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_______________________ ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO O Ataque Isquêmico Transitório (AIT) é um deficit neurológico focal reversível, transitório, cuja definição formal prevê uma duração máxima de 24h. De acordo com as diretrizes de 2014 da American Heart Association/American Stroke Association (AHA/ASA), o diagnóstico de AIT não depende mais da duração do déficit (24 horas). A imensa maioria dos AIT reverte dentro dos primeiros 15- 20min. A definição atual de AIT é a de déficit neurológico (encefálico, medular ou retiniano) agudo, de origem vascular, transitório, sem lesão tecidual à neuroimagem. Se surgir uma nova imagem de infarto cerebral nos exames radiológicos, mesmo que o deficit reverta por completo em < 24h, considera-se que houve AVE, e não AIT. Em geral o AIT é causado por pequenas embolias arterioarteriais a partir das carótidas ou vertebrais. Num pequeno número de casos decorre de trombose (ateroma) em evolução, ou quando do surgimento de baixo débito cardíaco (por vários motivos) em pacientes com placas de ateroma bilaterais nas carótidas obstruindo mais de 50% do lúmen. As manifestações são semelhantes às do AVE, só que transitórias. A amaurose fugaz é um subtipo de AIT no qual pequenos êmbolos se alojam transitoriamente na origem da artéria oftálmica. O ataque isquêmico transitório deve ser entendido como um sinal de AVEi iminente. O risco de AVEi é em média de 10-15% nos próximos três meses, com a maioria dos eventos acontecendo nos primeiros dois dias. Apesar de o AIT não resultar, por definição, em infarto encefálico, os mecanismos etiológicos potenciais subjacentes a essa doença são os mesmos do AVCi. Além do mais, esses pacientes têm um risco de cerca de 10% de ocorrência de AVCi nos primeiros 90 dias após o AIT. Esse risco aparenta ser maior nas primeiras 48 h, quando de um quarto a metade dos AVCi ocorrem. Uma forma de estratificar o risco de AVCi em até 2 dias após o AIT é por meio do escore ABCD2. Nesse sentido, recomenda-se a internação hospitalar do paciente com AIT que se apresente a serviços de saúde nas primeiras 72 h do evento e tenha quaisquer dos seguintes critérios: ● Escore ABCD2 ≥ 3. ● Escore ABCD2 de 0 a 2 e incerteza de que a investigação diagnóstica do mecanismo do AIT possa ser completada em menos de 2 dias em ambiente extra-hospitalar. ● Escore ABCD2 de 0 a 2 e outra evidência que indique que o evento do paciente foi provocado por AVCi, e não AIT. Em termos etiológicos, o AVCi e o AIT não são doenças homogêneas. Eles podem ser provocados por mecanismos distintos e, portanto, a definição da forma de profilaxia secundária mais adequada varia de caso a caso. Há várias formas de classificar o mecanismo etiológico de um AVCi ou um AIT. Uma das classificações mais utilizadas é o SSS-TOAST, que divide os mecanismos etiológicos dos AVCi e dos AIT em: aterosclerose de grandes artérias; embolia cardioaórtica; oclusão de pequenas artérias; outras causas; e causas indeterminadas. A internação hospitalar é preferida para que, caso os sintomas retornem, possam ser rapidamente atendidos. Os pacientes devem ser avaliados urgentemente com exames de sangue (hemograma completo, tempo de protrombina e tromboplastina parcial, taxa de hemossedimentação, teste de treponema para a sífilis, glicemia) e ECG para identificar as causas subjacentes de doença cerebrovascular, além de RM com DWI ou TC para documentar AIT ou AVC e para excluir outras causas. Pacientes com sintomas ou achados de imagem consistentes com isquemia da circulação anterior, e que sejam bons candidatos para a cirurgia, devem ser submetidos à angiografia por RM, angiotomografia ou ultrassonografia com Doppler para detectar lesões operáveis na artéria carótida extracraniana. Uma ecocardiografia deve ser realizada se houver predisposição para distúrbio cardíaco, ou quando os sintomas sugerem êmbolo cardiogênico (p. ex., AITs recorrentes com sintomas relacionados a territórios diferentes). Tratamento Medicamentoso: se baseia na prevenção do AVE isquêmico, através de medicamentos e/ou conduta intervencionista. A pressão arterial em geral não deve ser reduzida agudamente, para não haver risco de redução da perfusão de um tecido cerebral em situação de risco. Anticoagulação com heparina, administrada em infusão intravenosa contínua para obter um tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) de 1,5 a 2,5 o valor de controle, seguida por varfarina, administrada por via oral para atingir uma relação internacional normalizada (INR) de 2,0 a 3,5, ou outro anticoagulante por via oral, está indicada quando uma fonte embólica cardíaca parece ser a responsável. Tratamento antiplaquetário com ácido acetilsalicílico/dipiridamol, ácido acetilsalicílico isolado ou clopidogrel é recomendado para AITs de origem presumidamente não cardiogênica (aterotrombótico), caso não sejam encontradas outras lesões vasculares passíveis de cirurgia (ou seja, não existe lesão, estenose carotídea extracraniana de , 50 a 70%, oclusão completa da carótida, lesão intracraniana ou lesão da circulação posterior), ou quando o paciente não é candidato a endarterectomia carotídea ou implante de stent. Estatinas (p. ex., atorvastatina, 80 mg diários por via oral) também reduzem o risco de AVC e de outros eventos cardiovasculares em pacientes com AIT. _______________________ ● AIT cardioembólico: cumarínicos (warfarin) – manter INR entre 2-3. Como alternativa, pode-se lançar mão dos novos anticoagulantes orais: inibidores diretos de trombina (dabigatrana) ou inibidores diretos do fator Xa (apixabana, rivaroxabana ou edoxabana). Lembrar que os cumarínicos são preferíveis se o paciente for portador de prótese valvar, cardiopatia reumática ou trombofilia crônica; ● AIT aterotrombótico: AAS 100-300 mg/dia. Como alternativa, podese prescrever clopidogrel 75 mg/dia. A dupla antiagregação plaquetária (AAS + clopidogrel) parece ser benéfica, por curto prazo, somente na profilaxia secundária do AVEi, mas isso ainda está em fase de estudo e não é oficialmente endossado pela literatura; ● AIT ateroembólico carotídeo: AAS (ou clopidogrel) + endarterectomia carotídea (de preferência nas primeiras duas semanas do AIT), em caso de estenose entre 70-99% da carótida envolvida com o deficit neurológico. Atualmente, vários estudos estão sendo feitos para avaliar a indicação precisa da angioplastia de carótida, substituindo a endarterectomia. A angioplastia tem a vantagem de ser menos invasiva, principalmente em relação ao risco de IAM durante a cirurgia (a maioria dos pacientes também é coronariopata), e ainda tem a vantagem de manipular lesões mais cefálicas, intracranianas e, principalmente, das artérias vertebrais. AIT não é indicativo para tratamento trombolítico. Cirúrgicos: A endarterectomia da carótida (remoção cirúrgica do trombo de uma artéria carótida interna ou comum estenosada na região do pescoço) é indicada para pacientes com AITs da circulação anterior e com estenose carotídea de alto grau (70 a 99%) – e para pacientes selecionados com estenose moderada (50 a 70%) – do lado apropriado responsável por causar os sintomas. O benefício líquido da endarterectomia assume uma morbidade cirúrgica perioperatória e uma taxa de mortalidade inferior a 6%. O implante de stent na artéria carótida, envolvendo a inserção transluminal percutânea de um stent de níquel ou titânio e um dispositivo de proteção embólica, tem uma eficácia similar para a estenose de carótida extracraniana, em comparação com a endarterectomia, assumindo uma morbidade perioperatória e uma taxa de mortalidade similares. A colocação de stent está associada com um risco aumentado de AVC durante o procedimento, mas com uma redução do risco de infarto do miocárdio durante o procedimento. Considerando o efeito adverso geralmente maior do AVC que o do infarto do miocárdio sobre a qualidade de vida, a endarterectomia carotídea ainda permanece superior, embora para alguns pacientes a colocação de stent possa ser preferível (p. ex., pacientes mais jovens). A estenose intracraniana da artéria carótidaatualmente não é uma indicação de cirurgia. Para pacientes com estenose sintomática maior do que 70% da artéria carótida interna intracraniana, da artéria cerebral média, da artéria vertebral ou da artéria basilar, um tratamento medicamentoso agressivo (o uso de dois fármacos antiplaquetários e a correção dos fatores de risco cardiovasculares) é superior à colocação de stent para prevenir o AVC.
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