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LARISSA MENEZES – GASTRO DIVERTICULOSE INTESTINAL • Os divertículos podem ser adquiridos ou congênitos e afetar tanto o intestino delgado quanto o cólon • Divertículos adquiridos consistem em herniaçoes da mucosa e submucosa através da camada muscular, mais comumente em pontos de menor resistência, ou seja, são pseudodivertículos DIVERTICULOSE DO CÓLON • Os divertículos geralmente são múltiplos e, na maioria das vezes, predominam no sigmoide • Podem, entretanto, ser encontrados em qualquer região do cólon • Costumam variar de 3 mm a 3 cm • Existem teoricamente duas formas de diverticulose colônica: ▪ Forma hipertônica (myochosis coli): predominante nos países ocidentais! Sua patogênese é proveniente do fenômeno de pulsão. Um aumento da pressão intracolônica força as camadas mucosa e submucosa provocando sua herniação através de pequenas fendas na camada muscular, por onde penetram os vasos retos. Uma dieta pobre em fibras vegetais (alimentos não digeridos) seria o principal fator de risco. A pobreza de fibras aumenta a pressão intracolônica, por reduzir o volume do bolo fecal: com um lúmen menor, as paredes colônicas podem se tocar em alguns pontos, criando compartimentos de alta pressão durante os movimentos de peristalse ▪ Forma simples em massa: sua patogênese provavelmente se deve à fraqueza da camada muscular por uma alteração na composição das fibras colágenas. É o que acontece, por exemplo, em doenças genéticas como a síndrome de Ehler- Danlos COMPLICAÇÕES CLÁSSICAS o Diverticulite o Hemorragia digestiva baixa MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS o A maioria dos pacientes são assintomáticos e os divertículos são frequentemente descobertos por um clister opaco ou uma sigmoidoscopia/colonoscopia realizados por outros motivos o Dor ou desconforto abdominal em baixo ventre, algumas vezes associados a alterações no hábito intestinal o A presença de sintomas gastrointestinais em pacientes com diverticulose não complicada deve levantar a suspeita da coexistência de síndrome do intestino irritável, que tem associação com a forma “dolorosa” ou “hipertônica” da doença diverticular TRATAMENTO o Aumentar a ingesta de alimentos ricos em fibras: cereais, frutas e vegetais. o Suplementação dietética de fibras: Psyllium (Metamucil), farelo de trigo, metilcelulose. o Aumentar a ingesta hídrica: 2 a 2,5 L/dia. o Antiespasmódicos/Analgésicos (não usar opiáceos, pois aumentam a pressão intracolônica) para a cólica da síndrome do intestino irritável HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA LARISSA MENEZES – GASTRO • É definida pela fonte sangrante após o ângulo de Treitz (junção duodenojejunal) • A manifestação clássica é a hematoquezia (eliminação de sangue vivo puro ou misturado às • fezes pelo reto), embora os sangramentos do delgado e do cólon direito, quando a motilidade colônica é lenta, possam aparecer como melena • Até 50% dos pacientes cursam com anemia e/ou instabilidade hemodinâmica • O sangramento a partir de um divertículo é a principal causa de hemorragia digestiva baixa significativa em pacientes com mais de 50 anos SANGRAMENTO DE DIVERTÍCULO COLÔNICO o Acredita-se que quando o divertículo se forma, ele “carrega” uma das artérias penetrantes (vasos retos) consigo. O vaso pode ficar aprisionado e tracionado na cúpula da estrutura diverticular, separado do lúmen intestinal por uma fina camada mucosa. O trauma mecânico (por exemplo, por fecalitos) pode provocar erosão mucosa e fragilidade da parede arterial que então se torna propensa ao rompimento o Pacientes hipertensos ou em uso de AINE têm um o risco maior de sangramento diverticular o Os divertículos do cólon direito têm maior chance de sangrar por serem maiores e terem uma base mais larga, expondo uma extensão maior da artéria penetrante à erosão o Alguns pacientes apresentam sangramento maciço (cerca de 5%), pois o vaso sangrante do divertículo é um vaso arterial! Estes necessitarão de ressuscitação volêmica e intervenção terapêutica imediata o O sangramento é indolor e sem sinais de proctite o (tenesmo, urgência fecal); o exame do abdome é “inocente” SANGRAMENTO DE ANGIODISPLASIA COLÔNICA o É uma malformação vascular caracterizada pela ectasia de pequenos vasos sanguíneos, cuja parede é revestida apenas por endotélio e pequenina quantidade de músculo liso. Os vasos sobressaem na mucosa intestinal como lesões arborizadas ou aracneiformes vermelho-vivo o São encontradas mais frequentemente no cólon; o ceco é o local mais comum (45% dos casos) o As que sangram predominam nos idosos (> 65 anos) o Os fatores de risco para angiodisplasia intestinal são: estenose aórtica, doença de von Willebrand e síndrome urêmica crônica OUTRAS CAUSAS DE HDB o Hemorroidas o Câncer colorretal o Pólipos adenomatosos ou hamartomatosos o Lesão de Dieulafoy o Colite o Divertículo de Meckel (<30 anos) ABORDAGEM DIAGNÓSTICO-TERAPÊUTICA o Os exames diagnósticos só poderão ser realizados após a estabilização hemodinâmica do paciente, utilizando-se soros cristaloides (soro fisiológico, Ringer) e concentrados de hemácia o Pacientes instáveis hemodinamicamente com sangramento continuado, a despeito de LARISSA MENEZES – GASTRO medidas de reposição volêmica, são candidatos à intervenção cirúrgica sem tempo hábil para a localização precisa do sangramento, portanto, uma colectomia subtotal (retirada de todo o cólon, mas poupando o reto) com anastomose ileorretal o O objetivo diagnóstico primário é descobrir onde está o sítio sangrante! Uma vez descoberto o sítio, a terapêutica depende do tipo de lesão, ou seja, da sua etiologia (divertículo, angiodisplasia etc.). Não adianta o exame mostrar a presença de divertículos, pólipos ou angiodisplasia sem provar que uma dessas lesões está sangrando ou sangrou recentemente! o A passagem de um cateter nasogástrico é de grande auxílio: a saída de sangue vivo confirma hemorragia alta, enquanto que a presença de bile sem sangue a exclui, pois a bile vem do duodeno (se houvesse sangramento duodenal, o sangue certamente apareceria). Não saindo nem sangue e nem bile, somente uma endoscopia digestiva alta será capaz de confirmar ou afastar a hemorragia alta, pois há casos de sangramento ativo duodenal associado a espasmo do piloro que não deixa passar o sangue para o estômago. Devemos lembrar que todo o paciente com hemorragia digestiva baixa deve ser submetido a exame proctológico (anoscopia) com o intuito de afastar vasos hemorroidários como sítio atual de sangramento o Se o paciente não estiver apresentando um sangramento copioso no momento, o próximo exame deverá ser a colonoscopia que deve ser feito o quanto antes (dentro de 4-12h do episódio hemorrágico), para que seja capaz de detectar o ponto sangrante. O colonoscopista deve procurar um ponto sangrante, um coágulo aderido ao orifício de um divertículo, um vaso visível ou pelo menos descobrir que o sangue vem de um segmento específico do cólon. Múltiplos coágulos em vários orifícios diverticulares não têm valor diagnóstico o A hemorragia digestiva baixa contínua de grande monta é uma indicação tradicional para a angiografia mesentérica seletiva TRATAMENTO o Controlar sinais vitais o Reposição de soro fisiológico ou Ringer em dois acessos venosos periféricos o Uma perda superior a 1.500 ml deve indicar a reposição de um concentrado de hemácias o Lembre que o hematócrito só irá refletir a perda sanguínea a partir do terceiro dia (fase da hemodiluição) o Terapia colonoscópica: lesões sangrantes ativas ou coágulos, localizados no colo do divertículo sangrante, poderão receber aplicações de adrenalina ou eletrocoagulação com dispositivos bipolares o Terapia angiográfica: naqueles indivíduoscuja arteriografia consegue localizar o sítio de sangramento, recomenda-se a infusão intra- arterial de vasopressina na dose de 0,2 U/min. Caso a perda sanguínea não seja interrompida, podemos dobrar a dose para 0,4U/min. Cerca de 90% dos pacientes terão seu sangramento interrompido temporariamente. Nestes casos, a infusão deve ser mantida por mais 24h o Colectomia segmentar: cirurgia de emergência deve ser indicada em todos os indivíduos com instabilidade hemodinâmica persistente que continuem a sangrar copiosamente DIVERTICULOSE DO DELGADO DIVERTÍCULO DE MECKEL • Os divertículos do delgado podem ocorrer em qualquer parte do seu trajeto, mas os locais LARISSA MENEZES – GASTRO mais acometidos são o duodeno e o jejuno (com a exceção do divertículo de Meckel) • Na maioria das vezes, os divertículos do delgado são assintomáticos e descobertos acidentalmente por estudos radiológicos da porção superior do trato gastrointestinal • Icterícia colestática e pancreatite, resultantes da obstrução da ampola de Vater pela parede diverticular • Divertículos jejunais múltiplos podem estar associados à síndrome disabsortiva, relacionada ao supercrescimento bacteriano pela estase no seu interior • O divertículo de Meckel é a mais frequente das anomalias congênitas do aparelho digestivo. Resulta do fechamento incompleto do saco vitelino ou onfalomesentérico • O ácido clorídrico secretado pela mucosa gástrica ectópica causa uma úlcera péptica do íleo, provocando sangramento em 25-50% dos casos. Assim, esses divertículos se manifestam com anemia ferropriva inexplicada ou com hemorragia digestiva baixa (que pode ser copiosa), ocorrendo quase sempre até os 10- 30 anos de idade. Outra complicação é a diverticulite do divertículo de Meckel cujo quadro clínico é idêntico a apendicite aguda • Outra complicação encontrada é a obstrução intestinal por intussuscepção ou volvo ileal em volta do divertículo • O diagnóstico é feito pela cintilografia do divertículo de Meckel, realizada com o 99mTc pertecnetato que se acumula na mucosa gástrica ectópica • O tratamento é indicado para os casos sintomáticos e quando o divertículo é achado ocasionalmente numa laparotomia ou laparoscopia. A conduta é a ressecção do divertículo juntamente com o segmento do íleo adjacente DIVERTICULITE • Macro ou microperfuração de um divertículo, que tanto pode ter repercussões clínicas limitadas, quanto potencialmente levar a abscesso, obstrução, formação de fístulas e peritonite • A causa provável da inflamação diverticular do cólon é, como já dito, mecânica: restos do conteúdo luminal se alojam em seu interior e endurecem, formando fecalitos que acabam comprometendo o suprimento sanguíneo da frágil parede do divertículo (composta apenas de mucosa e serosa). Surgem com isso as perfurações, que geram um processo inflamatório pericolônico, na maioria das vezes bloqueado por deflexões do peritônio (peridiverticulite) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS o Febre o Leucocitose o Dor abdominal baixa (sigmoide) que piora com defecação o Sinais de irritação peritoneal: defesa e dor a descompressão o Dor em cólica com distensão abdominal sugere obstrução intestinal (por aderências) LARISSA MENEZES – GASTRO o Dor associada à micção e à pneumatúria sugere fístula vesical o Ao exame, frequentemente pode ser palpada uma massa no quadrante inferior esquerdo. Se a diverticulite for próxima ao reto, o toque retal pode demonstrar uma massa dolorosa DIAGNÓSTICO o Endoscopia digestiva baixa para descartar carcinoma de cólon ou doença intestinal inflamatória. Porém deve ser evitada se diverculite aguda e ser realizada e ser realizada apenas 4-6 semanas após a resolução do processo inflamatório o TC é o ideal na suspeita de diverticulite: demonstra o sigmoide com paredes espessadas e revela a presença de abscessos peridiverticulares, fístulas e coleções líquidas intra-abdominais CONDUTA DIVERTICULITE NÃO COMPLICADA o Pacientes com sintomas mínimos e poucos sinais de inflamação podem ser tratados no domicílio. Uma dieta líquida sem resíduos e um esquema antibiótico oral, com espectro para bastonetes Gram-negativos e anaeróbios, é recomendado por sete a dez dias (ex.: amoxicilina + clavulanato; ciprofloxacina + metronidazol) o Doentes que exibem sinais de inflamação exuberante, com febre, leucocitose com desvio, descompressão dolorosa em flanco e fossa ilíaca esquerda e região suprapúbica merecem ser internados. Nestes, o tratamento consiste em dieta zero com repouso intestinal, hidratação venosa e antibioticoterapia parenteral. O emprego de meperidina como analgesia pode ser útil devido a seu efeito em relaxar a musculatura lisa do cólon (a morfina é contraindicada por aumentar a pressão intracolônica) o Após o primeiro episódio de diverticulite no qual não houve necessidade de tratamento cirúrgico, a grande maioria dos pacientes pode ser acompanhada clinicamente. Devemos prescrever uma dieta rica em fibras aliada a suplementos (ex.: Psyllium, metilcelulose) o Na prática, após o terceiro episódio de diverticulite não complicada, a maioria dos autores indica a ressecção eletiva do segmento intestinal mais acometido (geralmente o sigmoide), após 4 a 6 semanas de resolução da inflamação aguda CONDUTA NA DIVERTICULITE COMPLICADA o Existem quatro complicações possíveis na evolução de uma diverticulite: abscesso, obstrução, formação de fístulas e perfuração livre com peritonite generalizada o A classificação tomográfica de Hinchey estratifica o estágio evolutivo (e a gravidade) das diverticulites complicadas: ▪ Estágio I: abscesso pericólico ou mesentérico ▪ Estágio II: abscesso à distância (pelve ou retroperitôneo) ▪ Estágio III: peritonite purulenta generalizada ▪ Estágio IV: peritonite fecal generalizada o Abscessos pequenos (< 2 cm) respondem à antibioticoterapia isolada, sem necessidade de drenagem. Abscessos maiores são drenados, e a dieta zero, a antibioticoterapia e o suporte nutricional parenteral são mantidos. Após cerca de seis semanas da drenagem, um procedimento cirúrgico definitivo é realizado o Macro-perfuração livre: mais grave e requer ressuscitação volêmica, antibioticoterapia e laparotomia de urgência o Fistulas colovesicais: infecção urinaria + pneumatúria, a intervenção cirúrgica é necessária, mas não emergencial o Obstrução: acomete mais comumente o intestino o delgado, por aderências ao abscesso, e quando isso ocorre, a melhor abordagem é drenagem nasogástrica descompressiva + antibioticoterapia. A indicação cirúrgica fica reservada às obstruções totais refratárias CIRURGIAS EMPREGADAS NO TTO DA DIVERTICULITE o Em situações que nos permitam indicar uma intervenção eletiva, o procedimento de escolha é a ressecção do sigmoide com anastomose primária terminoterminal por sutura manual ou com auxílio do grampeador cirúrgico o Em caso de necessidade de ressecção em dois tempos dispomos de três modalidades: LARISSA MENEZES – GASTRO ▪ Sigmoidectomia com colostomia terminal e fístula mucosa ▪ Colostomia terminal e fechamento do coto retal (cirurgia de Hartmann) ▪ Anastomose primária com proteção desta anastomose (derivação protetora) feita através de uma ileostomia ou transversostomia
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