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Geomorfologia - Manual completo (2)

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GEOMORFOLOGIA – UMA INTRODUÇÃO
 
 
Algumas definições: 
 
A Geomorfologia, tal como o indicam as raízes gregas a partir das quais a palavra é composta, é a ciência das formas da Terra. O seu objecto é, portanto, o estudo das formas de relevo da crusta terrestre, da litosfera. 
TRICART (1968) 
 
Geomorfologia é a disciplina científica que tem por objecto a inventariação, classificação e explicação das diferentes configurações que apresenta a superfície externa da litosfera, de cuja combinação resulta o relevo terrestre. 
JIMÉNEZ (1993) 
 
A Geomorfologia é a disciplina científica que tem por objecto descrever e explicar as formas do relevo terreste, a sua génese, a sua evolução temporal e as suas relações no espaço. 
JOLY (1998) 
* 
* * 
 
A Geomorfologia, ciência das formas da superfície terrestre e dos processos que as geram[footnoteRef:1], tem sido naturalmente encarada, pelo menos em Portugal, como uma das disciplinas da Geografia Física. Por essa razão, o seu ensino tem sido feito, essencialmente, nas licenciaturas em Geografia das Faculdades de Letras. Em termos de investigação, são também os geógrafos ligados à Geografia Física que desenvolvem a maior parte dos trabalhos científicos sobre esta matéria. Esta situação, aparentemente herdada da tradição francesa e vivida praticamente durante todo o século XX começou a modificar-se recentemente, tanto em termos do ensino, como, sobretudo, da investigação. Com efeito, no ensino universitário diversifica-se o aparecimento de disciplinas ligadas ao estudo da génese e da evolução do relevo, não só nos cursos de Geologia (Ciências da Terra no seu sentido mais amplo), mas também, dado o carácter aplicado de que muitos dos conhecimentos geomorfológicos se revestem (instabilidade de vertentes e taludes, evolução da linha de costa, gestão de bacias hidrográficas), na própria Engenharia. No campo da investigação parece ser cada vez maior o investimento que, particularmente, os geólogos têm vindo a fazer neste domínio. Por outro lado, a própria vocação interdisciplinar da Geomorfologia (fig. 1.1), quer pelo objecto de estudo, quer pelos métodos de que se serve, propicia o trabalho conjunto, em equipas interdisciplinares de geógrafos, geólogos, arqueólogos e engenheiros. [1: ] 
 
Fig. 1.1 – A interdisciplinaridade em Geomorfologia e as ciências ou disciplinas conexas. 
 
Muito por força destas práticas interdisciplinares, em regra mais resultantes do contacto individual dos investigadores do que de uma verdadeira colaboração institucional, a Geomorfologia deste início de século XXI, apesar de ainda pouco utilizada pelos técnicos de planeamento e de ordenamento do território e pouco conhecida dos decisores políticos, dos jornalistas e do grande público, traduz uma forte evolução que a torna mais aprofundada cientificamente, mais diversificada metodologicamente e, sobretudo, mais aplicável que era no passado século. 
Geomorfologia ou Geomorfologias? 
Com a cobertura formal da disciplina de Geomorfologia, desenvolvem-se hoje trabalhos de diferente natureza, com diferentes escalas espaciais e temporais e que aproveitam diferentes metodologias. Sem a preocupação de exaustão, inventariam-se as principais tendências dos estudos geomorfológicos: 
1) Os estudos feitos numa perspectiva clássica, que têm por objecto a descrição, classificação e evolução das paisagens físicas da Terra. Aqui entronca a chamada Geomorfologia Histórica (reconstituição morfogenética a partir dos condicionalismos litológicos, das vicissitudes tectónicas e estruturais, bem como
2) da evolução dos paleoambientes registados. Aqui cabem também os estudos mais convencionais das chamadas Geomorfologia Climática e Geomorfologia Estrutural. Trata-se, sobretudo, de uma Geomorfologia dos “tempos longos” (Ferreira, 1999), de que são exemplos, os estudos das superfícies de aplanamento em relação com a evolução tectónica do relevo e com as condições paleo-ambientais, assim como a análise da evolução das formas fluviais em função das oscilações climáticas quaternárias[footnoteRef:2]. [2: ] 
3) O estudo dos processos, baseado essencialmente na compreensão dos mecanismos que governam a Natureza e, particularmente, a modelação do relevo (evolução das vertentes; dinâmica fluvial, glaciar, eólica e marinha; avaliação dos processos erosivos; erosão cársica; etc). Apesar de o estudo dos processos geomorfológicos significar sempre um estudo das transformações do espaço a diferentes escalas, trata-se, sobretudo, de uma análise de “tempos curtos” (FERREIRA, 1999), muito apoiada na construção de modelos interpretativos de sabor quantitativo. 
4) Relacionada com a perspectiva anterior, podemos apontar uma perspectiva essencialmente morfométrica e quantitativa, que, por regra, se associa também às tendências quantitativas da chamada Nova Geografia. Neste tipo de estudos podem ser considerados os modelos quantitativos para análise das bacias e redes de drenagem, as medições da erosão através de modelos quantitativos ou experimentais e a própria cartografia geomorfológica, quando suficientemente detalhada. Esta análise morfométrica de feição quantitativa apresenta uma forte ligação aos estudos ambientais, através de uma Geomorfologia Aplicada a grandes temas da actualidade (erosão dos solos agrícolas, dinâmica de vertentes e riscos, modificações lentas e bruscas nos espaços costeiros, etc). 
5) O estudo da inter-relação dos processos humanos com os processos geomorfológicos, que tanto pode entender-se através do estudo das actividades humanas sobre o meio físico, ou seja estudar a importância do Ser Humano enquanto agente das transformações geomorfológicas, passadas, presentes e futuras (ex: Pascoal et al., 2016[footnoteRef:3]) ou estudar a importância do chamado “determinismo geomorfológico” ou dos riscos geomorfológicos (ex: CUNHA e DIMUCCIO, 2002; RAMOS et al., 2014[footnoteRef:4]) [3: ] [4: ] 
6) Finalmente, e procurando dar um objetivo utilitário à Geomorfologia, vista em qualquer uma das perspectivas precedentes, podemos referir a aplicação aos Estudos Ambientais que visa, sobretudo, proporcionar informação útil ao Planeamento Ambiental e ao Ordenamento do Território, seja através da inventariação de recursos, seja através de estudos de avaliação de impactes, seja ainda através dos estudos sobre riscos. A cartografia geomorfológica, simples ou derivada, de escala média ou de pormenor, assume particular importância na tradução dos problemas e nas propostas de solução a transmitir a técnicos de outras especialidades e a decisores económicos e políticos. 
 
Geografia, Geografia Física e Geomorfologia 
Se a posição da Geomorfologia ou destas diferentes Geomorfologias no contexto científico e, particularmente no da investigação em Geografia, parece não oferecer grandes dúvidas, já no plano pedagógico e particularmente no que se refere aos ensinos básico e secundário, começa, no entanto, a ser um tanto desconfortável para os geógrafos, particularmente para os que, por gosto ou opção, privilegiam os temas de Geografia Física. Este desconforto é sentido, sobretudo, quando, em nome de uma certa Geografia dedicada fundamentalmente ao estudo da produção e da organização do espaço pelo Ser Humano, começa, de algum modo, a ser rejeitada como ramo tradicional da não menos tradicional Geografia Física, enquanto vai sendo integrada, cada vez mais naturalmente, noutros campos disciplinares dos ensinos básico e secundário[footnoteRef:5]. [5: ] 
De qualquer modo, parece continuar a ser lógica, produtiva e cientificamente correcta, a integração plena da Geomorfologia e das restantes disciplinas ligadas ao estudo da Natureza, como a Climatologia, a Hidrologia e a Biogeografia numa Geografia Física em permanente renovação. F. REBELO escreveu, em 1997, que “há quem defenda que a verdadeira Geografia não é a Física nem a Humana, mas aquela que integra bem os conhecimentos das duas áreas científicas” (p. 11). Esta integração e articulação de dados das Ciências Sociais com os das Ciências Naturais[footnoteRef:6], temvindo a abrir novas perspectivas a uma Geografia Física, e consequentemente a uma Geomorfologia que dá cada vez mais importância ao Ser Humano, na medida em que as suas actividades sobre o território são económica, social e culturalmente condicionadas pela geomorfologia, mas, sobretudo, pela sua importância como agente modelador da paisagem e do relevo ou como espectador (por vezes também actor!) de catástrofes geomorfológicas de diferentes dimensões e consequências. [6: ] 
Ora, esta Geomorfologia Ambiental ou, se preferirmos, esta Geomorfologia Social ou mesmo esta Geomorfologia Cultural, hoje trazida para a ribalta científica dado o seu carácter aplicado, tem que estar necessariamente fundamentada numa análise detalhada e cientificamente correcta do funcionamento geomorfológico dos geossistemas, análise que tem, forçosamente, de ser apoiada no trabalho de campo, com integração de dados e problemas de diferentes origens, portanto com forte vocação interdisciplinar, e com resultados expressos através da complexa cartografia de formas e processos, que é a cartografia geomorfológica. 
Formas estruturais elementares
A Geomorfologia Estrutural é uma das subdivisões da Geomorfologia, em que se estuda o relevo nas suas relações com a estrutura geológica. Como foi já dito, a estrutura geológica, no sentido genérico que lhe damos em Geomorfologia, corresponde à litologia, envolvendo as características das rochas e os seus modos de jazida, juntamente com a disposição que resulta das deformações tectónicas sofridas. No fundo, corresponde ao modo como a superfície da litosfera (as rochas) se apresenta face ao conjunto de processos erosivos. 
Tendo em consideração a importância relativa dos vários agentes erosivos, quer em termos da sua importância espacial, quer em termos da sua eficácia morfológica, as águas correntes desempenham um papel fundamental, já reconhecido por William Morris Davies que, inclusivamente, lhe atribuiu a designação de “erosão normal”. Por isso, em termos simplistas, poderemos dizer que as formas estruturais elementares resultam da instalação de uma rede hidrográfica sobre um determinado tipo de estrutura geológica e da consequente evolução morfológica. 
De certa forma, W. M. Davies terá sido o fundador da Geomorfologia, através dos estudos de Geomorfologia Estrutural, pelo que muita da teoria que preside a este tipo de abordagem em Geomorfologia, assenta numa evolução que incluir as 3 fases do ciclo davisiano (ou geográfico): a fase inicial ou de juventude, a fase intermédia ou de maturidade e a dfase final ou de velhice. Os esquemas que se seguem, da autoria de A. N. Straller traduzem exactamente esta leitura. 
 
1. Formas estruturais elementares em estruturas sedimentares 
As estruturas sedimentares resultam da sedimentação de restos detríticos ou químicos de rochas pré-existentes. Em regra o seu modo de jazida é a disposição em estratos que podem apresentar-se sub-horizontais, ou seja sem deformação aparente, monoclinais, ou seja com uma inclinação no mesmo sentido, ou dobradas formando sinclinais e anticlinais. Podem também apresentar-se falhadas, sempre que o processo tectónico que as afectou ultrapassou o limiar de plasticidade das rochas, levando-as a partir… No entanto, dado que as estruturas falhadas podem incluir tanto rochas sedimentares, como rochas metamórficas e magmáticas, serão apresentadas no final deste capítulo. 
 
a. Em estruturas sedimentares aclinais 
Como foi dito, as estruturas sedimentares aclinais integram estratos de rochas sedimentares que se apresentam sem deformação tectónica ou com muito pequena deformação, mantendo em geral uma disposição horizontal ou subhorizontal. A estratificação significa uma disposição em estratos com diferentes espessuras, composições e resistências face aos processos erosivos dominantes. Em termos simples, poderemos dizer que estas estruturas apresentam um conjunto de estratos com alternâncias de rochas mais resistentes com rochas mais brandas. Como a disposição geral é de horizontalidade, isso significa que instalada a erosão fluvial e iniciada a formação de vales, a tendência será para ter nas vertentes dos vales rochas com igual resistência erosiva sensivelmente à mesmo cota. 
 
Nas fases iniciais de inserção de uma rede hidrográfica numa estrutura sedimentar dobrada (fig. 4.1), verificam-se basicamente duas situações: 
· o topo aplanado da camada (ou conjunto de camadas) dura dá origem a uma forma plana, designada plataforma ou planalto estrutural (meseta, na fig. 4.1). À medida que a erosão progride e esta plataforma se desmantela, poderemos ter formas menores como as “mesas” ou mesmo, quando de dimensões mais reduzidas, os chamados “cerros testemunho” ou cabeços testemunho” que representam os testemunhos ou restos de uma plataforma mais extensa; 
· a inserção dos vales faz-se de modo a que o vale apresente uma tendência para a simetria, uma vez que, devido à horizontalidade dos matérias, as vertentes apresentam à mesma cota rochas com idênticos níveis de resistência. Estas vertentes poderão apresentar rupturas de declive e desenhar cornijas no relevo, que correspondem às diferenças de resistência das rochas, mas mantêm a tendência para a simetria. Esta diferenciação interna pode dar origem a degraus estruturais, as chamadas rechãs estruturais (ou achadas) (fig. 2 e 3), que correspondem a degraus de pequena dimensão em afloramentos de rochas mais resistentes. 
A fig. 3 mostra as fases evolutivas deste tipo de relevo, com uma fase de juventude, uma fase de maturidade, que parece corresponder à fase em que actualmente se encontra o canhão do rio Colorado (fig. 4.2) e uma fase de senilidade ou velhice, em que o relevo muito plano dado o afloramento de tecto de uma camada dura, mas também toda uma fase erosiva longa e complexa, em que alguns pequenos cabeços testemunho deixam adivinhar a posição de uma camada dura suprajacente. 
b. Em estruturas sedimentares monoclinais 
Por analogia com o caso anteriormente abordado, as formas estruturais elementares em estruturas sedimentares monoclinais decorrem da evolução geomorfológica por acção da rede hidrográfica sobre uma estrutura sedimentar monoclinal, ou seja em que os estratos (ou camadas sedimentares) apresentam um pendor sempre no mesmo sentido. 
Este tipo de estruturas pode acontecer nas seguintes situações: 
. Como consequência dos processos recentes de sedimentação costeira, caso em que, em regra os estratos apresentam uma fraca inclinação (pendor) para o lado do mar; 
	 	. Como consequência de basculamentos tectónicos; 
 . Nos flancos, maiores ou menores, de estruturas dobradas (anticlinais ou sinclinais) 
 Também por analogia com o caso das estruturas sedimentares aclinais, também neste caso consideramos que os diferentes estratos podem apresentar diferentes graus de resistência aos processos erosivos, ou seja com alternância de rochas brandas e duras. 
As formas estruturais mais conhecidas são exactamente as cuestas ou costeiras, cuja designação se relaciona exactamente com a evolução morfológica relacionada com as regiões costeiras (fig. 4), mas que foi depois estendida às morfologias relacionadas com estruturas monoclinais com fraco pendor, ou seja um pendor inferior a 10°. 
A inserção da rede hidrográfica nestas estruturas dá origem a vales simétricos (se correm de acordo com o pendor das camadas e a vales que podem ser fortemente assimétricos, se se desenvolvem segundo a direcção das camadas (ou seja perpendicularmente ao pendor). 
A inserção da rede leva à existência de linhas de água consequentes (as primeiras a ser instaladas; C, nas fig. 4 e 5) e que correm de acordo com o pendor das camadas que, naturalmente, determina o declive inicial. Depois a instalação das linhas de água afluentes que podem explorar a fraca resistência das camadas mais brandas e que são as linhas de água subsequentes (S, nas figuras 4.4 e 4.5), após o que se instalam como afluentes destas, as linhas de água ressequentes ou seja de acordo com o pendor (R, nas figuras 4.4 e 4.5) eobsequentes, ou seja, correndo contrariamente ao pendor (O, nas figuras 4.4 e 4.5). 
Um outro modo de tipificar as linhas de água responsáveis pela morfogénese das estruturas sedimentares monoclinais é: 
· linhas de água cataclinais, ou seja que correm de acordo com o pendor das camadas (consequentes e ressequentes); 
· linhas de água ortoclinais, ou seja que correm perpendicularmente ao pendor das camadas, quer dizer segundo a direcção das camadas (subsequentes); 
· linhas de água anaclinais, ou seja que correm contrariamente ao pendor das camadas (obsequentes). 
No seu conjunto, o trabalho erosivo destas linhas de água é responsável por um relevo tipicamente assimétrico, como é o relevo de cuestas ou costeiras, em que se distingue a frente da cuesta e o seu reverso. A frente, aberta pela erosão ortoclinal, apresenta em regra dois sectores bem distintos: a cornija, que corresponde ao afloramento da rocha dura que encima a estrutura e o talude que corresponde às camadas mais brandas inferiores. O reverso corresponde à rampa suavemente inclinada (de acordo com o pendor fraco que caracteriza esta estrutura) desenvolvida no topo da camada dura superior. 
A importância do pendor na morfologia 
Como podemos imaginar, a diversidade morfológica em estruturas sedimentares monoclinais é imensa, tal como é imensa a lista de factores condicionantes desta morfologia. A dimensão na horizontal e na vertical da estrutura, o pendor, a dureza relativa das camadas, a sua espessura relativa, bem como o modo de funcionamento dos agentes erosivos que está intimamente relacionado com as condições climáticas e de coberto vegetal, são apenas alguns dos principais factores que justificam esta diversidade. 
Entre eles, o pendor das camadas assume um papel tão fundamental que, inclusivamente, são atribuídas diferentes designações às formas de relevo consoante o pendor em que assentam. Assim, podemos considerar: as cuestas, enquanto formas fortemente assimétricas relacionadas com pendores inferiores a 10°; as cristas, para formas que mantêm ainda alguma assimetria, com pendores entre 10 e 30°; os hogbacks, formas em que se perde a assimetria geral do relevo, com pendores entre os 30 e os 70°; e, finalmente, as barras que assentam em estruturas com pendores monoclinais quase verticalizados, ou seja superiores a 70°. 
 
Variação da morfologia nas estruturas sedimentares monoclinais em função de outros factores 
 Como foi referido, a dureza relativa das camadas e a sua espessura relativa, bem como o modo de funcionamento dos agentes erosivos que está intimamente relacionado com as condições climáticas e de coberto vegetal, também influenciam a morfologia geral nas estruturas sedimentares dobradas. 
Apresentam-se de seguida, algumas destas situações: 
 
Na fig 11 está representada a importância da dureza relativas das rochas na morfologia das cuestas e, nomeadamente, da sua frente. No caso de a relação de dureza ser muito forte, quer dizer se a(s) camada(s) dura(s) for muito mais resistente que a(s) camada(s) dita(s) branda(s) (esquema da esquerda), teremos um frente muito bem marcada com um ângulo vivo a marcar, quer a passagem da frente para o reverso da cuesta, quer a passagem da cornija (rocha dura superior) para o talude (rocha branda inferior). No caso em que as resistências se aproximam mais (esquema da direita), tanto a passagem da frente para o reverso, como a passagem da cornija para o talude se fazem através de passagens graduais de declive em vez dos ângulos vivos anteriormente referidos. 
Na fig 12 está representada a importância da espessura relativa das rochas. No caso de a rocha dura superior, responsável pela cornija, ser relativamente pouco espessa (esquema da esquerda), teremos não só uma frente de cuesta menos vincada, como mesmo a possibilidade de esta cornija (logo a própria frente) ser pouco rectilínea em termos longitudinais, caso que não acontece se esta camada ou conjunto de camadas tiver uma espessura significativa no contexto local (esquema da direita). 
Neste caso, não só a cornija será muito mais marcada transversalmente, como será mais compacta e mais rectílinea no plano longitudinal. 
Dois outros factores, não estruturais, são determinantes na morfologia das cuestas. Um deles será o sistema de erosão actuante, que depende fortemente do clima regional e da sua agressividade erosiva, sendo certo que os climas áridos e subáridos com menor precipitação, mas com chuvas mais concentradas no tempo e com menor protecção do solo, pela rarefação da vegetação, são responsáveis por formas mais angulosas que os climas tropicias húmidos e os climas temperados, em que as formas tenderão a uma maior suavização. Finalmente, uma referência para um factor já invocado no início deste ponto e que diz respeito ao tempo de evolução das formas. Se aceitarmos como válidas para explicações de Geomorfologia etsrutural as fases do ciclo davisiano (ciclo geográfico, de Davies), teremos que as formas mais vincadas neste tipo de relevo são as formas intermédias, ou seja as que se ligam, à chamada “fase de maturidade”, conforme representado atrás, na fig. 4.4. 
 
c. Em estruturas sedimentares dobradas 
Também neste caso das formas estruturais elementares em estruturas sedimentares dobradas, a evolução geomorfológica é apresentada como decorrendo da acção da rede hidrográfica sobre uma estrutura sedimentar dobrada, com alternância de rochas brandas e duras, em que estas últimas têm uma particular importância no desenho inicial do relevo. 
 
As formas do relevo tipo “Jura” 
Montes anticlinais e vales sinclinais: 
Numa estrutura sedimentar com dobramentos, as formas de relevo básicas são as que reproduzem a influência directa dos dobramentos, a saber formas salientes nos anticlinais e formas deprimidas nos sinclinais, ou sejam os montes anticlinais e os vales sinclinais, que correspondem ao afloramento do plano superior de uma camada dura nas charneiras anticlinais e sinclinais. Este tipo de relevo mais ou menos directo tem como exemplo paradigmático o relevo do Jura franco-suíço, pelo que costuma ser apelidado como relevo de tipo Jura (fig. 4.13). 	 
A partir deste alinhamento geral de montes anticlinais e vales sinclinais a evolução do relevo conduz ao aparecimento de outras formas. A erosão remontante a partir dos cursos de água que seguem os vales sinclinais, leva ao aprecimento de ravinas ou pequenos cursos de água afluentes que sulcam e aos poucos rasgam as vertentes que correspondem aos flancos do sinclinal (ou do anticlinal, conforme preferirmos), dando origem às chamadas ruz. A evolução destas formas pode levar ao corte do monte anticlinal, formando vales transversais que recebem a designação de cluses. A evolução sucessiva da rede pode conduzir a uma inserção da rede hidrográfica e, particularmente, dos elementos afluentes das cluses ao longo da charneira anticlinal, sobretudo quando esta inserção atinge as camadas mais brandas que ficam abaixo das camadas duras que dão a forma ao monte anticlinal. Formam-se assim as combes, que progressivamente conduzem ao esventramento desta forma saliente. 
 
A exploração da resistência relativa das camadas sedimentares permite que, como foi dito, as combes possam evoluir ao longo das charneiras anticlinais, rasgandoas, esventrando-as e colocando-as posicionalmente abaixo dos fundos dos vales sinclinais contíguos (fig. 4.15), o que corresponde a uma situação de inversão de relevo. Dito doutra forma, se numa primeira fase a resposta morfológica à estrutura faz com que os relevos salientes se relacionem com os anticlinais e os relevos deprimidos com os sinclinais, a evolução do processo erosivo tende a privilegiar as distribuição espacial da resistência relativa das rochas, podendo levar a situações de inversão de relevo, como a que pode ser materializada pelas combes (anticlinais esventrados) face aos sinclinais alcandorados. 
Seja como for, na natureza há dois factos que podem ser aqui invocados para melhor justificar estas situações de inversão de relevo: em primeiro lugar, a espessuradas camadas de rocha dura e de rocha branda, sendo seguro que uma forte espessura de rochas brandas favorece este processo; em segundo lugar, a continuidade temporal dos paroxismos tectónicos – se, por comodidade de análise e por necessidade pedagógica, invocamos a tectónica dúctil para a construção das dobras a actuar num primeiro e curto momento (ou numa primeira fase) e depois uma fase mais prolongada de erosão, um pouco ao modo do modelo davisiano, sabemos que a tectónica, seja dúctil, seja quebradiça, tem tendência a continuar a sua manifestação, pelo que a sua intervenção pode ser responsável pela elevação secundária dos fundos de vale sinclinais e mesmo por uma elevação por acção da tectónica quebradiça que conduz (aparentemente) ao reforço destas situações de inversão de relevo… 
Continuando a seguir o modelo davisiano de evolução do relevo (fig 15), depois de uma fase de juventude e de uma fase de maturidade que inclui esta fase de inversão de relevo, acontecerá uma progressiva degradação da energia do relevo levando a uma fase de peneplanação que materializa a fase de senilidade desta evolução geomorfológica. 
 Como pode ser observado na fig. 4.15, a fase D, a fase de aplanação leva à alternância, na superfície,de rochas brandas e de rochas duras, aparentemente exploradas por uma rede hidrográfica de tendência ou de padrão sensivelmente paralelo, já que a maioria dos cursos de água se instalam nos afloramentos lineares de rochas menos resistentes. 
No ciclo davisiano, a fase de peneplanície (o fim do ciclo) pode dar origem a um novo ciclo de erosão, quer por intervenção da tectónica que soergue esta peneplanície, expondo-a à erosão, quer uma descida geral do nível de base geral (o nível médio dos oceanos) que leva a um progressivo encaixe da rede hidrográfica, quer ainda por uma modificação climática que promova erosão mais intensa. O rejuvenescimento erosivo vai explorar essencialmente a alternância de rochas duras e brandas, escavando estas e deixando aquelas salientes. Nasce, assim o chamado relevo apalachiano, cojo paradigma está nos Montes Apalaches do sector oriental da América do Norte, nomeadamente dos Estados Unidos (fig. 4.16). 
As características fundamentais do relevo apalachiano estão bem patentes na fig. 4.16 e são: 
1. As formas ocas e as formas salientes traduzem de modo muito directo a menor ou maior resistência das camadas rochosas aos processos erosivos; 
2. Aplanamento geral das formas salientes (cristas, hogbacks ou barras, conforme o pendor das camadas) que apresentam um forte isometria dos cimos, o que denota uma fase de aplanamento geral anterior à incisão erosiva; 
3. O caracter alongado do relevo a deixar perceber a relação com dobras alongadas e extensas; 
4. As formas em ponta de charuto nas terminações perianticlinais; 
5. As formas em fundo de barco nas terminações perissinclinais. 
Assim, o relevo apalachiano traduz uma evolução lenta, mas de longa duração, a partir de um relevo associado a uma estrutura sedimentar dobrada. De um relevo tipo Jura que reponde fundamentalmente as deformações anticlinais e sinclinais, passa-se a um relevo inverso e deste para uma fase de aplanamento generalizado. Como vimos atrás, esta evolução não significa um imobilismo tectónico absoluto e a inversão do relevo pode ser favorecida por condicionalismos tectónicos ou apenas por um reforço dos movimentos iniciais. 
Um segundo ciclo de evolução geomorfológica, faz a passagem de um relevo de peneplanície para um relevo de tipo apalachiano, através de uma reactivação tectónica ou erosiva. Por isso, esta longa evolução implica milhões de anos e várias fases de construção geomorfológica. No caso do relevo português, ainda que não haja relevos apalachianos tão exoressivos e pedagógicos como os da costa Leste dos Estados Unidados da América, é cosntume invocar-se uma génese semelhante para grande parte das cristas quartzíticas, associadas a rochas ordovícicas. Depois de dobradas (orogenia hercínica) e erodidas pelas fases de aplanamento do final do paleozóico e de grande parte do mesozóico (até ao Cretácico), a orogenia alpina terá sido responsável pelo soerguimento e pela erosão diferencial que as expõe hoje como importantes serras. Vistas de longe, as Serras do Buçaco e das Atalhadas apresentam um alinhamento de quilómetros e um sensível aplanamento somital que pode testemunhar o aplanamento mesozóico. Outras serras quartzíticas (Valongo, Ródão, Muradal, Penha Garcia, entre outras, mantêm o alinhamento geral e alguns sectores aplanados no cimo, ainda que as deformações quebradiças (por falha) alpinas tenham perturbado a continuidade do aplanamento pré-tectónico. 
 
2. Formas estruturais elementares em estruturas falhadas 
A tectónica quebradiça, ou seja aquela que é responsável pela criação de descontinuidades crustais com deslocação relativas de blocos, é um dos principais factores de morfogénese e, particularmente, um dos factores essenciais para a criação de grandes massas de relevo. 
Estes relevos em estruturas falhadas dependem muito do tipo de falhas presentes (fig. 17 e 18), do valor da rejeição dos blocos e, naturalmente, do modo como os processos exógenos (clima; águas correntes; vegetação) actuam. Tal como nos casos anteriormente apresentados, os raciocínios que se seguem pressupõem a instalação de uma rede hidrográfica que se adapta a uma estrutura falhada, condicionando a evolução morfogenética seguinte. 
 
As escarpas de falha são as formas estruturais elementares em estruturas falhadas. Dito doutra forma, particularmente quando as falhas apresentam uma rejeição vertical, elas apresentam como manifestação morfológica directa uma escarpa que liga o bloco levantado com o bloco abatido, cuja altura (desnível) corresponde à rejeição vertical da falha e cujo declive corresponde à inclinação do plano de falha. Assim, esta escarpa inicial, a que é habitual chamarmos escarpa primitiva de falha, manifesta o papel activo inicial da falha. Para que uma escarpa primitiva de falha possa ser encontrada na natureza é necessário que ocorram, isoladamente ou em conjunto, três factos fundamentais: actividade tectónica muito recente, forte resistência dos materiais do bloco levantado que constituem a escarpa e fraca eficácia dos processos erosivos. 
Na fig. 4.20, podem ser encontradas algumas destas escarpas, morfologicamente diversas conforme o tipo de falha. No entanto, a importância morfológica das falhas manifesta-se também, muitas vezes e em diferentes fases do processo evolutivo, através de um papel passivo, ou seja pelo facto de uma falha (ex: falha de desligamento horizontal) poder colocar em contacto, inicialmente ou em fases subsequentes do processo morfogenético, materiais com resistência erosiva distinta. 
Também aqui, a evolução geomorfológica das escarpas de falha compreende várias fases, que se vão estabelecendo à medida que a rede hidrográfica aproveita os declives criados e as linhas de fragilidade que se estabelecem. A figura 4.21 dá conta dessa evolução, aproveitando as fases do ciclo geográfico davisiano, desde a fase inicial da escarpa de falha primitiva, até a uma escarpa muito degradada e recuada que corresponde à fase de peneplanície ou de velhice. 
A primeira fase desta evolução tem a ver com a instalação de uma rede fluvial que flui do bloco levantado para o bloco abatido, escavando vales que marcam a escarpa, dando origem a facetas trapezoidais primeiro (fig. 4.22) e a facetas triangulares a seguir (fig. 4.23). 
Estas primeiras fases de evolução são muito interessantes porque dão conta da evolução geral, ou seja, à medida que o processo avança, abram-se as chanfraduras na escarpa (passagem das facetas em forma de trapézio para facetas em forma de triângulo), reduz-se a sua altura por erosão no bloco levantado e por acumulação no bloco abatido, diminui o declive geral da escarpa e acontece mesmo um recúo paralelo da mesma… As fotografias das figuras 24 (Argentina) e 25 (Portugal – Vale e Graben da Vilariça) dão conta deste tipo de morfologias. 
 
Referimosjá a importância do “papel passivo” das falhas na construção e evolução do relevo. As falhas de desligamento horizontal podem pôr em contacto lateral materiais litológicos com diferentes características e distintas susceptibilidade aos agentes e processos erosivos. Mas, também as falhas com rejeição vertical podem colocar em contacto lateral rochas com diferentes características e susceptibilidades erosivas. Neste caso o relevo explora esta diferenciação de dureza, ou seja produz uma erosão diferencial, mais eficaz em rochas mais brandas e menos eficaz em rochas mais duras, que é responsável por escarpas que apenas respondem posicionalmente ao traçado da falha. Porque a escarpa não tem um desnível relacionado com a rejeição da falha, mas ocorre na posição de contacto entre os blocos deslocados, não se utiliza o termo “escarpa de falha”, mas refere-se a expressão “escarpa de linha de falha”. As escarpas de linha de falha podem ser directas ou inversas, conforme o bloco saliente corresponde ao bloco levantado ou corresponde ao bloco abatido (uma verdadeira situação de inversão de relevo; ver fig. 4.26). 
 
Os diferentes tipos e morfologias das escarpas de falha, as principais formas estruturais em estruturas falhadas, têm que ser lidas na conjugação de vários aspectos que as determinam: 
1. A rejeição das falhas, expresso pela amplitude do movimento tectónico, que dita a altura e inclinação da escarpa primitiva; 
2. A resistência ou dureza relativa das rochas afectadas e que podem ser colocadas em contacto lateral face aos agentes erosivos; 
3. O facto de a zona de fracturação associada à falha ser uma área de brecheação e de esmagamento de materiais, o que faz dela uma área (ou uma linha, dependendo da escala de observação) de maior facilidade erosiva por relação aos cursos de água, dando muitas vezes origem aos chamados vales de fractura ou de linha de falha; 
4. O facto de os acidentes tectónicos de falha poderem ter rejogos sucessivos, no quadro de uma fase tectónica com grande extensão temporal; 
5. E, finalmente, mas não menos importante, a importância morfogenética dos agentes e processos erosivos actuantes, na dependência do clima e da cobertura vegetal do solo. 
Por isso, as formas estruturais elementares em estruturas falhadas (escarpas de falha, escarpas directas ou inversas de linha de falha, vales de fractura e de linha de falha) revelam sempre este confronto entre dados estruturais e as modalidades de erosão, devendo ser consideradas, na maioria dos casos, como formas complexas e mesmo como formas compostas ou compósitas. 
Na figura 4.27 apresenta-se um caso paradigmático, o de uma escarpa de falha, cuja altura é exacerbada pela instalação de um vale de linha de falha. A escarpa visível na figura, decorre do movimento tectónico na sua parte superior, mas também da erosão (e encaixe) do curso de água que aproveita a linha de falha. 
Na fig. 4.28 estão representados dois casos possíveis de evolução compósita de uma escarpa de falha por rejogo tectónico. Num primeiro momento a escarpa resultante do movimento é exposta à actuação da erosão hídrica sendo progressivamente rebaixada e suavizada. Caso esta evolução seja interrompida por novo movimento tectónico (no mesmo sentido ou, mesmo, em sentido contrário) teremos uma escarpa composta que traduzirá: 
· movimento inicial 
· erosão com degradação do bloco levantado 
· rejogo directo, com ampliação da escarpa e rejuvenescimento da escarpa, ou - rejogo inversão, com atenuação da escarpa inicial. 
 De certa forma a fotografia da fig. 4.24 dá conta também de uma escarpa compósita, a escarpa que se encontra em primeiro plano, em que na sequência de um movimento inicial temos a instalação de uma rede hidrográfica e a criação de facetas trapezoidais, depois evoluídas para facetas triangulares, que estão bem visíveis no sector superior da escarpa. Um segundo movimento, com rejogo directo, ou seja no mesmo sentido do anterior, ampliou a escarpa em cerca de 25% e a continuação do processo erosivo hídrico deu lugar, neste sector indferior da vertente a facetas sensivelmente em forma de trapézio. 
 
3. Um caso particular: as formas estruturais elementares em estruturas diapíricas 
As estruturas diapíricas representam um caso muito particular no conjunto das estruturas sedimentares que apresentam dobras e falhas, podendo ainda, pelos processos específicos da sua evolução, fazer aflorar rochas vulcânicas. 
 
Estas estruturas estão relacionadas com as características fortemente plásticas das rochas sedimentares que têm na sua composição quantidades significativas de gesso e de sal-gema. Estes materiais que adquirem uma forte plasticidade em condições de forte pressão e de abundância de água, transmitem essa plasticidade aos materiais em que se inserem, nomeadamente em rochas argilosas ou margosas, como é caso na Geologia portuguesa da Formação das Margas de Dagorda (Triásico a Jurássico inferior) que ocupa um lugar de destaque nos sectores mais litorais da Orla meso-cenozóica ocidental portuguesa. 
Sobre a pressão litostática dos materiais suprajacentes que correspondem a centenas de metros de espessura de calcários dolomíticos, calcários margosos, calcários e arenitos que vão desde ao Jurássico ao Terciário e aproveitando as fragilidades tectónicas dessas rochas, nomeadamente as linhas de falha marcadas no soco hercínico e transmitidas à cobertura sedimentar, esses materiais fortemente plásticos têm tendência a movimentar-se e a subir, desenhando inicialmente pequenas dobras anticlinais que, no seu processo ascendente, acabam por cortar os materiais superiores, podendo chegar a aflorar à superfície. A este processo que depende da pressão litostática, mas que em regra é ajudado pela tectónica regional, pode associarse a subida rápida de materiais magmáticos, ou seja com a formação de pequenos vulcões e o afloramento de rochas vulcânicas. 
Do ponto de vista geomorfológico, o afloramento das margas com sal e gesso é responsável, dado o seu carácter muito brando, por áreas deprimidas, rapidamente aproveitadas pela rede de drenagem, originando os chamados Vales Tifónicos, de que o vale das Caldas da Rainha é o exemplo mais acabado. Nestes vales podem aparecer pequenos pitons ou filões de rochas vulcânicos, sempre salientes dado o seu comportamento em termos de erosão diferencial. Os limites ou a bordadura destes vales tifónicos, que correspondem aos afloramentos das rochas salinas e plásticas, são marcados por falhas que põem em contacto as margas mais antigas com as rochas da cobertura sedimentar, mais recentes. Assim, numa comparação muito simplista com as estruturas dobradas e falhadas atrás referidas, poderemos dizer que as estruturas diapíricas correspondem a anticlinais e, mesmo, a estruturas falhadas com elevação do bloco central, pelo que as áreas deprimidas que as marcam topograficamente, corresponderão a autênticas inversões de relevo (anticlinais esventrados e blocos levantados por falha, mas deprimidos no plano topográfico, ou seja limitados por escarpas inversas de linha de falha). Dado o forte contraste no plano da resistência aos agentes erosivos das margas salinas e gipsíferas com os calcários que as enquadram, os limites dos vales tifónicos são, quase sempre, muito bem marcados no plano geomorfológico. 
No sector litoral de Portugal há várias estruturas diapíricas, responsáveis por morfologias de tipo vale tifónico, mas o vale tifónico das Caldas da Rainha é o mais desenvolvido e corresponde ao ramo mais ocidental de uma vasta estrutura a que pertence também o diapiro da Serra dos Candeeiros que acompanha a base da sua vertente oriental (fig. 30 e 31) e que na sua posição mais meridional apresenta as salinas de Fonte da Bica (Rio Maior), onde a presença de sal-gema nas margas favorece a existência de salinas num dos pontos de maior interesse patrimonial da região e do Parque Natural das Serras de Aire e de Candeeiros. 
 
 No mapa geológico da fig. 4.30, destacam-se duas cores no vale tifónico das Caldas da Rainha: a cor roxa ou lilás materializaa presença das Margas de Dagorda, a rocha com gesso e sal-gema, fortemente plástica e que é responsável pelo funcionamento diapírico da estrutura. A recobri-las, com cor beije ou castanha clara estão representados os sedimentos pliocénicos e a cor cinzenta os sedimentos quaternários que marcam as fases erosivas de abertura do vale. No que diz respeito aos sedimentos quaternários, alguns deles serão muito recentes e mesmo históricos, já que a conhecida Concha de S. Martinho, pequena baía de forma semi-circular parece corresponder ao resto de uma ampla baía que invadia e ocupava parcialmente o vale tifónico, como testemunham topónimos de tempo histórico que se relacionam com o mar e as actividades marinhas como é o caso de Alfeizerão (de alfeite – oficina de navios) e de Salir do Porto. 
GEOMORFOLOGIA DINÂMICA
A Geomorfologia Dinâmica estuda os processos erosivos (elementares e gerais) que conduzem à evolução das formas de relevo. De certo modo, pode dizer-se que a Geomorfologia dinâmica estuda a erosão. Esta pode ser entendida num sentido mais amplo (conjunto de processos de desgaste, transporte e acumulação associados à evolução do relevo) ou num sentido mais restrito (que se refere essencialmente aos processos de desgaste ou de alteração dos materiais rochosos) por acção de agentes elementares ou gerais. 
Assim, as palavras-chave em Geomorfologia Dinâmica são: 
· Agentes erosivos: os elementos climáticos, hidrológicos e bióticos que, no interface com a litosfera, contribuem para a construção do relevo (vento, água, vegetação, etc.). 
· Processos erosivos: modalidades através das quais os agentes erosivos processam a erosão. Por exemplo, a água ao mudar do estado líquido ao estado sólido é responsável pela fragmentação das rochas (crioclastia), no estado líquido é responsável pela dissolução das rochas calcárias (dissolução) ou pela abrasão das superfícies rochosas, pela mobilização dos sedimentos fluviais e marinhos, etc. 
· Sistemas morfogenéticos: conjunto de processos elementares e gerais que concorrem para a construção de modelados mais ou menos característicos. Estes modelados têm, em regra, a ver com os grandes domínios climáticos, que se distinguem uns dos outros através de aspectos geomorfológicos típicos na paisagem. Como exemplo muito primário, apresenta-se a distinção entre o modelado glaciar, marcado pelos efeitos morfológicos da deslocação de grandes massas de gelo, o modelado eólico dos desertos sub-tropicais e o modelado essencialmente fluvial das regiões tropicais ou temperadas. 
 
Processos elementares 
Os chamados processos erosivos elementares, são processos de grande escala (escala de pormenor: dos metros aos quilómetros) ou seja ao nível do afloramento rochoso ou da vertente, e são, sobretudo, responsáveis pela preparação dos materiais nas vertentes e pelo seu transporte, por acção directa ou indirecta, livre ou assistido, para a base das vertentes, onde se acumulam ou são, posteriormente, transportados pelos grandes agentes de transporte, nomeadamente pelos cursos de água. 
 
 
Entender o que é a Geomorfologia??
Definição da geomofologia e sua importância.
Na Geomorfologia, não há uma definição fixa do qual é o objetivo primordial desta. Identificando as suas raízes gregas ( Γηος, geos (Terra), μορφή, morfé (forma) e λόγος, logos (estudo, conhecimento)), podemos dizer que esta é a “ciência das formas da Terra”. 
O seu objeto segundo TRICART (1968) é o estudo das formas de relevo da crusta terrestre, da litosfera. JIMÉNEZ (1993) diz que a Geomorfologia é a disciplina científica que tem por objeto a inventariação, classificação e explicação das diferentes configurações que apresenta a superfície externa da litosfera, de cuja combinação resulta o relevo terrestre. No caso de JOLY (1998), este afirma que esta tem por objeto descrever e explicar as formas do relevo terreste, a sua génese, a sua evolução temporal e as suas relações no espaço. Todos apresentam definições um pouco diferentes umas das outras dando a sua perspetiva sobre o que esta se deve focar e especializar. O trabalho geomorfológico, que pressupõe do pesquisador uma série de conhecimentos de outras ciências, implica nas seguintes atividades: descrição, localização e dimensionamento dos diversos compartimentos e feições de relevo verificados na epigeoesfera. Além dessas preocupações, a Geomorfologia voltasse, principalmente, à gênese e à evolução do relevo terrestre. A Geomorfologia é, portanto, uma ciência descritiva e genética.
Na minha opinião e do meu conhecimento sobre a Geomorfologia algo que nenhum geografo pode negar é que esta será uma disciplina que estuda sobretudo as formas da superfície terrestre e como estas se formam. Para isso, é necessário de facto descrever e analisar essas formas, entendidas e classificadas aqui como relevos, assim como todos seus aspetos genéticos, cronológicos, morfológicos, morfométricos e dinâmicos, tanto passados como atuais\ tanto naturais ou antropogénico. 
A Geomorfologia não estuda somente o relevo de maneira estática, mas todo o conjunto de processos que levam à sua transformação nas mais diversas escalas temporais. Este ramo da ciência não será só uma disciplina na área da geografia física, assim como vimos ao longo das aulas ela estuda todos os intervenientes na formação dos relevos, assim a geografia humana entra na medida em que se tenta perceber a relação as relações do homem com o ambiente, os desastres naturais, na medida em que o homem é por si só um agente modelador da paisagem e do relevo e por outro lado espectador e muitas vezes responsável pelas catástrofes geomorfológicas que vão acontecendo.
Para as sociedades e as práticas humanas em geral, a utilidade da Geomorfologia está na possibilidade de estudo sobre a superfície terrestre no sentido de permitir uma execução de sistemas e métodos de planejamento do processo de produção e ocupação do espaço geográfico. Assim, com os estudos empreendidos por essa área do conhecimento científico, sabemos quais são as áreas de melhor ocupação e aquelas de maior risco, além de entender as medidas necessárias para evitar problemas relacionados com o relevo na cidade e no campo. Desse modo, quando observamos ou acompanhamos nos noticiários casos de graves erosões, deslizamentos de Terra, ocupação de áreas degradadas, entre outros fatores ligados à estrutura da superfície, estamos diante de problemas que poderiam ter sido evitados mediante a aplicação de conhecimentos geomorfológicos específicos. Assim ao nos perguntarmos para que serve a Geomorfologia e qual o seu objetivo final, percebemos que a sua importância se prende na sua pertinência, no sentido de colaborar com o ser humano na ocupação e utilização de maneira correta, de modo a minimizar os impactos gerados sobre a natureza.
Interdisciplinaridade da Geomorfologia
Existindo como uma ciência um quanto ao pouco descritiva e classificatória desde a sua origem, a geomorfologia conforme foi evoluindo passou a se ocupar também das causas e inter-relações entre processos e formas atinentes ao relevo terrestre, funcionando quase como uma “ponte” entre a Geologia e a Geografia. A série de conhecimentos de outras ciências, tais como: a Climatologia, a Hidrografia, a Pedologia, a Glaciologia, a Paleogeografia, a Geografia Humana e a Geografia Matemática que a pesquisa geomorfológica demanda, dá mostras desta função-ponte que ela exerce entre essas duas Ciências da Terra. 
A sua ligação intrínseca com a Geografia física estudando as relações espaciais entre as formas, as relações genéticas entre o clima, hidrologia, vegetação, entre outras, que influenciam a paisagem em si, são abordados nos vários estudos. Podemos denotar também uma ligação na área da geografia humana uma vez que tenta perceber as relações do homem com o ambiente, os desastres naturais, na medida em que o homem é por si só um agente modelador da paisagem e do relevo e por outro lado espectadore muitas vezes responsável pelas catástrofes geomorfológicas que vão acontecendo. A geografia matemática e a topografia são importantes, uma vez que são um excelente meio de transmissão de conhecimentos acerca do relevo, no que diz respeito à sua génese e evolução, entre muitas outras ramificações da geografia que a geomorfologia busca para poder perceber as formas da superfície terrestre e como estas se formam. A Geologia por sua vez ajuda nos a perceber as relações relevo – estrutura, no estudo de muitos e diversificados recursos naturais que decorrem direta ou indiretamente de aspetos geomorfológicos, entre muitos outros usufrutos.
Todos esta pluridisciplinaridade vai nos ajudar a perceber as formas do relevo, a sua génese e evolução, uma vez que o processo e evolução por detrás deste destas formas não depende nunca só de uma condicionante, mas sim de um conjunto destas que são de diversas origens. Assim sem uma pluridisciplinaridade que permitisse a abordagem de todas estas vertentes nuca seria possível classificar, e explicar a sua génese e evolução de forma mais aprofundada, mais diversificada metodologicamente e mais aplicável que antes. Esta por consequência sendo tão diversificada e abrangendo tantas áreas vai ser alvo de estudo e de interesse das mais diversas áreas e propicia o trabalho conjunto, em equipas interdisciplinares, de geógrafos, geólogos, arqueólogos e engenheiros. 
Sendo uma área extremamente emaranhada e diversificada, mesmo dentro de cada tema por si abordado, faz deste um grande tema que divide novamente por áreas que acabam por necessitar de uma maior aprofundação devido á sua complexidade, criando ainda novas áreas especificas do grande tema que é a Geomorfologia. Assim especialmente no ensino universitário diversifica-se o aparecimento de novas disciplinas ligadas ao estudo da génese e evolução das formas de relevo, não só nos cursos de Geografia e de Geologia, como, mesmo, e dado o carácter fortemente aplicado de que muitos dos conhecimentos geomorfológicos se revestem (estabilidade de vertentes e taludes, evolução da linha de costa, ordenamento das bacias hidrográficas, etc.), na própria Engenharia, mostrando mais sua vez a sua importância ampla e diversificada.
Geomorfologia, terão sempre um importante papel a desempenhar na leitura e interpretação dos espaços e dos territórios, e consequentemente no planeamento e ordenamento, na avaliação das intervenções que sobre eles se realizam e na minimização das consequências de algumas intervenções menos ajustadas. O carácter integrado destas abordagens faz com que o trabalho aplicado de Geomorfologia resulte melhor quando realizado em ambiente interdisciplinar. A Geologia, a Engenharia e a Arqueologia, para referir apenas os mais óbvios, são saberes que, integrados com o(s) saber(es) geográfico(s), conduzem a uma leitura mais eficaz dos aspectos geomorfológicos do território e da sua utilização social.
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A evolução da Geomorfologia: Um pouco de história dos conhecimentos acerca das formas de relevo
Embora o termo Geomorfologia tenha sido utilizado pela primeira vez nos finais do século XIX[footnoteRef:7] e tenha sido também por esta altura que o estudo das formas de relevo ganhou um carácter verdadeiramente científico, de facto este conhecimento é um conhecimento antigo que evoluiu ligado ao avanço da Geologia e da Geografia. [7: ] 
Com efeito desde a Antiguidade Clássica que o estudo das formas de relevo da superfície da Terra atraiu naturalistas e filósofos. Aristóteles (Grego: 384-322 a. C.), sem ter estudado de modo directo e inequívoco a superfície da Terra, foi muito provavelmente o fundador das Ciências Naturais, para as quais utiliza um método básico: observar, descrever e classificar, ainda hoje essencial para os estudos de 
Geomorfologia. Relacionou a queda pluviométrica e a infiltração da água no solo com os aquíferos e com o funcionamento dos rios. Os gregos Heródoto (485-425 a.C.), Eratóstenes (276-194 a.C.) e Estrabão (54 a.C. – 25 d.C.) são também nomes incontornáveis dos estudos preliminares acerca da superfície da Terra e das suas formas de relevo, procurando o entendimento de uma Filosofia da Natureza, em que a Terra se integra. 
A chamada Idade Média, muito marcada no Mundo Ociedental por uma cultura cristã que vê na Criação Divina o princípio de todas as causas remotas primárias, numa leitura do livro do Genesis da Bíblia, em que a ideia fundamental é a de que tanto as pessoas como as coisas naturais foram criadas por Deus durante os seis dias da criação e deixadas posteriormente ao seu livre arbítrio (Criacionismo), tendo sido um período de pouco desenvolvimento científico, pelo menos no chamado mundo ocidental. 
As reacções a este modo de pensar, apenas surgem no Renascimento com Leonardo Da Vinci (1452-1519), que estudou os rios e estimou pelo menos em 200000 anos o tempo necessário para a deposição das aluviões do Rio Pó), Bernard Palissy (1510-1590), com a correcta interpretação do significado dos fósseis e com os primeiros estudos científicos de Hidrologia) e Nicholas Steno (1638-1686), ao definir estrato e ao compreender o princípio da sobreposição dos estratos, um dos princípios básicos da Estratigrafia e da Geologia. 
O período pós-medieval leva-nos verdadeiramente à fundação daquilo que hoje são as Ciências da Terra. Primeiro com o Catastrofismo, ainda de tendência criacionista, em que os fenómenos dinâmicos de evolução da superfície da Terra eram vistos como manifestações divinas de prémio ou de castigo, e que levou a uma Filosofia da Natureza que se prolonga até ao século XVIII, com autores como De Saussure (1740-1799), Cuvier (1769-1832) e, mesmo, Surrel (1813-1887), engenheiro responsável pelos conceitos de erosão remontante, perfil de equilíbrio e nível de base, conceitos com os quais pretendia explicar o funcionamento das torrentes alpinas. 
Os séculos XVII e XVIII são o tempo do Evolucionismo e do Actualismo da História Natural da Terra. Já se supunha, por exemplo, uma idade para a Terra muito maior que os cerca de 6000 anos deduzidos pela cronologia do livro do Genesis da Bíblia. James Hutton (1726-1797), com a célebre frase “o presente é a chave do passado”, ou seja, ao enunciar o “princípio das causas actuais”, preconiza uma evolução da superfície da Terra por acção de forças semelhantes às que actualmente controlam essa evolução. Playfair (1748-1819) consolida e divulga o trabalho de Hutton, seguindo-se Lyell (1797-1875) que serve de base a Ch. Darwin (1809-1882) que acaba por fixar nas Ciências da Terra o método histórico-natural, com a sua teoria da evolução das espécies, o Evolucionismo. 
No século XIX registam-se avanços significativos, por exemplo com Agassiz (1807-1873) e a sua teoria glaciar que além de explicar algumas formas e formações glaciares pressupõe um período recente de forte avanço dos glaciares, com Powell 
(1834-1902) e G. Gilbert (1843-1918) com explicações significativas para o modelado da superfície da Terra, como por exemplo as associadas aos conceitos de nível de base local, rios antecedentes e sobre-impostos (epigénicos), no primeiro caso, e de escultura do relevo, competência e capacidade de transporte dos rios. 
Finalmente, quase na viragem para o século XX, William Morris Davis (18501934) propõe, em 1899, o seu “Ciclo Geográfico” que corresponde ao primeiro modelo e método de análise verdadeiramente geomorfológico, razão pela qual é considerado como o fundador da Geomorfologia moderna. Segundo Davis “As formas de relevo dependem, ou como os matemáticos costumam dizer, são função da estrutura, dos processos e do tempo”. Para estabelecer a evolução do relevo e os seus diferentes estádios, criou o ciclo geográfico numa perspectiva claramente antropomórfica (ou, se preferirmos, zoomórfica) que preconiza a evolução do relevo por acção das águas correntes (a chamada “erosão normal”) em três fases principais: juventude, maturidade e senilidade. 
 
Na primeira,o relevo saída da actividade tectónica começa a ser erodido, mostrando pouco constrastado e pouco declivoso, dada o pouco tempo de actuação dos processos erosivos. Com o tempo, os vales inserem-se, os declives intensificam-se e entramos na fase de maturidade, seguindo-se a fase de senilidade, com um relevo já de baixa energia, em que a deposição predomina sobre a erosão e com declives progressivamente mais baixos: a peneplanície. 
Esta evolução pressupõe uma actividade tectónica rápida sobre as rochas (tectónica dúctil - dobras; tectónica quebradiça - falhas; vulcanismo) que cria a energia necessário para os processos de erosão que se desenvolvem durante um tempo longo de acalmia tectónica, no seu percurso para a peneplanície. 
O modelo proposto por Davis pretende explicar o relevo no seu todo, ou seja pretende ser aplicado ao conjunto de relevo numa área ou região relativamente extensas. No entanto, tendo em consideração o trabalho diferenciado das linhas de água, num relevo genericamente maduro como é o caso do relevo do Norte de Portugal, podemos considerar que as regiões de montante das bacias hidrográficas (montanhas) se aproximariam mais de uma fase de juventude, as regões de sopé ou as regiões planálticas intermédias de uma fase de maturidade e as regiões litorais, muitas próximas do nível de base geral, se aproximariam de uma fase de senilidade. Em síntese pode dizer-se que esta marcha ou caminho erosivo de uma fase inicial (juventude) até uma fase terminal (senilidade) se faz de modo diferenciado no conjunto de uma bacia hidrográfica, com uma transição mais rápida nas áreas próximas do litoral e uma processo mais demorada nas regiões mais interiores. 
Apesar de muito criticado, este modelo acaba por inspirar geomorfólogos um pouco por todo o mundo, mas particularmente na América. Basta ver os modelos conceptuais de evolução do relevo dos livros de Arthur N. Stahler, para perceber a influência de Davis. 
 
Fig. 1.3 - Ciclo Geográfico aplicado à evolução do modelado em estruturas dobradas (segundo Strahler, 1987). A - fase de juventude: B e C – fase de maturidade; D - Fase de senilidade: peneplanície. 
No entanto, o modelo davisiano acaba por ser criticado sobretudo em três pontos principais: 
1) o catastrofismo da tectónica, que não corresponde sempre a um cataclismo momentâneo, mas que em regra corresponde a uma fase suficientemente longa para co-existir com os processos de erosão; 
2) o imobilismo da superficie da Terra durante um período suficientemente longo de acalmia tectónica para que o ciclo se desenvolva, que se sabe nem sempre corresponder à verdade, já que o ciclo pode ser interrompido por fenómenos vulcânicos ou mesmo por intervenção tectónica mais ampla; 
3) O universalismo da erosão pelas águas correntes, ou seja da “erosão normal” que nalgumas zonas climáticas do globo não tem o papel dominante que manifesta nas regiões frias, temperadas ou tropicais húmidas. Ficam de fora do modelo as áreas áridas, em que o vento é o elemento modelador mais significativo, ou as áreas glaciares de alta latitude ou de elevada altitude, domínio do gelo e dos glaciares enquanto agentes morfogenéticos. 
Na sequência crítica das posições de Davis, A. Penck (1858-1945) e W. Penck (1888-1923) desenvolveram a teoria da interacção dinâmica da morfogénese e da escadaria de piemonte, baseadas num levantamento progressivo do relevo que é acompanhado por diferentes fases erosivas com recuo paralelo das vertentes. Foi também W. Penck que abordou a questão dos depósitos correlativos das formas, ajudando na sua explicação e correlação. Por seu turno, L. King (1907-1989) apoiado na teoria do retrocesso paralelo das vertentes, aceita a evolução do relevo até uma pediplanície (erosão e acumulação de sedimentos) com alguns inselbergs (ou montesilha - relevos bem delimitados e com declives acentuados que se erguem bruscamente da superfície basal). 
Na viragem para o século XX a leitura de Davis sobre a evolução das formas de relevo vai dar origem à chamada Geomorfologia Estrutural, ou seja à interpretação das formas de relevo como consequência das vicissitudes estruturais (litologia; modos de jazida das rochas; deformações tectónicas) que determinariam o maior ou menor vigor e, mesmo, as diferentes modalidades dos processos erosivos. No entanto, em função de uma “descoberta” do mundo e das suas diferentes paisagens realizada sobretudo no século XIX, já eram conhecidas a chamada “Zonalidade Climática” de Koppen (1901), e mesmo a “Zonalidade Pedológica” de Dokuchaev (1883) que justificam diferentes tipos de evolução do relevo em função dos diferentes climas, ambientes e paisagens conforme as grandes bandas latitudinais do Globo (polares; frias; temperadas; áridas; subtropicais e tropicais húmidas). Surge a Geomorfologia Climática que tem em J. Büdel, J. Tricart, L. Wilson, autores de referência. Conceitos como os de Sistema Morfogenético, CPS (Sistema de Processos Climáticos) e Sistema de Erosão combinam os diferentes agentes erosivos (rios, glaciares, ventos, lagos, etc.) os distintos climas e ambientes da superfície da Terra (frios, temperados, áridos, tropicais). 
 
Geomorfologia Estrutural e Geomorfologia Climática: uma falsa dicotomia 
Durante algum tempo, mesmo em Portugal, haveria uma forte oposição conceptual (quase uma pequena “guerra” entre bons e maus; clássicos e progressistas; velhos e novos) entre a Geomorfologia Estrutural e a Geomorfologia Climática, antes de aceitar verdadeiramente que a construção do relevo se faz a diferentes escalas (com diferentes papeis para a estrutura e para o clima conforme o tempo e o espaço envolvidos na explicação) e sempre numa relação dialética entre os agentes erosivos e a resistência da estrutura. 
A Geomorfologia Climática, o estudo dos processos e, particularmente, o estudo dos depósitos correlativos, levou à inclusão nos estudos de Geomorfologia de métodos e técnicas quantitativas de análise, como os estudos de Hjulström sobre o transporte e deposição de sedimentos, de Horton, Strahler e Christofoletti sobre a análise quantitativa de bacias de drenagem ou de Fournier sobre a quantificação da erosão hídrica e de Corbell sobre a quantificação da erosão cársica. 
Estas aproximações quantitativistas trouxeram a Teoria dos Sistemas, a experimentação e a modelação para a Geomorfologia, introduzindo no seu estudo e mesmo no seu léxico novos conceitos como os de Limiar, Equilíbrio Dinâmico, Respostas Complexas, Catástrofes, Crises, renovando a disciplina, dando-lhe dimensão inter ou, mesmo, transdisciplinar e conferindo-lhe um carácter utilitário e aplicado. 
 
Geomorfologia: além da compreensão do relevo, também uma disciplina aplicada 
 
Geomorfologia, recursos naturais e impactes ambientais 
 São muitos e diversificados os recursos naturais, cuja abundância, disponibilidade e valor económico assentam em aspectos geomorfológicos. Daí que seja também importante o papel que a Geomorfologia poderá desempenhar na sua inventariação, análise, valorização e gestão. Podemos considerar três tipos de recursos naturais que decorrem directa ou indirectamente de aspectos geomorfológicos: 
1) Em primeiro lugar, as formações superficiais resultantes de processos geomorfológicos específicos que levam à concentração de argilas, areias e cascalhos de diferentes tipos e origens e, muitas vezes, com eles, elementos minerais metálicos de valor significativo e que são explorados para os mais diversos fins. Para além dos jazigos minerais auríferos, explorados em tempos históricos mais recuados nas aluviões ou mesmo nos depósitos de terraço de alguns rios[footnoteRef:8] ou os caulinos associados aos processos de alteração granítica[footnoteRef:9], no caso português poderemos dar como exemplos de recursos actuais com significado económico relevante, as areias e cascalhos fluviais, as areias marinhas e dunares, os depósitos de vertente e particularmente os depósitos de crioclastos calcários e xistentos, ou os tufos calcários de utilização crescente em diferentes ramos da construção civil.Também aqui se pode colocar o papel das formações superficiais no desenvolvimento dos solos com riqueza do ponto de vista agrícola ou no armazenamento de recursos hídricos (CAMPY e MACAIRE, 1989, pp. 354-374), sendo sabido que grande parte das reservas subterrâneas de água hoje em exploração se encontra em aquíferos aluvionares. [8: ] [9: ] 
2) Em segundo lugar, o próprio objecto de estudos geomorfológicos, as formas e depósitos que com elas se correlacionam, podem constituir importantes recursos em termos de actividades de lazer, desportivas ou turísticas, para uma sociedade progressivamente urbanizada com acréscimo de tempos livres e de mobilidade e que valoriza crescentemente o encontro com paisagens, rurais ou urbanas, abertas e selvagens, exóticas e esteticamente interessantes (CUNHA e VIEIRA, 2004; BRILHA, 2005). Para além da importância que formas e depósitos assumem na arquitectura da paisagem, mesmo quando ela é fortemente marcada pela mão do Ser Humano, como é o caso de muitas paisagens rurais e urbanas, o chamado património geomorfológico, ou seja o conjunto de formas e depósitos, com diferentes tipos de associação e a diferentes escalas, que pela sua especificidade genética, pela sua beleza, pela sua raridade e/ou originalidade e pelo seu interesse científico e pedagógico ganham importância cultural e, mesmo, potencialidade socio-económica, tem vindo a assumir uma importância crescente na gestão territorial (PANIZZA e PIACENTE, 2003). Em termos de influência que os elementos geomorfológicos têm na construção e na valorização patrimonial da paisagem serve de referência o facto de muitas das áreas protegidas da rede nacional, assentarem exactamente na especificidade geomorfológica o seu interesse e valor patrimonial. Como exemplos, apontam-se os Parques Nacional da Peneda-Gerês e os Parques Naturais da Serra da Estrela e das Serras de Aire e Candeeiros, onde a marca da Geomorfologia é mais patente, mas poderemos dizer que em quase todos eles a sua importância é significativa. Quanto aos sítios geomorfológicos específicos tem-se registado um significativo aumento de interesse em termos turísticos (geoturismo), desportivos e pedagógicos e, desde as lagoas anichadas nas caldeiras vulcânicas das ilhas açorianas até ao depósito da “pincha” que justifica muito da forma cársica que é o polje de Minde, passando por um sem número de formas de diferentes dimensões, valor patrimonial e interesse para actividades de lazer ou desportivas, pode dizer-se que hoje muito aumentou o interesse social e cultural dos elementos geomorfológicos e, com ele, a inventariação, estudo, classificação, cartografia e a gestão deste tipo de património. 
Os elementos de estudo do geopatrimónio, em que se incluiu o Património geomorfológico, estão representados na fig. 1.4. 
 
 
Figura 1.4 – Da Geodiversidade ao Geoturismo. A importância do Geopatrimónio para o desenvolvimento local (adaptado de Neto et al., 2000). 
Neste modelo conceptual são estabelecidas as relações entre a geodiversidade e o geopatrimónio que corresponde aos elementos da geodiversidade que, pelas suas características específicas, apresentam um importante valor científico, pedagógico, estético, cultural ou de uso (por isso também económico), merecendo ser integralmente preservados na sua composição e modo de funcionamento. Depois de inventariados estes elementos, o processo de geoconservação implica a sua avaliação e classificação, para determinar a sua importância relativa em termos de utilização, bem o estabelecimento de processos de conservação quando necessários. Só então, os elementos do geopatrimónio deverão ser sujeitos a processos de valorização, com a sua divulgação e integração em políticas de desenvolvimento local, impondo-se, sempre que essa integração se torne viável, a aplicação sucessiva de medidas de monitorização das características de integridade desses elementos. 
Sempre que possível, a estratégia de valorização do geopatrimónio deve passar pelo estabelecimento de geoparques, territórios bem delimitados que sejam possuidores de um geopatrimónio notável e que obedeçam a uma estratégia de desenvolvimento sustentável. Claro que nem toda a utilização para fins turísticos, educativos e científicos dos elementos geopatrimoniais se faz através da instituição de geoparques, mas, quando estes existem, reúnem condições muito favoráveis para estas práticas. 
O geoturismo pode ser visto como um dos segmentos do chamado turismo de natureza, mas também pode ser entendido como um segmento do turismo muito particular que assenta muito mais no entendimento científico, pedagógico e cultural dos elementos geopatrimoniais que na sua apreciação e fruição no plano meramente estético. Por isso, é através do geoturismo que se valoriza o geopatrimónio, tanto no plano científico, como sobretudo nos planos ambiental e cultural, e que este assume uma importância significativa como elemento de marketing territorial e como dinamizador da economia local, ao envolver as populações e as suas actividades, particularmente aquelas que, pelo seu carácter artesanal, mais se relacionam com a geodiversidade, com o ambiente e com as culturas tradicionais. 
3) Finalmente, e em clara relação com o caso anteriormente apresentado, muitos elementos do património histórico-arqueológico e do património religioso, apenas têm sentido completo quando integrados e lidos no seu contexto geomorfológico. Como entender a Acrópole de Atenas sem o seu sítio geomorfológico? No caso português e buscando apenas alguns exemplos em contexto geomorfológico cársico, como entender os Santuários da Senhora do Circo e da Srª da Estrela, no Maciço de Sicó, desligando-os da posição somital no caso da Serra do Circo e da “Buraca” na pena somital da Srª da Estrela (CUNHA et al., 1996)? 
O modo como se faz a exploração destes diferentes recursos interfere frequentemente com os próprios processos geomorfológicos que os geram, provocando impactes que, não raras vezes, têm magnitudes e significados espaciais e temporais significativos. Claro que o impacte da extracção mineira ou da simples extracção de argilas, areias e cascalhos é eventualmente mais significativo que o que decorre das visitas e da fruição de sítios geomorfológicos, mesmo quando, como frequentemente acontece, neles decorrem actividades desportivas de sabor radical. Por outro lado, tenha-se em conta que outras actividades agro-pecuárias, industriais ou de transportes, para referir apenas algumas das que se desenvolvem em espaços em que os recursos geomorfológicos são importantes, têm impactes significativos no ambiente, em geral, e no meio geomorfológico, em particular, gerando, muitas vezes, situações de conflito entre os diferentes tipos e formas de uso do território. Daí a importância em estudar e conhecer bem a dinâmica geomorfológica (passada e actual) responsável por tais recursos, o significado económico, social e cultural de cada um deles, a sua relação espacial manifesta em cartografias de escala adequada, para melhor poder ajudar a planear e ordenar diferentes tipos de actividades e modos de uso sem pôr em causa a necessária sustentabilidade territorial. 
 
Geomorfologia e riscos geomorfológicos 
Outro 	aspecto 	que 	tem 	marcado 	a 	aplicação 	da 	Geomorfologia, particularmente no que se refere ao ordenamento do território à escala municipal, é o que se refere à gestão dos riscos geomorfológicos e, dentro destes, dos riscos de movimentação de materiais em vertentes (ZÊZERE, 1998; REBELO, 2001). Neste âmbito procede-se, em regra, ao levantamento e à cartografia das manifestações de risco ocorridas no passado e ao estudo do funcionamento dos sistemas geomorfológicos responsáveis pelas manifestações perigosas de instabilidade para, no final, se propor uma cartografia com o zonamento em classes de perigosidade e risco para o território em análise. A complexa interacção de factores responsáveis pelos movimentos de materiais em vertentes (factores condicionantes, como o declive e a forma da vertente, a litologia, a estrutura e atitudedas formações litológicas, o tipo e espessura das formações superficiais, o uso do solo, entre outros; e factores desencadeantes e, particularmente os decorrentes do clima, como a intensidade e ritmo da precipitação ou a formação de gelo e o descongelamento da água nas formações superficiais), assim como a enorme variedade de factores que configuram a vulnerabilidade dos territórios e das suas populações (quantitativos populacionais, estrutura económica, social e cultural das populações, tipo de bens potencialmente afectados, cultura de prevenção, capacidade de reacção perante situações adversas, etc.), têm levado à utilização de recursos cartográficos informáticos e, nomeadamente, ao uso dos SIG’s na avaliação e na cartografia de riscos geomorfológicos (CUNHA e DIMUCCIO, 2002). 
O princípio do uniformitarismo ou do actualismo, em que “o presente é a chave do passado”, extrapolado para o futuro pode significar que se as regras de funcionamento dos sistemas geomorfológicos actuais servem de base para a interpretação dos fenómenos passados, também podem servir para prever o comportamento futuro dos mesmos geossistemas. No entanto, torna-se necessário conhecer muito bem os modos de funcionamento dos sistemas geomorfológicos, para não cair na tentação fácil de, aproveitando as facilidades dos SIG’s, agrupar sem critério os diferentes factores condicionantes dos movimentos de materiais em vertentes, tentando chegar a modelos simplistas que expliquem a sua distribuição espacial passada e permitam uma previsão para o futuro. É sabido que os diferentes tipos de movimentos (desabamentos, deslizamentos rotacionais e planares, fluxos de detritos, de terras e de lamas) não obedecem às mesmas regras de funcionamento e que, mesmo para cada um deste tipo de movimentos, o peso que neles têm declives, litologia, tipo e espessura de formações superficiais e modalidades de uso do solo, para referir apenas os parâmetros mais comummente utilizados, se articula casuisticamente com os restantes factores, tendo como resultado combinações explicativas, se não únicas, pelo menos com especificidades muito próprias. 
A representação cartográfica das formas de relevo – Os SIG’s em Geomorfologia 
O trabalho conducente à análise descritiva das formas de relevo e à interpretação genética e cronológica dos processos que as geram tem forma de expressão privilegiada através da chamada cartografia geomorfológica. Elaborada a diferentes escalas, e muito apoiada no trabalho de campo, a cartografia geomorfológica é, em regra, extremamente complexa. Com efeito, a relação entre símbolos e cores de modo a correctamente traduzir a morfografia, a morfometria, a morfogénese, a morfocronologia (F. REBELO, 1983), em regra desenhados em sobreposição a uma base topográfica e/ou geológica, torna o mapa difícil de desenhar e, também, difícil de ler, sobretudo para os não especialistas que utilizam o trabalha do geomorfólogo. Daí a necessidade de desdobramento dos mapas geomorfológicos tendo em conta o problema em análise (F. REBELO, ob. cit.) ou, mesmo, de uma simplificação cartográfica de modo a torná-la mais legível por não especialistas. 
Seja como for, o trabalho cartográfico em Geomorfologia, sobretudo pela sua minúcia e consequente morosidade (quer no trabalho de campo, quer na própria cartografia) é um trabalho que acaba por ficar demasiado caro para poder ser implementado com sucesso efectivo em termos das tarefas de ordenamento e planeamento, às escalas local e regional. Daí o interesse com que são vistos os 
Sistemas de Informação Cartográfica - SIG’s), como meios de cartografar e integrar, de modo expedito, em bases de dados georreferenciadas, as formas de relevo. No entanto, se os SIG’s parecem ferramentas adequadas para parametrizar, modelar e cartografar o zonamento de recursos e riscos geomorfológicos, já o mesmo parece não acontecer com as diferentes cartografias geomorfológicas que lhes deveriam estar na base. Com efeito, a complexidade da cartografia geomorfológica, a necessidade de adequação dos símbolos às escalas de trabalho, a relação e os modos de articulação de símbolos e cores, de modo a correctamente traduzir a morfografia, a morfometria, a morfogénese e a morfocronologia, torna este processo cartográfico através do potente recurso que são os SIG’s, uma tarefa complexa e muito trabalhosa (Guerreiro et al., 2016)[footnoteRef:10]. [10: ] 
Conclusão
De qualquer modo, tenha-se da Geografia uma visão mais abrangente, integrada e teórica ou mais redutora, parcelar e utilitarista, a Geografia Física e, tradicionalmente, o mais forte dos seus ramos[footnoteRef:11], a Geomorfologia, terão sempre um importante papel a desempenhar na leitura e interpretação dos espaços e dos territórios, e consequentemente no planeamento e ordenamento, na avaliação das intervenções que sobre eles se realizam e na minimização das consequências de algumas intervenções menos ajustadas. O carácter integrado destas abordagens faz com que o trabalho aplicado de Geomorfologia resulte melhor quando realizado em ambiente interdisciplinar. A Geologia, a Engenharia e a Arqueologia, para referir apenas os mais óbvios, são saberes que, integrados com o(s) saber(es) geográfico(s), conduzem a uma leitura mais eficaz dos aspectos geomorfológicos do território e da sua utilização social. [11: ] 
Recursos geomorfológicos dos mais diferentes tipos, impactes sobre as formas de relevo e sua dinâmica, bem como a análise de riscos geomorfológicos são apenas algumas das áreas de aplicação actual da Geomorfologia. Seja nas vertentes recentemente ocupadas e instabilizadas por processos de urbanização pouco adequados, seja nas costas oceânicas sobreocupadas para os mais diversos fins, seja, ainda, nos rios, bacias hidrográficas e outros sistemas hídricos com processos progressivos de degradação e poluição, seja, também, na gestão de áreas protegidas em que as formas de relevo servem de base para a vida selvagem ou de motivo de visita para actividades de lazer e desporto, o trabalho de Geomorfologia é fundamental para melhor conhecer, divulgar, proteger e gerir territórios. Ele interessa, portanto, a técnicos e decisores políticos, económicos e sociais de diferentes formações. Engenheiros, arquitectos, autarcas, responsáveis por áreas protegidas, técnicos desportivos e de turismo, entre outros especialistas, para participarem em processos de planeamento e de ordenamento do território numa perspectiva de viabilidade económica e de sustentabilidade ambiental, têm que lidar, quase diariamente, com os saberes ligados à génese, evolução e distribuição das formas de relevo. Por estas razões a Geomorfologia, apesar do seu carácter intrinsecamente interdisciplinar, será sempre, uma das disciplinas fundamentais de uma Geografia actual e útil. 
 
 	 
RELEVO CÁRSICO
 
Carso: o conceito 
Carso é um termo internacional utilizado para referir um tipo particular de modelado em rochas solúveis e fortemente permeáveis, como os calcários, as dolomias, o gesso e o sal-gema, em que o relevo e a paisagem são marcados pela ausência de escoamento superficial e pela omnipresença da rocha aflorante. A “permeabilidade em grande” do substracto e a dissolução da rocha conduzem ao aparecimento de depressões superficiais fechadas (dolinas, uvalas, poljes) e de formas fluviais com características especiais (vales secos, vales cegos, sotch, canhões cársicos). As vertentes têm tendência para manter as suas formas originais (muitas vezes escarpadas) por imunidade cársica em relação à erosão hídrica superficial. A água que falta na superfície, onde se perde de modo difuso ou, mais raramente, de modo concentrado (em perdas ou sumidouros), circula em profundidade, o que conduz ao desenvolvimento de grutas (lapas e algares) e reaparece à superfície, normalmente na bordadura dos maciços cársicos, através de exsurgências mais ou menos espectaculares. 
O carácter pedregoso e seco da superfície condiciona o desenvolvimento dos solos (em regra magros e descontínuos)

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