Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 | P á g i n a UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL ALAN R F PAZ JÚNIOR PASSO FUNDO 2021 CURATIVOS Documentação: descrever meticulosamente a ferida, dimensionando seu tamanho, complementando com a anamnese e fotografando todas as fases da cicatrização (fundo escuro de cor preta ou azul, imagem bem focada e luminosidade adequada – flash circular), de modo a conseguir acompanhar a evolução da ferida. A Pele apresenta uma espessura de cerca de 1 a 4 mm, revestindo e protegendo todas as demais estruturas do organismo. Divide-se em três camadas principais, a epiderme (composta queratinócitos e células de Langerhans), a derme (bem vascularizada, rica em colágeno e com presença dos anexos – glândulas sudorípara) e a hipoderme (rica em tecido adiposo, funções de proteção mecânica e térmica). Quanto às causas, as feridas podem advir de condições traumáticas, cirúrgicas, iatrogênicas ou associadas a enfermidades crônicas (pé diabético). Podem, também, ser classificadas conforme sua morfologia pelo local de ocorrência (abdômen, tornozelo), número (isolada ou múltipla), dimensões e profundidade. Em relação ao grau de contaminação, dividem-se em limpa, potencialmente contaminadas e infectadas. Ademais, classificam-se de acordo com o estágio cicatricial em que se encontram, podendo estar na fase inflamatória ou exsudativa (48 a 72h, presença de sinais de dor, calor e rubor), na fase proliferativa (14 dias, angioneogênese, produção de colágeno, 2 | P á g i n a migração celular de queratinócitos e fibroblastos, epitelização) ou já na fase final de maturação ou remodelamento (meses ou anos após, remodelamento do colágeno, síntese de matriz extracelular e aumento da força tênsil), variando seu aspecto externo conforme o predomínio de tecido fibrinoso, de granulação, necrótico ou inflamatório. Por fim, outro método de classificação de feridas se refere ao tipo de cicatrização ocorrida, podendo ser primária (primeira intenção), primária tardia, secundária (segunda intenção) ou até por terceira intenção. Úlceras venosas Dor apenas nos casos de infecção secundária, na ausência desta é indolor; Superficial, nunca expõe tendões ou invade aponeurose; Bordas limpas e com ausência de necrose; Localização geralmente no terço médio da perna. Nunca na região lateral da perna. Úlceras arteriais Extremamente dolorosa; Profunda, invade a aponeurose e expõe tendões; Bordas necróticas e fundo granuloso; Localização abaixo do local de oclusão, geralmente calcanhar ou tendões. Fibrina Tecido necrótico Granulação/epitelização 3 | P á g i n a FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO São diversos os fatores que podem interferir no processo cicatricial de uma ferida, desde a dimensão e profundidade da mesma até o grau de contaminação, presença de corpo estranho, secreções ou hematomas, contudo, a infecção local é o mais preocupante deles, aumentando o estágio inflamatório da primeira fase de cicatrização e retardando significativamente o processo cicatricial. Outros fatores que interferem a cicatrização: • Fatores Nutricionais: As moléculas de proteína favorecem a resposta inflamatória, estimulam a angioneogênese, a proliferação de fibroblastos, a síntese de colágeno e a remodelação da ferida, enquanto os carboidratos fornecem energia para a execução do processo e as gorduras contribuem para a reparação tecidual e fornecem também energia tecidual. Uma defasagem nutricional com a consequente diminuição desses componentes, logicamente, irá interferir e retardar o processo de cicatrização de uma ferida pós-operatória. o Vitamina A e C: Favorecem a linfocitose, a migração dos macrófagos e a síntese de colágeno e epitelização. o Complexo B e Zinco: Favorecem a ligação cruzada do colágeno e auxiliam na proliferação celular, epitelização e aumento da resistência do colágeno. o Manganês e Cobre: Contribuem no processo de síntese do colágeno. • Doenças Crônicas: Diabetes Mellitus está associado a uma redução da síntese de colágeno, diminuição da fagocitose e alteração da microcirculação local. Insuficiência renal provoca deficiência na proliferação dos fibroblastos. Insuficiência vascular está associada a uma redução dos suprimentos de oxigênio e de elementos da cicatrização. Por fim, a imunossupressão afeta a fagocitose, diminui a proliferação de fibroblastos e reduz a síntese de colágeno. • Medicamentos: AINES e altas doses de esteroides fazem vasoconstrição da microcirculação, diminuição da resposta inflamatória e diminuição da síntese de colágeno, dificultando o processo cicatricial. Os esteroides, além disse, interferem também na reepitelização e diminuem a força tênsil local. Antibióticos produzem efeitos tóxicos e podem inibir a cicatrização. Quimioterápicos, por fim, inibem a síntese proteica e a síntese de colágeno. • Tratamento tópico inadequado: Sabões tensoativos exercem ação citolítica e alteram a permeabilidade da membrana, deixando a ferida ressecada e favorecendo a ocorrência de infecções secundárias. O uso de soluções antissépticas está associado a ação bactericida, ação essa diretamente proporcional à concentração do produto. Quando em contato com a ferida, quanto maior a concentração maior será a toxicidade, afetando o processo cicatricial. TÉCNICA PARA REALIZAR O CURATIVO Preparar o material no posto de enfermagem, lavar as mãos, preparar o local para manuseio dos materiais, escolher o local de descarte, orientar o paciente acerca do 4 | P á g i n a procedimento, preparar o campo estéril e material utilizado. Lavar a ferida, sem friccionar, começando pelas áreas limpas e fechadas, seguindo-se de ferida aberta não infectada, drenos e por último as feridas infectadas, colostomias e fístulas em geral. Materiais necessários: Pinça anatômica, pinça Kelly, pinça dente de rato e pinça anatômica -> Pacote estéril de curativo. Limpeza com solução fisiológica: Hidrata a ferida, favorece a cicatrização e deve evitar atritos excessivos. A limpeza deve ser feita com o SF em movimentos centrífugos (de dentro para fora), quando se trata de ferida limpa, e de fora para dentro quando se tratar de ferida contaminada. Curativos semioclusivo: Curativo absorvente e frequentemente utilizado em feridas cirúrgicas, permitindo a exposição da ferida ao ar, absorvendo exsudato da ferida e isolando o exsudato da pele saudável adjacente. Curativo oclusivo: Não permite a entrada de ar ou fluídos, atua como barreira mecânica, impede a perda de fluídos, promove isolamento térmico, veda a ferida, a fim de impedir enfisema e formação de crosta. Curativo compressivo: Reduz o fluxo sanguíneo, promove a estase e ajuda na aproximação das extremidades da lesão. 5 | P á g i n a PVPI tópico (Povidine) Clorexidina Água boricada Associação aquosa entre polivinilpirrolidona e iodo a 10%. Ação bactericida relacionada à concentração usada, ao penetrar na célula induz a oxidação e alteração da síntese do ácido nucleico bacteriano. Reduz a microbiota da pele íntegra em 68 a 84% e seis aplicações sucessivas já aumentam a redução para 92%. Solução alcoólica contraindicada em feridas operatórias. A solução alcoólica reduz a microbiota em uma aplicação em 74 a 98%. Efeito residual entre 6 e 8 horas. Ação bacteriana tanto para gram positivos quanto gram negativos, mas com maior efetividade nos gram negativos. Efeito residual de 6 a 8h, em uma única aplicação reduz 84 a 96% da microbiota íntegra. Indicado para antissepsia de pele íntegra e mucosas, a sua indicação em feridas abertas é contraindicada pela ação citolítica. Ação germicida permanece mesmo na presença de materiais orgânicos. 3% de ácido bórico, antisséptico, bacteriostático e fungicida. Utilizado em processos infecciosos tópicos, não podeser aplicado em grandes áreas do corpo quando existirem lesões de qualquer tipo, feridas ou queimaduras. 6 | P á g i n a Pomadas enzimáticas Colagenase Fibrinolisinas (fibrase) Glicopó (açúcar) Papaína Aloe vera Sulfadiazina de prata Ácidos Graxos Essenciais – Ácido Linoleico Alginato de cálcio e sódio - Aquacell Aceleram processos catabólicos, aceleram a digestão enzimática, atuam como desbridantes químicos da rede de fibrina e facilitam o processo de proliferação e regeneração celular. Eficácia controvérsia na estimulação da granulação e associação com antibióticos tópicos contraindicada. Clostridiopeptidase-A, provoca necrólise e degradação seletiva do colágeno nativo. Baixo custo e desvantagem de pouca efetividade em grandes áreas necróticas. Deve ser aplicada diretamente na ferida e trocada a cada 12-24 horas. Pomada emoliente de origem bovina, com ação lítica sobre o ácido desoxirribonucleico, dissolvendo exsudatos e tecidos necróticos. Baixo custo e substituição do curativo a cada 12-24 horas. Pouco eficiente em desbridamentos intensos e contraindicado em pessoas com hipersensibilidade. Composto de sacarose em grânulos com ação bactericida e efeito osmótico (lise da membrana da célula invasora). O curativo deve ser trocado a cada duas horas e está indicado em feridas limpas e infectadas (cavitárias com exsudação intensa). Vem do látex do mamomeiro (Carica papaya), constituído por enzimas proteolíticas e por peroxidase, fazendo desbridamento químico e provocando proteólise. Ação bacteriostática, bactericida e anti-inflamatória, promoção de alinhamento das fibras de colágeno e crescimento tecidual, além de diminuição na formação de queloides. Comercializada em pó (liofizilada) ou em creme, na presença de tecido de granulação não deve exceder 2% e deve ser usado após escarotomia. Substituição do curativo a cada 12-24 horas e baixo custo. Babosa, mais de duzentas espécies existentes, extrato de gel de Acemanato. Propriedades cicatrizantes, aplica-se a parte baba (líquida) da planta sobre a ferida e substitui-se o curativo a cada 24 horas. Composto hidrofílico com características bactericidas imediatas e bacteriostáticas, dolorosa na aplicação e na retirada, com curativos feitos de 12 em 12 horas. São triglicerídeos de cadeia média, percursores de substâncias farmacologicamente ativas, provocando alterações nas reações inflamatórias imunológicas comuns da cicatrização, promovendo quimiotaxia e angioneogênese. Mantêm o meio úmido e aceleram o processo de granulação. Curativo fibroso de águas marinhas marrons, composto de ácido gulurômico e manurômico. Promove debridamento autolítico e absorção de grande exsudato, mantendo o meio úmido e estando indicado para feridas profundas e tunelizadas ou com exposição óssea. O curativo deve ser trocado a cada 12 a 24 horas. 7 | P á g i n a Carvão ativado e Prata – Actisorb Plus Hidrocoloide - Duoderm Hidrogel Matriz de regeneração dérmica Acetato de celulose ao vapor - biofil Carvão ativado impregnado com prata 0,15%, com poder bactericida e alta absorção de exsudato, reduzindo o odor fétido da ferida. Está contraindicado em feridas com exposição óssea ou tendíneas e em casos de queimaduras. Face interna composta por gelatina, pectina e carboximeticelulose, promove desbridamento autolítico e estimula a angioneogênese. Mantém um pH adequado ao meio e está indicado para feridas limpas com média ou pequena quantidade de exsudato. Prevenção de úlceras de pressão, aplicado nas áreas de pressão óssea. Contraindicado em feridas infectadas ou colonizadas (úlceras infectadas), feridas por sífilis e TBC e queimaduras de terceiro grau. Vantagem de proteção da ferida, diminuição da dor e proteção das terminações. Polivinilpirrilidona (PVPA) e água, mantém a ferida úmida e proporciona sensação de alívio refrescante. Hidroativo, promove desbridamento e está indicado no tratamento de queimaduras ou de feridas limpas com pouco exsudato. Contraindicado em feridas infectadas ou com exsudação abundante. Sistema de regeneração dérmica indicado em feridas limpas (queimaduras de II e III grau), sendo aplicado e retirado após 3 semanas. Camada interna formada por matriz tridimensional originada da polimerização de colágeno, tendo ação biorreabsorvível e promovendo crescimento celular e síntese de colágeno. Camada externa composta de silicone, uma barreira mecânica de proteção a infecções. Promove manutenção do meio úmido e apresenta permeabilidade seletiva, protegendo contra a entrada de microrganismos. Indicado em queimaduras de II e III grau e áreas doadoras de enxerto. Contraindicado em feridas infectadas e muito exsudativa. Fácil aplicação mas com dificuldade de movimentação do membro, a película se solta sozinha em 7 a 10 dias e deve-se evitar retirá-la. 8 | P á g i n a TRATAMENTO ADJUVANTE Câmara hiperbárica: Inalação de oxigênio puro com pressão maior que a periférica, acelera a formação de tecido e promove ação microbicida de germes anaeróbios, ação bioquímica de oxidação e ação sinérgico com antibióticos. Pressão negativa controlada (VAC): Absorve líquidos em excesso (evitando cultura), protege a ferida de contaminação secundária, facilita a regressão do edema, permite vasodilatação capilar (aumentando o fluxo sanguíneo local) e favorece a contração cicatricial da ferida. Indicado em feridas cavitárias (úlcera de pressão), feridas perineais infectadas (Síndrome de Fournier), úlceras crônicas refratárias e áreas receptoras de enxerto. Contraindicado na presença de material necrótico, lesões neoplásicas, fístulas de órgãos internos, portadores de talassemia, hemofílicos ou pacientes em uso de anticoagulante. FATORES QUE INTERFEREM NA CICATRIZAÇÃO TÉCNICA PARA REALIZAR O CURATIVO TRATAMENTO ADJUVANTE
Compartilhar