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1 RESUMO DE GASTROENTEROLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Exames Laboratoriais em Gastroenterologia Aula ministrada pela professora Maria da Penha Zago. Exames laboratoriais em Hepatologia Serão abordados nessa aula os seguintes: - Testes para avaliação de lesão hepatocelular (necrose hepatocelular); - Testes para avaliação do fluxo biliar e lesão de vias biliares (colestase); - Testes para avaliação da função de síntese do fígado (suficiência hepática); - Teste para estágio para cirrose. OBS.: Os testes para investigação da etiologia da doença hepática serão abordados em outras aulas. Marcadores de Necrose Hepatocelular----------------------------- Serão abordadas as aminotransferases e a desidrogenase lática. I. AMINOTRANSFERASES A aspartato aminotransferase (AST), conhecida também como transaminase glutâmico oxaloacética (TGO), catalisa a reação: aspartato + alfa-queroglutarato = glutamato + oxaloacetato. Essa enzima tem alta concentração no citoplasma e principalmente nas mitocôndrias. Está presente no fígado, músculo esqueléticos e músculo cardíaco, rins, pâncreas e eritrócitos. Pode ser portanto, indicativa de lesões em diversos sítios. OBS.: sofrimento intracelular costuma aumentar mais TGO que TGP. Valores normais: até 31 U/L (mulheres) e 37 U/L (homens). A outra transaminase é a alanina aminotransferase (ALT), conhecida também como transaminase glutâmico pirúvica (TGP), catalisa a reação: alanina + alfa-queroglutarato = glutamato + piruvato. Essa enzima é encontrada em altas concentrações apenas no citoplasma do fígado, portanto é mais sensível. Valores normais: até 31 U/L (mulheres) e 41 U/L (homens). Níveis elevados das transaminases significam necrose hepatocitária (principalmente ALT/TGP). Esses valores não têm valor prognóstico (o valor exato dessas enzimas não indica uma lesão pior/melhor ou maior/menor) e na doença avançada geralmente é normal (valores muito alterados normalmente associados a eventos agudos). II. DESIDROGENASE LÁTICA (DHL) Pode observar-se aumento em lesões hepáticas de modo geral. É útil na diferenciação entre hepatite aguda viral e lesão causada por isquemia ou paracetamol. 2 RESUMO DE GASTROENTEROLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Nas hepatites, por exemplo, é comum as transaminases se elevarem muito e a DHL não tanto, enquanto nas lesões por isquemia comumente ocorre ao contrário. Quando a ALT/TGP está acima de 5 vezes e a relação ALT/DHL é maior que 1,5, é sugestivo de hepatite viral. Valores normais: 24-480 U/L. Quando TGO e TGP se elevam em proporções parecidas, isso é sugestivo de lesão aguda de hepatócitos. Quando o valor da TGO/AST é mais de 2 vezes maior que o da ALT/TGP é indicativo de lesão hepática por álcool. Marcadores de Colestase--------------------------------------------- Serão abordadas as bilirrubinas, a fosfatase alcalina e a gamaglutamil transpeptidase (Gama GT). I. FOSFATASE ALCALINA Durante todo o trajeto de ductos biliares, desde os canalículos até a chegada ao ducto colédoco, há a produção de fosfatase alcalina. A FA pode ser encontrada em vários sítios, principalmente no fígado e nos ossos (pode aumentar em tumores ósseos e na gravidez). Quando seu aumento está relacionado ao fígado, esse aumento se dá devido a uma obstrução dos canais biliares levando a uma colestase. A colestase causa aumento da síntese e aumento da liberação de fosfatase alcalina. OBS.: colestase por causa alcóolica é uma causa intra-hepática importante. A elevação de FA em até 3 vezes é inespecífica, podendo ser causada por várias doenças hepáticas. Já uma elevação importante da FA, representando uma colestase, tem como causas lesões infiltrativas do fígado (tumores primários ou metastáticos) e obstrução biliar (intra ou extra hepática). II. GAMAGLUTAMIL TRANSPEPTIDASE (GAMA GT) Essa enzima não é encontrada nos ossos e na placenta, portanto confirma uma origem hepática de uma FA aumentada. É uma enzima microssomal, sofrendo indução pelo uso de álcool (marcador de alcoolismo e não de hepatopatia alcóolica) e drogas (anticonvulsivantes e outras). Portanto, a GAMA GT pode estar elevada sem aumento de FA. Pode ser elevada em até 10% dos indivíduos sem relação com doenças. Algumas doenças hepáticas apresentam elevação da FA sem elevação da GGT: colestase intra-hepática recorrente benigna, doença de Byler e colestase da gravidez. III. BILIRRUBINAS Com a quebra das hemácias (tempo de vida médio de 120 dias), principalmente no baço (pode ser também no osso e fígado), o grupo HEME se transforma em biliverdina e depois em bilirrubina. Essa bilirrubina não é solúvel e, portanto, é carreada no sangue ligada a uma proteína: a albumina. Essa bilirrubina é chamada de bilirrubina indireta. A bilirrubina indireta, quando aumentada, não provoca colúria, pois por ser grande não é filtrada. Isso ocorre, por exemplo, em casos de hemólise ou eritropoiese ineficiente. Pela corrente sanguínea, a bilirrubina indireta chega ao fígado, onde cai nos sinusóides e entra no hepatócito. Dentro da célula hepática, a bilirrubina é conjugada com o ácido glicurônico, vai para o retículo endoplasmático e acaba sendo excretada pelo canalículo biliar. Assim, passa por todo o caminho até o intestino e dá cor às fezes. Portanto, quando a bilirrubina direta (conjugada) não consegue alcançar o ducto biliar, há acolia fecal. 3 RESUMO DE GASTROENTEROLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Aumento de bilirrubina indireta pode ser dado por: aumento da produção de bilirrubina (hemólise, eritropoiese ineficaz, reabsorção de hematoma) e por defeitos congênitos na captação ou conjugação da bilirrubina (Síndrome de Gilbert, Síndrome de Crigher Najjar tipo I e II). Aumento de bilirrubina direta pode ser dado por: defeitos congênitos na excreção hepática (Síndrome de Rotor, Síndrome de Dubin Johnson) e por defeitos adquiridos na excreção hepática (lesão do parênquima hepático, obstrução biliar). Devido ao clearance renal da bilirrubina conjugada, o nível sérico da bilirrubina não ultrapassa os 30mg/dl, na ausência de insuficiência renal ou de hemólise. A elevação da bilirrubina tem valor prognóstico na hepatite alcóolica, cirrose biliar primária e hepatite aguda. Quanto maior (mais icterícia), maior a chance de uma hepatite fulminante. Marcadores de Síntese Hepática------------------------------------ Serão abordadas a atividade de protrombina I. ATIVIDADE DE PROTROMBINA O fígado sintetiza a maioria dos fatores e inibidores da coagulação, portanto testes que visam esses fatores e medidas relacionadas são bons marcadores da suficiência hepática. A falta de fatores de coagulação pode se dar por perda de função dos hepatócitos ou por falta de matéria prima, a vitamina K (adquirida pela dieta e absorvida juntamente à gordura). Na prática clínica, utiliza-se a determinação da atividade da protrombina. O tempo de atividade de protrombina pode ser dado em segundos (TAP), em % e em INR. EX.: Normal = 13 segundos RESULTADO: TAP = 50% | INR = 2,0 Paciente = 26 segundos O normal é um TAP de até 80% e um INR de até 1,2. II. ALBUMINA Proteína de síntese hepática, tendo uma produção diária de 10g e meia vida de 21 dias. Devido a meia vida prolongada é menos sensível que o TAP (altera-se com 2, 3 dias de alteração) na avaliação da síntese hepática em pacientes com doença aguda. Portanto, usa-se mais para doenças crônicas. Fatores extra-hepáticos que influenciam o nível sérico de albumina podem ser: estado nutricional, catabolismo proteico, perdas renais/intestinais. Classificações das doenças hepáticas------------------------------ I. CHILD-PUGH Essa classificação é utilizada para classificar com hepatopatias crônicas, tendo sido criada inicialmente para avaliação de risco cirúrgico desses pacientes. Utiliza-se2 dados clínicos e 3 laboratoriais. Mnemônico BEATA (Bilirrubina, Encefalopatia, Ascite, Tempo de Protrombina e Albumina). 4 RESUMO DE GASTROENTEROLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 Child A: Ótimo fígado. Child B: Fígado com certo grau de insuficiência. Child C: Fígado de alto risco. II. MELD/PELD Modelo matemático utilizado para alocação do paciente pelo estado de seu órgão na fila de transplante. Quanto maior a pontuação, menor a sobrevida e, portanto, prioridade na lista de transplante. Utiliza-se a creatinina sérica, bilirrubina total e INR como parâmetros. OBS.: existe um modelo chamado MELD-Na, que leva em consideração o sódio do paciente. Marcadores tumorais e outros--------------------------------------- Alfa feto proteína: é uma proteína fetal, mas aumenta em inflamações de fígado e carcinoma hepatocelular (alfa feto proteína de 300). O normal é o nível em até 10 unidades de medida. 5 RESUMO DE GASTROENTEROLOGIA JOÃO VITOR FALEIROS - 103 CA 19.9: Marcador de uma glicoproteína relacionada a mucina. Está presente em neoplasias que produzem mucina, como no câncer de pâncreas (adenocarcinoma de pâncreas e IPMN). CEA: é o antígeno carcinoembrionário. Importante pois está aumentado no câncer colorretal e é um marcador muito utilizado para o controle pós-terapêutica desse câncer. Calprotectina fecal: proteína citoplasmática do neutrófilo, presente toda vez em que há morte de neutrófilos. Sua medida nas fezes, ajuda no diagnóstico de doenças inflamatórias intestinais. Elastase fecal: enzima pancreática que auxilia no diagnóstico da insuficiência pancreática exócrina, pois não é digerida e sai em quantidade inalterada nas fezes. Caso esteja em valores baixos, pode ser sinal de insuficiência pancreática. Teste respiratório do H. Pylori: usado para controle no tratamento do H. Pylori.
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