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Sistematização da assistência de enfermagem nos distúrbios gastrointestinais pediátricos: Variações na anatomia e na fisiologia pediátricas: Boca: A boca é muito vascularizada, o que a torna uma porta de entrada comum para invasores infecciosos. Além disso, o lactente e o infante frequentemente levam objetos à boca para explorá-los. Esse comportamento aumenta, para lactentes e infantes, o risco de contraírem infecções pela boca. Esôfago: O esôfago estabelece uma passagem dos alimentos entre a boca e o estômago. O esfíncter esofágico inferior evita regurgitação de conteúdo do estômago para o esôfago e/ou para a cavidade oral. O tônus muscular do esfíncter esofágico inferior não está completamente desenvolvido até 1 mês de vida, e por isso os recém- nascidos frequentemente regurgitam depois de mamarem. Muitas crianças com menos de 1 ano continuam a regurgitar durante vários meses, mas isso em geral desaparece com a idade. Se ocorrer edema ou estreitamento do esôfago em crianças cujo esôfago apresenta tônus muscular pouco desenvolvido, pode ocorrer disfagia. Estômago: Os recém-nascidos têm uma capacidade gástrica de apenas 10 a 20 ml. Com 2 anos de idade, uma criança consegue manter até 200 ml no estômago, mas a maioria não tolera refeições de 200 ml. Até os 16 anos de idade, a capacidade do estômago aumenta para 1.500 ml; na vida adulta, é de 2.000 a 3.000 ml. Os níveis de ácido clorídrico do conteúdo gástrico, que facilita a digestão, atingem níveis do adulto até os 6 meses de vida. Intestino: Um recém-nascido a termo tem aproximadamente 2,5 m de intestino delgado; um adulto tem mais de 6 m. A função do intestino delgado não está plenamente desenvolvida ao nascimento. As perdas de gordura podem atingir 20% em recém nascidos, em comparação com 7% em adultos. O crescimento do intestino ocorre em períodos rápidos, em geral entre 1 e 3 anos de idade e novamente entre 15 e 16 anos. Anormalidades estruturais do trato GI: Fenda labial e palatina: Anomalia congênita craniofacial mais comum, e ocorre com frequência em associação com outras anormalidades e já foi identificada em mais de 300 síndromes. As anomalias mais comumente associadas a fenda labial e palatina incluem defeitos cardíacos, malformações auriculares, deformidades esqueléticas e anormalidades geniturinárias. Complicações da fenda labial e palatina incluem dificuldades de alimentação, dentição alterada, desenvolvimento da fala alterado e otite média. O lactente com fenda labial não consegue criar uma vedação adequada ao redor do mamilo para permitir a sucção necessária para alimentar-se, e pode engolir muito ar. Engasgo, sufocação e regurgitação nasal do leite ocorrem nos lactentes com fenda palatina. Tempo de alimentação excessivo, ingestão inadequada e fadiga contribuem para um crescimento insuficiente. Podem ocorrer falha, malformação ou posicionamento incomum dos dentes primários ou permanentes. Distúrbios GI agudos: Desidratação: A desidratação ocorre com maior rapidez em lactentes e infantes do que em adultos. O risco é maior em lactentes e infantes, porque têm uma porcentagem maior de líquido extracelular e de água corporal em comparação com os adultos. A taxa de metabolismo basal aumentada, a área de superfície corporal maior, a função renal imatura e maior perda insensível de líquido com elevações de temperatura também contribuem para o maior risco de desidratação em lactentes e infantes em comparação com os adultos. A desidratação que não é corrigida evolui para choque, portanto, o reconhecimento e o tratamento precoces da desidratação são importantes para evitar evolução para choque hipovolêmico. As metas do tratamento da desidratação são restaurar o equilíbrio hídrico e evitar complicações. Diarreia: Diarreia é um aumento da frequência ou uma diminuição da consistência das fezes. Em crianças, a diarreia pode ser aguda ou crônica. A diarreia infecciosa aguda (gastrenterite) ainda é a principal causa de morte de crianças em todo o mundo. Candidíase Oral (Monilíase): A candidíase oral é uma infecção da mucosa oral por fungos. É mais comum em recém-nascidos e lactentes. Crianças sob risco de candidíase incluem aquelas com distúrbios imunológicos e as que recebem terapias imunossupressoras (p. ex., quimioterapia para câncer). Crianças que usam corticosteroides inalados também correm um risco aumentado de desenvolver candidíase. Antibióticos também contribuem para o desenvolvimento de candidíase. A micose pode transmitir-se entre a criança e a lactante. O controle terapêutico inclui antifúngicos orais, como nistatina ou fluconazol. Pesquise fatores de risco para candidíase oral, como baixa idade, imunossupressão, uso de antibióticos, uso de inalantes com corticosteroides ou micose na mãe. Inspecione a mucosa oral. A candidíase apresenta-se como placas espessas esbranquiçadas sobre a língua e a mucosa, com aspecto de leite coalhado. Ao contrário de leite retido na boca, as placas não são retiradas com facilidade com um swab ou com escova de dentes. Verifique se existe erupção de pele sob a fralda (coloração vermelho-viva com lesões satélites). Determine o grau de comprometimento da amamentação. As lesões podem causar desconforto significativo. O diagnóstico em geral é feito com base na apresentação clínica, embora um raspado cuidadoso das lesões possa ser enviado para cultura de fungos. Intervenções de enfermagem: A assistência de enfermagem à criança com candidíase inclui a administração de medicamentos e orientação à família. Enterocolite Necrosante: A enterocolite necrosante (ECN) caracteriza-se por ulcerações e necrose do íleo distal e do cólon proximal. É o distúrbio gastrintestinal adquirido mais grave e mais comum em recém nascidos prematuros hospitalizados, e está associada a morbidade e mortalidade agudas e crônicas significativas. Quanto menor o peso do recém-nascido, maior é a probabilidade de ele desenvolver ECN. Três fatores que podem ter um papel no desenvolvimento da ECN são isquemia intestinal, nutrição parenteral e infecções bacterianas. O tratamento inicial da ECN consiste em repouso do intestino e antibióticos. Radiografia simples de abdome determina a resolução ou a progressão da doença. Se o tratamento clínico não estabilizar o recém-nascido ou se for observado ar livre em uma radiografia em decúbito lateral esquerdo, é necessária uma intervenção cirúrgica para ressecar a parte necrosada do intestino. A cirurgia exige uma enterostomia proximal até que o local de anastomose esteja pronto para reconexão. Intervenções de enfermagem A assistência de enfermagem em recém-nascidos com ECN focaliza a manutenção do equilíbrio hídrico e do estado nutricional, cuidados pré-operatórios e pós-operatórios e orientações à família sobre o prognóstico. Apendicite: Inflamação aguda do apêndice, é o motivo mais comum de cirurgia abdominal de emergência em crianças. Ocorre em todas as idades; a idade mediana na população pediátrica é 6 a 10 anos. Fisiopatologia: A apendicite é causada por obstrução em alça fechada do apêndice. Considera-se que a obstrução seja devida a material fecal impactado no apêndice relativamente estreito, embora possam existir outras causas, como a ingestão de corpos estranhos. A obstrução causa aumento da pressão intraluminal do apêndice, provocando edema da mucosa, excesso de crescimento bacteriano e, por fim, perfuração. Devido ao material fecal no apêndice, a perfuração resulta em extravasamento de líquido inflamatório e bactérias na cavidade abdominal, resultando em peritonite. Peritonite difusa é mais provável em infantes. Crianças e adolescentes têm um omento mais desenvolvido, que circunda o apêndice inflamado ou perfurado, causando com frequência um abscesso focal. Tratamento: A apendiciteé considerada uma emergência cirúrgica porque, se não for corrigida, pode haver perfuração do apêndice. É necessária a remoção cirúrgica do apêndice, que é feita com frequência por técnica laparoscópica minimamente invasiva. Em caso de perfuração, em geral é necessário um procedimento cirúrgico a céu aberto, para lavar a cavidade abdominal e retirar o líquido infectado liberado do apêndice. Intervenções de enfermagem: Forneça cuidados pré- operatórios e pós-operatórios e oriente a criança. Os cuidados dependem dos achados durante a exploração cirúrgica. Um apêndice não rompido e sem gangrena em geral não necessita de tratamento com antibióticos, apenas de cuidados cirúrgicos de rotina. Distúrbios GI crônicos: Refluxo Gastroesofágico: Refluxo gastresofágico é a passagem de conteúdo gástrico para o esôfago. É considerado um processo fisiológico normal que ocorre em lactentes e crianças saudáveis. Entretanto, quando se desenvolvem complicações resultantes do refluxo gástrico para o esôfago e a orofaringe, torna-se um processo patológico chamado doença por refluxo gastresofágico (DRGE). O RGE ocorre com frequência durante o primeiro ano de vida, e desaparece na maioria dos lactentes até os 6 meses de vida. O RGE é especialmente comum em prematuros. Outros diagnósticos possíveis que podem ser confundidos com RGE incluem alergias alimentares, enteropatias por fórmulas, obstrução pilórica, má rotação, vômitos cíclicos ou lesões do sistema nervoso central. História de saúde: Obtenha uma descrição da doença atual e da queixa principal. Sinais e sintomas comumente relatados na história de saúde incluem: Vômitos ou regurgitação recorrentes, Perda de peso ou ganho ponderal insatisfatório, Irritabilidade em lactentes, Sinais e sintomas respiratórios (tosse crônica, sibilos, estridor, asma, apneia), Rouquidão e dor de garganta, Halitose (principalmente em crianças maiores), Pirose ou dor torácica, Dor abdominal, Hematêmese, Disfagia ou recusa de alimentos, Sinusite crônica, otite média, Alterações dos dentes (causadas por erosão ácida). História de saúde Explore a história clínica atual e passada, pesquisando fatores de risco como: Prematuridade, verificar uso prolongado de ventilação mecânica ou doença pulmonar crônica; Hábitos nutricionais (p. ex., chocolate, café, alimentos condimentados ou gordurosos, cafeína, aleitamento materno ou com mamadeira, alimentação excessiva); Medicamentos usados atualmente; Uso de fumo ou álcool (crianças/adolescentes); Alergias a alimentos; Outros distúrbios GI (disfunção pilórica, hérnia de hiato) ou anormalidades congênitas; Posições e padrões de alimentação (especialmente importantes em lactentes); Posições e padrões de sono; Outras condições clínicas, como asma, infecções recorrentes e pneumonia. Exame físico: O exame físico consiste em inspeção, ausculta, percussão e palpação. Inspeção: Observe o aspecto geral e a coloração da criança. Lactentes e crianças com RGE não controlado durante algum tempo podem aparentar baixo peso ou desnutrição. Os lactentes podem estar irritáveis em decorrência de episódios dolorosos de regurgitação ou refluxo. Observe o padrão respiratório, porque pode ter se desenvolvido asma induzida por refluxo. Eventos com aparente risco de vida (ALTE) e apneia foram associados a DRGE grave. Observe se há cianose, alteração do nível de consciência e alterações do tônus muscular. Pesquise sangue ou bile no vômito. Ausculta: Avalie os campos pulmonares à procura de complicações associadas à DRGE, como sibilos ou pneumonia. Não deve haver outros achados patológicos associados à DRGE. Percussão: Faça a percussão abdominal de rotina, notando se há anormalidades. Não devem ser notados achados específicos. Palpação: Palpe o abdome com cuidado, especialmente em lactentes com RGE, porque a palpação pode induzir vômitos. A palpação deve ser normal. Constipação intestinal e Encoprese: A constipação intestinal é um problema muito comum na prática pediátrica. A constipação intestinal é definida como incapacidade de evacuação completa do cólon terminal. Com frequência está associada a dificuldade de eliminar fezes duras e secas, mas às vezes as fezes são pequenas (do tamanho de bolas de gude). Como os hábitos intestinais de lactentes e crianças variam muito, avalie e trate cada criança. Tratamento: Depois da exclusão de causas orgânicas, a constipação intestinal pode ser tratada, no início, com alterações da dieta, como aumento da ingestão de fibras e de líquido. A maioria das crianças precisa de modificação de comportamento. As crianças precisam reaprender a permitir a defecação quando houver fezes no reto. Crianças com constipação intestinal grave e comportamentos de retenção podem se beneficiar de alterações da dieta e precisam de tratamento com laxantes. Às vezes é necessária a desimpacção mecânica inicial, seguida das medidas citadas anteriormente. Avaliação de enfermagem História de saúde Obtenha uma descrição da doença atual e da queixa principal. Determine quando surgiram os sintomas descritos pelos pais ou pela criança. Sinais comumente relatados na história de saúde incluem: Padrões de defecação alterados (tamanho das fezes, frequência, volume e coloração das fezes) Dor à defecação Comportamentos de retenção (posturas para tentar reter as fezes, como cruzar as pernas, abaixar- se, esconder-se em um canto ou “dançar”) Queixas de dor abdominal, cólicas e inapetência Diarreia por “extravasamento” Incontinência fecal É importante determinar a duração dos sintomas e definir se o início do problema foi agudo ou gradual. Verifique se existem fatores de risco na história clínica atual e pregressa, como: História familiar de distúrbios GI, história de sangramento retal ou de fissuras anais, relato de primeira eliminação de mecônio após 24 h do nascimento, história de abuso sexual. Exame físico: O exame físico da criança com constipação intestinal consiste em inspeção, ausculta, percussão e palpação. Inspeção: Observe o aspecto geral da criança. Note se o abdome parece distendido ou arredondado. Examinar a região lombossacra à procura de orifício pilonidal com um tufo de pelos, sugestivo de espinha bífida oculta. Nádegas achatadas podem ser sinal de agenesia do sacro. Inspecione o ânus à procura de fissuras ou fezes. Procure nas roupas da criança sinais de incontinência fecal. Ausculta: Ausculte os ruídos intestinais para explorar a possibilidade de obstrução (ruídos intestinais hipoativos ou ausentes) em crianças com constipação intestinal aguda. Percussão: A percussão do abdome pode mostrar maciez, que indicaria uma massa fecal. Palpação: Palpe o abdome à procura de dor e massas. A enfermeira ajuda o médico a fazer o toque retal para avaliar o tônus do reto e as dimensões da cúpula retal. Intervenções de enfermagem: A assistência de enfermagem para o lactente ou a criança que têm constipação intestinal visa orientar a criança e a família, e promover o enfrentamento.
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