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1 MARKETING SOCIAL E AMBIENTAL AULA 3 Prof. Angelo de Sá Mazzarotto 2 CONVERSA INICIAL Nesta rota vamos tratar da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) e da Responsabilidade Social Corporativa (RSC), com um breve histórico, conceitos e competências. Os recursos financeiros, tecnológicos e econômicos e a influência política que as empresas possuem impõem, a elas, a responsabilidade por decisões e ações propulsoras do desenvolvimento sustentável, para minimizar a degradação ambiental, as injustiças sociais, a baixa qualidade de vida e a corrupção, por meio da ética, da transparência e da qualidade em serviços e produtos, em todas as etapas da cadeia produtiva. Dessa soma de interesses e esforços, e visando ao desenvolvimento sustentável, a RSE e a RSC se aprimoram em conhecimento, valores e metodologias, compondo o que podemos chamar de sistema de responsabilidade social, no qual se incluem a Responsabilidade Social Econômica e a Responsabilidade Social Ambiental, além da RSE e a RSC. Por décadas as organizações e instituições se organizam em torno da proposta de desenvolvimento sustentável, visando ao desempenho do papel social da empresa. Vários Institutos, órgãos governamentais, Universidades e empresas dos diversos setores e de vários países alimentam esses sistemas, compartilhando as boas práticas adotadas e os resultados obtidos por meio da gestão sustentável. Compondo bancos de dados disponíveis ao público empresarial, esse compartilhamento confirma a importância e a eficácia da responsabilidade social, em qualquer segmento produtivo, e sua efetiva contribuição para a qualidade de vida no planeta. Evidentemente, há muito o que se fazer para aumentar o número de empresas comprometidas com a responsabilidade social, para ampliar a divulgação de boas práticas e modificar políticas e leis, de modo a acelerar e facilitar a gestão sustentável. Esta aula tem como temas a Responsabilidade Social Empresarial e a Responsabilidade Social Corporativa, que, somados aos temas das demais aulas, darão consistência às práticas do Marketing Socioambiental. 3 CONTEXTUALIZANDO As organizações se desenvolvem em um processo contínuo, provocado por exigências internas, dos funcionários, e exigências externas, do mercado e da dinâmica social. Tal afirmação, por óbvia que seja, é a essência e a causa do surgimento da Responsabilidade Social Empresarial, da Responsabilidade Social Corporativa, da Responsabilidade Social Econômica e da Responsabilidade Social Ambiental. Com intuito de compreender as diferenças que dão origem aos nomes, sugiro que busque realizar uma pesquisa para entender os diferentes modelos de responsabilidade social. TEMA 1: BREVE HISTÓRICO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL Na sua origem, logo após a Segunda Guerra Mundial, o conceito de Responsabilidade Social definia responsabilidades aos dirigentes de indústrias, relativas ao atendimento aos interesses dos consumidores, funcionários e acionistas e à emergente necessidade de cooperação para a reconstrução das nações enfraquecidas pelas guerras. Surgem, então, várias associações de classe, como sindicatos, igrejas e clubes, que buscavam a reconstrução das cidades e das empresas e melhorias na qualidade de vida. Esse movimento desencadeou uma troca cooperativa de conhecimento e experiências que favoreceram, gradativamente, a solução de problemas empresariais e sociais e a reconstrução de estruturas e processos produtivos. Esse movimento gerou novo ânimo e novos conceitos e valores, que passaram a regular as relações de trabalho e distribuição de rendas e as relações com o ambiente social e natural, em que as empresas estavam inseridas. A partir da década de 1990, questões relativas à ética, ao meio ambiente, à justiça social, à educação, à inovação e qualidade em produtos e serviços passam a compor a pauta da responsabilidade social das empresas e 4 instituições, que assumem necessariamente a concepção de parceria com todas as partes envolvidas e novo papel no desenvolvimento sustentável. Organizações produtivas de bens e serviços passaram a assumir compromissos com ações duradouras com foco no bem-estar da comunidade e do ambiente em que estavam inseridas. Após o surgimento do conceito de Responsabilidade Social, e no decorrer das décadas, práticas bem-sucedidas passaram a formar um repertório que consolida, cada vez mais, os fundamentos e propriedades da Responsabilidade Social, constituindo-se, inclusive, em requisito para as relações de negócio entre empresas sustentáveis. No Brasil, programas socioambientais do Banco do Brasil geraram informações e experiências a partir da adoção do modelo de Balanço Social proposto pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas de somado à Gestão da Responsabilidade Socioambiental e Empresarial (IBASE). Dessa forma, contribuindo para a compreensão geral a respeito das ações de Responsabilidade Social, com temas específicos de governança, negócios, sociedade e meio ambiente (IBASE, 2016). Surgia, então, com base no exercício de 2002, o Relatório Anual de Responsabilidade Social, pelo qual o Banco do Brasil se posiciona como um agente de desenvolvimento econômico-social. Isso não só por sustentar o título de maior banco de varejo do Brasil, mas também de sua vontade política de engajar-se às causas e demandas socioambientais. Seu porte e sua distribuição no território nacional ajudaram a difundir os preceitos de responsabilidade socioambiental, servindo como catalisador de uma reação em cadeia. A certeza de que o caminho estava correto veio com variados selos e prêmios que o Banco do Brasil conquistou nos últimos anos, além da gestão com melhoria contínua (IBASE, 2016). O resultado apresentado no Relatório Anual de Responsabilidade Social ─ além de informar as ações realizadas no ano ─ sinaliza, por meio de indicadores, o caminho para correções e ajustes na gestão. Esse documento tem sido um processo contínuo de subsídios para ações bem-sucedidas do 5 Banco do Brasil, qualificando-o como referência às empresas que ingressam no campo da gestão responsável e sustentável. No decorrer do tempo, as boas práticas de responsabilidade social geraram melhorias nos negócios, nas relações entre as partes envolvidas e na qualidade de vida na sociedade, e apontaram necessidades específicas para as responsabilidades sociais nos grupos empresariais. Estrutura-se, assim, a Responsabilidade Social, em quatro grandes sistemas: a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), a Responsabilidade Social Corporativa (RSC), a Responsabilidade Social Econômica (RSE) e a Responsabilidade Social Ambiental (RSA), sendo esta última detentora de um saber científico e metodológico relevante, que amplia e substancia os outros sistemas. Segundo Vergara e Branco (2001), as empresas são construções sociais, e, como tal, são fortes determinantes na geração dos problemas sociais e dos rumos da sociedade, nos âmbitos das relações de trabalho, da criação e oferta de produtos e serviços, na obtenção e aplicação dos insumos da produção, e da contrapartida às comunidades circundantes. Para os autores, as organizações devem conduzir seus negócios na qualidade de parceiros da sociedade, corresponsáveis, portanto, pelo desenvolvimento social, econômico e ambiental. TEMA 2: A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL Para Vergara e Branco (2001, p. 21): “Responsabilidade social é uma forma de gerir uma empresa que busca maximizar os efeitos positivos sobre todas as pessoas que são e podem ser impactadas pela empresa”. A responsabilidade social é voluntária, diferente da prática empresarial, que busca atender às exigências governamentais, no cumprimento de leis e ou para obtenção deincentivos ou benefícios. Na observância da responsabilidade social, as empresas adotam valores e filosofia de trabalho, bem como inovações em seus processos produtivos, beneficiando os seus públicos interno e externo e o meio ambiente. Importante destacar que as empresas não são responsáveis pela solução dos problemas sociais e 6 ambientais, na amplitude, mas são responsáveis por problemas e soluções de tais naturezas, nos contextos afetados pela cadeia produtiva nas quais se inserem. Para Melo e Froes (2001, p. 79), a Responsabilidade Social não é um resultado, uma condição estática, mas um processo dinâmico a ser conduzido com vigilância permanente, de forma inovadora e dotado de mecanismos renovadores e de sustentabilidade. Ou seja: uma gestão que envolve transparência, ética e valores na relação com seus parceiros e com o meio ambiente, de modo a promover a prosperidade conjunta, no presente e no futuro. Os princípios da Responsabilidade Social Empresarial são derivados da fusão dos seguintes documentos: Declaração Universal de Direitos Humanos; Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho; da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; e Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, que compõem o Pacto Global (PACTO GLOBAL, 2016). No Brasil, em 2012, mais de duzentas empresas e Instituições elaboraram a carta de Contribuição Empresarial para a Promoção da Economia Verde e Inclusiva, composta por dez Compromissos em favor da economia verde e o desenvolvimento sustentável. Sínteses dos dez Compromissos firmados no Encontro Anual da Rede Brasileira do Pacto Global, em 2012, são apresentadas a seguir: 1. Objetivar o resultado econômico sustentável, por meio da maximização dos benefícios ambientais e sociais e a minimização dos impactos negativos. 2. Atuar nas cadeias e processos produtivos, de forma a melhorar a eficiência do uso de recursos ambientais (energia, materiais, solo, água etc.) e a reduzir desperdícios (resíduos, efluentes, gases de efeito estufa etc.); ampliar o uso de fontes de energia ou de matérias-primas renováveis; gerar empregos dignos, em conformidade com os diretos humanos e o desenvolvimento contínuo, com diálogo, cooperação, e o comprometimento visando ampliar a contribuição da cadeia para o desenvolvimento sustentável. 3. Investir em inovação e tecnologia, introduzindo novas soluções em processos, produtos e serviços, para reduzir impactos decorrentes da produção e de descartes associados 7 aos produtos e serviços. 4. Orientar o papel do consumidor e a suas escolhas de consumo, considerando todo o ciclo de vida dos produtos e serviços. 5. Direcionar investimentos sociais para: Inclusão social da camada mais pobre da população; Educação e desenvolvimento de competências para a sustentabilidade, e promoção da diversidade humana e cultural. 6. Melhorar e fortalecer relacionamentos com as partes interessadas, promovendo o comportamento ético e coibindo a corrupção, o que inclui a ética na informação das características dos produtos e serviços. 7. Definir e praticar metas de contribuição de cada um dos negócios, para o desenvolvimento sustentável, divulgando a performance real dos compromissos. 8. Difundir as melhores práticas adotadas pelas empresas, respeitando a propriedade intelectual, para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. 9. Contribuir nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, economia verde e inclusiva, economia de baixo carbono ou qualquer outro tema correlato nos fóruns empresariais, como sindicatos e associações, dos quais fazemos parte, especialmente no Comitê Brasileiro do Pacto Global; em universidades e escolas de negócios; junto à sociedade organizada e junto ao governo; de modo a influenciar e ser influenciado nessa interação. 10. Influenciar e apoiar as decisões e políticas do governo brasileiro que contribuam para o desenvolvimento sustentável, considerando os cinco aspectos relacionados a políticas públicas: a) fortalecimento da educação em todos os níveis, no âmbito dos princípios e práticas do desenvolvimento sustentável; b) investimento em inovação, pesquisa e desenvolvimento de ciência e tecnologia, que possibilitam melhorias significativas na gestão de impactos ambientais e sociais; c) Promoção da produção e do consumo sustentável e de menor impacto ambiental e social; d) Apoio às empresas que assumam os riscos da introdução de novos produtos e serviços mais sustentáveis; e) E fortalecimento da participação empresarial e da integração das diversas políticas nacionais e globais, considerando o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental. (PACTO GLOBAL, 2016); A agenda Ethos de Responsabilidade Social preconiza o código de ética, com os compromissos públicos da empresa, que incluem a gestão e prevenção de riscos, os mecanismos anticorrupção, a promoção da diversidade, o apoio às minorias, a serem assumidos por toda a cadeia produtiva envolvida. (PACTO GLOBAL, 2016). Para a elaboração da agenda, o Instituto Ethos considerou os fundamentos da instituição norte-americana chamada Business and Social Responsibility, que desde 1998 propõe a prática da Responsabilidade Social 8 Empresarial (RSE), visando à ampliação do conhecimento empresarial sobre critérios de responsabilidade social para a implantação de políticas e práticas éticas (ETHOS, 2016). O Instituto Ethos, igualmente, promove e incentiva as práticas inovadoras eficazes de gestão empresarial e de relacionamento com as partes envolvidas em seus negócios, ampliando oportunidades para a qualidade empresarial e social. A Responsabilidade Social Empresarial adota indicadores de diagnóstico, relatórios e planos de ação relativos aos sete subsistemas, a seguir (ETHOS, 2016): Valores e Transparência; Público interno; Meio ambiente; Fornecedores; Comunidade; Consumidores/clientes; Governo e Sociedade. Estes subsistemas correspondem aos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial, uma ferramenta para autoavaliação e planejamento dos processos nas organizações, sendo a base para as práticas empresariais, neste âmbito. As práticas de Responsabilidade Social Empresarial, em expansão no cenário nacional e internacional, têm possibilitado ganhos quantitativos e qualitativos, impulsionando os resultados e as relações com os públicos envolvidos direta e indiretamente nas cadeias produtivas, gerando, inclusive, forte pressão sobre governos para melhorias legais, institucionais e políticas. Para a disseminação das melhores práticas, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social criou o Banco de Práticas de Responsabilidade Social, com dados produzidos pelas empresas e registrados 9 nos formulários de Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Além das boas práticas, o banco de dados apresenta correlações entre as práticas e os resultados, desafios, aprendizagem empresarial e orientações para as empresas efetivarem seus planos de melhoria em sustentabilidade. Atualmente, as empresas podem dispor do índice remissivo baseado nos nove princípios do Global Compact, criado para mobilizar a comunidade empresarial internacional na promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho e meio ambiente. O Global Compact determina que as empresas contribuam para o desenvolvimento de uma estrutura socioambiental consistente, em mercados livres e abertos, assegurando benefícios para a economia global. No referido documento há um quadro comparativo entre os princípios do Global Compact e os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. O Instituto Ethos espera que as organizações identifiquem, analiseme gerenciem os impactos ocasionados e sofridos no desenvolvimento dos negócios, que construam continuamente uma boa imagem e a sustentabilidade, melhorando o quadro socioambiental do Brasil, país onde hoje se encontra a maioria das empresas signatárias da iniciativa mundial representada pelo Global Compact, cujos princípios são apresentados no item 4 deste texto. TEMA 3: RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA Na literatura e nos documentos técnicos elaborados por organizações que se dedicam a sistematizar conteúdos referentes à Responsabilidade Social não há um consenso quanto à definição do conceito de Responsabilidade Social Corporativa. Em alguns textos, a semelhança entre a RSC e a RSE não possibilita especificações claras para a RSC. Por essa razão, e para o entendimento inicial do tema deste capítulo, incluímos aqui, síntese de elementos extraídos da literatura a respeito do conceito de corporação. Criada em 1870, na Europa, a corporação surgia como reunião de alguns empresários, donos de empresas fortes em um determinado setor 10 produtivo, que agregavam pequenas e médias empresas fornecedoras de elementos essenciais para o setor, para manter e ampliar mercados, lucros e maior autonomia. Os vínculos formais entre os fornecedores agregados e diretores da corporação acenavam com possibilidades de maior produtividade e lucro para as empresas agregadas, mas subordinava os fornecedores às exigências da corporação, restringindo-os na autonomia, modificando seus planos de trabalho, cultura, valores e estilo gerencial. Atualmente temos um cenário mais maduro neste campo: vínculos contratuais, normativos e estratégicos mais claros e consistentes entre gestores das corporações, fornecedores agregados, governos e instituições que regulam a ação empresarial. Há uma notável evolução para a gestão de qualidade nas corporações, resultante da evolução nos vários fatores que compõem a produção de bens e serviços. Alguns estudiosos do tema creem que no futuro as corporações serão transformadas em confederações. Hoje, a corporação com responsabilidade social alinha práticas de RSC à estratégia organizacional; realiza programas de educação ambiental; implementa projetos ambientais para o público externo; divulga práticas de RSC para a comunidade, com transparência; utiliza fontes de energia renováveis; realiza ações de conscientização dos funcionários quanto ao uso de insumos básicos; usa de modo eficiente insumos básicos; indica se as empresas possuem programas estruturados para o adequado consumo de insumos básicos; realiza auditorias socioambientais; incentiva atividades de ecoeficiência; monitora níveis de poluição; adota tecnologias de tratamento de efluentes e processos de redução de impactos ambientais; responsabiliza-se pelo passivo ambiental reconhecidamente provocado pelas ações da empresa (SINAY et al, 2014). A Responsabilidade Social Corporativa requer, fundamentalmente, um diálogo contínuo, ético e transparente, com todas as partes envolvidas em todas as etapas da cadeia produtiva. Há linguagens comuns para esse diálogo, com padrões e normas validadas internacionalmente, como as que compõem o sistema de gestão da 11 qualidade. São linguagens que possibilitam a percepção e análise dos processos de produção de bens e serviços, por todos os envolvidos na cadeia produtiva. Por essa razão, a Responsabilidade Social Empresarial e a Corporativa estão vinculadas à ISO 26000. Publicada no dia 1.º de novembro de 2010, a Norma Internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social foi lançada em Genebra, Suíça, e teve a sua versão em português lançada na FIESP, em São Paulo, no mesmo ano. Segundo a ISO 26000, a Responsabilidade Social reflete o interesse das empresas em contribuir positivamente para a solução das questões socioambientais, incluindo-as como essenciais à gestão, no tocante aos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente (FIESP 2016). Hoje as empresas dispõem da Cartilha “COMPREENDENDO A RESPONSABILIDADE SOCIAL - ISO 26000 E ABNT NBR 16001” elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente, INMETRO, ABNT e Fórum Governamental de Responsabilidade Social (INMETRO 2016). Abordando o conceito, princípios e temas da Responsabilidade Social à luz das normas ISO 26000 e ABNT NBR 16001, a Cartilha esclarece a relação da Responsabilidade Social com o desenvolvimento sustentável; indica vantagens e benefícios para as empresas e instituições com Responsabilidade Social; correlaciona normas com instrumentos internacionais e nacionais e fornece informações sobre o Programa Brasileiro de Certificação em Responsabilidade Social, coordenado pelo INMETRO (INMETRO, 2016). TEMA 4: PRINCÍPIOS DO GLOBAL COMPACT O Global Compact, um programa da Organização das Nações Unidas (ONU), é composto de nove princípios que sintetizam declarações e princípios internacionais, que orientam empresas, corporações e instituições no âmbito da responsabilidade social. Embora a implantação desses princípios e de ações correspondentes seja gradativa, as organizações devem observar tais princípios na totalidade e considerá-los como norteadores, para que se tornem 12 socialmente responsáveis. Assim como os demais elementos que constituem a RSE, a RSC e a RSA, os nove princípios do Global Compact, a seguir apresentados, favorecem o fortalecimento organizacional e a competitividade internacional. Pois os bons negócios e a prosperidade estão, cada vez mais, vinculados à gestão sustentável, em todos os segmentos de mercado (GLOBAL COMPACT, 2016): PRINCÍPIO N. º 1 Cabe às empresas respeitar e aplicar os preceitos dos direitos humanos, incluindo-os como valores e obrigações em todos os segmentos internos e externos, ou seja, instituir e exigir o cumprimento dos direitos humanos na gestão de todas as empresas envolvidas no negócio (GLOBAL COMPACT, 2016). PRINCÍPIO N. º 2 Por consequência do primeiro princípio, a empresa não deve participar ou se envolver em parcerias com empresas que violem os direitos humanos. Deve, sim, inteirar-se da ética, da transparência e da cidadania na gestão das empresas fornecedoras, por exemplo, antes de contratar bens e serviços. Igualmente, práticas contrárias aos direitos humanos no ambiente interno da empresa devem ser inibidas e ou punidas, segundo as leis que regem os direitos humanos, as quais devem estar contempladas no Estatuto e no Regimento Interno da organização (GLOBAL COMPACT, 2016). PRINCÍPIO N. º 3 O Global Compact apoia o diálogo e a negociação favoráveis à prosperidade do aumento da competitividade. Esse princípio estabelece que as empresas devam apoiar a associação e a negociação coletiva. O princípio orienta aos empregadores a respeito da decisão do empregado sobre a associação de classe e manifestações pertinentes ao exercício dos direitos do setor de trabalho e melhorias necessárias (GLOBAL COMPACT, 2016). 13 PRINCÍPIO N. º 4 A empresa deve eliminar o trabalho forçado ou compulsório, respeitar as leis trabalhistas e jurisprudência em vigor no país e promover o exercício profissional em condições dignas, saudáveis e seguras (GLOBAL COMPACT, 2016). PRINCÍPIO N. º 5 Erradicar o trabalho infantil na empresa e em toda cadeia produtiva da qual a empresa faz parte é a essência deste princípio. É evidente que este princípio pressupõe melhorias significativas no contexto socioeconômico que gera o trabalho infantil. Essas melhorias cabem aos governos, primeiramente, mas as empresas socialmente responsáveis podem e devem contribuir com ações efetivas, como a criação de programas sociais e benefícios que promovam o desenvolvimento físico, educacional, moral e psicológico dos filhos dos empregados, a remuneração justa, o desenvolvimento profissional e a observância dositens do Balanço Social, de modo a incluir na gestão os benefícios diretos e indiretos que possam gerar melhorias na qualidade de vida dos empregados (GLOBAL COMPACT, 2016). PRINCÍPIO N. º 6 Promover a justa remuneração e a adoção de critérios corretos para a contratação e promoção dos empregados. Na contratação, a empresa deve considerar os requisitos profissionais de acordo com as especificações do cargo a ser preenchido, e na promoção devem valer a avaliação do desempenho e os critérios de méritos. Além desses pontos, a empresa socialmente responsável deve promover a educação e a qualificação continuadas, impulsionando o desempenho geral da empresa e a prática dos valores da Responsabilidade Social e da sustentabilidade, em todos os segmentos da organização (GLOBAL COMPACT, 2016). 14 PRINCÍPIO N. º 7 A empresa é responsável pela qualidade do meio ambiente em que ela e a cadeia produtiva da qual faz parte estão inseridas. Para tanto, análises de impactos ambientais devem ser adotados periodicamente para diagnósticos nos processos produtivos em vigor e, antes da implantação de novos processos, acompanhadas de ações preventivas e/ou corretivas, em conformidade com normas validadas para estes fins (GLOBAL COMPACT, 2016). PRINCÍPIO N. º 8 Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental. A resposta varia de acordo com o porte e a natureza da empresa. Ao aplicar políticas e práticas ambientais responsáveis, empregadores estarão aumentando sua produtividade e dando exemplo para outras empresas. As companhias são encorajadas a apoiar a responsabilidade ambiental no âmbito de seus contratos empresariais. (GLOBAL COMPACT 2016). PRINCÍPIO N. º 9 A empresa deve desenvolver, adotar e difundir tecnologias que não agridam o meio ambiente e a vida das comunidades, o que implica garantir ar, água, e todos os recursos naturais saudáveis e disponíveis às populações atuais e do futuro. Além disso, a empresa deve considerar a evolução dos impactos e as consequências provocadas pela construção de unidades de trabalho em áreas consideradas de risco, de preservação ambiental e as estruturas existentes na comunidade, levando em conta, também, a dinâmica climática e suas ações no contexto socioambiental (GLOBAL COMPACT, 2016). PRINCÍPIO Nº 10 As empresas devem atuar de forma licita em todas as suas instâncias e rejeitar qualquer forma de corrupção (GLOBAL COMPACT, 2016). 15 TEMA 5: BOAS PRÁTICAS EM RESPONSABILIDADE SOCIAL - ETHOS Transparência, em que o discurso seja coerente com a prática em todas as etapas de produção de bens e serviços (ETHOS 2016). Valorização de empregados e colaboradores, com aproveitamento e reconhecimento do potencial e experiência profissional, considerando suas sugestões de melhoria em processos e gestão, permitindo que os saberes dos empregados possam ser incluídos no processo decisório, conforme seus níveis de competência; promovendo a educação e a qualificação continuada e adotando medidas de avaliação e promoção por mérito. Enfim, valorizar empregados e colaboradores vai além da aplicação das leis trabalhistas; parte do conceito de parceria, para a evolução dos negócios e dos lucros, tanto quanto para a evolução da qualidade de vida dos trabalhadores e de suas comunidades (ETHOS, 2016). Fazer sempre mais pelo meio ambiente, reduzindo impactos e consequências degradantes em todas as etapas da produção, que se inicia na concepção do negócio, passando pela obtenção de insumos, pela utilização de fontes de energia, pelos processos de produção, pelo armazenamento, pela distribuição até o consumidor e o descarte final (ETHOS, 2016). Gerenciar com responsabilidade ambiental é também reduzir e destinar o descarte de forma apropriada; é reduzir toda forma de poluição (química, sonora, visual e outras); é incentivar a eficiência e consequente economia de energia; é conscientizar e exigir dos empregados, colaboradores e parceiros esses mesmos cuidados na produção e na gestão. Para isso, a empresa pode adotar campanhas envolvendo os públicos internos e externos, ou seja: integrantes da empresa e demais envolvidos na cadeia produtiva, incluindo comunidades e agentes da Educação Ambiental, por meio do Marketing Socioambiental. É importante lembrar que o Marketing 16 Socioambiental é indispensável na educação e qualificação contínua dos empregados, em que difunde de modo eficaz os valores e as boas práticas da responsabilidade social na rotina da empresa; é um instrumento de motivação para a melhoria contínua e para a sustentabilidade (ETHOS, 2016). Envolver parceiros e fornecedores por meio do diálogo, com transparência e ética, cumprindo os contratos e adotando a troca de conhecimentos e técnicas para o desenvolvimento dos negócios, num processo de ajuda e crescimento recíproco. Nesse processo devem ser incluídos, também, todos os profissionais que interfiram diretamente na produção e no clima do ambiente de trabalho, como os terceirizados (ETHOS, 2016). Proteger Clientes e Consumidores, desenvolvendo produtos e serviços confiáveis quanto à qualidade e a segurança; fornecer instruções completas e claras de uso e suas restrições e riscos. Considerar a saúde do consumidor é a parte relevante nas práticas da responsabilidade social. Em suas atribuições, a empresa deve cumprir exigências que possibilitam a credibilidade, a eficiência e a segurança dos produtos e serviços. Para tanto, a ABNT, o INMETRO, a Vigilância Sanitária e o Código de Defesa do Consumidor disponibilizam às empresas e aos consumidores, estudos, manuais e normas técnicas (ETHOS, 2016). Promover comunidades é um dos principais valores a ser praticado pela empresa. Para haver um crescimento próspero e saudável, a organização deve se relacionar respeitosamente no contexto social em que está inserida. Isso significa, dentre outras coisas, valorizar, preservar e se adaptar aos costumes e tradições vigentes no local, na região e no país. Em harmonia com esse contexto, a empresa deve contribuir com o desenvolvimento socioeconômico da comunidade, implantando ações ou 17 contribuindo para as iniciativas espontâneas de crescimento das comunidades em projetos educacionais, esportivos, culturais; de melhorias na saúde, na acessibilidade e paisagismo, por exemplo (ETHOS; 2016). Comprometer-se com o bem comum. As boas práticas acima descritas culminam com o bem comum como valor maior. É certo afirmar que uma empresa isolada se destina à falência e que somente a parceria com todos os envolvidos nos negócios e com o contexto social, econômico e ambiental promove o crescimento e o desenvolvimento próspero. A ética nas relações de negócios e de trabalho exige de cada parte envolvida o cumprimento das obrigações legais, fiscais e sociais, criando um campo de força capaz de direcionar impostos e tributos arrecadados, para os interesses da empresa e da sociedade, de forma legal e justa, promovendo o desenvolvimento de uma nação (ETHOS, 2016). TROCANDO IDEIAS O instituto ETHOS vem há vários anos desenvolvendo e aplicando conceitos e procedimentos para aprimorar a responsabilidade social nas empresas. Com intuito de se familiarizar com essas práticas, sugiro a realização de um fórum para discutir e apresentar as estratégias que as empresas vêm adotando para o fortalecimento da Responsabilidade Social Empresarial, além de realizar um debate sobre os indicadores aplicados neste modelo de gestão. NA PRÁTICA Uma Fábrica de calçados solicita à sua equipe que desenvolva uma gestão com responsabilidade social em sua matriz. Após um diagnóstico inicial, sua equipe resolve iniciar as atividades selecionando um modelo de gestão de responsabilidade social mais adequado e, para a sua implantação, será18 levantado um conjunto de: indicadores, boas práticas e valores de responsabilidade social, para que sejam aplicados na empresa. Para resolver siga os passos seguir: a) Primeiro passo será levantar as ferramentas disponíveis no mercado para atuar com gestão de responsabilidade social; b) Após a escolha do modelo mais apropriado para a organização, deverão ser selecionados indicadores de responsabilidade social para compor a estrutura de gestão da empresa. c) Na última etapa, será elaborado um plano de ação descrevendo as fases da elaboração do programa de responsabilidade social. Síntese de uma resolução: a) Nesta etapa, você deverá conhecer os modelos de gestão de responsabilidade social como o do instituto Ethos, da ISO 26000, NBR 16001, do INMETRO, AS 8000 entre outras; b) Uma dica quando aos indicadores de gestão RSE, é realizar um benchmarking revendo os indicadores do instituto ETHOS adotados por outras empresas. Este material está disponível na cartilha: http://www3.ethos.org.br/wp- content/uploads/2013/07/IndicadoresEthos_2013_PORT.pdf c) Existem muitas maneiras de montar um plano de ação. Escolha uma e mãos à obra. No site a seguir, você encontrará dicas e exemplos para baixar: http://www.elirodrigues.com/2013/06/03/como-fazer-um-plano-de-acao/ http://www3.ethos.org.br/wp-content/uploads/2013/07/IndicadoresEthos_2013_PORT.pdf http://www3.ethos.org.br/wp-content/uploads/2013/07/IndicadoresEthos_2013_PORT.pdf http://www.elirodrigues.com/2013/06/03/como-fazer-um-plano-de-acao/ 19 SÍNTESE A forma com que as organizações fazem seus negócios expressa o nível da sua Responsabilidade Social Empresarial. O termo que define a RSE está associado com a ética e a transparência na organização e deve expressar a intensão das decisões que têm a capacidade de provocar impactos na sociedade, no meio ambiente e até mesmo no futuro dos negócios. Resumidamente, é possível afirmar que a ética nos negócios acontece quando as decisões de uma organização levam em conta o direito, os valores e os interesses de todos que podem ser afetados por ela independente da intensidade. Desse modo, uma empresa pode ser líder de mercado, porém não estará agindo com ética se, por exemplo, desconsiderar os impactos ambientais que suas atividades produzem. Transparência é outra condição que está estreitamente associada com a ética, sem ela na gestão dos negócios torna-se bastante difícil para uma organização atuar com RSE. Por exemplo, caso ela oculte um dado crucial sobre seus produtos e serviços que poderá comprometer a segurança dos consumidores, esta ação é contraditória a uma responsabilidade social, independente de em quantos projetos de RSE a empresa possa estar inserida. Responsabilidade Social Empresarial, de modo geral, está associada à maneira como as empresas atuam: os critérios que aplicam na tomada de decisões, os valores que estabelecem suas prioridades e as interações com toda a sociedade. Uma das características da empresa socialmente responsável é a consideração respeitosa e efetiva aos interesses das partes envolvidas, dentre as quais os acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo, instituições e meio ambiente, em todos os cenários envolvidos na cadeia produtiva. O Marketing Social e Ambiental se insere nesse contexto, por ser uma estratégia eficaz de mudança de valores e atitudes nas relações entre as partes interessadas e de sistemas e métodos produtivos, visando à 20 sustentabilidade. Melo e Froes (2001, p. 74), na citação abaixo, definem bem a interface da SER e da RSC com o Marketing Social e Ambiental. (...) o verdadeiro marketing social atua fundamentalmente na comunicação com os funcionários e seus familiares, com ações que visam aumentar comprovadamente o seu bem-estar social e o da comunidade. Essas ações de médio e longo prazo garantem sustentabilidade, cidadania, solidariedade e coesão social (...) a empresa ganha produtividade, credibilidade, respeito, visibilidade e, sobretudo, vendas maiores. REFERÊNCIAS ETHOS. Disponível em: < http://www3.ethos.org.br/ >. Acesso em: 28/08/2016. FIESP. Disponível em: < http://www.fiesp.com.br/>. Acesso em: 28/08/2016. GLOBAL COMPACT. Disponível em: < https://www.unglobalcompact.org/ >. Acesso em: 28/08/2016. IBASE. Disponível em: < http://ibase.br/pt/ >. Acesso em: 28/08/2016. INMETRO. Disponível em: < http://www.inmetro.gov.br/ >. Acesso em: 28/08/2016. MELO, N. F. P.; FROES, C. Responsabilidade social & cidadania empresarial: administração do terceiro setor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. PACTO GLOBAL. Disponível em: <http://www.pactoglobal.org.br/>. Acesso em: 28/08/2016. VERGARA, S. C.; BRANCO, P. Empresa humanizada: a organização necessária e possível. Revista de Administração de Empresas, São Paulo: FGV, v. 41, n. 2, abr./jun. 2001. p.21. SINAY, M. C. F.; SINAY, L.; ARAÚJO, G.L. As Grandes Empresas Brasileiras e Suas Responsabilidades Sociais: em que Patamar Estão nos Dias Atuais?. XI Simpósio de Excelência em gestão e tecnologia, 2014.
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