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Fabiana Bilmayer I Integrado T2 TUTORIA 01 - MÓDULO FADIGA, PERDA DE PESO E ANEMIA REVISÃO - SENESCÊNCIA ENVELHECIMENTO E MEDICINA GERIÁTRICA CECIL (cap 25) Sequelas clínicas comuns do envelhecimento Epidemiologia Os idosos constituem a maioria de pacientes tratados ativamente no sistema de saúde, em grande parte devido à sua carga aumentada de doenças crônicas, mas também, por causa da sua vulnerabilidade acentuada a desfechos adversos de saúde, tais como declínio cognitivo, quedas, delírio e debilidade. Acredita-se que essa vulnerabilidade relacionada com a idade tenha sua base na biologia alterada que resulta em alterações de tecidos e sistemas fisiológicos que, por sua vez, podem contribuir para muitas dessas condições e para os estados de doença crônicas comumente observados nos idosos. Essas alterações biológicas complexas relacionadas com a idade representam uma fonte de vulnerabilidade que determina o cenário para o aumento marcado de sequelas clínicas observado nos adultos idosos. Efeitos do envelhecimento em órgãos e sistemas específicos SISTEMA CARDIOVASCULAR Entre os 20 e 80 anos de idade, a função ventricular esquerda sistólica não muda, mas o ventrículo esquerdo fica gradualmente mais espesso. O resultado é que o enchimento ventricular esquerdo durante o início da diástole declina 50%, e o enchimento ventricular torna-se mais dependente da contração atrial. Embora a aterosclerose seja a causa mais importante de doença cardíaca sintomática na população idosa, a rigidez vascular associada com a idade resulta em um aumento da insuficiência cardíaca relacionado com a idade apesar da função sistólica normal. Com a perda gradual de até 90% das células marca-passo (pacemaker) do nó sinusal pelos 80 anos de idade, tanto a frequência cardíaca em repouso quanto a frequência cardíaca máxima com o exercício diminuem. A disfunção do sistema de condução contribui para um aumento na prevalência de fibrilação atrial, a qual é observada em cerca de 4% de indivíduos idosos vivendo na comunidade e pode se desenvolver em até um terço dos idosos após cirurgia. As valvas cardíacas espessam e enrijecem, aumentando a prevalência de estenose aórtica e calcificações do anel mitral, frequentemente causando sopros cardíacos. O enrijecimento da aorta causa um aumento da pressão arterial sistólica, enquanto a pressão arterial diastólica muitas vezes permanece estável ou até diminui. Fabiana Bilmayer I Integrado T2 A combinação de enchimento ventricular reduzido e a incapacidade em aumentar a frequência cardíaca com o estresse contribui para a hipotensão postural que é observada em 20% dos indivíduos idosos, assim como para sua predisposição para síncope com níveis de estresse que indivíduos mais novos tolerariam. A capacidade reduzida do idoso em tolerar o estresse cardiovascular deve ser reconhecida e antecipada sempre que eles sofram uma doença importante. Adicionalmente, a doença da artéria coronária pode limitar a reserva cardíaca e aumentar o risco de que a hipotensão cause um infarto do miocárdio secundário. SISTEMA ENDÓCRINO Os níveis do hormônio do crescimento caem com o avanço da idade, resultando em uma diminuição da força muscular, afinamento dos ossos e pele, e aumento da gordura central. No entanto, reposição do hormônio do crescimento não parece resultar em uma melhoria da força muscular. Os níveis dos hormônios tireoidianos não declinam com a idade. No entanto, os níveis do hormônio da paratireóide em geral aumentam, em especial nas mulheres, provavelmente em resposta ao declínio da capacidade do rim em manter níveis séricos normais de fósforo e cálcio. A capacidade do pâncreas em liberar insulina está prejudicada com o avanço da idade, mas a remoção da insulina pelo rim também diminui. O resultado líquido é a manutenção dos níveis de insulina plasmática no estado de jejum, mas um aumento de probabilidade de hiperglicemia pós-prandial ou induzida por estresse. O drástico declínio na produção de estrógenos e progesterona precipita a menopausa, em média, aos 51 anos de idade. Os níveis de testosterona começam a diminuir no homem perto dos 50 anos de idade, muitas vezes com o resultante declínio na função sexual, mas não na potência do sêmen. Os suplementos de testosterona revertem a perda muscular e as implicações sexuais do declínio dos níveis de testosterona, mas aumentam em cinco vezes o risco de complicações cardiovasculares. SISTEMA RESPIRATÓRIO A parede torácica enrijece com o avanço da idade, e os pulmões perdem o recolhimento elástico. A capacidade vital máxima diminui em cerca de 40%, mas a troca de oxigênio declina 50% devido ao efeito aditivo da progressiva inadequação de ventilação-perfusão. Consequentemente, a PO2 arterial de muitos indivíduos com 80 anos é de cerca de 70 a 75 mmHg. As manifestações clínicas muitas vezes são a falta de ar progressiva com o exercício, uma suscetibilidade aumentada para pneumonia adquirida na comunidade e até para pneumonia de aspiração. SISTEMA GASTROINTESTINAL O paladar e o olfato declinam com a idade avançada. Os alimentos tendem a ter sabor menos doce e mais amargo. O esfíncter esofágico pode se tornar relaxado, aumentando desse modo o refluxo e mesmo a aspiração. A gastrite atrófica reduz o risco de ferida duodenal, mas também a absorção de ferro e de vitamina B12. O esvaziamento gástrico retardado pode levar a uma sensação de saciedade precoce e diminuição do apetite. Um declínio gradual no número de hepatócitos diminui o peso do fígado em cerca de um terço pelos 90 anos de idade e diminui a capacidade do fígado em metabolizar fármacos. A motilidade do cólon distal da área do retossigmoide ao canal anal diminui, e mais de 60% dos indivíduos idosos desenvolvem obstipação. Os divertículos tornam-se mais comuns com a idade e são observados em até 50% das pessoas com mais de 80 anos de idade. SISTEMA URINÁRIO A filtração glomerular diminui cerca de 1% ao ano, e o tamanho dos rins diminui em cerca de um terço nos adultos idosos. A capacidade de concentração máxima declina, e torna-se mais difícil excretar carga salina ou conservar água no caso de desidratação. A bexiga torna-se mais irritável com o avanço da idade e pode gerar menos potência, que é especialmente um problema nos homens com hipertrofia prostática. Em comparação, a incontinência urinária é mais prevalente nas mulheres. O volume urinário residual da bexiga aumenta, sendo a noctúria comum. A atrofia vaginal e uretral predispõe as mulheres a infecções do trato urinário. O rim é mais suscetível aos efeitos das medicações, particularmente fármacos anti-inflamatórios não esteroides, o que pode resultar em uma retenção de sódio e Fabiana Bilmayer I Integrado T2 fluidos e subsequente hipertensão. Nos indivíduos idosos, uma ligeira acidemia resulta da excreção de ácidos comprometida e pode contribuir para o desenvolvimento de osteoporose. SISTEMA IMUNE O declínio da resposta do sistema imune explica as razões pelas quais a incidência de condições autoimunes, tais como o lúpus eritematoso e a esclerose múltipla, diminui no idoso. No entanto, esse mesmo declínio explica o aumento da morbidade e da mortalidade por doenças infecciosas e o aumento de risco de reativação de infecções como a tuberculose e o herpes-zóster. Esses riscos salientam a importância da vacinação no idoso contra o herpes-zóster, influenza, pneumonia pneumocócica e tétano. SISTEMA HEMATOPOIÉTICO A hematopoiese geralmente se mantém com o envelhecimento, exceto na resposta ao estresse acentuado. A única exceção é que o hematócrito declina um pouco no homem idoso, presumivelmente devido aos seus níveis baixos de testosterona. SISTEMA TEGUMENTAR Com o envelhecimento, a epiderme e a derme aderem menos firmemente, e o tecido subcutâneo afina, tornando, desse modo, a pele mais frouxa e mais propensa a enrugar e ulcerar. As sequelas clínicas incluem púrpura senil devido a lacerações em pequenas vênulas após pancadas ou abrasões. A exposição à luz ultravioleta também predispõe ao câncer de pele, rosácea, xerose e perdade cabelo. A cicatrização de feridas também está comprometida, e a cicatrização completa da pele pode demorar 5,5 semanas nos indivíduos com mais de 65 anos, em vez de 3,5 semanas. Em consequência disso, os adultos idosos estão mais propensos a úlceras de pressão quando estão confinados à cama. As úlceras de pressão, que são áreas necróticas de músculo, gordura subcutânea e pele, ocorrem usualmente entre o osso subjacente e uma superfície dura (ou uma superfície mole durante um período prolongado) como resultado de compressão e isquemia subsequente. É necessário um limiar de apenas 30 a 35 mmHg de pressão contínua para causar úlceras de pressão, e um colchão padronizado pode gerar pressões cinco vezes superiores. Adicionalmente à lesão de pressão, outros fatores contributivos incluem a lesão de cisalhamento por esfregar-se constantemente contra as superfícies subjacentes; lesão de queimadura por fricção de camadas superficiais da pele; e a umidade que amacia a pele, faz com que ela adira às superfícies subjacentes, proporcionando um acesso fácil a infecção. Posicionamento seguro, mudanças de posição regulares, evitação da pressão direta, camas redutoras de pressão, colchões de espuma e as camas de suspensão por ar podem reduzir a incidência das úlceras de pressão. As úlceras de pressão devem ser fotografadas para se estabelecer uma referência de base. A ferida dever ser liberta de qualquer pressão para prevenir feridas de pressão adicionais. Os curativos de úmido a seco são um pilar fundamental, e os curativos semioclusivos e oclusivos podem também ser úteis. É frequentemente necessário o desbridamento cirúrgico ou químico. Podem ser necessários antibióticos tópicos ou sistêmicos. As úlceras de pressão curam-se habitualmente em 6 meses, mas a reparação cirúrgica é algumas vezes necessária. SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO A massa e densidade musculares diminuem cerca de 1% por ano, mas até 2% a 3% por ano nos primeiros 5 a 10 anos após a menopausa nas mulheres. Os tendões e ligamentos tornam-se menos elásticos, desse modo contribuindo para uma maior incidência de rupturas, especialmente do tendão de Aquiles. A massa muscular declina cerca de 25% em torno dos 70 anos de idade e de 30% a 40% pelos 80 anos, a menos que seja compensada por exercícios. QUESTÕES ● CONCEITOS Caquexia: Extrema redução do peso corporal, com redução da massa magra, gordura e até óssea. Sarcopenia: Diminuição da massa muscular associada ao enfraquecimento desta, com redução da força e desempenho muscular, Fabiana Bilmayer I Integrado T2 gerando incapacidade física. Síndrome consumptiva: Depleção de massa magra, com atrofia muscular, de forma involuntária. Perda de peso significativa pode ser definida como perda maior que 5,0% do peso habitual no período de 6 a 12 meses. Perda de peso maior que 10,0% é considerada estado de desnutrição associado à deficiência humoral e celular mediada. Caquexia - Inflamação A. DEFINIÇÃO A caquexia é a perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo haver ou não perda de gordura. É o estado mais grave do emagrecimento. A denominação “caquexia” deriva do grego, “kakos”, má e “hexis”, condição. A caquexia associada ao câncer pode ser definida como “síndrome multifatorial, na qual há perda contínua de massa muscular (com perda ou ausência de perda de massa gorda), que não pode ser totalmente revertida pela terapia nutricional convencional, conduzindo ao comprometimento funcional progressivo do organismo”. Embora a síndrome venha sendo mais estudada no câncer, não está a esse restrito, atingindo também pacientes com falência cardíaca congestiva, com moléstias digestivas, defeitos tubulares renais, queimaduras, sepsis e AIDS. A caquexia é uma síndrome sistêmica na qual, a inflamação desempenha papel de grande relevância, afetando o metabolismo intermediário e o eixo neuro imuno endócrino. B. TIPOS - PRÉ-CAQUEXIA - CAQUEXIA - CAQUEXIA REFRATÁRIA ESTÁGIO 1 O primeiro estágio é definido como aquele no qual, o paciente apresenta perda de peso igual ou superior a 5%, anorexia e alterações metabólicas; ESTÁGIO 2 Para inclusão do paciente no segundo estágio, considera-se perda de peso igual ou superior a 5%, ou de 2%, com IMC < 20kg/m2, ou sarcopenia acompanhada de perda de peso corporal equivalente ou superior a 2%. Referem ainda presença frequente de redução da ingestão e de inflamação sistêmica. TERCEIRO ESTÁGIO O terceiro estágio (caquexia refratária) inclui os pacientes com diferentes graus de caquexia, mas nos quais há intenso catabolismo e que não respondem ao tratamento anti-câncer. Ainda nesse estágio, pacientes com baixo escore de desempenho e sobrevida esperada inferior a três meses devem ser incluídos. Os parâmetros para determinar a inclusão do paciente em cada um dos estágios abrangem a determinação da concentração de proteína C-reativa no soro, avaliação da anorexia e fatores correlatos (redução do apetite, alterações na percepção gustativa e olfativa, motilidade gastrointestinal reduzida, constipação, dor, entre outros), metabólitos indicadores de catabolismo, massa e força muscular (dinamometria dos membros superiores), bem como manifestações psicossociais. Os autores alertam para possíveis variações decorrentes da especificidade da população analisada, como por exemplo, idade, sexo, etnicidade). Essa classificação garante que o paciente receba o tratamento mais adequado às suas necessidades. Fabiana Bilmayer I Integrado T2 ASPECTOS METABÓLICOS A complexidade da síndrome é bem ilustrada pela miríade de reflexos da caquexia sobre o metabolismo energético. As alterações descritas no metabolismo de carboidratos incluem maior taxa de neoglicogênese, a partir de alanina (proveniente da musculatura esquelética), glicerol (cuja disponibilidade no fígado resulta do incremento da lipólise no tecido adiposo periférico) e de lactato, produzido pelo tumor em grandes quantidades. O glicogênio hepático é degradado, havendo massiva liberação de glicose pelo órgão. A intolerância à glicose é sintoma frequente (presente em 37% de todos os pacientes de câncer) e foi a primeira a anomalia metabólica associada à caquexia. A resistência à insulina é também comum e pode ser pelo menos parcialmente evertida pela administração de insulina exógena. O TNF-alfa tem papel na etiologia da resistência à insulina na caquexia. Os efeitos da síndrome sobre o metabolismo proteico são o alvo mais frequente dos estudos sobre a caquexia, posto que a degradação da musculatura constitui um dos sintomas mais particulares da doença. A astenia ou fraqueza estão entre as queixas mais comum dos pacientes. No jejum prolongado, mecanismos regulatórios impedem a degradação extensa da massa magra, preservando o nitrogênio corporal. Na vigência da caquexia, quando a ingestão de nitrogênio já está reduzida em razão da anorexia, tais mecanismos falham, permitindo a proteólise, inclusive da musculatura cardíaca e lisa. Estudos sugerem que há ativação de sistema ATP-dependente, mediado pela ubiquitina, e insensível a alterações na concentração celular de cálcio, bem como independente de mecanismos lisossomais de degradação. Ocorre, concomitantemente, inibição do transporte de aminoácidos para o músculo esquelético. Os principais aminoácidos liberados pela musculatura do indivíduo ou animal caquético são a alanina e a glutamina. A alanina servirá à gliconeogênese hepática, enquanto a glutamina é, em na maior parte, utilizada pelo tumor, em processos energéticos e biossintéticos. Os aminoácidos essenciais (leucina, isoleucina e valina) têm concentração plasmática aumentada, bem como taxa de “turnover” alterada na caquexia. Entre eles a leucina, que representa sozinha cerca de 8% da proteína corporal total, é mais oxidada como resultado da caquexia. A valina e a leucina são ativamente requisitadas pelo tumor em progressão. Dessa maneira, há aumento do fluxo desses aminoácidos da musculatura esquelética para o tumor, que pode ser suprimido pela utilização de agonistas para receptores adrenérgicos do tipoβ2. Em adição à marcada degradação proteica, o conteúdo de DNA da fibra muscular também é reduzido, o que induz à fragmentação, e consequentemente, à apoptose. Outras alterações descritas abrangem hipoalbuminemia e incremento na concentração plasmática de fibrinogênio, refletindo alteração na taxa de síntese das duas proteínas no fígado do organismo hospedeiro. Essas mudanças na função do fígado estão ligadas à priorização diferencial da síntese proteica, típica da resposta de proteínas de fase aguda verificadas no trauma, inflamação e infecção grave. Assim, a resposta de fase aguda desencadeada pela presença do tumor, gera aumento da proteína C reativa e do fibrinogênio. A primeira está intimamente correlacionada à dimensão da perda de peso, anorexia, reincidência do tumor e redução da sobrevida. O metabolismo energético não pode, de forma alguma, ser compreendido de forma segmentada. Há óbvia associação entre as vias do metabolismo lipídico, proteico e de carboidratos e, inúmeros mecanismos comuns de controle. A resistência periférica à insulina é um bom exemplo de efeitos metabólicos cruzados, tanto do ponto de vista causal, como do das consequências. Dessa forma, alterações promovidas pela caquexia cuja incidência é detectada em um desses compartimentos, geram indubitavelmente efeitos diretos ou indiretos sobre os demais processos metabólicos do organismo. Pode-se então afirmar que modificações no metabolismo lipídico, embora não tão abrangentemente estudadas até o Fabiana Bilmayer I Integrado T2 momento, impliquem em alterações nos mais variados níveis metabólicos e fisiológicos no organismo portador de tumor. A gordura (na forma de triacilglicerol) constitui 90% das reservas energéticas de um indivíduo adulto e é dramaticamente afetada pela síndrome da caquexia. Tanto em pacientes como em animais portadores de tumor há acentuada perda de massa gorda, que pode atingir 85% em pacientes que perderam 30% do peso inicial. A concentração plasmática de glicerol, indicativa de lipólise no tecido adiposo periférico, está aumentada na vigência do quadro, e relata-se aumento do “turnover” de ácidos graxos e glicerol em pacientes com câncer caquéticos, comparados aos que não desenvolvem a síndrome. Os ácidos graxos liberados, principalmente se poliinsaturados, podem promover o crescimento tumoral pela inativação da proteína ativadora da GTPase, e ainda, a apoptose de adipócitos. Entretanto, diversos estudos apontam para pequena participação da lipólise na perda de massa gorda, atribuindo-a, principalmente, à redução na lipogênese. Até hoje, o turnover de ácidos graxos no tecido adiposo é pouco conhecido em pacientes caquéticos. Fica claro entretanto, que há redução na deposição lipídica, mediada pela redução na expressão/atividade da enzima lipase de lipoproteínas e pela redução na concentração de insulina. A enzima lipase hormônio-sensível, por sua vez, apresenta atividade aumentada frente à estimulação pelas catecolaminas. Os efeitos da caquexia sobre o perfil lipídico plasmático são tão acentuados e característicos que têm sido preconizados como marcadores na triagem de pacientes para o diagnóstico inicial de câncer. Há marcada hiperlipemia e hipercolesterolemia. Esse quadro decorre, pelo menos parcialmente, de redução significativa da atividade da enzima lipase lipoprotéica (LPL), enzima responsável pela remoção do triacilglicerol plasmático nos tecidos periféricos. Estudos sugerem que maior taxa de lipogênese hepática também possa estar contribuindo para a elevação do conteúdo de lipídeos no plasma. Decréscimo na quantidade de colesterol transportado pela HDL (high density lipoprotein) também é relatado. Foi ainda demonstrado que o fígado de animais caquéticos possui reduzida capacidade de oxidar ácidos graxos e de sintetizar corpos cetônicos. Essas alterações determinam agravamento do déficit energético na caquexia e contribuem para a proteólise no músculo esquelético. A síntese e a secreção de lipoproteína de densidade muito baixa estão comprometidas no órgão, em virtude da redução na expressão de duas importantes proteínas necessárias para a montagem da partícula, a ApoB e a MTP (microsomal triglyceride transfer protein). C. EPIDEMIOLOGIA Afeta cerca de metade de todos os pacientes com câncer e está presente na grande maioria (mais de dois terços) dos pacientes com câncer avançado. Fabiana Bilmayer I Integrado T2 D. QUADRO CLÍNICO - Exacerbada perda de peso involuntária (massa magra), que ocorre mesmo diante de uma nutrição adequada ou com um número alto de calorias. - Anorexia, alterações no paladar, vômito,saciedade precoce, má absorção intestinal - Astenia, fadiga, perda de habilidades motoras e físicas, apatia - Perda da imunocompetência - Caos metabólico - Desequilíbrio iônico - Alteração no perfil hormonal plasmático - Disfunção hipotalâmica - Inchaço ou edema, devido aos baixos níveis de proteína no sangue. E. DX/DX DIFERENCIAL/EXAMES Os critérios diagnósticos estabelecidos em acordo pelo grupo internacional proponente da definição incluem perda involuntária de peso superior a 5%, ou 2% (em indivíduos já abaixo dos valores esperados de peso, segundo o índice de massa corporal – IMC < 20kg/m2) ou presença de sarcopenia. O mesmo grupo propõe a classificação da síndrome, segundo a gravidade, em pré-caquexia, caquexia e caquexia refratária. Uma ferramenta inicial bastante útil para avaliar o risco nutricional do paciente é aplicar o ASG-PPP para todo paciente com relato de perda de peso. Essa avaliação é baseada não só no peso, mas, também em outros fatores, como presença de anorexia, doença de base, edema e fatores inflamatórios, possibilitando, assim, a intervenção nutricional precoce, antes que a desnutrição se torne mais grave. Dessa forma, é possível melhorar a resposta ao tratamento e, consequentemente, a qualidade de vida desses pacientes. Inicialmente deve-se realizar: ● Antropometria (peso, altura e presença de edema): Deve-se utilizar a proporção de peso perdido e não medidas individuais de peso que são pouco informativas ● Determinação da massa magra: Deve-se utilizar a bioimpedância ou subtrair do peso total a massa adiposa determinada, com o uso de medidas de pregas cutâneas, sendo a área adiposa do braço a mais comumente utilizada como parâmetro ● Avaliação da força muscular: Deve-se utilizar o dinamômetro ou a avaliação subjetiva da força muscular no exame físico, considerando comorbidades e componentes psicossociais ● Exames laboratoriais: Pelo menos hemoglobina, albumina sérica e PCR devem ser avaliados em pacientes sob risco de caquexia, uma vez que podem auxiliar na determinação do plano terapêutico Em termos de avaliação bioquímica, as concentrações plasmáticas de proteínas como a transferrina e a albumina podem ser utilizadas para estimar o estado nutricional e monitorar a eficácia da terapia nutricional. Entretanto, diversos estudos apontam a albumina sérica como bom preditor prognóstico em pacientes de câncer. A Proteína C Reativa (PCR) também constitui um marcador sensível para o acompanhamento nutricional e tem como vantagem não ter concentração regulada pelos corticosteroides quando comparada a outras proteínas de fase aguda. F. TRATAMENTO Conduta Não existe um único medicamento ou plano de tratamento que tenha se mostrado sempre eficaz no tratamento da caquexia. O plano de tratamento deve incorporar vários tipos de terapia. Simplesmente aumentar o número de calorias ou mudar a dieta não mostrará Fabiana Bilmayer I Integrado T2 resultados. Algumas etapas úteis incluem criar um ambiente agradável para a alimentação, fazer exercícios leves que ajudem a adicionar massa muscular, comer pequenas refeições frequentes, consumir bebidas contendo suplementos nutricionais e usar estimulantes do apetite. Embora o comer mais não irá parar a progressão dos sintomas ou melhorar a perda de massa muscular, o aumento do apetite pode ajudar uma pessoa a participar de refeições familiares e sociais, o que traz benefícios para a saúde mental. Devidoao papel proeminente das citocinas na caquexia, têm sido feitos esforços contínuos para usar o antagonismo de citocinas como uma opção terapêutica na caquexia. No entanto, outros tratamentos podem ajudar a caquexia e melhorar a função. Os corticoides aumentam o apetite e podem melhorar o senso de bem-estar, mas fazem pouco para aumentar o peso corporal. Igualmente, os canabinoides (maconha, dronabinol) aumentam o apetite, mas não o peso. Progestógenos, como acetato de megestrol 40 mg duas ou três vezes ao dia, podem aumentar o apetite e o peso corporal. Os fármacos para alterar produção e efeitos de citocinas estão sendo estudadas. Corticoides: Dexametasona 4mg ou Prednisona 30mg VO pela manhã. Reduz náusea, aumenta apetite, a energia e o bem-estar. A ação é rápida, mas o efeito tende a diminuir após 3-4 semanas. Usar associado a inibidor de bomba de prótons. Efeitos colaterais: retenção de fluidos, candidíase, miopatia, gastrite e hiperglicemia Progestógenos: Megestrol dose inicial 160mg/dia. Revisar dose entre 2 a 3 semanas. Demora algumas semanas para fazer efeito, mas o benefício é mais prolongado do que o dos esteróides. Útil para pacientes com prognóstico longo. Baixas doses estimulam apetite tão eficientemente quanto altas doses, entretanto, há o aumento significativo do risco de tromboembolismo pulmonar. Reduzir dose gradativamente se usado por mais de três semanas (supressão adrenal). Efeitos colaterais: náusea, retenção fluida e risco aumentado de tromboembolismo Procinéticos: Devem ser considerados em casos de saciedade precoce, náusea ou vômito associado. Considere Metoclopramida 10mg ou Domperidona 10mg 3x/dia 30min antes das refeições. Útil para pacientes com saciedade precoce, esvaziamento gástrico retardado, gastroparesia ou náusea. ------------------------------------- A caquexia é a perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo haver ou não perda de gordura. É o estado mais grave do emagrecimento. A sarcopenia é usualmente uma síndrome geriátrica, caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempenho, gerando um déficit funcional no idoso. A desnutrição simples pode ser tratada com a introdução cuidadosa e programada da nutrição adequada. Na sarcopenia deve-se associar maior ingestão proteica e exercícios. Na caquexia, ingestão de nutrientes específicos (por exemplo HMB) e exercícios físicos. ------------------------------------- Fisiopatologia da perda de peso Divide-se a base fisiopatológica da perda de peso em três categorias: diminuição da ingestão de alimentos, metabolismo acelerado ou aumento da perda de energia. A perda de peso pode ser traduzida como um sintoma de desordem multifatorial que inclui alteração da ingesta calórica, da absorção intestinal, da motilidade intestinal, do uso de medicamentos e abuso de drogas ou da produção aumentada de substâncias endógenas como fator de necrose tumoral, a interleucina 6, substâncias bombesina-like e fatores liberadores de corticotropina. Outros fatores como náusea e vômito causados pela quimioterapia também são importantes processos associados à perda de peso, bem como dor oncológica e compressões tumorais do trato gastrintestinal, quando provocam disfagia e distensão https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1312933/como+ganhar+massa+muscular.htm https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1312933/como+ganhar+massa+muscular.htm Fabiana Bilmayer I Integrado T2 abdominal. A regulação do apetite sofre alterações com o envelhecimento (“anorexia fisiológica da idade”), há aumento da circulação de colecistocinina, por exemplo, que associada à diminuição do metabolismo basal pode levar à perda de peso importante. A maioria dos homens atinge o máximo de peso corporal ao redor dos 40 anos e as mulheres aos 50 anos. Logo após, ocorre progressiva perda de massa magra corporal, principalmente nas extremidades e estoque de gordura central. Atrofia gordurosa também pode ocorrer gerando aparência caquética. Alguns estudos mostram que há declínio natural da sensibilidade ao paladar e olfato com o aumento da idade, o que pode contribuir para a diminuição de peso. Distúrbios de visão e cognição no idoso também podem contribuir para a diminuição de ingesta calórica. Classificam-se perda de peso em dois grandes grupos: 1) Perda de peso involuntária com aumento ou diminuição do apetite 2) Perda de peso voluntária Perda de peso involuntária com aumento do apetite Esta condição está associada com aumento do gasto energético ou perda de calorias pelas fezes ou urina. Neste caso, a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. São causas deste tipo de condição: hipertireoidismo, diabetes mellitus (DM) descompensado, síndrome de má absorção, feocromocitoma, aumento importante de atividade física. No hipertireoidismo, a perda de peso está associada com aumento do gasto energético basal e com o déficit na absorção intestinal devido ao aumento da motilidade gastrointestinal. Em idosos com hipertireoidismo, também pode ocorrer a associação desta doença com anorexia. No diabetes mellitus descompensado, principalmente no DM tipo 1, a causa da perda de peso está associada à deficiência de insulina (hormônio anabólico) e à hiperglicemia com glicosúria (diurese osmótica), causando depleção de líquido extra e intracelular (desidratação). No feocromocitoma a atividade adrenérgica exacerbada aumenta a taxa de metabolismo basal. Outra causa não orgânica deste tipo de perda de peso é a baixa condição econômica, que pode resultar em dificuldades para comprar alimentos adequados para a manutenção do equilíbrio calórico. Perda de peso involuntária com diminuição do apetite Neste grupo de doenças incluíam-se as doenças psiquiátricas como depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade e paranóia, uso crônico de drogas, doenças como câncer, endocrinopatias, doenças crônicas, doença pulmonar obstrutiva crônica e doenças gastrointestinais. A perda de peso devido ao câncer (síndrome anorexia-caquexia) é comum e ocasionalmente pode ser a única manifestação de tumores ocultos. Qualquer câncer pode evoluir com perda de peso, tanto como primeira manifestação ou manifestação tardia do tumor. As malignidades acometem aproximadamente um terço dos pacientes que apresentam síndrome consumptiva. Afecções gastrointestinais benignas, tais como úlcera e colecistite, também têm sido causas de perda de peso em 11,0 a 17,0% dos pacientes investigados. Nos pacientes com vírus da imunodeficiência humana (HIV) positivos ou soro-reagentes a perda de peso é sintoma relativamente comum, mas ao contrário dos cânceres, esta redução de peso está associada primariamente à diminuição da ingestão calórica, já que o gasto energético é igual ao paciente sem a doença. Perda de peso súbita no paciente com HIV geralmente está relacionada à infecção secundária, enquanto que perda gradual geralmente está relacionada à redução de ingesta calórica. Dentre as endocrinopatias, a insuficiência adrenal pode cursar com anorexia, náusea e perda de peso, assim como a hipercalcemia e alguns pacientes com hipertireoidismo, geralmente idoso. Nos pacientes com diabetes mellitus, pode ocorrer a perda de apetite como sintoma da gastroparesia, má absorção intestinal por neuropatia intestinal e insuficiência renal. Diabético tipo um pode também apresentar doença de Addison associada. Pacientes com doenças psiquiátricas frequentemente apresentam perda de peso como critério de diagnóstico, como por exemplo, na depressão maior (perda de mais de 5,0% em um mês). A caquexia pode ser induzida por uso crônico de neuroléptico e deve ser Fabiana Bilmayer I Integrado T2 descontinuada neste caso. O uso crônico do álcool, nicotina, opiáceos e estimulantes do sistema nervoso central diminuem o apetite e causam perda de peso. Outro distúrbio psiquiátrico, a anorexia nervosa é classificada como perda de peso voluntária. Nas doenças cardiopulmonares, a perda de peso relaciona-se à insuficiência cardíaca (caquexia cardíaca) ou à doençapulmonar obstrutiva crônica. No entanto, esta perda de peso pode ser ocultada pelo edema concomitante. Doenças neurológicas como o acidente vascular cerebral, demências, esclerose múltipla, Parkinson, podem estar associadas com alteração de motilidade gastrintestinal bem como disfagia, alteração do olfato, paladar (disgeusia), constipação, disfunção esfincteriana e falta de apetite. A doença de Parkinson relaciona-se com anorexia e aumento do gasto energético. Uremia induz anorexia, náusea e vômito, assim como perda de proteína pela urina, por exemplo, na síndrome nefrótica, contribuindo para o balanço negativo calórico. Pacientes em situações de isolamento social tendem a apresentar diminuição do apetite. Nos idosos, o isolamento se refere não apenas ao ato de comer, mas também à dificuldade em comprar e preparar os alimentos. A tabela 2 resume as principais causas de perda de peso involuntária: Diagnósticos diferenciais em relação à caquexia: G - gastrointestinais Ex: estenose de esôfago, acalasia, úlcera esofágica, neoplasia de esôfago, úlcera péptica, neoplasia de estômago, síndrome disabsortiva, pancreatite crônica, doença celíaca, doenças inflamatórias intestinais (retocolite ulcerativa, doença de Crohn). ● Disfagia = dificuldade para engolir. DICA! Observar a clínica. Normalmente o pcte irá manifestar algum sintoma do trato gastrointestinal. - Anorexia - Dor abdominal - Disfagia - Odinofagia - Saciedade precoce - Diarreia - Esteatorreia - Sangramento crônico E - endócrinas Ex: Diabetes mellitus e hipertireoidismo. O que chama atenção é que essas doenças cursam com emagrecimento e APETITE PRESERVADO. M - malignidades Ex: neoplasias. ● Etiologia mais comum do emagrecimento. I - infecciosas Ex: doenças infecciosas crônicas: AIDS, hepatite C, tuberculose. D - doenças neurológicas Ex: AVC, ELA, demência, Parkinson. 2 CARACTERÍSTICAS: - Disfunção cognitiva - Disfagia O - outras doenças psicológicas Ex: depressão e transtornos alimentares (anorexia e bulimia) S - sistêmicas Ex: DPOC, insuficiência cardíaca congestiva (ICC), cirrose, insuficiência renal crônica (IRC). Fabiana Bilmayer I Integrado T2 Protocolo dos 9 D’s Diagnóstico Clínico e Diferencial ANAMNESE Durante investigação etiológica de síndrome consumptiva, é necessário perguntar ao paciente sobre seu apetite, atividade física, como é o padrão da perda de peso (flutuante ou estável), por quanto tempo vem perdendo peso e se a perda é voluntária ou involuntária. Como auxílio no raciocínio diagnóstico para síndrome consumptiva, Robbins publicou regra mnemônica que consiste em nove “D”s de causas de perda de peso nesta população: 1. Dentição: alteração na cavidade oral 2. Disfagia 3. Distúrbio do paladar (Disgeusia) 4. Diarréia 5. Depressão 6. Doença crônica 7. Demência 8. Disfunção (física, cognitiva e psicossocial) ou dependência. 9. Drogas ● REALIZAR O MINI-MENTAL Outra regra mnemônica para lembrar-se dos diagnósticos diferenciais para perda de peso é MEALS ON WHEELS. Medication: medicamentos Emotional problems: problemas emocionais, principalmente depressão, alcoolismo Anorexia nervosa Late Life: paranoia Swallowing: deglutição Oral factors: fatores orais No Money: problemas financeiros Wandering ou comportamentos alterados H:hipertireoidismo/hipotireoidismo, hiperparatireoidismo, hipoadrenalismo Enteric problems: problemas entéricos Eating: problemas para se alimentar sozinho Low salt, low cholesterol: dieta sem gordura e sal Stones, social problems: problemas sociais EXAME FÍSICO EXAMES COMPLEMENTARES INICIAIS PARA INVESTIGAÇÃO 1) Hemograma 2) Eletrólitos 3) Glicemia 4) Função renal e hepática 5) TSH 6) Sorologia para HIV 7) Proteína C Reativa 8) Parasitológico de fezes Fabiana Bilmayer I Integrado T2 Síndrome consumptiva A. DEFINIÇÃO A perda de peso pode indicar importante sinal de doença grave. Dentre as causas de perda de peso isolada estão: câncer, distúrbios psiquiátricos, endocrinopatias, afecções reumáticas, infecções e origem indeterminada. Perda de peso significativa pode ser definida como perda maior que 5% do peso habitual no período de 6 a 12 meses excluindo relacionada ao uso de diurético ou proposital de dietas ou medicamentos para emagrecer. Perda maior que 10% é considerada estado de nutrição associado à deficiência humoral e celular mediada. Algumas bibliografias consideram: perda de 4,5kg em 6- 12 meses; nos idosos: investigada sempre que houver diminuição e 10% ou mais no peso corporal usual. Resumindo, síndrome consumptiva é: É a perda involuntária de peso maior que > 10% do peso basal em 6-12 meses. É caracterizada pela atrofia dos músculos e depleção da massa magra corporal. - Perde músculos - Perde massa magra B. TIPOS/CLASSIFICAÇÃO 1. Diminuição da ingestão de alimentos; 2. Metabolismo acelerado; 3. Aumento da perda de energia. Perda de peso involuntário com aumento do apetite: Esta condição está associada com aumento do gasto energético ou perda de calorias pelas fezes ou urina. Neste caso, a quantidade de calorias ingeridas é insuficiente para suprir o déficit energético. São causas deste tipo de condição: hipertireoidismo, diabetes mellitus (DM) descompensado, síndrome de má absorção, feocromocitoma, aumento importante de atividade física. Outra causa não orgânica deste tipo de perda de peso é a baixa condição econômica, que pode resultar em dificuldades para comprar alimentos adequados para a manutenção do equilíbrio calórico. Perda de peso involuntária com diminuição do apetite: Neste grupo de doenças incluíam-se as doenças psiquiátricas como depressão, fase maníaca do distúrbio bipolar, distúrbio de personalidade e paranóia, uso crônico de drogas, doenças como câncer, endocrinopatias, doenças crônicas, doença monar obstrutiva crônica e doenças trointestinais. C. EPIDEMIOLOGIA Estudos demonstram a correlação com maior morbimortalidade. Cerca de 25% dos pacientes com perda de peso involuntária morrem em 1 ano. D. QUADRO CLÍNICO E. DX/DX DIFERENCIAL/EXAMES Sabemos que a anamnese e o exame físico completos e detalhados levam a percepção da causa do emagrecimento involuntário em até 90% dos casos. Feito uma hipótese de diagnóstico etiológico, a pesquisa laboratorial deve ser direcionada para a causa específica. Se a sua anamnese e exame físico não foram elucidativas o suficiente para criar uma hipótese diagnóstica, a avaliação e pesquisa laboratorial pode ser elaborada em duas etapas. A primeira etapa é a investigação de inflamação, através de hemograma (leucograma), PCR, VHS. Se houver uma carga inflamatória elevada, aumenta-se a suspeição sobre neoplasias e doenças sistêmicas crônicas. A segunda etapa é pautada pela pesquisa etiológica específica, tentando criar um direcionamento de acordo com algum sintoma ou achado laboratorial da primeira etapa. A pesquisa de doenças sistêmicas é feita através de exames que, além avaliar o estado sistêmico em geral do indivíduo, também vai observar se há um estado inflamatório. Deve-se solicitar VHS, bioquímica sérica, hemograma, enzimas hepáticas, albumina, TSH, urina tipo I. Com relação à pesquisa de etiologias específicas, pode-se solicitar a pesquisa de sangue oculto nas fezes, mamografia, Papanicolau, PSA, Fabiana Bilmayer I Integrado T2 Endoscopia digestiva Alta (EDA), colonoscopia, entre outros exames que possam melhor direcionar para uma suspeita. F. TRATAMENTO O tratamento da síndrome consumptiva é sempre multidisciplinar. O primeiro passo é tratar a causa base, sendo a etapa mais importante do tratamento, porque é o que garante ao paciente o retorno do ganho de peso. Entretanto, deve-se também realizar uma avaliação psicossocioeconômica, em busca de patologias psiquiátrica e causas de cunho psicossociais para o emagrecimento, que possam ser trabalhadas pela Psicologia, bem como pela Assistência Social. O restante do tratamento envolve a avaliação bucal e da deglutição, que engloba tanto a Odontologia como a Fonoaudiologia e Fisioterapia. Uma avaliação física e nutricional elaborada é demandada, para que haja um apoiopelo Nutricionista no processo de reganho do peso. A intervenção medicamentosa, por fim, se faz necessária em alguns casos. Sarcopenia A. DEFINIÇÃO O conceito mais aceito é o de um distúrbio muscular esquelético generalizado e progressivo, com perda acentuada da massa e da função muscular. Estudos mais recentes mostram que o conceito real não envolve somente a perda de massa muscular, mas deve incluir a funcionalidade. A sarcopenia tem relação íntima com eventos como quedas, declínio funcional, fragilidade e mortalidade – eventos adversos tão temidos na população idosa. Define-se sarcopenia como perda de massa e força muscular, e caso haja perda de performance nos testes físicos, ela é considerada grave. É importante lembrar que essa condição pode ocorrer subitamente – e isso geralmente envolve a apresentação de uma doença aguda ou imobilidade súbita, como numa internação hospitalar – ou se apresentar com um curso crônico. Todo paciente com sarcopenia é magro? Um grande equívoco! A perda muscular também ocorre em pacientes obesos e pode aumentar os riscos de morte, por não ser identificada. A chamada “obesidade sarcopênica” ainda não possui um consenso na sua definição, mas estudos recentes já mostram vias fisiopatológicas compartilhadas entre a obesidade e a sarcopenia. O QUE CAUSA SARCOPENIA? A sarcopenia pode ocorrer em associação a várias condições e, em pacientes idosos, geralmente ocorre mais de uma condição ao mesmo tempo. Se não for encontrada uma causa evidente, ela é dita como primária ou associada à idade. Os principais fatores que levam à sarcopenia são: baixa ingesta proteica ou calórica total, deficiência de micronutrientes, anorexia, doenças mal absortivas, imobilidade, baixo condicionamento físico, sedentarismo, doenças osteoarticulares, doenças renais e hepáticas, neoplasias, distúrbios metabólicos (diabetes ganha destaque), doenças neurológicas, entre outras. DIAGNÓSTICO - Como identificar? As instituições de saúde recomendam que seja feita a abordagem em pacientes que relatam sintomas: quedas, fraqueza, lentidão, dificuldade de realização de atividades cotidianas ou autorrelato de perda muscular. A ferramenta SARC-F é bastante recomendada como um instrumento de identificação de pacientes em risco; tem baixa sensibilidade, mas alta especificidade. É um questionário que aborda 5 questões sobre força, necessidade de ajuda para caminhar, levantar de uma cadeira, subir escadas e número de quedas, com respostas variando entre fácil, moderada dificuldade ou difícil. As questões são: “o quanto de dificuldade você tem para levantar e carregar um objeto de 5kg?”, “o quanto de dificuldade você tem para atravessar um cômodo?”, “o quanto de dificuldade você tem para levantar de uma cama ou cadeira?”, “o quanto de dificuldade você tem https://blog.jaleko.com.br/qual-a-diferenca-entre-o-musculo-estriado-e-o-musculo-liso-na-microscopia-optica/ Fabiana Bilmayer I Integrado T2 para subir um lance de 10 degraus de escada?” e “quantas vezes você caiu no último ano?”; se o paciente responde nenhuma dificuldade, ou nenhuma queda, não soma pontos; se responde moderada/alguma dificuldade ou de 1 a 3 quedas no último ano, soma 1 ponto (a cada resposta); e se responde muita dificuldade/incapaz ou teve 4 ou mais quedas, soma 2 pontos por resposta. Além disso, deve ser medida a circunferência da panturrilha do paciente: mulheres com mais de 33cm e homens com mais de 34cm não somam pontos (se a circunferência de panturrilha for menor ou igual a 33cm para mulheres e menor ou igual a 34cm para homens, então somamos 10 pontos). O escore é sugestivo de sarcopenia se somar de 11 a 20 pontos, devendo prosseguir a investigação. Para o diagnóstico de sarcopenia, devemos encontrar a combinação de massa muscular reduzida e força muscular diminuída. No algoritmo criado pelo EWGSOP, o paciente identificado com risco pelo SARC-F deve realizar medida de força muscular, com a aferição da força de preensão palmar – o handgrip: se a força de preensão estiver reduzida, o passo seguinte é a medida da massa muscular. Várias técnicas têm sido utilizadas para estimar a massa muscular e, em todas, são encontradas limitações em pontos de corte, variabilidade ou fraca associação com desfechos clínicos; o procedimento mais eficaz até o momento é a densitometria por raios-X (DXA), que estima a massa magra muscular utilizando um índice semelhante ao IMC (índice de massa corporal): o índice de Baumgartner. Esse índice é calculado dividindo a massa magra apendicular (braços + pernas) pela altura ao quadrado e o corte é definido por gênero. Caso o paciente apresente tanto redução de força quanto de massa muscular, é feito o diagnóstico de sarcopenia; depois do diagnóstico, o paciente realiza testes físicos padronizados, como o teste de velocidade de marcha e o Timed Up and Go (TUGT), e é avaliado do ponto de vista funcional – se houver declínio na performance física, a sarcopenia é considerada grave. Os pontos de corte escolhidos pelo EWGSOP para o diagnóstico de sarcopenia, em 2019, foram: força de preensão palmar menor que 27 kg para homens e menor que 16kg para mulheres, índice de Baumgartner menor que 7 kg/m² para homens e menor que 5,5 kg/m² para mulheres; nos testes físicos, os pontos de corte independem de gênero e são definidos como velocidade de marcha menor ou igual a 0,8m/s e TUGT maior ou igual a 20 segundos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE SARCOPENIA É essencial fazer diagnóstico diferencial com: - Desnutrição - Caquexia - Fragilidade Um achado isolado de massa muscular reduzida com força muscular normal pode estar relacionado com desnutrição ou caquexia – esta condição tem grande relação com doenças como AIDS e câncer, e tem uma fisiopatologia bastante complexa, com papel inflamatório importante e excesso de catabolismo. A fragilidade, definida como um estado de vulnerabilidade, é geralmente consequência de um declínio cumulativo de vários sistemas fisiológicos; a fragilidade física e a sarcopenia estão intimamente ligadas, com sobreposição de conceitos – como se a fragilidade fosse uma grande síndrome e dentro dela coexistisse a sarcopenia. O Cuidado de Pacientes Idosos Debilitados no Ambiente Clínico A prevenção centralizada em lesões iatrogênicas ou hospitalizações recorrentes e a correção de sintomas são frequentemente justificadas para os adultos mais velhos debilitados e vulneráveis. Atividade física, intervenções de exercício e suplementos nutricionais podem reduzir a incapacidade e os sintomas e melhorar a qualidade de vida em todo o espectro de robustez para idosos debilitados. Adicionalmente, o exercício e a perda de peso em conjunto melhoram a função de idosos obesos e debilitados. Outras opções incluem uma estratégia com base numa equipe que integra o paciente, membros da família, cuidadores, operadores de saúde e assistentes sociais. Os cuidados paliativos clássicos, com manejo apropriado da dor, planos de tratamento menos invasivos, visitas ao hospital limitadas e planos organizados de cuidados domiciliários, podem melhorar grandemente a qualidade de vida. Se o paciente tiver sido admitido Fabiana Bilmayer I Integrado T2 frequentemente a internamentos, um programa de cuidados global ou um ambiente de cuidados de dia podem ajudar a prevenir admissões recorrentes e melhorar a qualidade de vida. Uma vez admitidos no hospital, os idosos debilitados podem beneficiar-se de serem congregados a uma unidade que especializa os seus cuidados e pode proporcionar atenção à sua funcionalidade, continência, distúrbios do sono, delírio e questões de cuidados paliativos. Síndromes disabsortivas ● Doença celíaca Enteropatia mediada pelo sistema imunológico, disparada pela ingestão de cereais que contêm glúten, tais como trigo, centeio ou cevada, por indivíduos geneticamente predispostos. Proteína de armazenamento (Prolamina) Prolaminas: - Trigo: gliadina - Centeio: secalina - Cevada: hordeína - Aveia: avenalína - Milho: zeína PATOGENIA Fator genético + fator ambiental Genes: HLA DQ2 ou DQ8 Gliadina →transglutaminase tecidual (TGI) → gliadina desaminada Linfócito T e linfócito B* INTERLEUCINA 15 → MIC A MORFOLOGIA Fabiana Bilmayer I Integrado T2 Endoscopia normal Endoscopia patológica CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Em 10% dos celíacos haverá dermatite herpetiforme. Em celíacos há um risco aumentado para: - Linfoma de células T associado a enteropatia - Adenocarcinoma do intestino delgado. DIAGNÓSTICO Padrão ouro: biópsia de mucosa (OBRIGATÓRIA). ------------------------------------- Fabiana Bilmayer I Integrado T2 RESUMO DE DOENÇA CELÍACA - SANARFLIX Definição Enteropatia autoimune causada pela ação do glúten. - Ocorre em indivíduos geneticamente predispostos - Doença poligênica É um dos diagnósticos diferenciais de diarreia crônica. Epidemiologia - Predomínio no sexo feminino. - Brancos - Agregação familiar: 2 - 20% parentes de primeiro grau afetados. Fisiopatologia A doença celíaca depende de 2 fatores: 1) Exposição ao glúten 2) Alterações imunológicas 1) O que é o glúten? É o maior composto proteico dos cereais, reservatório de prolamina. Prolamina - responsável pela lesão tecidual. A prolamina é específica para cada cereal. 2) Alterações imunológicas ● Celular Aumento dos linfócitos intraepiteliais Alteração da ação dos macrófagos Aumento de citocinas ● Humoral Alteração da síntese de anticorpos Aumento dos plasmócitos em mucosa jejunal Fabiana Bilmayer I Integrado T2 a) Predisposição e porque é adquirida A doença celíaca é resultado da interação de fatores ambientais (ingesta de glúten), fatores genéticos (presença de HLA DQ2 ou HLA DQ8) e resposta imunológica. A expressão de HLA DQ2 ou HLA DQ8 na superfície das células apresentadoras de antígeno é necessária para da doença celíaca, mas não é suficiente para sua ocorrência. Cerca de 30% a 40% da população expressa essas moléculas, mas um número bem inferior manifesta a doença. b) Quadro clínico FORMA CLÁSSICA - Distensão abdominal FORMA OLIGOSSINTOMÁTICA Fabiana Bilmayer I Integrado T2 FORMAS ATÍPICAS Doenças autoimunes associadas Diagnóstico - É obrigatório para diagnóstico a BIÓPSIA INTESTINAL COM MUCOSA CELÍACA. EXAMES COMPLEMENTARES Diagnóstico diferencial Tratamento Fabiana Bilmayer I Integrado T2 ● Deficiência de lactase As dissacaridases, incluindo a lactase, estão localizadas na membrana apical da borda em escova das células epiteliais absortivas da vilosidade. TIPOS DE DEFICIÊNCIA DA LACTASE ● Deficiência congênita de lactase Distúrbio autossômico recessivo. ● Deficiência adquirida de lactase Regulação negativa da expressão gênica da lactase, infecções entéricas virais e bacterianas. FISIOPATOLOGIA Fabiana Bilmayer I Integrado T2 MINTI Exames de Imagem em Doenças Disabsortivas A má absorção, que se apresenta mais comumente como diarreia crônica, é caracterizada pela absorção defeituosa de gorduras, vitaminas lipo e hidrossolúveis, proteínas, carboidratos, eletrólitos e minerais e água. A má absorção crônica pode ser acompanhada por perda de peso, anorexia, distensão abdominal, borborigmos e fraqueza muscular. Um marco da má absorção é a esteatorreia, caracterizada pela gordura excessiva nas fezes e por evacuação volumosa, espumante, gordurosa e de cor amarela ou de barro. Os distúrbios crônicos de má absorção, mais comumente encontrados nos Estados Unidos, são a insuficiência pancreática, a doença celíaca e a doença de Crohn, enquanto nos países tropicais os quadros infecciosos ganham uma maior relevância. Alterações nas Doenças Diarreicas e de Má Absorção A má absorção resulta do distúrbio em pelo menos uma das quatro fases da absorção de nutrientes: ● A digestão intraluminal, na qual proteínas, carboidratos e gorduras são quebrados em formas adequadas para a absorção. ● A digestão terminal, a qual envolve a hidrólise dos carboidratos e peptídeos através das dissacaridases e peptidases da mucosa da borda em escova do intestino delgado. ● O transporte transepitelial, no qual nutrientes, fluido e eletrólitos são transportados e processados dentro do epitélio do intestino delgado; e ● O transporte linfático dos lipídios absorvidos. Em muitos distúrbios de má absorção, um defeito em algum desses processos predomina, porém mais de um geralmente contribui. Como resultado, as síndromes de má absorção se assemelham mais umas com as outras do que apresentam diferenças entre si. Os sintomas gerais incluem diarreia (da má absorção de nutrientes e da secreção intestinal excessiva), flatos, dor abdominal e perda de peso. A absorção inadequada de vitaminas e de minerais pode resultar em anemia e mucosite em razão da deficiência de piridoxina, folato ou vitamina B12; sangramento decorrente da deficiência de vitamina K; osteopenia e tetania decorrentes da deficiência de cálcio, magnésio ou vitamina D; ou neuropatia periférica devida às deficiências de vitamina A ou B12. Uma variedade de distúrbios endócrinos e de pele também pode ocorrer. A diarreia é definida como um aumento na massa, na frequência, ou na fluidez das fezes, tipicamente mais de 200 g por dia. Em casos graves, o volume de fezes pode exceder 14 L por dia e, sem a reposição de fluidos, resultar em morte. A diarreia dolorosa, sanguinolenta e de pequeno volume é conhecida como disenteria. A diarreia pode ser classificada em quatro categorias principais: 1) A diarreia secretória é caracterizada por fezes isotônicas e permanece durante o jejum. 2) A diarreia osmótica, tal como aquela que ocorre com a deficiência de lactase, é decorrente das forças osmóticas excessivas exercidas pelos solutos luminais não absorvidos. O fluido da diarreia está 50 mOsm mais concentrado do que o plasma e diminui com o jejum. 3) A diarreia de má absorção ocorre como consequência de falha generalizada na absorção de nutrientes, está associada à esteatorréia e é aliviada pelo jejum. 4) A diarréia exsudativa devido à doença inflamatória é caracterizada por fezes purulentas e sanguinolentas que continuam durante o jejum. OBJETIVO O objetivo central dessa atividade é estudar Imagem em Doenças Disabsortivas. Estudantes de radiologia temem a aprendizagem sobre as doenças do intestino delgado por serem numerosas, obscuras e confusas, resultando em longas listas de diagnóstico diferencial. Cinco regras, bem aprendidas, simplificam o problema: ● Regra 1: dilatação do lúmen do intestino delgado significa obstrução ou disfunção do músculo do intestino delgado Fabiana Bilmayer I Integrado T2 ● Regra 2: espessamento das pregas do intestino delgado significa infiltração da submucosa ● Regra 3: espessamento reto, uniforme e regular significa infiltração por líquido (edema ou sangue) ● Regra 4: espessamento nodular, irregular e com distorção significa infiltração por células ou material não líquido ● Regra 5: O diagnóstico específico exige correlação do padrão do intestino delgado com os dados clínicos. Doença celíaca do adulto Também conhecida como espru não tropical, manifesta-se como má absorção, esteatorréia e perda de peso. O glúten, proteína insolúvel encontrada no trigo, no centeio, na aveia e na cevada, atua como agente tóxico para a mucosa do intestino delgado. A mucosa torna-se achatada e o número de células absortivas diminui; as vilosidades desaparecem. As camadas submucosa, muscular e serosa ficam normais. Achados e sintomas desaparecem com uma dieta rigorosa, sem glúten. Os achados radiográficos clássicos são: ● Dilatação do intestino delgado ● Pregas normais ou mais finas ● Redução do número de pregas por polegada (2,5 cm) no jejuno ● Aumento do número de pregas por polegada (2,5 cm) no íleo (≥ 5). Os achados são mais bem mostrados por enteróclise (com exame contrastado baritado). Em TC pode ser observada a distensão de alças do intestino delgado, com aumento do volume de líquido intraintestinal. Deficiência de lactase É necessário que exista lactase nas células absortivas do jejuno para que seja possível a digestão correta de dissacarídeos. Diversos grupos populacionais, incluindo chineses, árabes, bantos e esquimós, apresentamdeficiência total de lactase na vida adulta. Deficiência de lactase secundária ocorre no alcoolismo, doença de Crohn e uso de fármacos como neomicina. A lactose não digerida no intestino delgado provoca aumento do líquido intraluminal e dilatação do intestino delgado, com pregas normais. Enterite por radiação Ocorre quando grandes doses de radiação são dadas aos órgãos adjacentes. O intestino é o órgão mais radiossensível no abdome. Segmentos longos dele podem ser envolvidos, com espessamento das pregas e da parede intestinal. O peristaltismo é prejudicado. Fibrose progressiva leva à estenose cônica, geralmente envolvendo segmentos longos. O intestino pode ser dobrado e obstruído por aderências. Também podem formar-se fístulas para a vagina ou outros órgãos. A TC mostra espessamento da parede e aumento da densidade do mesentério, além de fixação das alças intestinais. Doença de Whipple É uma doença sistêmica que acomete trato gastrintestinal, articulações, SNC e linfonodos. A doença é causada pelos bacilos de Whipple, bactérias gram-positivas em forma de bastonete encontradas dentro dos macrófagos em vários órgãos e tecidos. Os pacientes podem apresentar artrite, sintomas neurológicos ou esteatorréia. Geralmente há linfadenopatia generalizada. Enteróclise mostra o espessamento irregular das pregas, mais proeminente no jejuno. Os nódulos minúsculos (1 mm), como grãos de areia, espalhados de maneira difusa sobre a mucosa ou em pequenos grupos representam um forte indício da doença. É comum o aumento do líquido luminal. A TC revela pregas espessas, especialmente no jejuno, sem dilatação significativa. É característica a existência de nódulos de baixa densidade ou com densidade de gordura no mesentério. Fabiana Bilmayer I Integrado T2 Enterite da AIDS Além de linfoma e sarcoma de Kaposi, pacientes com AIDS apresentam predisposição a diversas infecções oportunistas do trato GI. Os agentes infecciosos ocorrem geralmente em combinação e em vários locais do trato GI. Cryptosporidium e Isospora belli São protozoários que podem infestar o intestino proximal e causar diarreia que lembra cólera, com perda de líquido que representa risco à vida. Os exames com bário mostram pregas espessas e acentuado aumento do líquido. Citomegalovírus Provoca doenças no intestino delgado e no cólon, bem como nos pulmões, no fígado e no baço. A principal manifestação intestinal é a ulceração da mucosa, com sangramento e perfuração. Os exames com bário mostram pregas espessas, separação das alças intestinais, úlceras e fístulas. Mycobacterium avium-intracellulare É uma infecção sistêmica comum em pacientes com AIDS, que envolve pulmão, fígado, baço, medula óssea, nódulos linfáticos e o trato intestinal. Os exames com bário mostram pregas nodulares espessadas com padrão de grãos de areia na mucosa. A TC mostra linfadenopatia retroperitoneal e mesentérica e lesões focais no fígado e no baço. Em pacientes com AIDS, também podem desenvolver-se infecções por Candida, Entamoeba histolytica, Giardia, Strongyloides, Herpes-vírus simples e Campylobacter. Doença de Crohn É uma doença inflamatória comum de etiologia incerta, que pode envolver o trato gastrintestinal do esôfago até o ânus. Caracteriza-se por erosões, ulcerações, inflamação com espessamento de toda a parede intestinal e formação de granulomas não caseosos. Geralmente se manifesta durante a adolescência, a terceira e a quarta décadas de vida com diarreia, dor abdominal, perda de peso e, muitas vezes, febre. O curso típico é de remissão, recidiva e progressão da doença. Os padrões de envolvimento GI incluem o cólon e o íleo terminal (55%), apenas o intestino delgado (30%), apenas o cólon (15%) e o intestino delgado proximal sem afetar o íleo terminal (3%). As principais características radiográficas da doença de Crohn são: ● Erosões aftosas ● Ulcerações profundas confluentes ● Pregas espessas e distorcidas ● Fibrose com espessamento das paredes, contratura e estenose ● Envolvimento do mesentério ● Envolvimento assimétrico tanto no sentido longitudinal como em torno do lúmen ● Áreas salteadas de intestino normal entre os segmentos afetados pela doença ● Formação de fístulas e trajetos fistulosos. Enterografia por TC e RM são utilizadas para determinar a atividade da doença e para a pesquisa e diagnóstico de suas complicações. Enterocolite por Yersinia Causada por infecção pelos bacilos gram positivos Y. enterocolitica ou Yersinia pseudotuberculosis. A infecção provoca enterite aguda, com dor abdominal, febre e diarreia, muitas vezes sanguinolenta, que se assemelha a apendicite aguda ou doença de Crohn aguda. Crianças e adultos jovens são mais frequentemente afetados. A infecção tem curso autolimitado de 8 a 12 semanas. O diagnóstico é confirmado por coprocultura. As alterações radiográficas são mais pronunciadas nos 20 cm distais do íleo. Os achados incluem úlceras aftosas, nódulos de até 1 cm de tamanho, espessamento da parede e das pregas, as quais se mostram apagadas com o aumento do edema. Durante a fase de resolução, pode aparecer hiperplasia linfóide nodular. A infecção por Campylobacter fetus jejuni é clínica e radiograficamente similar à infecção por Y. enterocolitica. A doença geralmente dura de 1 a 2 semanas, mas as recaídas são comuns. O diagnóstico é feito por coprocultura. FIQUE ATENTO! A má absorção, que se apresenta mais comumente como diarreia crônica, é caracterizada pela absorção defeituosa de Fabiana Bilmayer I Integrado T2 gorduras, vitaminas lipo e hidrossolúveis, proteínas, carboidratos, eletrólitos e minerais e água. A má absorção crônica pode ser acompanhada por perda de peso, anorexia, distensão abdominal, borborigmos e fraqueza muscular. Um marco da má absorção é a esteatorreia, caracterizada pela gordura excessiva nas fezes e por evacuação volumosa, espumante, gordurosa e de cor amarela ou de barro. Os distúrbios crônicos de má absorção, mais comumente encontrados nos Estados Unidos, são a insuficiência pancreática, a doença celíaca e a doença de Crohn, enquanto nos países tropicais os quadros infecciosos ganham uma maior relevância.
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