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CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA CURSO: GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 6º SEMESTRE PROFESSORA: LAURA MARIA CUNHA ALUNA: MARIA GRINALRIA SANTOS DA SILVA RESENHA DO LIVRO O CORTIÇO AUTOR: ALUÍSIO AZEVEDO O livro o cortiço do autor Aluísio Azevedo foi publicado na década de 1980, e bem aceita pelos críticos, esta obra é um romance naturalista que retrata a vida de moradores dos cortiços do Rio de Janeiro, apresentando as explorações em diversos âmbitos sociais e as condições precárias dessas pessoas, e se comparado aos tempos atuais percebemos que não mudou muita coisa. Mais do que empregar os princípios da ideologia naturalista, o livro apresenta práticas recorrentes no Brasil do século XIX. Na situação do início do capitalismo, o século XIX, foi marcado conforme Maricato pelo o fortalecimento da sociedade burguesa, industrial e materialista, onde também os métodos científicos e as ciências naturais começaram a evoluir. A obra conta a história de um português chamado João Romão, dono de várias propriedades, entre elas: um cortiço, uma venda deixada de herança e uma pedreira. Ele se beneficia economicamente, por meio de pessoas que viviam ali no cortiço e em seus arredores. A maioria dessas pessoas trabalhava para ele e, essas mesmas pessoas consumiam quase tudo que João Romão vendia. Ele João Romão, é natural de Portugal, e enriqueceu aqui no Brasil, ganhou muito dinheiro com muita desonestidade e também por meio de um cortiço que ele ergueu, no qual ele alugava principalmente para os funcionários de sua pedreira e algumas pessoas vindas de várias partes do país, na busca por melhoria de vida. Vizinho ao cortiço morava o comendador Miranda, um homem muito rico e respeitado socialmente, que comprou uma parte do terreno de João Romão, onde construiu um belo sobrado, Miranda era um grande concorrente invejado por João Romão, porém Miranda servia de inspiração para ele, pois ele se espelhava no comendador, com a perspectiva de adquirir poder aquisitivo e a mesma influência social. Em busca de riqueza e status, João Romão luta para casar-se com Zulmira a filha do seu rival comendador Miranda, que no qual enxerga um bom futuro no casamento dos dois, entretanto Romão tem um grande empecilho, pois vive maritalmente com uma escrava que ele ajudou a fugir, forjando um documento de alforria. Porém Bertoleza não aceita o fim do relacionamento, diante disso, Romão resolve denunciá-la para seu antigo dono, desesperada Bertoleza toma uma decisão de tirar sua própria vida, cometendo o suicídio, e assim deixando o caminho livre para Romão se casar com a filha do comendador. Essa é a história central da obra, mas também ela é composta por outras divergentes histórias, como a do português Jerônimo que até então era um homem correto, casado e trabalhador. Ele começa a trabalhar na pedreira e logo, é influenciado pelo o ambiente em que vive, começa um relacionamento extraconjugal com Rita Baiana, que também é casada. Um relacionamento doentio que trouxe prejuízos para Jerônimo, pois o tornou num assassino, tirando a vida do marido de sua amante e também o abandono de seus familiares. Entre outras histórias, o livro está repleto de personagens e dramas diferentes, como as paixões, injustiça social, os preconceitos raciais e sociais, escravidão velada, homossexualidade, adultério, prostituição e destruição familiar, como o trecho da história de Jerônimo descrita acima. O grande destaque foi à figura feminina que retrata as histórias mais marcantes da obra, pois a grande maioria delas era trabalhadoras ou colaboradoras, que viviam nesse cortiço. Uma história antiga e ao mesmo tempo tão contemporânea. Falando sobre as mulheres em 8 de março de 1970, elas ganharam um marco muito importante, quando a ONU, (Organizações das Nações Unidas) oficializou seus ensejos, direitos sociais, políticos e econômicos iguais, porém cinco décadas após essa mesma organização desperta preocupação, nesse tempo pandêmico, pois a desigualdade que acompanha a história da mulher desde sempre, ficaram mais evidentes, afetando a saúde, a renda e a segurança, dentre várias esferas, principalmente a violência doméstica. A pandemia se intensificou ainda mais, com o isolamento social, as mulheres enfrentam diversas dificuldades para manter a casa, pagar contas básicas e aluguel, isso porque muitas delas perderam seus postos de trabalho. Mas isso não afetou somente a ordem econômica, afetou também a saúde física e mental delas. Essa mudança afetou inclusive a rotina, intensificando sua jornada de trabalho. Quando as desigualdades são aplicadas em tempos de pandemia, o impacto é devastador na vida dessas mulheres, pois ainda vivemos numa realidade machista, uma lógica patriarcal. E é sobre as mulheres chefes de família ou não, que são jogadas as sobrecargas em cuidar dos filhos, trabalhar para trazer o sustento da casa, e estudar, embora em aulas remotas, isso tudo afeta o psicológico da mulher. Outro aspecto estrutural, que com o isolamento social cresceu mais ainda foi á violência de gênero, imposto pela pandemia, desde março e abril de 2020, aumentaram em 22% o número de feminicídios totalizando 26 mortes por questão de gênero. Outras desigualdades também são muito parecidas com o tempo que estamos passando, dando ênfase para a crise econômica e sanitária. O aspecto naturalista da história expõe a verdadeira situação da época, a reestruturação da sociedade brasileira que tinha o objetivo de alcançar a ordem e o progresso, e devido ao crescimento capitalista e a exploração dos trabalhadores, fortaleceu ainda mais as disparidades socioespaciais vinculados também às condições de moradias e a miséria dos trabalhadores, impossibilitando o avanço tão almejado por eles. Com a consolidação, o domínio da burguesia e a hostilização dos trabalhadores e de suas manifestações, aumentou ainda mais as desigualdades sociais. As moradias precárias, por exemplo, são acompanhadas pela ausência de infraestrutura. Para o crescimento das cidades é necessário a expansão de todo o serviço público como a distribuição de água, esgoto, energia elétrica, pavimentação, entre outros serviços. No início do século XX existiam no Rio de Janeiro e, posteriormente, em São Paulo os cortiços, habitações que abrigavam várias pessoas, os quais eram constituídos por muitos cômodos alugados. Os cortiços eram velhas mansões que se localizam próximas ao centro da cidade. Hoje, a alternativa de moradia para as pessoas carentes é a ocupação de terrenos periféricos de grandes cidades, onde o valor é baixo. Isso é provocado pelo fato dos moradores possuírem pequeno poder aquisitivo, desse modo, não podem pagar um aluguel em um bairro estruturado e muito menos adquirir uma casa ou apartamento nele. Além disso, nas grandes cidades os imóveis têm alcançado valores extremamente elevados, distantes da realidade de grande parte da população. Outro trecho que se aproxima com o texto da Maricato, é quando o cortiço pega fogo e que posteriormente ele é transformado no edifício Avenida Romão que passa a ser habitado por pessoas de poder aquisitivo maior, tendo a soberania total e acessando as melhores habitações. Naturalmente, a configuração das grandes cidades brasileiras é excludente, tendo em vista que marginaliza um grupo social desfavorecido, enquanto em algumas periferias formam-se bairros dotados de luxo, os condomínios fechados que se constituem como verdadeiros guetos. É resultado de uma nação capitalista. Nesse momento de aprofundamento das contradições capitalistas outro fator evidente é a exploração do trabalho, no trecho da obra, quando João Romão foi abordado por um de seus funcionários que reivindica melhoria no salário, inquieto com ascensão econômica de seu patrão, o funcionário não aceitava mais ser explorado. Romão por sua vez só enxergava seus próprios interesses, mentindo, enganando se necessário, fosse. São diversas as reflexões sobre qual será o futuro deste sistema, que tem na sua essência a exploração do trabalho, e ao mesmo tempo é incapaz de mantê-loestável. Outro aspecto que me chamou atenção na obra foi a super valorização do sexo, o desejo e a exploração sexual dos homens sobre as mulheres. As personagens apresentada na obra eram bastante diferentes e inusitadas, Bertoleza uma escrava que trabalhava incansavelmente, para quitar suas dívidas com o seu patrão mensalmente; tinha a Léonie uma prostituta que posteriormente num determinado momento de sua vida começa outro personagem de homossexualismo; Rita Baiana uma mulata descontraída, festeira e de vida noturna; Leocádia uma esposa adúltera; Florinda a adolescente grávida e Marciana a mãe atormentada pelo estado de gravidez da filha entre outras personagens distintas. O cortiço relata acontecimentos passados, distintos e corriqueiros do dia a dia desses moradores e, se pararmos pra pensar isso reflete na nossa realidade, onde um grupo feminino estimula e movimenta o convívio social. A obra o cortiço, descreve claramente as características, como também evidencia a exploração que existia e ainda existe na sociedade, havendo um confronto entre poder e as relações sociais, relatando sobre as distintas formas de exploração e também testemunhando a imensa falta de respeito pelo ser humano. Observei uma ambição sem limites de João Romão para a obtenção de poder, isso está além de seus princípios, tornando-o num ser humano de caráter doentio. A leitura dessa obra é tão envolvente que nos leva para dentro do cortiço, fazendo com que o leitor vivencie o clima ali, como se fizesse parte dessa história. Por fim percebi que o romance traz uma grande crítica aos movimentos abolicionistas da época, nos fazendo refletir também sobre o crescimento urbano e o nascimento de uma nova burguesia, que convivia lado a lado com a classe mais pobre, mostrando os contrastes sociais, também o retrato fiel do capitalismo emergente do século XIX e como consequência a exploração e as desigualdades contra as pessoas pobres e negras. O autor deixa claro na obra, que as desigualdades sociais foram e sempre serão permanentes, tornando-as num ciclo vicioso.
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