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Vacinação infantil Introdução A imunidade de um indivíduo pode ser de forma ativa, ou seja, o próprio indivíduo produz seus próprios anticorpos, podendo ser natural, adquirida após alguma infecção ou artificial, adquirida após a vacinação. Existe ainda a imunidade passiva, quando o indivíduo recebe os anticorpos já prontos, podendo ser natural através da passagem transplacentária ou aleitamento materno, ou artificial através das imunoglobulinas e soro. Imunização ativa É importante conhecer as principais contraindicações da vacinação por vírus vivos atenuados ou bactérias vivas atenuadas. São elas: - Imunodeficiência congênita ou adquirida - Gestantes (exceto se situação de alto risco para algumas doenças, como febre amarela, poliomielite, sarampo) - Neoplasias malignas - Terapia imunossupressora (radioterapia, quimioterapia, uso de imunossupressores). - Uso de corticosteroides em altas doses (equivalente a 2 mg/ kg/dia ou ≥ 20 mg/dia de prednisona em crianças), por mais de 15 dias. Além disso, é importante reconhecer quando a vacinação deve ser adiada temporariamente: - Episódios de doenças agudas febris (principalmente para evitar confusão entre os eventos adversos de algumas vacinas e a evolução clínica da doença) - Até 30 dias após o término de corticoterapia em dose imunossupressora - Até 90 dias após o uso de outros medicamentos ou tratamentos que provoquem imunossupressão - De 3 a 11 meses após transfusão de plasma fresco ou imunoglobulinas, para vacinas com vírus vivos, em razão da possibilidade de neutralização do antígeno vacinal por anticorpos presentes nesses produtos. As vacinas podem possuir diversos componentes, dentre eles podemos citar: Vacina atenuada - é aquela em que o vírus encontra- se ativo, porém, sem capacidade de produzir a doença. Raras vezes, estes vírus podem reverter para a forma selvagem causando a doença. Estas vacinas são contraindicadas para imunodeprimidos e gestantes. Vírus atenuados levam esta denominação pois passam por um processo no qual sua virulência é reduzida a níveis considerados seguros para a aplicação clínica (vacinação). Vacina inativada - contém o vírus inativado por agentes químicos ou físico. Já as vacinas de subunidades são fragmentos do vírus (antígenos) purificados. As vacinas inativadas e de subunidade não chegam a “imitar” a doença como as atenuadas, o que fazem é “enganar” o sistema imune, pois este acredita que o agente infeccioso morto, ou uma partícula dele, representa perigo real e desencadeia o processo de proteção. São vacinas sem risco de causar infecção em pessoas imunodeprimidas ou em gestante e seu feto. 3 tipos de vacinas disponibilizadas no calendário da SBP BCG – tuberculose: A vacina BCG é produzida com bacilos vivos atenuados e liofilizados de cepa de Mycobacterium bovis. Deve ser aplicada em dose única ao nascimento, intradérmica. Uma segunda dose da vacina está recomendada quando, após seis meses da primeira dose, não se observa cicatriz no local da aplicação. A lesão da vacina evolui em cerca e 6 a 12 semanas, podendo prolongar-se até 24 semanas. Pode ocorrer ainda enfartamento ganglionar múltiplo ou único durante a evolução da lesão em cerca de 10% dos pacientes e aparece entre a 3a a 6a semana pós-vacinação. As características do linfonodo são: homolateral à aplicação da vacina, móvel, mede até 3cm de diâmetro, indolor, sem sintomas sistêmicos, podendo involuir espontanemante em 2 a 3 meses. Contraindicações da BCG - Relativas: RN com peso < 2.000g e lesões dermatológicas extensas afetando o local de aplicação da vacina. - Absolutas: imunodeficiências congênitas e adquiridas. Crianças com exposição perinatal ao vírus da imunodeficiência humana (HIV) devem receber a vacina ao nascimento, porém, aquelas que chegam ao serviço ainda não vacinadas, devem receber a BCG somente se sintomáticas e sem sinais de imunodepressão. Rotavírus: Existem duas vacinas licenciadas: a monovalente que é composta pela cepa humana atenuada (RIX4414) do sorotipo G1P1A do rotavírus, disponível na rede pública de saúde, que apresenta alguns epítopos compartilhados comuns a outras cepas, conferindo proteção cruzada contra outras sorotipos; e a pentavalente, humano-bovina, tipos G1G2G3G-4P1A, disponível somente na rede privada. A vacina monovalente incluída no PNI, indicada em duas doses, seguindo os limites de faixa etária: primeira dose aos 2 meses (limites de 1 mês e 15 dias até, no máximo, 3 meses e 15 dias) e a segunda dose aos 4 meses (limites de 3 meses e 15 dias até no máximo 7 meses e 29 dias). A vacina pentavalente, disponível somente na rede privada, é recomendada em três doses, aos 2, 4 e 6 meses. A primeira dose deverá ser administrada no máximo até 3 meses e 15 dias e a terceira dose deverá ser administrada até 7 meses e 29 dias. O intervalo entre as doses deve ser de 2 meses, podendo ser de, no mínimo, quatro semanas. Iniciada a vacinação recomenda-se completar o esquema com a vacina do mesmo laboratório produtor. Contraindicações - Imunodeficiências congênitas e adquiridas - Alergia a algum componente da Vacina - Doença gastrointestinal crônica - Malformação congênita do trato digestivo ou história prévia de invaginação intestinal. - Em casos de doença febril aguda e em caso de vômitos e/ ou diarreia grave, a vacinação deve ser adiada. Hepatite B: A vacina da hepatite B é composta pelo antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HbsAg). A primeira dose da vacina Hepatite B deve ser aplicada idealmente nas primeiras 12 horas de vida. A segunda dose está indicada com um ou dois meses de idade e a terceira dose é realizada aos seis meses. Desde 2012, no Programa Nacional de Imunizações (PNI), a vacina combinada DTP/Hib/HB (Penta) foi incorporada no calendário aos 2, 4 e 6 meses de vida. Contraindicações da Hepatite B Reação anafilática prévia a qualquer componente da vacina e púrpura trombocitopênica pós-vacinal. DTP/DTPa: É uma vacina combinada composta por toxoides diftérico e tetânico e pelo componente pertussis, sendo a bactéria Bordetella pertussis inteira em suspensão celular inativada ou componentes antigênicos da bactéria (toxina pertussis, pertactina, hemaglutinina filamentosa ou proteínas fimbriais), designada de pertussis acelular. A vacina DTPa (acelular), quando possível, deve substituir a DTP (células inteiras), pois tem eficácia similar e é menos reatogênica. O esquema é de 5 doses, aos 2, 4 e 6 meses com reforço aos 15 meses. Um segundo reforço deve ser aplicado entre quatro e seis anos de idade. Reações locais ou sistêmicas são comuns com a vacina DTP (células inteiras). As reações adversas são comuns a vacina DTP (células inteiras), sendo elas: edema temporário, aumento da sensibilidade e eritema (vermelhidão) no local da injeção em conjunto com febre ocorrem em uma grande proporção de casos. Pode ainda ocorrer vacina. Episódio hipotônico hiporresponsivo (EHH) e convulsões febris. Tais casos de reações adversas graves devem ser notificados, mas a criança pode continuar com seu esquema de vacinação normal, com a vacinação DTPa (acelular). Casos de encefalopatia, está contraindicada qualquer dose subsequente, seja com a vacina tríplice bacteriana de células inteiras ou acelular. Nessas situações, completa-se o esquema vacinal com a vacina dupla infantil (DT). Dt/dTpa: Adolescentes com esquema primário de DTP ou DTPa completo devem receber um reforço com dT ou dTpa, preferencialmente com a formulação tríplice acelular, aos 14 anos de idade. Alguns calendários preconizam este reforço aos 10 anos. No caso de esquema primário para tétano incompleto, este deverá ser completado com uma ou duas doses da vacina contendo o componente tetânico, sendo uma delas preferencialmente com a vacina tríplice acelular. Crianças com 7 anos ou mais, nunca imunizadas ou com histórico vacinas desconhecido, devemreceber três doses da vacina contendo o componente tetânico, sendo uma delas preferencialmente com a vacina tríplice acelular com intervalo de dois meses entre elas (0, 2 e 4 meses intervalo mínimo de quatro semanas). Gestantes devem receber, a cada gravidez, uma dose da vacina dTpa a partir da vigésima semana de gestação, com o objetivo de transferir anticorpos protetores contra a coqueluche para o recém-nascido. Aquelas que perderam a oportunidade de serem vacinadas durante a gestação, deverão receber uma dose de dTpa no puerpério, o mais precocemente possível. Hib: A vacina penta do PNI é uma vacina combinada contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenza tipo B (conjugada). A vacina Haemophilus influenza e tipo b (Hib) é composta por um Polirribosilfosfato (PRP) (polissacáride capsular) purificado do Hib, conjugado a uma proteína. Existem 4 tipos de vacina de acordo com a proteína conjugada: PRP-OMP (proteína meningocócica da membrana externa), PRP-CRM (proteína diftérica mutante), PRP-T (proteína tetânica) e PRP-D (toxoide diftérico). A vacina é recomendada em três doses, aos 2, 4 e 6 meses de idade. Quando utilizada pelo menos uma dose de vacina combinada com componente pertussis acelular (DTPa/Hib/IPV, DTPa/Hib, DTPa/Hib/IPV,HB, etc.), disponíveis em clínicas privadas, uma quarta dose da Hib deve ser aplicada aos 15 meses de vida. Essa quarta dose contribui para diminuir o risco de ressurgimento das doenças invasivas causadas pelo Hib em longo prazo. Contraindicações: - Doenças febris agudas. - Hipersensibilidade aos componentes vacinais. VIP/VOP: A vacina injetável de poliovírus inativados (VIP) e a vacina oral de poliovírus vivos atenuados (VOP) apresentam em sua composição poliovírus tipo 1, 2 e 3, sendo a VOP os tipos 1 e 3 e a VIP 1, 2 e 3. As três primeiras doses, aos 2, 4 e 6 meses, devem ser feitas obrigatoriamente com a vacina pólio inativada (VIP). A recomendação para as doses subsequentes é que sejam feitas preferencialmente também com a vacina inativada (VIP). Nesta fase de transição da vacina pólio oral atenuada (VOP) para a vacina pólio inativada (VIP) é aceitável o esquema atual recomendado pelo PNI que oferece três doses iniciais de VIP (2, 4 e 6 meses de idade) seguidas de duas doses de VOP (15 meses e 4 anos de idade). Desde 2016 a vacina VOP é bivalente, contendo os tipos 1 e 3 do poliovírus, podendo ser utilizada na rotina nas doses de reforço ou nas Campanhas Nacionais de Vacinação, devido a casos associados de poliomielite viral. Evitar VOP em todas as crianças imunocomprometidas e nos seus contatos domiciliares. Nestas circunstâncias utilizar a VIP. Contraindicações: - VIP: em casos de reação alérgica grave prévia aos produtos contidos na vacina. - VOP: não deve ser administrada em pacientes imunodeprimidos e seus comunicantes e em indivíduos que desenvolveram pólio vacinal associados a doses anteriores da vacina. Os vírus da VOP podem sofrer mutações a nível intestinal, podendo provocar poliomielite paralítica pelo vírus da vacina – VAPP. Além disso, caso os vírus mutantes não sejam eliminados do intestino, eles continuam circulando na comunidade e aumentam seu grau de virulência. Caso as coberturas vacinais não sejam adequadas e elevadas, os vírus podem causar poliomielite em surtos na população - poliovírus circulante derivado da vacina – cVDPV. Pneumocócica conjungada: Existem dois tipos de vacina: 1. pneumococo conjugada 10-valente, que contém os sorotipos 1, 4, 5, 6B, 7F, 9V, 14, 18C, 19F e 23F e que faz parte do calendário do PNI; 2. e vacina conjugada 13-valente que, além dos sorotipos da 10-valente, contém mais três sorotipos adicionais, 3, 6A e 19A, disponível somente na rede privada. Está indicada para todas as crianças até 5 anos de idade. O PNI utiliza a vacina pneumocócica conjugada 10-valente no esquema de duas doses, administradas aos 2 e 4 meses, seguidas de um reforço aos 12 meses, podendo ser aplicada até os 4 anos e 11 meses de idade. A SBP recomenda, sempre que possível, o uso da vacina conjugada 13-valente, pelo seu maior espectro de proteção, no esquema de três doses no primeiro ano (2, 4, e 6 meses) e uma dose de reforço entre 12 e 15 meses de vida. Crianças saudáveis com esquema completo com a vacina 10-valente podem receber uma dose adicional da vacina 13-valente, até os cinco anos de idade, com o intuito de ampliar a proteção para os sorotipos adicionais. Crianças com risco aumentado para doença pneumocócica invasiva devem receber também, a partir de 2 anos de idade, a vacina polissacarídica 23-valente, com intervalo mínimo de dois meses entre elas. Contraindicações: - Reações anafiláticas com doses anteriores. Influenza: A vacina influenza é composta por vírus inativados e fragmentados. Está indicada para todas as crianças e adolescentes a partir dos 6 meses de idade. A primo vacinação de crianças com idade inferior a 9 anos deve ser feita com duas doses, com intervalo de 1 mês entre elas. A dose para aqueles com idade entre 6 a 35 meses pode variar conforme o fabricante, e a partir de 3 anos é de 0,5 mL. Existem disponíveis duas vacinas influenza: trie quadrivalente, sendo que a segunda contempla uma segunda variante da cepa B. A vacina deve ser feita anualmente e, como a influenza é uma doença sazonal, a vacina deve ser aplicada idealmente antes do período de maior circulação do vírus. Sempre que possível utilizar preferencialmente vacinas quadrivalentes, pelo maior espectro de proteção. Contraindicações - Reações anafiláticas aos componentes da vacina - Reações anafiláticas a proteínas do ovo. Sarampo, caxumba, rubéola e varicela: É composta pela combinação de vírus vivos e atenuados de sarampo caxumba, rubéola e varicela. Aos 12 meses de idade: devem ser feitas, na mesma visita, as primeiras doses das vacinas tríplice viral (SCR)e varicela (V), em administrações separadas, ou a vacina tetraviral (SCRV) A vacina SCRV se mostrou associada a uma maior frequência de febre em lactentes que recebem a primeira dose com esta vacina quando comparada às vacinas varicela e tríplice viral em injeções separadas. Aos 15 meses de idade deverá ser feita uma segunda dose, preferencialmente com a vacina SCRV, com intervalo mínimo de três meses da última dose de varicela e SCR ou SCRV. Em situações de risco como, por exemplo, surtos ou exposição domiciliar ao sarampo, é possível vacinar crianças imunocompetentes de 6 a 12 meses com a vacina SCR. Em casos de surtos ou contato íntimo com caso de varicela, a vacina varicela pode ser utilizada a partir de 9 meses de vida. Nesses casos, doses aplicadas antes dos 12 meses de idade, não são consideradas válidas, e a aplicação de mais duas doses após a idade de um ano é necessária. O PNI introduziu a segunda dose da vacina varicela aos 4 anos de idade em 2018. A vacina varicela pode ser indicada na profilaxia pós- exposição dentro de cinco dias após o contato, preferencialmente nas primeiras 72 horas. Contraindicações à triplice viral e à tetraviral: - Uso de sangue e derivados ou imunoglobulina anterior ou nos 15 dias seguintes à aplicação da vacina - Gravidez - Reação anafilática à neomicina e Gelatina - Doenças imunossupressoras, como leucemias e linfomas - Corticoterapia em altas doses ou outras drogas utilizadas na terapêutica de neoplasias - Imunodeficiência celular congênita ou adquirida (exceto crianças infectadas pelo HIV assintomáticas e com percentual de linfócitos TCD4+ > 15%) Hepatite A: A vacina deve ser administrada em duas doses, a partir dos 12 meses de idade. O PNI oferece a vacina em dose única aos 15 meses de idade. Contraindicações - Hipersensibilidade aos componentes da vacina. Febre amarela: A vacina da febre amarela é constituída do vírus vivo atenuado. Está indicada para residentes ou viajantes para as áreas com recomendação da vacina (pelo menos 10 dias antesda data da viagem). Indicada também para pessoas que se deslocam para países que exigem a comprovação de vacinação. Contraindicações: - Imunodeficiências congênitas ou adquiridas - Situações que levem a imunossupressão - Reações anafiláticas a ovo - Gravidez. HPV: A vacina do HPV é composta por partículas semelhantes ao vírus HPV (virus-like particle – VLP) inativadas. Contraindicações: - Hipersensibilidade aos componentes da vacina - Gestantes (caso a paciente engravide após o início do esquema vacinal, as doses subsequentes deverão ser adiadas até o período pós-parto) Dengue: A vacina dengue foi licenciada em nosso país no esquema de três doses (0, 6 e 12 meses) e está recomendada para crianças e adolescentes a partir de 9 anos até no máximo 45 anos de idade que já tiveram infecção prévia pelo vírus da dengue (soropositivos). Está contraindicada para gestantes, mulheres que amamentam e portadores de imunodeficiências. A vacina não deve ser administrada simultaneamente com outras vacinas do calendário. Profilaxia da raiva A raiva é uma infecção transmitida ao homem a partir de um reservatório animal, através da inoculação do vírus presente na saliva e secreções do animal infectado. O vírus da raiva é neurotrópico e sua ação no sistema nervoso central causa uma encefalite aguda, decorrente da multiplicação viral nos neurônios. A transmissão ocorre pela mordedura e mais raramente pela arranhadura e lambedura de mucosas e/ou pele lesionada. Atualmente no Brasil, o morcego representa o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre, enquanto o cão em alguns municípios, continua sendo importante fonte de infecção. Existem outros reservatórios silvestres como macaco, guaxinim, quati, animais de produção no meio rural como bovinos, equinos, suínos entre outros, cujo monitoramento permite vigiar a circulação do vírus da raiva. Profilaxia pós-exposição da Raiva - Depende das condições do animal agressor e da natureza da exposição (contato indireto, acidentes leves e acidentes graves). - Em casos de acidentes leves (acidente superficial em tronco ou membros, por arranhaduras, mordeduras ou lambeduras em local com lesão superficial) deve-se avaliar a condição do animal: - Em casos de acidentes graves (ferimento nas mãos, no pescoço, nos pés, na cabeça, profundos, múltiplos, lambedura de mucosas ou de pele com lesão profunda, ferimento profundo por unha de animal), deve-se avaliar as condições do animal: Maus tratos ”Define-se o abuso ou maus-tratos pela existência de um sujeito em condições superiores (idade, força, posição social ou econômica, inteligência, autoridade) que comete um dano físico, psicológico ou sexual, contrariamente à vontade da vítima ou por consentimento obtido a partir de indução ou sedução enganosa.” A “síndrome do bebê sacudido” é uma forma especial deste tipo de mau-tratamento e consiste de lesões cerebrais que ocorrem quando a criança, em geral menor de 6 meses de idade, é sacudida por um adulto. Síndrome de Munchausen por procuração: é definida como a situação na qual a criança é trazida para cuidados médicos devido a sintomas e/ ou sinais inventados ou provocados pelos seus responsáveis. Em decorrência, há conseqüências que podem ser caracterizadas como violências físicas (exames complementares desnecessários, uso de medicamentos, ingestão forçada de líquidos etc.) e psicológicas (inúmeras consultas e internações, por exemplo). Como reconhecer maus tratos em crianças A suspeita e identificação dos casos de vitimização de crianças e adolescentes ainda é um desafio para muitos profissionais de saúde. Isto faz com que as patologias e agravos evidenciados sejam diagnosticados e tratados apenas com base em sinais orgânicos evidentes. A suspeita de maus-tratos contra crianças e adolescentes surge, geralmente, no momento em que se procede a anamnese ou no decorrer do exame físico do paciente. Cabe ressaltar que, na maioria das vezes, as vítimas não possuem evidências físicas de maus-tratos. Sendo assim, a anamnese ocupa lugar relevante no esclarecimento dos casos, não apenas pelo relato da ocorrência da violência em si, como também de sintomas sugestivos de que a criança possa estar sendo vitimizada. Sempre que possível, é importante que a avaliação seja feita por equipe multiprofissional, na qual estejam incluídos, além do médico, psicólogo e assistente social. A atitude do profissional A entrevista inicial tem como objetivo estabelecer uma relação entre o médico e os pais ou responsáveis, além de se ouvirem as queixas apresentadas. É em nome deste relacionamento que o profissional da saúde deve manter uma atitude de isenção, mesmo que haja suspeita de que um dos pais ou o responsável seja o abusador. As perguntas devem ser isentas de qualquer conotação de acusação ou de censura, embora as intenções de esclarecer a suspeita ou confirmação dos maus- tratos e de proteger a criança de novas agressões devam estar sempre presentes. A abordagem à família deve ser empática, uma vez que, na maioria das vezes, a intervenção terá como um dos objetivos a reorganização dos vínculos familiares. Algumas dificuldades e temores têm sido alegados pelos profissionais da saúde ao justificarem a falta de uma abordagem objetiva, no sentido de esclarecer sobre a intencionalidade ou não dos agravos. Entre esses receios, merecem destaque o de assumir um papel de denunciante, o de poder ser convocado para depor durante as investigações e o processo criminal, o risco de sofrer retaliações por parte da família denunciada, a insegurança para abordar o paciente e seus responsáveis, a desinformação sobre a legislação pertinente, para citar alguns.
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