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Natália Furlaneto INTRODUÇÃO O foco principal é diferenciar causas graves de não graves. Classificar a dor (1ª ou 2ª) e identificar sinais de alerta. Podem ser a primeira manifestação de uma doença grave, que, se não detectada precocemente, pode provocar dano irreversível ou levar o paciente à morte. Primárias mecanismo fisiopatológico próprio Ex: enxaqueca, tensional. Secundárias (a outra doença) sintomáticas. Ex: dengue, meningite, tumor. Cefaleia é sinônimo de dor de cabeça. Enxaqueca é um tipo de cefaleia. EPIDEMIOLOGIA Ambulatório de clínica médica: 10,3% das consultas. 3ª queixa mais frequente. Ambulatório de neurologia: queixa mais frequente. UBS: 9,3% das consultas não agendadas. PS: 4,5% das consultas. 4ª causa de procura. SINAIS DE ALERTA 1ª ou pior crise (fora do padrão; nunca sentiu na vida). Início súbito ou no esforço: com perda ou não da consciência. Déficit neurológico focal: paralisia, perda no campo visual, distúrbios da fala. Motor, sensitivo, campo visual, cerebelar, fala. Sinais meníngeos: pode ter queixa de ‘’torcicolo’’. Papiledema: no exame de fundo de olho. Sinal de hipertensão intracraniana. Febre ou outros sinais sistêmicos: pode ter lesões cutâneas. Fator de risco (doenças pré-existentes): doenças sistêmicas, neoplasias, TCE. HIV. Surgimento súbito após os 50 anos. Principal: piora durante a observação. Paciente não pode ser liberado sem observação. MNEMÔNICO S Systemic N Neurologic O Older O Onset P Pattern (mudança no padrão da dor). PRINCIPAIS CAUSAS DE CEFALEIA SECUNDÁRIA HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA (HAS) O líquor é produzido nos ventrículos laterais, segue pelo aqueduto de Silvius/do mesencéfalo e depois para o espaço subaracnoide (através de um forame). Através das granulações aracnoides, no seio sagital superior, no vértex, é reabsorvido. Rompimento de artérias da superfície cerebral e consequente sangramento dentro do espaço subaracnóideo. Ex: Polígono de Willis. Causas: aneurisma cerebral, fístulas, malformações arteriovenosas. QUADRO CLÍNICO Cefaleia súbita explosiva (97% dos casos): costuma ocorrer quando a pessoa está fazendo esforço físico, sexo, evacuação. Vômitos em jato: não precedidos por náuseas prévias. Não tem a ver com um jato real. Perda momentânea da consciência. Rigidez de nuca (70%): sangue no espaço subaracnoide irrita a meninge. Pedir ao paciente para encostar o queixo no tórax. Geralmente sem déficit neurológico focal: porque o sangue se espalha pelo líquor. Ptose palpebral (pálpebra caída) e anisocoria (uma pupila mais dilatada que a outra): pensar em aneurisma da a. comunicante posterior. Fundo de olho: hemorragia sub-hialoide: sangue banhando o nervo óptico. Cefaleias Secundárias/ Sintomáticas Natália Furlaneto Diferente: Nervo óptico normal, o sangue é por descolamento da retina. Quando ocorre hemorragia por aneurisma da artéria Comunicante Posterior, devido à proximidade da mesma e do III nervo craniano, o paciente pode apresentar sinais de compressão do mesmo, caracterizados por ptose palpebral, estrabismo divergente e anisocoria. DIAGNÓSTICO TC TC normal x Hemorragia Líquor ↓ denso: líquido escuro (passa mais raio x). Sangue: ↑ denso (hiperdenso). Aneurisma SE TC NORMAL, MAS SUSPEITA CLÍNICA: Colher líquor: xantocrômico (enzimas proteolíticas do líquor dissolvem o coágulo, deixando o líquido com coloração amarelada. APÓS CONFIRMAÇÃO DA HAS, INVESTIGAR CAUSA: Arteriografia cerebral: para se detectar a presença de aneurismas ou de MAVs. OBS: Erro diagnóstico ou subdiagnosticada em mais de 50% em algumas séries publicadas. Respaldo prontuário!!! Pode não haver presença de cefaleia intensa súbita. Pode ser confundida com enxaqueca. Confundido com surto psicótico alucinação. Se o paciente não possui histórico de doença psiquiátrica, investigar doença orgânica (trombose, HAS). Início súbito, sinais meníngeos e dor intensa!!! pensar em HAS. CEFALEIA ORGÁSMICA/ORGÁSTICA/ COPULOGÊNICA/PÓS-COITO Cefaleia após o orgasmo, durante a relação sexual ou masturbação. Mais frequente em homens. Cefaleia súbita, explosiva. Normalmente não acompanha vômitos, perda momentânea de consciência, rigidez de nuca ou déficit neurológico focal. Rara: 1-3x na vida. É rara, sendo mais frequente após os 30 anos, e o seu mecanismo ainda não é bem conhecido, e sua é evolução benigna. TC normal pedir angiotomografia, angioressonância (porém, geralmente não disponíveis na rede pública)... não é necessário pedir coleta de líquor. HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA Cefaleia súbita ou rapidamente progressiva. Normalmente ocasionada por Hipertensão Arterial quando a hemorragia ocorre nos núcleos da base. Outra causa é a Angiopatia Amiloide (Doença Degenerativa que danifica a parede dos vasos sanguíneos de menor calibre, levando à sua fragilidade) quando ocorre nos lobos cerebrais. Pode ocorrer vômitos em jato. Pode ocorrer perda ou rebaixamento da consciência. Geralmente sem sinais meníngeos: sangramento dentro do cérebro e não no líquor. Geralmente com déficit neurológico focal: motor localizado (fraqueza de um lado), sensitivo localizado (parestesia de um lado), visual (hemianopsia), fala (disfasia/afasia), agnosia verbal ou visual, cerebelar (equilíbrio, marcha e coordenação index-nariz com olhos abertos e depois fechados; se problema é dismetria). Outros: confusão mental, convulsão. DIAGNÓSTICO TC sangue ‘’branco’’. Natália Furlaneto Em lobo temporal direito. E: núcleos da base. Hemiplegia esquerda. D: lobo occipital. Perda do campo visual à esquerda (contralateral). E: cerebelo. Marcha, equilíbrio e coordenação. D: tronco encefálico. Perda de consciência ou morte súbita (bulbo respiração e movimentos cardíacos). NECROSE/HEMORRAGIA POR NEOPLASIAS As neoplasias intracranianas podem, durante sua evolução, sofrer necrose ocasionando edema regional, ou hemorragia. Semelhante a hemorragia intraparenquimatosa. Tumores primários: os mais comuns são os glioblastomas (avermelhados). Tumores metastáticos: mais comuns oriundos de melanomas (escurecidos). Lesão regular (redondinha), com edema ao redor. Tumor cerebral ao centro e hemorragia ao redor. HIDROCEFALIA AGUDA Obstrução aguda das vias liquóricas, provocadas por tumores, AVC que exerçam efeito compressivo (efeito de massa”) sobre estas vias. A cefaleia é de instalação rapidamente progressiva, acompanhada de vômitos “em jato”, rebaixamento do nível de consciência por aumento da Pressão Intracraniana, podendo ocorrer convulsões. Ventrículo da direita é maior que o da esquerda. Presença de tumor (cisto coloide do 3º ventrículo). Área hipodensa (escura) atravessou a linha média. TROMBOSE VENOSA CEREBRAL Na duramater existem seios venosos intrínsecos que fazem drenagem encefálica. ETIOLOGIA VARIÁVEL Contraceptivos; Trombofilia: formações espontâneas de coágulos. Histórico de trombose, abortos. Trauma: de crânio com afundamento. Infecções: sinusite, febre alta osteomielite atinge seio da duramater. Ex: decorrente de cirurgias também. QUADRO CLÍNICO Cefaleia inédita. Rapidamente progressiva. Pode ter somente cefaleia como sintoma (50% dos casos). Holocraniana e intensa. Déficit neurológico focal em 25% dos casos). Ocasionalmente convulsões e surtos psicóticos. QUANDO SUSPEITAR Mulheres jovens/meia idade. História familiar de morte súbita. História patológica pregressa. DIAGNÓSTICO Exame de imagem (angiografia cerebral, fase venosa) demonstrando a ausência de fluxo, como visto abaixo. DISSECÇÃO ARTERIAL Camada íntima sedescola da camada média (descolamento do endotélio). Causa rara de cefaleia. Causa rara de AVC: 2%. Em jovens chega a 20%: mais frequente. Espontânea ou traumática. Ex: deslocamento do cinto de segurança. Natália Furlaneto QUADRO CLÍNICO Dor cervical intensa (que pode irradiar para a nuca simulando um torcicolo), ou dor facial, também intensa, unilateral. Déficit neurológico. QUANDO SUSPEITAR Quando for uma dor inédita, de forte intensidade, sobretudo se houver história de acidente de carro (cinto de segurança), artes marciais, ou de doença do colágeno como Lupus, Síndrome de Marfan, Vasculites, Fibrodisplasia. A suspeita aumenta se houverem sintomas neurológicos, como parestesias do dimídio oposto (comprometimento carotídeo) ou tonturas, disbasia e dismetria (comprometimento vertebro-basilar). MENINGITE BACTERIANA AGUDA Infecção do líquor no espaço subaracnoide. QUADRO CLÍNICO Cefaleia rapidamente progressiva e de início recente. Vômitos em jato. Febre alta. Sinais meníngeos Rigidez de nuca. Kerning: flexão do joelho ao se elevar o MMII. Sinal de Brudzinsky. Lesões cutâneas. Ex: meningocócica. Manchas antecedem infarto de suprarrenal, que pode causar morte súbita. Geralmente sem déficit neurológico focal. DIAGNÓSTICO A confirmação se faz pelo exame de líquor que no caso de meningites bacterianas se encontra turvo. ABSCESSO CEREBRAL Processo supurativo (pus) dentro do tecido cerebral. Cefaleia: início recente e rapidamente progressiva. Pode ser decorrente de meningite ou causar meningite. Vômitos em jato. Febre moderada a alta. Ausência de sinais meníngeos: a infecção é dentro do cérebro e na maioria das vezes não chega até as meninges / líquor. Presença de déficit neurológico focal. Motor, sensitivo, linguagem visual, cerebelar. Outros: confusão mental, convulsão, alterações comportamentais. DIAGNÓSTICO TC Área arredondada e hipodensa no interior. Cápsula ao redor. HEMATOMA SUBDURAL CRÔNICO Sintomas se iniciam após 3 semanas do trauma. Cefaleia característica de hipertensão intracraniana. Deitado: aumenta a pressão intracraniana porque o sangue não é tão drenado. Em pé o sangue drena com mais facilidade. Piora ao deitar e melhora ao levantar. Caráter progressivo. Principalmente na madrugada ou ao acordar. Melhora ao vomitar. Vômitos em jato. Déficit neurológico focal, principalmente motor. Outros: confusão mental, vertigens, convulsões. Prognóstico melhor que de AVC, pois drenando o hematoma, tende-se a resolver o problema. As hemorragias subdurais crônicas, em sua grande maioria de origem traumática, podem ocorrer até seis meses após o traumatismo, mesmo que tenha sido um trauma de crânio leve. A cefaleia é provocada pelo aumento progressivo da Pressão Intracraniana (PIC). Sendo o crânio um compartimento praticamente inextensível, a PIC é Natália Furlaneto determinada pela relação entre o crânio e os elementos constituintes do conteúdo intracraniano, que são compostos pelas meninges, encéfalo, líquor e o conjunto vascular (vasos e sangue). Toda vez que o conteúdo estiver em desacordo com o continente haverá o aumento da PIC que apresenta um conjunto clínico próprio conhecido como Síndrome de Hipertensão intracraniana cujos sinais e sintomas são: 1- Cefaleia, a qual predomina pela manhã ao acordar (pode ocorrer na madrugada também, chegando a acordar o paciente), e melhora após levantar, sendo que durante o dia, com o paciente em pé ou deitado é leve ou inexistente, mas aparece ou acentua-se ao deitar. Isto ocorre porque com o paciente em pé ou sentado, a drenagem do sangue do compartimento intracraniano faz-se de maneira mais fácil devido à ação da gravidade, e com o paciente deitado, ocorre uma maior concentração de sangue dentro do crânio, aumentando assim a PIC. 2- Vômitos, também predominantemente pela manhã ao acordar, pois com a PIC aumentada pelo decúbito, ocorre maior compressão da dura-mater, inervada, em parte, pelo nervo vago, gerando assim reflexo do vômito sem a ocorrência de náuseas prévias, o que se denomina “vômitos em jato”. Após vomitar, geralmente a dor melhora, pois a hiperventilação que ocorre na sequência aumenta a concentração de oxigênio no sangue, o que gera vasoconstricção dos vasos cerebrais diminuindo assim o fluxo sanguíneo para dentro do crânio e consequente redução do volume intracraniano. Cabe aqui também ressaltar que, ao dormirmos, devido à diminuição dos movimentos respiratórios, pode ocorrer um aumento da concentração de gás carbônico no sangue, o que gera vasodilatação dos vasos cerebrais aumentando assim o fluxo sanguíneo para dentro do crânio e consequente aumento do volume intracraniano, por isso também a dor e os vômitos são mais frequentes ao acordar e/ou pela madrugada. 3- Edema de Papila (porção intraocular do nervo óptico), devido a uma drenagem inadequada das veias retinianas que correm dentro do nervo óptico, existe extravasamento de líquido para dentro do mesmo, o que ocasiona o seu inchaço, ou seja, o edema do nervo, observado na fundoscopia ocular. 4- Sinais Cardiovasculares sugestivos de HIC que são: -Hipertensão Arterial: com o aumento da PIC, ocorrem mecanismos compensatórios com a finalidade de se manter o fluxo sanguíneo cerebral, ou melhor, a Pressão de Perfusão Cerebral, que é o resultado da Pressão Arterial Média menos a Pressão Intracraniana (PPC=PAM – PIC), assim, o organismo aumenta a Pressão Arterial a fim de compensar o aumento da PIC. -Bradicardia: devido a compressão da duramater, a qual, como já exposto, é inervada, em parte, pelo nervo vago, gerando assim bradicardia por estímulo vagal. Academicamente, a associação de Hipertensão Arterial com Bradicardia é conhecida como Reação Vasopressora de Cushing. Nos casos dos hematomas subdurais crônicos, a cefaleia característica é de início recente, podendo ser, portanto, acompanhada de vômitos, edema de papila, hipertensão arterial, bradicardia, mas não é obrigatória a presença de todos os sintomas! Outros sinais e sintomas sugestivos de hematoma subdurais são confusão mental, vertigens, rebaixamento do nível de consciência, déficit neurológico focal (principalmente motor) e convulsões. Cumpre ainda lembrar que os hematomas subdurais podem eventualmente sem manifestar clinicamente sem cefaleia. O diagnóstico se faz por exame de imagem (TC), onde observamos desvio da linha média, e coleção hipodensa adjacente ao tecido cerebral. Ocasionalmente, devido a deposição dos elementos figurados pela ação da gravidade, observamos um nível, chamado de sinal do hematócrito. Ainda, podemos ter coleções bilaterais. HIPERTENSÃO INTRACRANIANA IDIOPÁTICA (PSEUDOTUMOR) Constitui uma emergência médica, pois é uma das causas evitáveis de cegueira. A cefaleia é característica de HIC, associada à turvação ou perda visual, sendo o edema de papila frequente. ETIOLOGIA Incerta. Fisiopatologia de maior suporte científico: Ocorre um inchaço cerebral difuso, sendo sua causa ainda incerta, talvez por hipertensão venosa retrógrada consequente à obesidade, ou por transtorno no metabolismo do Sódio que provocaria retenção hídrica. Deve-se pensar na hipótese principalmente mulheres em idade gestacional (grávidas ou em uso de contraceptivos), faixa dos 30 anos, obesas ou com ganho de peso recente. Outra situação que deve levantar suspeita, é quando o paciente relata início recente de algum novo medicamento. Os medicamentos com maior relato de estarem associados a Hipertensão Intracraniana Idiopática Natália Furlaneto são Retinóides, Tetraciclinas, Vitamina A, GH, contraceptivos, e com menor evidência, Lítio, Nitrofurantoína, Ácido Nalidíxico, HormôniosTireoidianos. Existem relatos ainda que associam a Hipertensão Intracraniana Idiopática à supressão súbita de corticoides. QUADRO CLÍNICO Cefaleia característica de hipertensão intracraniana. Vômitos em jato. Turvação ou perda visual. Edema de papila geralmente bilateral (40% das pessoas com HIC têm). Normal (disco branco bem delimitado no exame de fundo de olho) x borramento (perda da definição da papila do nervo óptico). EXAMES DE IMAGEM Normais, podendo ter ventrículos diminuídos. Obrigatório pedir líquor. PUNÇÃO DE LÍQUOR Hipertenso (deve-se medir a pressão do líquor ver até onde vai subir no fio/tubinho de soro). Normal de 10-20 cm de água. > é HIC. Sem mudança da sua coloração. Função terapêutica: alivia a Hipertensão Intracraniana. Paciente deitado, sentado somente se for administrar medicamento (ex: anestesia). ARTERITE TEMPORAL/DE CÉLULAS GIGANTES Rara! Emergência médica. É uma causa evitável de cegueira. Distúrbio visual unilateral. Vasculite do sistema carotídeo, que geralmente se caracteriza por dor unilateral, geralmente temporal anterior, associada a turvação visual (cerca de 20%), mais frequente em homens após os 70 anos. QUADRO CLÍNICO Cefaleia unilateral, progressiva, temporal anterior. Espessamento doloroso da a. temporal superficial, com ↓ pulso (vasculite). Turvação visual ou cegueira (20%). Mais comum após os 70 anos. VHS acima de 100 mm na 1ª hora. Diagnóstico fecha com biópsia da a. temporal superficial. DIAGNÓSTICO Pelo VHS (Velocidade de Hemossedimentação) que geralmente está acima de 100mm/1o . hora, e pela biópsia da artéria. CONCLUSÃO Sempre um desafio diagnóstico. Nunca menosprezar a queixa. Prudência.
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