Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução/Definição A fundoscopia (oftalmoscopia) é o exame que permite a visualização da retina e seus componentes: vasos, disco óptico e mácula. Pode ser direta ou indireta, de acordo com a técnica e aparelhos utilizados. A oftalmoscopia direta é feita com o auxílio do oftalmoscópio direto: O oftalmoscópio portátil direto proporciona uma imagem monocular, incluindo uma visão do fundo de olho aumentada em 15 vezes. Devido à sua portabilidade e à visão detalhada do disco e da vascularização retiniana que ela promove, a oftalmoscopia direta é um exame-padrão do exame clínico geral, bem como do exame oftalmológico. A intensidade, a cor e o tamanho do ponto de luz de iluminação podem ser ajustados, bem como o ponto de foco do oftalmoscópio Esse ponto de foco é alterado por meio de um disco de lentes com graus progressiva mente mais elevados que o médico gira até o local adequado Essas lentes estão dispostas e numeradas sequencialmente de acordo com seu grau em dioptrias Em geral, as lentes convergentes (+) são designadas por números pretos e as lentes divergentes (–) são designadas por números vermelhos. Técnica para realização do exame A fundoscopia direta pode ser realizada sem dilatação pupilar quando se objetiva avaliar a papila ou disco óptico e a região macular. Contudo, o exame ideal: - É feito sob midríase medicamentosa; - Sala em penumbra por facilitar a visão de todas as estruturas e quadrantes da retina. Utilizam-se colírios midriáticos de curta duração (ex.: tropicamida 1% ou 0,5% em crianças). Antes de instilar o colírio no saco conjuntival do paciente, deve-se atentar para indivíduos com predisposição a glaucoma agudo de ângulo fechado (GAAF), analisando o ângulo irido-corneano e identificando fatores de risco para câmara anterior rasa: - Hipermetropia; - Nanoftalmo (olho pequeno); - História familiar de glaucoma agudo; - Idade avançada. Pedir para o paciente olhar em um ponto fixo no horizonte e prosseguir com o exame. O paciente deve permanecer com a cabeça imóvel, na altura do examinador e alinhada ao eixo axial. O exame de fundo de olho é otimizado quando se segura o oftalmoscópio o mais próximo possível da pupila do paciente (aproximada mente 2,5 a 5 cm) Sempre se utilizar do olho e da mão direitos para examinar o olho direito do paciente e do olho e da mão esquerdos para examinar o olho esquerdo. Ajustar o tamanho do ponto e a cor da luz iluminadora. Se pupila bem dilatada, o tamanho grande do ponto de luz promove uma área mais ampla de iluminação. Com uma pupila não-dilatada, contudo, grande parte dessa luz seria refletida de volta em direção ao olho do médico pela íris do paciente, interferindo na visão, e a pupila se contrairia. Por este motivo, o ponto de luz de menor tamanho é geral mente melhor para pupilas não-dilatadas. Anatomia do olho A transparência das estruturas oculares (córnea, humor aquoso, cristalino e vítreo) por meio das quais a luz passa até atingir a retina é pré-requisito para a realização do exame fundoscópico. O conhecimento das estruturas que serão analisadas (disco óptico, vasos retinianos, retina, mácula e coroide) é fundamental para a correta avaliação do examinador. Passo-a-passo na análise de cada componente da retina PASSO 1 - Papila: o examinador deve se aproximar pelo lado temporal, buscando o reflexo vermelho até que apareça alguma estrutura do fundo de olho. Focaliza-se a imagem. A seguir, deve-se localizar a papila ou disco óptico. Analisa-se a papila quanto à cor, forma, limite, tamanho e escavação (espaço central por onde passam as fibras nervosas e os vasos sanguíneos). O disco óptico normal geral mente tem 1,5 a 2 mm de diâmetro. PASSO 2 - Vasos: Examinar a artéria e veia central da retina que saem da papila óptica e se dividem em ramos temporal superior, nasal superior, temporal inferior e nasal inferior. Analisa-se a trajetória deles (retilínea nas artérias e ondulada nas veias), a cor, o reflexo dorsal, e a relação arteriovenosa (normal- 2:3). As veias são mais escuras e mais largas do que seus pares de artérias. PASSO 3 - Retina: Após a análise dos vasos, passamos a apreciar a retina como um todo, analisando a cor, e uniformidade. Para examinar a periferia da retina, exame bastante facilitado pela dilatação da pupila, pede-se ao paciente para olhar na direção do quadrante a ser examinado. Assim, a retina temporal do olho direito é observada quando o paciente olha para a direita, enquanto a retina superior é observada quando o paciente olha para cima. Quando o globo gira, a retina e a córnea movem-se em direções opostas. Quando o paciente olha para cima, a retina superior gira para baixo na linha de visão do médico. PASSO 4 - Mácula: O exame da mácula é feito por último, uma vez que essa região é mais sensível à luminosidade, provocando desconforto ao paciente. Para encontrá-la, pede-se ao paciente para olhar diretamente para a luz. Em indivíduos jovens, percebe-se um reflexo na região mais central (reflexo foveolar). PASSO 5 - Coroide: O epitélio pigmentar da retina impede normalmente a visão da coroide, porém em indivíduos com pouco pigmento ou idosos pode-se observar os vasos coroidais por transparência (aspecto tigroide). Fundo de olho anormal Toxoplasmose ocular: é uma das causas mais comuns de infecção ocular em nosso país. Acomete, principalmente, pacientes entre 25- 45 anos de idade e é caracterizada por recorrências que podem ocasionar redução visual severa. Os sintomas mais comuns são: moscas volantes, diminuição da visão; e dor, principalmente se a pressão intraocular estiver elevada. O diagnóstico é especificamente clínico, mas o médico pode solicitar exames complementares de sorologia sanguínea e até punção intravítrea em caso de dúvida diagnóstica. DMRI (Degeneração macular relacionada à idade): é a principal causa de cegueira em pacientes idosos e é classificada como não exsudativa (ou seja, seca) ou exsudativa (ou seja, úmida ou neovascular). As manifestações clínicas da DMRI não exsudativa variam de achados incidentais de drusas a atrofia geográfica, causando perda significativa de visão, e aproximadamente 15% dos pacientes com DMRI acabam fazendo a transição para a forma úmida. A DMRI foi categorizada pelo Age-Related Eye Disease Study (AREDS) com base em achados de exames; as categorias do AREDS são as seguintes: - Categoria 1 (sem DMRI): poucas (5-15), pequenas (<63µm) ou nenhuma drusa sem alterações de pigmento. - Categoria 2 (DMRI precoce): várias drusas pequenas, poucas drusas de tamanho intermediário (63-124 µm) e / ou alterações pigmentares em um ou ambos os olhos - Categoria 3 (DMRI intermediária): extensa, drusas de tamanho intermediário, uma drusa grande (> 125 µm) e / ou atrofia geográfica não envolvendo a mácula em um ou ambos os olhos - Categoria 4 (DMRI unilateral avançada): forma seca avançada (ou seja, atrofia geográfica envolvendo mácula) ou forma exsudativa com neovascularização coroidal em um olho - Categoria 4a: DMRI avançada em um olho com DMRI de categoria 1, 2 ou 3 no outro olho - Categoria 4b: DMRI avançada em um olho e diminuição da acuidade visual (<20/32) secundária à DMRI no outro olho; no entanto, a DMRI avançada não está presente em ambos os olhos Oclusão da veia central da retina: é a oclusão da parte final da veia da retina, localizada no nervo óptico, que drena o sangue da retina. O desenvolvimento desta doença pode estar associado a presença de fatores como: colesterol elevado, DM, HAS, tabagismo, DC, glaucoma, alterações da coagulação. Nos casos leves os pacientes cursam com desconforto visual, embaçamento, visão “torta” e até perdavisual grave por sangramento. Neste caso, o sintoma é precedido pela sensação de “teias de aranha” no campo da visão. Estas fotos do fundo mostram DMRI inicial de dois pacientes diferentes. (Imagem à esquerda) Existem várias (> 15) pequenas drusas duras na mácula direita. (Imagem à direita) Existem algumas (<15) drusas moles de tamanho intermediário predominantemente na mácula inferior esquerda. Ambos os olhos demonstram DMRI intermediária com alto risco (isto é, drusas grandes, confluentes e moles) não neovascular, degeneração macular relacionada à idade. Oclusão da artéria central da retina: é o bloqueio do fluxo sanguíneo na artéria central da retina, normalmente decorrente de embolismo. Ela provoca perda de visão súbita, indolor, unilateral e, geralmente, grave. O diagnóstico é feito por história e achados característicos da retina descobertas sob fundoscopia. É uma condição grave e urgente que deve ser diagnosticada com rapidez para evitar a cegueira. A retina fica inteiramente pálida (branca) e a região macular permanece vermelha pela visão dos vasos coroidais, alteração conhecida como mácula em cereja. Retinopatia Diabética: classicamente dividida em RD não proliferativa e proliferativa (quando há neovasos). Os microaneurismas são as primeiras alterações que aparecem e são vistos como pequenos pontos vermelhos. Na evolução da doença podem ocorrer hemorragias em ponto-borrão, exsudatos duros, exsudatos algodonosos, edema macular e neovasos, estabelecendo a doença proliferativa. Nesta fase podem ocorrer complicações temidas como a hemorragia vítrea e o descolamento tracional da retina. Retinopatia Hipertensiva: as principais alterações fundoscópicas encontradas são em nível crescente de gravidade: estreitamento arteriolar discreto, aumento do brilho arteriolar (vasos em fio de prata ou cobre) endurecimento da parede arteriolar com compressão da veia que passa por baixo nos cruzamentos arteriovenosos (cruzamentos patológicos), presença de hemorragias em chama de vela, exsudatos duros (depósitos proteicos), exsudatos algodonosos (infartos retinianos) e edema de disco óptico, quando já existe algum grau de hipertensão intracraniana. Fundo de olho de oclusão da veia central da retina. Papiledema: é o borramento dos limites do nervo óptico que ocorre devido ao aumento da pressão intracraniana e pode ser detectado por meio do exame fundoscópico na sala de emergência. Deve-se sempre avaliar o borramento do disco pela borda temporal. É frequente a presença de dilatação venosa e hemorragias em chama de vela próximas ao disco pelo retardo do retorno venoso. Vale ressaltar que o borramento do disco óptico pode ocorrer por outras condições que não a hipertensão intracraniana, sendo fundamental uma boa anamnese e um minucioso exame clínico para a interpretação dos achados. O papiledema agudo apresenta área do nervo óptico maior e limites mais borrados. Já o papiledema crônico, é menor e mais delimitado. Glaucoma: O glaucoma é uma neuropatia óptica com repercussão característica no campo visual, cujo principal fator de risco é aumento da pressão intraocular (PIO) e cujo desfecho principal é cegueira irreversível. Os valores normais situam-se entre 10-21 mmHg. Vários fatores de risco, além da PIO aumentada, já foram identificados: idade acima de 40 anos, escavação do nervo óptico aumentada, etnia (negra para o de ângulo aberto e amarela para o de fechamento angular), história familiar, ametropia (miopia para o de ângulo aberto e hipermetropia para o de fechamento angular) e pressão de perfusão ocular diminuída. Há perda da visão periférica na doença em estágio inicial e perda da visão central na doença tardia. O tipo mais comum de glaucoma (glaucoma de ângulo aberto) não costuma apresentar outros sintomas além da perda lenta da visão. O glaucoma de ângulo fechado, embora raro, é uma emergência médica e seus sintomas incluem dor ocular com náuseas e distúrbios súbitos de visão.
Compartilhar