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Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Farmacologia dos antifúngicos INTRODUÇÃO Os fungos são organismos eucarióticos Possuem vias metabólicas são homólogas as hu- manas (produção de energia, síntese de proteí- nas e divisão celular) Há maior dificuldade no desenvolvimento de anti- fúngicos seletivos do que no desenvolvimento de antibacterianos – a principal estratégia é analisar as diferenças bioquímicas sendo o esterol da membrana uma grande diferença (colesterol x colesterol) São microrganismos muito diferenciados com es- trutura relativamente complexa A patogenia das infecções fúngicas se baseia na interrelação entre o sistema imune do hospedeiro e a patogenicidade do fungo O uso indiscriminado de antibacterianos alteraram a microbiota do ser humano, o que desencadeou a prevalência de alguns fungos que antes não causavam doenças e agora causam (imprescindí- vel o uso racional de antimicrobianos) Fatores que contribuem para o aumento da incidência de infecções fúngicas Uso indiscriminado de antibióticos de largo espec- tro Uso de corticoesteroides (imunossupressão) Quimioterapia antineoplásica Uso de cateteres e implantes permanentes Utilização de drogas imunossupressoras Pandemia do HIV/AIDS Irradiação Alvos para os fármacos antifúngicos Antifúngico ideal Amplo espectro de ação Baixa toxicidade Múltiplas vias de administração Excelente penetração no líquido cefalorraquidiano, urina e osso Estratégias terapêuticas Profilaxia – antifúngico para impedir que haja o desenvolvimento de uma infecção (pessoas imu- nocomprometidas ou que vão fazer algum proce- dimento cirúrgico) Terapia empírica – empirismo embasado Tratamento preemptivo – quando existe indicati- vos mais específicos de infecção fúngica Terapia específica – identificação concreta FÁRMACOS SISTÊMICOS DE COMBATE A MICOSES SUBCUTÂNEAS E SISTÊMICAS Anfotericina B Polieno – agentes antifúngicos macrolídeos poli- êncos desenvolvidos na década de 50 e derivados de espécies Streptomyces Durante muito tempo foi o único tratamento para micoses sistêmicas (candidíase, meningite Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA criptocócica, aspergilose invasiva, zigomicose, coccidiodomiose, blastomicose e histoplasmose) Estrutura molecular – porção polar e porção apolar (permite que se encroste na membrana) Mecanismo de ação – entra na membrana plas- mática fúngica e forma um poro (ionóforo) que resulta num descontrole hidroeletrolítico Tem uma afinidade ao ergosterol (fungo) 500 ve- zes maior que o colesterol (mamífero) – alguns fungos adquiriram resistência substituindo o er- gosterol na sua membrana Formulações – buscam reduzir a toxicidade em uma concentração plasmática eficiente Farmacocinética (não possui boa absorção) Via oral – fungos no TGI IV – infecções sistêmicas Intratecal – meningite coccidioide Tópica – injeção subconjuntival direta Tem baixa metabolização Excreção lenta pelo rim e pela bile Indicações terapêuticas Indicações contra protozoários – leishmani- ose Padrão ouro no tratamento das infecções disseminadas (aspergilose e candidíase) Pode atuar contra Candida spp., Cryptococcus neoformans, Blastomyces dermatitidis, Histo- plasma capsulatum, Sporotrix schenckii, Coc- cioides immitis, Paracoccidioides braziliensis, Aspergillus spp., penicillium marneffei e agen- tes da mucormicose Ação sinérgica com a flicitosina Não deve ser associada com os azóis (reduz o local de ligação da anfotericina) Efeitos adversos Febre, calafrios, insuficiência renal, hipoten- são e anemia Tempestade de citocinas – pode ter sintomas controlados com o uso de corticoides e anti- piréticos Hipotensão e anafilaxia em indivíduos mais se- veramente atingidos Hipopotassemia Toxicidade renal relacionada a dose, isquemia renal (vasoconstrição das arteríolas aferen- tes), redução da função renal (ter cuidado com outros fármacos nefrotóxicos) – podem ser utilizados infusão de solução salina normal ou de fármacos de formulação lipídica para amenizar os sintomas Outras toxicidades são distúrbios acidobási- cos, alteração da função hepática, trombo- flebite local (IV), neurotoxicidade (intratecal), erupção cutânea (tópico) Flucitosina Pirimidina fluorada descoberta em 1957 Mecanismo de ação – captação pelas células fún- gicas (permeia pela citosina permeasse, especí- fica das células fúngicas), citosina desaminase transforma ela em 5-fluoruracila (5-FU), essa é transformada em monofosfato ácido 5-fluorode- soxiuridina, que entra como um falso substrato para a síntese de ácidos nucleicos e proteínas inibindo a enzima timidinato sintase Tem um espectro de ação mais estreito que a anfotericina B Normalmente é utilizada em associação com ou- tros antifúngicos devido ao aparecimento de re- sistência (mutações da citosina permeasse ou ci- tosina desaminases) Indicações terapêuticas Criptococcus neoformans, Candida spp. (fluci- tocina e anfotericina B) e agentes da cromo- blastomicose (flucitosina + itraconazol) Efeitos adversos Náuseas, vômito e diarreia Enterocolite grave e distúrbios das enzimas hepáticas Supressão da medula óssea Contraindicada na gravidez por ser teratogê- nica FÁRMACOS INIBIDORES DA VIA DE SÍNTESE DO ERGOSTEROL Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Derivados azólicos Inibidores da enzima 14-alfa-desmetilase (trans- forma o lanosterol em ergosterol) – acúmulo de lanesterol leva a desagregação dos fosfolipídeos comprometendos as funções enzimáticas ligadas as membrana o que inviabiliza o crescimento fún- gico Imidazois e Triazois Mutações das enzimas do P450 fúngico e hipe- rexpressão de proteínas transportadoras de efluxo de múltiplos fármacos Indicações terapêuticas múltiplas Pode atuar contra Candida spp., Cryptococcus neoformans, Blastomyces dermatitidis, Histo- plasma capsulatum, Coccioides spp., Paracoc- cidioides braziliensis e fungos dermatófitos Tem atividade intermediária contra o Asper- gillus spp. e Scedosporium schenckii Contraindicados para gestantes a menos que o benefício potencial supere os riscos ao feto (teratogênico) IMIDAZOIS Menor especificidade pelas enzimas do CYP450 dos fungos do que dos mamíferos quando com- parados aos triazois – maior incidência de intera- ções e efeitos adversos Possuem alto risco de hepatotoxicidade – exige um monitoramento das enzimas hepáticas Deve ser dada preferência as preparações tópi- cas Cetoconazol 1° azol utilizado para tratar infecções fúngi- cas sistêmicas Seu uso foi substituído pelo itraconazol no tratamento de todas as suas micose Inibe a síntese de esteroides adrenocorticais e de testosterona em doses elevadas (esse efeito adverso foi redirecionado para o tra- tamento da síndrome de Cushing, inibe a pro- dução excessiva de cortizol) A inibição do citocromo pode interferir na metabolização de outro fármacos TRIAZOIS Itraconazol Disponível em formulações oral e intravenosa Tem ampla distribuição exceto no TCR, urina e saliva É metabolizado no fígado se transformando em um metabólito ativo e aumentando o tempo de ação (hidroxi-itraconazol) Indicado para dermatofitoses e onicomicoses (alta afinidade pela queratina), fármaco de es- colha contra infecções fúngicas não menin- ges, raramente utilizado contra aspergilose e candidíase, tem grande teratogenicidade Efeitos adversos – hepatotoxicidade, náu- seas, vômito, diarreia, dor abdominal, hipopo- tassemia, edema de pés e queda de cabelo Fluconazol Alta biodisponibilidade oral e sofre livre difu- são no LCR, no escarro, na urina e na saliva Tem o maior índice terapêutico entre os azois – menor quantidade interações com as enzi- mas do CYP450 e melhor tolerância gastrin- testinal Indicado para meningite criptocócica em paci- entesHIV positivos após estabilização do Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA quadro clínico utilizando a anfotericina B por 2 a 3 semana, formas não meníngeas de criptococose, tratamento de forma neuroló- gica da coccidiodomicose, é utilizado na candi- díase, na profilaxia contra infecções fúngicas invasivas em receptores de transplantes de medula e não é efetivo contra aspergilose e outros fungos filamentosos Possui como efeitos adversos náuseas, vô- mito, dor abdominal, diarreia, em menor quan- tidade alopecia reversível com terapia oral prolongada e foram relatados casos raros de síndrome de Stevens-Johnson e insuficiência hepática Voriconazol Tem estrutura relacionado com o fluconazol Disponível por via oral ou intravenosa Tem cinética de ordem 0 (depende da dose) Indicado no tratamento da aspergilose inva- siva, candidemia e outros fungos filamentosos Tem como efeitos adversos a hepatotoxici- dade, arritmia cardíaca, concentrações ele- vadas ainda podem causar alucinações visuais, auditivas e rash cutânea É teratogênico Posaconazol Semelhante ao itraconazol Ampla distribuição nos tecidos Membro dos azois com maior espectro de ati- vidade Indicado no tratamento e profilaxia de infec- ções invasivas por Candida spp. e aspergilose em pacientes gravemente imunocomprometi- dos, infecções fúngicas invasivas causadas por Scedosporium e Zygomycetes e é o único agente com atividade significativa contra mu- cormicoses (oportunista) Os efeitos adversos são náuseas, vômitos, di- arreia, dor abdominal e cefaleia (comum), pode ocorrer erupção cutânea, hipopotasse- mia, trombocitopenia e alterações das provas de função hepática É teratogênico Terbinafina É uma alilamina sintérica Inibe a esqualeno epoxidase (transforma o esqua- leno em lanosterol) Farmacocinética Biodisponibilidade reduzida devido ao metabo- lismo de primeira passagem Composto fungicida queratinofílico, altamente lipofílico, ativo em uma ampla gama de pató- genos da pele Ainda não foi observado nenhum problema de teratogenicidade Não é recomenda em pacientes com insufici- ência renal e hepática (metabolização e ex- creção) Indicada para dermatofitoses em especial as onicomicoses ((afinidade com a queratina) Possui efeitos adversos raros que são o descon- forto gastrointestinal, cefaleia, exantema, hepa- totoxicidade, síndrome de Stevens-Johnson, Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA neutropenia e exacerbação de psoríase ou lúpus eritematoso cutâneo subagudo EQUINOCANDINAS Caspofungina, micafungina e anidulafungina Micropeptídeos semissintéticos derivados de pro- dutos naturais Mecanismo de ação – inibem de maneira não competitiva a síntese de 1,3-beta-D-glicanos que ajudam a manter a estrutura da parede celular fúngica, assim a célula é encaminhada para a lise (o fungo não consegue comportar a pressão os- mótica) São indicadas no tratamento da aspergilose e da candidíase resistentes a outros tratamentos (emergências) Caspofungina utilizada para o tratamento da candidíase e de formas daa aspergilose inva- siva refratárias à anfotericina B MIcafungina utilizada no tratamento da candidíase mucocutânea e da candidemia Anidulafungina utilizada no tratamento da candidíase esofágica e invasiva Normalmente são bem toleradas, mas pode oca- sionar liberação de histamina, cefaleia, febre (caspofungina), provas de função hepática anor- mais e raramente hemólise, tem potencial tera- togênico (estudos em animais) A caspofungina é utilizada para o tratamento da candidíase GRISEOFULVINA Derivada do Penicillium griseofulvum Mecanismo de ação – inibe a mitose dos fungos se ligando a tubulina e a uma proteína associada aos microtúbulos rompendo a organização do fuso mitótico (fungestático) Farmacocinética Boa absorção por VO e melhorada com ali- mentos ricos em gordura Boa distribuição em tecidos queratinizados e adiposo Indicada contra dermatóficos, caiu um pouc em desuso em função do itraconazol e da terbinafina que apresentam maior eficácia e segurança Baixa incidência de reações adversas, mas pode causar um amplo espectro de reações Contraindicado na gestação É um indutor do CYP450 (interações medicamen- tosas) Aumenta o metabolismo da varfarina Diminui a eficácia de anticoncepcionais com baixo teor de estrogênio FÁRMACOS TÓPICOS UTILIZADOS CONTRA MICOSES CUTÂNEAS Nistatina Polieno muito semelhante a anfotericina B (for- mação do poro Indicada no tratamento da candidíase acometendo a pele, mucosa oral e vaginal Não é utilizada por via parenteral (alta toxicidade), a administração deve ser tópica ou oral (atua no próprio TGI, tem uma péssima absorção) Azólicos tópicos Maria Luiza Maia – M3 2021 FARMACOLOGIA Imidazois tópicos – tratamento de dermatite se- borreica, ptiríase versicolor (pano branco), der- matófitos, candidíase oral e vuvlvovaginal, os efei- tos adversos estão associados ao uso tópico (der- matite de contato, irritação vulvar e edema) Inibidores da esqualeno epoxidase Alilaminas sintéticas (terbinafina, naftifina e amo- rolfina) Benzilamina (butenafina) – utilizada principal- mente contra as tinhas Mais efetivos que os azólicos tópicos contra der- matofitoses comuns
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