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57 GESTÃO DE PROCESSOS Unidade III “Não se gerencia o que não se mede, não se mede o que não se define, não se define o que não se entende e não há sucesso no que não se gerencia” (DEMING, 1990, p. 18). A gestão dos processos empresariais permite que as organizações implantem mudanças no funcionamento das estruturas internas e colaborem para uma aproximação com os relacionamentos externos com fornecedores e clientes. Nesta unidade, vamos estudar as principais técnicas de implantação de melhorias nos processos das organizações por meio da elaboração de projetos que buscam constante atualização dos seus métodos de trabalho e acompanham atentamente a evolução do comportamento dos clientes e dos mercados. Definimos projeto como um trabalho que deve ser realizado com responsabilidade de execução e apresentar os resultados esperados, com precisa quantificação de prazos, recursos e envolvimento das áreas necessárias à sua conclusão (OLIVEIRA, 2009). 5 FUNDAMENTOS EM GESTÃO DE PROJETOS A administração dos processos organizacionais e a busca por melhorias e mudanças surgem em função da necessidade de as organizações conseguirem acompanhar a evolução do mercado, cada vez mais competitivo, em que as transformações se desenvolvem a partir de forças que vêm de fora para dentro das organizações em ritmo acelerado, acirrando a concorrência com novos produtos, serviços e tecnologias para os clientes, cada vez mais conscientes e exigentes em termos de produtos, prestação de serviços e oportunidades disponíveis. As empresas precisam aumentar a competitividade para se manterem nos mercados mundiais e entre as ações necessárias para conquistar a preferência dos clientes. Para atingir os resultados definidos no planejamento estratégico, é preciso investir no aperfeiçoamento da gestão e na operação dos processos para aumentar a satisfação, fidelizar os clientes antigos e conquistar novos. Seguem algumas medidas: • Eliminação de duplicidade de atividades executadas dentro da organização. • Redução da burocracia das atividades administrativas, demora nas autorizações e documentações desnecessárias. • Avaliação do valor agregado aos clientes dos processos. 58 Unidade III • Redução dos tempos de ciclo dos processos, visando agilidade, rapidez e custos baixos. • Eliminação de retrabalhos, desperdícios e erros nas operações. • Determinação de novas formas de parceria com os fornecedores, assegurando qualidade e preços adequados. • Modernização e aumento do conteúdo tecnológico, automatizando as atividades com as tecnologias avançadas de TI. Pelos indicadores de desempenho dos processos, as organizações podem promover melhorias, identificar tendências dos mercados e antecipar as alterações necessárias. Para isso, as entidades precisam desenvolver uma cultura de mudanças, a fim de obterem êxito na implementação de melhorias e inovações, assumindo riscos com decisões firmes. As modificações na gestão de processos dividem-se em dois níveis principais: melhorias e reengenharia de processos de negócios (RPN). Quadro 17 – Projetos de melhorias e reengenharia Aspecto Melhoria Reengenharia Nível de mudança Gradual Radical Ponto de partida Processo atual Estaca zero Frequência de mudança De uma vez/contínua De uma vez só Tempo necessário Curto Longo Participação De baixo para cima De cima para baixo Risco Moderado Alto Habilidade Controle estatístico Tecnologia da informação Fonte: Oliveira (2009, p. 33). A introdução de melhorias nos processos organizacionais pode ocorrer de dois modos principais, a saber: melhorias incrementais, em que as alterações são implementadas de forma gradativa e lenta, com base na urgência das mudanças; e melhorias radicais, em que as ações são implementadas de forma rápida, radical e com prazos curtos. O aperfeiçoamento dos processos deve levar em conta alguns fatores, como conhecer e analisar o negócio e os procedimentos da empresa, identificar quais os meios prioritários em termos de mudanças, reconhecer as causas do mau desempenho, propor alternativas de solução, treinar pessoal qualificado e considerar a disponibilidade de recursos para a aquisição do material necessário. 59 GESTÃO DE PROCESSOS Lembrete Em função das constantes mudanças nas necessidades dos clientes e de o mercado estar cada vez mais competitivo, a introdução de melhorias nos processos das organizações é gradualmente mais necessária. 5.1 Elaboração de projeto de melhoria Projeto pode ser definido como “um processo único, que consiste em um grupo de atividades coordenadas e controladas com datas de início e término, empreendido para alcance de um objetivo conforme os requisitos específicos, incluindo limitações de tempo, custos e recursos” (ABNT, 2003). Características de um projeto de melhoria: • temporalidade com prazos de início e fim definidos; • singularidade com qualidades próprias e específicas; • complexidade em relação à amplitude do projeto e às áreas envolvidas; • precisão em função do grau de incerteza envolvido e das dificuldades inerentes ao projeto. Na elaboração de um projeto de melhorias, as organizações precisam definir com precisão os requisitos para sua execução, de modo a garantir a efetividade da implementação das melhorias e sua eficácia nos resultados. Condições preliminares para a elaboração de um projeto de melhorias: • Elaboração do fluxograma funcional. • Definição do cronograma com as etapas e os processos que devem começar o projeto. • Constituição da equipe do projeto com atribuição de um líder de reconhecida capacidade de trabalho e gestão. • Comprovação da necessidade de contratação de consultoria externa de apoio. • Definição de orçamento com previsão de custos, investimentos e retorno esperado. • Identificação de possíveis dificuldades e resistências que possam surgir, como medo de perdas, não aceitação de novos procedimentos, desconfiança e insegurança pessoal. O projeto de melhorias, uma vez definido e aprovado pela diretoria, deve ser implementado com ampla divulgação interna, demonstrando os objetivos a serem alcançados e sua relevância para a sustentabilidade futura da organização no mercado. 60 Unidade III Entre as informações de que a elaboração de um projeto de melhorias é urgente, podemos identificar a quantidade de reclamações dos clientes, o número de problemas internos de operações e gestão, a avaliação negativa dos indicadores de desempenho dos processos, as pesquisas de avaliação dos clientes e dos funcionários e a comparação com os resultados dos concorrentes. Os projetos de melhoria devem identificar o que se quer melhorar, reduzir, aumentar ou simplificar com a determinação no escopo do projeto do processo escolhido com a definição de local, área, segmento, pessoal envolvido e o cronograma para projetar as condições do novo processo, especificando os resultados esperados para a organização e para os clientes. A implementação dentro dos prazos e custos estabelecidos do projeto é condição crítica de sucesso das melhorias como opção de modelo de gestão e manutenção da credibilidade das decisões diretivas. Implementado o projeto dentro dos prazos e custos preestabelecidos, os gestores precisam proceder a uma revisão do fluxograma da organização, criar ou reavaliar os indicadores de desempenho do processo remodelado e proceder a novas medições da performance operacional. Harrington (1997) destaca que, durante a execução dos projetos de melhoria, as organizações devem avaliar a disponibilidade de condições para realizá-las por meio de quatro requisitos principais: • Recursos: a execução do projeto ocorre, via de regra, com os processos em funcionamento e pode afetar a utilização em paralelo de máquinas e pessoal, concomitantemente, com as atividades diárias e que exigem dos gestores do projeto um excelente planejamento, de modo a evitar interrupções ou falta de produtos para os clientes. • Retornos: o projeto deve avaliar o retorno esperado para a organização em termos deredução de custos, competitividade e como vantagem com os concorrentes. • Riscos: a equipe de projeto deve avaliar os riscos envolvidos com a implantação do projeto em termos de possibilidade de contratempos e mesmo de fracasso na implementação, assumindo os desafios decorrentes das mudanças nos processos atuais. • Recompensas: avaliar as recompensas para os funcionários e membros da equipe de trabalho em termos de carreira e crescimento profissional. Saiba mais Para mais informações sobre reengenharia de processos e negócios (RPN), recomendamos a leitura do livro: HAMMER, M. Além da reengenharia. Rio de Janeiro: Campus, 1997. 61 GESTÃO DE PROCESSOS 5.2 Implantação de projetos de melhoria Como metodologia para a elaboração de melhorias, as organizações dispõem do uso do ciclo PDCA, que é uma ferramenta de gestão que descreve a forma de execução dos processos e está dividida em quatro etapas: • planejamento (plan); • execução (do); • conferência dos resultados (check); • ajustes e correções (action). A seguir, uma representação do ciclo PDCA: Action Agir Plan Planejar Check Checar Do Fazer • Ação corretiva no insucesso • Padronizar e treinar no sucesso • Localizar problemas • Estabelecer planos de ação • Verificar atingimento de meta • Acompanhar indicadores • Execução do plano • Colocar o plano em prática Figura 18 - Ciclo PDCA O gerenciamento dos processos consiste em realizar de forma contínua as atividades de planejamento, execução, controle e correção em ciclos de evolução e progresso de desempenho. O processo de melhoria das organizações precisa ser permanente e coordenado por diretores, que definem as prioridades dos procedimentos que devem ser objeto de projetos de melhoria, constituindo a equipe de projeto e atribuindo responsáveis, isso com o suporte da área de gestão da qualidade. Em um ambiente colaborativo e com foco nas necessidades dos clientes, o objetivo deve ser o aprimoramento contínuo dos processos em busca da redução de erros, atrasos, desperdícios, desentendimentos e pessoal desnecessário. A introdução da sistemática de melhoria contínua permite que as organizações atuem preventivamente e resolvam os problemas que surgem. A intenção é torná-la permanente e culturalmente difundida na organização. 62 Unidade III Quadro 18 – Etapas de implantação do projeto de melhoria Etapa 1 Formar a equipe Etapa 2 Identificar o processo a ser melhorado Etapa 3 Elaborar o fluxograma Etapa 4 Analisar criticamente as causas dos problemas Etapa 5 Elaborar o novo modelo do processo Etapa 6 Implantar o novo processo Etapa 7 Monitorar o desempenho Etapa 8 Ajustar e corrigir constantemente Analisando os aspectos fundamentais de cada etapa, vejamos a seguir como as organizações devem conduzir os projetos de melhoria. Etapa 1 • Sensibilizar a diretoria, que deve apoiar efetivamente as mudanças propostas e enfrentar as possíveis resistências com determinação, além de autorizar os recursos necessários. • Conscientizar os funcionários é condição vital para alcançar resultados que não visam reduzir empregos, mas sim melhorar o desempenho da organização e permitir melhores oportunidades de trabalho para todos. • Com os facilitadores e a equipe de projeto, definir a liderança, selecionando com critério e avaliando o nível de capacitação necessário. Etapa 2 Esta etapa visa obter conhecimentos sobre a organização e identificar oportunidades de melhorias. • Avaliar como os processos críticos estão interligados em termos de setor (comércio, agrícola, financeiro, siderúrgico etc.). • Descrever detalhadamente cada fase do processo, classificando em atividades e tarefas, responsáveis e modo de execução, tempo de execução e clientes internos, entrada e saída do processo etc. • Avaliar o nível de informatização (TI) das atividades e tarefas executadas, com mapeamento dos equipamentos e programas usados, bem como sua atualidade e eficiência. Etapa 3 • Elaborar um mapeamento do processo, relacionando atividades e tarefas e analisando os documentos utilizados por meio da coleta de dados. Verificar tempo de execução, quantidade de pessoas incluídas, clientes envolvidos etc. 63 GESTÃO DE PROCESSOS • Medir nível de desperdícios, retrabalhos, pessoal envolvido, tempo de execução, produtividade, satisfação, perda de pedidos e reclamações dos clientes. • Uma ferramenta importante pode ser a elaboração de fluxogramas que permitam uma visualização do fluxo de trabalho. Observação Conforme o ciclo PDCA, as etapas de 1 a 5 correspondem ao planejamento (plan), a etapa 6 refere-se à execução (do), a etapa 7 equipara-se à medição (check) e a etapa 8 diz respeito à melhoria contínua (action). Etapa 4 • Analisar o processo atual e detectar as causas dos problemas. Identificar as oportunidades de melhoria, separando as atividades que agregam valor aos clientes e que estes estão dispostos a pagar – ou que precisam ser executadas por aspectos técnicos/legais – daquelas de suporte. • Identificar as atividades que agregam valor, como cadastro de pedidos, atendimento aos clientes, compras, programação de produção, fabricação, logística, cobrança, pesquisa e desenvolvimento. • Identificar as atividades que não agregam valor, como conferências desnecessárias, armazenagens, retrabalhos, aprovação de documentos e movimentações internas. • Proceder a uma avaliação individual do desempenho de cada funcionário envolvido no processo, identificar aspectos motivacionais, dificuldades de relacionamentos, nível educacional adequado, autonomia de atuação, responsabilidades, trabalho em equipe, sistema de recompensas, salários e benefícios. • Conferir o nível tecnológico das máquinas e equipamentos em uso, custos de manutenção, qualidade das matérias-primas utilizadas, insalubridade, layout dos equipamentos e condições ambientais, como calor, umidade e ruídos. Etapa 5 Elaborar alternativas para solucionar os problemas atuais propondo planos de ação com o uso de ferramentas da qualidade, como brainstorming, diagrama de causa e efeito (espinha de peixe) e benchmarking: • Brainstorming: discussão ampla e aberta entre todos os envolvidos em um evento convocado para abordar os problemas e propor ações, todos inseridos em um ambiente de liberdade e de autonomia participativa. 64 Unidade III • Diagrama de causa e efeito (espinha de peixe): ferramenta que permite identificar as causas de um problema, que podem ser reunidas em seis grupos específicos, como métodos, máquinas, materiais, mão de obra, meio ambiente e medidas. • Benchmarking: método para comparar o desempenho de algum processo, prática de gestão ou produto com realização similar que esteja sendo executada de maneira eficaz na própria organização ou em outra, visando entender as causas, ajustar a prática atual e promover melhorias. Efeito Materiais Máquinas MedidasMeio ambiente Métodos Mão de obra Figura 19 – Diagrama de causa e efeito Além de permitir a identificação das causas dos problemas, o diagrama acima pode ser utilizado para apontar as suas possíveis soluções. Etapa 6 • Após avaliadas as possibilidades e decidida a opção a ser realizada, executar a implantação, estabelecendo um modelo de comunicação com os funcionários sobre as mudanças e objetivos pretendidos; analisar as necessidades de treinamento interno ou externo e redigir os novos manuais de diretrizes, normas e procedimentos de execução das tarefas. • Adquirir os novos recursos necessários – como equipamentos, computadores ou softwares – e proceder com as adaptações necessárias das máquinas existentes em termos de localização e distribuição física. • Realização de períodos de testes experimentais, se for o caso, em dias extras ou horários alternativos. Etapa 7 • Acompanhamento da evolução e da execução do novo processo desenhado por meio de medições de resultados comparados aos valores estimados no projeto. Etapa 8 • Deve-se prever, na execução do projeto de melhoria, a possibilidadede ajustes ou mudanças com o decorrer do tempo. 65 GESTÃO DE PROCESSOS A metodologia escolhida para identificação e solução de problemas precisa ser adequada às características da organização e do mercado em que atua, bem como com as condições dos processos empresariais, de modo a permitir a elaboração de um projeto preciso e isento de impressões pessoais, muitas vezes distorcidas da realidade presente. A metodologia precisa estar comprometida com a necessidade dos clientes e ter foco na localização e na resolução dos problemas por meio de um processo profissional organizado e sistemático em busca das causas dos problemas. 6 TÉCNICAS DE APOIO A PROJETOS As organizações que elaboram projetos de melhoria de processos podem utilizar diversas técnicas de apoio às mudanças que apresentam aspectos específicos, conforme o escopo do projeto e as necessidades de mudança. Entre essas técnicas, destacamos as principais a seguir. 6.1 Terceirização (outsourcing) A partir dos anos 1990, muitas organizações começaram a considerar a possibilidade de transferir para outras empresas determinadas atividades operacionais – como transporte, logística e serviços gerais – e comprar no mercado algumas tarefas produzidas internamente – como produção e compras. Com a terceirização parcial ou total de processos internos, as organizações podem conseguir significativas reduções de custos operacionais e melhorias no desempenho do procedimento para os clientes. De forma geral, as atividades terceirizadas não são as que pertencem aos processos considerados estratégicos para as organizações, que preferem mantê-las sob gestão própria. Entre as vantagens na adoção da terceirização, podemos apontar: • redução de custos e investimentos; • economias de escala; • estrutura organizacional enxuta; • agilidade na tomada de decisão; • foco na gestão dos processos essenciais; • transferência de know-how para a organização; • maior qualidade no atendimento aos clientes; • redução de problemas trabalhistas. A terceirização das atividades organizacionais precisa ser precedida de um processo de planejamento prévio, de modo a permitir uma transição sem problemas e impactos negativos aos clientes. 66 Unidade III A escolha do parceiro para executar a atividade terceirizada deve ser previamente estudada após amplo levantamento de mercado, com uma busca de referências de atuação no mercado, e concretizada por meio da assinatura de contrato de prestação de serviços, com cláusulas comerciais e operacionais de comprometimento mútuo e previsão de rescisão, conforme requisitos acordados. Lembrete Para além da análise da relação custo/benefício, a terceirização de processos e serviços deve ser avaliada com critérios amplos, em processos considerados estratégicos, como marketing, produção e desenvolvimento de produtos. Etapas para a implementação da terceirização de processos: • Identificar as atividades que poderão ser terceirizadas com a apuração do potencial de redução de custos e impactos aos clientes. • Determinar o procedimento operacional e os riscos envolvidos entre a organização e a empresa terceirizada. • Escolher a empresa terceirizada e definir o nível do serviço a ser executado. • Elaborar o fluxo de gerenciamento do processo terceirizado. Entre as desvantagens da terceirização, podemos destacar: • Nível de comprometimento com a empresa terceirizada, com uma possível situação de dependência. • Perda de controle sobre operação e gestão. 6.2 Benchmarking O benchmarking, que é uma técnica de apoio à gestão de melhorias dos processos organizacionais, foi desenvolvido na instituição Xerox Corporation, localizada nos Estados Unidos da América, em 1976, e tem como objetivo criar um procedimento padronizado de avaliação da satisfação dos consumidores em relação aos produtos e serviços da organização, comparando-os com os produtos e serviços oferecidos no mercado por empresas concorrentes avaliadas positivamente pelos consumidores. A técnica permite o aprimoramento das práticas organizacionais. A utilização do benchmarking permite às organizações identificar gargalos e limitações. Essa identificação pode ser feita por meio da comparação da companhia com os concorrentes do mercado, de forma a permitir alcançar uma vantagem competitiva. O benchmarking podem ser de três tipos: 67 GESTÃO DE PROCESSOS • Interno: estabelecer padrões de desempenho comparado de processos próprios. • Competitivo: realizar análises comparativas de desempenho comercial com os principais concorrentes de mercado. • Funcional: proceder comparações com empresas não concorrentes e de outros setores de atuação comercial. Definido o tipo de benchmarking, as organizações podem elaborar, internamente ou com a colaboração de consultorias especializadas, o seguinte cronograma de implantação: • Planejamento com a formação da equipe de trabalho, que deverá selecionar as melhores práticas a serem usadas como referenciais e escolher a forma de obtenção de informações, com a condução de entrevistas e questionários. • Coleta de dados internos e externos, que serão utilizados como referenciais. • Análise das informações coletadas identificando as diferenças entre o desempenho próprio e o externo. • Implementação do projeto com a elaboração das metas de desempenho e aquelas a serem alcançadas, conforme o cronograma definido. Vejamos um exemplo possível de benchmarking no mercado de hotelaria. Quadro 19 Processo Atributos Benchmarks Escolha do hotel Familiaridade com marca, preço e qualidade McDonalds, Gateway, Barnes e Nobles e HP Sistema de reservas Disponibilidade e atendimento telefônico pela internet Coca-Cola, Amazon e empresas aéreas Acesso Localização favorável e serviços 24 horas McDonalds, lojas de conveniências e caixas eletrônicos Chegada Identificação das áreas e facilidade de uso Disney, parques temáticos e aeroportos Recepção Cordialidade, discrição e ambiente agradável Walmart, Club Med e hotéis internacionais Check-in Velocidade de atendimento sem filas ou dificuldades Locadora Hertz, caixas de supermercados e Disney Carregadores de bagagem Formalidade de atendimento com educação e cortesia Turismo de cruzeiros e joalherias 68 Unidade III 6.3 Parcerias estratégicas Com o mercado globalizado, as organizações podem promover melhorias, por meio de tratos em aspectos estratégicos, com outras empresas que atuam no ramo. Fazer parcerias, acordos de operação, produção, comercialização e distribuição de produtos e serviços em mercados específicos pode conferir às instituições um diferencial competitivo e suprir eventuais deficiências no desempenho dos processos estabelecidos. As condições atuais dos mercados exigem das organizações uma série complexa e diversificada de competências organizacionais, como agilidade, flexibilidade, capacidade de inovação, produtividade e disponibilidade de recursos financeiros, que são difíceis de estarem presentes em uma entidade. Estabelecer parceiras estratégicas que permitam que as organizações adquiram vantagens competitivas, como apresentar novos produtos e serviços aos clientes, obter participação em novos mercados, aumentar o faturamento e a rentabilidade, otimizar a utilização de recursos na cadeia de suprimentos, redução de custos e menor necessidade de investimentos. Para concretizar a formação de cooperações estratégicas, as organizações devem definir os objetivos e os resultados que pretendem alcançar por meio de criteriosa seleção dos parceiros, considerando as competências de cada possibilidade de colaboração e sua complementaridade com os processos atuais. Precisam avaliar a situação financeira dos parceiros e a capacidade destes em atuar de forma conjunta nos mercados. Questões-chave para a definição de uma parceria estratégica: • Quais os benefícios esperados? • Como as duas partes podem ganhar com a parceria? • Qual a visão dos parceiros em relação à situação atual e futura dos mercados? • Quais as vantagenspara os dois lados em termos de competitividade? • Como o mercado reagirá com o estabelecimento da parceria? Com essas questões devidamente amadurecidas e confirmadas, as parcerias devem ser concretizadas com a assinatura de um contrato e com a definição do responsável pela gestão operacional. Saiba mais Para compreender melhor a necessidade de as organizações desenvolverem novas competências, recomendamos o livro a seguir: SENGE, P. M. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. Rio de Janeiro: Best Seller, 1995. 69 GESTÃO DE PROCESSOS Para que a parceria seja de longa duração e alcance os objetivos previstos, as organizações precisam se comprometer efetivamente com o parceiro, utilizar o apoio de consultorias para a fase de avaliação e decisão, propor negociações em condições ganha-ganha, desenvolver habilidades de lidar com culturas diferentes e atuar em um ambiente de confiança mútua, de comunicação fácil, rápida e transparente. 6.4 Downsizing O objetivo da técnica denominada downsizing é reduzir o quadro de funcionários e os níveis hierárquicos das organizações, permitindo maior integração entre o nível operacional e as lideranças. Entre as motivações para as organizações utilizarem essa técnica de gestão, podemos apontar a busca de maior agilidade e produtividade, redução de custos e adaptação da estrutura organizacional para a gestão de processos, que necessita de velocidade de informação e comunicação entre os níveis hierárquicos. Para a implantação, é necessário que as empresas elaborem um planejamento financeiro para assumir os custos das demissões necessárias e evitar um ambiente de trabalho desmotivador e de baixa produtividade. As organizações devem formar uma equipe de funcionários de reconhecida capacitação e conhecimento da cultura interna, avaliar a necessidade de contratação de consultorias e estabelecer um cuidadoso processo de comunicação interna, com informações claras e objetivas sobre as mudanças promovidas. 6.5 Inovações Inovação significa novidade ou renovação. É uma ação gerencial que pode ser adotada para o aperfeiçoamento dos processos e comporta diversas definições. Adotaremos a definição da Fundação Nacional da Qualidade, que descreve a inovação como a introdução de características originais, diferenciadas ou incomuns, desenvolvidas e incorporadas em produtos e processos da organização com valor percebido pelas partes interessadas (FNQ, 2011). A introdução de inovações nas organizações compreende desde o desenvolvimento de novas atividades técnicas de concepção e desenvolvimento de produtos até a incorporação de novos métodos de gestão e aumento da competitividade. Podemos classificá-las em quatro tipos principais: • Inovação de produto: introdução no mercado de novos produtos ou serviços por meio de melhorias nas especificações técnicas, materiais utilizados, softwares incorporados e outras habilidades funcionais. • Inovação de processo: implantação de novos processos de produção ou logística por meio de novas tecnologias, equipamentos, terceirização, parcerias e utilização da internet. • Inovação organizacional: implantação de novos métodos organizacionais na execução dos trabalhos ou relações externas. 70 Unidade III • Inovação de marketing: novas formas de atuação na comunicação com os clientes, com melhorias no design dos produtos, embalagem, preço, distribuição e promoção comercial. A inovação é condição vital nos mercados em que o padrão produtivo e tecnológico é definido a partir de constantes desenvolvimentos e mudanças nas necessidades dos clientes, tornando as organizações capazes de manter e melhorar os resultados e a sustentabilidade. As inovações podem ocorrer por ações planejadas, organizadas e com base na busca consciente e intencional de novas oportunidades, que surgem em função de alterações no padrão do mercado e no perfil dos clientes. Observação As inovações tecnológicas são as que ocorrem em maior velocidade nos mercados de comunicação e internet e exigem das organizações elevados investimentos na aquisição de softwares e hardwares, bem como funcionários atualizados e eficientes. 6.6 Reengenharia de processos de negócios Reengenharia é uma expressão desenvolvida por Hammer (1997) para descrever uma técnica de gestão baseada em mudanças. Tais mudanças integram funções e unidades organizacionais em busca de excelência na prestação de serviços e fornecimento de produtos aos clientes, podendo também ser aplicada aos seguintes segmentos: reengenharia de negócios, reengenharia organizacional e reengenharia de processos. As abordagens da reengenharia podem ser trabalhadas de forma isolada ou conjunta, de acordo com a realidade da organização, e são consideradas como uma técnica radical de gestão, que permite a reestruturação total das empresas com grande impacto na administração das operações, visando ganhos de produtividade (OLIVEIRA, 2009). Entre as características dos processos de reengenharia, podemos citar: • Eliminação dos processos que não agregam valor aos clientes. • Integração entre os processos internos da organização com fornecedores, distribuidores e clientes. • Aumento da produtividade por meio da centralização de atividades de vários locais em uma única localidade. Se cada uma das atividades desenvolvidas for competitiva, em termos de custos e benefícios, os produtos e serviços serão competitivos no mercado. Os processos de reengenharia partem da premissa de realizar uma profunda reestruturação dos processos da organização pela integração de atividades e tarefas, eliminação de departamentos 71 GESTÃO DE PROCESSOS e funções, eliminação de perdas e desperdícios, eliminação de atividades executadas em paralelo, fortalecimento da tomada de decisão nas equipes operacionais, redução de cargos e funções e uso de novas tecnologias de informação. Com a adoção de projetos de reengenharia de processos de negócios, as organizações têm como objetivos: aumentar a receita e a produtividade, melhorar a qualidade dos produtos e serviços, satisfazer os clientes e implantar métodos de gestão de processos eficazes e eficientes. 6.7 Precauções na implantação de projetos Implementar mudanças é uma decisão estratégica e imperativa em função da evolução dos mercados, que precisam de acurado planejamento e gestão para o efetivo sucesso. Algumas precauções precisam ser tomadas previamente pela diretoria, de forma a evitar desperdícios de recursos e de tempo, bem como desmoralização das mudanças (OLIVEIRA, 2009). Entre as principais precauções que as organizações precisam tomar para obter sucesso, estão as seguintes: • focalizar a totalidade dos negócios e não apenas processos internos; • ter foco em prioridades definidas; • interagir com os diversos departamentos e interessados; • promover mudanças com visão nos processos; • não gastar muito tempo com levantamentos e análises desnecessários; • montar equipes de projetos com tempo dedicado a melhorias; • criar um clima organizacional favorável à cultura de mudanças. Resumo Dentro dos temas propostos, estudamos as principais técnicas disponíveis às organizações para a implantação de projetos de melhoria nos processos e na gestão empresarial. As melhorias organizacionais dividem-se em dois grupos: melhorias incrementais, que são gradativas e evoluem conforme as avaliações e as necessidades das organizações; e melhorias radicais, que são as que introduzem mudanças reais e transformam a gestão e as estruturas estabelecidas de forma rápida e profunda, também conhecidas como reengenharia de processos de negócios (RPN). 72 Unidade III Avaliamos que, entre as possibilidades de ação por meio de melhorias e pela introdução de inovações, as organizações podem se valer de técnicas diferenciadas, como a terceirização de atividades e processos (outsourcing) e a adoção de benchmarking de padrões e processo. Além dessas alternativas, as instituições podem estabelecer e criar parceriasestratégicas com empresas e concorrentes de mercado, implementar processos de downsizing, ou redução de níveis hierárquicos e posições administrativas, e introduzir inovações de produtos, serviços, marketing e realizar mudanças transformadoras, conhecidas como reengenharia. Exercícios Questão 1. (Enade 2009) O laboratório de biotecnologia Ypslon apresentou resultados muito abaixo do esperado na última pesquisa de satisfação dos clientes. Diante disso, encarregou o responsável pelo departamento de recursos humanos, Dr. Garrido, de desenvolver um programa de treinamento, visando à melhoria do atendimento ao cliente. Com base na situação descrita, considere os seguintes objetivos de um programa de treinamento e desenvolvimento: I - Proporcionar ao funcionário oportunidades para o contínuo desenvolvimento em seu cargo atual. II - Utilizar instrumental adequado que permita a medição do desempenho do funcionário durante um dado período de tempo. III - Mudar a atitude dos funcionários para criar um relacionamento interpessoal mais satisfatório e para aumentar o seu nível de envolvimento. IV - Identificar os funcionários que necessitam de reciclagem e selecionar os empregados com condição de receberem promoção ou serem transferidos. Estão corretos somente os objetivos: A) I e III. B) III e IV. C) II e III. D) I e IV. E) I e II. Resposta correta: alternativa A. 73 GESTÃO DE PROCESSOS Análise das afirmativas I - Afirmativa correta. Justificativa: entre os motivos para o treinamento, segundo Marras (2000), podemos assinalar: a adequação ao cargo; o desenvolvimento de competências produtivas e inovadoras; a necessidade de agregar valor às pessoas, à organização e aos clientes; a melhoria do desempenho no cargo; a mobilização e o ajuste dos vários mecanismos de ação motora a operações mentais; e a alteração do comportamento de menor rendimento profissional para o de alto desempenho. O programa de treinamento deve oferecer oportunidades para o contínuo desenvolvimento dos funcionários, principalmente daqueles envolvidos em atividades fins da empresa, como, por exemplo, o atendimento a clientes, a comercialização e o desenvolvimento de projetos e produtos. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: a utilização de instrumental adequado que permita a medição do desempenho do funcionário durante dado período de tempo possibilita uma aferição mais correta e precisa daquilo que se pretende medir. Porém, para que se defina a aplicabilidade dos indicadores de desempenho apurados, é necessário saber o que está sendo medido e qual o intuito dessa medição. Se a medição objetivar a identificação de necessidades de treinamento, antecederá a elaboração do programa; portanto, não pode ser um objetivo do programa. III – Afirmativa correta. Justificativa: o treinamento adapta a pessoa para um cargo ou função e atende às especificações de um programa preestabelecido para a adaptação do homem ao trabalho. Pode-se treinar e mudar a atitude dos funcionários para criar um relacionamento interpessoal mais satisfatório e para aumentar o nível de envolvimento e comprometimento com os resultados. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: os procedimentos e os processos de identificar os funcionários que necessitam de reciclagem e de selecionar os empregados com condição de receberem promoção ou serem transferidos antecedem o programa de treinamento, pois servem como meios de selecionar os funcionários que devem ser treinados. A partir desse ponto, com base nas análises das necessidades de treinamento, torna-se possível estabelecer os objetivos de treinamento do programa a ser elaborado e executado na empresa. Questão 2. Um especialista em segurança é contratado por uma pequena clínica que gera, em seu processo operacional, alguns tipos de resíduos sólidos e se preocupa com os seus funcionários. Ao elaborar o plano de gerenciamento de resíduos sólidos, ele se atém aos pontos que podem comprometer a segurança dos colaboradores e da população que vive ao redor da empresa. Avalie as alternativas que seguem: 74 Unidade III I - Os resíduos sólidos são classificados em inertes e não inertes, sendo que os não inertes podem ser perigosos e não perigosos. II - A classificação de um resíduo é feita com base na identificação de seus constituintes e no processo que o originou. III - Quando se trata de resíduos tóxicos, as embalagens que os contém (ou continham) seguem a mesma classificação dos resíduos. IV - Cada tipo de resíduo é identificado por um código formado por uma letra e três algarismos. Estão corretas as afirmativas: A) I e IV. B) II e IV. C) I, II e III. D) I, II e IV. E) II, III e IV. Resposta correta: alternativa E. Análise da questão Justificativa geral: a afirmativa I é incorreta por indicar que os resíduos são classificados em inertes e não inertes, subdividindo os últimos em perigosos e não perigosos.
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