Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Patologia – Amanda Longo Louzada 1 DISTÚRBIOS HEPÁTICOS INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA: Doença hepática que produz encefalopatia hepática com coagulopatia no prazo de até 26 semanas após o diagnóstico inicial. Paciente previamente hígido sem doença hepática pré-existente Possui a função hepática prejudicada em 80% e com necrose de hepatócitos de zona 1 Morfologia: necrose hepática maciça. Macroscopia: O fígado torna-se pequeno e retraído devido à perda de parênquima Microscopicamente, há grandes zonas de destruição cercando ilhas ocasionais de hepatócitos regenerativos. As cicatrizes estão, em geral, ausentes devido à natureza aguda do processo. Causas: uso de medicamentos (principalmente o acetominofeno), toxinas, infecções agudas e causa autoimune Manifestações Clínicas: Icterícia e icterus devido à retenção de bilirrubina e colestase por retenção sistêmica não apenas de bilirrubina Aumento das transaminases séricas A encefalopatia hepática abrange um espectro de distúrbios na consciência que vão desde anormalidades comportamentais sutis, confusão e estupor, até o coma e a morte Coagulopatia: devido à incapacidade do fígado danificado remover fatores de coagulação ativados. Hipertensão portal: surge quando há fluxo diminuído através do sistema venoso portal, o que pode ocorrer por obstrução no nível pré- hepático, intra-hepático ou pós-hepático. Síndrome hepatorrenal: é uma forma de insuficiência renal que ocorre em indivíduos com insuficiência hepática nos quais não há causas morfológicas ou funcionais intrínsecas para disfunção renal. Retenção de sódio, comprometimento da excreção de água livre e diminuição da perfusão renal e da taxa de filtração glomerular são as principais anormalidades funcionais renais. Há diminuição da pressão de perfusão renal em virtude de vasodilatação sistêmica, ativação do sistema nervoso simpático renal e vasoconstrição das arteríolas aferentes renais e aumento da ativação do eixo renina- angiotensina, causando vasoconstrição que diminui ainda mais a filtração glomerular. O início da síndrome se dá com diminuição da produção de urina e elevação dos níveis de nitrogênio uréico e creatinina no sangue. INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA CRÔNICA: É frequentemente associada a cirrose Não se pode afirmar que o paciente tem cirrose, apenas pode-se predizer Pela quantidade e pelo tempo de ingesta de bebida alcoólica, é possível predizer o grau de lesão hepática sofrida. Fatores predisponentes: fatores genéticos, comorbidades, uso de agentes tóxicos juntos, e mais propenso em mulheres Morfologia: transformação difusa do fígado em nódulos parenquimatosos regenerativos, cercados por faixas fibrosas A ativação e a diferenciação das células-tronco dão origem a estruturas semelhantes a ductos, as chamadas reações ductulares. Na doença hepática crônica, as reações ductulares aumentam com a progressão da doença e, em geral, estão mais proeminentes na cirrose. As reações ductulares podem incitar algumas das cicatrizes nas doenças hepáticas crônicas e, portanto, ter efeito negativo sobre a doença progressiva do fígado. Sequência das Alterações Morfológicas: esteatose-- esteato-hepatite—esteatofibrose Causas: hepatite B crônica, hepatite C crônica, doença hepática gordurosa não alcoólica (NAFLD) e doença hepática alcoólica. Manifestações Clínicas: A dispneia em posição vertical, é sinal de insuficiência hepática crônica de maior gravidade e pior prognóstico, devido a síndrome hepato-pulmonar Hipertensão pulmonar: é decorrente da hipertensão portal, apresenta baqueteamento digital, mas não indicam pior prognóstico. Icterícia com prurido Sinal da cabeça de medusa devido a hipertensão portal A hiperestrogenemia causada por distúrbios do metabolismo de estrogênio em pacientes do gênero masculino com insuficiência hepática crônica pode dar origem a eritema palmar (um reflexo da vasodilatação local) e a aranhas vasculares (spider angiomas) na pele Patologia – Amanda Longo Louzada 2 DISTÚRBIOS HEPÁTICOS INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA CRÔNICA AGUDIZADA: Alguns indivíduos, após anos de doença crônica estável e compensada, de repente, desenvolvem sinais de insuficiência hepática aguda. Em tais pacientes, muitas vezes há cirrose estabelecida com desvio vascular extenso ou grandes volumes de parênquima hepático funcional com um suprimento vascular limítrofe, ambos os quais deixam o fígado vulnerável a insultos sobrepostos e potencialmente letais. DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA ALCOÓLICA: Manifestação Clínica: A maioria dos pacientes apresenta mal-estar, anorexia, perda de peso, desconforto abdominal superior, hepatomegalia dolorosa e febre. Os achados típicos incluem hiperbilirrubinemia, níveis elevados de fosfatase alcalina sérica e leucocitose neutrofílica. Os níveis séricos de alanina e aspartato aminotransferases estão elevados, mas geralmente permanecem abaixo de 500 U/mL. Morfologia: Esteatose Hepatocelular: Microscopia: O acúmulo de gordura hepatocelular geralmente se inicia nos hepatócitos centrolobulares. As gotículas lipídicas variam, em tamanho, de pequenas (microvesicular) a grandes (macrovesicular), com as maiores preenchendo e distendendo a célula e deslocando o núcleo. Macroscopia: os fígados gordurosos com esteatose generalizada são grandes (pesando 4-6 kg ou mais), friáveis, amarelados e untuosos ao toque Esteato-hepatite: esteatose associada a inflamação. Tumefação de hepatócitos. Focos únicos ou dispersos de células sofrem tumefação (balonização) e necrose; assim como na esteatose, essas características são mais proeminentes nas regiões centrolobulares Corpúsculos de Mallory-Denk. Consistem em emaranhados de filamentos intermediários (incluindo queratinas 8 e 18 associadas a ubiquitina [ubiquitinizadas]) e são visíveis como inclusões citoplasmáticas eosinofílicas em hepatócitos degenerados. Infiltração de neutrófilos. Uma infiltração predominantemente neutrofílica pode permear o lóbulo e se acumular em torno de hepatócitos em degeneração, particularmente aqueles que contêm corpúsculos de Mallory- Denk. Linfócitos e macrófagos também podem ser vistos nos tratos portais ou parênquima Esteatofibrose: A fibrose começa com a esclerose das veias centrais. A cicatriz perissinusoidal então se acumula no espaço de Disse da região centrolobular, espalhando-se para fora e cercando grupos pequenos ou individuais de hepatócitos em um padrão de cerca de tela de arame (Fig. 18-19). Essas teias de cicatrizes, eventualmente, se ligam aos tratos portais e, em seguida, começam a se condensar em septos fibrosos centrais- portais. Com o desenvolvimento de nódulos, a cirrose se estabelece. ICTERÍCIA: Causas: pode ocorrer em quadros de aumento da produção de bilirrubina (p. ex., hemólise extravascular de hemácias), disfunção de hepatócitos (p. ex., hepatite) ou obstrução do fluxo da bile (p. ex., cálculos biliares obliterantes), e todas essas condições podem perturbar o equilíbrio entre a produção e a depuração de bilirrubina. Patogenia: os níveis de bilirrubina não conjugada aumentam, esta fração não ligada pode se difundir para os tecidos, particularmente para o cérebro de lactentes e produzir lesões tóxicas. A fração plasmática não ligada aumenta na doença hemolítica grave ou quando fármacos ligadores de proteínas deslocam a bilirrubina da albumina. Recèm-nascidos podem apresentar icterícia fisiológica, por ter um hiperbilirrubinemia não conjugada, leve e transitória até os 21 dias de vida Kernicterus: é uma lesão neurológica grave, decorrente da incapacidade hepática de conjugar Patologia – Amanda Longo Louzada 3 DISTÚRBIOS HEPÁTICOS a bilirrubina, o que leva ao acúmulo de bilirrubina não conjugada notecido cerebral do bebê, devido a hemólise. COLESTASE: Defeito no fluxo biliar, acumulando esse pigmenta biliar no fígado, é uma condição causada por obstrução extra-hepática ou intra- hepática dos canais biliares ou por defeitos na secreção da bile pelos hepatócitos. A biópsia apresenta hepatócito com pigmento biliar Obstrução do Ducto Biliar: A causa mais comum da obstrução do ducto biliar em adultos é a colelitíase extra-hepática (cálculos biliares, discutidos posteriormente), seguida de malignidades que resultam em obstruções e estenoses pós-cirúrgicas Obstrução Extra-hepática: Manifestações Clínicas: hipovitaminose D e icterícia com prurido Morfologia: canalicular e hepatócitos aumentados, apoptose, tampão biliar nos canalículos e hepatócito com pigmentos biliar intracelular Colangite: infecção de cálculo biliar, devido a estase do cálculo. Com febre DISTÚRBIOS CIRCULATÓRIOS HEPÁTICOS: DIMINUIÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO PARA O FÍGADO: Comprometimento da artéria hepática: O bloqueio da artéria hepática principal pode não produzir necrose isquêmica do órgão, particularmente se o fígado for normal, pois o fluxo arterial retrógrado através dos vasos acessórios e o suprimento venoso portal geralmente são suficientes para manter o parênquima hepático. Obstrução e Trombose da Veia Porta: produz dor abdominal e outras manifestações de hipertensão portal, principalmente varizes esofágicas que são propensas à ruptura. A ascite não é comum (porque o bloqueio é pré- sinusoidal), mas, quando presente, costuma ser maciça e intratável. DIMINUIÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO: A causa intra-hepática mais comum de obstrução do fluxo sanguíneo é a cirrose Além disso, a oclusão física dos sinusoides ocorre na doença falciforme, coagulação intravascular disseminada, eclâmpsia e metástase intrassinusoidal de tumores sólidos. Se for grave e sem diminuição na intensidade, todos esses distúrbios podem produzir obstrução suficiente do fluxo sanguíneo para causar necrose maciça de hepatócitos e insuficiência hepática fulminante. OBSTRUÇÃO DO EFLUXO VENOSO HEPÁTICO: Trombose da Veia Hepática: O fígado está aumentado, com coloração vermelho-púrpura e possui uma cápsula tensa. Pode haver áreas de colapso hemorrágico alternadas com áreas de parênquima preservado ou em regeneração, dependendo de quais veias hepáticas pequenas e grandes estão obstruídas. Microscopicamente, o parênquima hepático afetado revela congestão e necrose centrolobular graves. Há desenvolvimento de fibrose centrolobular nos casos em que a trombose progride de forma mais lenta. As veias principais podem conter trombos oclusivos recentes ou, em casos crônicos, trombos aderentes organizados. Patologia – Amanda Longo Louzada 4 DISTÚRBIOS HEPÁTICOS Congestão Passivo e Necrose Centrolobular: O fígado está ligeiramente aumentado, tenso e cianótico, com bordas arredondadas. Microscopicamente, há congestão de sinusoides centrolobulares. Com o tempo, os hepatócitos centrolobulares tornam-se atróficos, resultando em placas de células hepáticas marcadamente atenuadas O fígado assume aparência variegada e mosqueada (fala-se em aspecto arboriforme), refletindo hemorragia e necrose nas regiões centrolobulares. Este achado é conhecido como fígado em noz- moscada devido à sua semelhança com a superfície cortada de uma noz-moscada. Normalmente, há uma demarcação nítida entre regiões pericentrais atróficas ou necróticas, que estão inundadas de sangue, e periportais viáveis. De forma pouco frequente, com a insuficiência cardíaca congestiva grave, crônica e prolongada, há o desenvolvimento de fibrose centrolobular (esclerose cardíaca) ou mesmo de cirrose. NEOPLASIA BENIGNAS: Adenomas Hepatocelulares: se desenvolvem a partir dos hepatócitos Sintoma: mais comum é a dor, que pode ser causada pela pressão aplicada na cápsula do fígado pela massa em expansão ou por necrose hemorrágica do tumor à medida que ele ultrapassa seu suprimento sanguíneo NEOPLASIAS MALIGNAS: CARCINOMA HEPATOCELULAR: Incidência: 20 e 40 anos de idade Fator de Risco: doença crônica no fígado, consumo de álcool, distúrbios herdados e síndrome metabólica Morfologia: pode ter a aparência macroscópica de (1) uma massa unifocal (geralmente grande); (2) nódulos multifocais, amplamente distribuídos e de tamanho variável; ou (3) um câncer difusamente infiltrativo, COLANGIOCARCINOMA: Fatores de Risco: infestação por trematódeos hepáticos (particularmente espécies de Opisthorchis e Clonorchis), doença inflamatória crônica dos grandes ductos biliares (como colangite esclerosante primária), hepatolitíase e doença hepática fibropolicística. Morfologia: geralmente são pequenas lesões no momento do diagnóstico, pois causam obstrução do trato biliar no início de seu curso. A maioria dos tumores aparece como nódulos firmes e acinzentados dentro da parede do ducto biliar; alguns podem ser difusamente infiltrativos, enquanto outros são papilares ou polipoides. Eles tipicamente incitam a desmoplasia marcada. A invasão linfovascular e a invasão perineural são comuns e, muitas vezes, levam a metástases intra-hepáticas e extra-hepáticas extensas.
Compartilhar