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Paul Baltes foi um psicólogo Alemão, nascido na cidade de Saarlouis no ano de 1939. Advindo de uma família de pequenos comerciantes, o psicólogo cresceu em anos complicados, quando as questões da Segunda Guerra Mundial cercavam o seu cotidiano de medo e carências (Neri, 2006). Estudou psicologia na Universidade de Saarbrücken apresentando, no início de sua carreira acadêmica, particular interesse pelas ideias de Jean Piaget e pela psicologia cultural. Após concluir o mestrado, Baltes se mudou com a esposa, Margaret M. Baltes, para os Estados Unido, onde passou por diversas instituições de ensino, aperfeiçoando, adquirindo e compartilhando conhecimentos (Neri, 2006). A partir disso, Paul Baltes, motivado pelas ideias que perpetuavam o Zeitgeist (forças contextuais que influenciavam o espírito intelectual da época) estadunidense, deu início aos estudos e delineamento da teoria psicológica lifespan, que afirma a ocorrência do desenvolvimento ao longo de toda vida (Neri, 2006). Esse paradigma foi construído com diversas colaborações de outros psicólogos, como Hayne Reese e Larry Goulet, que ajudaram na construções de dois dos principais fundamentos do modelo: multidimensionalidade e multidirecionalidade (Neri, 2006). Além disso, Paul e Margaret Baltes desenvolveram também a teoria da seleção, otimização e compensação (teoria SOC), aplicando-a principalmente para estudar o desenvolvimento na velhice (Azevedo, 2016), área que ainda era praticamente inexplorada. Quando, em 1980, Baltes voltou para a Alemanha, ele desenvolveu ainda mais o paradigma lifespan, já que, com a queda do muro de Berlim, ele teve a oportunidade de testar empiricamente esse modelo, estudando os efeitos de eventos normativos e não-normativos na vida de idosos que passaram por diversos acontecimentos importantes e traumáticos na história alemã, através do projeto Berlin Aging Study – Aging from 70 to 100 (BASE) (Neri, 2006). Diante disso, devido a sua completude e relevância para o estudo da psicologia do desenvolvimento, o paradigma lifespan mudou a forma de estudar essa área, dando enfoque ao processo de envelhecimento e nas diversas questões que interferem no desenvolvimento. Nesse sentido, o paradigma entende o desenvolvimento humano como um fenômeno contínuo que ocorre ao longo de toda a vida, considerando que esse processo sofre influências de questões biológicas associadas a questões sociais e culturais. Dessa forma, Baltes afirmou a e a do desenvolvimento. A multidimensionalidade faz referência ao fato de que o desenvolvimento humano se dá na interação e nas individualidades de várias dimensões, abordando especialmente as questões psicológicas, biológicas e sociais. Isso significa que cada uma dessas dimensões, apesar de se desenvolverem por si só, recebem influências de outras questões associadas aos processo de desenvolvimento humano. Sendo assim, Baltes afirma que, em diferentes pessoas, esses domínios podem ter efeitos e potências divergentes, ou seja, uma sujeito pode apresentar maiores influências pelo contexto social, por exemplo, do que outro, entretanto, mesmo que o efeito de uma dimensão seja mais forte, o desenvolvimento nunca se dará em apenas um domínio. Já a multidirecionalidade refere-se a não linearidade do desenvolvimento, ou seja, ao contrário do que acreditavam alguns desenvolvimentistas da época, ao longo da vida, pode ocorrer tanto o aumento quanto a diminuição da eficácia de uma modalidade em particular, já que, de acordo com Baltes, o desenvolvimento envolve perdas e ganhos (Azevedo, 2016). Sendo uma teoria contextualista que não exclui os fatores biológicos, o paradigma lifespan compreende três tipos de influências genéticas e históricas no desenvolvimento humano, que atuam simultaneamente na construção das individualidades de cada ser (Scoralick-Lempke & Barbosa, 2012). O primeiro tipo são as mudanças normativas graduadas por idade, que dizem respeito a eventos que, estatisticamente, tendem a ocorrer na mesma época para a maioria das pessoas. Essas mudanças abrangem questões biológicas previsíveis, como maturação e envelhecimento, e questões sociais, que são caracterizadas pela expectativa de socialização para aquela determinada idade, de acordo com as normas sociais da época (Neri, 2006). O segundo tipo são as mudanças normativas graduadas por história, que trata das experiências que abrangem toda uma coorte, mudando de acordo com gênero, etnia e classe social (Neri, 2006). Já o terceiro considera as mudanças não-normativa, ou seja, aquelas que são mais individualizadas, que não ocorrem para todas as pessoas ou que ocorrem em tempo cronológico e histórico diferente para cada um. Dessa forma, é importante ressaltar a grande influência dos aspectos históricos na vida dos indivíduos, uma vez que eventos e situações socioculturais podem ser tão definidoras de personalidade tanto quanto a idade (Azevedo, 2016), como é notório ao analisarmos pessoas que vivem em diferentes configurações socioculturais. Nesse sentido, algumas pesquisas constataram que, assim como os ambientes sociais, eventos como guerras e a Grande Depressão tiveram um impacto fortíssimo na vida daqueles que passaram por esses momentos históricos, influenciando diversos âmbitos de suas vidas. Baltes afirma também que a relação do desenvolvimento humano com o ambiente evolui com o tempo, todavia, os eventos não-normativos são imprevisíveis e geralmente, justamente por suas características de imprevisibilidade e incontrolabilidade, causam muito estresse à pessoa em desenvolvimento, principalmente se o indivíduo em questão estiver na velhice. Diante disso, é possível dizer que o maior potencial estressor dos eventos não-normativos na velhice estão relacionados a diminuição da capacidade de mudança para se adaptação, que acontece no processo de envelhecimento. Entretanto, Baltes pressupõe a plasticidade como um dos princípios do desenvolvimento, o que significa que o ser humano pode moldado pelo ambiente, possibilitando, assim, diversos resultados possíveis do processo de desenvolvimento (Azevedo, 2006). Sendo assim, a característica de plasticidade permite que o homem melhore suas habilidades com treino, entretanto, por questões biológicas, essa característica diminui ao longo do tempo. Isso acontece porque, em termos de seleção natural, a plasticidade interessa mais à espécie nos anos pré-reprodutivos e reprodutivos (Neri, 2006). Entretanto, Paul Baltes afirma também que o desenvolvimento e o envelhecimento envolvem a alocação de recursos mais adequados para as diferentes fases da vida, o que significa que a perda de plasticidade na velhice é, provavelmente, acompanhada do melhoramento de alguma outra característica de maior relevância para aquele momento do ciclo vital. Esse pressuposto está contido na teoria da seleção, otimização e compensação (teoria SOC), concebida por Paul e Margaret Baltes com os intuitos de descrever o desenvolvimento e estabelecer as formas com que os indivíduos manejam as mudanças nas condições biológicas, psicológicas e sociais de forma a adaptá-las às necessidades daquele momento da vida (Scoralick-Lempke & Barbosa, 2012). Para os teórico, há uma interdependência entre os recursos oferecidos pelo ambiente e os recursos da pessoa, cujos produtos dessa interação são justamente os ganhos e as perdas que visam um desenvolvimento e um envelhecimento saudável (Neri, 2016). Dessa forma, na teoria SOC, Baltes define seleção como uma análise daquilo que é possível executar com os recursos que se tem na presente fase da vida. Portanto, no envelhecimento, já que recursos como tempo e energia são mais limitados, há um manejo no que se diz respeito a metas e aspirações, por exemplo.A otimização refere-se a organização dos recursos internos e externos de forma que eles funcionem em níveis mais altos. Nesse ponto entende-se a importância da educação de idosos, a fim de estimular funções cognitivas, sociais e promover a saúde (Scoralick-Lempke & Barbosa, 2012). Já a compensação abarca as possibilidades externas de manter o funcionamento, tais como o uso de aparelhos auditivos e cadeira de rodas (Neri, 2006). De acordo com Baltes, essas são estratégias utilizadas durante toda a vida, consciente ou inconscientemente, e são presentes tanto na experiência pessoal quanto a cultural. O paradigma lifespan e a teoria SOC foram analisadas por diversas pesquisas experimentais bem sucedidas, o que demonstra a grande validade das teorias de Baltes. O teórico, entretanto, percebeu que apenas a psicologia não seria capaz de abranger a totalidade e a complexidade do desenvolvimento humano, afirmando que essa era uma área de demanda interdisciplinar, pois, de acordo com Baltes, a combinação de disciplinas tornaria possível delinear questões que a psicologia sozinha teria dificuldade (Azevedo, 2016). Diante disso, nota-se que Paul Baltes fez diversas contribuições importantes para o estudo do desenvolvimento, principalmente no que se trata de envelhecimento, já que ele aborda esta questão de forma muito racional, sem romantizar o aspectos de sabedoria na velhice e sem tratar o envelhecimento como um processo que envolve exclusivamente perdas, reconhecendo que o desenvolvimento positivo continua nessa fase. Baltes também fez considerações importantes acerca dos diversos âmbitos em que o desenvolvimento acontece, produzindo uma teoria contextualista que considera diversas dimensões, temporalidades e propõe a interação de diversos fatores na construção da totalidade do ser em desenvolvimento.
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