos • Rash cutâneo, prurido, urticária ou artralgia • Efeitos colaterais graves: poliartrite grave, agranulocitose, anemia aplástica e trombocitopenia, hepatite tóxica (PTU), vasculares, síndrome lúpus-like, hipoprotrombinemia (PTU), hipoglicemia (MMI) • A agranulocitose é o mais frequente dos efeitos colaterais graves, ocorrendo em 0,5% dos pacientes em uso de DAT. Desse modo, ao iniciar o tratamento, o paciente deve ser orientado a procurar o médico se apresentar febre, odinofagia ou lesões na mucosa oral Radioiodo • Promove alívio dos sintomas dentro de poucas semanas • As drogas antitireoidianas devem ser suspensas 5-7 dias antes da sessão • Pode agravar a oftalmopatia • Pode cursar com hipotireoidismo permanente em parcela significativa dos pacientes • O 131I é indicado como primeira escolha terapêutica nos casos de pacientes com contra-indicações para uso de DAs e/ou cirurgia, ou recidiva do hipertireoidismo após tratamento com DAT • Contraindicações: na gestação e lactação, na presença de lesão suspeita ou confirmada de câncer de tireoide, e em mulheres com planos de gestação em período inferior a 4 a 6 meses Cirurgia • Antes de se planejar a cirurgia, o paciente deve estar com concentrações normais dos hormônios tireoidianos • Tratamento com lugol 1 semana da cirurgia para a ajudar a controlar a função tireoidiana e reduzir o fluxo sanguíneo tireoidiano • Uma boa opção para bócios volumosos, mulheres que querem engravidar mais rapidamente ou quem não deseja usar drogas antitireoidianas por longos períodos Hipertireoidismo Subclínico • Em pessoas com 65 anos ou mais, e com HISC grau I, TSH não tão suprimido (TSH 0,1 a 0,44), o ideal é realizar o tratamento com DAT! (Risco de arritmias), ou em pacientes com comorbidades (risco CDV ou osteoporose), ou com sintomas sugestivos • Pessoas sem comorbidades, com TSH não tão suprimido = não trata!
Compartilhar