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MÉT. EXP. DE FÍSICA EM BIOCIÊNCIAS Microscopia Confocal Conceitos básicos A microscopia confocal é uma variedade da microscopia óptica e um aperfeiçoamento da microscopia de fluorescência convencional. Como é um tipo de microscopia óptica, há fatores importantes como a resolução e a importância da abertura numérica das lentes e do comprimento de onda que ilumina a amostra para calcular essa resolução. E, sendo um aperfeiçoamento da microscopia de fluorescência, a lente objetiva desempenha, também, o papel da lente condensadora – possuindo o mesmo NA (número de abertura). Fenômenos ondulatórios A luz é uma onda eletromagnética que, quando se propaga e encontra certo meio, como um obstáculo ou uma superfície que separa duas regiões, esta interage com ele, gerando alguns comportamentos específicos, tais quais a refração e a reflexão. No entanto, a luz tem o fenômeno ondulatório de difração – que é a propriedade de contornar obstáculos. Na difração, quando um feixe de luz passa por uma fenda ou encontra um objeto, a imagem formada apresenta apenas franjas de interferência, isto é, aparecem zonas claras e escuras no contorno do objeto. O disco de Airy é a representação da imagem de um ponto, onde o centro representa a luz vinda do objeto (plano focal) e os discos ao redor representam a luz difratada pelo objeto. Na imagem, é possível ver que as franjas de interferência, ou seja, os círculos em volta do centro do disco de Airy influenciam diretamente na resolução dos pontos da imagem. Quanto maior os discos de interferência ou maior a luz difratada, menor a resolução. Padrão de dispersão da luz: As bordas de cada PSF (função de espalhamento de luz no ponto) correspondem à intensidade da luz difratada e o centro corresponde à intensidade da luz proveniente do objeto, ou seja, do ponto em foco. No microscópio, os pontos de luz desfocados correspondem à luz que está sendo difratada do objeto, não à luz do plano focal. Quanto maior a NA da objetiva, mais intensa é a luz proveniente do plano focal, enquanto a intensidade da luz difratada é menor e menos dispersa, o que influencia diretamente no contrate da imagem e, consequentemente, em sua resolução. Resumindo, o raio do disco de Airy define a resolução lateral (ou seja, os eixos “x” e “y”), enquanto a amplitude a axial no PSF define a profundidade do foco (eixo “z”). Os efeitos da difração de luz (luz fora de foco) são mais deletérios quanto mais espessas são as MÉT. EXP. DE FÍSICA EM BIOCIÊNCIAS Microscopia Confocal amostras, pois mais luz na imagem é proveniente de áreas desfocadas em relação às áreas em foco. Assim, amostras com mais de 1 uM já podem apresentar áreas desfocadas e as de 5-10 uM apresentam muita luz de fundo (background). Já as amostras com 10-20 uM apresentam grande espalhamento de luz e significativa perda de resolução e, por fim, as de +20uM aparecem distorções denominadas de aberrações e anomalias. Em amostras com mais de 40um de espessura a luz fora de foco se sobrepõe a luz em foco, levando a extinção da imagem, tornando-a completamente embaçada. Para resolver esse problema, foi idealizados o conceito e os princípios que definem a confocalidade. Experimento Pinhole Foi criado um dispositivo físico que impede que fótons oriundos de outros planos na amostra – ou seja, fora do plano focal – cheguem até a lente objetiva. Esse dispositivo é um pequeno disco metálico com um orifício no centro – denominado pinhole. O pinhole se localiza alinhado com o ponto focal da objetiva e instalado na frente do detector da imagem (olho humano ou câmera). Assim, a luz de um único plano focal incide através de uma pequena abertura, o pinhole confocal. Os raios de luz provenientes de outros planos focais não são corretamente alinhados com o pinhole, sendo eliminados da imagem. A consequência de uma imagem que contém somente a informação de um único plano focal é a produção do corte óptico, o que evita a necessidade de submeter a amostra a processamentos físicos, como o fatiamento em micrótomos – o que gera artefatos. O corte óptico pelo pinhole também viabiliza a observação de amostras frescas ou vivas. Fluorescência A fluorescência é um caso da fotoluminescência – que é caracterizada pela emissão de luz por certas moléculas induzida por irradiação luminosa, sejam por comprimentos de onda visíveis ou não. A fotoluminescência pode ser dividida em duas: a fosforescência (a liberação de luz ocorre de forma retardada) e a fluorescência (a liberação de luz ocorre de forma instantânea). Na fluorescência a luz emitida é sempre de um comprimento de onda mais longo do que a da luz de excitação. Isso se dá porque quando uma molécula recebe luz em determinado comprimento de onda, uma parte dessa energia é absorvida, logo, os elétrons saem do estado basal, permanecem por determinado tempo no estado excitado e depois voltam para o estado basal. O restante da energia não absorvida é liberada em forma de luz. Portanto, como uma parte da energia foi utilizada, a luz emitida terá menos energia do que a luz que a excitou. É importante relembrar que comprimentos de onda menores possuem maior energia e comprimento de onda maiores possuem menos energia. Fluoróforos ou fluorocromos são moléculas com propriedades fluorescentes naturais e artificiais. Para fluorescer, as moléculas apresentam uma série de estruturas de anéis aromáticos e muitas ligações duplas, que favorecem a ressonância do elétron para que esse permaneça algum tempo em estado MÉT. EXP. DE FÍSICA EM BIOCIÊNCIAS Microscopia Confocal excitado. O espectro de excitação-emissão é característico de cada fluoróforo, ou seja, cada molécula possui um perfil de curva de excitação-emissão específica, sendo necessário conhecer essa curva para configurar a aquisição de imagens de materiais fluorescentes. O objetivo é usar fontes de luz para excitação da amostra utilizando comprimentos de onda próximos a o do pico da curva de excitação, onde terá mais eficiência pois será possível excitar a amostra com menos intensidade de luz. O mesmo serve para detecção, deve-se usar filtros que detectam os comprimentos de ondas que estão próximos ao pico da curva de emissão dos fluoróforos, onde a emissão será mais intensa. Quando não se tem a fonte de luz de excitação (filtro de excitação ou laser) que pegue o pico da curva, é necessário que o comprimento de onda da luz de excitação se encontre, pelo menos, dentro da curva de excitação – caso contrário, a amostra não será excitada. O mesmo ocorre para a emissão: o filtro utilizado para receber a luz emitida pelos fluoróforos deve englobar pelo menos uma parte dos comprimentos de onda que estão inseridos na curva – caso contrário, nada será detectado. Exemplo de fluoróforos: DAPI (marcador de núcleo), Eosina, Alexa Fluor (diversos tipos). Microscópio de Fluorescência Uma fonte de luz branca chega ao filtro de excitação, por onde passam apenas os comprimentos de onda de interesse para determinado fluorófomo. A luz que passa pelo filtro encontra o espelho dicroico, que reflete todos os comprimentos de onda em direção à amostra. Essa luz excita o fluorófomo e este emite uma luz em um comprimento de onda maior, que será captada pela lente objetiva e irá passar direto pelo espelho dicroico e chegará ao filtro de emissão. Esse filtro permite a passagem de comprimentos de onda que estejam na faixa do fluorófomo específico. Em seguida, essa luz emitida chega aos olhos do observador ou de uma câmera. Microscopia de fluorescência convencional x confocal O microscópio de fluorescência convencionalé conhecido como microscópio de campo (wide field), pois ilumina todo o campo da amostra de uma única vez e recebe a luz emitida toda de uma vez. Já o microscópio confocal é conhecido como microscópio de escaneamento, pois a fluorescência é captada ponto a ponto por todo o campo. As fontes de luz para a microscopia de fluorescência convencional são fontes de luz branca de diversos materiais: lâmpadas de filamento incandescente de mercúrio ou xenônio (são flexíveis, relativamente de baixo custo, necessitam de alinhamento; 200 a 300 horas de vida útil para a luz de mercúrio), metal halide com fibra óptica liquida (geralmente contém mercúrio, não requer alinhamento; 2000h de vida útil) ou LED (diversas cores, comprimento de onda de excitação restrito, dispensa filtro de excitação). MÉT. EXP. DE FÍSICA EM BIOCIÊNCIAS Microscopia Confocal Na microscopia confocal, no entanto, a fonte de luz é o laser – um instrumento óptico- eletrônico que emite radiação coerente, em um feixe estreito, de baixa convergência e com comprimento de onda definido (monocromático). O laser dispensa filtro de excitação, porém requer controle de intensidade (AOTF – Acousto-Optic Tunable Filter), pois sua potência é maior do que a da luz branca normal. A AOTF é um modulador acústico-óptico constituído por um transdutor que gera ondas sonoras em um material, como vidro (telúrio) ou de quartzo. Desse modo, direcionam e controlam a intensidade de luz do laser, permitindo realizar uma mudança rápida de sintonização para diferentes comprimentos de onda. Além disso, é possível regular várias linhas de lasers simultaneamente – sendo, assim, capazes de substituir os filtros de excitação. Microscópio Confocal A imagem do microscópio confocal é feita pela varredura da amostra pelo feixe de laser. Primeiro, o laser percorre um caminho óptico perfeitamente alinhado com o eixo óptico da objetiva, preenchendo toda parte traseira da lente com luz. Dessa forma, a objetiva focaliza um volume limitado da amostra. Em seguida, dois espelhos rotatórios são usados para deslocar o feixe de laser na amostra: um para escanear em alta velocidade o eixo de “x” (que aparece como uma varredura horizontal na tela do computador) e outro para escanear, de forma um pouco mais lenta, o eixo de “y”. A luz do campo focal passa pelo espelho dicroico e o filtro de emissão e, por último, pelo pinhole do microscópio confocal. Os fótons alinhados ao pinhole são detectados por um detector de luz muito sensível chamado de tubo fotomultiplicador. O laser é deslocado pelo espelho que faz a rotação no eixo “x”, fazendo isso por linha – da superior até a inferior –, até o laser “ler” todo o campo da amostra. Toda a luz proveniente de fora do ponto focal é excluída da imagem, ou seja, a imagem é constituída apenas de um plano focal. Para adquirir imagens de todos os planos focais da amostra ao longo da espessura (ou seja, eixo “z”), é necessário deslocar a amostra em relação à lente objetiva, aproximando ou afastando-a. Isso é controlado pelo galvanômetro, que é posicionado na plataforma em que a amostra se encontra. Ou seja, através do software do microscópio, é possível controlar a distância da amostra em relação à objetiva e deslocar o ponto focal dentro da amostra, obtendo cortes ópticos de toda sua espessura. Com as imagens de todos os cortes ópticos, é possível reconstruir, com a ajuda de um software, a imagem 3D da amostra. O fotomultiplicador (PMT) é um dispositivo eletrônico que converte e amplifica os sinais luminosos, ou seja os fótons, em pulsos elétricos e transforma em pulsos elétricos em sinais digitais. Assim, o sinal analógico MÉT. EXP. DE FÍSICA EM BIOCIÊNCIAS Microscopia Confocal detectado é convertido no sinal digital, que contém as informação da posição do laser na imagem e a intensidade de luz que vem da amostra. Essas informações são interpretadas e exibidas na tela do computador por programas especializados. As imagens formadas são do tipo “mapa de pixel”, ou seja, cada ponto capturado da imagem corresponde a um pixel da imagem final. Dessa forma, o número de pontos por linha e o número de linhas definem a resolução física da imagem digitalizada. Além disso, a intensidade de fótons capturada em cada posição é plotada no mapa de pixels por diferentes tons de cinza, que variam na escala de 0 a 255 tons – sendo 0 a cor preta e 255 a cor branca. Isso quer dizer que a imagem gerada no confocal é sempre em preto e branco, porém pode ser colorida como desejado pelo usuário do software. Os dados obtidos na aquisição das imagens são guardados em arquivos do tipo bancos de dados e devem ser analisados e trabalhados em softwares de tratamento de imagem (a extensão depende do software do fabricante). Em resumo, a microscopia confocal é uma microscopia de fluorescência e de varredura a laser. Com ela, é possível criar imagens nítidas do objeto, principalmente comparadas à de fluorescência convencional. Nela é possível excluir da imagem a luz proveniente das áreas fora de foco, ou seja, a luz difratada com o uso do pinhole. Ao usar o pinhole, produz-se cortes ópticos da imagem e é possível uma visualização de mais detalhes, ou seja, uma maior resolução. Além disso, é viável reconstruir imagem em 3D de materiais biológicos fixados ou in vivo, diferentemente da microscopia eletrônica. In vivo, adquire-se imagens ao longo do tempo ao fazer vídeos em forma de time-lapse (4D).
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