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G R U P O D A S A L V A Ç Ã O G A S T R O E N T E R O L O G I A I N T E R M E D I Á R I A Pro���m� 1 – Abe���r� 4. Elucidar a farmacologia do hidróxido de alumínio (antiácido) e o outro medicamento, bem como seus usos clínicos nas síndromes dispépticas e as consequências da automedicação. ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES H2 REF: Goodman A descrição do bloqueio seletivo dos receptores H2 de histamina representou um marco fundamental no tratamento da doença ácido-péptica. Antes da disponibilidade dos antagonistas dos receptores H2, o cuidado-padrão consistia simplesmente em neutralizar o ácido no lúmen gástrico, geralmente com resultados inadequados. A longa história de segurança e eficácia dos antagonistas dos receptores H2 levou finalmente à sua disponibilidade sem a necessidade de prescrição médica. Entretanto, eles estão sendo cada vez mais substituídos pelos inibidores da bomba de prótons na prática clínica. Química: mecanismo de ação e farmacologia Os antagonistas dos receptores H2 inibem a produção de ácido competindo de modo reversível com a histamina pela ligação aos receptores H2 na membrana basolateral das células parietais. Quatro antagonistas diferentes dos receptores H2, que diferem principalmente na sua farmacocinética e propensão a causar interações medicamentosas, estão disponíveis nos EUA: a cimetidina, a ranitidina, a famotidina (droga usada esporadicamente pela paciente do caso) e a nizatidina. Esses fármacos são menos potentes do que os inibidores da bomba de prótons, porém ainda suprimem a secreção de ácido gástrico em ~ 70% durante 24 h. Os antagonistas dos receptores H2 inibem predominantemente a secreção de ácido basal, explicando a sua eficácia na supressão da secreção ácida noturna. Como o determinante mais importante da cicatrização de úlceras duodenais consiste no nível de acidez noturna, a administração de antagonistas dos receptores H2 à noite constitui um tratamento adequado na maioria dos casos. A ranitidina e a nizatidina também podem estimular a motilidade GI, porém a importância clínica desse efeito não é conhecida. Todos os quatro antagonistas dos receptores H2 são disponíveis em formulações adquiridas com e sem prescrição médica para administração oral. Dispõem-se também de apresentações para uso intravenoso e intramuscular de cimetidina, ranitidina e famotidina. Quando as vias oral ou nasogástrica não constituem uma opção, esses fármacos podem ser administrados em injeções intravenosas intermitentes ou por infusão intravenosa contínua. Esta última proporciona um melhor controle do pH gástrico, porém não se comprovou ser mais eficaz na prevenção de sangramentos significativos em pacientes criticamente enfermos. Farmacocinética Os antagonistas dos receptores H2 são absorvidos rapidamente após administração oral, com concentrações séricas máximas em 1-3 h. A absorção pode ser aumentada pela presença de alimento ou diminuída por antiácidos; entretanto, esses efeitos não são provavelmente importantes no contexto clínico. Os níveis terapêuticos são alcançados rapidamente após uma dose intravenosa e se mantém por 4-5 h (cimetidina), 6-8 h (ranitidina) ou 10-12 h (famotidina). Ao contrário dos inibidores da bomba de prótons, apenas uma pequena porcentagem dos antagonistas dos receptores H2 liga-se às proteínas. Pequenas quantidades (de < 10% a ~ 35%) desses fármacos sofrem biotransformação hepática; todavia,a presença de doença hepática em si não constitui uma indicação para ajuste das doses. Os rins excretam esses fármacos e seus metabólitos por filtração e secreção tubular renal, e é importante reduzir as doses de antagonistas dos receptores H2 em pacientes com diminuição da depuração de creatinina. Nem a hemodiálise nem a diálise peritoneal removem quantidades significativas desses fármacos. Reações adversas e interações medicamentosas A exemplo dos inibidores da bomba de prótons, os antagonistas dos receptores H2 geralmente são bem tolerados, com baixa incidência (< 3%) de efeitos adversos. Os efeitos adversos são habitualmente mínimos e incluem diarreia, cefaleia, sonolência, fadiga, dor muscular e constipação. Os efeitos menos comuns incluem aqueles que afetam o SNC (confusão, delírio, alucinações, fala arrastada e cefaleias), que ocorrem primariamente com a administração intravenosa dos fármacos ou em indivíduos idosos. O uso da cimetidina em altas doses e por longo tempo — que hoje é raramente utilizada na clínica —, diminui a ligação da testosterona ao receptor de androgênio e inibe a CYP que hidrolisa o estradiol. Clinicamente, esses efeitos podem provocar galactorreia nas mulheres e ginecomastia, redução da contagem de espermatozoides e impotência nos homens. Vários relatos associaram os antagonistas dos receptores H2 a várias discrasias hematológicas, incluindo trombocitopenia. Os antagonistas dos receptores H2 atravessam a placenta e são excretados no leite materno. Embora nenhum risco teratogênico significativo tenha sido associado a esses fármacos, justifica-se, ainda assim, muita cautela quando são utilizados durante a gravidez. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 34 Pro���m� 1 – Abe���r� Todos os fármacos que inibem a secreção de ácido gástrico podem alterar a velocidade de absorção e a biodisponibilidade subsequente dos antagonistas dos receptores H2. As interações medicamentosas com os antagonistas dos receptores H2 são observadas principalmente com a cimetidina, e o seu uso diminuiu acentuadamente. A cimetidina inibe as CYP (p. ex., CYP1A2, CYP2C9 e CYP2D6) e, dessa maneira, pode aumentar os níveis de uma variedade de fármacos que são substratos dessas enzimas. A ranitidina também interage com as CYP hepáticas, porém com afinidade de apenas 10% daquela observada com a cimetidina; por conseguinte, a ranitidina tem apenas interferência mínima no metabolismo hepático de outros fármacos. A famotidina e a nizatidina são ainda mais seguras nesse aspecto, sem nenhuma interação medicamentosa significativa mediada pela inibição das CYP hepáticas. Usos terapêuticos As principais indicações terapêuticas dos antagonistas são promover a cicatrização de úlceras gástricas e duodenais, tratar a DRGE não complicada e evitar a ocorrência de úlceras de estresse. CUIDADO!! Pode ocorrer tolerância e rebote com medicações supressoras de ácido! A tolerância aos efeitos supressores dos antagonistas dos receptores H2 sobre a secreção de ácido já está bem descrita e pode ser responsável por uma redução do efeito terapêutico observado com a administração contínua do fármaco. Pode-se desenvolver tolerância em 3 dias após o início do tratamento e pode-se ser resistente ao aumento da dose da medicação. Os inibidores da bomba de prótons, apesar de elevações ainda maiores da gastrina endógena, não causam esse fenômeno, provavelmente porque o local de ação é distal à ação da histamina sobre a liberação de ácido. Entretanto, aumentos de rebote na acidez gástrica podem ocorrer quando ambas as classes desses fármacos são interrompidas, refletindo, possivelmente, alterações na função e justificando uma redução gradual do fármaco ou a sua substituição por agentes alternativos (p. ex., antiácidos) nos pacientes de risco. Sub Sub Tópico Atenção para mudanças nos hábitos e estilos de vida que podem ser adotados nos estágios iniciais da DRGE. ANTIÁCIDOS REF: Farmacologia Básica e Clínica Os antiácidos são utilizados há séculos no tratamento de pacientes com dispepsia e doenças ácido-pépticas. Constituíram a base do tratamento dos distúrbios ácido-pépticos até o advento dos antagonistas dos receptores de H2 e dos inibidores da bomba de prótons. Continuam sendo usados como remédios de venda livre para tratamento da pirose e da dispepsia intermitente Os antiácidos são bases fracas que reagem com o ácido clorídrico gástrico, formando sal e água. Seu principal mecanismo de ação consiste em reduzir a acidez intragástrica. As formulações que contêm hidróxido de magnésio ou hidróxido de alumínio reagem lentamente como HCl, formando cloreto de magnésio ou cloreto de alumínio e água. Como não há produção de gás, não ocorre eructação. A alcalose metabólica também é incomum, devido à eficiência da reação de neutralização. Como os sais de magnésio não absorvidos podem causar diarréia osmótica, e os sais de alumínio podem provocar constipação intestinal, esses fármacos costumam ser administrados juntos em formulações comerciais para minimizar o impacto sobre a função intestinal (um cancela o efeito do outro). Tanto o magnésio quanto o alumínio são absorvidos e excretados pelos rins. Por conseguinte, os pacientes com insuficiência renal não devem tomar esses fármacos por um longo período de tempo. Todos os antiácidos podem afetar a absorção de outras medicações por causa de sua ligação ao fármaco (reduzindo a sua absorção) ou do aumento do pH intragástrico, com consequente alteração na dissolução ou solubilidade do fármaco (em particular os fármacos pouco básicos ou ácidos). Por isso, não se deve administrar antiácidos dentro de 2 horas após a ingestão de doses de tetraciclinas, fluoroquinolonas, itraconazol e ferro. AINE REF: Golan Mais de 100 mil pacientes são hospitalizados por ano com complicações gastrintestinais associadas ao uso de AINE, e, nesses pacientes, o sangramento gastrintestinal apresenta uma taxa de mortalidade de 5 a 10%. O trato gastrintestinal constitui o alvo mais comum dos efeitos adversos dos AINE. A lesão gastrintestinal associada aos AINE é atribuída tanto à lesão tópica quanto aos efeitos sistêmicos desses fármacos. Os AINE são, em sua maioria, ácidos orgânicos fracos. No ambiente ácido do estômago, esses agentes são compostos neutros que podem atravessar a membrana UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 35 Pro���m� 1 – Abe���r� plasmática e penetrar nas células epiteliais gástricas. No ambiente intracelular neutro, os fármacos são reionizados e retidos. A consequente lesão intracelular é responsável pelo dano gastrintestinal local associado ao uso de AINE. Os AINE também causam lesão sistêmica do revestimento gastrintestinal, em grande parte em decorrência da diminuição da síntese de prostaglandinas na mucosa. Conforme descrito detalhadamente no Capítulo 42, a formação de prostaglandinas a partir do ácido araquidônico é catalisada por duas enzimas ciclo-oxigenases. Em geral, a ciclo-oxigenase-1 (COX-1) é expressa de modo constitutivo e produz as prostaglandinas gástricas responsáveis pela integridade da mucosa, enquanto a ciclo-oxigenase-2 (COX-2) é induzida por estímulos inflamatórios. A inibição da COX-1 pelos AINE pode levar à ulceração da mucosa, uma vez que a inibição da síntese de PGE2 remove um dos mecanismos protetores que mantêm a integridade da mucosa gástrica. Embora os AINE seletivos da COX-2 (coxibes) possam estar associados a menor risco de formação de úlceras do que os AINE não seletivos, os coxibes parecem estar vinculados a aumento na taxa de infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico. Vários dos AINE seletivos da COX-2 foram voluntariamente retirados do mercado (rofecoxibe e valdecoxibe), enquanto o uso do terceiro foi voluntariamente limitado (celecoxibe). Os efeitos cardiovasculares adversos dos inibidores seletivos da COX-2 podem resultar da supressão da produção de prostaciclinas pelas células endoteliais vasculares (catalisadas pela COX-1 e pela COX-2), possibilitando que o tromboxano produzido pelas plaquetas (catalisado pela COX-1) exerça efeito protrombótico sem qualquer oposição. Embora haja muitas evidências de lesão de AINE causada pela inibição da síntese de prostaglandinas, há outros mecanismos sistêmicos pelos quais esses fármacos podem causar úlceras. Os AINE, por exemplo, elevam a expressão de moléculas de adesão intercelular no endotélio vascular da mucosa gástrica, e o aumento da aderência dos neutrófilos ao endotélio vascular provoca a liberação de radicais livres e proteases, que causam lesão da mucosa. DIPIRONA O mecanismo de ação da dipirona é via inibição da síntese de prostaglandina. A dipirona inibe a ciclooxigenase, síntese do tromboxano, a agregação plaquetária induzida pelo ácido araquidônico e a síntese total de prostaglandina E1 e E2. A ação da droga pode ser tanto central como periférica. Há evidências de que a ação central da dipirona no hipotálamo reduz a febre. Inibe a COX-3 no SNC justificando seus efeitos antipiréticos e analgésicos. Drogas anti-inflamatórias não esteroidais (AINEs) podem provocar sangramento gastrintestinal, causando resultado falso positivo no teste de hemocultura fecal em alguns indivíduos. A maioria dos efeitos colaterais relacionados com o uso de AINEs é devida à inibição da COX-1. × Dispepsia (“indigestão”); × Hemorragia gástrica; × Em administração prolongada, risco de úlcera gástrica; × Náuseas; × Vómitos; × Alergias como urticária na pele, eritemas e até raros casos de choque anafilático; × Insuficiência renal reversível com a cessação da medicação; × Nefropatia associada ao uso de analgésicos e anti-inflamatórios: por vezes irreversível, decorre do uso contínuo de aspirina, paracetamol, indometacina, ibuprofeno, diclofenaco. O consumo crônico (por mais de três anos) de AINEs pode levar a formas irreversíveis de nefrotoxicidade. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 36 Pro���m� 1 – Abe���r� × Síndrome de Reye - grave condição causada raramente pela aspirina em crianças. × A overdose de aspirina causa acidose metabólica. Um dos principais efeitos colaterais dos AINEs é o desenvolvimento de gastrites e úlceras gástricas. Isso ocorre porque inibindo a COX-1, há uma diminuição nas concentrações da prostaglandina E2 (PGE2), responsável por estimular as células principais do estômago a produzirem muco e bicarbonato que recobre e protege as paredes do estômago do próprio ácido clorídrico (liberado pelas células parietais do estômago). Por este motivo, a administração dos AINEs deve ser feita junto à refeição, evitando-se utilizá-los durante o jejum. Este fato está relacionado com a função da COX-1 que, dentre outras funções, é responsável pela produção de muco no estômago. Daí a importância de se administrar AINEs durante as refeições: o alimento, por si só, diminui o pH do estômago e causa um efeito protetor à mucosa gástrica, o que diminui a ação corrosiva do ácido à mucosa. A administração de AINEs geralmente é feita junto a medicamentos protetores gástricos (como o Omeprazol, um inibidor da bomba de cloro gástrica) e/ou por meio de outra via de administração que não seja oral (como a via endovenosa ou intramuscular). Esta conduta é largamente utilizada para pacientes com úlceras gástricas graves. O Misoprostol (Cytotec®) é a versão sintética da prostaglandina E1 (PGE1) também é uma droga protetora gástrica utilizada por pacientes que apresentam graves úlceras gástricas. O Misoprostrol, entretanto, pode causar aborto como efeito colateral: este medicamento age ainda como a PGF2α, que apresenta, entre outras funções, a capacidade de intensificar as contrações uterinas (podendo ser utilizada como auxiliar no trabalho de parto normal, quando bem indicada). UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� 37
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