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Medicina e Conservação de Preguiças

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MEDICINA E CONSERVAÇÃO DE BICHOS-PREGUIÇA 
 
Os bichos-preguiça pertencem à superordem 
Nexarthra, juntamente com tamanduás e tatus 
por apresentarem uma articulação 
diferenciada, além de diversas outras 
peculiaridades como a baixa temperatura 
corporal e taxa metabólica. Atualmente 
existem seis espécies de preguiças, divididas 
em duas famílias: Megalonychidae abriga as 
preguiças-de-dois-dedos, pertencentes ao 
gênero Choloepus, enquanto a família 
Bradypodidae abriga as preguiças-de-três-
dedos, pertencentes ao gênero Bradypus. 
A preguiça-comum (Bradypus variegatus, ordem Pilosa) é encontrada desde florestas da Nicarágua 
até a Mata Atlântica, no sul do Brasil. Sua presença é comum em áreas antropizadas da Amazônia, e 
tem como principais ameaças atropelamentos, distribuições elétricas e caça para consumo humano. 
Os espécimes resgatados, frequentemente enfermos, exigem atendimento clínico de emergência. 
A medicina de preguiças é considerada um grande desafio, visto que são animais singulares em 
termos de comportamento e sinais clínicos. Apesar da aparência dócil e calma, são muito sensíveis e 
facilmente estressáveis, o que dificulta a sua manutenção em cativeiro. 
No caso das preguiças, o metabolismo lento dificulta a absorção de medicamentos intramusculares e 
subcutâneos, principalmente em casos de hipotermia ou hipoglicemia. As alternativas são os 
medicamentos tópicos, como agentes de nebulização, e intravenosos. Devido ao metabolismo 
diferenciado, costumam ficar dias sem urinar ou defecar. 
O gênero Bradypus, em repouso, mantém de 4 a 7 respirações/min, 40 a 100 batimentos 
cardíacos/min e temperatura entre 32 a 35ºC. Tais parâmetros variam com a temperatura ambiental 
e hora do dia, devido aos mecanismo de otimização da energia pela dieta pouco calórica. 
Compensações ventilatórias, com aumentos fisiológicos da frequência respiratória ocorrem durante 
a alimentação, deslocamento e/ou estresse. Medem por volta de 60 a 70 centímetros. 
 
Animais machos com mais de dois anos de idade apresentam dimorfismo 
sexual, uma mancha amarela com preta central na região dorsal 
intraescapular (espéculo dorsal), enquanto em fêmeas a coloração é 
semelhante ao resto da pelagem. Em machos da espécie B. Torquatus, 
apresentam pelos pretos longos ao redor do pescoço. 
 
Filhotes de preguiça nascem com dentição e unhas desenvolvidas, olhos 
abertos, pelagem completa e alertas. Apresentam características muito 
parecidas com as dos adultos, porém com tamanho menor. 
CONTENÇÃO: É recomendado que o manejo dos animais seja realizado em, pelo menos, duas 
pessoas. Deve-se sempre utilizar luvas descartáveis e jaleco, realizando a contenção somente 
quando todo o material que será utilizado estiver pronto, para realizá-lo o mais rápido possível. As 
garras das preguiças podem ocasionar vários ferimentos, e apesar de não ser muito comum, 
também podem morder. Vocalizações ocorrem frequentemente, podem “bufar de raiva” ou emitir 
um som agudo parecido com choro quando estressadas. Durante o exame físico, é recomendado 
que as unhas sejam fechadas e envoltas por uma atadura ou esparadrapo (com cuidado para não 
colocar diretamente no pelo do animal), de modo de que sejam imobilizadas e facilite a inspeção. 
Por possuírem audição bem desenvolvida, o 
ideal é deixar o ambiente silencioso e não 
respirar próximo ao rosto do animal. Para 
preguiças-de-dois-dedos, é recomendado a 
contenção química, pois quando estressadas 
podem apresentar sialorreia excessiva e 
secreção leitosa nas narinas e olhos, além de 
tentativas de mordeduras e vocalização. 
 
EXAME FÍSICO 
• Deve-se pesar o animal e anotar, para posteriores cálculos de medicações caso seja 
necessário, além de estimar a fase de vida do invidíduo. 
• A inspeção começa pela pelagem, procurando possíveis lesões e ectoparasitas. Rarefação 
pilosa e crostas podem indicar parasitismo, doenças fúngicas ou nutrificionais, sendo 
também importante inspecionar o pavilhão auricular. 
• As narinas e olhos devem ser sempre brilhantes. Narinas ásperas, olhos fundos e almofadas 
ressecadas podem indicar desidratação ou outras enfermidades. 
• A auscultação dos movimentos estomacais pode ser realizada pela região ventral abdominal, 
a cardíaca na região ventral torácica e a pulmonar na região dorsal torácica. O animal pode 
ser colocado de frente para uma corrente de ar para estimular a respiração. 
• Temperatura retal pode ser aferida após exposição da pseudocloaca e deve-se ter cautela na 
inserção do termômetro, garantindo a inserção no reto do indivíduo evitando possíveis 
lesões. 
 
 
 
 
Por sua seletividade alimentar (folhas com alta densidade de água e consumo de água), quadros de 
desidratação e inanição são comuns, principalmente em cativeiro, o que leva a perda de peso 
progressiva e redução de eletrólitos predispondo choque hipovolêmico, com prejuízos a oxigenação 
e óbito. 
 
 
EXAMES COMPLEMENTARES 
• Colheita de Sangue é indicada para hemogramas, hemoculturas, pesquisa de hemoparasitos 
e avaliação da função renal e hepática. Pode ser feita por punção da veia cefálica, braquial, 
jugular ou veia cava. Em caso de hemogramas, deve ser armazenado em tubo estéril 
contendo EDTA (tampa roxa) e em exames bioquímicos, armazenado em tubo seco (tampa 
amarela ou vermelha). O esfregaço sanguíneo deve ser realizado para a pesquisa de 
hemoparasitas e avaliação morfológica das células sanguíneas. Para hemocultura, o sangue 
deve ser depositado em meio específico para análise. 
• Exames Radiográficos são indicados em casos de quedas, suspeita de fraturas, aumento de 
volume abdominal ou enfermidades respiratórias. 
• Exames Ultrassonográficos são indicados para avaliação de órgãos internos em casos de 
distensão abdominal, procedimentos como cistocentese ou acompanhamento gestacional. 
Necessário realizar a tricotomia na região. 
• Exames Coproparasitológicos com fezes frescas, podendo ser colhida diretamente do solo 
evitando sujidades, ou coletas direto da ampola retal e armazenada em potes coletores. 
• Exames Parasitológicos de Pele e Pelos com raspagem de pele por lâmina de bisturi estéril. A 
amostra deve ser colocada sobre uma lâmina ou dentro de um pote coletor. No caso dos 
pelos, podem ser retirados com o auxílio de uma tesoura ou por avulsão e armazenados em 
sacos plásticos estéreis ou potes coletores. 
• Urinálise com a utilização de sonda uretral para cistocentese. 
 
INTERNAÇÃO: Preguiças que necessitam de tratamento intensivo devem ser internadas em 
ambientes tranquilos, sem sons altos ou estressantes, em um recinto ou gaiola que atenda as suas 
necessidades – como espaço e galhos para se exercitarem. O ambiente deve ser aquecido e ter 
umidade adequada. Alimentação e fonte hídrica devem estar sempre disponíveis. No caso de 
filhotes, bichos de pelúcia ou toalhas com bolsa térmica devem ser providenciados. 
 
PRINCIPAIS ENFERMIDADES 
• Pneumonia – Geralmente de origem bacteriana, pode ocorrer por condições deficientes de 
temperatura, umidade e estresse. Os animais apresentam secreção nasal e espirros, porém a 
infecção pode ser subclínica. 
• Timpanismo – Pode ser causado por estresse, baixa quantidade de fibra na dieta, 
desidratação, baixa temperatura ambiental e longos períodos de anorexia. Os principais 
sinais clínicos são anorexia, distensão da cavidade abdominal e cólicas. 
• Constipação – Pode ocorrer pela ausência de substrato adequado para defecar e urinar, 
principalmente em filhotes. Também pode ocasionar obstrução urinária. 
• Atropelamentos, fraturas ocasionadas por queda, eletrocussões, enterites, micoses, 
parasitoses e crescimento excessivo de dentes e unhas também costumam ocorrer. 
 
 
 
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO: Os medicamentos podem ser administrados via subcutânea, 
intramuscular, intravenosa, oral ou tópica, ou ainda através de nebulização. Dependendo do volume 
administrado, a via oral podeser estressante para o indivíduo e uma vez que preguiças possuem 
microbiota gastrointestinal ampla, deve-se ter cautela na utilização de antibióticos por via oral. A via 
subcutânea deve ser evitada em animais hipotérmicos e desidratados, utilizada com cautela em 
casos de grandes volumes. Por terem a musculatura pouco desenvolvida, deve-se ter cuidado no 
local da aplicação, tipo e volume de fármaco utilizado – volumes grandes podem gerar dor e alguns 
fármacos podem ocasionar necrose. Em casos de pneumonias ou enfermidades do trato 
respiratório, é recomendado a nebulização de medicamentos como anti-inflamatórios, antibióticos e 
expectorantes, com a utilização de uma máscara facial ou caixa pequena que comporte o animal. 
Para acesso intravenoso, a veia cefálica e braquial são as mais utilizadas. 
CURIOSIDADE – Alguns tipos de mariposas vivem sob os pelos das preguiças, se alimentando das 
algas que crescem sobre eles. Elas aproveitam as fezes das preguiças para depositarem seus ovos, 
onde cada espécie de preguiça tem a sua própria espécie de mariposa em um caso de coevolução. 
 
• ESTUDO DE CASO Macho de Bradypus variegatus adulto, com 2,7kgs, com histórico de criação 
domiciliar com alimentação forçada à base de banana e água misturados em liquidificador por três 
dias consecutivos. Animal apresentava ausência de tônus muscular nos membros anteriores e 
posteriores, cabeça pendular apoiada no esterno e sem capacidade de sustentação. Os parâmetros 
fisiológicos foram de 8 movimentos respiratórios/min, 90 batimentos cardíacos e temperatura retal 
de 33ºC. Observou-se também desidratação, retorno da prega cutânea acima de 3s, olhos opacos e 
fraqueza muscular – alterações indicativas de choque hipovolêmico, sem presença de hemorragia 
externa ou timpanismo. 
Realizou-se tricotomia e acesso pela veia braquial para administração de fluidoterapia por 
gotejamento – Ringer com lactato, glicose e complexo vitamínico. Gradualmente o animal foi 
demonstrando o interesse no alimento, suspendendo-se a fluidoterapia. Também foi realizada a 
nebulização com epinefrina diluída em NaCl, aplicação intramuscular de Complexo B, 
Metoclopramida, Ranitidina e Dexametasona como estimulantes metabólicos e indutores do apetite. 
No dia seguinte, foram fornecidos na boca pedaços de embaúba umedecida, e o animal aos poucos 
demonstrou interesse pela alimentação – passando a ser espontânea. 
A partir do quarto dia de internação, o espécime foi retornando ao seu comportamento natural, 
alimentando-se sozinho, defecando e urinando nos passeios, a cada 5 dias em média, escalando em 
árvores durante o dia, e dormindo durante a noite.