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1 Marcela Oliveira – Medicina 2020 – 1- IDENTIFICAR OS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO GESTACIONAIS. Inicialmente, é importante entender que Gestação de Alto Risco é aquela na qual a vida ou a saúde da mãe e/ou do RN apresentam uma maior probabilidade de evolução desfavorável. Além disso, é importante alertar que uma gestação que esta transcorrendo bem pode se tornar de risco a qualquer momento, durante a evolução da gestação ou durante o trabalho de parto. Portanto, há necessidade de reclassificar o risco a cada consulta pré-natal e durante o trabalho de parto. Isso porque a intervenção precoce evita os retardos assistenciais capazes de gerar morbidade grave, morte materna e perinatal. Os fatores de risco gestacional não necessitam de uma tecnologia mais avançada do que as comumente oferecidas na assistência de baixo risco, embora signifique uma maior atenção, o que muda é uma maior frequência das consultas e visitas domiciliares, sendo o intervalo definido de acordo com o fator de risco identificado e a condição da gestante no momento. Os fatores de risco se dividem em: 2 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Outros fatores de risco referem-se as condições ou complicações que podem surgir no decorrer da gestação, transmando-a em uma gestação de alto risco. Uma vez encaminhando para o acompanhamento em um serviço especializado em pré-natal de alto risco é importante que a gestante seja orientada a não perder o vinculo com a equipe de atenção básica ou Saúde da Família que iniciou o acompanhamento. Além de a equipe estar sempre preparada para enfrentar quaisquer fatores que possa afetar a gravidez, sejam eles clínicos, obstétricos ou de cunho socioeconômico ou emocional. Para tanto, a gestante deverá ser sempre informada do andamento da sua gestação e instruída quanto aos comportamentos e atitudes que deve tomar para melhorar sua saúde, assim como sua família deve estar preparada para promover um suporte adequado a esta gestante. SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GRAVIDEZ 1. Hipertensão crônica Observada antes da gravidez, ou antes, de 20 semanas de gestação, ou diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez e não se resolve ate 12 semanas após o parto. 2. Pré-eclâmpsia/ eclampsia A eclâmpsia caracteriza-se pela presença de convulsões tônico-clônicas generalizadas ou coma em mulher com qualquer quadro hipertensivo, não causadas por epilepsia ou qualquer outra doença convulsiva. Pode ocorrer na gravidez, no parto e no puerpério imediato. É uma hipertensão que ocorre após 20 semanas de gestação, acompanhada de proteinuria, com desaparecimento ate 12 semanas pós-parto. Na ausência de 3 Marcela Oliveira – Medicina 2020 proteinuria, a suspeita se fortalece quando o aumento da pressão aparece acompanhado por cefaleia, distúrbios visuais, dor abdominal, plaquetopenia e aumento das enzimas hepáticas. A pré-eclâmpsia pode ser classificada como leve. Nesses casos, a paciente deve ser hospitalizada para avaliação diagnostica inicial e mantida com dieta normossódica e repouso relativo, pois não há necessidade de tratamento medicamentoso. Já na pré-eclâmpsia grave ocorre quando houver PA diastólica =/>110mmHg, oligúria (menor que 500ml/dia), sinais de encefalopatia hipertensiva (cefaleia e distúrbios visuais), aumento de enzimas hepáticas e bilirrubinas. Nesses casos, a paciente deverá ser internada para avaliação das condições maternas e fetais. Se a idade gestacional for maior ou igual 34 semanas, deve ser preparada para interrupção da gravidez. Já em pacientes com pré-eclâmpsia grave com idade gestacional entre 24 e 33 semanas, a conduta é feita com monitorização materno- fetal rigorosa, uso de sulfato de magnésio e agentes anti-hipertensivos. 2- CONHECER OS PROGRAMAS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DA MULHER NO SUS (ENFATIZANDO O PRÉ-NATAL E A PUERICULTURA). A politica Nacional de atenção Integral à saúde da Criança – PNAISC possui 7 eixos estratégicos coma finalidade de orientar e qualificar as ações e os serviços de saúde da criança em território nacional. O eixo estratégico I visa: atenção humanizada e qualificada à gestação, ao Parto, ao Nascimento e ao Recém-nascido. 4 Marcela Oliveira – Medicina 2020 É importante dizer, que essa atenção integral à gestação, ao parto e ao nascimento inicia-se com a visão abrangente da saúde integral da mulher e promoção da saúde sexual e reprodutiva, desde a adolescência. Deve-se incluir uma atenção especial às mulheres em situação de violência, a prevenção e abordagem da gravidez não planejada e a de risco, a assistência à infertilidade e atenção diferenciada em situações de risco. A Rede de Atenção à Saúde Materna, Neonatal e Infantil (Rede Cegonha) tem por objetivo fomentar a implementação de um novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança, com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança (zero aos 24 meses), com a finalidade de reduzir a mortalidade materna e infantil. Após os avanços na assistência e no acesso à tecnologia de atenção às complicações e urgências na gravidez de risco habitual e de alto risco, como as intervenções cirúrgicas, a reanimação neonatal e o cuidado intensivo, há necessidade de se aprimorar o cuidado cotidiano nos serviços de saúde. Propõe-se mudanças no modelo de atenção obstétrica e neonatal no Pais, buscando equilíbrio e prevenção de intervenções desnecessárias, contribuindo para a morbidade e efeitos adversos físicos e psíquicos na vida da mulher e da criança. Entre as ações estratégicas do eixo de atenção humanizada e qualificada à gestação, ao parto e ao RN destacam-se: Prevenção da transmissão vertical do HIV e da sífilis. Atenção humanizada e qualificada no momento do nascimento, com capacitação dos profissionais; Atenção humanizada ao RN de baixo peso, com a utilização do Método Canguru. Alta qualificada do RN da maternidade, com vinculação da mãe do bebe a Atenção Básica. Ou seja, a mãe deve deixar a maternidade já com a data agendada para o comparecimento entre o 3º e 5º dia de vida na UBS, visando ao projeto “5º dia de saúde integral” que consiste numa consulta de enfermagem (ou medica) conjunta da criança e da mulher. Triagens neonatais universais. PRÉ-NATAL Para ampliar a captação precoce das gestantes, o MS por intermédio da Rede Cegonha, incluiu o Teste rápido de Gravidez nos exames de rotina do pré-natal, podendo ser realizado na própria UBS. Toda mulher da área de abrangência da unidade de saúde e com historia de atraso menstrual de mais de 15 dias deverá ser orientada pela equipe de saúde a realizar o Teste Imunológico de Gravidez, que será solicitado pelo medico ou enfermeiro. Após a confirmação da gravidez, em consulta medica ou de enfermagem, dá-se inicio ao acompanhamento da gestante, com seu cadastramento no SisPreNatal. A partir desse momento, a gestante deverá receber as orientações necessárias referentes ao acompanhamento de pré- natal: sequência de consultas, visitas domiciliares e grupos educativos. Devem ser fornecidos à gestante: o Cartão da Gestante; o Calendário de vacinas (orientações sobre sua atualização caso necessárias); a solicitação dos exames de rotina; realização de testes rápidos e as orientações sobre a participação nas atividades educativas. Com o objetivo de reduzir a morbimortalidade materno infantil e ampliar o acesso com qualidade, é necessário que se identifiquem os fatores de risco 5 Marcela Oliveira – Medicina 2020 gestacional o mais precocemente possível. Dessa forma, o acolhimento com classificação de risco pressupõe agilidadeno atendimento e definição da necessidade de cuidado que devem ser ofertadas as usuárias. As consultas de pré-natal poderão ser realizadas na UBS ou durante visitas domiciliares. O calendário deve ser iniciado precocemente (no primeiro trimestre) e deve ser regular, garantindo-se que todas as avaliações propostas sejam realizadas. O total de consultas deverá ser de no mínimo, seis com acompanhamento intercalado entre medico e enfermeiro. Seguindo o cronograma sempre que possível: Até 28ª semana – mensalmente; Da 28ª até a 36ª semana – quinzenalmente; Da 36ª até a 41ª semana – semanalmente. A maior frequência de visitas no final da gestação visa à avaliação do risco perinatal e das intercorrências clínico-obstétricas mais comuns nesse trimestre, como trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia e eclampsia, amniorrexe prematura e óbito fetal. O acompanhamento da mulher no ciclo gravídico-puerperal deve ser iniciado o mais precocemente possível e só se encerra após o 42º dia de puerpério, período em que a consulta de puerpério deverá ter sido realizada. Os exames solicitados na primeira consulta incluem: hemograma, tipagem sanguínea e fator Rh, Coombs indireto (se for Rh negativo); Glicemia de jejum; Testes rápido para triagem de sífilis, HIV; sorologia para hepatite B; exame de urina e urocultura; USG obstétrico (não é obrigatório) para avaliar a idade gestacional; e parasitológico de fezes (se houver indicação clinica). Nas consultas subsequentes, deve ser realizado: Um exame físico direcionado para avaliar o bem-estar materno e fetal. Verificação do calendário de vacinas; Analisar os resultados de exames; Determinar o IMC e monitoramento do ganho de peso gestacional; Medidas de pressão arterial; Palpação obstétrica e medida da altura uterina para avaliação do crescimento fetal; Pesquisa de edema; Exame ginecológico incluindo das mamas para avaliação do mamilo; Ausculta de batimentos cardiofetais; Prescrição de suplementação de sulfato ferroso (40mg de ferro elementar/dia) e acido fólico (5mg/dia) para profilaxia da anemia. Incentivar o aleitamento materno exclusivo ate os seis meses; Orientar as gestantes sobre os sinais de risco e a necessidade de assistência em cada caso. VACINAÇÃO NA GESTAÇÃO A vacinação durante a gestação objetiva, não somente a proteção da gestante, mas também a proteção do feto. 1. Vacina dT (difteria e tétano) A vacina dT é indicada para a proteção da gestante contra o tétano acidental e a prevenção do tétano neonatal. Gestante sem nenhuma dose registrada: inicie o esquema vacinal o mais precocemente possível com 3 doses, com intervalo de 60 dias ou, no mínimo, 30 dias. Gestante com esquema vacinal incompleto (1 ou 2 doses): em qualquer período gestacional, deve-se completar o esquema de três doses o mais precocemente possível, com intervalo de 60 dias ou, no mínimo, 30 dias entre elas. 6 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Gestante com esquema vacinal completo (3 doses ou mais) e última dose há menos de cinco anos: não é necessário vaciná-la. Gestante com esquema completo (3 doses ou mais) e última dose administrada há mais de cinco anos e menos de 10 anos: deve-se administrar uma dose de reforço tão logo seja possível, independentemente do período gestacional. Gestante com esquema vacinal completo (3 doses ou mais), sendo a última dose há mais de 10 anos: aplique uma dose de reforço. 2. Vacina contra Influenza A vacina contra a Influenza é recomendada a todas as gestantes em qualquer período gestacional. 3. Vacinação contra hepatite B Por considerar os riscos da gestante não vacinada de contrair a doença e de haver transmissão vertical, o PNI reforça a importância de que a gestante receba a vacina contra a hepatite B após o primeiro trimestre de gestação, independentemente da faixa etária. Gestantes com esquema incompleto (1 ou 2 doses): deve-se completar o esquema. Gestantes com esquema completo: não se deve vaciná-las. PUERPÉRIO No puerpério podem surgir problemas de saúde ainda relacionados com a gravidez, responsáveis por muitas sequelas e ate mesmo mortes de mulheres, provocadas por hemorragias e infecções. Deve ser amplamente divulgada, nos serviços de saúde, a necessidade da realização de um consulta de controle pós- parto, que deve ser feita ate 42 dias após o final da gestação. Nesta ocasião, a puérpera devera receber informações especificas sobre os cuidados que deve tomar consigo mesma e com o bebe e as orientações referentes à amamentação, à vida reprodutiva e a sexualidade. PUERICULTURA É recomendado pelo MS uma visita domiciliar à gestante e a criança na primeira semana pós-parto. Nesta visita é fundamental que o profissional de saúde saiba identificar sinais de perigo à saúde da criança. Isso porque, as crianças menores de 2 meses podem adoecer e morrer em um curto espaço de tempo por infecções bacterianas graves. A primeira consulta do RN deverá ocorrer na sua primeira semana de vida, que constitui um momento propicio para estimular e auxiliar a família nas dificuldades do aleitamento materno exclusivo, para orientar sobre as imunizações, para verificar a realização da triagem neonatal (teste do pezinho) e para estabelecer ou reforçar a rede de apoio. A partir da anamnese procura-se identificar as condições de nascimento da criança (tipo de parto, local de parto, peso ao nascer, índice de Apgar, intercorrências clinicas na gestação e parto). Já o exame físico deve ser completo, avaliando peso – lembrando, que se considera normal uma perda de peso de ate 10% ao nascer, devendo ser recuperado ate o 15º dia de vida - comprimento, perímetro cefálico, estado geral, face, pele, fontanelas, reflexos. Além disso, é importante verificar se o RN recebeu a 1ª dose da vacina contra hepatite B e da BCG na maternidade e se será necessário indicar a aplicação dessas vacinas na unidade de saúde. O MS recomenda sete consultas de rotina no primeiro ano e vida (1ª semana, 1º mês, 2º mês, 4º mês, 6º mês, 9º mês e 12º mês) além das duas consultas no 2º ano de vida (18º e no 24º mês), e a partir do 2º ano de vida, consultas anuais. Essas faixas são 7 Marcela Oliveira – Medicina 2020 selecionadas porque representam momentos de oferta de imunizações. 3- DISCUTIR A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR NA ASSISTÊNCIA PERINATAL. A Estratégia Saúde da Família (ESF) funciona como eixo estruturante da Atenção Primária à Saúde (APS) e atua ativamente no pré- natal, tendo papel importante no cuidado integral à gestante, à dupla mãe-bebê e na inserção do pai/companheiro e da família nesse processo. Neste cenário, a equipe multiprofissional possui embasamento teórico-científico e respaldo legal para prestar assistência ao pré-natal de risco habitual ou alto risco. Ações multiprofissionais têm importância, pois favorecem que sejam implementados dispositivos, como grupos de gestantes na ESF, com encontros mensais, ou ainda interconsultas com os profissionais de referência da ESF para a garantia de uma assistência pré-natal por diferentes olhares sobre as práticas do cuidado, levando a uma atenção integral, resolutiva e qualificada. A integração entre diversos profissionais da saúde nas ESFs possibilita diferentes olhares sobre as práticas do cuidado à saúde materno-infantil, garantindo uma atenção integral e aumentando o potencial de resolutividade. Além disso, o acolhimento é visto como um modo de reorganização dos processos de trabalho das equipes, uma vez que para acolher as usuárias com qualidade e equidade, os profissionais precisam se reunir com regularidade para debater e definir a forma como cada um irá participar nasdiversas etapas do cuidado, sendo necessário que a equipe amplie sua capacidade clínica, para realizar a escuta qualificada, para que classifique os riscos e situações de vulnerabilidade, fazendo as devidas intervenções e/ou encaminhando para o serviço especializado, quando necessário. 4- ENTENDER COMO OCORRE O ATENDIMENTO INICIAL AO RN (NA SALA DE PARTO).] Na sala de parto, os cuidados iniciais constituem elementos fundamentais para o bem estar do RN. Para isso, é importante definir se você está diante de um neonato de baixo risco ou alto risco, para que os cuidados assistências de reanimação estejam prontos. Algumas condições vão estar mais associadas à necessidade de reanimação ao nascer, tais como idade materna (<16 anos ou >35 anos), diabetes, hipertensão, infecção, gestação múltipla, cesárea, prematuridade, rotura prolongada de membrana (<18h). Para identificar se um RN é de baixo risco, devemos responder SIM para três perguntas: 1. A gestação é a termo? (ou seja, nascido entre 37 e 41 semanas + 6 dias). 2. O RN está chorando ou respirando? 3. O RN tem tônus muscular em flexão? Quando respondemos SIM a essas três perguntas, consideramos que o RN apresenta boa vitalidade e não necessita de qualquer manobra de reanimação, independente do aspecto do liquido amniótico. Mas é valido ressaltar, que mesmo que a situação de gestação e parto não aponte qualquer fator de risco para necessidade de reanimação e o neonato seja de baixo risco, é importante que a sala de parto seja preparada. Para isso, o ambiente precisa estar a uma temperatura de 23-26ºC, campos estéreis pré-aquecidos, UCI (unidade de cuidados intensivos) preaquecida (fonte de calor radiante), material de aspiração de orofaringe/narinas (pera de sucção, mangueira de látex conectada a fonte de vácuo, sonda de 8 Marcela Oliveira – Medicina 2020 aspiração), material para clampeamento de cordão, material para identificação do neonato e material para reanimação neonatal (mascara orofacial, balão auto inflável ligado a fonte de oxigênio, laringoscópio, tubos orotraqueais) e medicações já preparadas na seringa (adrenalina, soro fisiológico). Ao observar que o RN a termo teve boa vitalidade ao nascer, por meio do boletim de APGAR, deve-se prosseguir com o clampeamento tardio do cordão, mantendo o RN junto de sua mãe em contato pele a pele, coberto com tecido de algodão seco e aquecido depois de secar o corpo e o segmento cefálico com compressas aquecidas. Deve-se cuidar para manter as vias éreas pérvias sem flexão ou hiperextensão do pescoço, verificando se não há excesso de secreção na boca e nariz. Avaliar incialmente, a FC com o estetoscópio no precórdio, o tônus muscular e a respiração/choro. A amamentação na primeira hora pós-parto assegura que o RN receba o colostro, rico em fatores protetores. O contato pele a pele entre a mãe e o bebe ao nascimento favorece o inicio precoce da amamentação e aumenta a chance do aleitamento materno exclusivo ser bem sucedido nos primeiros meses de vida. O clampeamento tardio do cordão após 1-3 minutos é indicado para RN >34 semanas com boa vitalidade. Essa medida traz benefícios como aumento das reservas de ferro do bebê em até 50% aos 6 meses de idade, embora possa elevar a necessidade de fototerapia por hiperbilirrubinemia indireta (devido a um maior aporte de hemoglobina e consequentemente de bilirrubina indireta) na primeira semana de vida. Além disso, reduz os riscos de hemorragia intracraniana e menor necessidade de transfusões. Já nos RN de qualquer idade gestacional sem boa vitalidade será feito o clampeamento imediato. MANUTENÇÃO DO CALOR CORPORAL A superfície corporal de uma criança recém- nascida é aproximadamente três vezes maior do que de um adulto. A taxa estimada de perda de calor nos RN é aproximadamente 4 vezes maior que a dos adultos. Sob as condições normais da sala de parto, a temperatura na pele dos RN cai aproximadamente 0,3ºC/min. Pode ocorrer 9 Marcela Oliveira – Medicina 2020 acidose metabólica, hipoxemia e hipoglicemia no RN a termo que fica exposto ao frio depois do nascimento. Portanto, para reduzir a perda de calor é desejável que os RNs sejam secos e envoltos em cobertores aquecidos, além do contato pele a pele com a mãe ser um ótimo método para manter a temperatura. CUIDADOS APÓS A ESTABILIZAÇÃO CLÍNICA DO RN NA SALA DE PARTO 1. PREVENÇÃO DA OFTALMIA GONOCÓCICA PELO MÉTODO DE CREDÉ Consiste na instilação ocular de uma gota de Nitrato de Prata a 1% para prevenção da oftalmia gonocócica. Este procedimento é realizado na primeira hora de vida, tanto em parto normal quanto cesáreo. Em caso de presença de vérnix na região ocular, o mesmo deverá ser removido, mediante uso de uma gaze seca ou umidificada em água (não utilizar soro fisiológico ou qualquer solução salina). Afastam-se as pálpebras e instila-se uma gota de nitrato de prata a 1% no saco lacrimal inferior de cada olho. 2. PREVENÇÃO DO SANGRAMENTO POR DEFICIÊNCIA DE VITAMINA K Deve-se administrar 1mg de vitamina K por via intramuscular ou subcutânea ao nascimento. Ela é recomendada, pois os estoques de vitamina K são obtidos por meio da dieta e por ação das bactérias presentes no intestino. Como o RN tem baixa concentração de vitamina K após o nascimento ele tem um maior risco de desenvolver a doença hemorrágica do RN. 5- COMPREENDER A ESCALA DE APGAR (IMPORTÂNCIA E APLICABILIDADE). O escore de APGAR é um dos métodos mais utilizados para a avaliação imediata do RN, durante o 1º e o 5º minuto de vida. Esse escore foi criada pela Dr. Virginia Apgar, médica norte-americana, para avaliar 5 sinais objetivos do RN atribuindo a cada sinal uma pontuação de 0 a 2. Os parâmetros que são analisados são: Coloração da pele, Frequência Cardíaca, Resposta flexora, Tônus Muscular e Frequência respiratória. Depois de aplicar uma nota de 0 a 2 para cada parâmetro, ocorre a somação e sempre que a pontuação for: De 0 a 3: asfixia grave De 4 a 6: asfixia moderada De 7 a 10: boa vitalidade, boa adaptação. Sempre que o escore for menor ou igual a 6, o escore continua a ser calculado com intervalos de cinco minutos ate que se obtenha uma nota maior ou igual a 7. O Apgar de 1 minuto reflete a necessidade de reanimação imediata. O Apgar de 5 min é, particularmente, a alteração ocorrida no escore entre o primeiro e o quinto minutos, é um indicador útil da efetividade das manobras de reanimação. O Apgar de 5 min também tem significado prognóstico para a sobrevida do neonato, uma vez que tal sobrevida está intimamente relacionada com seu estado na sala de parto É importante ressaltar que a escala de APGAR não deve ser o fator que determinará o inicio das manobras de reanimação, ate porque sua primeira aferição acontece no primeiro minuto de vida. Por isso a decisão de reanimação é tomada mediante avaliação da respiração e da frequência cardíaca ANTES desse primeiro minuto de vida. O APGAR é uma medida de vitalidade que deve ser calculada depois que as medidas de cuidado inicial forem tomadas. É importante ressaltar, que o boletim de APGAR não deve ser utilizado para determinar o inicio da reanimação, nem as manobras a serem instituídas no decorrer do 10 Marcela Oliveira – Medicina 2020 procedimento. No entanto, sua aferição longitudinal permite avaliar a resposta das manobras realizadas e a eficácia dessas manobras. 6- DESCREVER A FISIOPATOLOGIA DA ICTERÍCIA NO RN. A icterícia é um evento bastante comum na primeira semana de vida e é identificado em 60% dos nascidos a termo e em ate 80% dos prematuros. A icterícia é definida como uma coloração amarelada na pele e mucosas, provocada por um aumento da fração indireta dabilirrubina, gerando quando >7mg/dl ou da sua fração direta, menos frequente. A icterícia decorrente do aumento da fração indireta de bilirrubina confere a pele uma tonalidade amarela brilhante ou alaranjada. Já nas condições associadas à hiperbilirrubinemia direta, esta confere uma cor amarelo-esverdeada. A grande complicação desta impregnação não acontece a nível cutâneo, mas sim encefálico. Pois, em níveis muitos elevados, a bilirrubina indireta pode cruzar a barreira hematoencefálica produzindo efeitos tóxicos obre os neurônios, levando a um quadro de encefalopatia bilirrubínica. A hiperbilirrubinemia à custa da fração direta, quando presente nas primeiras horas ou semanas de vida, indica uma desordem subjacente de extrema gravidade, como sepse neonatal, infecções congênitas, atresia biliar, fibrose cística, galactosemia. ETIOLOGIA Durante o período neonatal, o metabolismo da bilirrubina está em transição entre o estágio fetal, durante o qual a placenta é a principal via de eliminação da bilirrubina indireta lipossolúvel, e o estagio adulto, durante o qual a bilirrubina conjugada hidrossolúvel é excretada pelas células hepáticas para o sistema biliar e assim para o trato gastrointestinal. A bilirrubina é um produto da degradação do grupamento heme, que deriva principalmente da hemoglobina. O grupo heme é convertido em duas reações químicas: a primeira mediada pela hemeoxigenase que transforma a hemoglobina em biliverdina. E a segunda é catalisada pela biliverdina redutase produzindo a bilirrubina. O ferro liberado dessa reação é reaproveitado pelo organismo e armazenado em baço e fígado. A bilirrubina indireta (lipossolúvel) liga-se a albumina plasmática para poder ser carreada ate o fígado. Já dentro dos hepatócitos, no REL, a bilirrubina é convertida à bilirrubina indireta com auxilio da enzima uridilglucoroniltransferase (UDG). 11 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Esses novos pigmentos são hidrossolúvel e podem ser excretados pela bile ou filtrados pelos rins (bilirrubina direta). Com a bile, a bilirrubina direta chega ao intestino delgado onde, no adulto e na criança maior, será reduzida a estercobilina pela presença de bactérias da flora local e uma pequena quantidade será desconjugada a bilirrubina indireta (enzima betaglicorunidase) e reabsorvida pela circulação enterro-hepática. No RN, a flora intestinal esta ausente ate mais ou menos o final da primeira semana de vida, com estercobilina praticamente indetectável. Além disso, nessa fase a enzima que promove a conversão da bilirrubina direta para indireta esta presente na forma ativa, aumentando a quantidade de bilirrubina indireta que será reabsorvida na circulação enterro-hepática. No período neonatal existem fatores bioquímicos que promovem uma maior elevação da bilirrubina indireta, o que explica a alta incidência desta afecção nesse período: 1. Aumento da carga de bilirrubina a ser metabolizada pelo fígado, isso porque as hemácias fetais apresentam menor sobrevida associado a um maior risco de hemólise e infecção. 2. Diminuição da captação e conjugação hepática, por imaturidade dos sistemas enzimáticos devido a fatores como hipóxia, infecção, hipotermia. 3. Competição ou bloqueio da enzima glicuroniltransferase por substancias que necessitem de conjugação com o acido glicurônico para excreção e drogas. 4. Presença de defeitos genéticos que acarretem ausência da glicuronil transferase. 5. Exacerbação da circulação enterro- hepática por jejum e demora na eliminação de mecônio. Além disso, o período neonatal é particularmente vulnerável à lesão neurotoxica, em decorrência de fatores como: Hipoproteinemia, levando a uma menor concentração de albumina e, portanto, maior teor de bilirrubina livre, sendo esta a forma que atravessa a barreira hematoencefálica. Deslocamento da bilirrubina do seu sitio de ligação na albumina por uso de determinadas drogas, como as sulfas e a ceftriaxona, ou na presença de acidose. Aumento da permeabilidade da BHE por imaturidade (prematuros), asfixia e infecção. QUADRO CLÍNICO A época do surgimento da icterícia vai depender do distúrbio patológico que a originou. Mas também devemos lembrar que o aumento do nível de bilirrubina pode ser um evento fisiológico ou decorrente da amamentação. Existe uma regra que relaciona os níveis de bilirrubina com a topografia da icterícia no RN (Zonas de Kramer). Sabe-se que a progressão da icterícia se faz de maneira craniocaudal com nível de 5mg/dl quando a icterícia fica apenas na face. Valor de 15mg/dl quando alcança a parte média do abdome, enquanto um teor de 20mg/dl esta associado com coloração amarelada das 12 Marcela Oliveira – Medicina 2020 mãos e pés e obviamente de todo o corpo. No entanto, só essa regra não é suficiente. É necessária colher sangue para determinação sérica dos níveis de bilirrubina. Podemos compreender a icterícia neonatal sob dois pontos de vista distintos: icterícia de significado fisiológico e icterícia patológica, A hiperbilirrubinemia direta terá sempre conotação patológica. Além disso, o período de aparecimento também tem importância, pois vai se relacionar com os fatores etiológicos. ICTERICIA FISIIOLOGICA Normalmente, o nível de bilirrubina indireta no cordão umbilical encontra-se entre 1 e 3mg/dl e eleva-se a partir de então, chegando ao segundo dia ao valor de 5mg/dl o que determina a icterícia. Acredita-se que a icterícia fisiológica é reflexa da maior produção de bilirrubina pela degradação de hemácias fetais, que possuem uma sobrevida mais curta, combinada com uma limitação transitória da capacidade de captação e conjugação hepática, além da exacerbação da circulação enterro-hepática. O valor de bilirrubina na icterícia fisiológica atinge um pico de 5-6 mg/dl por volta do segundo ao quarto dia, podendo alcançar 12 mg/dl, caindo a seguir para nível inferior a 2 mg/dl entre o quinto e sétimo dia de vida. Como nos prematuros a captação e a conjugação são mais lentas, eles tornam-se mais ictéricos. Os fatores de risco associados a uma icterícia fisiológica mais intensa incluem: prematuridade, mãe diabética, drogas, eliminação tardia do mecônio. ICTERICIA ASSOCIADA AO LEITE MATERNO Forma precoce (Icterícia do Aleitamento Materno) Os bebes amamentados exclusivamente no seio são mais ictéricos devido a um aumento na circulação enterro-hepática, por uma ingesta de leite insuficiente relacionada às dificuldades do início da amamentação, e consequentemente pela menor quantidade de eliminação de mecônio. Essa forma de icterícia não patológica surge por volta do 2º e 3º dia. Forma Tardia (Icterícia do Leite Materno) Tem um inicio mais tardio, e por volta do 4º dia ao invés de haver queda nos níveis de bilirrubina, sua concentração continua a subir até o 14º, podendo alcançar valores de 20-30mg/dl. Se o aleitamento é continuado, estes níveis estabilizam dentro de 4-12 semanas. Já se for suspenso, os níveis caem rapidamente em 48 horas. Não se sabe ao certo o mecanismo patogênico, mas parecem existir fatores no leite materno que interferem com o metabolismo da bilirrubina, como a ingestão da betaglicuronidase presente no leite (enzima que converte BD em BI). TRATAMENTO Existem duas intervenções capazes de promover a diminuição da concentração sérica da bilirrubina: a fototerapia e o exsanguineoterapia. 1. FOTOTERAPIA A fototerapia atua promovendo uma reação fotoquímica na bilirrubina indireta e transformando-a em compostos que podem ser excretados na bile ou na urina sem a necessidade de conjugação. Essa reação química pode ser uma fotoisomerização configuracional ou estrutural. Na forma estrutural,a bilirrubina é convertida em lumirrubina que é excretada na bile e na urina. 13 Marcela Oliveira – Medicina 2020 A eficácia da fototerapia depende de 3 fatores: o comprimento de onda da luz (o comprimento ideal para a absorção da bilirrubina compreende a faixa azul), Intensidade da Luz e Superfície corporal exposta (quanto maior a superfície exposta maior a eficácia da fototerapia. Quando indicar a fototerapia é um dos temas mais controversos, devido a diferentes protocolos. De acordo com a Academia Americana de Pediatria, a indicação vai ser baseada em um gráfico no qual relaciona o nível sérico de bilirrubina total encontrado com o numero de horas de vida do RN. É importante ter alguns cuidados durante a fototerapia como: aumento da oferta hídrica de manutenção da temperatura corporal constante. Além disso, é preciso proteção ocular com cobertura radiopaca, para evitar lesão da córnea. 2. EXSANGUINEOTRANSFUSÃO Esse procedimento consiste na troca de mais de uma volemia do RN, ou seja, são retiradas alíquotas de sangue que vão sendo substituídas pouco a pouco. A principal indicação para esse método é a presença da doença hemolítica grave por incompatibilidade por Rh. 7- ENTENDER COMO CLASSIFICAR O RN COMO PIG, E RELACIONAR SUAS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS. Podemos classificar um RN de algumas formas: Pela idade gestacional Pré-termo: <37 semanas A termo: 37-41 semanas Pós-termo: >42 semanas Pelo peso ao nascer: Baixo peso: <2500g Muito baixo peso: <1500g Extremo baixo peso: <1000g Relação entre idade gestacional e peso ao nascimento: PIG (pequeno para idade gestacional): peso < percentil 10 AIG (adequado para idade gestacional): peso entre os percentis 10 e 90 GIG (grande para idade gestacional): peso > percentil 90 Considera-se como Crescimento Intrauterino Adequado (CIU) quando o peso para determinada idade gestacional situa-se entre o percentil 10 e 90 da curva. A curva de crescimento não é uniforme durante toda a gestação. A USG é um exame muito útil para estimativa da idade gestacional e avaliação do peso fetal, bem como para quantificação do liquido amniótico, analise morfológica da placenta e detecção de malformações fetais. No primeiro trimestre, o parâmetro que melhor se correlaciona com a idade gestacional é o comprimento cabeça- nadega. A partir do segundo trimestre, o diâmetro biparietal passa a ser o índice mais fidedigno. 14 Marcela Oliveira – Medicina 2020 A adequação do peso para a idade gestacional é um importante indicador clinico de morbidade neonatal, além de ser um fator de risco para mortalidade e atrasos do desenvolvimento. Definimos crescimento intrauterino restrito quando a curva de peso fetal afasta-se do percentil 10. É necessário diferenciar os termos: Crescimento intrauterino Restrito (CIUR) e Pequeno para Idade Gestacional (PIG). O termo PIG indica que o recém-nascido esta com peso abaixo do percentil 10. É uma medida estática que leva em consideração apenas o peso para uma determinada idade gestacional após o nascimento. Existem muitas etiologias que determinam o nascimento de um RN PIG, dentre elas, causas patológicas e não patológicas, como é o caso dos bebes sem qualquer anormalidade orgânica cujo peso de nascimento é determinado pela influencia genética. São neonatos pequenos à termo, porem sem nenhum aumento da morbimortalidade. O PIG constitucional é mais comum na prole de pais de baixa estatura, mães primíparas ou com historia previa de PIG em outras gestações. Quando nos referimos a um RN com CIUR, estamos afirmando que ele apresenta uma curva de peso abaixo do percentil 10 decorrente de um processo patológico intrautero. É, portanto, uma medida evolutiva e secundaria a um processo de doença que prejudica o ganho ponderal fetal, seja ela de origem materna (hipertensão na gravidez), placentária (placenta previa) ou do próprio feto (anomalias cromossômicas). De modo geral, podemos afirmar que a maioria dos RN com CIUR é PIG, mas nem todo PIG é um CIUR, ou seja, nem todo RN que nasce pequeno sofreu algum processo de doença durante a gestação, sendo seu tamanho unicamente como resultado da expressão genética. Quanto às causas da PIG, podemos dividir em: Fatores maternos: causas genéticas, condições demográficas (ex: extremo de idade reprodutiva), raça, desnutrição materna, doenças crônicas (cardiopatia, pneumopatia,nefropatia, hipertensão, tabagismo, uso de cocaína, doenças do colágeno, diabetes), além de multiparidade, exposição ao álcool e radiação. Fatores placentários: malformações, corioangioma, infartos, placenta prévia, descolamento prematuro de placenta. Fatores fetais: constitucional (“geneticamente pequenos”), cromossomopatias, mal-formações de SNC, infecções congênitas (ex: rubéola). De qualquer forma, os RN PIG que sofreram processo patológico intrauterino estão sujeitos a algumas alterações típicas como: Asfixia, Aspiração de mecônio, Hemorragia pulmonar, Hipertensão pulmonar persistente, Hipotermia, Hiperglicemia (devido há 15 Marcela Oliveira – Medicina 2020 diminuição da gliconeogênese e menor reserva de glicogênio hepático), Policitemia, Hipocalcemia. No exame físico, algumas características físicas são encontradas no RN PIG como: cabeça relativamente grande em relação ao corpo, fontanela anterior grande, face com aspecto envelhecido, mãos e pés parecendo grandes, abdome escavado, descamação da pele, pobreza de tecido subcutâneo, diminuição da espessura da prega cutânea, cordão umbilical mais delgado. O RN PIG a termo é um RN de alto risco. Os cuidados são semelhantes aos do prematuro. 8- CONHECER OS TESTES DE TRIAGEM NEONATAL E A IMPORTÂNCIA DESTES. A triagem neonatal já estabelecida no Brasil inclui testes e exames realizados nos recém- nascidos que previnem e detectam doenças precocemente, com o objetivo de evitar morbimortalidade nessa população infantil. As doenças detectadas sejam elas congênitas ou genéticas, quando diagnosticadas na fase pré-sintomatica, permite intervenções clinicas precoce e tratamento adequado. A partir da criação da Politica Nacional de Triagem Neonatal pelo MS em 2001, aconteceu a oficialização desse processo coma triagem biológica (teste do pezinho), triagem auditiva e triagem ocular. TESTE DO PEZINHO O teste do pezinho tem como objetivo fazer o rastreamento de RN portadores de doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas o mais rápido possível a fim de evitar sequelas. As doenças triadas no teste do pezinho atualmente são: Fenilcetonúria, Hipotireoidismo congênito, Anemia falciforme e outras hemoglobinopatias, Fibrose cística, Hiperplasia adrenal congênita e deficiência de Biotinidase. O momento ideal para a coleta do Teste é entre o 3ºe o 7º dia de vida, nunca antes de 48 horas de amamentação e nunca superior a 30 dias. Além da disponibilidade do teste do pezinho ampliado no SUS, existe a biodisponibilidade na rede privada do teste do pezinho Plus que cobre 8 doenças. Já o teste do pezinho máster cobre 13 doenças. TESTE DA ORELHINHA O déficit auditivo apresenta-se como um problema de grande impacto na saúde infantil, principalmente no que concerne à elevada incidência (5/1000 nascidos). Cerca de 50% das perdas auditivas são decorrentes de causas genéticas e 70% destas são do tipo não sindrômico, ou seja, não identificáveis ao exame morfológico. Existem fatores perinatais que aumentam o risco da perda auditiva, são eles: Asfixia (APGAR <6 no quinto minuto) Historia familiar de surdez congênita Hiperbilirrubinemia Sepse/meningite Convulsões 16 Marcela Oliveira – Medicina 2020 A intensidade da fala humana situa-se entre40-80 decibéis, e já se considera déficit auditivo quando há perdas >35dB. O déficit auditivo, quando não corrigido, acarreta grande prejuízo na aquisição da linguagem, comunicação e desenvolvimento cognitivo das crianças. É orientado que seja realizado esse teste ate os 3 meses de vida para detecção e intervenção precoce quando necessário. O método de triagem utilizado são as Emissões Otoacusticas Evocadas (EOA), feito com o bebe dormindo, coloca-se um fone externo ao seu ouvido, que consiste na emissão de um estimulo sonoro e na captação do seu retorno (eco), sendo registrado no computador e confeccionado um gráfico. Esse método avalia apenas o sistema auditivo pré-neural, ou seja, sistema de condução e cóclea. TESTE DO OLHINHO O teste do olhinho ou teste do reflexo vermelho é feito com o uso de um oftalmoscópio ou retinoscópio que deve ser segurado pelo examinador a um braço de distancia dos olhos dos bebe. A resposta normal ao teste é o achado de um reflexo vermelho brilhante quando a luz incide sobre a pupila. É uma avaliação simples que pode e deve ser feita pelo pediatra. O encontro de qualquer anormalidade, como pontos pretos, reflexo branco ou leucoria indica a necessidade de dilatação pupilar e investigação por um oftalmo. A leucoria pode ser encontrada em situações como catarata, retinoblastoma, retinopatia da prematuridade e coriorretinite. Esse teste deve ser realizado antes da alta da maternidade, na primeira consulta de puericultura, 2, 6, 9 e 12 meses e após 1 ano duas vezes ao ano. OXIMETRIA DE PULSO (TESTE DO CORAÇÃO) As cardiopatias congênitas afetam de 1-2 em cada 1000 nascidos vivos, sendo que 30% não recebem diagnóstico hospitalar, evoluindo com hipóxia, choque e óbito. A identificação precoce de cardiopatias congênitas pode reduzir a taxa de mortalidade infantil. O teste objetiva detecção precoce como já foi dito, é importante saber sobre o canal arterial. O canal arterial é uma comunicação entre a aorta durante o período fetal (visto que a circulação pulmonar é realizada pela mãe). Sendo assim, o canal normalmente se fecha entre o 3º dia e o 10º dia de vida. Cabe salientar que as cardiopatias congênitas não se manifestam clinicamente (lembrando que a avaliação é feita através da pesquisa de cianose, presença de soro e redução do débito cardíaco). Desse modo a oximetria deve ser feito nas extremidades superiores e inferiores, sendo que a saturação deve permanecer maior ou igual a 95%, sendo que a diferença seja menor que 3%. Caso contrário, deve se repetir em uma hora, em caso de persistência deverá realizar um ecocardiograma dentro das próximas 24h. Esse teste apresenta sensibilidade de 75% e especificidade de 99%. Esse teste já foi incorporado às rotinas no Ministério da Saúde. TESTE DA LINGUINHA Esse teste é realizado para a pesquisa da anquiloglossia ou língua presa em que há apresentação de frênulo lingual curto, limitando assim a movimentação da língua (sucção, deglutição, mastigação e fala). Pode ser avaliada pelo fonoaudiólogo ou pediatra. A SBP e o MS não recomendam esse teste na triagem neonatal obrigatória, sendo apenas presente em ambientes privados. 17 Marcela Oliveira – Medicina 2020 9- ENTENDER AS ORIENTAÇÕES NO ALOJAMENTO CONJUNTO E APÓS A ALTA DA MATERNIDADE (ALEITAMENTO MATERNO; VACINAÇÃO; HIGIENE DO COTO UMBILICAL; COMPLEMENTO VITAMÍNICO; TESTES DE TRIAGEM ETC.). Após a finalização dos procedimentos de sala de parto, a mãe, com o RN, deve ir para um local dentro da maternidade que permita a eles ficarem juntos 24 horas por dia até a alta hospitalar. Para isso, foi implantado o sistema de alojamento conjunto nas maternidades. O alojamento conjunto é um sistema hospitalar em que o RN sadio, logo após o nascimento, permanece ao lado da mãe, 24 horas por dia, num mesmo ambiente ate a alta hospitalar. Tal sistema possibilita a prestação de todos os cuidados assistenciais, bem como a orientação à mãe sobre a saúde tanto dela quanto do bebe, além de permitir um maior envolvimento dos pais com convivência continua com esse bebe. Uma das vantagens dessa pratica é estimular e motivar o aleitamento materno, de acordo com a necessidade da criança, tornando a amamentação mais fisiológica e natural. Isso porque, além desses benefícios, a amamentação precoce provoca a contração do útero e de seus vasos, atuando como profilaxia das hemorragias pós-parto. É importante dizer, que a adoção do alojamento conjunto não representa a extinção do berçário, pois este será necessário para prestar assistência aos RN que apresentarem riscos. Lembrando que as altas não deverão ser dadas antes das 48 horas, considerando o teor educativo inerente ao sistema “Alojamento Conjunto” e ser este período importante na detecção de patologias neonatais. Desde 2005, existe uma lei que garante às parturientes o direito à presença de acompanhante, indicado por ela, durante o trabalho de parto, parto e pósparto imediato (até dez dias após o parto). AMAMENTAÇÃO Os primeiros dias após o parto são fundamentais para o sucesso da amamentação. Para isso, devem ser abordados com as mães sobre a importância do aleitamento materno, em seus aspectos nutricionais e na criação de vínculos. Ainda nesse sentindo, deve-se incentivar o aleitamento sobre livre demanda, ou seja, frequência e duração ilimitada. E incentivar também a amamentação por até 2 anos, sendo exclusiva nos 6 primeiros meses. Devem-se orientar as mulheres sobre as dificuldades que ela pode vir a enfrentar com a amamentação, como por exemplo: 1. Pega incorreta do mamilo: a pega incorreta do mamilo faz com que a criança não consiga retirar leite suficiente, acarretando a agitação e o choro. A pega errada provoca dor e fissuras, o que faz a mãe ficar tensa e começar a acreditar que seu leite seja insuficiente ou fraco. 2. Fissuras (rachaduras): As fissuras ocorrem quando a amamentação é praticada com o bebe posicionado errado ou quando a pega esta incorreta. Recomenda-se tratar as fissuras com o leite materno no final das mamadas, com o banho de sol e a correção da posição da pega. 3. Mamas ingurgitadas: acontece habitualmente na maioria das mulheres do terceiro ao quinto dia após o parto. As mamas ingurgitadas são dolorosas, edemaciadas (com pele brilhante), e às vezes avermelhadas. Nestas situações, a mulher também pode apresentar febre. Para evitar essa situação, é preciso garantir uma pega correta e quando houver produção de leite 18 Marcela Oliveira – Medicina 2020 superior à demanda, as mamas devem ser ordenhadas. 4. Mastite: É um processo inflamatório ou infeccioso que pode ocorrer na mama lactante habitualmente a partir da segunda semana pós-parto. Geralmente é unilateral e pode ser consequente a um ingurgitamento indevidamente tratado. Essa situação deve ser avaliada por um médico para estabelecer o medicamento apropriado, e a amamentação nessa mama deve ser mantida sempre que possível. São raras as situações que contraindicam a amamentação, somente em mulheres com câncer de mama que forem tratadas ou estão em tratamento, ou mulheres HIV+ ou HTLV+, ou mulheres com distúrbios graves da consciência. UTILIZAÇÃO DE FÓRMULA SINTÉTICA A utilização do leito materno de forma precoce é de suma importância para o binômio mãe-filho, possibilitando um desenvolvimento seguro e nutrição adequada. O colostro, primeiro leite produzido pela mãe, embora seja de pequena quantidade possui volume ideal para o recém-nascido auxiliando deglutição e respiração do mesmo. É sabido que a utilização de suplementação pode interferir nesse complexo processo entre mãe-filho, pois culmina na redução da produção de leite (associadoà diminuição da frequência de mamadas), não atende as necessidades nutricionais no bebê e interfere diretamente no desenvolvimento do mesmo. Hoje o seu uso indiscriminado é bastante comum, sendo um dos principais desafios para pediatria. A suplementação com fórmula sintética só deve ser recomenda quando as condições para que realize a amamentação via seio não tenha possibilidade de ser revertida. Sendo assim é importante que os profissionais de saúde orientem de forma adequada e individualizada cada caso, lembrando que para essa orientação seja efetiva é importante levar em consideração a condição econômica e cultural da família, bem como a condição de saúde dessa criança. É de responsabilidade do SUS ofertar uma orientação adequada sobre alimentação infantil. Essa orientação deve conter os procedimentos de preparo de leite de vaca integral com a diluição adequada, a correção de deficiência de ácido graxo linoleico com óleo nos primeiros quatro meses e suplementação de vitamina C e ferro. A forma infantil consiste em leite modificado para atender às necessidades nutricionais para não agredir o sistema digestório do bebê não amamentado. Por outro lado, o leite de vaca “in natura”, integral, em pó ou fluido não é considerado o alimento apropriado, devido ao risco de anemia associado às várias inadequações na sua composição. A exposição precoce desses derivados “in natura!” podem causar uma reação de hipersensibilidade na mucosa intestinal o que contribui mais ainda para o aumento da deficiência de ferro. Além disso, é importante destacar que os sistemas digestório e renal ainda são imaturos o que os tornam incapazes de lidar com alguns metabólitos diferentes do leite humano. VACINAÇÃO Logo ao nascer, o bebe deve tomar a vacina BCG o mais precocemente possível. Para os prematuros com menos de 36 semanas, administra a vacina depois que eles completarem 1 mês de vida e atingirem 2kg. Essa vacina protege contra as formas graves de tuberculose, principalmente nas formas miliar meníngea. Outra vacina que deve ser administrada preferencialmente nas primeiras 12 horas de nascimento é a Vacina contra Hepatite B. A segunda dose deve ser aplicada com um mês de idade e a terceira com 6 meses. 19 Marcela Oliveira – Medicina 2020 Para os prematuros com menos de 36 semanas de gestação ou para recém- nascidos a termo de baixo peso, segue-se esquema de quatro doses: 0,1,2 e 6 meses. HIGIENE DO COTO UMBILICAL É importante informar a mãe sobre a necessidade do cuidado e da limpeza do coto umbilical, para evitar infecções até que ele caia sozinho. É recomendado que a região umbilical seja limpa com o álcool 70%. Além disso, é aconselhado que não usem faixas, moedas ou qualquer outro objeto ou substancia sobre o umbigo. Não se pode abafar o local, pois o coto precisa secar para cair. É preciso explicar para os pais que não é preciso ter medo de limpar e que o bebe não sente dor alguma. COMPLEMENTO VITAMINICO Em geral, a criança amamentada exclusivamente ate os 6 meses de vida, por uma mãe bem nutrida, não necessita de suplementação com vitaminas. A única suplementação que é oferecida ao RN logo ao nascer é a vitamina K como profilaxia contra a doença hemorrágica neonatal por deficiência de vitamina K. TESTES DE TRIAGEM Todo bebê que nasce no Brasil tem direito a realizar gratuitamente quatro exames muito importantes para a sua saúde. São os chamados exames da triagem neonatal: Teste do Pezinho: Esse procedimento é uma das principais formas de diagnosticar várias doenças. No SUS são diagnosticadas seis doenças: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, doença falciforme e outras hemoglobinopatias, fibrose cística, deficiência de biotinidase e hiperplasia adrenal congênita. É preciso levar o recém-nascido a uma unidade básica de saúde, preferencialmente, entre o 3° e o 5° dia de vida. Para as seis doenças detectadas no SUS, há tratamento adequado, gratuito e acompanhamento por toda a vida. Teste do Olhinho: É um teste simples, rápido e indolor, que consiste na identificação de um reflexo vermelho que aparece quando um feixe de luz ilumina o olho do bebê. Esse teste pode detectar qualquer alteração que cause obstrução no eixo visual, como catarata, glaucoma congênito e outros problemas. A recomendação é que o Teste do Olhinho seja feito pelo médico logo que o bebê nasce. Se isso não acontecer, o teste deve ser feito logo na primeira semana de vida do bebê, na consulta de acompanhamento médico. Depois disso, continua sendo importante nas consultas regulares de avaliação da criança, pelo menos duas a três vezes ao ano, nos três primeiros anos de vida. Teste da Orelhinha: O teste é feito, preferencialmente, entre 24h e 48h de vida do bebê e identifica possíveis problemas auditivos no recém- nascido. O teste deve ser feito nas maternidades. Se não for realizado na maternidade, a criança deverá ser encaminhada para a UBS e, posteriormente, encaminhada à atenção especializada em saúde auditiva para a realização do diagnóstico, exames, concessão do aparelho auditivo, reabilitação e acompanhamento. O teste é realizado com o bebê dormindo, em sono natural, é indolor e dura em torno de 10 minutos. Teste do Coraçãozinho: consiste em medir a oxigenação do sangue do recém-nascido com o auxílio de um 20 Marcela Oliveira – Medicina 2020 oxímetro - espécie de pulseirinha, na mão e no pé do bebê. Caso algum problema seja detectado, o bebê é encaminhado para fazer um ecocardiograma. Todo bebê tem direito de realizar o Teste de Coraçãozinho ainda na maternidade, entre 24h e 48h após o nascimento. 10- DISCUTIR OS FATORES BIOPSICOSSOCIAIS RELACIONADOS À SAÚDE MATERNO-INFANTIL (ATENDIMENTO HUMANIZADO DA GESTANTE; GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA). Embora na última década o Brasil tenha conseguido reduzir em 30% o número de partos em adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos, a faixa etária de 10 a 15 anos permanece inalterada, apresentando o número de 27 mil partos a cada ano, o que representa 1% do total de partos no Brasil. Neste sentido, os serviços de saúde devem encorajar e promover um comportamento sexual e reprodutivo responsável e saudável para adolescentes, objetivando o seu bem- estar, a sua qualidade de vida e a elaboração e execução de seus projetos pessoais e profissionais. Adolescentes de ambos os sexos em situação de gravidez não devem ser tratados do mesmo modo que adultos por várias razões: Pela complexidade da situação, marcada pela dependência da família, pela falta de autonomia financeira e de espaço próprio, pelas dificuldades nas relações pessoais e sociais e por contextos de violência doméstica e urbana; Pelas especificidades da própria faixa etária, em especial a compreendida entre os 10 e os 14 anos, que exige uma assistência à saúde diferenciada tanto para o pré-natal quanto para o parto, o puerpério e a contracepção; Durante a assistência pré-natal, a equipe de saúde precisa ter a preocupação de orientar a adolescente sobre os aspectos específicos da gravidez, os hábitos saudáveis de nutrição, bem como sobre os cuidados que devem ser dispensados ao seu filho. Deve ser dada importância ao vínculo mãe/pai/filho, ao aleitamento materno, ao hábito de acompanhar o crescimento e o desenvolvimento do filho, à vacinação e à prevenção de acidentes na infância etc. Para que a gravidez na adolescência transcorra sem maiores riscos, é importante que a captação para o início do pré-natal seja realizada o mais precocemente possível.
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