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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - CAMPOS DOS GOYTACAZES INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA IDENTIFICAÇÃO Disciplina: História da Idade Média Código: CHT 113 Professor: Paulo Pachá Semestre: 2019-1 Estudantes: Jenifher Alves Amâncio e Wendell Marcos Silva do Vale Ensaio Crítico A relevância do ensino de História Medieval no Brasil. “Uma educação democrática tem o dever de narrá-lo na sua inteireza, evidenciando suas luzes e suas sombras.” (MAGNOLI; DEMÉTRIO, BARBOSA; ELAINE, 2015, p. 2) Quando o Ministério da Educação homologou a Base Nacional Comum Curricular pelas mãos de Mendonça Filho em 20 de dezembro de 2017, iniciava-se uma nova fase do debate sobre o ensino de História no Brasil, tendo a História Medieval como pauta importante inserida na problemática do decreto que desde o seu esboço em 2015, recebeu inúmeras críticas. O modelo original duramente criticado porém adotado e mantido é de temporalidade clássica e tradicional: Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Entretanto, o resultado final não trouxe resolução para a crítica historiográfica que se pauta no eurocentrismo estagnado no modelo excludente de ensino pois ainda que mantida a originalidade de “linha do tempo” que é característico do ensino de História, o currículo não preenche lacunas que há décadas estão vazias. Através dessa breve apresentação à problemática em volta do ensino de História Medieval, se inicia uma discussão ao redor da importância de tal ensino nacionalmente. “Há método no caos da BNC. Sem a ágora grega, praça de mercado e praça pública, os estudantes ignorarão as origens do individualismo e da democracia – e a relação que existe entre ambos. Sem a Idade Média europeia, jamais entenderão a importância das religiões monoteístas na formação de sociedades que, pela primeira vez, englobaram grupos geográfica e culturalmente diversos por meio de valores éticos universalistas. Sem o Antigo Regime, não serão apresentados à filosofia das Luzes, base do contrato político da cidadania e fonte da ideia de que as pessoas são donas de suas escolhas e seus destinos.” (MAGNOLI; DEMÉTRIO, BARBOSA; ELAINE, 2015, p. 2) Assim como Magnoli e Barbosa destacam, há método de fato na decisão de 2015. E há método também na decisão final que consiste em manter o tradicionalismo no ensino, escolhendo seletivamente suas narrativas de forma que engrandecem e legitimam ao longo do tempo uma Idade Média Branca (YOUNG, 2017), por exemplo, que de representativo não tem nada. O Ensino de História Medieval no Brasil pode e deve ter sua importância alinhada às origens, à herança cultural que rompeu barreiras geográficas e temporais. Ademais, é desvalorizar um período que nos atinge e influencia em diversos âmbitos. Sem o ensino de História Medieval, é automático que uma sociedade não conheça a própria trajetória por completo e é abrir alas para uma cultura de permanência perigosa onde heranças históricas como D. Sebastião e o messianismo por trás das lendas do Maranhão que narram a vida e morte de um homem sob a forma de touro que engravidava moças em noites de lua cheia na Ilha dos Lençóis e que assim como em um ideal nacionalista clássico, morre em uma aventura distante de sua pátria (COELHO, 2012), são apagadas, perdidas e enquanto a educação retrocede por um (des)governo centralizado na elite, nasce uma geração que perde noção de valores culturais, artísticos, políticos e sociais deixados para trás por uma Idade Média apresentada que é reduzida conforme conveniente, que sem uma atenção e valorização necessária acaba esquecendo todas as heranças deixadas por esse período. Todavia, historiadores como José Rivair Macedo tornam um outro olhar possível através de sua produção historiográfica sobre a História Medieval no Brasil e a importância desta: “Desse modo, repensar o ensino da Idade Média implica, em primeiro lugar, na reflexão sobre a propriedade de continuarmos a transferir conhecimentos relativos a uma Europa que, na verdade, se restringe à parte ocidental (França, Inglaterra, Alemanha, Itália) daquele continente, mantendo em segundo plano os dados relativos ao Norte (países escandinavos), o Leste (países eslavos) e a Península Ibérica (Portugal e Espanha). Para nós, faz muito sentido compreender a formação dos povos ibéricos, pois isso nos permite compreender melhor nossas características herdadas, parte de nosso modo de ser e de pensar. Tendo isso em mente, aliás, o ensino de História Medieval ganha outra dimensão.” Exaltar a importância da História Medieval no Brasil é buscar uma identificação de tais heranças históricas anteriormente citadas, as influências de uma Idade Média que não esteve no Brasil território mas que inspirou lendas, fez base para modelos políticos e democráticos e até mesmo a historicidade em valores feudais que foram adaptados e reproduzidos posteriormente em forma de fidelidade e honra, e que devem ser reconhecidos como destaca Macedo em Repensando a Idade Média no Ensino de História. Portanto faz-se necessário um destaque ao ensino do medivo no Brasil que possibilita reconhecer tais heranças e trabalhá-las em sala de aula, instigando o pensamento crítico e o questionamento inicial da História, além dos muros escolares e acadêmicos. É não só necessário mas indispensável que o “repensar da história” não fique apenas no meio acadêmico em pesquisas e artigos, afinal. Referências Bibliográficas: BARBOSA, Senise Elaine; MAGNOLI, Demétrio. Proposta do MEC para ensino de história mata a temporalidade. Jornal Folha de São Paulo, 2015. MACEDO, José Rivair. Repensando a Idade Média no ensino de História. In: KARNAL, Leandro (org.). História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2003, pp. 109-125. YOUNG, Helen. De onde vem a “Idade Média Branca”? The Public Medievalist, 2017. COELHO, Prado Alexandra. O Brasil tem uma “Idade Média”? Público, 2012. ALVES, F. Nathaly. Primeiras Considerações: por que estudar a Idade Média? Que relação se estabelece entre o Brasil e este período da história? Movimento Cultural Gaia, 2009. MAGNOLI, Demétrio; BARBOSA, Senise Elaine. História sem tempo. Instituto Millenium, 2015.