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AULA 3 GESTÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS Profª Andréa Arruda Vaz 2 CONVERSA INICIAL Seja bem-vindo(a)! Neste módulo revisitaremos, de forma mais aprofundada, algumas temáticas abordadas anteriormente. Calma – não vamos repetir o assunto, mas ir além em nossa discussão e agregar temas que, naquele momento, não foram explorados pois você não possuía uma base de conhecimento a respeito do tópico. Logo, neste módulo trabalharemos de forma mais aprofundada os conflitos que decorrem da Era do Conhecimento e da tecnologia, assim como teremos contato com o que há de novidade para a solução de conflitos. Os principais objetivos são formá-lo para resolver os mais diversificados conflitos, nos mais diversos setores e segmentos empresariais. Vamos além dos métodos já apresentados e abordaremos algumas inovações que podem ser muito úteis no contexto empresarial. Ademais, a Era da Tecnologia está integralmente atrelada à ideia de surgimento de novos conflitos e de novos paradigmas conflituais. Ao direito e à sociedade cabe elaborar novas formas de solução de conflitos, assim como formas de prevenção de conflitos. Conforme adiante veremos, atualmente até a forma como se vê o direito fundamental ao acesso à justiça mudou de paradigma e incentiva a solução restaurativa e consensual dos conflitos. Excelente módulo! CONTEXTUALIZANDO A democratização da tecnologia, a liberdade de acesso à informação e, enfim, a Era do Conhecimento emergem em um rol amplo e infindo de conflitos, que a todo tempo se transformam e por vezes aumentam a complexidade e até mesmo a quantidade de conflitos. A sociedade como um todo, inclusive o Poder Judiciário, os advogados e a sociedade civil, tem buscado aperfeiçoar e inovar nas formas de soluções e, ainda mais, da prevenção ao conflito. Ademais, mais importante que resolver o conflito é combater o conflito, evitar seu surgimento. As técnicas usuais de solução de conflitos, como a conciliação, mediação, arbitragem e a judicialização, já não estão conseguindo resolver os conflitos da sociedade como um todo; logo, é necessário ir além. Assim, desenvolvem-se novas práticas e formas de tentar reduzir as lides e os embates, principalmente no meio empresarial. Ademais, um conflito pode 3 destruir um setor e até mesmo levar à ruína uma empresa inteira. Um conflito societário, por exemplo, pode trazer consequências trágicas para a saúde financeira e estrutural da sociedade. O combate à existência de conflito e técnicas que evitam que conflito se estruture podem ser a solução empresarial que proponha crescimento e uma consolidação. A prática da avaliação neutra (neutral evaluation) tem sido utilizada com frequência, principalmente em grandes empresas e departamentos. Tal técnica consiste na contratação, unilateral ou bilateral, de especialista no assunto, que emitirá uma opinião ou decisão, de acordo com o pactuado livremente entre as partes. Tal prática por vezes evita que o conflito apareça e, se surgir, na maioria das vezes será resolvido internamente entre as partes. A prática da facilitação do diálogo também tem sido uma técnica bastante estudada, assim como a implementação de comitês internos para solução de conflitos. Assim, as partes resolvem seus conflitos internamente à organização ou entre partes. O diálogo é o grande referencial quando se fala em solução de conflitos. Habilidades dialogais o destacam para outro patamar quando o assunto é a gestão de conflitos. Os métodos de solução de conflitos extrajudiciais e pacíficos são o futuro quando o assunto é conflito? É correto afirmar que o Estado já não consegue atender às demandas, tanto que já incentiva a solução pacífica de conflitos? Com isso existe a necessidade de formação de mediadores e gestores mediadores de conflitos corporativos. Pessoas que são formadas e treinadas para buscar soluções para os mais diversificados conflitos. A capacitação é a maior arma de quem almeja solucionar conflitos. Este profissional será o diferencial da empresa ou do departamento. A sensibilidade e a capacidade extraordinária de solucionar conflitos fará com que você se torne um profissional de ouro no mercado de trabalho!!! TEMA 1 – O CONHECIMENTO E A CULTURA DA DOMINAÇÃO Conforme abordagem inicial nos tópicos anteriores, a Era do Conhecimento trouxe uma ideia de imediatismo para as pessoas, para a sociedade e inclusive para o ambiente profissional e corporativo. A relação com o tempo sofreu alterações e, no momento atual, parece que as pessoas já não possuem tempo, correm a todo instante, acessam milhares de informações diariamente. 4 Existe na sociedade atual uma necessidade diária de conhecimento, e os embates são quase diários, principalmente no ambiente empresarial. Esse embates envolvem as mais diversas situações, desde comportamento, erros de comunicação e cultura até preceitos éticos e morais. As organizações não conseguem proibir a utilização e o acesso à internet durante o expediente. Até porque muitas vezes essa é uma ferramenta de trabalho. Um exemplo clássico enfrentado pelo Departamento de Recursos Humanos e por outros departamentos é o trabalhador que utiliza as redes sociais e navega na internet durante o expediente, prejudicando o andamento da equipe e por vezes de todo um departamento. Vejamos o exemplo a seguir. 1.1 Conflito 1: quando o empregado passa o dia na rede (conflito inerente à Era do Conhecimento) Agora, se o empregado passa o dia nas redes sociais, em páginas e aplicativos que nada têm a ver com as atividades que realiza na empresa, esta deve tomar providências. Imagine que, ao ser abordado, o empregado afirma que possui um pai idoso em casa e que precisa manter contato com a família, pois pode ser solicitado em uma emergência médica, a qualquer tempo. Quais providências tomar? A primeira providência se constitui numa conversa, franca e transparente, realizada pelo gestor ou até mesmo pelo profissional do RH, impondo limites à comunicação com seu familiar doente ou com quem dele cuide. Entender e se colocar no lugar do outro é uma premissa necessária para se solucionar conflitos. A empresa deve estabelecer metas e a implementação de avaliações regulares, que podem detectar se o empregado consome tempo nas redes sociais e aplicativos não utilizados no trabalho. Em persistindo a queda na produtividade e o desinteresse do empregado, a empresa/departamento de RH deverá tomar as providências, talvez no modo mais traumático, qual seja o desligamento do empregado. Ademais, deve haver um equilíbrio de interesses e ambas as partes podem conciliar tranquilamente; porém, se houver abusos em nome de um familiar doente, aí sim os limites éticos e de bom senso são ultrapassados. Ao gestor cabe a tarefa de cuidar para que determinado tipo de comportamento não prejudique todo o andamento do setor. Ainda, outro fator que 5 essa situação pode desencadear é um desestímulo em toda a equipe, assim como uma ideia de que é normal agir assim. É a ideia da aceitação do comportamento como correto. Por isso, fique atento! Isso pode afetar diretamente a sua equipe e consequentemente a sua carreira, uma vez que o gestor será cobrado pelo desempenho global do setor. A cultura de dominação ainda é muito presente nos ambientes corporativos, possui traços de desigualdade e unilateralidade com posturas e atuações verticalizadas. Aqui se sugere a leitura integral do artigo: “Max Weber e os três tipos puros de dominação legítima”, disponível na seção de Leitura Obrigatória. É uma leitura muito enriquecedora, você vai gostar! Ao contrário da cultura da dominação, a cultura de paz e de prática dos direitos humanos se funda em relações horizontalizadas e na prevalência do sentimento de igualdade e autonomia da vontade. Aqui se busca o compartilhamento de saberes e a prática da negociaçãocooperativa, com ganhos mútuos. A Era do Conhecimento traz uma perda relativa da eficácia dos instrumentos de força, segundo Vasconcelos (2017, p. 36), com o predomínio das relações mais horizontalizadas e prevalência do diálogo, da negociação e da mediação do conflito. Enfim, a Era do Conhecimento introduz no ambiente corporativo uma necessidade de se solucionar os conflitos pautados em novos instrumentos e no diálogo como o grande instrumento de solução. Ademais, para evitar a proliferação dos conflitos e se dirigir a uma evolução para a violência, faz-se necessária a busca pela aplicabilidade de uma cultura e um diálogo de paz. A cultura da paz será abordada de forma mais verticalizada nos tópicos a seguir. É importante entender que o modo como se lida e como se busca a solução do conflito é o que o torna construtivo ou destrutivo. Em processos construtivos as relações sociais existentes anteriormente ao conflito são fortalecidas, sendo a recíproca verdadeira, segundo Vasconcelos (2017, p. 25, citando Morton Deutsch). Ao profissional de Recursos Humanos incumbe a tarefa de condução desses processos conflituosos e, na maioria das vezes, a gestão e mediação do conflito. O departamento de Recursos Humanos é o setor a que o empregado se dirige para buscar as mais diversas informações, tais como: folha de pagamento, 6 benefícios, promoções, entre outras questões efetivamente relacionadas ao departamento. Mas também é comum o empregado buscar nesse setor informações a respeito de medicina e segurança no trabalho, modus operandi do seu gestor, tratamentos e conflitos do setor em que trabalha e inclusive relatar dificuldade de relacionamento interpessoal com colegas e gestores. TEMA 2 – TECNOLOGIA, O SURGIMENTO DE NOVOS PARADIGMAS CONFLITUAIS E NOVAS FORMAS DE ACESSO À JUSTIÇA Neste tópico abordaremos o efeito das novas tecnologias e da Era do Conhecimento no surgimento de novos e complexos conflitos. Ainda, trabalharemos a forma como o próprio Poder Judiciário vem atuando no incentivo e implementação de novas técnicas para prevenir e resolver os conflitos. De acordo com Vasconcelos (2017, p. 22), “prevenir a violência equivale a compreender e humanizar o dilema desse violento potencial que há em nós”. O ser humano, com variáveis para mais ou para menos a depender de uma série de fatores (entre eles a cultura em que se vive), pode ser mais ou menos violento. Existem sociedades em que o índice de violência é de todo alta, porém em outros aglomerados, a forma como as pessoas se relacionam, as crenças e outros fatores reduzem quantitativamente os atos de violência. Segundo o mesmo autor, as relações conflituosas devem ser compreendidas como de “condicionamentos relacionais, sociais, econômicos, culturais, sem maniqueísmo ontológico das posições excludentes” (Vasconcelos, 2017, p. 41). As condições do conflito estão diretamente relacionadas ao contexto econômico, social, cultural, além de outras possibilidades a depender de outros fatores. Ademais, não há excludentes quando se trata de possibilidades de conflitos. As teias de conflitos (ou o conflito em si) “podem ser compreendidas e facilitadas mediante processos construtivos, que acolhem o modo de problematizar, pensar e concretizar o atendimento de necessidades comuns e contraditórias” (Vasconcelos, 2017, p. 41). Conforme já mencionamos anteriormente, o século XXI demanda uma nova roupagem quanto às formas de solução de conflitos, e inclusive a legislação tem que se adequar. Um exemplo clássico é o novo Código de Processo Civil, que entrou em vigor em 2015. Logo nos primeiros artigos o Código traz uma série de 7 possibilidades de solução pacífica e até restaurativa para os conflitos. Agora está sedimentado que o Poder Judiciário, as partes e a sociedades devem expender esforços para resolver pacificamente os conflitos. Assim, abre-se o que se chama de sistema multiportas de solução de conflitos. Segundo Vasconcelos (2017, p. 84), os métodos de solução de conflitos de forma consensual devem ser estimulados por todos os operadores do direito, quais sejam juízes, promotores, advogados e servidores. Atualmente existem inclusive consequências para quem litiga de forma desenfreada ou temerária. Exemplo é a aplicação de honorários de sucumbência para quem perde a demanda ou até mesmo a condenação para quem litiga de má-fé, em multa por litigância de má-fé e reparação dos danos causados. Outro aspecto para desestimular e reduzir os conflitos é a elaboração de súmulas e enunciados pelos Tribunais incentivando a solução pacífica de litígios em todas as esferas judiciais. Segundo Vasconcelos (2017, p. 85), a assunção, pela sociedade, do papel de protagonista na solução amigável ou arbitral de questões, inclusive, no campo penal, as mediações vítima-ofensor e os círculos restaurativos, é o aspecto desse desenvolvimento de acesso à justiça que melhor reflete o desenvolvimento de uma consciência de cidadania ativa no jogo democrático, conflituoso e pluralista. Para a implementação de tal consciência, o Poder Judiciário, que é quem recebe a maior quantidade de conflitos da sociedade atualmente, deve ser treinado e preparado para atuar e incutir nas partes uma consciência de paz. Para isso os servidores e magistrados devem ser capacitados para dedicar mais tempo a atividades de facilitação e de abertura das partes para o diálogo e a compreensão, aprender a ouvir, entre outras ferramentas que devem ser aperfeiçoadas. Só assim o Poder Judiciário estará preparado para acolher os conflitos e proporcionar às partes uma consciência de que a melhor solução é o consenso e a busca por se viver em paz. O desenvolvimento de práticas para um diálogo e de discursos e narrativas pacificadoras atualmente integra um rol de possibilidades quando o tema é a solução restaurativa e pacífica de conflitos. A ideia é o deslocamento do paradigma de que somente ao juiz é dada a autoridade para dizer o direito e resolver, por vezes, a vida de outrem. A ideia é de que cada cidadão seja o próprio ator central na solução dos seus conflitos, porém de uma forma edificadora e restaurativa. Na busca desse novo paradigma para a solução de conflitos, a advocacia tem um papel relevante 8 e importante. Assim, tem-se buscado o desenvolvimento de uma advocacia colaborativa, o que, segundo Vasconcelos (2017, p. 86-87), forma a dimensão dialogal do direito. Tal perspectiva se funda num discurso persuasivo e compreensivo de mediação e negociação. O desenvolvimento desse diálogo e da busca pelo consenso leva o advogado a desenvolver uma advocacia pautada numa justiça dialogal, segundo o mesmo autor (Vasconcelos, 2017), com métodos de mediação transformadora do conflito e da própria cidadania. Uma sociedade capaz de gerir e superar seus próprios conflitos pelo diálogo, maturidade e consciência de uma perspectiva de se viver em paz e respeitando um ao outro certamente será uma sociedade em que os conflitos se tornarão cada vez mais escassos. Em tempos de tecnologia e conhecimento, é ainda um sonho um pouco distante, mas jamais impossível. Assim, a Ordem dos Advogados do Brasil vem se envolvendo e estimulando os advogados a se envolverem em novas práticas, até mesmo para mudar o estigma de que o advogado é extremamente litigante. A percepção de que na realidade o cliente precisa mesmo é da solução do conflito faz com que o advogado repense sua atuação. Ainda, o Poder Judiciário, na Jornada de Prevenção e Solução Extrajudicial de Litígios, conforme menciona Vasconcelos (2017, p. 88-89), elaborou o Enunciado n. 55, em 2016, que versa que o Poder Judiciário e a sociedade civil deverão fomentar a advocacia colaborativa. No âmbito empresarial e da gestão de negócios, podemos mencionar algumas vantagens de práticas colaborativas. A primeira vantagem de sepraticar uma cultura empresarial colaborativa e pautada no diálogo é a redução de custos, sejam eles financeiros, relacionados ao tempo ou a dispêndio de vida, efetivamente. Ainda, a prática empresarial colaborativa evita conflitos judiciais, já que a maioria deles se resolve pelo diálogo e entrosamento entre as partes, inclusive reconstruindo e preservando os relacionamentos e o desenvolvimento interpessoal. Para a empresa, o diálogo e a prática colaborativa oferecem sigilo, pois seu conflito não será exposto publicamente perante o Poder Judiciário. As partes é que controlam o conflito e tomam a frente de suas decisões. Para a empresa há ainda a vantagem de se administrar o risco, buscar desenvolver práticas de respeito e colaboração entre as partes, com um diálogo 9 mais próximo, transparente e leal. Ademais, as partes por si só ou com ajuda de um terceiro especializado é que conduzem o conflito. Ainda, as partes podem se voltar para a solução do conflito sob o viés dos negócios e numa perspectiva negocial e empresarial, pautando os interesses e preocupações efetivamente necessários com o foco na melhor solução para o problema. TEMA 3 – A PRÁTICA DA AVALIAÇÃO NEUTRA (NEUTRAL EVALUATION) E FACILITAÇÃO DE DIÁLOGOS A avaliação neutra (neutral evaluation) tem sido frequentemente utilizada no meio empresarial. Tal instituto se constitui em uma emissão de opinião, perícia ou até mesmo arbitragem não vinculativa (Vasconcelos, 2017, p. 71). Esse procedimento é contratado pelas partes e o profissional é escolhido pelas partes ou pela parte interessada. Este método é bastante utilizado no meio empresarial como preventivo de litígios, pois inúmeros litígios podem ser evitados a partir de uma exposição profissional dos riscos e da circunstância a que a parte ou as partes estão expostas. Este método não é vinculativo, porém é possível que as partes, logo em sede de pré-solução de controvérsia, ajustem-se e até mesmo acatem a orientação proferida pelo profissional contratado. Tal procedimento, além de altamente preventivo, possui como vantagem a redução de tempo, custo e desgastes. A avaliação neutra preliminar (early neutral evaluation) é conhecida como avaliação imparcial e acontece de modo antecipado aos métodos tradicionais de resolução de controvérsias. A parte, antes de iniciar uma demanda judicial ou antes de buscar ajuda para a solução extrajudicial (seja pela mediação, conciliação ou arbitragem), busca a oitiva de um especialista, que opinará a respeito do caso concreto. Após a oitiva do especialista, a parte se sentirá mais segura para tomar as próximas ações. A parte em conflito pode avaliar se são razoáveis ou não as ponderações do especialista. Terra (2000), que realiza avaliações neutrais nos mais diversos aspectos, menciona algumas características que as empresas devem possuir para se 10 realizar uma gestão efetiva do conhecimento, assim como para aproveitar ao máximo as oportunidades positivas na Era do Conhecimento: • cultura organizacional; • estratégia e alta administração; • organização e processos de trabalho; • políticas e práticas para a administração de Recursos Humanos; • sistemas de informação e comunicação; • mensuração de resultados; • aprendizado com o ambiente. Tais processos avaliativos devem ser pautados na redução de conflitos, além de primar pelo desenvolvimento e crescimento empresarial. Conhecer a cultura organizacional nos remete a conhecer os comportamentos e características de uma empresa. As organizações possuem cultura, comportamento e personalidade próprios e específicos. Excelente sugestão é a realização de estudo neutral a respeito da cultura organizacional na sua empresa. Veja na seção de Leituras Obrigatórias alguns exemplos que poderão lhe ajudar. Ainda, estudos a respeito de estratégias e alta administração, assim como a organização e os processos de trabalho, podem ser analisados. A contratação de empresas e prestadores de trabalho de confiança e solidez propõe uma gestão mais harmonizada e menos conflituosa. Outro aspecto da utilização de avaliações neutrais como meio de prevenção de conflitos é o investimento em uma administração de Recursos Humanos. A estruturação de um departamento de Recursos Humanos pautado em um conjunto de premissas evitará uma série de conflitos, inclusive judiciais. Ademais, uma das mais importantes fontes de arrecadação da Previdência Social, por exemplo, está na folha de pagamento. O investimento em um estudo do mencionado departamento poderá localizar os principais riscos e exposições a que está sujeito tal departamento. Os riscos vão desde o pagamento equivocado de determinada verba a um erro de comunicação entre trabalhadores e até mesmo entidades como o INSS ou a Receita Federal. Além de conflitos internos, tais erros podem gerar conflitos externos com entes governamentais, como os já mencionados, assim como dispêndios financeiros de grande monta. 11 A análise neutral pode ainda perpassar pela análise dos sistemas de informação e a mensuração dos resultados. A análise avaliativa neutra é um modo de se prevenir futuros conflitos decorrentes de um sistema empresarial com informações deficientes ou confusas. Do mesmo modo, a mensuração precisa de resultados pode evitar conflitos, inclusive de ordem econômica. Todo esse aparato deve ser atrelado ao investimento em treinamento e desenvolvimento do capital humano. Ademais, o capital humano é quem, em regra, exercerá a força de trabalho e todo o desenvolvimento empresarial. Enfim, a cada dia mais as empresas investem em avaliações neutrais como método de aperfeiçoamento, assim como para evitar e prevenir conflitos. Aprofunde seus estudos lendo o material denominado “Estudos de Arbitragem Mediação e Negociação Vol.3, Glossário: Métodos De Resolução De Disputas – Rds”, cujo link para acesso está disponibilizado na seção de Leitura Obrigatória. TEMA 4 – A IMPLEMENTAÇÃO DE COMITÊS INTERNOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS Os comitês de esolução de disputas (Disputes Resolution Board – DRB) são um método utilizado em determinado momento, período ou obra. Tais comitês são compostos por três especialistas escolhidos consensualmente pelas partes, visando à solução de questões incidentais na medida em que elas vão surgindo (Vasconcelos, 2017, p. 72). Tais comitês são formados no âmbito das empresas ou incluídos em determinado contexto com a finalidade de resolver eventuais disputas. Para Vasconcelos (2017, p. 72), existem três modalidades de comitês com atribuição prévia e consensual de competências: 1. Comitês de revisão, com finalidade de emitir recomendações. 2. Comitês de sentença, em que o comitê emite decisões e as partes são obrigadas a cumprir. 3. Comitês de disputa mista, em que os especialistas emitem recomendações e, caso uma das partes solicite, emitem decisões específicas, e as partes são obrigadas a cumprir. 12 Os tribunais brasileiros reconhecem a existência de tais comitês nos enunciados do Conselho da Justiça Federal n. 49, 76 e 80, por exemplo, estabelecendo critérios e procedimentos para seu funcionamento. Profissionais imparciais e especialistas no assunto são elementos essenciais ao bom desempenho dos comitês interno. Vale lembrar que, apesar da pouca cultura brasileira em resolver os conflitos de forma consensual, 2016 foi um ano com um grande avanço. Vejamos o mapa a seguir, em material publicado em janeiro de 2017: Figura 1 – Histórico da resolução de conflitos no Brasil Fonte: Andrade, 2017. Para os métodos de solução de conflitos de forma pacífica o ano de 2016 foi considerado um grande marco. Conforme a Figura 1, inúmeras medidas judiciais e legislativas foram implementadas na seara dos métodos resolutivos de conflitos. No mesmo ano, algumas empresas instauraram internamentecomitês permanentes para resolução de alguns tipos de conflito, comitês para resolução de conflitos em geral ou ainda comitês de orientação acerca das condutas e princípios que norteiam a empresa. Exemplo clássico é o Conselho de Orientação Ética da empresa Copel (empresa em regime de economia mista para fornecimento de energia no Estado do Paraná). Tal comitê possui um regulamento, extremamente verticalizado, com procedimentos, composição e competência para análise interna das mais diversas 13 situações que lhe sejam trazidas, inclusive envolvendo terceiros, prestadores de serviços e quem quer que seja que possua algum vínculo negocial com a empresa. Se você quiser conhecer o regulamento do Conselho de Orientação Ética da Copel, acesse <http://www.copel.com/hpcopel/acopel/sitearquivos.nsf/arquivos/conduta_port/$F ILE/codigo_conduta.pdf> e confira um material rico em detalhes e de uma abrangência de grande monta. Ainda, para lhe auxiliar ainda mais, veja no site do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem um modelo completo de regulamento dos referidos comitês. Nesse material você terá um suporte completo para elaboração de regulamentos para instalação de comitês em sua empresa ou ambiente de gestão. TEMA 5 – FORMAÇÃO DE MEDIADORES E GESTORES MEDIADORES DE CONFLITOS CORPORATIVOS: A VISÃO DA ÁGUIA A atuação do mediador pressupõe capacitação constante e técnicas para se lidar com a dinâmica do conflito e da comunicação, assim como conhecimentos metodológicos de caráter interdisciplinar e habilidades específicas da sua arte (Vasconcelos, 2017, p. 73). Tais conhecimentos, segundo o mesmo autor, vêm sendo desenvolvidos pelo Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem (CONIMA). O principal objetivo do CONIMA é representar as entidades de mediação e arbitragem, visando à excelência em sua atuação e ao desenvolvimento dos Métodos Extrajudiciais de Solução de Controvérsias (MESC), sempre considerando normas técnicas e a ética (Vasconcelos, 2017, p. 73-74). O CONIMA elaborou inclusive uma diretiva a respeito das práticas para qualificação de mediadores e árbitros, as quais devem sempre considerar espaços informativos e cursos de capacitação desde a formação básica até uma formação avançada. A formação deve ser especializada e os profissionais devem ser capacitados para atividades de condução e supervisão de procedimentos de solução de controvérsias e até mesmo atividades docentes. A capacitação dos conciliadores, mediadores e árbitros deve ser contínua, visto que os conflitos em si tomam novas formas e novas roupagens em curto espaço de tempo. Na Era do Conhecimento, a relação com o tempo mudou. O tempo parece, como diz o poeta, “escorrer pelas mãos”. Parece que vivemos o 14 que menciona Zygmunt Baumann como tempos líquidos – inclusive, sugere-se a leitura da obra de mesmo nome. Em tempos de tempo escasso, para obter sucesso como grande gestor em solução de conflitos é preciso desenvolver a visão da águia. A águia, segundo o senso comum, é uma ave de rapina, cuja visão é uma das mais avançadas do planeta: a águia consegue avistar um rato a cinco mil metros de altitude, por exemplo. Sua visão é tal precisão que sequer é possível compará-la à visão humana. A águia possui vários apelidos, sendo conhecida como rainha dos céus e rainha das aves, seja pela sua soberania, habilidade, agilidade e beleza. Frequentemente a águia é mencionada em cursos de formação de gestores e lideranças devido ao espírito de vitória, perseverança e perspicácia. As águias são muito conhecidas pela sua habilidade de voo e caça, chegando a uma velocidade que varia entre 45 e 50km/h. Em mergulho, pode chegar a 300 km/h, além de suportar longos deslocamentos em busca de alimentos, o que acontece frequentemente no Alasca (EUA), por exemplo. Uma águia vive em média 70 anos, porém uma curiosidade a seu respeito é a necessidade de se renovar – um processo difícil e dolorido. A águia, ao atingir idade em torno de 40 anos, tem bico pontiagudo e bastante curvo, unhas longas e flexíveis e penas já pesadas e curvadas. Assim, não consegue mais caçar, podendo inclusive morrer de fome. Para não perecer, a águia deve subir ao topo de uma montanha e passar por um processo de renovação que basicamente consiste em passar entre 120/150 dias recolhida em um ninho, em algum lugar seguro. Nesse local a águia deve escolher uma pedra e bater o bico até cair, o que na sequência dá lugar a um novo bico. Com esse novo bico a águia arrancará as suas unhas, e quando as unhas novas nascerem, com elas arrancará as suas penas velhas. Após 4 ou 5 meses, o animal fará seu novo voo de renovação, pois estará pronto para seguir a vida dali em diante, com todas as habilidades e completamente renovada! (Fonte: http://leandrobrito.br.tripod.com/) A águia é uma ave de hábitos diurnos, com capacidade inclusive de olhar diretamente para o Sol – esse é um dos motivos que explica o termo visão de águia. A expressão visão de águia é utilizada para definir pessoas com alta capacidade de gestão, visão de negócios, perspicácia e, claro, habilidades negociais e de pacificação de conflitos. 15 Conforme mencionamos sucintamente, a águia demanda habilidades e até mesmo superação, e é por isso que comumente se busca no mercado de trabalho gestores e trabalhadores com tal visão. Na realidade, buscam-se profissionais dotados de capacidade e controle emocional, que suportem as frustrações e consigam se regenerar e se motivar, assim como que tenham a capacidade de suportar e trabalhar momentos de crise empresarial, sejam elas financeiras, de gestão ou de embates internos, nos mais diversos setores. A denominada inteligência emocional é atualmente a base que consolida o sucesso dos profissionais de alto impacto e de resultados impressionantes. Treinar e se capacitar para ser a águia no Departamento de Recursos Humanos e na gestão de um ambiente corporativo é buscar o autoconhecimento, o equilíbrio e a habilidade de compreender o conflito como um todo, e apresentar soluções restaurativas às partes. A imagem a seguir define bem a ideia da águia e sua correlação com o meio empresarial e de gestão: Figura 2 – Fonte: Google imagens: visão da águia na gestão de conflitos Assim, em uma busca diária e latente pelo conhecimento e pela qualificação, sejamos os profissionais pacificadores e de tato impecável para a solução de conflitos. Um pacificador vai além da qualificação, voa alto e adquire a sensibilidade e a visão do outro, dos seus medos, das suas pretensões, e no lugar deles apresenta proposições e alternativas até então impensadas! Essas alternativas, além de solucionarem o conflito que lhe foi trazido, restauram lados 16 pessoais e sociais. Seja a águia da solução de conflitos no seu departamento ou na sua empresa! FINALIZANDO Espero que você tenha gostado deste módulo, cuja proposta foi um repensar o nosso limite, as nossas possibilidades e habilidades, assim como repensar o instituto da resolução de conflitos. Ademais, o Poder Judiciário já não consegue atender aos anseios sociais quando o assunto é solução de conflitos. Assim sendo, o futuro da solução de conflitos é a aplicação de métodos pacificatórios como medida de evolução social, assim como a gestão de conflitos, inclusive no meio empresarial. Ademais, é grande a quantidade e a complexidade dos conflitos na Era do Conhecimento e na Era da Cultura da Dominação e da Democratização da Tecnologia, os quais nascem a todo tempo, nas mais diversas extensões e proporções. Ainda, há que se mencionar que os conflitos necessitam de uma solução, assim como de técnicas rápidas e adequadas às novas tecnologias e ao surgimento de novos paradigmas conflituais. Uma prática inovadora e bastante possível é a prática da avaliação neutra (neutral evaluation)e a facilitação de diálogos. Tal técnica é instaurada para trabalhar e solucionar os conflitos ao longo de determinado trabalho, obra ou serviço. Trata-se de técnica de égide preventiva, pois não deixa que o conflito cresça e se desenvolva, resolvendo-o já na sua raiz, tanto quanto a implementação de comitês internos de Resolução de conflitos. Neste viés, é importante investir em formação de mediadores e gestores mediadores de conflitos corporativos que adquiram a denominada visão da águia para captar, perceber e resolver os conflitos empresariais. Neste módulo o desafio foi fazer com que você percebesse que é sempre possível ir além, conhecer mais, qualificar-se mais e sempre se pautar em novas formas e procedimentos para resolver conflitos. A habilidade diária, a visão do conflito e o domínio emocional farão você se destacar no modo de lidar com situações de conflito e em sua solução. Espero que você tenha gostado. Vamos para o próximo módulo! 17 REFERÊNCIAS ANDRADE, J. L. de. 2016 foi um marco para os meios extrajudiciais de solução de conflitos. Revista Consultor Jurídico, 01 jan. 2017. Disponível em: <http://www.conciliarebrasil.com.br/arquivos/9066>. Acesso em: 16 abr. 2018. DALLA PALMA, M. A violência nos contos e crônicas da segunda metade do século XX. (Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação, em Letras – Estudos Literários da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Letras. Area de concentração: Estudos Literários. Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Santos Simon). Universidade Estadual de Londrina – UEL. Londrina, 2008. IBGC – INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Origens da Governança Corporativa. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/origens-da-governanca>. Acesso em: 17 abr. 2018. MATOS, G. G. de. Comunicação empresarial sem complicação: como facilitar a comunicação na empresa, pela via da cultura e do diálogo. 3. ed. rev. e ampl. Barueri: Manole, 2014. McINTYRE, S. E. Como as pessoas gerem o conflito nas organizações: Estratégias individuais negociais. Análise Psicológica, n. 2, v. XXV, p. 295-395, 2007. Disponível em: <http://publicacoes.ispa.pt/index.php/ap/article/ view/447/pdf>. Acesso em: 17 abr. 2018. SOUZA, Z. A. de. Arbitragem – conciliação – mediação nos conflitos trabalhistas. São Paulo: LTr, 2004. FRIEDRICH, T. L.; WEBER, M. A. L. Gestão de conflitos: transformando conflitos organizacionais em oportunidades. CRA-RS, 14 jan. 2014. Disponível em: <http://crars.org.br/artigos_interna/gestao-de-conflitos-transformando-conflitos- organizacionais-em-oportunidades-41.html>. Acesso em: 17 abr. 2018. TERRA, J. C. Gestão do Conhecimento – O grande desafio empresarial: uma abordagem baseada no aprendizado e na criatividade. São Paulo: Negócio Editora, 2000. VASCONCELOS, C. E. de. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. 5. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Forense, 2017. http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/origens-da-governanca ANDRADE, J. L. de. 2016 foi um marco para os meios extrajudiciais de solução de conflitos. Revista Consultor Jurídico, 01 jan. 2017. Disponível em: <http://www.conciliarebrasil.com.br/arquivos/9066>. Acesso em: 16 abr. 2018. IBGC – INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Origens da Governança Corporativa. Disponível em: <http://www.ibgc.org.br/index.php/governanca/origens-da-governanca>. Acesso em: 17 abr. 2018.