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Fisiologia do sistema digestório parte VI (Digestão)


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A digestão é o processo de degradação química e física dos 
alimentos ingeridos a moléculas que podem ser absorvidas. As 
enzimas digestivas são secretadas nas secreções salivar, 
gástrica e pancreática ou na membrana apical das células 
epiteliais intestinais. As vilosidades, pregas do epitélio 
intestinal, aumentam em até 600 vezes a superfície 
absortiva, que pode ser pela via transcelular ou paracelular, de 
maneira que os nutrientes absorvidos serão passados ao 
restante do organismo ao cair na circulação sanguínea, pela 
intensa rede de capilares, vênulas e ductos no tecido 
conjuntivo que sustenta essas vilosidades. 
 
O amido é um carboidrato (polissacarídeo) formado por 
polímeros de glicose, amplamente consumido, e está 
presente por exemplo no milho e na batata. As moléculas que 
formam o amido são a amilopectina, que possui ramificações, 
e a amilose, que não exibe ramificações. Para que esse 
polímero se estabeleça, são formadas ligações glicosídicas 
nos carbonos alfa-1,4. A celulose também é um polímero de 
glicose, porém, é formada por ligações beta glicosídicas, que 
resultam numa estrutura linear rígida, impermeável, que a 
torna compacta e insolúvel em água, inviabilizando sua 
digestão. Os dissacarídeos são moléculas formadas por dois 
monômeros unidos por uma ligação glicosídica, os principais 
são: maltose, sacarose, lactose e trealose. Todos estes são 
degradados aos monossacarídeos básicos (glicose, frutose e 
galactose), a fim de serem absorvidos. 
 
A digestão dos amidos começa na boca com a ação da alfa 
amilase salivar que converte o amido em polissacarídeos 
menores (alfa-dextrinas). A alfa amilase salivar é inativada 
pela acidez do estomago, por isso, a digestão dos carboidratos 
continua com a secreção de alfa amilase pancreática e de 
bicarbonato (neutraliza as secreções gástricas) no lúmen do 
intestino delgado. A alfa amilase pancreática converte as 
alfa-dextrinas em dissacarídeos (como a maltose), 
trissacarideos (maltotriose) e oligossacarídeos (malto-
oligossacarídeos) e dextrinas alfa limite. Sendo assim, 
existem enzimas denominadas oligossacaridases, localizadas 
na superfície apical da célula epitelial intestinal (voltadas para 
o lúmen) que degradam os polissacarídeos em glicídios que 
possam ser absorvidos. Dentre as oligossacaridases, podemos 
citar a lactase (degrada lactose a glicose e galactose), 
sacarase (degrada sacarose a frutose e galactose), alfa-
dextrinase ou isomaltase (degradam dextrinas alfa-limites a 
unidades de glicose) e glicoamilases (degradam malto-
oligossacarídeos a unidades de glicose). 
 
Após a transformação de oligossacarídeos/dissacarídeos a 
monossacarídeos, estes serão internalizados nas células por 
meio de transportadores como SGLT1, que carreia a glicose e 
a galactose por cotransporte com o sódio, e GLUT5, que 
carreia a frutose. Após internalizados, caem na corrente 
sanguínea via GLUT2. Todavia, o cotransporte com sódio 
causa um acúmulo deste íon no interior da célula, resultando 
em um desbalanço do gradiente energético, que caso não 
reparado, impediria a internalização dos monossacarídeos. 
Sendo assim, uma bomba de sódio-potássio-ATPase põe para 
fora o sódio em excesso (enquanto traz potássio para 
dentro), mantendo o gradiente de concentração. A absorção 
de carboidratos acontece em grande parte no duodeno e 
jejuno proximal. 
 
 
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As proteínas absorvidas podem ser de natureza extrínseca 
(dieta) ou intrínseca (enzimas digestivas e células 
descamadas). A digestão das proteínas começa no estômago 
e continua no intestino, em ambos pela ação das proteases, 
como a pepsina no estômago (presença de HCl) e a 
quimiotripsina no intestino. As proteases são produzidas em 
sua pró-forma (zimógenos), a fim de não causarem danos as 
células que as produzem, e uma vez ativadas esse processo é 
irreversível. Além das próprias enzimas, a acidez também 
atua na desnaturação das proteínas a serem degradadas e 
absorvidas. Após a passagem do alimento no estômago, que 
sofreu ação da pepsina, este se encaminha ao duodeno, onde 
as enzimas oriundas da secreção pancreática converterão 
esses peptídeos a peptídeos menores. 
 
As peptidases, presentes na membrana apical das células 
epiteliais intestinais, reduzem os peptídeos (previamente 
quebrados pela pepsina e as enzimas da secreção pancreática) 
em oligopeptídeos e aminoácidos. Portanto, podemos citar a 
aminopeptidase, que cliva aminoácidos nos seus N-terminais, 
as dipeptidases, que cliva dipeptídeos em aminoácidos, as 
dipeptidil aminopeptidases, que clivam dipeptidil na 
extremidade N-terminal em peptídeo. Logo, os 
oligopeptideos tornam-se tripeptídeos ou aminoácidos e são 
absorvidos pelas células epiteliais intestinais. A absorção dos 
pequenos peptídeos é mediada por transporte ativo 
secundário (mais seletivo para di ou tripeptideos do que para 
aminoácidos individuais), por ação da PepT1 (transportador de 
peptídeos 1) que transporta os peptídeos e aminoácidos para 
dentro juntamente com os prótons. Para manter o gradiente 
(concentração de prótons equilibrada) há uma proteína na 
membrana, NHE, denominada trocar sódio-hidrogênio, que 
joga os prótons para fora e coloca o sódio para dentro. Isso 
gera um problema como o mencionado na sessão dos 
carboidratos, por esse motivo, uma bomba de sódio-potássio-
ATPase resolve o problema. Após isso, peptidases 
citoplasmáticas degradam os tris ou dipeptideos a 
aminoácidos, e estes são transportados para corrente 
sanguínea por transporte passivo. 
 
A digestão dos lipídios se inicia no estômago, onde há a 
hidrólise dos triglicerídeos pelas lipases pré-duodenais (lipase 
gástrica). Após isso, as enzimas lipolíticas pancreáticas, 
como hidrolase dos esteses do glicerol (lipase pancreática), 
colipase, hidrolase dos ésteres do colesterol e fosfolipase A 
formam ácidos graxos livres que podem ser absorvidos. A 
digestão dos lipídios ocorre em alguns passos: 
Passo 1) Emulsificação 
As propriedades detergentes dos sais biliares, bem como a 
mistura mecânica decorrente do peristaltismo auxiliam na 
emulsificação das gorduras. 
Passo 2) Formação de micelas 
Os ácidos biliares formam micelas com os produtos da 
digestão das gorduras, a fim de facilitar a locomoção destes. 
Passo 3) Absorção de lipídios 
Por conta de sua solubilidade lipídica, os ácidos graxos, os 2-
moglicerideos, o colesterol e a lisolectina podem difundir-se 
simplesmente pela membrana, mas pode também haver 
transporte facilitado do colesterol. O duodeno e o jejuno são 
mais ativos para absorção de gorduras. Além disso, existem 
proteínas fixadoras dos ácidos graxos (I-FABP, L-FABP, 
FATP4) que carreiam os produtos da digestão lipídica para o 
reticulo endoplasmático liso. 
Passo 4) Reesterificação 
Após entrada na célula os lipídios são reesterificados, no 
reticulo endoplasmático, formando os lipídios originais. 
Posteriormente a essa transformação, são empacotados em 
quilomícrons e entram na circulação linfática, caindo na 
corrente sanguínea no ponto de convergência entre a 
circulação linfática e sanguínea na região torácica. 
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OBS: A absorção de vitaminas lipossolúveis (, D E e K) ocorre pela direção 
destas para o interior das micelas mistas, de forma que elas penetram nos 
quilomícrons e deixam o intestino pela linfa. 
 
 
Podemos obter essa vitamina por sua síntese (bactérias 
entéricas) ou ingestão, presente apenas nos animais não nas 
plantas. Na fase gástrica a VitB12 encontra-se ligada a 
proteínas, isso se dá porque primeiro estão livres, e depois se 
fixam as glicoproteínas R que estão relacionadas com as 
transcobalaminas I, II e III. O fator intrínseco secretado pelas 
células parietais atua como proteína fixadora de vitamina B12. 
A absorção se dá pelo complexo cobalamina F1, um dímero 
que é reconhecido e fixado no íleo, sendo transportado 
lentamente. 
 
 
OBS1: A vitamina B12 é precursora da síntese de diversos 
neurotransmissores. 
OBS2: O fígado armazena vitamina B12 
 
A absorçãode sódio se dá no intestino proximal, o íon cruza 
a membrana através de seu gradiente eletroquímico, e é 
removido ativamente das células epiteliais pela Na+- K+-
ATPase na membrana basolateral, passando para o liquido 
intersticial. No colón o Na+ é absorvido normalmente mesmo 
contra grande diferença de potencial eletroquímico. 
 
 
A absorção destes corre em larga escola no jejuno, porém, no 
íleo o Cl é absorvido e em condições normais o bicarbonato é 
secretado. No cólon o mesmo acontece. 
 
 
A absorção de potássio ocorre no jejuno ou no íleo, utilizando 
como força propulsora a absorção de água, tornando o K+ 
concentrado. No colón o K+ pode ser secretado ou absorvido, 
em geral é secretado por processo ativo. 
 
 
 
 
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A absorção de cálcio ocorre por todo o intestino. No duodeno 
e no jejuno ele pode ser absorvido mesmo contra o gradiente 
de concentração. A absorção de cálcio (que pode ser trans ou 
paracelular) é estimulada pela vitamina D, visto que o 
calciferol (hormônio derivado desta) age nas células epiteliais 
aumentando o mRNA de proteínas como a calbindina e a 
cálcio ATPase basolateral, aumentando a captação de sódio. 
 
 
 
O ferro no nosso organismo existe como ferro hêmico e 
oxidado/reduzido. O ferro hêmico é encontrado em carnes, 
mas representa a menor proporção da nossa ingesta da dieta, 
porém, é mais facilmente absorvido. O grupo heme possui 
proteína uma carreadora especifica (HCP) que quando ligada 
ao grupo heme, forma o complexo heme-HCP, que é 
internalizado por endocitose. Dentro da vesícula endossomal 
esse complexo sofre ação da heme-oxigenase (HO), liberando 
monóxido de carbono, bilirrubina-IXa e o Fe2+. O ferro 
inorgânico representa a maior parte da nossa ingesta, mas é 
mais difícil de ser absorvido. Geralmente, está presente nos 
alimentos como Fe2+ (reduzido) e Fe3+ (oxidado), contudo, só 
absorvemos a forma reduzida do ferro (2+). 
 
 
Sendo assim, a redução pode ser realizada de diversas formas, 
como pela ação do ácido ascórbico (vitamina C aumenta 
absorção de ferro) e o baixo pH estomacal, mas a principal 
forma de redução é pela ação da ferro redutase duodenal 
(Dcytb). A absorção de Fe2+ é pela proteína SMT-1, com o 
cotransporte de prótons, causando desbalanço resolvido com 
NHE e Na+- K+-ATPase. O ferro absorvido pode ser 
armazenado na forma de ferritina ou transportado até a 
membrana basolateral do enterócito, onde é exportado para 
fora da célula pela ferroportina e ligado a transferrina (Tf), 
para então poder ser transportado para as outras células do 
corpo. 
 
 
É absorvido por todo intestino, majoritariamente pelo íleo 
(menos no duodeno) por via paracelular. 
 
Altas doses de vitaminas hidrossolúveis podem ser absorvidas 
por difusão simples, sua absorção envolve o transporte ativo 
secundário impulsionados por Na2+. 
 
A água e os sais são absorvidos pela via paracelular no 
duodeno. As células das vilosidades absorvem agua e as 
células das criptas a secretam. As junções celulares são mais 
permeáveis no duodeno, menos no jejuno e impermeáveis no 
íleo e totalmente no colón. 
 
 
 
 
 
 
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1) Explique o processo de digestão e absorção de aminoácidos. 
A digestão dos aminoácidos se inicia no estômago, onde a pepsina (ativada pelo suco gástrico) quebra as proteínas em peptídeos, 
após isso, a secreção pancreática liberada no duodeno contém proteases que quebram os peptídeos em peptídeos menores, os 
oligopeptídeos. Estes por sua vez, serão transformados em tri ou dipeptideos e aminoácidos pelas peptidases presentes na porção 
apical da membrana das células epiteliais intestinais, e entram na célula pelo transportador PepT1. Depois de sua entrada, os tris e 
dipeptídeos são transformados em aminoácidos pelas peptidases intracelulares, e posteriormente passam para circulação 
sanguínea por transporte passivo. 
 
2) Explique o processo de digestão e absorção de carboidratos. 
A digestão dos carboidratos começa na boca pela ação da amilase salivar que transforma os polissacarídeos em polissacarídeos 
menores, as alfa-dextrinas. No estômago é interrompida pelo pH elevado, e se retoma no duodeno (pH básico) com a ação da amilase 
pancreática. Esta, irá quebrar as alfa-dextrinas em oligossacarídeos, trissacarideos e dissacarídeos. Posteriormente, os 
oligossacarídeos da membrana apical das células epiteliais degradam estas formas a monossacarídeos (glicose, galactose e frutose). 
Após a degradação, glicose e galatose entram na célula via SGLT1 e frutose por GLUT5. Por fim, são enviados para corrente 
sanguínea via GLUT2. 
 
3) Como são absorvidos os lipídios? 
Os lipídios necessitam de ser emulsificados, transformados em moléculas de gordura menores, para serem absorvidos. Logo, a 
digestão se inicia no estômago pela lipase gástrica e continua no duodeno pela lipase pancreática, formando os ácidos graxos livres 
que poderão ser absorvidos. Após isso, são reesterificados e tornam-se os lipídios originais novamente, e pis são empacotados com 
quilomícrons e caem na corrente sanguínea. 
 
4) Explique a absorção do ferro. 
O ferro pode ser absorvido com ferro hêmico forma um complexo com uma carreadora especifica (HCP) que é endocitose e dentro 
da vesícula endossomal sofre ação da heme oxigenasse, liberando o Fe2+ que será absorvido. O ferro inorgânico precisa ser reduzido 
para ser absorvido. Tal redução pode ser mediada pelo ácido ascórbico (vitamina C) e até o próprio ácido estomacal, entretanto, a 
maior parte da redução é mediada pela Dcytb, que converte o Fe3+ a Fe2+, viabilizando sua absorção pela SMT-1. Após a entrada na 
célula pode ser armazenado como ferritina, ou exocitado com auxilio da ferroportina e associado a transferrina para ser levado para 
fora das outras células. 
 
5) Explique a importância da vitamina D para absorção do cálcio. 
A vitamina D é essencial para absorção e cálcio, pois, o hormônio que deriva de si (calciferol) age aumentando a expressão de 
proteínas que aumentam a absorção de cálcio, como calbindina, a transportadora de glicose e a cálcio-ATPase basolateral. Logo, 
sem essa vitamina a absorção de cálcio é prejudicada.