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@STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 1 Os neurônios comunicam-se uns com os outros e com outras células do corpo, como as musculares ou secretoras. Utilizando a rápida condução do potencial de ação, o neurônio pode notificar rapidamente suas terminações pré-sinápticas, geralmente localizadas distante do seu corpo celular, para iniciar a transferência de informações para outras células. Tal comunicação ocorre velozmente entre as células em junções especializadas chamadas sinapses. A transmissão sináptica pode ser elétrica ou química. Nas sinapses elétricas, a corrente iônica flui diretamente entre as células pré e pós-sinápticas como o mediador para a emissão da sinalização. Na sinapse química, o mensageiro químico, liberado pelas terminações pré-sinápticas na chegada do potencial de ação, difunde-se rapidamente para a membrana celular pós-sináptica, onde se liga a receptores. @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 2 Esta ligação inicia uma alteração na função pós-sináptica, normalmente gerando um potencial pós-sináptico. A sinapse química melhor entendida é a que ocorre entre o neurônio motor e uma célula musculoesquelética (fibra): a sinapse neuromuscular, também conhecida como junção neuromuscular. @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 3 A comunicação sináptica na junção neuromuscular é basicamente similar à que ocorre entre neurônios, embora exista uma variedade maior nas características da transmissão sináptica de neurônio a neurônio Os neurônios motores, que estabelecem sinapse em músculos esqueléticos, têm seus corpos celulares localizados dentro do sistema nervoso central (SNC), na medula espinhal ou no tronco cerebral. Os axônios desses seguem dentro dos nervos periféricos para fora do músculo, onde cada um estabelece sinapse em várias fibras musculares. Entretanto, cada fibra musculoesquelética recebe entrada sináptica de um neurônio motor, e, portanto, sua contração é controlada por apenas um único neurônio. A junção neuromuscular, como a maioria das sinapses químicas, tem (1) um lado pré-sináptico; (2) um espaço estreito entre o neurônio e a fibra muscular, chamado fenda sináptica; e (3) um lado pós-sináptico. O primeiro é constituído pela porção terminal (transmissora) do neurônio motor. Essa terminação pré-sináptica apresenta um aspecto intumescido, em forma de botão, também chamado de botão sináptico. A membrana da terminação (ou botão sináptico) contém uma grande quantidade de vesículas de armazenamento, denominadas vesículas sinápticas, que contêm uma substância química neurotransmissora — neste caso, a acetilcolina. Estas estão enfileiradas ao longo da superfície interna da membrana terminal. @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 4 A região da membrana pré-sináptica associada a cada fileira dupla de vesículas é chamada de uma zona ativa, sendo este o local onde as vesículas sinápticas finalmente liberarão acetilcolina para a fenda sináptica. A terminação pré-sináptica também contém mitocôndrias, um indício de metabolismo ativo no citoplasma. Alguns produtos mitocondriais (p. ex., acetil-CoA, ATP) participam da síntese local de acetilcolina e do seu deslocamento para estas vesículas. As membranas celulares pré (neurais) e pós-sinápticas (musculares) são separadas por um espaço estreito, a fenda sináptica. Esta contém líquido extracelular e uma lâmina basal composta de uma matriz de moléculas, que é uma região especializada da membrana basal do músculo. Algumas dessas moléculas da matriz medeiam a adesão sináptica entre neurônio e músculo. A membrana da célula muscular pós- sináptica tem várias características especializadas que facilitam a transmissão sináptica; diretamente oposta à face da terminação pré- sináptica contém receptores para o transmissor acetilcolina Nessa região focal, a membrana tem uma série de invaginações, chamadas dobras juncionais, que aumentam a área de superfície onde os receptores de acetilcolina podem se estabelecer. Estes são mais densamente compactados na abertura (boca) dessas dobras e essas aberturas estão intimamente alinhadas com as @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 5 zonas ativas das terminações pré- sinápticas, de onde a acetilcolina é liberada. Como o neurotransmissor é encontrado somente do lado neural pré-sináptico da junção neuromuscular, a transmissão só pode ir do neurônio para o músculo e não na direção inversa. Além disso, é preciso observar que um neurônio motor envia várias terminações pré-sinápticas (botões sinápticos) para uma única fibra muscular. Ao mesmo tempo, esse aglomerado de terminações localiza-se em uma região restrita da fibra muscular. A função da junção neuromuscular é transmitir uma mensagem química, de forma unidirecional, entre um neurônio motor e uma célula (fibra) musculoesquelética, com uma frequência estabelecida pelo SNC. A chegada de um potencial de ação na terminação do neurônio motor desencadeia a liberação do transmissor acetilcolina, que então se liga a receptores na membrana pós- sináptica da fibra muscular. Isso leva à gênese de um potencial de ação ao longo da membrana dessa fibra, o que finalmente leva à sua contração. Em um neurônio motor, um potencial de ação origina-se no segmento inicial do axônio e depois se propaga por todo ele, chegando finalmente na terminação pré-sináptica. @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 6 Como observado anteriormente, a troca de íons Na+ e K+, através dos canais destes dependentes de tensão do axônio, é responsável pela geração de um potencial de ação e por sua condução até a terminação. Entretanto, à medida que este chega à membrana pré-sináptica, a onda de despolarização abre canais de Ca2+ dependentes de voltagem localizados nessa região; conforme os íons Ca2+ se difundem através da membrana em direção ao equilíbrio, penetram na terminação pré-sináptica. Esse aumento no nível de Ca2+ intracelular é importante para a liberação do neurotransmissor da terminação. Lembre-se de que as vesículas sinápticas que contêm acetilcolina estão enfileiradas nas zonas ativas da terminação pré-sináptica. Lá elas permanecem ancoradas pelo entrelaçamento de proteínas ligantes que, respectivamente, se estabelecem na membrana da vesícula (sinaptobrevina) e na superfície interna da membrana da terminação (sintaxina e SNAP-25). Isso as mantêm perto do local de entrada de Ca2+, considerando-se que os canais de Ca2+ dependentes da tensão estão eficientemente localizados na vizinhança dessas zonas ativas. Quando Ca2+ fluir para dentro da terminação, o ferro se liga com outra @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 7 proteína na membrana da vesícula sináptica (sinaptotagmina). Isso desencadeia a fusão da vesícula com a membrana pré-sináptica, a abertura da vesícula e o lançamento de acetilcolina na fenda sináptica. Após a liberação do transmissor, a membrana da vesícula é recuperada na terminação pré-sináptica e pode ser reciclada para formar novamente uma vesícula, que mais uma vez será preenchida com acetilcolina sintetizada no citoplasma. Certas toxinas bacterianas (p. ex., tetânica, botulínica) podem destruir as proteínas ligantes envolvidas na ancoragem da vesícula para liberar seu conteúdo na fenda sináptica. Depois da liberação, a acetilcolina se difunde através da fenda sinápticae se liga a receptores específicos do transmissor, os receptores nicotínicos de acetilcolina, na membrana muscular pós-sináptica. Este, encontrado na junção neuromuscular, é assim denominado porque também pode ligar-se à droga alcaloide nicotina. Há subtipos desse receptor e nem todos são encontrados no músculo esquelético; alguns residem em neurônios específicos dos sistemas nervosos central e periférico. À medida que estes se ligam, abre-se o canal e, entre outros movimentos iônicos, os íons Na+ se difundem para as células musculares à medida que procuram fluir em direção ao equilíbrio. Isso contribui para uma despolarização da membrana pós-sináptica da célula muscular, análoga a um potencial excitatório pós-sináptico (PEPS). Entretanto, na junção neuromuscular, o potencial pós-sináptico unitário é suficiente para abrir os canais de Na+ dependentes de voltagem, localizados no fundo das dobras juncionais, levando à geração de um potencial @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 8 de ação na membrana da célula muscular. A acetilcolina liga-se a seu receptor apenas brevemente. Quando liberada, é destruída pela enzima acetilcolinesterase. Esta, ancorada na lâmina basal da fenda sináptica, inativa a acetilcolina, decompondo-a em ácido acético e moléculas de colina. A colina, um precursor da síntese de acetilcolina, pode então ser carreada de volta para a terminação pré- sináptica por uma proteína transportadora de alta afinidade na membrana terminal e reciclada na síntese de acetilcolina. Substâncias químicas que inibem a acetilcolinesterase, como alguns inseticidas organofosforados (p. ex., malation, clorpirifos) e gases que atacam o sistema nervoso (p. ex., sarin), podem prolongar anormalmente a presença de acetilcolina na sinapse, quase sempre com consequências fisiológicas desastrosas. Existem algumas diferenças significativas entre a transmissão sináptica na junção neuromuscular e a de neurônio a neurônio. Embora a acetilcolina seja o neurotransmissor responsável pelo efeito pós-sináptico primário na junção neuromuscular, uma série de neurotransmissores, além da acetilcolina, pode ser usada para produzir o efeito pós-sináptico principal nas sinapses de neurônio a neurônio. Além disso, nem todos esses transmissores são disponibilizados a partir de zonas ativas @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 9 morfologicamente distintas, embora sua liberação da terminação ainda pareça depender do influxo de Ca2+. Em tais casos, é possível que a liberação a partir da terminação nem sempre ocorra diretamente na fenda sináptica, resultando em uma distribuição pós-sináptica mais ampla do transmissor. Interessantemente, algumas moléculas que são às vezes chamadas de neurotransmissores atípicos ou não tradicionais (p. ex., endocanabinoides, óxido nítrico), são realmente produzidas em um neurônio pós- sináptico seguindo transmissão sináptica tradicional, mas então dispersam de volta através da fenda sináptica para afetar a função da terminação pré-sináptica. Portanto, a comunicação neurônio- neurônio pode não ser tão especializada para uma comunicação de uma via como a junção neuromuscular. A membrana pós-sináptica de uma sinapse de neurônio a neurônio pode ser o soma, os dendritos ou até mesmo as terminações do neurônio pós-sináptico – e não se observam dobras juncionais. Entretanto, a membrana pós-sináptica dendrítica geralmente possui pequenas protuberâncias, denominadas espinhos dendríticos. A exemplo das dobras juncionais das células musculares, esses espinhos aumentam a área de superfície da membrana pós-sináptica e, como o colo do espinho é estreito, acredita-se que proporcionem uma forma de isolamento bioquímico entre sinapses vizinhas. Além disso, os espinhos podem mudar de forma e tamanho ao longo da vida do animal, modulando a eficácia funcional da sinapse. Pensa-se, portanto, que esses podem desempenhar um papel na aprendizagem e na memória. Enquanto a liberação de transmissor na junção neuromuscular sempre produz excitação pós-sináptica (despolarização da membrana), esta nas sinapses entre neurônios pode produzir excitação ou inibição (hiperpolarização da membrana). Entretanto, as sinapses nos espinhos dendríticos são, quase sempre, excitatórias. @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 10 Na junção neuromuscular, o receptor pós-sináptico é quase exclusivamente o receptor nicotínico de acetilcolina, um canal iônico dependente de ligante. Em sinapses entre neurônios, uma variedade bem maior de receptores está disponível. Esses podem diferir dos nicotínicos da acetilcolina não apenas no que diz respeito ao transmissor ligante, mas também em seu mecanismo (p. ex., acoplado à proteína G). Também vários tipos diferentes de receptor de neurotransmissor são frequentemente encontrados em um único neurônio. Quando se empregam outros transmissores nas sinapses de neurônio a neurônio – exceto a acetilcolina –, dependendo do transmissor, o término de sua ação pode ser conseguido por (1) reaproveitamento do mesmo na terminação de liberação, mediado pelo transportador, ou (2) uma forma de decomposição enzimática menos específica e, até certo ponto, mais lenta do que com a acetilcolinesterase Finalmente, nas sinapses mencionadas, um único potencial de ação em um neurônio pré-sináptico raramente resulta no desenvolvimento de um potencial de ação no pós-sináptico. É necessário haver alguma forma de somatória de entradas pré-sinápticas para gerar um potencial de ação pós- sináptico. @STDSELVAGEM FISIOLOGIA VETERINÁRIA I 11 KLEIN, B. G. (2014). Cunningham Tratado de Fisiologia Veterinária. 5ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier. Capítulo 5 – A Sinapse.
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