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Anna Beatriz Maia - Introdução ao processo e resolução de con�itos– Resumo das aulas da FDSBC Formas alternativas de resolução de conflitos Atividade - Resolução de conflitos (negociação e arbitragem) Quais as principais diferenças entre as formas “alternativas” de resolução de conflitos (ADRs) tratadas no texto? A primeira grande diferença é a divergência entre os métodos da heterocomposição e da autocomposição. Como exemplo, a mediação – método autocompositivo – representa uma forma consensual de resolução de conflitos, enquanto a arbitragem – método heterocompositivo – se define por duas ou mais partes confiarem em um terceiro imparcial na tomada de decisão a respeito dessa solução. Entretanto, outras diferenças também podem ser vistas dentro de métodos do mesmo grupo. Como no caso da autocomposição, onde temos a conciliação como técnica destinada para conflitos eventuais em que as partes não necessitam ter um relacionamento, e o papel do conciliador é propor alternativas para a solução do conflito; enquanto no caso da mediação, ela serve como técnica que deve ser aplicada nos conflitos onde as partes já tinham uma relação anterior e que, na maioria das vezes, continuarão tendo depois da solução do conflito, e o mediador tem o objetivo de fazer com que as pessoas retornem ao diálogo e que exercitem o sentimento de empatia, conduzindo-as a construir em conjunto uma solução cooperativa e satisfatória para ambas. Podendo assim ser observado que no primeiro caso o foco se dirige ao conflito, enquanto no segundo se volta especialmente para as pessoas. Em suma, as demais técnicas são variações das quais têm como último objetivo conduzir as partes para um consenso, sendo que em todos os casos a vontade delas é indispensável. O que pode mudar é a função dos terceiros e o objetivo dos métodos, como é possível ressaltar no exemplo acima em relação as posições do conciliador e do mediador na resolução do conflito. Em outros casos, essas divergências de funções também ocorrem: no comitê de disputa, onde membros que podem ser ou não ligados às partes e um terceiro absolutamente neutro, acompanham o cumprimento de contratos, corrigem erros e fazem pareceres e sentenças, misturando vários métodos para encontrar a solução; se diferenciando da técnica de med-arb, um método híbrido, onde o terceiro usa apenas dois tipos de métodos para encontrar a solução: a mediação e a arbitragem. Mediando as partes para que entrem em um consenso e caso não consigam, esse mesmo terceiro, parte para a arbitragem. Por fim, outra diferença entre os métodos que pode ser destacada é vista na arbitragem, que se diferencia de todas as demais técnicas pelo seu caráter adjudicatório, onde também é visto nos casos de Juiz de Aluguel e de Dispute Boards. 2 – Segundo o autor do texto, quais medidas poderiam ser tomadas para uma concretização das ADRs como métodos de resolução de conflito efetivos no cenário brasileiro? Marco Antônio Garcia Lopes Lorencini cita uma “tropicalização” dos métodos alternativos de solução de conflitos e do sistema multiportas como medida para a concretização deles. Isso só será possível criando meios e técnicas aderentes à realidade cultural brasileira, além da continuidade do trabalho de conscientização e mudança de mentalidade - começando pelos estudantes -, e definindo a profissionalização e remuneração dos terceiros (mediadores, árbitros e terceiros neutros), sem prejuízo do trabalho voluntário que alguém queira desempenhar. Como exemplo, é citado que o método autocompositivo da Arbitragem ganhou impulso com a edição da Lei 9.307/1996, se mostrando de grande eficácia ao solucionar conflitos de interesses de maneira rápida e econômica, diferentemente do processo judicial. E no caso dos métodos heterocompositivos, com a instalação do setor de Conciliação ou Mediação em Primeiro Grau de Jurisdição no Estado de São Paulo, e o Setor de Conciliação em Segundo Grau de Jurisdição, feitos a partir do Provimento 893/2004, 783/2002 e 843/2004, do Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça. Por fim, o marco mais recente do avanço da concretização das ADRs é a Resolução 125, do Conselho Nacional de Justiça, a qual proclama o Poder Judiciário brasileiro como o responsável pela Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado de Conflito de Interesses. Ao analisarmos tal Resolução, é possível reconhecer os núcleos permanentes de métodos consensuais de solução de conflito, como prevê o art. 7º, que objetiva a institucionalização da função de mediadores e conciliadores: Resolução 125 do CNJ – 29/11/2010 Art. 7º. Os tribunais deverão criar, no prazo de 30 dias, Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Núcleos), coordenados por magistrados e compostos por magistrados da ativa ou aposentados e servidores, preferencialmente atuantes na área, com as seguintes atribuições, entre outras (...) (Redação dada pela Emenda nº 2, de 08.03.16) Mais um importante passo para se chegar a uma concretização das ADRs como métodos de resolução de conflito efetivos no cenário brasileiro. 3- O critério para escolher um entre outros mecanismos de resolução de conflitos está nas partes ou no conflito em questão? Qual a importância de analisar esses mecanismos pela perspectiva das "partes" envolvidas? O critério está no próprio conflito em questão. Mesmo que o gestor de conflitos tenha preferência com alguma das ADRs, quem de fato define a metodologia ou escola a ser aplicada é a disputa, demanda ou conflito. Em relação as partes, leva-se em conta que cada ADR tem uma amplitude e um funcionamento especial, focos, atores, metodologias voltadas a contextos específicos, sendo assim, para cada uma delas, participarão diferentes sujeitos (partes), por isso, é necessário analisar tais mecanismos pela perspectiva deles, já que estes serão parte ativa na resolução do conflito, para que então o gestor possa mapear os movimentos de inter-relações entre essas partes, entendendo seus interesses e levando em conta suas subjetividades. 4- O que o texto quer dizer com "mudanças de primeira e de segunda ordem"? Têm o mesmo significado que "decisões de primeira e de segunda ordem"? Explique. Qual a relação dessas categorias com os meios de resolução de conflitos? De acordo com Teoria Geral dos Sistemas, as mudanças de primeira ordem trata-se de dirimir leis, quer por decisão onde há um vencedor e um vencido, ou pela composição, por meio das conciliações, contendo um caráter contensor. Já as "mudanças de segunda ordem" dizem respeito ao trabalho transformativo à funcionalidade do sistema - tanto nas relações quanto em sua comunicação -, próprias dos instrumentos de mediação e da facilitação assistida. "Decisões" e "Mudanças" de primeira e segunda ordem são diferentes. As decisões referem-se as "escolhas trágicas", denominadas por Calabresi e Bobbitt. As escolhas trágicas encontram-se em dois níveis das decisões de gestão pública: na base das decisões de primeira ordem, relativa às prioridades político-sociais, planos de Estado e de Governo etc.; e na ponta das decisões de segunda ordem, como a alocação de bens materiais ou imateriais considerados escassos. As decisões de primeira têm critérios de justiça definidoras de prioridades, enquanto as de segunda ordem, critérios de justiça alocativas A diferença dessas categorias com os meios de resolução de conflitos está no papel das "partes". Enquanto no primeiro caso a relação jurídico-processual se completa por autor, juiz e réu, na triangulação de Bullow entre o Estado e as partes do polo ativo e do passivo. No caso das ADRs, o sujeito que num processo judicial cível não é considerado uma parte legítima ou terceiro juridicamente interessado a compor a lide, na medição este poderá vir a ser admitido, inclusive, como parte relevante no próprio conflito. Isso porque a medição está no campo de funcionalidade relacional, e não da solução de disputas jurídicas e seus efeitos jurídicos.5- Como você faria a abertura de uma negociação – a partir das técnicas da negociação baseada em princípios, em um caso em que esteja como credor negociando o pagamento de uma dívida? Caso o devedor já comece apresentando propostas de pagamento que não interessem a você em termos de prazo e valor, você acha que as técnicas de negociação baseada em princípios poderiam auxiliar em uma mudança de rumo da negociação? De que forma? A negociação baseada em princípios (problem-solving), se distingue dos modelos de negociação uma vez que visa decidir as questões a partir de seus méritos. Fundamenta-se nos interesses subjacentes das partes que motivam suas posições, buscando ganhos mútuos por meio da exploração das diferenças e não vendo a negociação como um jogo de soma zero. Nesse modelo, um exemplo é o caso da laranja, onde uma parte precisa da casca para fazer um bolo e o outro precisa do interior da fruta para fazer um suco, e caso sua solução fosse apenas dividir a fruta em dois, ambos perderiam, entretanto, caso fosse levado em conta seus interesses, ambas poderiam sair totalmente satisfeitas. Roger Fisher e Willian Ury foram os precursores desse modelo alternativo de negociação, e tal alternativa possui quatro princípios: I. (PESSOA) SEPARAR AS PESSOAS DO PROBLEMA: Os participantes devem perceber-se como trabalhando lado a lado, atacando o problema e não uns aos outros, visto que os negociadores são pessoas, com emoções, valores e diferentes pontos de vista. Nessa primeira parte, como credor, devo parar de julgar o devedor pelas primeiras propostas oferecidas por ele, e me focar na ideia do negócio e como aquilo poderá ser lucrativo caso entremos em um consenso. Desse mesmo modo, o devedor deverá deixar de lado suas opiniões quanto a mim ao recusar suas ideias iniciais e estar aberto a discutir. II. (INTERESSES) FOCALIZAR NOS INTERESSES EM JOGO, NÃO NA POSIÇÃO DAS PARTES: Por trás das posições opostas, há interesses comuns e compatíveis, assim como interesses conflitantes. Tanto o que é diferente quanto o que é comum e complementar servem como base para se chegar a um acordo. Nesse caso, é necessário se colocar no lugar do outro e pensar em sua escolha. Nessa etapa, é necessário lembrar o interesse em jogo, que no caso seria o pagamento da dívida. Para o credor, se trata do dinheiro e lucro, para o devedor, do cumprimento de seu compromisso e da honra de seu nome. Devo me perguntar o porquê essas propostas estão sendo feitas: Qual a situação financeira do devedor? Por que ele precisa me pagar dia 20? Por que não diminuir a taxa dos meus juros? III. (OPÇÕES) INVENTAR OPÇÕES DE GANHO MÚTUO: Deve-se reservar um tempo na negociação para pensar em uma vasta gama de soluções possíveis que promovam os interesses comuns e conciliem criativamente os interesses divergentes. Para isso, é preciso: separar o ato de inventar opções do ato de julgá-las; ampliar as opções sobre a mesa, em vez de buscar uma resposta única; buscar benefícios mútuos e inventar meios de facilitar as decisões dos outros. Nesse caso, não adianta nada o credor se fechar na ideia de seus próprios prazos e valores se de fato deseja resolver esse conflito. Então, o ideal é que nesse período eu me sente com o devedor e discuta as opções de forma aberta, visando o benefício das duas partes. O devedor deve tentar de todas as maneiras possíveis pagar o máximo que puder no prazo mais breve possível, e o credor deve estar aberto as tais condições se caso não forem prejudicá-lo. IV. (CRITÉRIOS) INSISTIR EM CRITÉRIOS OBJETIVOS : A negociação deve se pautar em um debate sobre algum padrão razoável em critérios objetivos, independentemente da vontade pura e simples de qualquer das partes, como o valor de mercado, a opinião especializada, os costumes, a lei, a eficiência, os custos, o procedente de um tribunal, dentro outros. Em termos mínimos, os critérios objetivos precisam independer da vontade de qualquer dos lados. No caso em questão, os objetivos devem ser pautados a partir do valor da dívida em si. Sendo que as outras questões como os juros, multas, prazos ou qualquer outra coisa dessa natureza deve estar de acordo com o mercado, como por exemplo, a porcentagem que um banco cobraria de juros, ou o prazo do pagamento ser de acordo com o recebimento salarial da empresa do devedor. Em síntese, pode se dizer que o negócio pode sim mudar de rumo pela negociação baseada em princípios. Para isso, o devedor e o credor devem estar de acordo em relação as suas posições, onde ambos são solucionadores do problema e a meta é um resultado sensato e eficiente, não apenas a vitória de um ou de outro. Ambos teriam que separar as pessoas do problema, vendo além de suas relações pessoais ou de suas opiniões sobre cada um, agindo independente da confiança, acreditando que necessitam chegar em um resultado onde ambos saiam beneficiados baseados em padrões independentes da vontade própria. Para isso, como credor, devo discorrer sobre minha opinião e dizer ao devedor que não estou de acordo com as propostas apresentadas, mas que estou disposto a oferecer uma outra proposta onde talvez posso receber em um outro dia, e o devedor em pagar um outro valor mais adequado. Caso o devedor não esteja aberto à razão, e não desejar desenvolver opções múltiplas para que seja escolhida a mais justa, então será necessário outro método de negociação onde não seja preciso a cooperação entre as partes, uma vez que uma delas não está disposto a fazer concessões, nem outras ofertas.
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