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1 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA GASTROENTEROLOGIA – SEMANA 1 TUTORIA 1 – DOR ABDOMINAL CRÔNICA Objetivos: Estudar as principais causas de dor abdominal relacionadas ao caso (lembrar dos diagnósticos diferenciais); Entender as principais condutas ligadas ao caso. DOR ABDOMINAL O sintoma de dor abdominal é querendo ou não, desafiador, pois na maioria das vezes simboliza uma causa benigna e autolimitada, mas também pode anunciar uma patologia aguda séria. DOR AGUDA X CRÔNICA Não há um período específico que classifique o diagnóstico diferencial infalivelmente. É necessário que exista um julgamento clínico que considere se é um processo acelerado ou duradouro. DESCRIÇÃO DA DOR Localização e irradiação Causas de dor abdominal do QSE Doença Características Clínicas Esplenomegalia Dor no QSE, dor no ombro e/ ou saciedade precoce. Infarto esplênico Dor intensa do QSE. Abscesso esplênico Associado a febre e sensibilidade no QSE. Ruptura esplênica Queixa-se de dor no QSE, parede torácica esquerda ou dor no ombro esquerdo piorando com inspiração. Causas de dor abdominal epigástrica Epigástrio Características Clínicas IAM Pode estar associado falta de ar e sintomas de esforço. Pancreatite Aguda Dor epigástrica irradiando para as costas. Pancreatite Crônica Dor epigástrica irradiando para as costas. DRGE Azia, regurgitação e disfagia. Úlcera péptica Sintoma mais proeminente é a dor Gastrite/gastropatia Desconforto/dor abdominal, azia, náusea, vômito e hematêmese. Dispepsia funcional Presença de um ou mais dos seguintes itens: plenitude pós- prandial, saciedade precoce, dor epigástrica ou queimação. Gastroparesia Náusea, vômito, dor abdominal, saciedade precoce, plenitude e inchaço. Causas de dor abdominal no QSD Doença Características Clínicas Cólica biliar Pode estar no epigástrio, associado a vômitos, náuseas. Colecistite aguda Dor prolongada ou epigástrica, febre, sinal de Murphy positivo. Colangite aguda Febre, icterícia e dor. Disfunção do esfíncter de Oddi Dor semelhante a qualquer dor biliar. Hepatite aguda Dor com fadiga, mal-estar, náuseas, vômito e anorexia. Pode aparecer icterícia, urina escura e fezes de cor clara. Perihepatite Dor com componente pleurítico, dor referida no ombro direito. Abcesso hepático Febre, dor Síndrome de Budd-Chiari Febre, dor, distensão, edema, icterícia, sangramento gastrointestinal. Trombose de veia porta Dor, dispepsia ou sangramento gastrointestinal. Causas de dor abdominal inferior: apendicite, diverticulite, nefrolitíase, pielonefrite, retenção urinária aguda, cistite, colite infecciosa. Causas de dor abdominal difusa: obstrução intestinal, perfuração do trato gastrointestinal, isquemia mesentérica, DII, gastroenterite viral, peritonite bacteriana, câncer colorretal, doença celíaca, cetoacidose, constipação, diverticulose, intolerância a lactose. Descrição: localização, cronologia, gravidade, fatores agravantes e atenuantes, inicio, frequência e duração da dor, qualidade (queimação); A Aparecimento (quando iniciou?) L Localização I Irradiação C Caráter (queimação) I Intensidade A Alivio e piora FRE Frequência DU Duração SA Sintomas associados Sintomas associados: perguntar sobre náuseas, vômitos, diarreia, constipação, melena, alterações nas fezes, alteração na cor da urina e fezes, hábito intestinal, febre, calafrios, fadiga, perda de peso, anorexia, tosse, falta de ar, ortopnéia e dispneia, sede, poliúria. (PENSAR EM SISTEMA GASTROINTESTINAL, GENITO- URINÁRIO, CARDIOPULMONAR E SINTOMAS CONSTITUCIONAIS); 2 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Histórico médico passado, história familiar; Medicamentos: uso de AINES, antibióticos e corticoides; Hábitos de vida: uso de álcool, histórico de viagens, contato com doentes. EXAME FÍSICO: exame abdominal, manobras específicas e sinais vitais, exame retal, exame pélvico; DIARREIA É quando há eliminação de fezes de consistência diminuída e com aumento do número de evacuações. Como a diarreia quase nunca provém de um fator isolado, é necessário investigar a possível localização e a natureza do processo envolvido. DIARREIA AGUDA Principal etiologia é a infecciosa Diarreia aguda: <2 semanas (Até 15 dias); Diarreia persistente: 2-4 semanas (15-30dias); Diarreia crônica: >4 semanas (>30dias); Origem inflamatória: muco, pus e sangue; Origem disabsortiva: resíduos alimentares e esteatorreia; LOCALIZAÇÃO ASPECTO ALTA BAIXA VOLUME Grande Pequeno Nº DE VEZES Poucas Muitas MUCO SANGUE Ausente Pode ter GORDURA Frequente Raro LOCAL D. Mesogástrio Hipogástrio COR Clara Escura NÁUSEAS Frequente Rara Se presença de muco, pus ou sangue caracteriza-se uma síndrome disentérica que pode estar acompanhada ou não de tenesmo. OBS: tenesmo é o esforço e a sensação aguda de aperto anorretal que irradia para a bexiga, com a sensação de que sua evacuação será abundante, mas geralmente isso não ocorre, sendo apenas pequenas fezes, ou até mesmo só muco, pus ou sangue. HISTÓRIA CLINICA NA DIARRÉIA Característica da evacuação: consistência, presença de sangue, muco ou gordura, volume, número; Presença de sintomas associados: febre,náuseas, vômito e dor abdominal; Dados epidemiológicos: contato, viagens,uso de medicamentos, refeições, alimentos crus, consumo de água. Antecedentes patológico e pessoais: alergias, DM, HIV, cirurgia do TGI, intolerância, doenças pancreáticas; Se há eliminação de sangue: indica uma inflamação, infecção ou neoplasia, o que exclui uma diarreia relacionada a fatores emocionais. Se há pus e sangue: indica inflamação ou infecção, e sugere shigelose, enquanto fezes esverdeadas, no adulto, são associadas com salmonelose. TRATAMENTO DE DIARRÉIA Depende do estado de hidratação do paciente. DISPEPSIA É definida como um CONJUNTO de sintomas localizados na região superior do abdome secundário a diversas causas. Pode ter como apresentação os seguintes sintomas: Epigastralgia em queimação; Desconforto abdominal; Plenitude pós-prandial; Saciedade precoce; Distensão abdominal; Eructações; Náuseas e vômitos; EPIDEMIOLOGIA 25 A 30% da população mundial apresenta sintomas dispépticos; Discretamente mais frequente nas mulheres; Proporciona grande morbidade (diminuição da qualidade de vida). ETIOLOGIA Figura 1 - Manejo do paciente com diarreia, Ministério da Saúde. 3 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Pode ser causada tanto por transtornos orgânicos como por alterações funcionais. Em 50% dos pacientes não se encontram alterações estruturais ou bioquímicas que justifiquem os sintomas, sendo então classificados como portadores de quadros funcionais. As principais CAUSAS ORGÂNICAS são a DRGE, doença ulcerosa péptica (10%), esofagite de refluxo e neoplasias. CAUSAS DE DISPEPSIA ORGÂNICA DUP: tendo como principais fatores de risco a infecção por Helicobacter pylori e o uso de anti- inflamatórios não esteroidais (AINES + história prévia de úlcera, idade > 75 anos, uso prolongado e associado a corticóide ou anticoagulantes). DRGE: pode coexistir com a dispepsia. Possui sintomas típicos como regurgitação e pirose e os atípicos que são tosse crônica, otite e laringite de repetição. Intolerância alimentar: não foi identificado um grupo de alimentos específicos que causem a dispepsia, mas ela pode ocorrer por alguns mecanismos como: esvaziamento rápido ou retardado, distribuição do alimento no estômago, hipersensibilidade do trato a estímulos mecânicos e químicos dos alimentos, e intolerância a lactose. Neoplasias gástricas e esofágicas: o risco de neoplasia em paciente com queixas dispépticas é muito baixo (menos de 1%). RISCO AUMENTA EM PACIENTES COM: - História prévia de cirurgia gástrica; - História familiar decâncer gástrico; -Pacientes c/ infecção por H.pylori; - Homens, tabagistas e com história de etilismo significativa. SINAIS DE ALARME - Perda de peso não intencional; - Disfagia; - Odinofagia; - Anemia ferropênica não explicada; - Vômitos persistentes; - Massa palpável ou linfadenopatia; -História familiar de câncer gastrointestinal superior OBS: Estudos têm mostrado que esses fatores não seriam bons preditores da presença de neoplasia e, infelizmente, 95% das neoplasias gástricas sintomáticas já se apresentam em estádios avançados. Com isso, muitos autores defendem que o limiar para solicitação de endoscopia deveria ser mais baixo, ou seja, esse exame não deveria ser solicitado apenas quando houvesse sinais/sintomas de alarme ou idade avançada. Cada caso deve ser avaliado individualmente na prática clínica (MARTINS et al, 2016) Outras possíveis causas: infecções intestinais (parasitoses como giárdia e strongiloidíase), doenças inflamatórias, gastroparesia, pancreatite, cólica biliar, neoplasia do pâncreas, insuficiência coronariana (deve ser urgentemente descartada!!!), diabetes mellitus, doenças da tireoide, insuficiência adrenal. Medicamentos: AINES, glicocorticoides, ferro, potássio, niacina, colchicina, estrógenos, levodopa, inibidores de ECA, antibióticos (macrolídeos e metronidazol), diuréticos de alça. Doenças do sistema biliopancreático: a clínica da cólica biliar é facilmente distinguível da dispepsia, logo não é recomendado investigar colelitíase. As afecções pancreáticas podem ser facilmente confundidas com dispepsia, pois cursam com sensação de plenitude, dor epigástrica irradiada para dorso que piora com ingestão de alimentos, náuseas e vômitos. No entanto, elas cursam com dor mais intensa, anorexia, perda de peso rápida, icterícia, esteatorreia e diabetes melittus. DISPEPSIA FUNCIONAL ‘Definida, conforme o Consenso Roma III como a presença de plenitude pós-prandial e/ou sensação de saciedade precoce e/ou dor epigástrica e/ou queimação epigástrica nos últimos 3 meses, tendo os sintomas iniciado nos últimos 6 meses (no mínimo) e a não existência de nenhuma causa orgânica ou metabólica possa justificá-los.’ Possui prevalência de 11 – 24%; Mais comum em: mulheres, tabagistas, usuárias de AAS e com história prévia de gastroenterite aguda; É proposta uma classificação, mas na prática não é simples classificar, pois os sintomas se sobrepõem. DIAGNÓSTICOS - CRITÉRIOS DE ROMA IV DISPEPSIA FUNCIONAL Critérios diagnósticos: 1. Um ou mais dos seguintes: a) Plenitude pós-prandial incômoda; b) Saciedade precoce c) Dor epigástrica incômoda; d) Queimação epigástrica incômoda; + E 2. Nenhuma evidência de doença estrutural (inclusive na EDA) que possa explicar os sintomas. 4 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Síndrome do desconforto pós-prandial Critérios de diagnóstico: Deve incluir um ou ambos dos seguintes, pelo menos, 3 dias por semana: 1. Plenitude pós-prandial incômoda (suficiente para impedir e impactar nas atividades habituais) 2. Saciedade precoce incômoda (ou seja, grave o suficiente para impedir o término de uma refeição de tamanho normal) Nenhuma evidência de doença orgânica, sistêmica ou metabólica que provavelmente explique os sintomas em investigações de rotina (inclusive na endoscopia digestiva alta) Observações de suporte Dor ou queimação epigástrica pós-prandial, inchaço epigástrico, arroto excessivo e náusea também podem estar presentes; O vômito justifica a consideração de outro distúrbio; Azia não é um sintoma dispéptico, mas pode coexistir frequentemente; Os sintomas aliviados pela evacuação de fezes ou gases geralmente não devem ser considerados como parte da dispepsia; Outros sintomas digestivos individuais ou grupos de sintomas, por exemplo, da doença do refluxo gastroesofágico e da síndrome do intestino irritável podem coexistir com a SDP Síndrome da dor epigástrica Critérios diagnósticos Deve incluir pelo menos um dos seguintes sintomas pelo menos um dia por semana: 1. Dor epigástrica incômoda; 2. Queimação epigástrica incômoda; Nenhuma evidência de doença orgânica, sistêmica ou metabólica que provavelmente explique os sintomas em investigações de rotina (inclusive na endoscopia digestiva alta) Observações de suporte: Dor pode ser induzida pela ingestão de uma refeição, aliviada pela ingestão de uma refeição ou pode ocorrer durante o jejum; Inchaço epigástrico pós-prandial, arrotos e náusea também podem estar presente; O vômito persistente provavelmente sugere outro distúrbio; Azia não é um sintoma dispéptico, mas pode coexistir frequentemente; A dor não preenche os critérios de dor biliar; Os sintomas aliviados pela evacuação de fezes ou gases geralmente não devem ser considerados como parte da dispepsia; Outros sintomas digestivos (como a doença do refluxo gastroesofágico e a síndrome do intestino irritável) podem coexistir com a EPS DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS O diagnóstico diferencial de dispepsia funcional inclui outras causas orgânicas de dispepsia (DUP, gastrite, DRGE e medicamentos). Doença do refluxo gastroesofágico - Os sintomas mais comuns da doença do refluxo gastroesofágico são queimação retroesternal e regurgitação. Os sintomas de dispepsia podem coexistir com azia, mas em pacientes com dispepsia funcional, dor epigástrica e plenitude são os sintomas predominantes; Gastroparesia - A gastroparesia é menos prevalente que a dispepsia funcional, mas se sobrepõe a ela, pois o esvaziamento gástrico pode ser lento e sintomas de dispepsia ocorrem em ambos os distúrbios. Pacientes com dispepsia funcional podem ter náusea. No entanto, em pacientes com gastroparesia, vômitos, em vez de dor abdominal ou plenitude epigástrica, geralmente são os sintomas predominantes. Síndrome do intestino irritável - Mais de 60% dos pacientes com dispepsia funcional podem apresentar sintomas de síndrome do intestino irritável sobrepostos, e a sobreposição pode ser mais provável quando os sintomas de ambos os distúrbios são graves. Em vez de dor epigástrica associada à dispepsia funcional, a síndrome do intestino irritável é caracterizada por dor ou desconforto abdominal associado a uma alteração na forma ou na frequência das fezes. Em comparação com pacientes com síndrome do intestino irritável, pacientes com síndrome do intestino irritável e dispepsia funcional aumentaram o inchaço e a dor abdominal após um teste de desafio com lactose e nutrientes. FISIOPATOLOGIA Alterações na motilidade gastrintestinal: mais frequente aparecer plenitude pós-prandial, náuseas, saciedade precoce, perda de peso e vômitos. Hipersensibilidade visceral: mais comum quando há o consumo de lipídios, tendo como sintomas: sensação de plenitude, náuseas e distensão abdominal. Fatores genéticos: maior risco quando o paciente tem parentes de primeiro grau e história familiar positiva para má digestão. Helicobacter pylori: há poucas evidências que sugerem que a inflamação causada pela bactéria influencia na atividade motora proximal do estômago. (Deve-se tratar H.pylori em pacientes com dispepsia funcional) Fatores psicossociais: transtornos de ansiedade, depressivos e somatoformes, sendo os de ansiedade mais presentes. Os transtornos psiquiátricos tornam os sintomas dispépticos mais intensos. MANEJO REALIZAÇÃO DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA 5 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Indicado em pacientes com: Pacientes com >45 anos e que apresente sinais de alarme (perda de peso significativa (>5% do peso corporal habitual em 6-12meses), sangramento gastrointestinal, disfagia, odinofagia, anemia ferropenica, vômitos, massa, historia familiar de câncer) Pacientes com sintomas refratários à terapia empírica inicial; Conforme a AGA, pacientes sem sinaisde alarme, a partir dos 55 anos; (No Brasil é recomendado que seja feito em pacientes com >45 anos, devido a representatividade do CA gástrico na população). OBS: embora diretrizes anteriores tenham recomendado endoscopia superior para todos os pacientes com características de alarme, independentemente da idade, a recomendação para realizar seletivamente endoscopia superior em pacientes <60 anos se baseia em evidências de que as características individuais de alarme têm baixo valor preditivo positivo para uma neoplasia do trato gastrointestinal superior. TESTE PARA HELICOBACTER PYLORI Pacientes com dispepsia funcional devem ser testados (TESTE RESPIRATÓRIO DE URÉIA OU TESTE DE ANTÍGENO FECAL) e tratados para Helicobacter pylori. > Realizar teste com ureia marcada, sendo padrão ouro para diagnóstico e controle, com sensibilidade 95%. > Se não estiver disponível, o teste de antígeno fecal é o método invasivo de escolha para diagnóstico e controle. > Se nenhum estiver disponível ou o paciente for do grupo de indicação para EDA, coletar, no mínimo, uma amostra de antro e uma de corpo, que serão submetidas ao teste da urease ou exame histopatológico. Tratamos pacientes com dispepsia funcional com resultado negativo para H. pylori e aqueles com sintomas persistentes quatro semanas após a erradicação do H. pylori com um IBP. No entanto, aproximadamente 90% dos pacientes continuarão apresentando sintomas, apesar da terapia com IBP e exigir tratamento adicional. Em pacientes cujos sintomas não melhoram após oito semanas de terapia com IBP, iniciamos um estudo terapêutico com um antidepressivo tricíclico. Dados os efeitos colaterais associados à procinéticos e a evidência limitada de eficácia, reservamos o uso de procinéticos para pacientes que falham com antidepressivos tricíclicos. ABORDAGEM INTEGRADA Dieta + mudanças de comportamento + intervenções psicológicas + drogas. DIETA Evitar refeições gordurosas; Fracionar as dietas em mais frequentes e menores; Alimentos específicos, que o paciente identifica que desencadeiam os sintomas devem ser evitados; Ficar atento a possíveis intolerância a leite e seus derivados. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Terapia com supressão ácida Antiácidos, bloqueadores H2 e IBP. Não há evidências significativas da eficácia dos antiácidos. Devem ser utilizados na persistência de sintomas após tto de HP, se persistir novamente após 4 a 8s, deve-se trocar a classe ou aumentar a dose (terapia step-up). Procinéticos Metoclopramida, domperidona e bromoprida, são usados comumente na dispepsia funcional, indicados, principalmente, na dispepsia do tipo desconforto pós- prandial. No entanto, os resultados estão abaixo do esperado. Antidepressivos Alguns estudos mostraram benefício de doses baixas de antidepressivos tricíclicos (amitriptilina e imipramina) e inibidores de recaptação da serotonina (Fluoxetina). Agem reduzindo ou aliviando fatores psicológicos e mentais que podem induzir os sintomas e ajudam na recuperação da função gastrintestinal. Devem ser utilizados se os sintomas não melhorarem após uso de IBP por 8 semanas. É indicado manter droga por 6 meses, se melhora dos sintomas, e depois tentar interrupção. Agentes antinociceptivos Ainda faltam evidências dos benefícios desse grupo de drogas na dispepsia funcional (possivelmente agem aumentando o limiar de dor). Alguns antinociceptivos disponíveis são carbamazepina, tramadol ou pregabalina. Tais medicações podem ser consideradas em pacientes que seguem refratários a agentes procinéticos ou naqueles que não os toleram. INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS Parecem ser sensatos. Porém, mais estudos clínicos devem ser realizados para identificar 6 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA melhor o papel de intervenções psicológicas na dispepsia funcional. Pode-se utilizar de psicoterapia, psicodrama, terapia cognitiva, técnicas de relaxamento e hipnose. Eficácia em curto prazo. GASTRITES Poucos são os termos na gastroenterologia que causam tanta confusão e controvérsia como “gastrite”, que, devido a ampla disseminação, deixou de ser uma afecção para se tornar um sintoma (inadequadamente utilizado para definir sintomas digestivos como “estufamento, sensação de peso no estômago, mal- estar indefinido no estômago relacionado a refeição, eructações e queimação pós-prandial) no senso comum, o que hoje, é conhecido como síndrome dispéptica. A maioria das gastrites identificadas são totalmente assintomáticas. O QUE É GASTRITE? Gastrite significa lesão epitelial gástrica na presença de inflamação associada à regeneração da mucosa identificada pelo exame histológico da mucosa gástrica obtida por biópsia do estômago por meio de exame endoscópico ou pelo exame do estômago ressecado. (Não sendo o conceito usado pelo paciente, endoscopista e do próprio clínico). GASTROPATIA X GASTRITE Gastropatia – denomina-se quando o dano e regeneração das células epiteliais possui inflamação mínima ou inexistente. Gastrite – termo usado para denotar inflamação associada à lesão da mucosa gástrica. Gastropatia Gastropatia reativa (química) - Refluxo biliar, álcool, AINES, sais de ferro e outros agentes; Gastropatia vascular - Gastropatia hipertensiva portal e ectasia vascular antral gástrica; Gastropatia isquêmica - Cocaína, hipovolemia, sepse, queimaduras, traumas, prolapso da mucosa. Gastrite Gastrite infecciosa - H.pylori , outras bactérias, viral, parasítica e fúngica. Gastrite auto-imune Doença granulomatosa - doença de Crohn e sarcoidose; Etiologia incerta - Gastrite linfocítica, colágena e eosinofílica. GASTRITE AGUDA Lesões bacterianas e virais são as causas mais frequentes de agressão ao estômago. Sendo os estafilococos, shigellas e salmonelas as gastroenterocolites agudas (infecções alimentares). Gastrite aguda por H.pylori é uma situação raramente descrita, pois, em geral, a infecção é adquirida na infância, mas passa despercebida, sem sintomas na fase aguda. Giardíase e estrongiloidíase em suas fases iniciais ocasionam gastrite aguda e, por vezes, são responsáveis por uma gastroduodenite que pode mimetizar o sintomas de uma úlcera (flatulência, dores abdominais variadas, com diminuição da consistência das fezes); Infecções fúngicas ocorrem mais em pacientes imunossuprimidos, principalmente por Cândida albicans, CMV e herpes-vírus; PENSAR EM INFECÇÃO POR BACTÉRIA: vômitos, diarreia e febre. PENSAR EM INFECÇÃO POR VÍRUS: náuseas e repugnância ao alimento. LESÕESHEMORRÁGICAS O estresse agudo intenso (grandes cirurgias, queimaduras graves, fraturas múltiplas) pode provocar erosões e úlceras agudas na mucosa gástrica, que ocasiona hemorragia digestiva alta. A endoscopia de urgência é indicada para diagnóstico e tratamento das lesões sangrantes. Deve-se instituir, desde o início do quadro, tratamento com IBP, por via endovenosa. Essas lesões são também denominadas úlceras de estresse, úlceras de Cushing (quando associadas a traumatismo craniano) e de Curling (quando decorrentes de queimaduras extensas), ou lesão aguda da mucosa gastroduodenal. LESÕES QUÍMICAS Uso abusivo de etanol é uma das causas mais frequentes de gastrite aguda. São lesões da mucosa autolimitadas (normaliza de 7-10 dias) LESÕES MEDICAMENTOSAS AINES e AAS são os agentes responsáveis pelo maior número de gastrite aguda. As lesões agudas resolvem espontaneamente, em poucos dias, após suspensão do agente agressor. São lesões, em maioria, superficiais. 7 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA O problema é quando a ação agressiva do AINE supera os mecanismos protetores. Figura 2 MECANISMOS: quando o AINE inibe COX-2 e COX-1, inibe o COX-1 que produz PGE1 que agem fortalecendo integridade da mucosa gastrointestinal. Com a perda da produção de PGE1, o ácido e a pepsinapodem atingir mais facilmente a superfície epitelial. Existem pacientes que possuem fatores de risco para lesão gástrica por AINE, logo, necessitam associar uma terapia profilática com análogos de prostaglandinas e IBP. É sempre importante rever a real necessidade da utilização dos AINE e, se possível, substituí-los. Fatores de risco: Idade > 60 anos; História pregressa de úlcera; TTO concomitante com corticosteróides; TTO de AINE com alta dose; TTO concomitante com mais de um AINE; Uso de anticoagulantes. O uso temporário e ocasional de AINE em indivíduos sem fatores de risco para lesões gastroduodenais associadas não determina necessidade de medida profiláticas. GASTRITE CRÔNICA É conceituada como uma entidade essencialmente histológica, caracterizada por infiltrado inflamatório mononuclear, com ou sem polimorfonucleares, podendo acometer tanto antro como corpo, ou ambas. !!!O exame histológico da mucosa gástrica é obrigatório para o diagnóstico das gastrites !!! GASTRITE CRÔNICA ASSOCIADA A H.PYLORI Helicobacter pylori é responsável por mais de 95% das gastrites crônicas, acometendo mais de 50% da população mundial, sendo uma bactéria espiralada, gram-negativa, que coloniza a camada de muco que reveste a mucosa do estômago. A gastrite crônica causada por HP acompanha cerca de 70% dos casos de úlcera gástrica e mais de 90% dos casos de úlcera duodenal. Os fatores de virulência vão depender da ilha de patogenicidade e os componentes bacterianos que podem variar de paciente para paciente. Pacientes com gastrite crônica por H. pylori podem apresentar complicações da úlcera péptica ou complicações gastroduodenais de infecção crônica, incluindo atrofia gástrica, metaplasia intestinal, câncer gástrico e linfoma do tecido linfoide associado à mucosa (MALT). Também foi associada a anemia por deficiência de ferro (devido atrofia gástrica e hipocloridria), púrpura trombocitopênica idiopática (plaquetas), deficiência de vitamina B12 (hipocloridria). Após o processo agudo, a evolução vai depender do padrão de gastrite causado pela infecção: Gastrite antral: mantém capacidade de produzir ácido e poderão ter risco aumentado de úlcera duodenal. Gastrite no corpo: a secreção ácida está reduzida, devido a destruição da mucosa oxíntica, diminuindo a probabilidade de úlcera, mas resultando na atrofia da mucosa, o que predispõe a câncer gástrico (+++ se tabagismo, álcool ou história familiar de CA de estômago). Por essa capacidade, a H.Pylori foi classificada pela OMS como carcinógeno do tipo I. CARACTERÍSTICAS ENDOSCÓPICAS A aparência endoscópica é normal em até 50% dos pacientes com gastrite crônica por H. pylori. Outros pacientes podem ter características endoscópicas inespecíficas, incluindo eritema da mucosa, mucosa gástrica friável e nodularidade antral difusa. 8 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA HISTOPATOLOGIA A histopatologia desempenha um papel importante no diagnóstico da infecção por H. pylori , estabelecendo a presença, gravidade e extensão da gastrite e detectando complicações associadas à infecção por H. pylori (por exemplo, metaplasia intestinal, linfoma MALT e carcinoma gástrico). O H. pylori é quase sempre acompanhado por gastrite e o diagnóstico de H. pylori deve ser suspeito na sua ausência. O sistema de Sydney atualizado recomenda que amostras de biópsia sejam coletadas em cinco locais diferentes para avaliação ideal do status da gastrite e do H. pylori : menor e maior curvatura do antro, menor e maior curvatura do corpo e incisura angular (AUMENTA ESPECIFICIDADE DO DIAGNÓSTICO). GASTRITE AUTOIMUNE Acomete principalmente o corpo e fundo gástricos, raramente compromete o antro, logo, caracteriza-se pela atrofia da mucosa. Doença autossômica dominante, induzida por anticorpos de anticélula parietal e antifator intrínseco e de ácido. Baixa absorção de vit. B12 (leva ao aparecimento de anemia perniciosa). Diagnóstico: dados clínicos + manifestações de anemia perniciosa + EDA com biópsia + pesquisa de anticorpo de anti célula parietal. Tratamento: Gastrite crônica autoimmune: não tem tratamento específico, apenas deve-se repor B12 e/ou ferro por toda a vida; GASTRITE GRANULOMATOSA Pode ser causada por doença de Crohn, sarcoidose, TB, sífilis, micoses idiopáticas. É rara, há infiltrado inflamatório focal, sem ou com formação de granulomas, com a presença de eosinófilos e macrófagos. Pode ser assintomática e o diagnóstico é dado por EDA ou radiológico do estômago, em pacientes com suspeita de doença de Crohn. GASTRITE EOSINOFÍLICA Rara e de etiologia desconhecida; Caracterizada por infiltrado eosinofílico na parede do estômago. Pode acometer camada muscular, camada serosa ou todas as camadas. Nas formas de acometimento mucoso, o antro é mais frequentemente acometido, produzindo ulcerações, nodosidades e pregas mucosas salientes; o acometimento muscular pode provocar estreitamento da luz gástrica, e a infiltração da serosa, peritonite e ascite. Sintomas mais comuns: dor epigástrica, saciedade precoce, desconforto pós-prandial, náuseas, vômitos e sintomas decorrentes de anemia, por perda crônica de sangue. Os exames radiológico e endoscópico podem revelar presença de pregas salientes, especialmente no antro, irregularidades da mucosa, ulceração e estreitamento da luz do estômago. Diagnóstico: o diagnóstico definitivo é feito por biópsia endoscópica e eosinofilia periférica e é confirmado pela presença de acometimento do intestino delgado, configurando com frequência o quadro de gastroenterite eosinofílica. Tratamento: Gastrite eosinofílica responde à corticoterapia; GASTRITE LINFOCÍTICA (G.VARIOLIFORME) Rara, caracterizada pela presença de múltiplas nodulações com erosões centrais e hiperemia circunjacente. Sintomas são intermitentes: epigastralgia do tipo úlcera, dor abdominal, náuseas, vômitos, perda de peso e sangramento oculto ou ativo. Diagnóstico: histologia revela linfócito aumentados. Tratamento: Gastrite linfocítica não tem terapêutica específica eficaz, podemos tentar utilizar antagonistas do receptor H2 e corticosteróides. TRATAMENTO Por a maioria das gastrites serem totalmente assintomáticas, só são considerados tratamento para pacientes com dispepsia aguda ou sangramento sugestivo de gastrite. Condutas: Quando sintomático, suspender agentes causais como álcool, medicamentos (AINE); Na impossibilidade de suspender AINE, introduzir um IBP, uma vez ao dia, em dose plena e avaliar possibilidade de trocar o AINE por um coxibe; Paciente H.pylori positivos, erradicar a bactéria; Gastrites infecciosas, associar tratamento do agente causal; DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA As úlceras pépticas são soluções de continuidade da mucosa gastrintestinal secundárias ao efeito cáustico do ácido clorídrico (HCL) e da pepsina, podendo atingir todas as camadas de tecido. 9 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Apesar da possibilidade de acontecimento da úlcera em qualquer parte do trato que seja sujeita a secreção cloridropéptica, geralmente elas acontecem mais no estômago e duodeno. Etiologia das DUP CAUSAS COMUNS Infecções por H.pylori; Uso de anti-inflamatórios; CAUSAS INCOMUNS Gastrinoma (síndrome de Zollinger-ellison); Mastocitose sistêmicas; Hiperparatireoide; Doenças granulomatosas; Neoplasias; Infecções; Tecido pancreático ectópico; Idiopática. EPIDEMIOLOGIA A prevalência da úlcera péptica vem reduzindo devido a melhora dos padrões de higiene (menos infecção pelo H.pylori) e de condições sanitárias. As taxas de complicações tem aumentado na população idosa, principalmente relacionado ao aumento de uso de AINES. DUP é a causa mais comum de Hemorragia Digestiva alta. O antro gástrico (maioria na pequena curvatura) é a localização mais frequenteda úlcera péptica do estômago. o Ela ocorre em epitélio gástrico não secretor de ácido e geralmente próxima à transição para o epitélio secretor localizado no corpo do estômago, o que sugere maior suscetibilidade do primeiro ao aparecimento de ulcerações pépticas. Todavia, a úlcera duodenal é a forma predominante de úlcera péptica e localiza-se, em 95% dos casos, na primeira porção do duodeno (bulbo duodenal). FATORES DE RISCO Tabagismo; Álcool; Fatores genéticos; Fatores psicológicos e dietas (ainda em estudo). ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Úlceras gástricas - hiposecreção ou normal secreção. Úlceras duodenais - hipersecreção (como a inflamação se restringe a região do antro - que derrama ácido para o bulbo duodenal- o corpo gástrico se mantém intacto, ou seja, vai continuar produzindo ácido normalmente e até mesmo aumentado em decorrência da ação da bactéria no antro) Sabe-se que o equilíbrio entre fatores agressivos e defensivos, quando rompido, favorecia a formação da úlcera. Isso porque a mucosa gastrintestinal está em constante renovação. Só se considera úlcera quando ultrapassa a camada muscular da mucosa. ÚLCERA DUODENAL E FATORES AGRESSIVOS FATORES AGRESSIVOS -HCL, GASTRNA E PEPSINA O aumento da secreção ácida em úlceras duodenais pode ser explicada por: Aumento da população de células parietais; Maior sensibilidade da célula parietal (ela se torna 3x mais sensível a gastrina; Menor sensibilidade das células G (produtoras de gastrina) aos fatores inibitórios (queda do pH, células D - somatostatina); Produção prolongada de HCL e rápido esvaziamento gástrico, o que leva a uma produção de ácido mais prolongada e mais rápida exposição da mucosa a este. Alimentação (estimula gastrina, o que exacerba a secreção de ácido e os sintomas), uso de medicamentos, hábito de fumar, estado emocional; Todos esses mecanismos vão levar a uma constante exposição do bulbo duodenal, o que faz com que haja mais metaplasia gástrica (simula o estômago) nessa região, originando a úlcera. A H.Pylori coloniza essa áreas de metaplasia, favorecendo a ação acidopéptica. Além disso ele atua diminuindo prostaglandinas (estimula a prod. de muco e de bicarbonato pelas células epiteliais, fluxo sanguíneo da mucosa e a capacidade de replicação do epitélio) e o fator de crescimento epitelial (essencial na reparação da mucosa) e aumenta a produção dos fatores agressivos. Ainda, a suscetibilidade a formação da úlcera se dá pela variação de secreção ácida de pessoa pra pessoa e pelo fator genético que indica maior ou menor produção de células parietais, bem como maior ou menor sensibilidade dessas células aos mecanismos inibitórios. HELICOBACTER PYLORI E ÚLCERA PÉPTICA A H.Pylori é importante na gênese da úlcera tanto pela inflamação da mucosa causada pela sua presença, quanto pela alteração nos mecanismos de produção de ácido. 90-95% dos pacientes com úlcera duodenal estão infectados pela H.pylori. 10 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA HP + Fatores genéticos -> maior produção de HCL -> Mais HCL é ofertado ao bulbo -> estabelece metaplasia gástrica no bulbo -> áreas metaplásicas são colonizadas pelo HP -> inflamação e menor vitalidade da mucosa + o aumento de HCL também leva a aumento de digestão das áreas metaplásicas -> ÚLCERA DUODENAL Alguns cientistas acreditam que muitos mais importante do que o ácido, é a bactéria (a variedade da cepa infectante), as citoquinas inflamatórias e a resposta do hospedeiro determinam o tipo da doença que o hospedeiro irá apresentar. Ações da H.pylori: Diminui somatostatina (células D) devido a produção de amônia pela HP; Cepas cagA estimulam maior produção de gástrica. ÚLCERA GÁSTRICA 60-70% dos pacientes com úlcera gástrica estão infectados por H.pylori (menor proporção do que as com úlcera duodenal). Na maioria dessas úlceras observa-se uma pangastrite com diminuição da massa de células parietais (diminuindo a produção ácida). Gênese da úlcera: fragilidade da mucosa (inflamação pro HP) + comprometimento do muco (HP diminui PGE1 e altera a qualidade do muco) + alteração da microcirculação (HP diminui PGE1) + diminuição da capacidade de regeneração da mucosa (HP diminui fator de crescimento epitelial). OBS: Pacientes com úlcera gástrica devem ser SEMPRE biopsiado, independente da cicatrização da úlcera. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ASSINTOMÁTICOS Aproximadamente 70% das úlceras pépticas são assintomáticas. Pacientes com úlcera péptica silenciosa podem apresentar complicações relacionadas à úlcera, como hemorragia ou perfuração. Adultos mais velhos e indivíduos em uso de anti-inflamatórios não-esteróides têm maior probabilidade de serem assintomáticos em suas úlceras e mais tarde apresentarem complicações ulcerosas. SINTOMÁTICOS Existe um padrão típico da dor abdominal na doença ulcerosa péptica que é DOR EPIGÁSTRICA EM QUEIMAÇÃO. SINTOMAS DE ÚLCERA DUODENAL Dor ocorre 2-3 horas após a refeição; Alivia com a ingestão de nova alimentação; Alivia com uso de antiácido; Pode despertar à noite; Hiperfagia; Ganho ponderal; Pode ter um caráter periódico. SINTOMAS DE ÚLCERA GÁSTRICA Pode não apresentar melhora com a alimentação ou com uso de antiácido. Perda de peso; Também pode ocorrer o despertar noturno com a dor (padrão circadiano de secreção ácida atinge o pico). SINTOMAS DE ÚLCERA COMPLICADA Melena; Hematêmese; Náuseas e vômitos; Distensão abdominal; Sinais de peritonismo; Instabilidade hemodinâmica. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Neoplasias, pancreatites, colecistites, doença de Crohn e insuficiência vascular mesentéricas são doenças que possuem sintomatologia semelhante a DUP, o que faz com que seja insuficiente apenas anamnese e exame físico para confirmar o diagnóstico de doença ulcerosa péptica. DIAGNÓSTICO SUSPEITAR QUANDO: Pacientes com dispepsia + uso de AINE; Dispepsia e histórico de infecção por H.pylori; 11 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA DIAGNÓSTICO DEFINITIVO Atráves da visualização direta da úlcera na ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA. INDICAÇÃO PARA BIÓPSIA DE ÚLCERA Toda ÚLCERA GÁSTRICA deve ser biopsiada!!! Recursos endoscópicos que sugerem uma úlcera maligna incluem: Massa ulcerada que se projeta para o lumen; Dobras ao redor da cratera da úlcera que são nodulares, batidas, fundidas ou param antes da margem da ulceras; Margens da úlcera salientes, irregulars ou espassadas. DIAGNÓSTICO ENDOSCÓPICO A- Activa; H- melHorando; S- Scicatrizada; É recomendado que seja realizado uma nova EDA após 6 semanas de tratamento da lesão gástrica para avaliar cicatrização e tomar novas decisões terapêuticas: Se a redução do tamanho da úlcera for >50%: deve-se prolongar o prazo do tratamento com a mesma droga, fazendo uma nova avaliação ao final. Se a redução for <50%: deve-se instituir novos tratamentos por mais 45 dias, podendo ser considerada uma cirurgia (mas é menos frequente essa consideração). > Importante considerar a realização de nova biópsia caso haja uma cicatriz de úlcera não vista anteriormente, pois alguns antissecretores podem cicatrizar lesões malignas, assim como novas úlceras e depressão hiperêmica. DIAGNOSTICAR H.PYLORI Cuidado em pacientes que já receberam tratamento com IBP, bismuto ou antibióticos, pois podem suprimir o H.pylori e simular um falso-negativo. > MÉTODOS INVASIVOS: EDA acompanhada de biópsia gástrica (é recomendado coletar pelo menos uma amostra do antro e do corpo para análise do teste da urease e/ ou análise histológica seguindo o sistema Sydney atualizado) > MÉTODOS NÃO INVASIVOS: *podem ser utilizados para confirmar negatividade de HP, após tto, por exemplo. Teste respiratório de atividade da urease: - Pode indicar cura 4 a 8 semanasapós terapia antibiótica. - Técnica: paciente ingere ureia marcada com carbono, se a bactéria estiver presente ela transforma ureia em amônia e CO2 marcado, podendo ser identificado no ar expirado 30 minutos mais tarde em um balão de coleta. Pesquisa do antígeno fecal: identifica antígenos de HP nas fezes do paciente. É conveniente para pesquisa de HP em pacientes pediátricos, com alto custo, não muito utilizado no Brasil. Teste sorológico: pode ser utilizado como teste rápido, no qual, quem está contaminado pela bactéria tem IgG aumentado (não significa necessariamente uma infecção ativa, pois os níveis de anticorpos decrescem lentamente, logo, não deve ser usado em pessoas que necessitam de tratamento imediato). Está fortemente indicado a verificação de negatividade (teste de controle) da infecção por H. pylori em pacientes com: 12 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Doença ulcerosa péptica complicada (hemorragia, perfuração ou obstrução); Úlcera recorrente; Úlcera refratária; Linfoma MALT; Câncer gástrico precoce ressecado; *3º Consenso Brasileiro sobre Helicobacter pylori recomenda realizar o teste respiratório no mínimo 4 semanas após fim do tto. Em casos de realizar EDA para o objetivo de teste de controle, fazer biópsia para aplicar em testes combinados (mais de um: histologia, teste da urease e cultura), diminuindo a chance de um possível falso-negativo. IVENSTIGAR USO DE AINE Anamnese; Se existir suspeita de uso de AINE não confessado pelo paciente, é possível solicitar o nível sérico do salicilatos ou a atividade da cicloxigenase das plaquetas. (pouco utilizado). SUSPEITA DE GASTRINOMA Suspeita-se quando o paciente possui múltiplas úlceras, refratárias, recorrentes ou localizadas em segunda porção duodenal e não associadas a H.pylori ou AINE. O teste mais sensível é a demonstração de gastrina sérica elevada (POSITIVO: >1.000pg/mL); + Se positivo, realizar teste de secreção gástrica (POSITIVO = CONFIRMA DIAGNÓSTICO). Paciente com quadro compatível, mas com laboratório “normal”, realizar o teste da secretina. TTO: localização e ressecção do tumor. TRATAMENTO Objetivo: alívio dos sintomas + cicatrização das lesões + prevenção de recidivas + evitar complicações. 2 conjuntos de medicações: 1. Pró-secretores: estimula componentes que mantêm a integridade da mucosa gastroduodenal. De modo geral, apesar da eficácia, são pouco utilizados. 1. Antiácidos: neutralizam o conteúdo gástrico, liberando PG endógenas, promovendo cicatrização da úlcera. 2. Sucralfato: forma uma película protetora sobre a base da úlcera, absorvendo pepsina e sais biliares. DOSE: 1g, 4x ao dia, antes da refeição. 3. Sais de bismuto coloidal: mais utilizado é o subcitrato de bismuto, em comprimido contento 120 mg, devendo ser administrado 4x, 30 a 60 minutos antes das principais refeições e à noite. 4. Prostaglandinas (PG): não muito utilizado mais devido ao efeito abortivo de misoprostol. 2. Antissecretores: diminuem a ação cloridropéptica. São os medicamentos de escolha para cicatrização das úlceras. Antagonista do receptor de histamina (H2): cimetidina 800 mg, ranitidina 300mg, famotidina 40mg e ranitidina 300mg, agem bloqueando 70% da secreção ácida estimulada, sendo administradas em dose única matinal ou noturna. Inibidores de bomba de prótons (IBP): omeprazol 20mg, rabeprazol 20 mg, lansoprazol 30 mg, pantoprazol 40mg e esomeprazol 40mg, mais eficazes que os antagonistas H2, sendo administrados pela manhã em jejum, observando cicatrização em torno de 4 semanas de tratamento. TRATAMENTO DE HELICOBACTER PYLORI Úlcera não complicada - Em pacientes com úlceras não complicadas, o IBP administrado por 14 dias, juntamente com o regime antibiótico para tratar H. PYLORI. Não é necessária terapia antissecretora adicional na ausência de sintomas persistentes ou recorrentes após a terapia ou outras indicações para terapia antissecretora de manutenção. Úlcera complicada - Todos os pacientes com úlcera péptica complicada (úlceras com sangramento, perfuração, penetração ou obstrução da saída gástrica) devem receber inicialmente terapia supressora de ácido com um IBP intravenoso. Uma vez que os pacientes toleram medicamentos orais, eles devem ser trocados para um IBP oral em alta dose duas vezes ao dia para melhorar a cicatrização (por exemplo, omeprazol 40 mg duas vezes ao dia). Dura de 4 a 12 semanas. https://www.uptodate.com/contents/omeprazole-drug-information?search=Dyspepsia&topicRef=25&source=see_link 13 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA *Esquemas sugeridos pelo 3º Congresso Brasileiro sobre H.pylori em 2012. O 3º Consenso Brasileiro sobre H. pylori também defende que, nos quadros dispépticos, o “test and treat” seja feito apenas para os pacientes com menos de 35 anos, sem sinais de alarme nem história familiar de cancer gastrico. TRATAMENDO DE ÚLCERA INDUZIDA POR AINE O melhor tratamento é a PROFILAXIA. Em pacientes em uso de AINE considerados de alto risco, deve-se instituir uma terapia profilática, mesmo que em uso de seletivos COX-2. PESQUISAR E TRATAR HP EM: Pacientes que iniciarão tratamento contínuo com AINE; Pacientes de risco já em uso ou que iniciarão tratamento com AINE; RISCOS PARA DESENVOLVER LESÕES: História prévia de úlcera péptica; Idade > 60 anos; Associação de AINE com anticoagulante, AAS ou corticosteroides. UTILIZAR IBP PROFILÁTICO: Pacientes de risco, independente do status H.pylori ÚLCERA NÃO ASSOCIADA A AINE OU A H.PYLORI Terapia inicial com IBP por 4 semanas para úlceras duodenais não complicadas e oito semanas para úlceras gástricas ou qualquer úlcera complicada. MANTER TERAPIA ANTISSECRETÓRIA EM: Úlcera peptica gigante (>2cm) e idade >50 anos ou múltiplas comorbidades; H.pylori negativo e AINE negativo; Falha na erradicação do H.pylori (incluindo terapia de resgate); Úlceras pépticas recorrentes (> 2 recorrências por ano); Uso continuo de AINE. ÚLCERA REFRATÁRIA Fatores de risco e não aderência ao tratamento? - investigar tabagismo, alcoolismo, estresse, AINE, AAS. Infecção persistente pelo HP? - avaliar resistência ao antibiótico, terapia quádrupla, terapia guiada por cultura. Úlcera não relacionada a HP? - investigar hipersecreção idiopática, predisposição genética, síndrome de Zollinger-Ellison, Falso- negativo para H.pylori. COMPLICAÇÕES DE DUP FATORES DE RISCO Infecção por H.pylori; Uso de AINE - Risco específico de medicamentos e doses; - Uso de medicações concomitants; - Uso de AINE e infecção por H.pylori; - História prévia de DUP ou de complicações; - Pacientes em idade avançada e distúrbios crônicos (doenças cardiovasculares). SANGRAMENTO Pacientes com sangramento de úlceras pépticas podem apresentar hematêmese (sangue vermelho ou emese de café) ou melena (fezes negras). Em casos raros, os pacientes apresentam sangramento maciço e apresentam hematochezia (sangue vermelho ou marrom nas fezes) e hipotensão ortostática. OBSTRUÇÃO DA SAÍDA GÁSTRICA Úlceras localizadas no canal pilórico ou no duodeno podem causar obstrução da saída gástrica. Os sintomas incluem saciedade precoce, inchaço, náusea, vômito, dor epigástrica logo após comer e perda de peso. Vômitos prolongados e baixa ingestão de líquidos podem levar a hipocalemia e alcalose metabólica hipoclorêmica. PENETRAÇÃO - PERFURAÇÃO Deve-se suspeitar de perfuração de úlcera em pacientes que desenvolvem subitamente dor abdominal difusa e intensa. A tríade clássica de início repentino de dor abdominal, taquicardia e rigidez abdominal é a marca registrada da perfuração da úlcera péptica. DIAGNÓSTICOS 14 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Com frequência, suspeita-se de complicações com base em uma mudança no padrão dos sintomasexistentes ou no desenvolvimento de novos sintomas. Como exemplos, o desenvolvimento de hematêmese, melena ou hematochezia sugere sangramento por úlcera; náuseas, vômitos e dor epigástrica logo após comer sugerem uma obstrução da saída gástrica; e início súbito de dor abdominal, taquicardia e rigidez abdominal são sugestivos de perfuração. O diagnóstico é estabelecido por avaliação endoscópica e / ou imagem abdominal. CONDUTAS MEDIDAS DE SUPORTE: As medidas de suporte incluem ressuscitação hídrica com base no estado hemodinâmico, correção de anormalidades eletrolíticas associadas e transfusões de sangue em pacientes selecionados com sangramento gastrointestinal. Os pacientes devem ser mantidos em jejum em antecipação à intervenção endoscópica ou cirúrgica. A consulta cirúrgica precoce permite o preparo pré- operatório caso seja necessária intervenção cirúrgica urgente. + Avaliar uso de AINE; + Avaliar H.pylori; + Manejar cada complicação de acordo com as necessidades medicamentosas e cirúrgicas. SANGRAMENTO GASTROINTESTINAL – HDA É uma causa comum de admissão hospitalar, com mortalidade em torno de 10%. Possui uma apresentação clínica VARIÁVEL, por isso a importância de uma boa avaliação inicial. PRINCIPAIS ACHADOS CLÍNICOS HEMATÊMESE - VÔMITOS de SANGUE VIVO, geralmente em GRANDE VOLUME, com rápida repercussão HEMODINÂMICA (temperatura, pulso, pressão arterial, respiração, eletrocardiograma, oximetria de pulso e monitorização cardíaca). Pode ser um sangramento de origem gengival, pancreático- biliar ou pulmonar. MELENA - VÔMITOS de SANGUE VIVO, geralmente em GRANDE VOLUME, com rápida repercussão HEMODINÂMICA (temperatura, pulso, pressão arterial, respiração, eletrocardiograma, oximetria de pulso e monitorização cardíaca). Pode ser um sangramento de origem gengival, pancreático- biliar ou pulmonar. ENTERORRAGIA - SANGRAMENTO VOLUMOSO do trato digestivo superior exteriorizado pelo canal anal. CAUSAS COMUNS Úlcera péptica, lesão aguda da mucosa gastroduodenal, varizes de esôfago e síndrome de Mallory- Weiss (laceração da transição esofagogástrica em casos de vômitos incoercíveis) DIVISÃO 1. Hemorragia digestiva alta varicosa: Complicação mais grave da cirrose (ocorre formação de varizes quando a pressão portal está acima de 10 mmHg). 2. Hemorragia digestiva alta não varicosa: Mais comum em úlcera gastroduodenal (40-70% dos casos); Na maioria, o sangramento é autolimitado, sem necessidade de terapêutica específica. FATORES DE RISCO PARA MORTALIDADE NA HAD Idade > 60 anos. Choque, instabilidade hemodinâmica (FC>100 bpm, PA sistólica < 100 mmHg); Comorbidade (cardiorrespiratória, renal, hepática, câncer avançado); Diagnóstico (pior prognóstico para câncer avançado do trato digestivo alto); Achados endoscópicos preditivos de ressangramento; Ressangramento (aumento da mortalidade me 10x) AVALIAÇÃO INICIAL Caracterizar forma de exteriorização do sangramento; Duração; Antecedentes patológicos de doenças hepáticas, úlcera péptica, ectasias vasculares cutâneo-mucosas, câncer, ingestão alcoólica, uso de AINE e AAS. Exame físico: palidez cutâneo-mucosa, hipotensão, taquicardia, telangiectasias, ascite, ginecomastia e eritema palmar. Exame retal é essencial para verificar aspecto de coloração das fezes e investigar presença de doenças anorretais. DIAGNÓSTICO E EXAMES COMPLEMENTARES 15 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Pode-se utilizar de ferramentas endoscópicas, radiológicas e radioisotópicas, mas a EDA tem papel fundamental no diagnóstico, estratificação de risco de ressangramento e no tratamento de HD varicosa e não varicose. Figura 3 - Classificação de Forest para sangramento por úlcera peptica TRATAMENTO E ABORDAGEM INCIAL MEDIDA INICIAL VITAL: Manutenção de via aérea pérvia com oxigenação e ventilação adequadas + ressuscitação volêmica com cristaloides. Após ressuscitação volêmica, realizar ENDOSCOPIA. TRANSFUSÃO COM CONCENTRADO DE HEMÁCIAS: meta de manter os níveis de hemoglobina entre 7 e 9 g/dL. COLETA: tipagem sanguínea, hemograma, coagulograma, uréia, creatinina e eletrólitos. TRATAMENTO DE HDA VARICOSA Envolve: uso de drogas vasoativas, terapia endoscópica (ligadura elástica de varizes), tamponamento com balão esofágico, colocação de TIPS ou cirurgias de derivação portal. As drogas que reduzem a hipertensão portal devem ser feitas antes da endoscopia, mantida por 5 dias ou 2 dias após controle do sangramento. Opções atuais: TERLIPRESSINA (contraindicado em pacientes com história pregressa de AVE), SOMATOSTATINA (E.A: dor abdominal, diarreia e hiperglicemia) E OCTREOTIDE. Após terminar TTO com drogas vasoativas, iniciar betabloqueadores (propranolol ou nadolol) não seletivos para reduzir o risco de recorrência de sangramento. Profilaxia com antibiótico na hemorragia varicosa é OBRIGATÓRIA, devendo ser instituída no momento do diagnóstico e mantida por uma semana após o início do quadro. ( Os esquemas mais empregados são a administração de norfloxacino 400 mg, a cada 12 horas, por via oral, ou ceftriaxona 1 g, a cada 12 horas, por via intravenosa) Para o resgate em casos de insucesso (mesmo depois de repetir tto farmacológico e endoscópico), há duas opções: a cirurgias de derivação portal (derivação esplenorrenal distal ou anastomose porto cava calibrada) ou a colocação de TIPS (mais usado). TRATAMENDO DE HAD NÃO VARICOSA Medida incial: estratificação de risco (escore Rockall ou escore Blatchford). O tratamento específico depende da etiologia, porém, independentemente da causa, a abordagem endoscópica está sempre indicada e deve ser realizada preferencialmente nas horas iniciais ao sangramento. SE ÚLCERA PÉPTICA: fazer combinação de terapia endoscópica com IBP por via intravenosa contínua e pesquisa e erradicação de Helicobacter pylori. Deve-se associar dois métodos endoscópicos hemostáticos (injeção, térmico ou mecânico). Recomenda-se usar: omeprazol, na dose de 80mg em bolus, seguidos de 8mg à hora em infusão contínua nas 72 horas subsequentes. Se falência: indicar método cirúrgico. RESUMO DE CONDUTA EM HAD DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO É uma das enfermidades mais prevalentes na prática médica, sendo uma afecção CRÔNICA, RECIDIVANTE e REMITENTE, decorrente do refluxo do conteúdo gastroduodenal para esôfago e órgãos adjacentes. Os sintomas são consequências do contato da mucosa esofágica com o conteúdo gástrico. Pode ter duas apresentações: 16 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA 1. ESOFAGITE EROSIVA: presença de erosões (rompimento da integridade da mucosa) identificados pela EDA. 2. FORMA NÃO EROSIVA: não apresenta alteração ao exame endoscópico. FISIOPATOGENIA Importante entender que algum grau de refluxo ocorre na maioria dos indivíduos, no entanto, a DRGE vai aparecer quando há quebra da barreira antirrefluxo. Existem alguns mecanismos de defesa contra o refluxo do ácido gástrico pelo esôfago: Mucosa resistente; Secreção de bicarbonato pela submucosa (neutralizante); Depuração esofágico por meio do peristaltismo; Salivação (neutraliza); Ação do esfíncter esofagiano inferior (barreira de musculatura lisa dentro e fora crura diafragmática e lig. frenoesofágico). MECANISMOS PARA OCORRÊNCIA PATOLÓGICA DO REFLUXO Relaxamento transitório do EEI; Hipotonia do EEI (redução da pressão do EEI); Depuração do conteúdo ácido ineficiente (alteração do peristaltismo e da salivação (medicamentos anticolinérgicos, radioterapia, câncer, tabagismo)) e dismotilidade esofagiana; Hipersensibilidade do esôfago (participação genética); Alterações anatômicas - hérnia hiatal; Esvaziamento gástrico lentificado; Aumento da pressão intra-abdominal (obesidade); H.pylori (ainda não é certo, mas seria umpossível fator protetor, já que, em alguns casos, há redução da produção de ácido clorídrico (hipocloridria)); (ARTIGO SOBRE H.PYLORI E DRGE) QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES TÍPICAS: PIROSE/ AZIA(sensação de queimação em localização epigástrica que irradia para região retroesternal, ocorrendo após as refeições, especialmente quando são volumosas e ricas em gordura); REGURGITAÇÃO (sensação de retorno do conteúdo ácido à boca ou a faringe); MANIFESTAÇÕES ATÍPICAS: ESOFÁGICAS (dor retroesternal não cardíaca e pelo globus faríngeo (bola na garganta)); ORAIS (desgaste do esmalte dentário, halitose e aftas); OTORRINO (rouquidão, sinusite crônica, laringite posterior); PULMONARES (tosse crônica, asma, pneumonias de repetição); PRESENÇA DE SINAIS DE ALARME (INDICA NECESSIDADE DE INVESTIGAR ANTES DO TRATAMENTO): Disfagia e odinofagia; Perda de peso; Sangramento gastrointestinal (hmatêmese, melena, enterorragia); Anemia crônica; Náuseas, vômitos; Idade > 45 anos; História familiar de neoplasias malignas do trato gastrointestinal superior. DIAGNÓSTICO “Fundamenta-se em uma história clínica detalhada, sendo o diagnóstico presuntivo quando o paciente apresenta sintomas típicos mais do que 2 vezes por semana, em um período de 4 a 8 semanas” Como essas informações possuem alta especificidade, está indicado um tratamento empírico (teste terapêutico) com inibidor de bomba de prótons (IBP). Nesse caso pode-se utilizar de esomeprazol 40mg/dia por 8 semanas. Se o paciente responder bem ao tratamento confirma o diagnóstico de DRGE. OBS: A ausência de sintomas típicos não exclui o diagnóstico de DRGE. EXAMES COMPLEMENTARES ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA Geralmente é o primeiro exame indicado na suspeita clínica de DRGE, principalmente para utilizar biópsia para diferenciar DRGE de esofagite eosinofílica. 17 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Os principais achados possuem baixa sensibilidade, o que, não indica biópsia para pacientes com sintomas típicos de DRGE. INDICAÇÃO: sintomas de alarme, história familiar de neoplasia de TGIS, mais de 45 anos, duração de sintomas > 5anos, refratários ao tto com IBP. As classificações endoscópicas existentes no que se refere à DRGE mais utilizadas são a de Savary- -Miller e a de Los Angeles (mais utilizado) MANOMETRIA Uso indicado para avaliação do pré-operatório de fundoplicatura antirrefluxo. Ver a questão da motilidade esofágica. Não diagnostica a DRGE. PHMETRIA Exame que avalia a presença de conteúdo ácido no esôfago, sua frequência e, principalmente, a relação entre refluxo patológico e sintomas. INDICAÇÃO: sintomas extraesofágicos com EDA normal, pré-operatório, pacientes com sintomas típicos e EDA normal, refratários ao teste terapêutico. IMPEDANCIOMETRIA Consiste na aferição de conteúdo gastroduodenal no esôfago, independentemente da medida do pH, permitindo o diagnóstico de refluxo não ácido e refluxo de conteúdo gasoso; Aumenta sensibilidade para detectar DRGE quando associado a pHmetria. COMPLICAÇÕES Úlceras, hemorragia digestiva, estenose péptica, esofago de barret (presença de metaplasia colunar no esôfago distal, de qualquer comprimento ou tipo histológico, independentemente da presença de manifestações da DRGE) e adenocarcinoma esofágico. Esofagite erosiva - A esofagite erosiva ocorre quando o refluxo excessivo de ácido e pepsina resulta em necrose das camadas superficiais da mucosa esofágica, causando erosões e úlceras. Pacientes com esofagite erosiva podem ser assintomáticos ou apresentar azia, regurgitação, disfagia e odinofagia. Esôfago de Barrett - O esôfago de Barrett é uma condição na qual o epitélio colunar metaplásico substitui o epitélio escamoso estratificado que normalmente reveste o esôfago distal. O epitélio metaplásico é adquirido como consequência da doença crônica do refluxo gastroesofágico (DRGE) e predispõe ao desenvolvimento de câncer de esôfago. A metaplasia colunar intestinal especializada típica do esôfago de Barrett não causa sintomas. A maioria dos pacientes é atendida inicialmente para sintomas de DRGE associada, como azia, regurgitação e disfagia. A DRGE associada ao esôfago de Barrett de segmento longo é frequentemente complicada por ulceração, estenose e hemorragia esofágica. FATORES DE RISCO PARA ESÔFAGO DE BARRETT: - Duração de DRGE DE 5 A 10 anos; - Idade > 50 anos; - Sexo masculino; - Hernia hiatal; - Obesidade; - Refluxo noturno; - Tabagismo; - Parente de primeiro grau com esôfago de Barrett e/ou adenocarcinoma. Estenose esofágica - As estenose péptica são resultado do processo de cicatrização da esofagite ulcerativa. O colágeno é depositado nessa fase e, com o tempo, as fibras colágenas se contraem, estreitando o lúmen esofágico. Os pacientes podem ter disfagia alimentar sólida e impactação alimentar episódica. O manejo de estenoses benignas do esôfago envolve dilatação combinada com terapia supressora de ácido com um inibidor da bomba de prótons para evitar a recorrência das estenoses uma vez que elas tenham sido adequadamente dilatadas. Complicações extraesofágicas: asma, laringite crônica, erosões dentarias, sinusite crônica e pneumonite recorrente. Complicações são mais frequente em pacientes que demoram a procurar ajuda e também os que não fazem o tratamento da forma correta e refratários ao mesmo. TRATAMENTO Associação de medidas comportamentais e tratamento medicamentoso. O paciente com DRGE deve ser orientado em relação à cronicidade da doença e sobre a necessidade de mudanças dos hábitos de vida para garantir o sucesso do tratamento. MEDIDAS COMPORTAMENTAIS Elevação da cabeceira da cama; Evitar deitar por 2 a 3 horas após a refeição; Perda de peso (IMC>25); 18 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Evitar alimentos que forem causadores de sintomas (chocolate, cafeína, álcool, alimentos ácidos, pimenta). TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Supressão ácida é o passo fundamental no tratamento da DRGE; ANTIÁCIDOS: não devem ser usados como monoterapia em pacientes com esofagite, podem complementar o tratamento nos casos com ulcerações e sangramento recente. Tipos: MgOH + AlOH, carbonato de cálcio e bicarbonato de sódio. BLOQUEADORES H2: Promovem controle dos sintomas e cicatrização da mucosa, com eficácia de 50 a 75%, podendo ser indicados para pacientes com esofagite erosiva graus A e B de Los Angeles. Preferível do que IBP apenas se houver sintomas noturnos. Tipos: cimetidina, ranitidina, famotidina, nizatidina. IBPs: tratamento-padrão da DRGE, com omeprazol 20mg/dia durante 8 semanas. A terapia de manutenção com IBP deve ser mantida para pacientes que apresentem recorrência sintomática após interrupção da terapia ou em indivíduos com csofugite erosiva complicada com úlcera, estenose e EB. PROCINÉTICOS: agonistas dos receptores 5-HT, agonistas dos receptores GABA e antagonistas dos receptores da dopamina. Não são indicados de rotina, somente em casos selecionados associado ao IBP. TRATAMENTO CIRÚRGICO Deve ser indicado quando se analisa os exames radiológicos, endoscópicos, manométricos e pHmétricos. INDICAÇÃO: Pacientes com HH (Hérnia de Hiato) maior do que 2 cm com migração permanente, que requeiram altas doses de IBP para controle clínico ou pacientes com estenose intensa. Técnica mais utilizada: fundoplicatura à Nissen: realozação do esfôfago + aproximação dos pilares do hilo diafragmático e envolvimento do esôfago distal PARASITOSES INTESTINAIS SÍNDROME DE LÖEFFLER OU EOSINOFILIA PULMONAR SIMPLES. É uma entidade caracterizada por sintomas respiratórios leves e autolimitados, sendo eles: Tosse Dispnéia Febre baixa Broncoespasmo NA RADIOLOGIA: áreas radiopacas irregulares de distribuição periférica. TOMOGRAFIA: padrão vidro fosco ou opacidades consolidadas comnódulos periféricos de satélite e espessamento das paredes brônquicas. Laboratório: eosinofilia periférica (10-30%) que diminui após término do ciclo pulmonar larvário. PRINCIPAIS PARASITAS RELACIONADOS: Strongyloides stercoralis Ancylostoma duodenale Necator americanus Toxocara canis Ascaris lumbricoides MINEMÔNICO: SANTA. ANCILOSTOMÍASE É uma nematodiose causada pelo Ancylostoma duodenale e Necator americanus, que habitam o intestino delgado, principalmente o duodeno. É endêmica nos países tropicais e subtropicais, ocorrendo em regiões de clima temperado. Sendo mais prevalente no Brasil o Necator americanus. Fatores climáticos, tipo de solo e grau de pobreza da população intensifica a intensidade da ancilostomíase. CONTAMINAÇÃO Se dá pela penetração das larvas pela pele do ser humano (pés descalços ou mãos, espaços interdigitais ou folículos pilosos) podendo ocasionar uma dermatite pruriginosa. A infecção por A. duodenale pode ocorrer por via oral, por meio da amamentação. “larva rabditóide (solo) -> larva filarióide (infectante) -> vênulas e linfático -> coração direito -> vasos pulmonares (atingem mais um estágio) -> migram na árvore brônquica -> glote -> mucosa intestinal (vermes adultos) -> OVOS” chega aos pulmões em 10 dias. termina o ciclo no intestino delgado. “Após chegar ao intestino, em 6 a 7 semanas, começam a produzir ovos que podem ser vistos nas fezes cerca de 8 a 12 semanas após a infecção.” PATOGENIA 1. Provoca lesões traumáticas mínimas, geralmente imperceptíveis, podendo surgir 19 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA erupções eritematopapulosas (mais frequente quando é Necator americanus). 2. Migração pulmonar, provocam lesões microscópicas com pequenas hemorragias até atingirem os alvéolos. 3. A grande carga de parasitas e o seu deslocamento produz uma perda sanguínea intensa (ulcerações e hemorragias), levando a estados carenciais (anemia carencial - ferropênica). 4. Predispõe o hospedeiro a infecções bacterianas, desnutrição e imunodeficiência independente da anemia. QUADRO CLÍNICO A infecção pode ser assintomática, até quadros graves de desnutrição, anemia e anasarca. Prurido ou sensação de queimação local com lesões eritemato maculopapulosas e edema; Geralmente a passagem da larva pela árvore pulmonar é assintomática, mas o paciente pode apresentar, em casos mais graves, tosse seca, dispneia, rouquidão, broncoespasmo, febre baixa ou moderada levando até a uma pneumonite intersticial eosinofílica (Síndrome de Löeffler). Essa complicação é mais frequente na ASCARIDÍASE. (Alguns pacientes podem desenvolver quadro de hipersensibilidade imediata conhecida como síndrome de Wakana: prurido faringeal, tosse, rouquidão, dispneia, náuseas, vômitos e eosinofilia). Pode ocorrer náuseas, vômitos, anorexia, obstipação ou diarreia (profusa, enterorragia volumosa ou melena na população infantil). Dor abdominal epigástrica ou difusa. Anemia (principal manifestação), podendo apresentar-se em forma de melena, palidez de pele e mucosas, anorexia, tontura, cansaço fácil, sonolência, lipotímias. Na maioria dos casos é do tipo HIPOCRÔMICA E MICROCÍTICA. Pode acometer sistema cardiovascular causando: dispneia, taquicardia, palpitações e dores anginosas. Em quadro mais avançados pode ter: anasarca, hipoproteinemia, insuficiência cardíaca e sopros cardíacos + dor no hipocôndrio direito e hepatomegalia. DIAGNÓSTICO Diagnóstico de certeza é feito pelo exame microscópico das fezes, na demonstração de ovos ou das larvas rabditóides. Método mais utilizado é o Kato-Katz. Laboratório: Leucócitos geralmente é normal, podendo ter leucocitose com eosinofilia (mais intensa na fase aguda- inicia quando as larvas ainda estão no estágio pulmonar, quase que assintomáticos); Anemia hipocrômica e microcítica; Radiografia: pode mostrar imagens de infiltrados localizados ou difusos, caracterizando a síndrome de Löeffler. TRATAMENTO ações profiláticas. É indicado para todos os membros da família infectados ou para todos os membros comunitário para impedir o ciclo de transmissão. Controle de cura realizado no 7º,14º e 21º dia. Anti-helmíntico: mebendazol (100mg 2x por dia durante 3 dias seguidos ou 500mg dose única distante das refeições), albendazol (400mg dose única, criança<2anos administra 200mg) e pamoato de pirantel (11mg/kg por dia durante 3 dias- não deve exceder 1g - é o menos utilizado). Tratamento de anemia: 3 a 5 mg/kg de sulfato ferroso por via oral, durante 3 meses ou mais. ASCARIDÍASE É uma infecção do tubo digestivo causada por um nematódeo Ascaris Lumbricoides, conhecido como lombriga. Condições sanitárias precárias facilitam sua disseminação. É uma das helmintíases mais comum, sendo comum em regiões de clima tropical, subtropical e até mesmo temperado. Pode infectar o jejuno e/ou íleo. CONTAMINAÇÃO Água, alimentos contaminados, areia, solo, contato com fezes contaminadas. CICLO BIOLÓGICO Os ovos são ingeridos -> larvas eclodem no intestino delgado -> atravessam a parede do intestino e vão para o fígado penetrando na corrente sanguínea ou linfática -> atingem o coração direito -> realizam o ciclo pulmonar -> são deglutidas com as secreções brônquicas -> atingem a forma passiva no estômago e no intestino. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A fase de invasão costuma ser ASSINTOMÁTICA. Pode ocorrer hepatomegalia, icterícia; Quadro respiratório de intensidade variável (tosse, dispneia, sibilância e dor retroesternal - manifestações da síndrome de Löeffler); Anorexia, dor abdominal, distensão abdominal, cólica, náuseas, vômitos e diarreia; Pode ocasionar sinais de desnutrição e déficits cognitivos em crianças. 20 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA O bolo de áscaris pode causar oclusão ou suboclusão intestinal (podendo ocasionar volvo e intussuscepção intestinal). Pode ocasionar quadro de icterícia obstrutiva, pancreatite aguda, abscesso hepático, insuficiência respiratória (mais comum em crianças), perfuração intestinal seguida de peritonite. DIAGNÓSTICO Baseia-se no encontro de ovos em material fecal, sendo encontrados com facilidade, independente da técnica empregada, devido a produção rápida e alta dos ovos pelas fêmeas. Técnicas como a de Lutz, Kato-Katz são empregadas. TRATAMENTO É mais adequado o tratamento com levamisol (80mg, dose única para crianças e 150 mg, dose única para adultos) que ocasiona paralisia e facilita a eliminação. Em casos de suboclusão ou oclusão por bolo de ascaris preferir piperazina (50mg/kg de peso com dose máx de 3g) + óleo mineral (50mL). Falta de resposta e controle indica procedimento cirúrgico. Controle de cura: deve ser feito no 7º,14º,21º dias após término do tratamento por meio de exames de fezes. ESTRONGILOIDÍASE É uma infecção causada pelo Strongyloides stercoralis, proveniente de áreas tropicais e subtropicais. Na maioria das vezes é uma infecção ASSINTOMÁTICA ou OLIGOSSINTOMÁTICA, podendo assumir gravidade em pacientes imunocomprometidos, sobretudo pelo uso crônico de corticosteróides. Uma particularidade é que o parasita consegue se completar no organismo hospedeiro, não precisando assumir forma infectante no solo para contaminar, podendo perpetuar a infecção. CICLO BIOLÓGICO Penetram na pele ou nas mucosas - atingem os pulmões por via sanguínea, penetram nos alvéolos e são carreadas até a traqueia - deglutidas na faringe - atingem o tubo digestivo (principalmente duodeno ou jejuno proximal). Elas podem atingir o tubo digestivo sem passar pelos pulmões, mas não é tão relevante em termos clínicos. Além disso, nas situações de hiperinfecção pode ser que complete sua maturação nos pulmões. O período de tempo entre a infecção inicial e o início do encontro de larvas rabditóides nas fezes varia de 3 a 5 semanas. Pode sofrer um processo de autoinfecçãointerna ou externa, podendo levar a graves consequências clínicas. EPIDEMIOLOGIA Infecção ocorre em áreas de climas quentes e úmidos, em todas as regiões tropicais e subtropicais. O Brasil é considerado área de elevada endemicidade, no entanto, os dados são escassos e pontuais. AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO Penetração de larvas filarioides existentes no solo na pele íntegra ou nas mucosas. Pode ocorrer contaminação por alimentos contaminados, aleitamento materno, transmissão sexual (sexo anal); PATOGENIA E IMUNIDADE Pode ocorrer pneumonite eosinofílica (síndrome de Löffler), devido a migração das larvas filarióides pelos pulmões. Presença de anticorpos IgE, eosinófilos periféricos e teciduais. Uso de glicocorticóides podem condicionar o aparecimento de alterações, seja nos mecanismos imunes do hospedeiro, seja na biologia do parasita. Nessas condições, há um aumento do número de parasitas que passam a ocupar qualquer porção do intestino delgado, cólon, estômago, esôfago, vias biliares e apêndice (hiperinfecção). Nos casos de superinfecção pode ocorrer disseminação hematogênica de enterobactérias (podem levar a um quadro de broncopneumonia). Os casos de superinfecção podem ocorrer por: linfomas, leucemias, LES, AR, polimiositose, diabetes melito do tipo 1. Distúrbios funcionais do trato digestivo como acloridria ou hipocloridria, também parecem favorecer os eventos que levam à hiperinfecção. Os mecanismos patogenéticos que explicariam o incremento do processo de autoinfecção nessas condições são especulativos. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 21 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA FORMA AGUDA Na maioria dos casos é TOTALMENTE ASSINTOMÁTICA e PASSA DESPERCEBIDO. Nem sempre se observa manifestações decorrentes da penetração da larva: lesões papulares pruriginosas, quadro urticariforme linear migratório (larva currens). Sintomas respiratórios leves: tosse seca e sibilos esparsos, em outros casos pode existir broncoespasmo, tosse mais intensa e desconforto respiratório. Este quadro pode traduzir uma pneumonite eosinofílica (Síndrome de Löffler), em que são observados também infiltrados pulmonares à radiografia de tórax e eosinofilia periférica. Dor abdominal inespecífica ou epigastralgia (simula um quadro doloroso de DUP duodenal). FORMA CRÔNICA HABITUAL (MAIS COMUM) Manifestações inespecíficas como dor epigástrica, náuseas, vômitos, meteorismo acentuado (Acúmulo de gases) e diarreia intermitente; A diarreia pode levar a perda intestinal de proteínas, gorduras e outros elementos (síndrome disabsortiva); São raros: artrite reacional e síndrome nefrótica. HIPERINFECÇÃO E DOENÇA DISSEMINADA Acentuação do quadro digestivo: diarréia intensa com recorrência frequente, podendo ter características disenteriformes bem como associada a náuseas e vômitos; Pode ocorrer quadros obstrutivos e hemorragia com repercussão hemodinâmica; Pode levar a hipoalbuminemia (perda de proteínas); Sintomas pulmonares são frequentes: tosse, sibilância graus variados de dispneia, dor torácica e até hemoptise. Podendo existir palpitações e fibrilação atrial. Pode ter comprometimento do SNC (meningite e encefalite) É importante assinalar que as formas disseminadas de estrongiloidíase são frequentemente fatais, dada sua rápida evolução e dificuldade diagnóstica. DIAGNÓSTICO Exame parasitológico de fezes com pesquisa de larvas rabditóides (na forma habitual). Deve-se ter em mente que a eliminação das larvas não é constante e, portanto, uma única pesquisa resulta em positividade que varia entre 30 e 60%. Trata-se de métodos bastante sensíveis, desde que sejam examinadas, pelo menos, três amostras de fezes coletadas em dias consecutivos. Em geral, a eosinofilia é discreta ou moderada (500 e 1.500 eosinófilos por mm³). Na hiperinfecção não há eosinofilia (imunossupressão). Eosinopenia periférica está relacionada a um pior prognóstico. Pode ter elevação das enzimas hepatocelulares (casos que acometem o fígado). IgE está elevado em 50 a 70% dos casos. TRATAMENTO Albendazol 400 mg/dia, por 3 dias consecutivos é, em geral, bem tolerado e seu uso deve ser restrito às formas clínicas não complicadas. Pode-se utilizar ivermectina 200 mg/kg/dia, durante 2 dias consecutivos (boa no tratamento de hiperinfecção). Deve-se pesquisar e tratar até mesmo as pessoas infectadas ASSINTOMÁTICAS. Controle de cura: 3 exames parasitológicos no 8º,9º e 10º dia após o fim do tratamento. LARVA MIGRANS VISCERALIS – TOXOCARÍASE HUMANA DEFINIÇÃO É uma síndrome (SLMV) é causada por 3 diferentes nemaltelmintos: toxocara canis ou”ascaris do cão”, mais comum, toxocara catis (gato), ascaris suum (porco). Contaminação Áreas pública de lazer com fezes de cães e gatos; Crianças < 5 anos e portadores de perversão do apetite (PICA); CICLO DE VIDA Cão é o hospedeiro definitivo. QUADRO CLÍNICO Pode ser assintomático (pequeno número de larvas) Eosinofilia, febre,irritabilidade, hepatomegalia, anorexia, rash cutâneo pruriginoso e distúrbios do sistema nervoso central (convulsões, epilepsia, esquizofrenia). Dispneia, tosse não produtiva, sibilos e estertores crepitantes. Radiografia:infiltrados peribrônquicos bilaterais. Redução da acuidade visual e estrabismo. DIAGNÓSTICO Leucocitose com eosinofilia; Hipergamaglobulinemia (IgG, IgM, IgE) Padrão ouro: biópsia (pouco usado); 22 TUTORIA 1 - DOR ABDOMINAL CRÔNICA Positividade na sorologia p/T.canis (não usa exame de fezes) TRATAMENTO Albendazol (400mg de 12/12h VO/5 dias) ou Mebendazol (100-200mg de 12/12h VO/5 dias). PANCREATITES PANCREATITE AGUDA É uma inflamação aguda do pâncreas que pode envolver tecidos peripancreáticos ou órgãos á distância. É uma doença COMUM e possui uma apresentação variada, desde forma leves até mesmo graves (alta morbidade e mortalidade). Pancreatites graves são, geralmente, de etiologia BILIAR. ETIOLOGIA LITÍASE BILIAR (CÁLCULOS BILIARES) Principal causa de pancreatite aguda (40% dos casos); A fisiopatologia ainda é incerta, mas pensa-se que a passagem de um cálculo gera um edema transitório da papila, com discreta obstrução à drenagem do ducto pancreático principal, no que o cálculo tá passando, pode existir um refluxo de bile já que o ducto está transitoriamente obstruído. Poucas pessoas com litíase biliar desenvolvem a pancreatite, sendo os fatores de risco: sexo masculino e cálculos menores de que 5 mm. (No entanto, ela é mais comum em mulheres por a litíase ser mais comum nelas). ÁLCOOL É responsável por 30% das pancreatites agudas (pancreatite crônica agudizada), predominando em homens jovens com relato de consumo de álcool abusivo. HIPERTRIGLICERIDEMIA Parece ocorrer lesão pancreática pela liberação de ácidos graxos livres com lesão direta das células acinares e do endotélio. Mais comum em: diabéticos mal controlados com ant. de hipertrigliceridemia, alcoolistas com hipertrigliceridemia e pacientes magros com hipertrigliceridemia induzida por medicações. HIPERCALCEMIA Rara, acontece por deposição excessiva de cálcio no dueto pancreático com ativação prematura do tripsinogênio. DROGAS Incomum, subdiagnósticos; COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGRADA ENDOSCÓPICA (CPRE) Fatores de risco: história pregressa de pancreatite, sexo feminino, bilirrubinas séricas normais, ausência de pancreatite crônica, canulação difícil, dilatação biliar pro balão, esfincterotomia, múltiplas injeções de contraste e suspeita de disfunção do esfíncter de Oddi. TUMORES A pancreatite pode ser a primeira manifestação da neoplasia (adenocarcinomas ou neoplasias intraductais mucinosas), mais comum em indivíduos acima de 40 anos. FISIOPATOLOGIA 1. Ativação prematura de grande quantidade de tripsinogênio. 23 TUTORIA
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