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Artigo Serviço Social

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E SE O ASSISTENTE SOCIAL ESTIVESSE LÁ? NOTAS SOBRE O TRABALHO DE 
UMA ORIENTADORA EDUCACIONAL EM ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DE 
JI-PARANÁ. 
 
Locimar Massalai 
Resumo 
As três primeiras partes do texto tratam do trabalho cotidiano de uma orientadora educacional 
sob o enfoque da pesquisa etnográfica. Na descrição se percebe que a escola está presente 
uma cultura que se manifesta pela linguagem simbólica de seus sujeitos. Que a atividade da 
orientadora tem uma ligação íntima com os atendimentos que faz no cotidiano de sua prática 
que não favorece a percepção das contradições que ocorrem no seu fazer diário pois acabam 
muito mais apagando incêndio do que fazendo uma trabalho preventivo. Têm dificuldade de 
se afirmar na escola enquanto profissionais da educação com funções específicas. Como a 
demanda é expressiva o tempo fica reduzido a ações pontuais e poucos são os momentos em 
que as orientadoras questionam a ação educativa. Na última parte, o texto faz um resgate da 
presença do assistente social nas escolas e aponta a necessidade deste na educação como 
elemento primordial para que a educação se efetive como um direito público e de qualidade 
para todos e de como orientadores educacionais e assistentes sociais podem ser parceiros 
nesta luta. 
 
Palavras-Chave: Cotidiano Escolar. Orientação Educacional. Serviço Social. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Toda descrição da realidade é um desejo de captá-la. Neste caso, assenhorar-se de uma 
determinada situação é tentar representá-la. Ao descrever um objeto, de certa forma o 
reinventamos através do nosso discurso. 
 
O artigo é o resultado mesmo que frágil, da descrição do dia a dia de uma orientadora 
educacional em uma escola de periferia na cidade de Ji-Paraná, Rondônia, envolta com 
questões que são próprias de cada comunidade escolar e questões que fazem parte do comum 
das escolas brasileiras. A descrição da realidade observada apresenta situações reais dos 
sujeitos que fazem a escola, em especial, a orientadora educacional. Esta observação visa 
ajudar os orientadores a se perceberem e perceber contradições em seu fazer cotidiano. 
Reflexão da práxis para transformá-la. 
 
A escolha deste tema para a pesquisa surgiu do interesse dos pesquisadores 
descreverem a prática cotidiana da Orientação Educacional em uma escola pública estadual e 
saber como é o fazer do profissional desta área em relação com os outros sujeitos que tecem 
o cotidiano escolar. 
 
 Para que se concretizasse a pesquisa, sob o enfoque da etnografia, foram utilizadas as 
seguintes técnicas: observação participante, análise de documentos e projetos da escola e 
entrevistas semi-estruturadas com um grupo significativo de atores que configuram a 
realidade da escola: alunos, professoras, orientadora, supervisora, diretora, vice-diretora e 
indiretamente os funcionários que são chamados de pessoal de apoio. 
 
 
 
 
2. DESCRIÇÃO DO UNIVERSO DA PESQUISA 
 
2.1 A descrição do entorno da escola 
 
A Escola São Francisco está localizada na periferia de Ji-Paraná, no bairro São 
Francisco que não dispõe de infra-estrutura, o que revela a existência de muitos buracos, fato 
que não impede que o mesmo tenha dinamicidade. Na seca, (maio a setembro) muita poeira e 
na chuva (outubro a abril) muita lama. A comunidade do bairro surgiu com a ocupação da 
área por parte de alguns grileiros que não obtiveram êxito na conquista da terra. O bairro está 
localizada no 2º distrito de Ji-Paraná, limitando-se ao norte do Rio Machado, ao sul com o 
Bairro Nova Brasília, a leste com o Bairro JK e a oeste com o bairro Duque de Caxias. A 
comunidade recebeu este nome em homenagem a São Francisco de Assis, santo da Igreja 
Católica, prestigiado pelos moradores da região. 
 
 O bairro não conta com serviço de transporte coletivo o que dificultava em certa 
medida o acesso dos moradores ao centro da cidade, como revela a fala da merendeira da 
escola: 
“Aqui é bom, mas não tem ônibus no bairro São Francisco e as estradas são muito 
ruins. Quando foi no tempo da enchente uns 16 anos atrás, os alunos e professores 
vinham até a escola de vuadeira. Quando nós começamos aqui a gente puxava água de 
balde no poço.” 
. 
Neste bairro percebe-se uma elevada taxa de natalidade que se comprova pela 
existência de muitas crianças que soltam pipas, brincam no meio da rua enquanto outras já 
ritualizadas estão na escola que leva o nome do próprio bairro. 
Neste cenário que para mim foi desvendando mistérios que até então passava 
despercebido. O andar a pé pelas ruas do bairro me fez perceber traços significativos que dão 
especificidade ao bairro: a existência de muitos bares que funcionam ininterruptamente; gente 
bebendo e jogando sinuca. O mais interessante nesse cenário é a presença de um expressivo 
numero de adolescente do gênero masculino. Em outro dia decidi mudar o itinerário, vim de 
moto-táxi 1para ver a situação do bairro por outro ângulo e o voltar para casa fiz a pé. O dia 
estava claro e gostoso. No caminho observo muito mato, ruas de terra cheias de lixo, entulhos 
e com a presença de muitos cachorros que fornecem também outro retrato do bairro. As 
pessoas em geral me cumprimentam. Enquanto vou caminhando com meu caderninho na 
mão, vou observando muitas casas semi-construídas de alvenaria mostrando uma 
demonstração clara de as pessoas da comunidade melhoraram socialmente e retratando a 
vontade de possuir uma moradia digna para o seu grupo familiar. Nesta caminhada também 
percebo que essas casas estão cheias de placas de propaganda de políticos. O bairro conta com 
uma pequena fábrica de carroceria de caminhão. 
 No meu percurso cruzo com dois adolescentes que passam por mim em uma charrete 
que é utilizada para o comércio do leite in natura. Além destes vejo uma senhora deficiente 
deitada no chão se arrastando e ao lado dela, dois homens. Passa por mim mais um 
adolescente de bicicleta e com uns patins e parece que se dirige ao centro da cidade. 
Serpenteando a estrada de acesso ao bairro tem um córrego ou o que resta dele, entulhado de 
lixo que não impede a presença de peixes. 
Em uma das minhas idas até a escola resolvi fazer o percurso de moto táxi que 
trepidava em função dos buracos. O percurso foi feito apenas 05 minutos. Interessante que 
serviço se mostrou eficaz para meus propósitos que era conhecer os meios de transporte que 
os habitantes do bairro utilizam. Fiquei impressionado, pois se de carro levo quase meia hora 
para chegar à escola de moto-táxi num instante estava na instituição. 
A comunidade do Bairro São Francisco conta apenas com a quadra da escola e um 
campo de futebol como meio de lazer e, para apoio familiar os moradores dispõe do Posto de 
Saúde Municipal que limita seus atendimentos em consultas e fornecimento de alguns tipos 
de medicamentos e o Centro Municipal de Apoio Familiar, que oferece cursos de artesanato a 
comunidade. 
 
1 Moto-táxi: sistema de transporte alternativo que existe em quase todos os municípios de Rondônia feito através 
de motos que circulam por toda a cidade e estão organizados em cooperativa devidamente credenciadas. 
A profissão dos pais dos alunos da escola concentra-se em serviços de baixa 
remuneração (frentistas, vigias, pedreiros, secretárias domésticas e outros), não esquecendo 
que vários pais possuem serviços periódicos (diaristas e mateiros). Pela necessidade freqüente 
de encontrar trabalho para garantir a sobrevivência, há famílias que se mudam para outras 
localidades ou sítios, ficando por períodos de dois a três meses fora e deixando as crianças 
sem estudar, depois retornam, mas a aprendizagem e o sucesso escolar já foram 
comprometidos. 
 
 A renda mensal familiar dos alunos gira em torno R$ 400, 00, sendo que o número 
aproximado de pessoas por família é de quatro a seis membros. É importante salientar que 
muitas famílias contam apenas com os recursos da bolsa família para subsidiar suasnecessidades. 
Existe um sentimento de baixa estima dos alunos/comunidade, devido às condições de 
vida e a imagem do bairro, que é considerado de alta periculosidade por outras áreas da 
cidade. Isto tem dificultado a realização de eventos noturnos na escola, uma vez que todos os 
professores moram distante da mesma e alegam “medo” de participar de atividades no período 
noturno, que por sua vez reforça o sentimento de marginalização da comunidade atendida pela 
escola. 
Conhecendo as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos, a EEEF São Francisco 
percebe que existe uma grande necessidade de um acompanhamento técnico e sistematizado 
por parte de outros órgãos do município (saúde, assistência social, psicólogo, etc.) Isto ficou 
bem claro através das entrevistas. As pessoas gostam de morar no bairro, mas querem que ele 
seja melhor. 
 
2.2 A Descrição da Escola São Francisco. 
 
A Escola Estadual de Ensino Fundamental São Francisco situa-se na Rua das Flores, 
nº 618, Bairro São Francisco, zona urbana periférica da cidade de Ji-Paraná/ RO. 
A escola foi criada pelo decreto nº. 4546 de 06 de março de 1990, sendo a instituição 
mantida pelo Governo do Estado de Rondônia, vinculada a Secretaria de Estado da Educação 
e a Representação de Ensino de Ji-Paraná, funcionando através da Portaria Nº. 0192/04 – 
GAB/ SEDUC de 09 de março de 2004. 
A escola atende a Educação Básica do Ensino Fundamental de nove anos, de 1ª a 5ª 
séries, de acordo com a resolução 131/ 06 CEE/ RO, nos períodos matutino e vespertino, 
totalizando um número de 279 alunos matriculados. 
A área total da escola é de 4.697,95 m2 e a tipologia da mesma é I A. Conta 
atualmente com 40 funcionários, sendo 16 professores, 16 funcionários de apoio, 03 auxiliar 
de secretaria, 05 na equipe gestora (direção, vice-direção, secretária, e orientação). Não tem 
supervisora, pois esta foi cedida ao município por uma professora que nem chegou assumir 
sua função na escola e já pediu afastamento por motivos de saúde. Ou seja, a escola ficou sem 
supervisora e sem uma professora. 
 
O prédio escolar conta com 08 salas de aula, 02 banheiros para alunos, 01 secretaria, 
01 sala de direção, 01 sala de supervisão, 01 sala de orientação, 01 sala de vídeo, 01 sala de 
jogos, 01 sala de professores, 01 sala de planejamento, 02 banheiros para funcionários, 01 
cozinha, com refeitório, 01 sala do SOE, 01 sala de leitura , 01 pátio coberto e 01 quadra 
poliesportiva coberta. 
A escola tem aspecto limpo e bem cuidado. Tem um refeitório grande e bem arejado 
com seis mesas e uma quadra de esportes. Orientadora e supervisora durante a preparação do 
encontro que o governador solicitou em uma reunião que teve com diretores e secretários que 
a prioridade é o aluno e que ele não quer ver ir nas escolas e encontrar um chiqueiro... e que 
ele teria feito o seguinte comentário em uma reunião com gestores: “a impressão que dá e que 
em algumas escolas a gente ta entrando num chiqueiro”. 
A orientadora disse que quando é muito quente dispensam os alunos porque é muito 
calor. Dever-se-ia ter janelões de correr. (referindo-se as salas com janelas fechadas e muito 
pequenas). “Essa escola ainda tem muito espaço que pode ser aproveitado. Precisaríamos de 
um parquinho porque temos muitas crianças de 1a a 4a séries”. 
É uma construção nova em relação ao todo da escola. Foi inaugurada em dezembro de 
2004. Têm uma cozinha com seis mesas com 12 bancos ao todo, bancos grandes. 
Entro no banheiro masculino, não tem papel higiênico nem local para colocar o papel 
higiênico os vasos sujos, fétidos. Os vasos estão com sinais de que as crianças sobem em cima 
deles para fazer suas necessidades. Um cheiro insuportável. Tem dois chuveiros com água 
correndo constantemente, mas sem os registros de abrir e fechar. O mau cheiro é insuportável 
e os alunos reclamaram da situação dos banheiros várias vezes, principalmente do banheiro 
dos meninos. 
 
3. O COTIDIANO DA ESCOLA: QUANDO OS ATORES SURGEM NO CENÁRIO. 
 
Escolhemos as falas de alguns atores da escola, gostaríamos registrar todas, mas se 
tornará exaustivo. Importante ressaltar que existem relações de poder na escola e quando 
oportunizadas todos falam, todos se expressam sobre elas, ora reclamando, ora sugerindo 
mudanças. Por ai se vê que a gestão escolar ainda precisa ser mais democrática. 
 
Começamos registrar a fala das crianças que quando oportunizadas são porta vozes de 
seu ambiente e representantes dele sempre nos interrogando sobre o nosso fazer na escola. No 
dia em que estávamos observando na hora da merenda no refeitório, um grupo de alunas 
entabularam o seguinte comentário a respeito do pesquisador: “Você tem voz grossa! Ao que 
a outra respondeu: Claro, voz fina é de mulher e de viado. Outra replicou: Eu tenho a voz 
grossa.’” Ai entramos na conversa e explicamos para elas que a voz dela tinha uma 
tonalidade grave e que cada pessoa tem um estilo de voz e cada um tem uma voz diferente. 
Todas acharam graça e deram uma gargalhada. Neste mesmo momento a conversa tomou 
outro rumo a conversa gira agora ao redor do tema: “computador”. Uma das meninas fala: “as 
pessoas ficam viciadas em computador”. Outra me perguntou: Depois que você escrever tudo 
isto o que vai fazer?”“ 
 Quando perguntadas sobre o que mais gostam na escola e sobre o que precisava ser 
melhorado as crianças responderam quase que unanimemente que mais apreciam o recreio, as 
aulas de educação física e as professoras da escola. Assinalaram que na escola, “o pátio 
precisa ser melhorado porque ta feio”. Na fala de outra criança, “todas as salas deveria ter ar 
condicionado”. Outra faz referência ao fato de que no próximo ano vai ter que estudar numa 
escola mais longe porque a escola não oferece o sexto ano. A fala de outra criança representa 
outra reclamação significativa: “Tem que melhorar os banheiros dos meninos (pior que é 
mesmo), a gente passa por perto e é um fedozão.” 
Na última vez que estivemos na escola rapidamente pela manhã para pegar um 
documento com a orientadora a encontramos na sala da direção pois a diretora estava 
envolvida na “feira da pechincha” com o objetivo de angariar fundos para o passeio que os 
funcionários e professores iriam fazer no Minuano2 e também para uma tarde cultural com a 
garotada. Vemos neste ambiente, senhoras e crianças em sua maioria Segundo diretora, a feira 
abriu às 8 horas, mas desde as 7 horas já havia gente na escola. Disse ainda que na outra feira 
que fizeram a escola realizou, conseguiram faturar 800,00 só que foi num sábado. Todas as 
peças de roupa são vendidas de 0,50 a 5,00 e foram os professores da escola que conseguiram 
as roupas e brinquedos para ser revendidos para a comunidade. A maioria são mulheres e 
crianças que vemos revirando os montes de roupa garimpando peça por peça. Num 
determinado momento, percebemos uma cena interessante: uma menina que é do 1a Ano do 
Ensino Fundamental comprou uma peça de roupa que valia 0,50 e a professora deu o troco 
errado para ela e esta respondeu para a professora: “ ... ta errado professora, não sou besta 
não”. 
Numa sala ao lado, duas professoras passam um filme para um grupo grande de alunos 
e uma delas está muito irritada com as crianças. Eis a rotina da escola em suas mais variadas 
funções e situações. 
 
 
3.1 Sobre a orientadora e seu fazer profissional 
 
No primeiro dia que fomos à escola, a Orientadora N. mostrou-se solícita e disse-nos 
que poderia nos ajudar naquilo que fosse necessário. A diretora se encontrava em sala de aula 
porque uma professora faltou e a supervisora e a orientadora estavam acompanhando as 
atividades de uma técnica da representação de ensino (REN) que trabalha com o projeto 
Gestar3 e por isso tinham que estar liberadas para participar. Durante esta reunião várias vezes 
a orientadora é chamada pelos alunos, ora solicitando lápis, caderno, a mando dasprofessoras. 
Isto acontece constantemente. 
Nesta reunião a técnica da representação de ensino fez referência ao Profipes que é uumm 
pprrooggrraammaa ddee ssuuppoorrttee ffiinnaanncceeiirroo aa pprroojjeettooss EEssccoollaarreess,, ppaarraa aass eescolas da rede estadual que 
atendem o ensino fundamental e médio, incluindo as especificidades de educação especial, 
educação de jovens e adultos (presencial), e educação indígena e educação profissional. O 
governo tem como meta alcançar 100% das escolas da rede pública estadual, com 
financiamento anual de 01 (um) projeto por unidade de ensino. Os projetos podem ser 
 
2 Minuano: clube de veraneio que existe há mais ou menos 17 quilômetros da cidade de Ji_Paraná em direção à 
Cuiabá, muito freqüentado por escolas e seus professores. 
3 Projeto Gestar: projeto de formação continuada de professores nas áreas de Português e Matemática. Programa 
de Gestão e Aprendizagem Escolar. 
elaborados tanto por professores quanto pela equipe técnica da escola (supervisor, orientador, 
psicólogo) ou ser resultado de uma ação conjunta. Há critério de seleção: decidir no coletivo, 
por grau de prioridade, qual projeto deverá ser atendido pelo Programa. Na fala da técnica ela 
disse que teve uma escola que a partir deste projeto recebeu livros. “Recebeu até o livro As 
crônicas de Nárnia”. Ao que a orientadora respondeu: “duro é o livro ficar na escola, pois 
carregam tudo”. 
Outra professora disse: “eu não trabalho muito este tipo de texto, gibi, revista em 
quadrinhos”. A Orientadora argumentou: 
 
 
 
“vocês viram o Programa Letramento? É outro programa do governo federal. Vou 
buscar o material para mostrar a vocês como é interessante. É um programa de 
formação continuada de professores, para melhoria da qualidade de aprendizagem da 
leitura/escrita e matemática nas séries iniciais do ensino fundamental.” 
 
Lá fora a escola está tranqüila, quieta, silenciosa sem muito ruído de alunos, pois todos 
estão em sala de aula. No período da tarde são aproximadamente 100 alunos. 
Na reunião com a técnica da representação de ensino, a fala continua ao redor da 
preocupação que as professoras têm diante da avaliação que será feita no final do ano, 
novembro mais precisamente, para crianças dos dois anos iniciais do Ensino Fundamental, 
nos componentes curriculares de oralidade e escrita e matemática e uma delas diz: “sabe da 
minha preocupação? Quero saber se meu menino vai saber ler para fazer esta atividade?” A 
orientadora responde: “ta feio a situação”. Daí a conversa se direciona para a situação de uma 
professora que vai vir no lugar da supervisora que foi convidada a fazer um trabalho no 
município em um projeto de formação continuada de professores. Uma troca. Então a escola 
vai ganhar uma professora e ficar sem a supervisora até o final do ano, pois segundo elas 
mesmas, a Representação de Ensino não mandará outra supervisora. A professora estava 
sendo esperada naquele dia, pois se ela não viesse a supervisora não poderia ser liberada. A 
orientadora falou: “... se a professora vier hoje... acho que ela não veio porque não encontrou 
o caminho”. (risos gerais). 
A orientadora relatou que um aluno pediu à professora que queria ir para casa mais 
cedo ao que a mesma disse que ele só podia dispensá-lo se trouxesse um bilhete da mãe. No 
outro dia ele veio com um bilhetinho num pedaço de folha que dizia o seguinte: “é 
paimacedo”. (risos gerais novamente). São agora 15h15min e a escola ganhou mais barulho, 
pois a criançada saiu para o recreio. Os 15 minutos de intervalo que geralmente é meia hora. 
A merenda do dia é arroz com frango. Segundo a orientadora, a merendeira “é uma 
maranhense porreta”. E logo em seguida me apontou o teto da sala dizendo: “teia de 
morcego”. É um forro branco, bem antigo e carcomido de cupins, por cupins. Ouvi um 
barulho e o sino tocou. Ficamos ali convivendo com o grupo durante todo o tempo do 
recreio. 
Em determinado momento alguém na sala disse: “um sino de vaca.” Terminara o 
período do recreio e intervalo para as professoras. Quem toca o sino é o rapaz que trabalha 
na secretaria. A orientadora mostrou-me o modelo de conexão da internet:e disse: “nossa 
conexão é dqp”, o que significa: “devagar quase parando”. (risos gerais). 
A orientadora e a supervisora se retiraram da reunião para sintetizar e fazer o roteiro 
de uma reunião avaliativa que seria feita no próximo dia, com todos os funcionários – 
avaliação institucional. Vai apresentar os resultados da avaliação, socializar com todos os 
setores da escola. Esta atividade está dentro das programações do projeto pedagógico 
escolar: avaliação institucional da escola. Ao olhar analisar o projeto, de fato consta desta 
avaliação. Neste instante uma aluna veio procurar a orientadora. Estava chorando, segundo 
ela, por causa da dor de ouvido. A aluna é da 3a Série. Segundo a orientadora ela 
“encrenca” com uma coleguinha na sala e pede para ir embora logo em seguida. 
Voltamos na escola dia seguinte. Logo após o sinal ouvimos a voz da orientadora 
chamando os alunos dispersos logo depois que bateu o sinal para a entrada das aulas às 
13h15min... Chamando os alunos para o momento cívico. A orientadora conclama os alunos 
a não rasgar os cartazes da escola, que cuidem da escola. Logo após cantam juntos com 
palmas: “boa tarde escola como vai” e com outras variações. Depois a orientadora nos 
apresentou oficialmente aos alunos todos, falou quem éramos e o que estávamos fazendo 
na escola. Gritaram todos juntos: “seja bem vindo Locimar”. Ao que respondemos bem alto 
e forte de maneira teatral e com pantomimas e com caras e bocas: “Obrigado” e os alunos 
deram uma gargalhada geral. Depois a orientadora exortou os alunos para a seriedade e 
reverência do momento da oração. Todos cantaram: “Vem espírito santo vem, vem 
iluminar”. E finalizaram o momento com um Pai-Nosso. Deu os parabéns aos alunos que 
hoje se comportaram bem. Em seguida vamos acompanhar o trabalho da orientadora e ela 
nos diz: 
“Na primeira vez que vim parar nesta escola fui antes parar num buritizal que fica 
muito longe daqui e morri de medo. Demorei quase uma hora para achar a escola. 
Você sabe aquela professora que acabei de conversar ali (apontou para professora) ela 
é muito estressada, mas é competente, porém não tem nenhuma humanidade e 
afetividade para com os alunos. Ela está muito preocupada com a avaliação que os 
alunos dela irão fazer no final do ano. Está preocupada porque se muitos alunos 
reprovarem ela vai perder a gratificação”. 
Pesquisas indicam que há uma subutilização dos resultados dos exames educacionais que são 
feitos no País. As informações obtidas através dos exames não se transformam em projetos de 
redimensionamento ou criação de políticas educacionais. Serve apenas com obtenção de dados, o que 
é uma pena, além de ser cara, falta clareza do que de fato se quer com os resultados das avaliações. 
Levanta-se o problema e nada é feito de concreto na busca de soluções. A escola sozinha não pode 
fazer muita coisa com estes dados. Ela precisa do sistema educacional, das secretarias de educação 
para repensar e re-planejar políticas educacionais existentes. A avaliação se torna uma tortura para os 
professores que no fundo ficam sendo os únicos culpados pelo fracasso dos alunos. Percebemos isto na 
fala da professoras ao longo da observação, cansaço e desânimo. 
Em relação às falas dos outros atores que envolvem o fazer da orientadora educacional é 
interessante registrar algumas. Na entrevista feita com a supervisora percebemos que esta ressalta 
que o trabalho da orientadora está muito envolvido no cotidiano da escola com acompanhamento de 
alunos nas situações que envolvem dificuldades de comportamento e de relacionamento. Em 
situações de brigas ou no dizer de dela, 
“Quando o professor perde o tino ele chama a orientadora. Ela acaba fazendo o papel 
de inspetore de disciplinador. Penso que o orientador não consegue fazer a função 
dele porque assume muitas funções. Ele deveria deixar de fazer o trabalho de 
disciplinador pois acaba perdendo a confiança dos alunos. Hoje há aqui na escola uma 
situação que complica muito. Quando se fala do orientador fica arredio”. 
Quando entrevistadas, as mães, já que todas as entrevistadas foram mulheres, o que 
prova a ausência do elemento pai, masculino na escola, disseram achar ótimo o trabalho da 
orientadora na escola. Quando questionadas sobre o que achavam que fosse o papel da 
orientadora na escola uma delas afirmou: 
“Bom, eu acho que é ajudar as pessoas naquilo que foi necessário, não é? Ela ajuda 
muito, corrigir os alunos a educá-los porque eles não são fáceis né? Acompanhar pais 
e alunos em diferentes situações. Conversar com as crianças e orientar os pais. 
Acompanhamento “tipo uma psicóloga”. Acompanhar pais e alunos”. 
 Quando os professores falam da orientadora, ressaltam que o trabalho dela é bom e 
que os ajuda nas dificuldades com os alunos com a família. A grande maioria disse que 
procura a orientadora pelos seguintes motivos: problemas com dificuldades de aprendizagem, 
alunos que não ficam quietos, problemas com disciplina, aluno que falta demais. “Sempre que 
um aluno está dando trabalho eu procuro a orientadora”, disse uma delas. E outra afirmou: 
“Dentro das possibilidades dela, tem desenvolvido um bom trabalho, na medida do possível, 
pois os alunos têm muita dificuldade, carência afetiva, sem regras nem limites”. Em sua 
maioria destacam o trabalho que ela faz junto à família chamando os pais quando necessário. 
Outra professora falando sobre a orientadora disse: 
“Ela é muito espontânea”. Sempre pronta a ajudar. Às vezes ela ressalta um trabalho 
que nem é dela. Se precisa dela ela ta ai. Ela está sempre pronta para ajudar. Sem 
duvida, sem ela o trabalho seria mais difícil. Tudo o que ela faz é significativo. 
Sempre ela procura mostrar o que é positivo. O trabalho que é feito junto às famílias, 
principalmente aqui que o pessoal é muito carente... pais separados, mães solteiras... 
As crianças crescem sem orientação, crescem como animaizinhos. Ai vem o caso do 
trabalho entre o professor e a orientadora. Quando ela reúne os professores, ela 
escolhe os professores para dar uma palestra”. 
 
Quando se trata de sugestões para melhorar o trabalho da orientadora, as professoras 
destacaram a necessidade Creio de se fazer mais palestras, convidando a comunidade para 
participar, fazendo palestras sobre saúde e para orientar pessoas da comunidade, que a 
orientadora fosse mais próxima como pessoa. Outra expressou sua opinião da seguinte 
forma: 
 
Na minha visão poderia ter mais equipamento para o trabalho. Lógico que ela está 
aprendendo também. Vejo que ela já está fazendo um bom trabalho. Penso que os 
professores deveriam ser mais compromissados juntos com ela. As vezes os 
professores barram o trabalho dela. Na minha visão não... poderia ter mais 
equipamento para o trabalho. Lógico que ela está aprendendo também. 
 
Quando se trata dos alunos, estes disseram que o trabalho da orientadora é para 
orientar: não brigar, não gastar água, não fazer coisa errada. Em sua maioria reconhece o 
fazer da orientadora em situações de brigas e de indisciplina na escola como comprova a 
fala de uma das crianças: 
 
Ela? Quando a gente briga aqui ela conversa com a gente ela conversa e fica falando 
que não pode fazer isto. Ela dá notícias assim. Não deixa ninguém bagunçar, ensina 
tudo isso e aquilo. Ela cuida dos alunos para não fazer bagunça essas coisas. Porque 
ela ta ajudando no nosso bem também! Ela orienta os alunos que está com dificuldade. 
 Quando perguntados se já haviam sido encaminhados à orientação, as crianças responderam 
que “sim” a maioria envolvendo questões de brigas e dificuldades de comportamento. 
 
Eu já vim na orientação sim, na situação de briga num negócio com bola e a gente 
teve uma confusão e acabei vindo para cá (fez referência à sala de orientação onde 
estava sendo feita a entrevista). Ela me ajudou muito, me deu bastante conselhos e eu 
mudei, tive uma mudança. 
Estando na escola foi observado de fato que a orientadora fica muito às voltas as 
“pequenas” questões de desentendimento entre as crianças. 
 
 
 
 
 
3..2 Quando a orientadora ela mesma fala de seu fazer 
 
Ao ser questionada sobre o seu fazer cotidiano, a orientadora afirmou que fica envolvida 
com atendimento aos alunos com as mais diversificadas causas que vão desde problemas de 
comportamento, dificuldades de aprendizagem até problemas de adaptação na escola. Disse 
que segue um plano de metas de acordo com o projeto pedagógico e que o tema do projeto 
deste ano é a paz e mas que no dia a dia surgem dificuldades que ela precisa atender. Afirmou 
que neste ano estão priorizando a avaliação institucional, o Profipes4 que traz verbas para a 
escola cujo tema gerador é a paz e o projeto da semana da cidadania. A orientadora nos 
informou que no ano passado perderam a verba do Profipes porque o projeto foi elaborado 
errado e não deu mais tempo de “consertar”. 
 Ao falar da relação dos sujeitos que fazem parte da escola disse: 
 
“O relacionamento dos pais é mais com os professores e com a orientadora. Agora o 
relacionamento interno é complicado em alguns setores. Deixam de fazer o que é de 
competência de cada um e ai prejudica o trabalho do outro. Falta de conhecimento 
técnico da equipe de professores e do pessoal administrativo. Em relação a orientação 
com os professores tudo o que eu vou sugerir, alguns professores acham que eu falo 
assim porque to fora de sala de aula, mas isto é só com dois ou três professores. Os 
alunos da manhã brigam muito por pequenas coisas, agitação de criança. A tarde são 
mais críticos. O relacionamento é bom. Eles não aceitam tudo, questionam mais.” 
 
 
Quando perguntamos sobre qual visão tem da educação e da escola a orientadora 
respondeu que, 
 
 
4 Profipes: é uumm pprrooggrraammaa ddee ssuuppoorrttee ffiinnaanncceeiirroo aa pprroojjeettooss EEssccoollaarreess,, ppaarraa aass eescolas da rede estadual que 
atendem o ensino fundamental e médio, incluindo as especificidades de educação especial, educação de jovens e 
adultos (presencial), e educação indígena e educação profissional podem ser elaborados tanto por professores 
quanto pela equipe técnica da escola (supervisor, orientador, psicólogo) ou ser resultado de uma ação conjunta. 
“Educação é atitude e o grande problema que a escola enfrenta hoje é a educação 
familiar em grande parte foi transferida para a escola. É um problema complicado. 
Muita coisa não depende de mim... Doença, famílias, exames... De tudo isto a minha 
maior dificuldade é conseguir fazer com que o professor tenha mais empatia com o 
aluno. Isto não é levado muito em consideração. Tenho sensibilizado os professores... 
Já levei professores para conhecer a casa de alunos. O conselho tutelar me ajuda 
muito. Sempre que eu precisei ele esteve presente. Já tivemos vários parceiros: 
psicólogos, empresários, outros orientadores.” 
 
 
 
1. 
4. O SERVIÇO SOCIAL: VISÕES E PERSPECTIVAS NO COTIDIANO DA 
ESCOLA. 
 
Hoje muito se fala de equipes multidisciplinares de trabalho no atendimento de 
pessoas. Quando olhamos para a realidade das escolas pensamos que a presença de um 
assistente social poderia responder a certos desafios que escapem da competência do 
orientador educacional. Pensando nisto é que resolvemos na entrevista com professores, 
coordenadores e diretores da escola, perguntar qual o significado e a importância de um 
assistente social na escola. 
 
 As respostas foram as mais diversas, ora revelando uma visão estereotipada da função 
do assistente social, ora se aproximando mais do que de fato seja o papel deste 
profissional na sociedade hodierna e na escola em particular. A fala da orientadorafoi a 
que mais se aproximou de uma visão mais critica da práxis do Assistente Social na escola: 
 
“Presença de um assistente social: ajudaria muito na intenção de conhecer a realidade 
das moradias, de conhecer o contexto ambiental e familiar. A assistente social do 
PAIF visitou a escola com o cronograma de projetos e temas para desenvolver durante 
o ano e ela pediu ajuda da escola questionando se os temas eram pertinentes à 
comunidade ais eu disse para ela que primeiro teria que conhecer a comunidade, 
visitar as famílias, o posto de saúde, conversar com o presidente do bairro, observar a 
própria escola e levantar dados.” 
 
 
 A diretora da escola disse “que seria mais um elo entre a comunidade e a escola e que seria 
muito bom, pois iria trabalhar junto com a orientadora”. 
 Percebemos no geral que a fala dos professores ainda tem ranços de uma visão ultrapassada do 
Assistente Social quando reforçam o caráter assistencialista desta profissão nas seguintes falas, por 
exemplo: “Problema de drogas na família, ele mesmo (o assistente social) poderia encaminhar a uma 
instituição”. Ou esta outra: “Se uma criança é abandonada pelos pais o assistente social vai colocar os 
menores”. Ou esta: “Problemas de visão, não pode comprar óculos”. 
Quando questionada sobre qual seria o papel de um Assistente Social, uma das professoras falou: 
“Lembro dos assistentes sociais em hospitais, presídios agora nas escolas eu nunca vi!”. 
È urgente compreender a educação como Política Social que tem o compromisso de 
garantir direitos sociais e também buscar uma reformulação e ampliação do conceito de 
educação, a partir da perspectiva de sua produção social e do papel que a escola assume na 
sociedade. Como indica Vieira (1997) poucos são os direitos sociais que estão sendo 
regulamentados e praticados no atual contexto de “neoliberalismo tardio”. Então, qual o 
papel da escola hoje? Que função assume a educação no atual contexto. 
Dado à complexidade da realidade brasileira e a crescente percepção de que a escola é 
imagem do seu tempo , é necessário aprofundar essa relação através de discussões que 
retomem a função social da escola e que venham aproximar a família do contexto escolar pois 
o sistema de ensino também se constitui em um espaço de concretização dos problemas 
sociais é dentro deste espaço, no interior das escolas, no seu cotidiano que se configuram 
diferentes expressões da questão social que afetam a vida de todos que trabalham e 
configuram este microcosmo que chamamos escola: desemprego, subemprego, fome, 
violência doméstica, famílias desestruturadas e tantas outras expressões produzidas por um 
sistema social injusto e excludente. 
Apesar de a escola ser um dos principais instrumento de mudanças ou reproduções 
sociais, podemos identificar ainda um número pequeno e até tímido de profissionais do 
Serviço Social atuando nela. No entanto, se identifica que a área de educação tem se 
constituído em mais um importante espaço de atuação do Assistente Social. 
Se fizermos um breve recorrido na história da presença dos Assistentes Sociais nas 
escolas vamos perceber que desde a década de 30 esse é um espaço de significativa 
contribuição do profissional, dada a dimensão educativa e política que caracteriza sua 
práxis. 
O Serviço Social dentro deste contexto histórico realizava ‘Inquéritos Sociais’ como 
diagnóstico da situação familiar, social e escolar dos alunos. O seu trabalho estava voltado, 
ainda, para revelar a personalidade do aluno aproveitando suas aptidões. Para isso, 
selecionavam-se os alunos que possuíam mais qualidades morais e maiores capacidades de 
adaptação social – “Assim sendo, a escola muito pode beneficiar-se desse auxílio, na 
realização da tarefa de orientar as aptidões das crianças e de reajustar as mal adaptadas, por 
circunstâncias estranhas, ao seu valor pessoal.” (PINHEIRO, 1985, p. 47) 
Pinheiro (1985) apresenta que no Governo de Pernambuco, em 27 de novembro de 1928, 
houve interesse em se criar nas escolas um grupo de visitadoras que tinham como função zelar 
pela saúde dos alunos e visitar as famílias dos mesmos, a fim de conhecer o meio em que 
estes viviam e incentivar nos pais hábitos sadios. Fato que não chegou a ser concretizado, 
possivelmente pela incompreensão dos sujeitos na escola, pela falta de recursos, etc., mas o 
que se percebe na prática é que o Serviço Social tinha a função de orientar os alunos e as 
famílias para manter a ordem social, ajustando os sujeitos aos valores morais da época. 
Para VINTER e SARRI (1968) os Assistentes Sociais tinham a oportunidade de ajudar 
professores e diretores das escolas a descobrir o que impedia os alunos de se adaptarem aos 
estudos e a vida escolar através do serviço social de grupo que complementava e não excluía 
o uso de outros serviços mais tradicionais para se conseguir conquistar os objetivos 
pedagógicos. Este trabalho se concebia como uma parte integrante do Serviço Social Escolar. 
Os Assistentes Sociais mantinham contato próximo e freqüente com os professores, 
assessores, conselhos escolares e a administração da escola. 
Vieira indica que a escola surgiu enquanto campo de atuação do Assistente Social em 
1906, nos Estados Unidos, 
 
[...] quando os Centros Sociais designaram visitadoras para estabelecer uma ligação 
com as escolas do bairro, afim de averiguar por que as famílias não enviavam seus 
filhos à escola, as razões da evasão escolar ou a falta de aproveitamento das crianças e 
a adaptação destas à situação da escola. (VIEIRA, 1977, p. 66-67) 
 
 
 No estudo de Amaro (1997), realizado no Rio Grande do Sul, vamos ver que o Serviço 
Social foi implantado como Serviço de Assistência ao Escolar em 25 de março de 1946, com 
objetivo de identificar os problemas sociais que repercutissem no aproveitamento dos alunos, 
bem como na promoção de ações que permitissem a adaptação dos mesmos ao meio tendo 
como pano de fundo o equilíbrio social da comunidade escolar. 
Como se percebe através das informações acima, a intervenção profissional tinha 
como base preparar indivíduos para servir à lógica capitalista. Para isso, encontravam-se 
dentre as suas funções a identificação da situação sócio-econômica dos alunos e suas famílias, 
e os casos de desajuste social para que se pudesse orientar pais e mestres no tratamento 
adequado. Salienta-se que a escola, com esse caráter meramente legitimador da ordem do 
capital, conformou-se até a metade da década de 70. E neste contexto, os outros profissionais 
que atuavam nela, também responderam com uma prática legitimadora em linha geral. Se 
formos olhar as funções da Orientação Escolar, vamos verificar que também este profissional 
estava voltado sua prática para a legitimação da ordem fazendo com que o aluno se adaptasse 
ao status quo vigente. 
Importante considerar que as múltiplas demandas que permearam o Serviço Social 
Escolar exigem carecem ser consideradas no tempo histórico, na realidade, nas mudanças 
sociais, políticas e econômicas que direcionavam e direcionam as reflexões e intervenções dos 
Assistentes Sociais na educação e na escola. 
 
Atualmente, vemos toda uma reflexão e movimentação para a volta do Serviço Social 
Escolar e em algumas escolas particulares e públicas de alguns Estados já o possuem, desde 
uma resssignificação de tal prática Alguns estados e municípios já conseguiram aprovar a 
institucionalização do Assistente Social nos quadros da Secretaria de Educação, tornando-se 
uma atitude inovadora a aprovação, em primeiro turno, pela Assembléia Legislativa de Minas 
Gerais, do Projeto de Lei 1.297/03, em 21 de dezembro de 2005, de autoria do deputado 
André Quintão. 
Depois deste apanhado histórico acerca da presença dos assistentes sociais nas escolas, 
vamos justificar o porquê da presença dos mesmos nas escolas e quais seriam algumas de suas 
funções dentro do contexto escolar. Antes de tudo,convém destacar que o Assistente Social 
na escola não irá substituir os outros profissionais que desenvolvem ações junto à comunidade 
escolar, pelo contrário, sua contribuição será muito mais no sentido de auxiliar a escolha 
dando-lhe subsídios para o enfrentamento de questões referentes ao fazer próprio do 
Assistente Social. 
Poderíamos justificar a presença do Assistente Social na escola por uma série de 
motivos. Apresentaremos de forma breve alguns que consideramos mais prementes. Em 
primeiro lugar, a inserção do assistente social na escola deve contribuir para que a educação 
se torne uma prática de inclusão social, formação para a cidadania e emancipação dos sujeitos 
e para que estes se tornem protagonistas de suas histórias através de um atuar interdisciplinar 
juntamente com outros profissionais que compõem a escola resultando em uma prática 
interdisciplinar e complementar. Uma das maiores uma das maiores contribuições que o 
Serviço Social pode fazer na educação é a aproximação da família e da comunidade no 
contexto escolar. Através de projetos mostrar a importância da relação entre escola, família e 
comunidade. Dentro desta dinâmica, o assistente social poderá diagnosticar os fatores sociais, 
culturais e econômicos que determinam a problemática social no campo educacional. 
Na intenção de justificar a presença dos assistentes sociais nas escolas diríamos que 
ela expressa uma tendência de compreender a própria educação desde uma dimensão mais 
integral, envolvendo os processos sócio-institucionais e as relações sociais, familiares e 
comunitárias que fundam uma educação cidadã, articuladora de diferentes dimensões da vida 
social como constitutivas de novas formas de sociabilidade humana, nas quais o acesso aos 
direitos sociais é senão fundamental, mas crucial. 
Indo para o lado mais prático, pois já justificamos a importância do Serviço Social nas 
escolas, levando em conta a as contingências de seus pressupostos quando a presença do 
assistente social na escola e suas funções, NÉRICI (1992) orienta que o assistente social é o 
componente do S.O.E que mais próximo trabalha com o orientador educacional. É como se 
fosse um assistente deste. O assistente social, que deverá estar em contato com as instituições 
sociais da comunidade e, principalmente, com a família, poderá trazer para o orientador 
educacional dados significativos que lhe ajudará na compreensão do comportamento de seus 
orientandos. Para lograr estes objetivos, a função do assistente social na escola seriam as 
seguintes: 
Estabelecer contato com a família e instituições outras da comunidade que possam 
ajudar a Orientação Educacional na consecução de seus objetivos. 
Encontrar-se com pessoas da família, notadamente com a mãe, com o fim de levá-la a 
trabalhar para modificar o clima familiar, quando isso se fizer necessário, para a 
melhor assistência ao educando. 
Visitar pensões e outras habitações, onde o educando esteja hospedado, fora da casa 
de seus pais. 
Cooperar com os professores conselheiros em suas reuniões com os educandos. 
Cooperar, também no desenvolvimento do programa de atividades extraclasse, 
notadamente aquelas de caráter social. 
Recolher dados fora da escola e de que o S.O.E esteja precisando. 
Estabelecer contatos com as instituições sociais onde sejam viáveis visitas e estágios 
dos educandos. 
Acompanhar os educandos que passarem a trabalhar ou que se matricularem em outras 
escolas, por influência de aconselhamento da Orientação Educacional. Acompanhar, 
enfim, os educandos em suas atividades após saírem da escola, como meio de 
obtenção dados válidos quanto ao valor da ação da Orientação Educacional. (NÉRICI, 
1992, p.100-1001). 
 
Podemos ainda assinalar outras atribuições em relação ao Serviço Social Escolar ou ao 
assistente social que trabalha em escolas com um pouco mais de alcance e atualidade: 
Pesquisa de natureza sócio-econômica e familiar para caracterização da população 
escolar; elaboração e execução de programas de orientação sócio-familiar, visando 
prevenir a evasão escolar e melhorar o desempenho e rendimento do aluno e sua formação 
para o exercício da cidadania; participação, em equipe multidisciplinar, da elaboração de 
programas que visem prevenir a violência; o uso de drogas e o alcoolismo, bem como que 
visem prestar esclarecimentos e informações sobre doenças infecto-contagiosas e demais 
questões de saúde pública; articulação com instituições públicas, privadas, assistenciais e 
organizações comunitárias locais, com vistas ao encaminhamento de pais e alunos para o 
atendimento de suas necessidades; realização de visitas sociais com objetivo de ampliar o 
conhecimento acerca da realidade sócio-familiar do aluno, de forma a possibilitar assisti-
lo e encaminhá-lo adequadamente; elaboração e desenvolvimento de programas 
específicos nas escolas onde existam classes especiais; empreender e executar as demais 
atividades pertinentes ao Serviço Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da lei 8662/93, não 
especificadas acima. 
 
 
 
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996, no Art. 22 diz que a Educação 
Básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum 
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e 
em estudos posteriores. Levando em conta o pressuposto do artigo acima citado podemos 
dizer que a escola não está mais cumprindo seu papel. Perdeu há tempos seu sentido e 
objetivo maior. Percebemos isto dentre outros sinais, pela insatisfação dos professores e pelo 
grande numero de analfabetos funcionais. Estão os alunos que saem do Ensino Médio, última 
etapa da Educação Básica preparados para o exercício da cidadania, progredir no mundo do 
trabalho e prosseguir seus estudos? Percebem os educadores, as contradições por trás de suas 
práticas no cotidiano das escolas? Questionamentos que ficam para pontuar o quanto temos 
que avançar se queremos que de fato, a educação seja uma política social que assegure ensino 
para todos e que seja de qualidade. Inserir o assistente social nas escolas é muito mais do que 
simplesmente fazer constá-los nos quadros de funcionários das mesmas. É preciso que este 
seja capaz de contribuir para que a escola se leia e ajude os sujeitos que nela estão inseridos 
cidadãos capazes de construir coletivamente espaços de paz e de promoção humana a partir de 
uma ação interdisciplinar superando a lógica da fragmentação e das ilhas nas quais se 
encontra a escola hoje. 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
1. ANDRÉ de, Marli Eliza D. A. Etnografia da Prática Escolar. 12a ed. Campinas: 
Papirus, 2005. 
 
2. AMARO, Sarita Teresinha Alves. Serviço Social na escola: o encontro da realidade 
com a educação. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1997. 
 
3. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989. 
 
4. GRINSPUN, Mirian P. S. Zippin. A Orientação Educacional: Conflito de 
Paradigmas e Alternativas para a escola. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2002. 
 
5. NÉRICI. Imídeo G. Introdução à Orientação Educacional. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 
1992. 
 
6. VIEIRA, Balbina Ottoni. História do Serviço Social: contribuição para a construção 
de uma teoria. Rio de Janeiro: Agir, 1977. 
 
7. VINTER, Robert D.; SARRI, Fallas de Desenvolvimiento en la escuela publica: un 
enfoque de servicio social de grupo. Revista de Servicio Social, Michigan, n. 2, junio 
de 1968. 
 
8. PINHEIRO, MariaEsolina. Serviço Social: infância e juventude desvalidas. São 
Paulo: Cortez, 1985.

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