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Perda de sangue 1 Mírian Santos 6° semestre. Problema 01: Respeito no trânsito é respeito à vida! Objetivos: 1. Conceituar o que é o trauma; 2. Compreender o XABCDE do trauma ou politrauma; 3. Elucidar o choque hemorrágico; Conceito; Classificação; Etiologia (Hemorrágica); Fisiopatologia (alterações de parâmetros, o que altera e quanto de sangue perde); Manifestações clínicas; Complicações (abdome); Manejo. 4. Entender o que é o FAST Trauma “Lesão de extensão, intensidade e gravidade variáveis, que pode ser produzida por agentes diversos (físicos,químicos, elétricos), de forma acidental ou intencional, capaz de produzir perturbações locais ou sistêmicas.” Trauma Maior Paciente que na classificação pré-hospitalar apresenta um ou mais dos critérios: 1. Parâmetros vitais: ECG < 14 ou deterioração neurológica; PAS < 90; FR < 10 ou > 29 ou mecânica ventilatória que necessite intubação pré-hospitalar 2. Anatomia da lesão: Ferimento penetrante craniano, cervical, torácico, abdome, extremidades proximais ao cotovelo e joelho; Combinação de traumas ou queimaduras de 2º ou 3º graus; Suspeita clínica de instabilidade da pelve; Suspeita de fratura de dois ou mais ossos longos proximais (fêmur ou úmero); Paralisia de um ou mais membros; Amputação completa ou incompleta proximal ao punho ou ao tornozelo. 3. Mecanismo do trauma: Impacto violento; Ejeção do veículo; Velocidade do veículo superior a 60 km/h Deformação externa superior a 50 cm; Intrusão da lataria superior a 30 cm; Capotamento do veículo; Morte de um ocupante do mesmo veículo; Colisão de automóvel, atropelamento de pedestre ou de ciclista com velocidade superior a 10 km/h Trauma Menor Aquele que na triagem pré-hospitalar se enquadra em um ou mais dos critérios: Dados vitais normais; Fraturas alinhadas, luxações, lacerações; dor leve – moderada; Lesão de pele e subcutâneo com sangramento compressível; Trauma torácico com dor leve sem dispneia; Perda de sangue 2 Mírian Santos 6° semestre. Suspeita de fratura, entorse, luxação, contusões, mialgias; Escoriações, ferimentos que não requerem fechamento e outros traumas que não contém critérios para trauma maior. Etiologia Acidentes automobilísticos - atropelamentos e colisões; Quedas; Acidentes de recreação - jogos de contato, mergulho; Agressões interpessoais; Ferimento por projétil de arma de fogo; Ferimento por arma branca Paciente politraumatizado Um paciente politraumatizado é considerado aquele que apresenta lesões em dois ou mais sistemas, sendo necessário que pelo menos uma, ou uma combinação dessas lesões, represente um risco vital para o doente. Os três picos do trauma As mortes por trauma costumam ocorrer em três picos distintos. O primeiro pico corresponde as mortes que acontecem nos segundos ou minutos iniciais após o trauma. As lesões nesses pacientes são tão graves, que dificilmente eles podem ser salvos. O segundo pico corresponde as mortes que acontecem algumas horas após o trauma. O atendimento pós-trauma nesses pacientes interfere significativamente na probabilidade de sobrevivência da vítima. Esse momento, portanto, é chamado de “Golden Hour”. Por fim, o terceiro pico corresponde as mortes que acontecem mais tardiamente, até algumas semanas após o trauma. A taxa de mortalidade desse grupo tem grande associação com os cuidados prestados nas fases anteriores. Assim, é possível percebermos que o atendimento prestado ao paciente, em cada uma dessas etapas, interfere diretamente no evolução e prognóstico do politraumatizado a longo prazo. 1. Avaliação Inicial Diante de toda vítima politraumatizada, é imprescindível o estabelecimento de uma abordagem sistematizada. Essa abordagem inclui dez etapas, e é denominada de Avaliação Inicial. Vamos entender cada uma dessas etapas! 2. PREPARAÇÃO A preparação envolve dois ambientes distintos: o pré-hospitalar e o intrahospitalar. É fundamental que a equipe que esteja atendendo a vítima no local do acidente comunique a transferência do paciente ao hospital de destino, https://www.sanarmed.com/caso-clinico/caso-clinico-de-emergencia-e-trauma-abordagem-ao-paciente-politraumatizado?term=traumatizado Perda de sangue 3 Mírian Santos 6° semestre. para que ocorra o preparo da emergência pela equipe irá recebe-lo. 3. TRIAGEM A triagem corresponde a classificação das vítimas, de acordo com a gravidade das lesões, para que possam ser encaminhadas para o hospital adequado e com recursos disponíveis para o tratamento necessário. Avaliação primária, reanimação e medidas auxiliares à avaliação primária e à reavaliação Essas três etapas ocorrem simultaneamente, e, portanto, serão abordadas juntas. Nesse momento, o objetivo é identificar e tratar de forma prioritária as lesões que implicam risco a vida. Assim, diante de um doente grave, devemos estabelecer uma sequência de prioridade de tratamento, ou seja, tratar primeiro aquilo que mata mais rápido. Essa sequência é conhecida como ABCDE do trauma, e devemos segui-la rigorosamente. O ABCDE do trauma foi criado na década de 70 pelo cirurgião ortopédico James K. Styner, do Nebrasca (EUA). É um insight que surgiu de uma tragédia: Dr. Styner sofreu um acidente aéreo com a família. Sua esposa morreu imediatamente e ele quase perdeu os filhos também. As dificuldades que percebeu no atendimento à sua família o motivaram a criar o método, garantindo mais agilidade ao atendimento e segurança aos pacientes. Ou seja: aumentando a chance de sobrevivência dos politraumatizados. Cada letra do ABCDE representa um termo em inglês: A = airway / vias aéreas B = breathing / respiração C = circulation / circulação D = disability / incapacidade E = exposure / exposição O famoso mnemônico do trauma "abcde" ganhou na 9ª edição do PHTLS de 2018, no capítulo 6, mais uma letra, o X. Que protocola a contenção de hemorragia externa grave que deve ser antes mesmo do manejo das vias aéreas uma vez que, epidemiologicamente, apesar da obstrução de vias aéreas ser responsável pelos óbitos em um curto período de tempo, o que mais mata no trauma são como hemorragias sepulturas. X (hemorragia exsanguinolenta) A (Airway) - Manutenção de vias aéreas pérvias e controle cervical, acessórios: oximetria de pulso se disponível; B (Breathing) - Avaliação e manutenção da respiração e mecânica ventilatória; C (Circulation) - Manutenção da circulação e controle da hemorragia. Manômetro de pressão. Microondas para aquecer fluidos. Sondagem vesical. D (Disability) - Avaliação do estado neurológico. Colar cervical e prancha longa; E (Exposure) - Exposição do paciente (retirada das roupas) e controle do ambiente (por exemplo, evitar hipotermia). https://www.sanarmed.com/abcde-do-trauma-historia-e-abordagem-pratica-colunistas?term=traumatizado https://www.sanarmed.com/abcde-do-trauma-historia-e-abordagem-pratica-colunistas?term=traumatizado Perda de sangue 4 Mírian Santos 6° semestre. X – HEMORRAGIAS EXANGUINOLENTAS Vale destacar que existem três tipos de hemorragias externas, as capilares, as venosas e as arteriais. As hemorragias capilares acontecem onde há pequenas escoriações sobre a pele e, geralmente, cessamrapidamente, mesmo sem qualquer tipo de técnica aplicada. Já as hemorragias venosas são aquelas que acontecem devido à laceração de alguma veia. Esse tipo de hemorragia apresenta um sague na cor “vermelho vinho” e são, geralmente, cuidadas com uma pressão direta. Por fim, há as hemorragias arteriais. Esse tipo de hemorragia é a mais grave e a mais difícil de controlar. Quando acontecem, você percebe um sangue de cor “vermelho vivo”. As hemorragias arteriais dificilmente são controladas por pressão direta. Por isso, recomenda-se que seja feito um torniquete na extremidade mais próxima do membro afetado. A – VIAS AÉREAS E ESTABILIZAÇÃO DA COLUNA CERVICAL Garantir uma via aérea pérvia, ou seja, aberta e livre, é um passo essencial para o sucesso de um atendimento. Isso se dá, já que uma via aérea obstruída impede a ventilação e, consequentemente, a respiração do seu paciente. Esse quadro, caso dure por muito tempo, pode levar o paciente a óbito. Algumas manobras para a abertura das vias aéreas podem ser realizadas, tais como a elevação de queixo traumatizado ou trauma-mandíbula-impulso. Ademais, nesse momento inicial é necessário que se garanta uma coluna cervical estável, para que possamos evitar movimentos bruscos e, assim, impedir que haja danos neurológicos. De início, a estabilização da cervical pode ser feita com as próprias mãos. Isso deve acontecer até que você tenha disponível um colar cervical. Caso precise reavaliar seu paciente sem o colar cervical, volte a estabilizar a coluna cervical com as mãos, para impedir qualquer dano, haja vista que todo paciente politraumatizado é suspeito de lesão medular até que se prove o contrário. B – RESPIRAÇÃO (VENTILAÇÃO E OXIGENAÇÃO) Nessa etapa, sua preocupação deve ser a ventilação e a respiração do seu paciente, pois, caso algo esteja afetando esses dois processos, pode acontecer, por exemplo, um quadro severo de hipoxemia e acidose metabólica, os quais podem ser negativos para a sobrevida da pessoa. A frequência da ventilação pode variar, gerando quadros desde apneicos até taquipneicos. Além disso, é de extrema importância que seja feita toda a avaliação pulmonar, a qual inclui inspeção do tórax, palpação, percussão e ausculta do mesmo. Isso é importante, porque permite que você encontre achados capazes de indicar problemas, como pneumotórax hipertensivo, tórax instável, hemotórax maciço e pneumotórax aberto, todos com grande potencial de prejudicar a ventilação e a respiração do seu paciente. Perda de sangue 5 Mírian Santos 6° semestre. C – CIRCULAÇÃO E SANGRAMENTO (PERFUSÃO E HEMORRAGIA INTERNA) Nesse estágio são avaliados sinais que podem indicar como está a circulação do seu paciente. Dados da perfusão periférica, pulso, temperatura e coloração da pele são de extrema relevância. Se há uma boa perfusão periférica, ou seja, igual há 2 segundos, indica que o organismo do paciente ainda está conseguindo manter uma boa irrigação para as extremidades. Todavia, uma perfusão maior que a citada não deve ser critério para tomada de decisão, uma vez que essa variável pode sofrer influências externas. Portanto, você deve avaliar outras variáveis, tais como pulso e temperatura. Além disso, nesse momento, você deve procurar por sinais que indiquem hemorragias internas. Os locais que mais acontecem essas hemorragias são: cavidade torácica, cavidades abdominal e peritoneal, pelve, espaço retroperitoneal e extremidades, tais como as coxas. Ao perceber hemorragias nessas regiões, promova o transporte do seu paciente o mais rápido possível para um centro especializado, haja vista que hemorragias internas desse tipo são difíceis de controlar no ambiente fora do hospital. D – ESTADO NEUROLÓGICO – AVALIANDO A FUNÇÃO CEREBRAL. Nesse ponto do atendimento você deve avaliar como esta a função cerebral do paciente. Toda pessoa que se apresentar confusa, delirante, combatente ou não cooperativo deve ser considerada vítima em hipóxia ou TCE (traumatismo crânioencefálico). Para que se possa realizar a análise da função neurológica, há diversas ferramentas. A mais usada nos dias atuais é a Escala de Glasgow, a qual leva em consideração: abertura ocular, resposta verbal e respostas motoras. A escala pode variar de 15 a 3, indicando bom estado geral e mal estado geral do paciente, respectivamente. Você deve atentar-se a pontuações iguais ou inferiores a 8, pois tal situação pode indicar que as vias aéreas do seu paciente podem estar afetadas. Da mesma maneira, o abaixamente do nível de consciência pode ser relevante e chamar sua atenção para quadros, como déficit na oxigenação cerebral, lesão do SNC (Sistema Nervoso Central), overdose e distúrbios metabólicos. E – EXPOSIÇÃO Essa etapa, assim como as outras, é essencial para a excelência do atendimento. Nesse estágio, você deve despir completamente seu paciente em busca de uma lesão importante que não tenha sido notada inicialmente. Após essa análise detalhada do corpo do paciente, cubra-o para evitar a hipotermia e, assim, oferecer um melhor conforto. Vale destacar ainda que, durante o transporte do paciente, você deve atentar-se ao ar condicionado da ambulância, para que isso também não gere uma hipotermia. Por fim, é necessário ressaltar que muitos pacientes politraumatizados podem ser vítimas de alguma forma de crime. Por isso, durante o despir do paciente tente não destruir nenhuma prova do crime, como furo de bala ou facadas. Porém, Perda de sangue 6 Mírian Santos 6° semestre. lembre-se, esses cuidados não devem sobressair em relação à decisão de expor seu paciente. Avaliação primária: Avaliação primária do paciente com suspeita de trauma: 1. Garantir a segurança do local; 2. Avaliar a responsividade (chamar o paciente) e executar simultaneamente a estabilização manual da coluna cervical e iniciar verificação da respiração; 3. Avaliar as vias aéreas: 4. Avaliar a presença de boa respiração e oxigenação: 5. Avaliar a circulação: 6. Avaliar o estado neurológico: 7. Expor com prevenção e controle da hipotermia: 8. Realizar contato com a Regulação Médica para definição do encaminhamento e/ou unidade de saúde Avaliação secundária do paciente com suspeita de trauma 1. Sinais vitais e entrevista ampla (com o paciente, familiares ou terceiros) 2. Nome e idade 3. Verificação dos sinais vitais: Respiração (frequência, ritmo e amplitude); Pulso (frequência, ritmo e volume); Pressão arterial Pele (temperatura, cor, turgor e umidade); S: sintomas? principal queixa? A: tem alergias? problema ou doença atual? M: medicamentos e/ou tratamentos em uso? P: passado médico/prenhez (gravidez) – problemas de saúde ou doença atual? L: ingeriu líquidos ou alimentos? última refeição? A: ambiente do evento? Obs: Em pacientes inconscientes ou impossibilitados de responder, buscar informações com circundantes ou familiares. 4. Avaliação complementar Glicemia capilar se disponível 5. Exame da cabeça aos pés, frente e dorso Objetivo específico: localizar ferimentos, sangramentos, afundamentos, desvios, hematomas, alterações na cor da pele ou mucosas, assimetrias, instabilidades, alterações de motricidade e sensibilidade. 6. Propedêuticas a serem utilizadas: Inspeção seguida de palpação, ausculta e percussão. Perda de sangue 7 Mírian Santos 6° semestre. Choque hemorrágico DefiniçãoChoque é a condição clínica de disfunção orgânica resultante de um desequilíbrio entre o suprimento e a demanda de oxigênio celular. É caracterizado então pela HIPOPERFUSÃO TECIDUAL SISTÊMICA levando a HIPÓXIA. Há múltiplos processos heterogêneos de doença que podem levar ao choque. A disfunção orgânica vista no choque inicial é reversível com a restauração do suprimento adequado de oxigênio. Mas, se não houver tratamento, há transição do choque de uma fase reversível para uma fase irreversível e morte por disfunção orgânica multissistêmica (DOMS). É uma condição potencialmente fatal. O CHOQUE HIPOVOLÊMICO é causado por uma redução do volume sanguíneo (hipovolemia). É o tipo mais frequente de choque. Essa redução do volume pode ser devida a uma hemorragia (causa mais frequente) em que há perda tanto de eritrócitos quanto de plasma, ou a uma perda isolada de plasma, que ocorre em casos mais específicos. Mecanismos compensatórios De uma forma ou de outra, o que ocorre é uma queda na pressão de enchimento capilar (PEC) ou pressão hidrostática. A hemorragia pode ser externa (traumas etc.) ou interna (úlcera perfurada etc.). A fim de recuperar a perfusão tecidual o organismo lança mão de estratégias fisiológicas como a ativação simpática. Essa ativação desencadeia 3 respostas principais. A PRIMEIRA é a contração das arteríolas, que aumenta a resistência vascular periférica (RVP). A SEGUNDA é a contração das veias, que aumenta o retorno venoso e, consequentemente a pré-carga. E a TERCEIRA são os efeitos cardíacos diretos: o aumento da frequência cardíaca (efeito cronotrópico positivo) e o aumento da força de contração do coração (efeito inotrópico positivo). Perda de sangue 8 Mírian Santos 6° semestre. Tais efeitos atuam em conjunto contribuindo para o aumento da pressão arterial (PA). Isso por que: PA= DC X RVP, ou seja, a PA é diretamente proporcional ao débito cardíaco (DC) e a resistência vascular periférica (RVP). Essa última foi aumentada com a contração arteriolar mediada pelo simpático. O débito cardíaco, por sua vez; é dado por: DC = DS X FC, ou seja, o débito cardíaco é diretamente proporcional ao débito sistólico (DS), que consiste no volume de sangue ejetado pelo coração a cada batimento cardíaco, e à frequência cardíaca (FC). Esta última foi alterada pela ativação simpática (efeito cronotrópico positivo). O débito sistólico, por sua vez, sofre influência tanto da contratilidade cardíaca (efeito inotrópico positivo, resultado da ativação simpática) quanto do retorno venoso (aumentado pela vasoconstrição venosa). Classificação O Advanced Trauma Life Support (ATLS) define quatro classes de choque. Em geral, essa categorização nos ajuda a localizar as respostas fisiológicas ao choque hemorrágico, enfatizando a identificação da perda de sangue e guiando o tratamento. A hemorragia classe I é exemplificada pela condição do doador de uma unidade de sangue. A hemorragia classe II é representada pela hemorragia não complicada, mas na qual é necessária a reposição de cristaloides. A hemorragia classe III é um estado hemorrágico mais complicado no qual é necessária a reposição de, no mínimo, cristaloides e, possivelmente, de sangue. A hemorragia classe IV deve ser considerada como um evento pré-terminal, no qual, a menos que medidas terapêuticas muito agressivas sejam adotadas, o doente morrerá dentro de minutos. Hemorragia Classe 1 - Perda de até 1 5% do Volume Sanguíneo Os sintomas clínicos da perda volêmica na classe I de hemorragia são mínimos. Em situações não complicadas, ocorre taquicardia leve. Não ocorrem alterações mensuráveis na pressão arterial, na pressão de pulso ou na frequência respiratória. Desse modo, em doentes saudáveis, essa perda volêmica não exige reposição, porque o reenchimento capilar e outros mecanismos de compensação restabelecem o volume circulatório em 24 horas, geralmente sem a necessidade de transfusão sanguínea. Perda de sangue 9 Mírian Santos 6° semestre. Hemorragia Classe II Perda de 1 5% a 30% do Volume Sanguíneo Em um homem de 70 kg, a perda volêmica representa de 750 a 1.500 mL de sangue. Os sintomas clínicos incluem taquicardia (frequência cardíaca acima de 100 no adulto), taquipneia e diminuição da pressão; esse último sinal está primariamente relacionado à elevação do componente diastólico decorrente do aumento de nível de catecolaminas circulantes. Esses agentes produzem um aumento no tônus e na resistência vascular periférica. A pressão sistólica muda pouco no início do choque hemorrágico; portanto, é mais importante avaliar a pressão de pulso que a pressão sistólica. Outros achados clínicos pertinentes a esse grau de perda sanguínea incluem alterações sutis do sistema nervoso central, como ansiedade, medo ou hostilidade. Apesar das significativas alterações cardiovasculares e da perda significativa de sangue, a diurese está pouco alterada. O débito urinário é usualmente de 20 a 30 mL/h no adulto. Perdas hidroeletrolíticas concomitantes podem agravar a manifestação clínica da hemorragia classe II. Alguns desses doentes acabam necessitando de transfusão sanguínea, mas podem ser estabilizados inicialmente pela reposição de soluções cristaloides. Hemorragia Classe III Perda de 30% a 40% do Volume Sanguíneo A perda de sangue na hemorragia classe III (aproximadamente 1 .500 a 2.000 mL no adulto) pode ser devastadora. Os doentes quase sempre apresentam os sinais clássicos de perfusão inadequada, incluindo taquicardia acentuada, taquipneia, alterações significativas do estado mental e queda mensurável da pressão sistólica. Em casos não complicados, esse é o menor volume de perda sanguínea que provoca queda consistente da pressão sistólica. Doentes com esse grau de perda sanguínea quase sempre requerem transfusão. Entretanto, a prioridade no tratamento inicial é interromper a hemorragia por meio da realização de cirurgia de emergência ou embolização se necessário. Muitos doentes nessa categoria vão requerer concentrado de hemácias e produtos sanguíneos para a reanimação no intuito de reverter o estado de choque. A decisão de transfusão de sangue é baseada na resposta do doente à reposição líquida inicial. Hemorragia Classe IV Perda de Mais de 40% do Volume Sanguíneo Esse grau de exsanguinação nas hemorragias grau IV é uma ameaça imediata à vida. Os sintomas incluem taquicardia acentuada, diminuição significativa da pressão sistólica e presença de pressão do pulso muito pinçada ( ou de pressão diastólica não mensurável). O débito urinário é desprezível e o nível de consciência está notadamente deprimido. A pele está fria e pálida. Tais doentes usualmente exigem transfusão rápida e intervenção cirúrgica imediata. Essa decisão é baseada na resposta do doente às medidas de tratamento inicial descritas neste capítulo. Perdas volêmicas superiores a Perda de sangue 10 Mírian Santos 6° semestre. 50% determinam inconsciência, diminuição da pressão de pulso e da pressão sanguínea. Apesar de colaborar muito no manejo, nem sempre o paciente em choque hemorrágico segue a fisiologia que a literatura trás, principalmente criança e idoso. Por isso a abordagem deve ser individualizada. As crianças, em geral, parecem conseguir compensar, até mesmo após grandes volumes de perda de sangue, em razão da maior composição de água de seus corpos.Contudo, quando descompensam, o processo pode ser rápido. Pacientes mais velhos não compensam bem; quando não começam a colapsar fisiologicamente, o processo pode ser devastador porque sua habilidade de recrutar fluido não é tão boa e suas reservas cardíacas são menores. Entendendo as classes... Um fator importante a reconhecer é que os sintomas clínicos são relativamente poucos em pacientes em choque de classe I. A única mudança no choque de classe I é ANSIEDADE, que é praticamente impossível de avaliar – seria isso um resultado de fatores como perda sanguínea, dor, trauma, ou drogas? Uma frequência cardíaca superior a 100 batimentos/min tem sido usada como um sinal físico de hemorragia, mas a evidência de sua importância é mínima. Brasel et al. 10 mostraram que a frequência cardíaca não é sensível e/ou específica para determinar a necessidade de uma intervenção emergente, transfusões de concentrados de hemácias (CH) nas primeiras duas horas após uma lesão, ou a gravidade de uma lesão. A frequência cardíaca não foi alterada pela presença de hipotensão (PS sistólica <90mmHG). Em pacientes que estão em choque de classe II, somos ensinados que a sua frequência cardíaca aumenta, mas, novamente, este é um indicador bastante incerto; dor e mero nervosismo também podem aumentar a frequência cardíaca. Somente quando os pacientes estão em choque de classe III a PS supostamente diminui. Nesta fase, os pacientes perderam 30% a 40% do seu volume de sangue; para um homem médio que pesa 75 kg/168 lbs, isso pode significar até 2 litros de perda de sangue. Etiologia O choque hipovolêmico abrange processos patológicos que reduzem o DC (e o transporte de oxigênio) por redução na pré-carga. Além da redução no DC, esse tipo de choque se caracteriza por RVS elevada com PVC e POAP baixas relacionadas com redução do volume intravascular. Qualquer processo que cause redução no volume intravascular pode causar choque desse tipo. O choque hipovolêmico está relacionado mais comumente à hemorragia, a qual pode ser externa (secundária a trauma) ou interna (mais Perda de sangue 11 Mírian Santos 6° semestre. comumente gastrintestinal [GI] superior ou inferior). O choque hipovolêmico também pode ser visto com processos não hemorrágicos. Os exemplos incluem doenças GIs que causam êmese e diarreia profundas, perdas renais (diurese osmótica associada com cetoacidose diabética ou diabetes insípido) ou perdas cutâneas (queimaduras graves, condições inflamatórias como Stevens-Johnson). Fisiologia cardíaca básica O débito cardíaco é definido como o volume de sangue bombeado pelo coração a cada minuto e é determinado pelo produto da frequência cardíaca e do volume sistólico. O volume sistólico, ou seja, a quantidade de sangue bombeado a cada contração cardíaca, é determinado pela pré-carga, contratilidade miocárdica e pós-carga. A pré-carga expressa o volume de retorno venoso para o coração e é determinada pela capacitância venosa, pelo estado da volemia e pela diferença entre a pressão venosa sistêmica média e a pressão do átrio direito. A diferença entre essas pressões determina o fluxo venoso. O sistema venoso pode ser considerado um reservatório ou um sistema de capacitância dentro do qual o volume sanguíneo pode ser dividido em dois componentes: 1. O primeiro componente não contribui para a pressão venosa sistêmica média e representa o volume de sangue que permaneceria no circuito de capacitância se a pressão do sistema fosse igual a zero. 2. O segundo componente, o mais importante, representa o volume sanguíneo venoso que contribui para a pressão venosa sistêmica média. Fisiopatologia Fisiopatologia (ATLS): As respostas circulatórias precoces à perda sanguínea constituem-se em mecanismo de compensação: progressiva vasoconstrição da circulação cutânea, muscular e visceral para preservar o fluxo sanguíneo aos rins, coração e cérebro. Quando ocorre um traumatismo, a resposta à perda aguda de volume circulante dá-se por meio de um aumento da frequência cardíaca na tentativa de preservar o débito cardíaco. Na maioria das vezes, a taquicardia representa o sinal circulatório mensurável mais precoce do choque. Mecanismos compensatórios: O primeiro mecanismo de compensação em resposta a uma diminuição do volume intravascular é o aumento da atividade simpática. Tal aumento é mediado por receptores de pressão ou barorreceptores no arco da aorta, átrios e corpúsculos das carótidas. A diminuição da pressão inibe a descarga parassimpática enquanto a noradrenalina e a adrenalina são liberadas, fazendo com que os receptores adrenérgicos no miocárdio e no músculo liso vascular sejam ativados. Perda de sangue 12 Mírian Santos 6° semestre. A frequência e a contratilidade cardíaca são aumentadas; a resistência vascular periférica também é aumentada, resultando em uma PS aumentada. No entanto, os diversas leitos teciduais não são igualmente afetados; o sangue é desviado de órgãos menos essenciais (p. ex., pele, músculo esquelético, circulação esplâncnica) para órgãos mais críticos (p. ex., cérebro, fígado, rins). Em seguida, o aparelho justaglomerular no rim – em resposta à vasoconstrição e à diminuição no fluxo sanguíneo – produz a enzima renina, que gera a angiotensina I. A enzima conversora de angiotensina localizada nas células endoteliais das artérias pulmonares converte a angiotensina I em angiotensina II. Por sua vez, a angiotensina II estimula uma atividade de aumento simpático, ao nível do terminal do nervo, liberando hormônios a partir da medula adrenal. Em resposta, a medula adrenal afeta o volume intravascular durante o choque por meio da secreção de hormônios catecóis – epinefrina, noradrenalina e dopamina – que são produzidos a partir da fenilalanina e tirosina. O cortisol, também liberado por meio do córtex adrenal, desempenha um papel importante na medida em que controla o equilíbrio do fluido. No córtex adrenal, a zona glomerular produz aldosterona, em resposta à estimulação por angiotensina II. A aldosterona é um mineralocorticoide que modula a função renal através do aumento da recuperação de excreção de sódio e de potássio. A angiotensina II também tem uma ação direta sobre os túbulos renais, reabsorvendo o sódio. O controle de sódio é um mecanismo primário através do qual o corpo humano controla a absorção de água ou secreção nos rins. Um dos problemas do estado de choque é que a liberação de hormônios não é infinita; o fornecimento pode ser esgotado. Esta regulação do estado líquido intravascular é ainda mais afetada pelos barorreceptores carotídeos e peptídeos natriuréticos atriais. Os sinais são enviados para os núcleos supraópticos e paraventriculares no cérebro. O hormônio antidiurético (ADH, do inglês, antidiuretic hormone) é liberado da hipófise, causando a retenção de água livre ao nível do rim. Simultaneamente, o volume é recrutado dos espaços extravasculares e celulares. Uma mudança da água ocorre à medida que as pressões hidrostáticas caem no compartimento intravascular. No nível capilar, as pressões hidrostáticas também são reduzidas, porque os esfíncteres pré-capilares sofrem mais vasoconstrição do que os esfíncteres pós-capilares. No nível celular, as células que são perfundidas e oxigenadas inadequadamente ficam privadas de substratos essenciais para o metabolismo aeróbico e para a produção de energia. Inicialmente, a compensação é realizada pela mudança para o metabolismoanaeróbico, que Perda de sangue 13 Mírian Santos 6° semestre. leva à formação de ácido lático e ao desenvolvimento de acidose metabólica. Se o choque for prolongado e a oferta de substrato para a produção de adenosina- trifosfato (ATP) for inadequada, a membrana celular perde a capacidade de manter a sua integridade e o gradiente elétrico normal desaparece. Os mediadores pró-inflamatórios como óxido nítrico sintetase (iNOS), fator de necrose tumoral (TNF) e outras citocinas são liberados, propiciando um cenário de dano orgânico final e subsequente disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. Se o processo não for revertido, o dano celular progride, podendo ocorrer alterações na permeabilidade endotelial, edema tecidual adicional e morte celular. Esse processo constitui o impacto da hemorragia e hipoperfusão, aumentando potencialmente o volume de fluido necessário para a reanimação. Descompensação do estado de choque: Posteriormente, dependendo do tecido, poderá haver desequilíbrio entre a influência da inervação central e dos fatores locais do tecido. Metabólitos acumulados localmente nos tecidos como lactato, íons hidrogênio e substâncias liberadas por células em hipóxia, potássio, enzimas lisossômicas, polipeptídeos e autacóides gerados por hipóxia tissular, histamina, bradicinina, prostaglandinas, vão interferir com a responsividade da musculatura lisa ao estímulo vasoconstritor simpático. Os vasos pré-capilares parecem ser mais sensitivos a estes fatores locais do que os pós- capilares. Portanto, resposta inicial de descompensação traduz-se por aumento de fluxo no leito capilar, com perda de líquido para os tecidos, agravando ainda mais a queda do retorno venoso. Os efeitos combinados da perda de líquidos para os tecidos em hipóxia e a entrada dos fatores teciduais na circulação vão interferir na função de órgãos vitais. A descompensação do choque inicia-se com a entrada de sangue pelos esfincteres pré- capilares abertos e a invasão da microcirculação. A seguir, há passagem de líquido do capilar ingurgitado, com sua permeabilidade aumentada, para o interstício e deste para o interior da célula, já que esta, sem energia, não consegue fazer funcionar a bomba sódio/potássio, deixando o sódio entrar na célula junto com a água. Agrava-se mais a queda do débito cardíaco pela queda adicional do retorno venoso. O coração ainda teria sua função diminuída pela liberação de substâncias intracelulares, supostamente a partir do pâncreas, com função depressora do miocárdio que, junto com a hipotensão, ajudaria a diminuir o débito cardíaco. As cininas plasmáticas, polipeptídeos vasodilatadores que aumentam a permeabilidade capilar, são liberadas por Perda de sangue 14 Mírian Santos 6° semestre. hipóxia ou endotoxinemia a partir de precursores inativos, cininogênios presentes na fração α-2-globulina do plasma. O passo inicial parece ser a ativação do fator Hageman (fator XII) que leva à conversão de cininogênio em cinina por enzimas proteolíticas, calicreínas liberadas de leucócitos e tecidos traumatizados. As prostaglandinas e os leucotrienos são sintetizados nos microssomos celulares a partir do ácido araquidônico, respectivamente pela ciclo-oxigenase e pela lipo-oxigenase. Macrófagos, neutrófilos e plaquetas estão envolvidos na geração destas substâncias, que têm ações diversas no sistema cardiovascular. Hipercoagulabilidade e microembolização são comuns no choque complicado e responsáveis não só por alterações pulmonares como também pela insuficiência de múltiplos órgãos. O empilhamento de hemácias na microcirculação estagnada e a ocorrência de coagulação intravascular são fenômenos que vêm se sobrepor, agravando ainda mais o prognóstico. Em todos os tipos de choque é a hipóxia tissular que, ao longo do tempo, produz alterações na microcirculação, tornam os mecanismos de retroalimentação atuantes e torna o choque irreversível. São importantes a queda da volemia, queda do retorno venoso, queda do débito cardíaco, vasoconstrição microcirculatória, hipóxia tissular, metabolismo anaeróbico, vasodilatação microcirculatória, extravasamento capilar e queda adicional da volemia. Independentemente do tipo, o choque progride por um contínuo de três estágios. Esses estágios são o choque compensado (pré- choque), o choque (choque descompensado) e o choque irreversível. Durante o choque compensado, o corpo utiliza uma variedade de respostas fisiológicas para agir contra o insulto inicial e tentar restabelecer a perfusão e o transporte de oxigênio adequados. Nesse ponto, não há sinais evidentes de disfunção orgânica. A avaliação laboratorial pode demonstrar disfunção orgânica leve (i.e., elevação de creatinina ou troponina) ou elevação discreta do lactato. A resposta compensatória específica é determinada pelo defeito fisiopatológico inicial. Com a perda hemorrágica inicial de volume, haverá um aumento compensatório na RVS. À medida que as respostas compensatórias são superadas, o paciente evolui para um choque verdadeiro com evidência de disfunção orgânica. As intervenções apropriadas para restaurar a perfusão e o transporte de oxigênio durante essas duas fases iniciais do choque podem reverter a disfunção orgânica. Sem tratamento, o paciente progredirá para a terceira fase de choque irreversível. Nesse ponto, a disfunção orgânica é permanente e o paciente costuma progredir para DOMS. Perda de sangue 15 Mírian Santos 6° semestre. Quadro clínico Taquicardia Taquipneia Extremidades frias e sudoreicas TEC aumentado Oligúria Complicações Tríade letal: A tríade de ACIDOSE, HIPOTERMIA E COAGULOPATIA é comum em pacientes reanimados que estão sangrando ou em estado de choque a partir de vários fatores. A perfusão tecidual inadequada resulta na acidose causada pela produção de lactato. No estado de choque, o fornecimento de nutrientes para as células seja inadequado, de modo que a produção de trifosfato de adenosina (ATP) diminui. O corpo humano depende produção de ATP para manter as temperaturas homeostáticas; o ATP é a fonte de calor de todos os animais homeotérmicos (de sangue quente). Assim, se a produção de ATP for inadequada para manter a temperatura corporal, o corpo tenderá a se ajustar à temperatura ambiente. Para a maioria dos pacientes, esta fica em 22°C (72°F), que é a temperatura dentro de hospitais comuns. A hipotermia resultante afeta a eficiência das enzimas, que funcionam melhor a 37°C. Para os cirurgiões, o problema fundamental com a hipotermia é que a cascata de coagulação depende de enzimas afetadas pela hipotermia; se as enzimas não funcionam de forma otimizada por causa da hipotermia, a coagulopatia piora, o que em pacientes cirúrgicos pode contribuir para a hemorragia não controlada de ferimentos ou da própria cirurgia. Mais hemorragia continua a abastecer a tríade. O método ideal para interromper o círculo vicioso de morte é parar a hemorragia e as causas da hipotermia. Nas situações mais comuns, a hipotermia não é gerada pela isquemia, mas é induzida por causa da utilização de fluidos à temperatura ambiente ou produtos derivados de sangue refrigerados. ACIDOSE - A hemorragia provoca uma série de respostas. Durante a fase de reanimação, a tríade letal (acidose, hipotermia e coagulopatia) é frequente, provavelmente por causa de doisfatores principais. Primeiro, isquemia tecidual consequente à falta de fluxo sanguíneo resulta em acidose lática. Alguns acreditam que o estado de acidose não é necessariamente indesejável, pois o organismo tolera acidose melhor do que alcalose. Corrigir a acidose com bicarbonato de sódio tem sido classicamente evitado, pois isso significaria tratar a consequência e não a causa. A melhor abordagem fundamental para a acidose metabólica do choque é tratar a causa subjacente do choque. No entanto, alguns Perda de sangue 16 Mírian Santos 6° semestre. médicos acreditam que tratar o pH tem suas vantagens, pois as enzimas necessárias para a cascata de coagulação trabalham melhor a uma temperatura e pH otimizados. A coagulopatia pode contribuir para a hemorragia não controlada, por isso recomenda-se o tratamento da acidose para pacientes em situações extremas. Tratar a acidose com bicarbonato de sódio pode ter um benefício de forma não intencional e não reconhecida. A infusão rápida é geralmente acompanhada por um aumento da pressão arterial em pacientes hipotensos, o que é geralmente atribuído à correção do pH. HIPOTERMIA - A hipotermia pode ser benéfica e nociva. Os aspectos benéficos da hipotermia são principalmente devido à diminuição do metabolismo. Locais lesionados são frequentemente resfriados, criando vasoconstrição e diminuindo a inflamação através da diminuição do metabolismo. Este conceito de resfriamento para reduzir o metabolismo é também a razão por trás do uso de hipotermia para diminuir a isquemia durante cirurgias cardíacas, transplantes e cirurgias pediátricas e neurológicas. Em pacientes de trauma, a hipotermia é causada por choque e pensa-se que é a responsável por perpetuar a hemorragia descontrolada devido à coagulopatia associada. A hipotermia, embora potencialmente benéfica, é prejudicial em pacientes traumatizados, principalmente porque causa coagulopatia. O frio afeta a coagulopatia, diminuindo a atividade da enzima, aumentando a atividade fibrinolítica e causando disfunção plaquetária. As plaquetas são afetadas pela inibição da produção de tromboxano B2, o que resulta em agregação diminuída. Um tipo de substância heparinínica é liberado, causando uma síndrome semelhante à coagulação intravascular difusa (CID). O aquecimento ou resfriamento por meio da manipulação da temperatura de fluidos IV é útil, pois usa condução para transferir calor. Apesar da possibilidade de aquecimento de fluidos IV, o Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos só permite que aquecedores de fluido atinjam um máximo de 40°C. COAGULOPATIA - A coagulopatia em pacientes de cirurgia é multifatorial. Além de acidose e hipotermia, os fatores de diminuição de coagulação são, normalmente, a outra causa principal da coagulopatia. Esta diminuição é causada pelo consumo (da tentativa inata para parar a hemorragia), pela diluição (a partir de fluidos infundidos desprovidos de fatores) e por fatores genéticos (hemofilia). Os métodos para definir e tratar a coagulopatia ainda são variados; não há padronização aparente. A hipotermia tem um papel vital na coagulopatia porque a cascata de coagulação depende da Perda de sangue 17 Mírian Santos 6° semestre. atividade enzimática. Assim, a coagulopatia é associada a choque e aumento da mortalidade. A hemorragia com origem na coagulopatia ou qualquer outra causa perpetua o choque, que induz mais a acidose, hipotermia e consumo e utilização de fluidos. Aúnica maneira de quebrar este círculo vicioso é parando o sangramento. Manejo O passo inicial na abordagem do choque em um doente traumatizado é reconhecer sua presença. O segundo passo na abordagem inicial do choque é identificar sua provável causa. O manejo de um paciente com hemorragia maior deverá ter três elementos: 1) Avaliação e ressuscitação seguindo os princípios avançados de suporte à vida; 2) Controle local do sangramento (técnicas cirúrgicas, radiológicas e endoscópicas); 3) Hemostasia, incluindo suporte transfusional de sangue/ hemocompontes. Portanto, as prioridades iniciais de tratamento são: 1) Restauração do volume de sangue para manter a perfusão e oxigenação dos tecidos; 2) Alcançar a hemostasia através de tratamento cirúrgico precoce e/ou correção da coagulopatias pelo uso adequado e racional da terapia com componentes sanguíneos. Segue primeiro o XABCDE. EXAME FÍSICO O exame físico é dirigido para o diagnóstico imediato das lesões que ameaçam a vida e inclui a avaliação dos ABCDE. O registro e a anotação das condições iniciais são importantes para a monitoração da resposta do doente ao tratamento e a mensuração dos sinais vitais, débito urinário e nível de consciência são essenciais. A seguir, assim que as condições do doente permitirem, é realizado um exame mais pormenorizado. Via Aérea e Ventilação O estabelecimento de uma via aérea permeável com ventilação e oxigenação adequadas é a prioridade. O fornecimento suplementar de oxigênio visa manter a saturação da hemoglobina em níveis maiores que 95%. Circulação Controle da Hemorragia As prioridades são controle da hemorragia externa, obtenção de acesso venoso adequado e avaliação da perfusão tecidual. O sangramento de feridas externas usualmente pode ser controlado com pressão direta sobre o local, embora hemorragia maciça em uma extremidade possa requerer um torniquete. Um lençol ou cinta pélvica de uma extremidade pode ser utilizado para controlar a hemorragia de fraturas pélvicas. O restabelecimento da perfusão tecidual dita o volume de líquidos a ser infundido. Pode ser necessário o controle cirúrgico ou angiográfico de hemorragias internas. A prioridade é interromper a hemorragia não o cálculo de volume de fluido perdido. Distúrbio Neurológico Perda de sangue 18 Mírian Santos 6° semestre. Exame Neurológico - Realiza-se um rápido exame neurológico para determinar o nível de consciência, a movimentação ocular e a resposta da pupila, a melhor função motora e o nível de sensibilidade. Esses dados são úteis na avaliação da perfusão cerebral, no acompanhamento da evolução de distúrbios neurológicos e no prognóstico quanto à recuperação. Modificações na função do sistema nervoso central no doente hipotenso por choque hipovolêmico não implicam necessariamente lesões intracranianas, mas podem refletir apenas a perfusão inadequada do cérebro. O restabelecimento da perfusão e oxigenação cerebrais deve ser alcançado antes da atribuição desses achados a lesões intracranianas. Exposição Depois de realizadas as manobras prioritárias de reanimação, o doente deve ser despido e examinado cuidadosamente "da cabeça aos pés" para pesquisa de lesões associadas. Ao despir o doente, a prevenção da hipotermia é essencial. O uso de líquidos aquecidos, bem como de técnicas de reaquecimento externo passivo e ativo, é essencial para evitar a hipotermia. Dilatação Gástrica - Descompressão A dilatação gástrica ocorre frequentemente no trauma, especialmente em crianças, e pode ser causa de hipotensão inexplicada ou de arritmias cardíacas, comumente bradicardia, em decorrência de estímulo vagal. No doente inconsciente, a dilatação gástrica aumenta o risco de aspiração de conteúdo gástrico, complicação potencialmente fatal. A descompressão do estômago é realizada pela introdução de um tubo naso ou orogástrico quedeve ser conectado a um equipamento de aspiração para remover o conteúdo gástrico. Tal manobra, entretanto, não previne totalmente o risco de aspiração. Sondagem Vesical A sondagem vesical permite a avaliação da presença de hematúria (indicando que o retroperitônio possa ser o foco significativo da perda sanguínea) e a monitoração constante da perfusão renal por meio do débito urinário. Sangue no meato uretral ou na próstata deslocada cranialmente, móvel ou não palpável no homem é contraindicação absoluta à inserção de um cateter transuretral antes da confirmação radiográfica da integridade da uretra ACESSO VASCULAR O acesso ao sistema vascular deve ser obtido rapidamente. A melhor forma de fazê-lo é a inserção de dois cateteres intravenosos periféricos (calibre mínimo 16 G no adulto) antes de considerar qualquer possibilidade de cateterismo venoso central. Para infusão rápida de grandes volumes de líquidos, cateteres intravenosos periféricos curtos e calibrosos são preferíveis. Utilize líquidos aquecidos e bombas de infusão rápida quando houver hemorragia maciça e hipotensão grave. Os locais mais adequados para os acessos venosos periféricos no adulto são as veias do antebraço ou antecubitais. Se as circunstâncias não permitirem o uso de veias periféricas, de grosso calibre, estarão indicados a dissecção Perda de sangue 19 Mírian Santos 6° semestre. cirúrgica da veia safena ou o acesso venoso central (veia femoral, jugular ou subclávia), através da técnica de Seldinger, dependendo da qualificação e da experiência do médico. Assim que se conseguir o acesso venoso, são colhidas amostras de sangue para tipagem e prova cruzada, para exames laboratoriais adequados, estudos toxicológicos e teste de gravidez em todas as mulheres em idade fértil. Nesse momento, deve ser colhido sangue para gasometria arterial. Após a punção para inserção de cateter na subclávia ou jugular interna, deve ser solicitada uma radiografia de tórax para documentar a posição do cateter e avaliar a possível presença de pneumotórax ou de hemotórax. REPOSIÇÃO VOLÊMICA INICIAL Na reanimação inicial são utilizadas soluções eletrolíticas isotônicas aquecidas, como Ringer lactato ou soro fisiológico. Esse tipo de líquido promove a expansão intravascular transitória e contribui para a estabilização do volume vascular por meio da reposição das perdas que ocorreram para o interstício e para o compartimento intracelular. Um volume de líquido aquecido inicial é administrado. A dose habitual é de um a dois litros no adulto e de 20 mlfkg em crianças. Volumes absolutos de fluidos para a reanimação devem ser baseados na resposta do doente. É importante lembrar que a quantidade inicial de fluidos inclui qualquer fluido administrado no pré- hospitalar. Durante a administração inicial de líquidos observa-se a resposta do doente e as decisões diagnósticas e terapêuticas ulteriores são baseadas nessa resposta. O volume total de líquidos e de sangue necessário para a reanimação é difícil de ser previsto pelo exame inicial do doente. É mais importante avaliar a resposta do doente à reposição volêmica e identificar a evidência de· uma adequada perfusão e oxigenação orgânica finais {por exemplo, débito urinário, nível de consciência e perfusão periférica). Se, durante a reanimação, a quantidade de líquido necessária para restaurar ou manter a perfusão orgânica for muito maior que essa estimativa, torna-se necessária uma reavaliação cuidadosa da situação, assim como a pesquisa de uma lesão não diagnosticada e de outras causas de choque. O objetivo da reposição é a restauração da perfusão dos órgãos. Isso é obtido por meio da utilização de fluidos para a reanimação a fim de repor o volume intravascular perdido. Observe, no entanto, que se a pressão subir rapidamente antes que a hemorragia tenha sido controlada definitivamente, pode haver aumento do sangramento. A infusão contínua de grandes quantidades de fluidos e sangue na tentativa de atingir pressão arterial normal não substitui o controle definitivo da hemorragia. A administração excessiva de fluidos pode exacerbar a tríade letal da coagulopatia, acidose e hipotermia com a ativação da cascata da inflamação. Repor a volemia e evitar a hipotensão são princípios importantes no tratamento inicial Perda de sangue 20 Mírian Santos 6° semestre. de doentes com trauma fechado, particularmente os com traumatismo craniencefálico. Nos traumatismos penetrantes com hemorragia, o retardo da reposição volêmica agressiva, até que o controle definitivo da hemorragia tenha sido realizado, pode prevenir hemorragia maior. Embora as complicações relacionadas à reanimação sejam / indesejáveis, a alternativa da exsanguinação é pior. E necessário o tratamento cuidadoso e equilibrado, com reavaliações frequentes. Colocar na balança a restauração da perfusão dos órgãos de um lado e os riscos inerentes de aumento de hemorragia do outro, aceitando-se uma pressão sanguínea abaixo dos níveis normais, denomina-se "reanimação controlada", "reanimação balanceada", "reanimação hipotensiva" e "hipotensão permissiva". O objetivo é o equilíbrio e não a hipotensão. Essa estratégia de reanimação pode ser uma ponte, mas não um substituto para o controle de sangramento através do tratamento cirúrgico. Avaliação da reposição volêmica e da perfusão do órgão Os mesmos sinais e sintomas de perfusão inadequada utilizados para o diagnóstico de choque são guias úteis para avaliar a resposta do doente. A normalização da pressão sanguínea, da pressão e da frequência do pulso são sinais favoráveis e sugerem que a perfusão está retornando ao normal. Essas observações, entretanto, não fornecem informações a respeito da perfusão orgânica. A melhora da PVC e da circulação cutânea são evidências importantes da normalização da perfusão, mas são difíceis de quantificar. Já o volume do débito urinário é um indicador bastante sensível da perfusão renal. Diurese normal, desde que não influenciada pela administração de diuréticos, implica, geralmente, fluxo sanguíneo renal adequado. Por essa razão, o débito urinário é uma das formas mais importantes de monitorar a reanimação e a resposta do doente. Mudanças na pressão venosa central podem fornecer informações adicionais importantes e, por esta razão, o risco da punção venosa central se justifica em casos complexos. EQUILIBRIO ÁCIDO-BÁSICO - Os doentes com choque hipovolêmico precoce têm alcalose respiratória devido à taquipneia. A alcalose respiratória é seguida frequentemente por acidose metabólica leve nas fases precoces do choque e não necessita de tratamento. A acidose metabólica grave pode surgir quando o choque é prolongado ou grave. A acidose metabólica decorre do metabolismo anaeróbio devido à perfusão tecidual inadequada e à produção de ácido láctico. Sua persistência reflete, habitualmente, uma reanimação inadequada ou perdas sanguíneas continuadas e, em doentes normotérmicos em choque, deve ser tratada com a infusão de líquidos e de sangue, considerando-se a possibilidade de uma intervenção cirúrgica para controle da hemorragia. O défice de base e o lactato podem ser úteis para determinar a presença e a gravidade do choque. Perda de sangue 21 Mírian Santos 6° semestre. A avaliação seriada desses parâmetros monitora a resposta do doente ao tratamento. O bicarbonato de sódio não deveser usado rotineiramente para o tratamento da acidose metabólica secundária ao choque hipovolêmico. Decisões terapêuticas baseadas na reposta do doente à reposição volêmica inicial: A resposta do doente à reposição volêmica inicial é o principal aspecto para determinar a terapêutica subsequente. Tendo estabelecido o diagnóstico preliminar e o planejamento terapêutico, orientados pelo exame inicial do doente, o médico pode modificar o tratamento com base na resposta do doente à reposição volêmica inicial. Particularmente importante é distinguir o doente que está "hemodinamicamente estável" daquele que está "hemodinamicamente normal". O doente hemodinamicamente estável pode apresentar taquicardia, taquipneia e oligúria persistentes. Tais achados indicam claramente que ele não foi reanimado adequadamente e continua em choque. Em contraste, o doente hemodinamicamente normal é aquele que não exibe qualquer sinal de perfusão tecidual inadequada. Os padrões prováveis de resposta à administração inicial de fluidos pode ser dividido em três categorias: resposta rápida, resposta transitória e resposta mínima ou ausente. RESPOSTA RÁPIDA - Os doentes deste grupo respondem rapidamente à reposição volêmica inicial e permanecem hemodinamicamente normais após o término da reposição inicial, quando a velocidade de infusão é reduzida para níveis de manutenção. Usualmente, esses doentes ti v eram uma pequena perda da volemia (inferior a 20%). Para esse pequeno grupo de doentes não é indicada a administração adicional de soros ou a infusão imediata de sangue. Sangue tipado e com prova cruzada realizada deve ser mantido disponível. Durante a avaliação e o tratamento iniciais, é indispensável a avaliação cirúrgica, visto que pode ser necessário intervenção operatória. RESPOSTA TRANSITÓRIA - Os doentes deste grupo respondem à reposição inicial rápida. Entretanto, alguns doentes, à medida que se reduz a velocidade de infusão para níveis de manutenção, mostram deterioração da perfusão periférica, indicando sangramento persistente ou reanimação inadequada. A maioria desses doentes teve perda sanguínea inicial estimada entre 20 e 40% do volume sanguíneo. Sangue e derivados são indicados, mas o fato mais importante é reconhecer que este doente requer controle da hemorragia por cirurgia ou angiografia. A resposta transitória à administração de sangue pode identificar os doentes que ainda estão sangrando e exigem rápida intervenção cirúrgica. RESPOSTA MÍNIMA OU AUSENTE - A falta de resposta na sala de emergência à administração adequada de cristaloide e de sangue indica a necessidade de intervenção definitiva imediata {por exemplo, cirurgia ou angioembolização) para controlar uma hemorragia exsanguinante. Perda de sangue 22 Mírian Santos 6° semestre. Em casos muito raros, uma resposta inadequada pode ser devida à insuficiência da bomba, resultante de traumatismo cardíaco contuso, de tamponamento cardíaco ou de pneumotórax hipertensivo. Os possíveis diagnósticos de choque não hemorrágico devem sempre ser lembrados nesse grupo de doentes. A monitoração da pressão venosa central ou a ecocardiografia de emergência ajudam a diferenciar entre as várias etiologias do choque. Doentes com resposta transitória ou mínima I sem resposta - aqueles em hemorragia classe III ou IV - necessitarão de sangue e derivados como parte precoce de sua reanimação. SANGUE COM PROVAS CRUZADAS, TIPO ESPECÍFICO E TIPO O NEGATIVO - O principal objetivo da transfusão sanguínea é restabelecer a capacidade de transporte de oxigênio do volume intravascular. A alternativa preferível é sangue com todas as provas cruzadas. Entretanto, o procedimento para realizar as provas cruzadas completas exige aproximadamente 1 hora na maioria dos bancos de sangue. Em doentes que se estabilizam rapidamente, quando há indicação de transfusão, o sangue deve ser selecionado por meio de todas as provas cruzadas. Na maioria dos bancos de sangue, sangue tipo específico pode ser providenciado em aproximadamente 10 minutos. Este sangue é compatível com o do doente, nos sistemas ABO e Rh. Incompatibilidades devidas a outros anticorpos podem existir. O sangue tipo específico é o de primeira escolha para os doentes que respondem transitoriamente como descrito acima. Quando se torna necessário o uso de sangue tipo específico, as provas cruzadas devem ser completadas no banco de sangue. Quando não está disponível sangue tipo específico, indica-se o uso de concentrados de hemácias tipo O para doentes com hemorragia exsanguinante. Em mulheres em idade fértil, prefere-se o uso de glóbulos Rh negativos para prevenir sensibilizações e futuras complicações. Assim que estiver disponível, o uso de sangue tipo específico é preferível ao tipo O. Artigo – Tratamento Oxigenação tecidual, tipo de fluido e manejo da temperatura Oxigenação tecidual: recomenda-se o alvo de pressão arterial (PA) sistólica de 80–90 mmHg, até que o sangramento principal seja interrompido, na fase inicial do trauma sem lesão cerebral. (Grau 1C) Em pacientes com traumatismo cranioencefálico (TCE) grave (Escala de Coma de Glasgow ≤8), recomenda-se manter PA média ≥80 mmHg. (Grau 1C). Reposição volêmica restritiva: recomenda-se uma estratégia de reposição volêmica restritiva para alcançar os alvos pressóricos até que o sangramento possa ser controlado. (Grau 1B) Vasopressores e agentes inotrópicos: na presença de hipotensão ameaçadora à vida, recomenda-se administração de vasopressores Perda de sangue 23 Mírian Santos 6° semestre. associados a fluidos para manter o alvo de PA. (Grau 1C) Recomenda-se ainda infusão de agente inotrópico na presença de disfunção miocárdica. Tipo de fluido: recomenda-se iniciar fluidoterapia com soluções cristaloides isotônicas no paciente traumatizado com hemorragia e hipotensão. Sugere-se evitar o uso excessivo de solução de NaCl 0,9%. (Grau 2C) Recomenda-se evitar soluções hipotônicas como ringer lactato em pacientes com TCE grave. (Grau 1C) Sugere-se que o uso de coloides seja restrito devido aos efeitos adversos para a hemostasia. Eritrócitos: recomenda-se um alvo de hemoglobina (Hb) entre 7 e 9 g/dL. (Grau 1C) Manejo da temperatura: recomenda-se aplicação precoce de medidas para reduzir as perdas de calor e para aquecer o paciente hipotérmico a fim de alcançar e manter normotermia. Controle rápido do sangramento Cirurgia de controle de danos: recomenda-se o emprego de CCD em pacientes gravemente traumatizados que se apresentam em profundo choque hemorrágico com sinais de sangramento ativo e coagulopatia. Os fatores que podem indicar a abordagem de controle de danos são coagulopatia grave, hipotermia, acidose, lesão anatômica extensa inacessível, necessidade de procedimentos prolongados ou lesão extensa concomitante fora do abdome. Recomenda-se também manejo cirúrgico definitivo primário em pacientes hemodinamicamente estáveis e na ausência dos fatores acima. Estabilização e fechamento do anel pélvico: recomenda-se que pacientes com rotura do anel pélvico em choque hemorrágico sejam submetidos a estabilização e fechamento imediatos da pelve Tamponamento, embolização e cirurgia: recomenda-se que pacientes hemodinamicamente instáveis – apesar de adequada estabilização do anel pélvico – recebam tamponamento retroperitoneal precoce, embolização angiográfica e/ou controle cirúrgico do sangramento. Medidas hemostáticas locais: recomenda-se o uso de agentes hemostáticos tópicos,combinados a outras medidas cirúrgicas ou ao tamponamento, para sangramentos venosos – ou arteriais moderados – associados a lesões parenquimatosas. Manejo inicial do sangramento e da coagulopatia Conservação da coagulação: recomenda-se que as medidas de monitorização e de conservação da coagulação sejam iniciadas imediatamente após a admissão hospitalar. Ressuscitação inicial da coagulação: no manejo inicial de pacientes com expectativa de hemorragia maciça, recomenda-se uma das duas seguintes estratégias: (1) plasma (plasma fresco congelado ou plasma com inativação de patógenos) – em proporção plasma–CH de, pelo menos, 1:2 – conforme necessário. (Grau 1B); ou Perda de sangue 24 Mírian Santos 6° semestre. (2) CH de acordo com os níveis de Hb e concentrado de fibrinogênio. Agentes antifibrinolíticos: recomenda-se administração de ácido tranexâmico (ATX) o mais precocemente possível em pacientes traumatizados que estejam sangrando, ou que possuam risco de hemorragia significativa, na dose inicial de 1g – infundido em 10 minutos, seguida por infusão intravenosa contínua de 1g ao longo de 8 horas. Recomenda-se que a administração de ATX ao paciente traumatizado com sangramento ocorra nas primeiras três horas após a lesão (Grau 1B). Sugere-se que protocolos para manejo da hemorragia considerem a administração da primeira dose de ATX na fase pré-hospitalar do trauma. (Grau 2C). Ressuscitação adicional Terapia guiada por metas: recomenda-se que as medidas de ressuscitação utilizem uma estratégia guiada por metas e direcionada por testes laboratoriais e/ou viscoelásticos da coagulação. REFERÊNCIAS Diretriz Assistencial Multidisciplinar de Abordagem ao Paciente Politraumatizado - Diretrizes Clínicas. Versão: 2018. Fraga AO, Auler Jr JOC – Choque Hemorrágico: Fisiopatologia e Reposição Volêmica. Sabiston tratado de cirurgia / Courtney M. Townsend, Jr. ... [et al.] ; [tradução Alexandre Maceri Midão ... et al.]. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2015. il. Suporte Avançado de Vida no Paciente do Trauma – ATLS.
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