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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES PRÓ-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CÂMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO ENGENHARIA MECÂNICA GEAPI – GRUPO DE ENGENHARIA APLICADA A PROCESSOS INDUSTRIAIS Linha de Pesquisa: Engenharia Térmica e de Escoamentos CRISTIAN LAZZARI ANÁLISE NUMÉRICA DO ESCOAMENTO EXTERNO SOBRE CORPO DE AHMED E DE UM AUTOMÓVEL Trabalho de Final de Curso ERECHIM - RS 2021 CRISTIAN LAZZARI ANÁLISE NUMÉRICA DO ESCOAMENTO EXTERNO SOBRE CORPO DE AHMED E DE UM AUTOMÓVEL Trabalho de Final de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Engenheiro Mecânico, Departamento de Engenharias e Ciência da Computação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Câmpus de Erechim. Orientadora: Profa. Dra. Roberta Fátima Neumeister. ERECHIM - RS 2021 CRISTIAN LAZZARI ANÁLISE NUMÉRICA DO ESCOAMENTO EXTERNO SOBRE CORPO DE AHMED E DE UM AUTOMÓVEL Trabalho de Final de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Engenheiro Mecânico, Departamento de Engenharias e Ciência da Computação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Câmpus de Erechim. Erechim, 14 de julho de 2021. BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Profa. Dra. Roberta Fátima Neumeister URI- Câmpus de Erechim ____________________________________ Prof. Dr. Marco Antônio Sampaio Ferraz de Souza URI- Câmpus de Erechim ____________________________________ Prof. MSc. Clemerson Alberti Pedroso URI- Câmpus de Erechim ___________________________________ Prof. MSc. Arthur Bortolin Beskow Coordenador de Trabalho de Final de Curso iii RESUMO A aerodinâmica possui um papel de suma importância no desenvolvimento de veículos e está em constante evolução para que os automóveis sejam cada vez mais eficientes. Uma possível alternativa para aprimorar o desempenho dos automóveis é através de auxiliares aerodinâmicos. O presente estudo tem por objetivo avaliar aplicando CFD (Computational Fluid Dynamics) a aerodinâmica do veículo Tesla Model S original e o mesmo com o uso de um spoiler. Inicialmente foi feita a análise numérica do escoamento sobre o corpo de Ahmed, para servir de ponto de partida e ter parâmetros para o automóvel real, a análise foi realizada com um ângulo de rebaixo de 30º, considerando regime permanente, um número de Reynolds de 5,18x105 e uma malha utilizada de aproximadamente 5,2 milhões de volumes. No automóvel, as dimensões utilizadas foram de escala real, regime permanente, número de Reynolds de 3,1x106 e uma malha de aproximadamente 10,4 milhões de volumes. As simulações foram realizadas resolvendo o sistema de equações de Navier-Stokes com médias de Reynolds, adotando o modelo de turbulência k-ω SST através do software Ansys Fluent. Os resultados obtidos na análise do corpo de Ahmed apresentaram concordância com os dados disponíveis na literatura possibilitando a comparação e a validação dos mesmos e permitindo a continuação do trabalho no automóvel real. Nos resultados do automóvel é feita uma comparação com a literatura e validação dos resultados. Com a adição do spoiler foi possível observar uma diminuição de 1,8% no coeficiente de arrasto e um aumento de 24% no coeficiente de sustentação. Sendo assim é possível concluir que o auxiliar aerodinâmico desenvolvido nesse trabalho pode ser utilizado como uma alternativa para a otimização do desempenho aerodinâmico de automóveis. Palavras Chave: Aerodinâmica, CFD, Tesla Model S, Spoiler, Corpo de Ahmed. iv ABSTRACT Aerodynamics plays an extremely important role in vehicle development and is constantly evolving so that automobiles are increasingly efficient. A possible alternative to improve the performance of automobiles is through aerodynamic aids. The present study aims to evaluate, applying CFD (Computational Fluid Dynamics) the aerodynamics of the original Tesla Model S vehicle and the same with the use of a spoiler. Initially, a numerical analysis of the flow over the Ahmed body was performed, to serve as a starting point and to have parameters for the real car, the analysis was performed with a 30º recess angle, considering steady state, a Reynolds number of 5,18x105 and a used mesh of approximately 5.2 million volumes. In the automobile, the dimensions used were real scale, steady state, Reynolds number of 3,1x106 and a mesh of approximately 10.4 million volumes. The simulations were carried out by solving the system of Navier-Stokes equations with Reynolds averages, adopting the k-ω SST turbulence model through Ansys Fluent software. The results obtained in the analysis of Ahmed’s body were in agreement with the data available in the literature, enabling their comparison and validation and allowing the continuation of work in the real car. In the results of the automobile, a comparison is made with the literature and validation of the results. With the addition of the spoiler, it was possible to observe a decrease of 1.8% in the drag coefficient and a 24% increase on the lift coefficient. Thus, it is possible to conclude that the aerodynamic aid developed in this work can be used as an alternative for optimizing the aerodynamic performance of automobiles. Keywords: Aerodynamics, CFD, Tesla Model S, Spoiler, Ahmed’s Body. ________________________________ Profa. Dra. Roberta Fátima Neumeister v LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1.1 – História do arrasto dos carros. ............................................................................ 1 Figura 1.2 – Modelo 3D do corpo de Ahmed. ......................................................................... 2 Figura 3.1 – Trajetórias de partículas em escoamentos unidimensionais, laminar e turbulento.7 Figura 3.2 – Escoamento sobre corpo rombudo. ..................................................................... 8 Figura 3.3 – Camada-limite sobre uma placa plana. ................................................................ 9 Figura 3.4 – Esquemático das forças e momentos agindo sobre um corpo arbitrário imerso em um escoamento uniforme. .................................................................................................... 10 Figura 3.5 – Distribuição de pressão ao longo da linha central de um carro. ......................... 14 Figura 3.6 – Coeficientes de arrasto e sustentação em veículos com designs diferentes. ....... 16 Figura 3.7 – Efeito do ponto de separação no depoimento de sujeira na parte traseira. .......... 16 Figura 3.8 – Aerofólio traseiro de um carro. ......................................................................... 17 Figura 3.9 – Spoiler frontal, traseiro e saias entre eixos de um carro. .................................... 18 Figura 4.1 – Fluxograma da metodologia. ............................................................................ 19 Figura 4.2 – Princípio do método numérico. ......................................................................... 20 Figura 4.3 – Dimensões usadas caso 1. ................................................................................. 23 Figura 4.4 – Dimensões usadas casos 2 e 3. .......................................................................... 24 Figura 4.5 – Spoiler traseiro. ................................................................................................ 24 Figura 4.6 – Domínio computacional. .................................................................................. 25 Figura 4.7 – Seção transversal da malha gerada a partir do domínio computacional. ............. 27 Figura 4.8 – Prismas próximos àsuperfície do corpo. ........................................................... 27 Figura 5.1 – Linhas de corrente Caso 1................................................................................. 30 Figura 5.2 – Distribuição de velocidade Caso 1. ................................................................... 30 Figura 5.3 – Distribuição de pressão Caso 1. ........................................................................ 31 Figura 5.4 – Linhas de corrente Caso 2................................................................................. 32 Figura 5.5 – Distribuição de velocidade Caso 2. ................................................................... 32 Figura 5.6 – Distribuição de pressão Caso 2. ........................................................................ 33 Figura 5.7 – Linhas de corrente Caso 3................................................................................. 34 Figura 5.8 – Distribuição de velocidade Caso 3. ................................................................... 34 Figura 5.9 – Distribuição de pressão Caso 3. ........................................................................ 35 Figura 5.10 – Curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície no modelo do caso 1. . 36 Figura 5.11 – Curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície no modelo do caso 2. . 37 vi Figura 5.12 – Curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície no modelo do caso 3. . 38 Figura 5.13 – Comparação das linhas de corrente caso 2 e 3. ................................................ 40 Figura 5.14 – Comparação de coeficientes de pressão caso 2 e 3. ......................................... 41 Figura A.1 – Distribuição de y+ caso 1 (frente). .................................................................... 47 Figura A.2 – Distribuição de y+ caso 1 (retaguarda). ............................................................ 47 Figura A.3 – Distribuição de y+ caso 2 (frente). .................................................................... 48 Figura A.4 – Distribuição de y+ caso 2 (retaguarda). ............................................................ 48 Figura A.5 – Distribuição de y+ caso 3 (frente). .................................................................... 49 Figura A.6 – Distribuição de y+ caso 3 (retaguarda). ............................................................ 49 vii LISTA DE TABELAS Tabela 4.1 – Coeficientes do modelo de turbulência k-ω SST. .............................................. 23 Tabela 4.2 – Configuração utilizada nas simulações. ............................................................ 26 Tabela 4.3 – Independência de malha Caso 1. ...................................................................... 28 Tabela 4.4 – Independência de malha Caso 2. ...................................................................... 28 Tabela 5.1 – Coeficientes de arrasto e sustentação Caso 1. ................................................... 35 Tabela 5.2 – Coeficientes de arrasto e sustentação Caso 2. ................................................... 37 Tabela 5.3 – Coeficientes de arrasto e sustentação Caso 3. ................................................... 38 Tabela 5.4 – Comparação de coeficientes de arrasto e sustentação........................................ 39 viii LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CFD Computational Fluid Dynamics RANS Reynolds Average Navier-Stokes SIMPLE Semi Implicit Method for Pressure Linked Equations SST Shear Stress Transport VC Volume de Controle ix LISTA DE SÍMBOLOS 𝐴 Área [𝑚²] 𝐴𝑥 Área projetada paralela ao escoamento [𝑚²] 𝐴𝑦 Área projetada perpendicular ao escoamento [𝑚²] 𝐶𝐷 Coeficiente de arrasto [−] 𝐶𝐿 Coeficiente de sustentação [−] 𝐶𝑝 Coeficiente de pressão [−] 𝐹𝐷 Força de arrasto [𝑁] 𝐹𝐿 Força de sustentação [𝑁] 𝐹𝑅 Força resultante [𝑁] 𝐿 Comprimento [𝑚] 𝑀 Número de Mach [−] 𝑝 Pressão [𝑃𝑎] 𝑝∞ Pressão de referência [𝑃𝑎] 𝑃𝑘 Termo de produção 𝑘 [−] 𝑃𝜔 Termo de produção 𝜔 [−] 𝑅𝑒 Número de Reynolds [−] 𝑡 Tempo [𝑠] 𝑢𝑖 Componente da velocidade na direção 𝑥𝑖 [𝑚/𝑠] 𝑢𝑗 Componente da velocidade na direção 𝑥𝑗 [𝑚/𝑠] 𝑉 Velocidade do escoamento [𝑚/𝑠] 𝑦 Espessura da primeira camada dos prismas [𝑚] 𝑦+ Espessura adimensional da camada limite [−] 𝛼 Constante do modelo de turbulência [−] 𝛽 Constante do modelo de turbulência [−] 𝛽′ Constante do modelo de turbulência [−] 𝛾 Peso específico [𝑁/𝑚3] 𝜃 Ângulo de inclinação [−] Viscosidade dinâmica [𝑃𝑎. 𝑠] Massa específica [𝑘𝑔/𝑚3] x 𝜎𝜔 Constante do modelo de turbulência [−] 𝜎𝑘 Constante do modelo de turbulência [−] 𝜏𝑝 Tensão de cisalhamento [𝑃𝑎] 𝜈 Viscosidade cinemática [𝑚2/𝑠] 𝜈𝑡 Viscosidade turbulenta [−] ω Velocidade angular [𝑟𝑎𝑑/𝑠] xi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1 1.1. Objetivos ....................................................................................................................... 3 1.1.1. Objetivo geral .............................................................................................................. 3 1.1.2. Objetivos específicos ................................................................................................... 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 4 3. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 7 3.1. Escoamento laminar e turbulento ................................................................................ 7 3.2. Conceito de Camada Limite ......................................................................................... 9 3.3. Escoamento ao redor de corpos imersos ...................................................................... 9 3.4. Coeficientes de arrasto, sustentação e pressão .......................................................... 10 3.4.1. Coeficiente arrasto ..................................................................................................... 11 3.4.2. Arrasto de atrito ......................................................................................................... 12 3.4.3. Arrasto de pressão ...................................................................................................... 13 3.4.4. Coeficiente de sustentação ......................................................................................... 14 3.5. Aerodinâmica veicular................................................................................................ 15 3.5.1. Auxiliares aerodinâmicos ........................................................................................... 17 4. METODOLOGIA ........................................................................................................ 19 4.1. Método dos volumes finitos ........................................................................................ 19 4.2. Conservação da massa ................................................................................................ 20 4.3. Conservação da quantidade de movimento ............................................................... 21 4.4. Modelo de Turbulência k-ω SST ................................................................................ 22 4.5. Modelo e Domínio Computacional ............................................................................. 23 4.5.1. Condições de contorno e iniciais ................................................................................ 25 4.5.2. Geração da malha.......................................................................................................26 4.5.3. Independência de malha ............................................................................................. 28 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 29 5.1. Distribuição de pressão, velocidade e linhas de corrente .......................................... 29 5.1.1. Caso 1 ........................................................................................................................ 29 5.1.2. Caso 2 ........................................................................................................................ 31 5.1.3. Caso 3 ........................................................................................................................ 33 5.2. Coeficientes de arrasto, sustentação e pressão .......................................................... 35 xii 5.2.1. Caso 1 ........................................................................................................................ 35 5.2.2. Caso 2 ........................................................................................................................ 37 5.2.3. Caso 3 ........................................................................................................................ 38 5.3. Discussões .................................................................................................................... 39 6. CONCLUSÕES ........................................................................................................... 42 6.1. Próximas etapas .......................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 43 APÊNDICE A .................................................................................................................... 47 1 1. INTRODUÇÃO A aerodinâmica veicular tem sido uma área de constante evolução e observa-se que o avanço da tecnologia tem contribuído para alcançar resultados cada vez mais satisfatórios no estudo da aerodinâmica (BOSCH, 2016). A primeira guerra mundial levou ao surgimento de um grande número de pesquisadores de aviação com foco na tecnologia militar. Com o fim da guerra, muitos desses cientistas voltaram suas energias ao estudo da aerodinâmica veicular (CASTEJON, 2011). Hucho (1998) relata que as primeiras tentativas de otimizar os carros falharam e os benefícios da aerodinâmica simplesmente não eram necessários, pois a baixa potência do motor e as estradas ruins limitavam a velocidade do automóvel, assim, o arrasto do veículo era desconsiderado nas análises. A força de arrasto cresce exponencialmente com a velocidade do veículo (ROCHA, 2016). À vista disso, a figura 1.1 mostra a evolução na aerodinâmica dos veículos de passeio através da mudança do coeficiente de arrasto ao longo dos anos. Figura 1.1 – História do arrasto dos carros. Fonte: HUCHO (1998). Nos anos 70, a crise do petróleo provocou consequências significativas na indústria automobilística, as quais ocasionaram mudanças nos projetos de automóveis que passaram a ter 2 o foco voltado na eficiência energética. A partir disso, a aerodinâmica veicular tornou-se a base para o desenvolvimento de novos protótipos, e suas soluções tem buscado cada vez mais a melhoria da eficiência energética. Desde o início do século XX, com os projetos de carros europeus, o objetivo era desenvolver veículos com formas que proporcionassem carros mais velozes e eficientes (CASTEJON, 2011). Segundo White (2011), para a dinâmica dos fluidos, veículos são estudados como corpos rombudos. Os veículos terrestres são corpos rombudos próximos de uma superfície plana que representa o solo. Devido a sua complexidade como as rodas sob rotação e cavidades, fazem com que o escoamento seja totalmente tridimensional, e o arrasto aerodinâmico de veículos é fortemente relacionado com o escoamento ao longo do veículo. O procedimento de aproximação por uma geometria similar é frequentemente usado para simplificação de estudo ou como ideia inicial de projeto. O corpo de Ahmed, mostrado na figura 1.2, é uma simplificação geométrica de um veículo automobilístico e foi escolhido como objeto de estudo, e a partir disso, será possível compreender as principais características de um automóvel real. O modelo também é frequentemente usado para calibração de túnel de vento ou como verificação de modelos de turbulência (FERRARI, 2019). Figura 1.2 – Modelo 3D do corpo de Ahmed. Fonte: O Autor Conforme a figura 1.2, a geometria do corpo de Ahmed é composta por um volume de paralelepípedo com uma face inclinada na parte traseira. Essa simplificação foi proposta pela primeira vez por Ahmed e Ramm (1984) em um trabalho de determinação de coeficientes de arrasto e sustentação com a variação de rebaixo da geometria. O automóvel geralmente tem uma geometria complexa, o que dificulta a análise da contribuição de cada parte de maneira independente, e para essa análise, foi criado o corpo de 3 Ahmed. Ele possui alguns aspectos geométricos de um veículo, onde é possível obter a variação de parâmetros de maneira independente, como raio de entrada, a altura do solo e ângulo de saída (ROCHA, 2016). Assim, a geometria do modelo automobilístico simplificado reproduz traços essenciais para melhor compreender o escoamento ao redor de um veículo e os efeitos consequentes. De maneira geral, estudar a aerodinâmica de veículos é imprescindível para propor uma otimização no projeto aerodinâmico possibilitando a melhoria do desempenho para garantir maior confiabilidade de um veículo durante a sua utilização. 1.1. Objetivos 1.1.1. Objetivo geral Avaliar a aerodinâmica de um veículo de passeio aplicando CFD e avaliar a influência de um auxiliar aerodinâmico. 1.1.2. Objetivos específicos • Determinar os coeficientes aerodinâmicos do corpo de Ahmed; • Comparar resultados obtidos para o corpo de Ahmed com dados experimentais da literatura; • Determinar os coeficientes aerodinâmicos do automóvel real; • Avaliar os resultados obtidos para o automóvel real e comparar com dados da literatura; • Determinar os coeficientes aerodinâmicos do automóvel com modificação (spoiler); • Avaliar o automóvel com modificação e comparar resultados com o modelo original. 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo são apresentados aspectos gerais relacionados aos trabalhos realizados no estudo da aerodinâmica sobre automóveis e o corpo de Ahmed. Ahmed e Ramm (1984) realizaram vários experimentos com o corpo de Ahmed em túnel aerodinâmico e por meio de simulações numéricas para diferentes ângulos de corte e número de Reynolds para determinar medidas de coeficientes de arrasto e sustentação. Os autores notaram que a estrutura da esteira apresentava uma alta complexidade, com uma zona de separação e vórtices gerados nos vértices do rebaixo do corpo. Os resultados obtidos servem de base atualmente para a comparação e validação de diversos métodos e modelos sejam de CFD ou de túneis de vento. Hucho (1998) apresentou um estudo sobre aerodinâmica veicular e ressaltou a sua análise referente à otimização da carroceria visando a redução do arrasto. O autor afirma que os primeiros projetos antecedem de um formato básico de modelo de veículo, destacando que as estratégias de aprimoramento dos detalhes e formas de modelos aerodinâmicos são complementares e, para um bom desenvolvimento de projeto é preciso priorizar as duas estratégias para objetivar o final do produto. Castejon (2011) apresentou uma abordagem de conceitos sobre arrasto veicular e também a estabilidade direcional, além de demonstrar métodos de redução de arrasto semcomprometer a estabilidade do veículo. Para o estudo, um modelo proposto pela Sociedade dos Engenheiros Automotivos denominado Modelo SAE, foi submetido ao ambiente de simulação computacional Fluent e foi possível analisar os coeficientes de arrasto e sustentação, momento de arfagem, momento de rolagem e o coeficiente de força lateral, impondo diferentes ângulos de convergência e difusão para a geometria traseira desse modelo. A análise das mudanças no ângulo de guinada ofereceu a possibilidade de ver seu impacto em outros parâmetros. Ramos (2012) relata que a redução no arrasto se tornou uma das prioridades no desenvolvimento de veículos, pois a consequência disso são veículos mais eficientes no que se refere ao consumo de combustível. Em termos de custo, a otimização aerodinâmica requer menos investimento pois não há necessidade de reinventar novos conceitos de produção de energia nem inventar materiais mais leves e duráveis, que são muito caros. Sendo assim, o autor propõe a redução do arrasto aerodinâmico dos itens que compõem a carroceria do veículo (para- choques, grade, capô, vidro, porta-malas, painel lateral). 5 Rosilho (2013) demonstrou através de CFD a economia de combustível de um veículo devido a substituição dos espelhos retrovisores externos por câmeras, as simulações foram realizadas utilizando o Ansys Fluent para processamento numérico do escoamento em torno do veículo. Na apresentação dos resultados, o autor ilustrou no primeiro momento as pressões, linhas de velocidade e perfil de velocidade em torno do veículo com a utilização dos espelhos retrovisores e com a remoção deles. Em um segundo momento foi demonstrada a melhoria obtida ao coeficiente de arrasto e a área reduzida com a remoção dos espelhos, juntamente com o cálculo da economia de combustível e a viabilidade econômica caso o motorista substitui-se os espelhos retrovisores externos por câmeras. Varela (2013) fez uma análise experimental do escoamento ao redor do corpo de Ahmed que teve como objetivo compreender a influência da forma do modelo sobre o escoamento e o tipo de escoamento em determinados pontos de sua superfície. Além da avaliação de pressão em cada ponto do corpo o autor também realizou um ensaio com fios de lã (tufts). Desse modo, observou-se através do posicionamento dos tufts a presença de uma região de alta pressão correspondente ao ponto de estagnação na parte frontal, também uma região de baixa pressão ao longo do corpo e em sua traseira. Os resultados da medição da variação de pressão e de força de arrasto foram semelhantes aos encontrados em Ahmed e Ramm (1984). Dobrev e Massouh (2014) investigaram a relação entre os coeficientes de arrasto e sustentação para um modelo genérico de carro. O experimento, conduzido em túnel de vento foi realizado para esclarecer a relação entre sustentação e arrasto utilizando diferentes ângulos de inclinação traseira para o corpo de Ahmed. Os resultados dos experimentos são completados por simulações numéricas a fim de obter o campo de fluxo detalhado ao redor do corpo e para verificar o efeito do ângulo de inclinação traseira. A partir das análises realizadas pode-se afirmar que o fluxo ao redor do corpo, a sustentação e o arrasto dependem significativamente do ângulo de inclinação. Bosch (2016) apresentou uma análise aerodinâmica de um protótipo de eficiência energética por CFD, buscando uma redução nas forças de arrasto e consequentemente aumentando a eficiência. O modelo de turbulência utilizado foi o k-ɛ e o regime de escoamento adotado foi permanente. Para a otimização do protótipo foram avaliados dois parâmetros que influenciam no arrasto, inclinação da região frontal e ângulo de convergência traseira. Com base no estudo realizado foi possível concluir que para o ângulo de convergência traseira o arrasto apresentou valores mínimos. 6 Rocha (2016) analisou a geometria de referência Ahmed em diversos ângulos usando variações numa faixa entre 0 e 60 graus, a velocidade usada nos experimentos foi de 40 m/s a fim de verificar a diferença do arrasto e sustentação em cada ângulo, comparar visualmente o comportamento do fluxo e a formação de vortex em cada caso através do CFD. A investigação proposta foi capaz de identificar esse fenômeno no escoamento. Foi constatado que a presença de vórtices cai significativamente durante a passagem do ângulo de 30º para 35º. Nos primeiros instantes ambas geometrias possuem intensidades de vórtices que aparentam ser iguais, porém à medida que se afasta do corpo claramente se torna muito menor em 35º. Wang et al (2017) analisaram o desempenho aerodinâmico do veículo Tesla Model S com o software STAR-CCM+, visando diferentes condições de trabalho como distância do solo, rotação do pneu, entre outros. A simulação foi baseada em túnel de vento virtual, modelo de turbulência k-ɛ, malha de 28 milhões de volumes, velocidade do ar fixada em 33,33 m/s e número de Reynolds 4,3x106. Foram analisadas as contribuições de cada parte do veículo para o coeficiente global de resistência do ar e os coeficientes de arrasto, sustentação e pressão. Os resultados das simulações mostraram que a altura do solo é um fator crítico para os coeficientes de arrasto e sustentação, além disso foi visto que a maior contribuição para o coeficiente de arrasto é das partes da face frontal do veículo, e devido a isso a maior parte da resistência do ar do carro é o arrasto de pressão. Zucco (2017) simulou numericamente um escoamento em torno do corpo de Ahmed utilizando uma malha poliédrica através do software STAR-CCM+. Os principais pontos analisados na simulação foram os coeficientes aerodinâmicos, arrasto total e a influência do tipo de malha em seu refinamento. O modelo de turbulência utilizado foi o k-ω SST. No perfil de velocidade foi encontrado dois vórtices na traseira e o ponto de estagnação na parte de frente do corpo. Segundo o autor, os resultados foram válidos obtendo inclusive um resultado melhor que encontrado na literatura. Ferrari (2019) realizou uma simulação numérica sobre o corpo de Ahmed, no qual o objetivo foi a avaliação dos coeficientes aerodinâmicos de arrasto e de sustentação, campos de pressão e velocidade em função do ângulo de rebaixo, variando de 0º a 45º. Utilizando um modelo de turbulência k-ω SST, Reynolds de 9,4 x 104 e velocidade de entrada 1,29 m/s. Os dados numéricos obtidos mostraram que o menor coeficiente de arrasto encontrado no corpo foi com um ângulo 25º de rebaixo e o maior coeficiente foi com um ângulo de 45º para o número de Reynolds usado. 7 3. REFERENCIAL TEÓRICO O presente capítulo tem por objetivo apresentar uma revisão sobre a teoria associada as análises numéricas do corpo de Ahmed e do automóvel, apresentando alguns conceitos chave essencial para o entendimento do trabalho. 3.1. Escoamento laminar e turbulento De acordo com Fox et al. (2018), um escoamento laminar é aquele em que as partículas fluidas se movem em camadas lisas ou lâminas. Enquanto que um escoamento turbulento é aquele que ao longo do escoamento as partículas fluidas se misturam e se agitam enquanto se movimentam, isso acontece devido a flutuações aleatórias no campo tridimensional de velocidade. O comportamento de escoamento laminar e turbulento pode ser visto na figura 3.1. Figura 3.1 – Trajetórias de partículas em escoamentos unidimensionais, laminar e turbulento. Fonte: FOX et al. (2018) Um fator considerado para determinar o tipo de escoamento é o número de Reynolds (𝑅𝑒). O número de 𝑅𝑒 representa a relação entre forças de inércia e viscosas e é um valor adimensional usado em mecânica dos fluidos para o cálculo do regime de escoamento de determinado fluido sobre uma superfície (ÇENGEL e CIMBALA, 2012). Para um escoamento externo de ar a transição de escoamento laminar para turbulento ocorre para um númerode Reynolds igual a 5 × 105. Esse valor pode ser obtido através de: 𝑅𝑒 = 𝜌𝑉𝐿 𝜇 (3.1) 8 onde 𝜌 representa a massa específica do fluido [kg/m³], 𝑉 é a velocidade do escoamento [m/s], L indica um comprimento caraterístico [m] e 𝜇 representa a viscosidade dinâmica do fluido [Pa. s]. A figura 3.2 mostra dois esboços de escoamento ao redor de um corpo rombudo bi ou tri dimensional, demonstrando um esquema do escoamento ideal e real ao redor de um corpo. Figura 3.2 – Escoamento sobre corpo rombudo. Fonte: WHITE (2011) No esboço idealizado (3.2a), há uma camada limite em torno do corpo e uma esteira viscosa estreita na traseira evidenciando um comportamento ideal sem a emissão de vórtices. Já no escoamento real (3.2b), a camada limite é delgada no lado frontal do corpo, onde a pressão decresce ao longo da superfície, mas na parte traseira, na camada limite ocorre um aumento do gradiente adverso de pressão e se separa formando uma ampla esteira turbulenta e gerando vórtices nessa região (WHITE, 2011). 9 3.2. Conceito de Camada Limite Quando um fluido escoa sobre uma superfície sólida, o fluido imediatamente entra em contato com a parede e adere à mesma, assim sua velocidade se torna nula adquirindo uma condição de não deslizamento na superfície. Como resultado é possível observar a formação de uma camada limite (WHITE, 2011). Fox et al. (2018) apresentam um quadro qualitativo do crescimento de uma camada- limite sobre uma placa plana, conforme fig. 3.3. Figura 3.3 – Camada-limite sobre uma placa plana. Fonte: FOX et al. (2018) O desenvolvimento da camada limite inicia-se laminar por uma curta distância a jusante da borda de ataque, mas em seguida nota-se que uma região de transição ocorre sobre a placa, e partir daí, a camada limite laminar desaparece e seu escoamento torna-se inteiramente turbulento, ou seja, as camadas limites podem ser laminares ou turbulentas de acordo com o seu comprimento, velocidade do fluido em sua vizinhança e da rugosidade da superfície sólida (FOX et al., 2018). Desta forma o estudo da camada limite é de suma importância, pois em escoamentos ao redor de corpos imersos ele influência as forças que serão consideradas. 3.3. Escoamento ao redor de corpos imersos Todos os corpos imersos no escoamento de fluido, independentemente de sua geometria, exibem forças e momentos naturais do escoamento. Para corpos de forma e orientação arbitrária, essas forças e momentos são manifestadas em relação a todos os três eixos de coordenadas, como apresentado na figura 3.4. 10 Figura 3.4 – Esquemático das forças e momentos agindo sobre um corpo arbitrário imerso em um escoamento uniforme. Fonte: WHITE (2011) A força sobre o corpo segundo o eixo paralelo a corrente livre, é chamada de arrasto e o momento em torno desse eixo é o momento de rolamento (WHITE, 2011). Uma segunda força, que é perpendicular ao arrasto e, geralmente, executa tarefas úteis (como suportar o peso do corpo), é chamada de sustentação. O momento em torno do eixo de sustentação é denominado momento de guinada. A terceira componente que embora normalmente não representa ganho ou perda, em alguns casos da pesquisa em determinadas condições, pode ser aplicada num ganho e é denominada força lateral e em torno deste eixo é gerado um momento de arfagem (SANTOS, 2012). Quando um corpo tem simetria em relação ao plano de arrasto-sustentação por exemplo, aviões, navios e carros se movimentando diretamente em uma corrente a força lateral, a guinada e o rolamento desaparecem e o problema se reduz a um caso bidimensional: duas forças, arrasto e sustentação, e um momento de arfagem (WHITE, 2011). Porém, o presente trabalho será limitado somente para a sustentação e ao arrasto. 3.4. Coeficientes de arrasto, sustentação e pressão Segundo White (2011), qualquer corpo quando imerso em um escoamento estará sujeito a uma força aerodinâmica resultante 𝐹𝑅(N). Quando o perfil possui simetria em relação ao eixo 11 de sustentação como por exemplo aviões, navios e carros, é possível observar duas componentes de forças, sendo elas: a força de arrasto 𝐹𝐷 paralela à direção do escoamento e a de sustentação 𝐹𝐿 perpendicular à direção do escoamento. O arrasto e sustentação a princípio podem ser obtidos pela integração das tensões de cisalhamento e normal ao corpo que está sendo considerado (ÇENGEL e CIMBALA, 2012). Sendo assim, as componentes x e y da força que atua num pequeno elemento de área são: 𝐹𝐷 = ∫ 𝑑𝐹𝑥 = ∫ 𝑝 𝑐𝑜𝑠 𝜃𝑑𝐴 + ∫ 𝜏𝑝 𝑠𝑖𝑛 𝜃𝑑𝐴 (3.2) e 𝐹𝐿 = ∫ 𝑑𝐹𝑦 = − ∫ 𝑝 𝑠𝑖𝑛 𝜃𝑑𝐴 + ∫ 𝜏𝑝 𝑐𝑜𝑠 𝜃𝑑𝐴 (3.3) onde 𝑝 é a pressão [Pa], 𝜏𝑝 a tensão de cisalhamento [Pa], 𝜃 o ângulo de inclinação e 𝐴 a área [m2]. A utilização das equações (3.2) e (3.3) pode ser aplicada em qualquer corpo imerso em um escoamento desde que não tenha separação e formação da esteira. Entretanto, tem pouca aplicação direta devido à dificuldade de obter as distribuições de pressão e de tensão de cisalhamento. Esforços consideráveis têm sido feitos para determinar estas distribuições, mas, devido às complexibilidade envolvidas, elas são disponíveis apenas para algumas situações simples. Uma alternativa muito utilizada para contornar esta dificuldade é definir coeficientes através de uma análise simplificada, técnica numérica ou experimentalmente apropriada (MUNSON et al., 1997). 3.4.1. Coeficiente arrasto O arrasto produzido em corpos pode ser explicado pelos efeitos viscosos do escoamento ao redor desses corpos restritos à camada limite, ou seja, dependendo a forma do corpo pode ocasionar o aparecimento de perturbações na camada limite provocando alterações no perfil de velocidade fora da camada limite e, logo, o surgimento de gradientes adversos de pressão e ocorrendo a separação. Em corpos rombudos, como automóveis, os principais causadores do arrasto é a separação prematura da camada limite e pela esteira com presença de campos de velocidade transientes (BURESTI, 2000). 12 Um fator considerado prejudicial para o desempenho do veículo é o arrasto, e é relacionado com o aumento de consumo de combustível, vibrações e ruído impactando de forma direta na eficiência energética do veículo (ÇENGEL e CIMBALA, 2012). O arrasto é a componente da força sobre um corpo que atua paralelamente à direção do movimento relativo (FOX et al., 2018), ou seja, uma força agindo paralelamente à direção do escoamento e em sentido contrário, fazendo resistência ao movimento de um objeto através de um fluido no caso o ar. A força de arrasto pode ser determinada pela equação (3.2), desde que conhecidas as distribuições de pressão e de tensão de cisalhamento do objeto. Dessa forma o coeficiente de arrasto 𝐶𝐷, pode ser obtido a partir de: 𝐶𝐷 = 𝐹𝐷 1 2 ∙ 𝜌𝑉 2𝐴𝑥 (3.4) onde 𝐴𝑥 representa a área projetada do corpo paralela ao escoamento [m 2]. O coeficiente de arrasto também pode ser em função de outros parâmetros adimensionais (FOX et al., 2018) como os números de Reynolds (𝑅𝑒), Froude (𝐹𝑟), Mach (𝑀) e da rugosidade relativa da superfície (𝜀). O número de 𝐹𝑟 é a relação da força de inércia e das forças gravitacionais e o número de 𝑀 é a relação entre a velocidade do escoamento e a velocidade do som. Fox et al. (2018) afirmam que o arrasto total sobre um corpo é consequência de algumas parcelas provenientes do arrasto de atrito e o arrasto de pressão. 3.4.2. Arrasto de atrito O arrasto de atrito é a componente da força de cisalhamento da parede na direção do escoamento, conforme equação 3.2, portanto ele depende da orientação do corpo, bem como da intensidade da tensão de cisalhamento na parede. O arrasto de atrito é zero para uma superfície plana normal ao escoamento e máximo para uma superfícieplana paralela ao escoamento, já que o arrasto de atrito nesse caso é igual à força de cisalhamento total na superfície. O arrasto de atrito é uma função que depende muito da viscosidade e aumenta com o aumento da mesma (ÇENGEL e CIMBALA, 2012). 13 Como o fluido usado na análise é o ar, a viscosidade dinâmica do fluido é baixa, aproximadamente 1,84x10-5 𝑃𝑎. 𝑠 em temperatura ambiente (25ºC), assim a contribuição da força de cisalhamento para o arrasto total sobre um corpo é geralmente muito pequena. O número de Reynolds é inversamente proporcional à viscosidade do fluido, portanto, a contribuição do arrasto de atrito para corpos rombudos é menor com número de Reynolds mais altos e assim pode ser desprezível (ÇENGEL e CIMBALA, 2012). 3.4.3. Arrasto de pressão O arrasto de pressão é proporcional à área frontal e a diferença entre as pressões, que agem na frente e atrás do corpo imerso. Portanto, o arrasto de pressão é geralmente dominante para corpos rombudos. Em corpos carenados como os aerofólios o arrasto é pequeno, para placas planas e finas paralelas ao escoamento o arrasto de pressão é zero (ÇENGEL e CIMBALA, 2012). A distribuição de pressão no corpo é dada através do coeficiente de pressão 𝐶𝑝, definido como: 𝐶𝑝 = 𝑝 − 𝑝∞ 1 2 ∙ 𝜌𝑉 2 (3.5) onde 𝑝∞ é a pressão de referência. A teoria da camada-limite pode prever o ponto de separação, mas não pode avaliar com precisão a distribuição de pressão nesta área. A diferença entre a alta pressão na região frontal e a baixa pressão na região traseira deslocada contribui enormemente para o arrasto denominado de arrasto de pressão (FOX et al., 2018). Çengel e Cimbala (2012) apontam que quando a velocidade do fluido é muito alta na curvatura do corpo o arrasto de pressão será maior, portanto, o fluido se separa em algum determinado ponto e gera uma pressão muito baixa na parte de trás. O arrasto de pressão depende de sua magnitude e da orientação do elemento de superfície que atua sobre ela. Esse arrasto ocorre devido à distribuição assimétrica ao redor do corpo e pode ser reduzido alterando a geometria para tornar o corpo mais próximo de um corpo rombudo (FERRARI, 2019). 14 De maneira geral, o arrasto de pressão é causado pelas distribuições de pressões como demonstrado na figura 3.5, onde mostra os coeficientes de pressão medidos experimentalmente em um veículo durante um escoamento de ar. A observação da distribuição de pressão no corpo é importante para identificar as regiões de recirculação e separação do fluido e os sinais indicam se o coeficiente de pressão é positivo ou negativo em relação ao ambiente. Figura 3.5 – Distribuição de pressão ao longo da linha central de um carro. Fonte: GILLESPIE (1992) A pressão é baixa ao redor do nariz do veículo devido à curvatura das linhas de corrente no momento em que o escoamento o contorna. A pressão atinge novamente um máximo na base do para-brisas por causa da curvatura das linhas de corrente, as regiões de baixa pressão também aparecem na parte superior do automóvel. A velocidade do ar acima do teto é aproximadamente 30% maior do que a de corrente livre, o mesmo efeito ocorre em volta das colunas e nas laterais do para-brisas (FOX et al., 2018). 3.4.4. Coeficiente de sustentação A força de sustentação é definida como a força que atua sobre o objeto na direção perpendicular ao escoamento. Conhecidas as distribuições de pressão e de tensão de cisalhamento em torno do corpo a força de sustentação pode ser determinada através da Eq. (3.3). Assim, o coeficiente de sustentação 𝐶𝐿 pode ser obtido através de: 15 𝐶𝐿 = 𝐹𝐿 1 2 ∙ 𝜌𝑉 2𝐴𝑦 (3.6) onde 𝐴𝑦 representa a área projetada do corpo perpendicular ao escoamento [m 2]. Como o coeficiente de arrasto, o coeficiente de sustentação também pode ser escrito em função de outros parâmetros adimensionais como 𝑅𝑒, 𝐹𝑟, 𝑀 e 𝜀. Porém as condições do escoamento do projeto não vão surgir efeito de tensão superficial, pois as velocidades usadas serão Mach menores que 0,3, dessa forma vai ser em função apenas de Reynolds. A sustentação aerodinâmica é um importante fator a considerar no projeto de veículos terrestres de alta velocidade, tais como os carros de corrida e outros destinados a quebra de recordes de velocidade (FOX et at.,2018). Segundo Fox et al. (2018), quando um corpo está em alta velocidade as forças de sustentação aerodinâmica podem aliviar os pneus do solo causando sérios problemas de manobrabilidade e controle de direção, além de reduzir a estabilidade perigosamente. Para a solução deste problema o uso de aerofólio pode ser fundamental para a sustentação e são usados frequentemente em automóveis de alta velocidade. Por exemplo, na aviação faz-se necessária produzir uma componente vertical para sustentar a aeronave, e no caso dos carros de alta performance uma força de sustentação contraria precisa ser gerada para grudar o carro no piso, ou seja, essa força de sustentação é denominada downforce. 3.5. Aerodinâmica veicular Nos carros de hoje a aerodinâmica desempenha um papel muito importante. Ela está diretamente relacionada a múltiplas características de um veículo, como a velocidade final alcançada, consumo de combustível, circulação de ar na cabine, ruídos devido ao fluxo de ar e entre outros (SOUSA e GONÇALVES, 2013). A dificuldade em reduzir o consumo de combustível de veículos existe desde o tempo em que eles foram inventados. Com o passar dos anos o crescimento do número de carros aliado ao aumento no preço dos combustíveis torna cada vez mais importante a redução do consumo energético, tanto para economia quanto para a preservação do meio ambiente (SUCH, 2018). Segundo Hucho (1998) o conforto do automóvel, a manobrabilidade e seu desempenho são significativamente afetados pela sua aerodinâmica, um baixo coeficiente de arrasto é um pré-requisito decisivo para um veículo sustentável. 16 Gillespie (1992) afirma que o formato do veículo como um todo causa diversas mudanças na distribuição de pressão e consequentemente no arrasto produzido. A figura 3.6 mostra o efeito de sustentação e arrasto para quatro estilos de veículo: “Sedan”, “Coupe”, “Fastback” e “Station Wagon”. Figura 3.6 – Coeficientes de arrasto e sustentação em veículos com designs diferentes. Fonte: GILLESPIE (1992) Como visto na figura 3.6, o controle de fluxo que minimiza a área de separação geralmente resulta em mais elevação aerodinâmica na parte traseira por causa da pressão reduzida conforme o escoamento é puxado para baixo. Nota-se então que apesar das variações, os valores de 𝐶𝐷 dificilmente ficam fora da faixa entre 0,30 e 0,40 nos veículos mais comuns. Outra consideração no design aerodinâmico na parte traseira é o potencial para a deposição de sujeira, o alto grau de turbulência na zona de separação traz umidade e sujeira expelida da estrada pelos pneus. Se a zona de separação incluir esses itens a sujeira será depositada nessas áreas e a visão será obstruída (GILLESPIE, 1992). A figura 3.7 ilustra esse fenômeno. Figura 3.7 – Efeito do ponto de separação no depoimento de sujeira na parte traseira. Fonte: GILLESPIE (1992) 17 Esse fenômeno representa que a separação na borda ocorrerá na traseira e depende fortemente do seu formato e do ângulo. Conforme o veículo da figura 3.7(a) a linha do telhado promove a separação nesse ponto e isso minimiza o choque aerodinâmico, porém, estará sujeito a deposição de sujeira na janela. Já o veículo da figura 3.7(b) a transição suave estimula o fluxo de ar a seguir os contornos do veículo, com este design apenas a região da luz traseira fica exposta a poeira na estrada. 3.5.1. Auxiliares aerodinâmicos Segundo Marco e Silva (2018), os principais conceitos para estudar a aerodinâmicaveicular são resumidos ao arrasto e a sustentação negativa (downforce). Uma das maneiras de aumentar o downforce é através da utilização de aerofólios que podem ser frontais ou traseiros. O aerofólio age como uma asa de avião invertida, ou seja, se comporta de maneira inversa em veículos, por isso é chamado de sustentação negativa ou downforce, sua principal característica é a passagem do fluxo de ar que é presente na parte superior e inferior da asa conforme a figura 3.8. Figura 3.8 – Aerofólio traseiro de um carro. Fonte: PINTERESET (2020) Outra maneira de melhorar a aerodinâmica de automóveis é com o uso de spoilers. Os spoilers usam a carroceria do veículo para criar vantagens aerodinâmicas modificando o escoamento de ar e assim podendo aumentar a eficiência energética. 18 Quando usado na parte frontal ele tende a diminuir a passagem de ar sob a carroceria desviando para as laterais e nessas áreas as saias entre eixos são responsáveis por direcionar o fluxo de ar para a traseira do veículo. E, quando o spoiler é usado na parte traseira o objetivo é ordenar o escoamento de ar (GLOBO, 2009). A figura 3.9 mostra exemplos de um spoiler dianteiro, traseiro e saias entre eixos. Figura 3.9 – Spoiler frontal, traseiro e saias entre eixos de um carro. Fonte: PINTERESET (2020) A adição de um spoiler dianteiro para carros de alta performance (3.9a), geralmente resulta em maior resistência ao ar aumentando o downforce. E o Spoiler traseiro (3.9b) é muito popular, seu desempenho depende da geometria da parte traseira e a área de fluxo pode ser reduzida resultando em uma redução de arrasto (KATZ, 1995). Sua principal diferença quando comparado com o aerofólio é que o aerofólio aumenta o arrasto aerodinâmico enquanto o spoiler tende a diminuir. 19 4. METODOLOGIA Neste capítulo será apresentada a metodologia utilizada descrita na figura 4.1, assim como o modelo de turbulência, método e toda a formulação necessária para a realização das análises numéricas. Nas simulações, será utilizado o modelo do corpo de Ahmed para o caso 1, um modelo de automóvel para o caso 2, e o mesmo automóvel com o uso de um auxiliar aerodinâmico denominado spoiler para o caso 3. Os mesmos serão avaliados utilizando as distribuições de pressão e velocidade e seus coeficientes de arrasto, sustentação e pressão. Figura 4.1 – Fluxograma da metodologia. Fonte: O Autor O fenômeno estudado no presente trabalho pode ser modelado identificando um sistema com as equações diferenciais de Navier-Stokes com médias de Reynolds mais as equações diferenciais do modelo de turbulência, esse sistema é resolvido através de equações aproximadas no qual é preciso discretizar essas equações. Na análise, por se tratar de equações de conservação, foi utilizado o método dos volumes finitos para obter o conjunto de equações algébricas utilizadas na solução numérica, essa técnica de volumes finitos empregada foi de forma automatizada pelo software Ansys. 4.1. Método dos volumes finitos De acordo com Maliska (2004), o método de volumes finitos é todo o método que satisfaz a conservação da propriedade em nível de volumes elementares para a obtenção das equações aproximadas. 20 Para obter as equações a primeira etapa é atingir um equilíbrio (balanço) das propriedades em questão em um volume elementar ou volumes finitos, no qual aparecem os fluxos nas fronteiras do mesmo. O domínio de solução é dividido num número finito de volumes de controle (VC) contínuos, localizando no centroide de cada VC a variável que será calculada. As integrais de volume e de superfície são aproximadas usando fórmulas de quadratura apropriadas. Por consequência obtém-se uma equação algébrica para cada VC. A figura 4.2 ilustra uma conexão entre as equações aproximadas usadas no método dos volumes finitos e as equações diferenciais na forma conservativa. Forma conservativa é aquela em que na equação diferencial os fluxos estão dentro do sinal da derivada (MALISKA, 2004). Figura 4.2 – Princípio do método numérico. Fonte: MALISKA (2004) A análise do escoamento de um fluido envolve o fundamento em leis básicas que governam o movimento do fluido e pode ser caracterizado a partir de suas características cinemática e dinâmicas, representadas pelas componentes de velocidade, massa especifica, pressão e viscosidade do fluido. A relação destes parâmetros é definida por duas equações: a equação da continuidade e a equação da quantidade de movimento. 4.2. Conservação da massa A equação de conservação da massa ou equação da continuidade determina que a variação temporal, por unidade de volume, no interior do volume de controle (VC), infinitesimal, e a variação do fluxo por unidade de tempo que cruza a superfície devem ser iguais. Então devido os termos de flutuação as propriedades que aparecem nas equações vão ser divididas em uma propriedade média mais as flutuações e como resultado tem-se as 21 equações de Navier-Stokes com médias de Reynolds também conhecidas como RANS (Reynolds Averaged Navier-Stokes). Utilizando regime permanente e escoamento incompressível a equação da conservação da massa, já com as médias de Reynolds é descrita através de: 𝜕�̅�𝑖 𝜕𝑥𝑖 = 0 (4.1) onde �̅�𝑖 representa a componente da velocidade média na direção de 𝑥𝑖 no sistema cartesiano de coordenadas. 4.3. Conservação da quantidade de movimento A equação da quantidade de movimento relaciona a aceleração do fluido com forças que atuam em um VC (como forças de superfície e de campo). Considerando a viscosidade constante para o escoamento incompressível de um fluido newtoniano, é possível fazer uma relação entre a tensão atuando no VC e a deformação do fluido (GONÇALVES, 2019). As equações de Navier-Stokes são equações diferenciais que modelam o escoamento de fluidos (FORTUNA, 2000). Assim, para um escoamento turbulento é necessária a decomposição das equações de Navier-Stokes provocando um aparecimento de mais incógnitas que equações, então a simulação numérica é a melhor forma para resolver esse tipo de escoamento. Portanto, a equação da quantidade de movimento já com as médias de Reynolds é dada por: 𝜕�̅�𝑖 𝜕𝑡 + 𝑢�̅� 𝜕�̅�𝑖 𝜕𝑥𝑗 = − 1 𝜌 𝜕𝑝 𝜕𝑥𝑖 + 𝜈 𝜕2�̅�𝑖 𝜕𝑥𝑗𝑥𝑖 − 𝜕(𝑢𝑖𝑢𝑗) 𝜕𝑥𝑗 (4.2) onde �̅�𝑗 representa a componente da velocidade média na direção de 𝑥𝑗 no sistema cartesiano de coordenadas, 𝜈 viscosidade cinemática e 𝑡 representa o tempo [s]. O processo de média das variáveis dependentes das equações inclui dividi-las em duas partes: uma parte é a média ao longo do tempo e a outra parte é a flutuação sobre a média, isso significa que um novo termo denominado tensão de Reynolds é gerado. Para a solução desse 22 problema de fechamento recorre-se a utilização de algum modelo de turbulência, dentre os vários modelos disponíveis foi escolhido no modelo de turbulência k-ω SST. 4.4. Modelo de Turbulência k-ω SST O modelo de turbulência k-ω SST foi desenvolvido para atender à necessidade de um modelo mais preciso quando comparado aos existentes, com intuito de aplicar em casos de aerodinâmica envolvendo elevados gradientes de pressão e de separação. Para isso, dois outros modelos de turbulência são unidos o modelo k-ɛ e k-ω. O modelo k-ɛ pode prever bem a corrente livre de áreas fora da camada limite, mas falha em áreas próximas à parede. E o modelo k-ω se mostra mais eficaz quando se deseja analisar o escoamento da camada limite (regiões próximas às paredes), porém exige uma condição de contorno não homogênea em regiões fora da camada limite evitadas com o uso do modelo k-ɛ. A formulação completa do modelo SST com o número limitado de modificações destacadas (MENTER et al., 2003), é dada por: 𝜕𝑘 𝜕𝑡 + 𝜕𝑢𝑗𝑘 𝜕𝑥𝑗 = 𝛾𝑃𝑘− 𝛽 ′𝑘2 + 2𝜎𝑘 1 𝑘 𝜕 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑘 𝜕𝑥𝑗 + 𝜕 𝜕𝑥𝑗 [(𝜈 + 𝜎𝑘𝜈𝑡) 𝜕𝑘 𝜕𝑥𝑗 ] (4.3) 𝜕𝜔 𝜕𝑡 + 𝜕𝑢𝑗𝜔 𝜕𝑥𝑗 = 𝛼𝑃𝜔 − 𝛽𝜔 2 + 2(1 − 𝐹1)𝜎𝜔 1 𝜔 𝜕 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝜔 𝜕𝑥𝑗 + 𝜕 𝜕𝑥𝑗 [(𝜈 + 𝜎𝜔𝜈𝑡) 𝜕𝜔 𝜕𝑥𝑗 ] (4.4) onde 𝛽′, 𝛽, 𝛼, 𝜎𝑘 e 𝜎𝜔 representam as constantes do modelo de turbulência, 𝛾 o peso específico, 𝐹1 a função moderadora e 𝜈𝑡 é a viscosidade turbulenta definida através de: 𝜈𝑡 = 𝑎1𝐶𝑘 𝑚𝑎𝑥( 𝑎1𝜔, 𝑆𝑅𝐹2) (4.5) onde 𝑎1 é uma constante, S é a taxa de deformação, C é ajustado conforme o modelo e F2 é uma segunda função modeladora definida para limitar os valores de 𝜈𝑡 em regiões de escoamento cisalhante livre. O termo de produção 𝜔 é dado por: 𝑃𝜔 = ( 𝑎3 𝑣𝑡 ) 𝑃𝑘 (4.1) 23 O termo 𝐹1 da equação 4.4 é denominado termo de difusão cruzada onde essa função moderadora regula os modos de atuação das equações, quando seu valor igual a 0 atua como modelo k–ε e quando valor igual a 1 como modelo k-ω. Os valores das constantes do modelo de turbulência podem ser observados na tabela 4.1. Tabela 4.1 – Coeficientes do modelo de turbulência k-ω SST. Constantes 𝜷′ 𝜷 𝜶 𝝈𝒌 𝝈𝝎 Valor 0,09 0,075 5/9 2,00 2,00 Fonte: O Autor. 4.5. Modelo e Domínio Computacional O modelo usado no caso 1 é o corpo de Ahmed utilizando um ângulo de 30º de inclinação na parte traseira e a dimensão do rebaixo foi mantida em 222 𝑚𝑚. Com mesma escala (1/1) em relação ao testado por Ahmed e Ramm (1984). Como ilustrado na figura 4.3. Figura 4.3 – Dimensões usadas caso 1. Fonte: AHMED e RAMM (1984) Nos casos 2 e 3 foi utilizada a geometria de um carro elétrico com intuito analisar os coeficientes aerodinâmicos neste tipo de automóvel. Assim, foi escolhido o veículo Model S da Tesla com escala em tamanho real, como demonstrado na figura 4.4. Porém com diferenças do veículo oficial, como a roda utilizada, altura do solo, portas, limpador de para-brisas, entre 24 outros. A figura 4.5 ilustra o automóvel modelado com a inclusão de um spoiler traseiro para o caso 3, este spoiler foi desenvolvido dentro de um critério de design semelhante ao spoiler traseiro disponível para este tipo de automóvel. Figura 4.4 – Dimensões usadas casos 2 e 3. Fonte: O Autor Figura 4.5 – Spoiler traseiro. Fonte: O Autor 25 A realização da análise fluidodinâmica necessita da criação de um modelo sólido onde o mesmo foi subtraído de seu interior. E para esta geometria é denominado domínio computacional. O domínio computacional no caso 1 foi gerado a partir das dimensões utilizadas por GONÇALVES (2019) e para os casos 2 e 3 foram usadas as mesmas proporções. Essas dimensões foram definidas para o escoamento apresentar baixa influência das paredes e que a esteira formada na parte traseira possa se desenvolver, um exemplo é ilustrado na figura 4.6. Figura 4.6 – Domínio computacional. Fonte: O Autor 4.5.1. Condições de contorno e iniciais O método de solução utilizado nas análises foi regime de escoamento permanente, o Upwind de segunda ordem para aumentar a ordem de precisão, condição inicial fixada na velocidade de 20m/s e seguindo um critério de convergência 10-4. As demais configurações atribuídas na condição de contorno para o caso 1 foram semelhantes a GONÇALVES (2019), e para os casos 2 e 3 foi empregada uma intensidade de turbulência de 10% de acordo com a Tabela 4.2. As simulações foram realizadas no software Ansys Fluent. 26 Tabela 4.2 – Configuração utilizada nas simulações. CASO 1 CASOS 2 e 3 Regime de escoamento Permanente Permanente Modelo de turbulência k-ω SST k-ω SST Fluido Ar Ar Método de solução espacial Acoplamento pressão-velocidade: SIMPLE Gradiente: Mínimos Quadrados Pressão: Segunda Ordem Momentum: Upwind de segunda ordem Energia cinética Turbulenta: Upwind de segunda ordem Taxa de dissipação específica: Upwind de segunda ordem Acoplamento pressão-velocidade: SIMPLE Gradiente: Mínimos Quadrados Pressão: Segunda Ordem Momentum: Upwind de segunda ordem Energia cinética Turbulenta: Upwind de segunda ordem Taxa de dissipação específica: Upwind de segunda ordem Fatores de relaxação Pressão: 0,3 Massa específica: 1 Força: 1 Momentum: 0,7 Energia cinética turbulenta: 0,8 Taxa de dissipação especifica: 0,8 Pressão: 0,2 Massa específica: 0,6 Força: 1 Momentum: 0,5 Energia cinética turbulenta: 0,5 Taxa de dissipação especifica: 0,5 Condições iniciais VZ = 20m/s, Vx = 0, Vy = 0 Energia cinética turbulenta = 0,92 m2/s2 Taxa de dissipação específica = 108,86 s-1 VZ = 0, Vx = 20m/s, Vy = 0 Energia cinética turbulenta = 6 m2/s2 Taxa de dissipação específica = 272,16 s-1 Critério de convergência 10-4 10-4 Fonte: O Autor 4.5.2. Geração da malha As malhas utilizadas neste trabalho foram geradas a partir do software ICEM CFD. Pode ser observado na figura 4.7 um exemplo com aproximadamente 10 milhões de volumes. 27 Figura 4.7 – Seção transversal da malha gerada a partir do domínio computacional. Fonte: O Autor Houve a necessidade da criação de camadas prismáticas na região próxima ao corpo quando gerado a malha, fazendo com que haja a formação de blocos que contornam o corpo. Para isso é preciso determinar a espessura da primeira camada desses blocos, que é determinada a partir de um parâmetro 𝑦+ de acordo com a seguinte equação: 𝑦 = 𝜈 ∙ 𝑦+ 𝑉 (4.6) onde 𝑦 representa a espessura da primeira camada (m). Para o cálculo foi arbitrado 𝑦+=2 (caso 1) e 𝑦+=5 (casos 2 e 3) por estar na faixa recomendada pelo modelo de turbulência e pela necessidade de uma análise detalhada da camada limite na superfície do corpo. Dessa forma, a espessura da camada inicial calculada foi de 4x10-5m para o caso 1 e 1x10-4m para os casos 2 e 3 com um aumento progressivo em cada uma das 20 camadas, um exemplo está ilustrado na Figura 4.8. Figura 4.8 – Prismas próximos à superfície do corpo. Fonte: O Autor 28 4.5.3. Independência de malha O processo de independência de malha consiste na simulação de diversas malhas com diferentes graus de refinamento. E para se obter um resultado mais preciso a malha que deverá ser utilizada é a mais refinada possível e com o maior número de subdivisões do subdomínio computacional. Mas, entretanto, por possuir um número de volumes muito elevado o tempo de execução computacional se torna demorado e a exigência de hardware é grande. Assim, nesse procedimento, quando se aumenta o refinamento de uma malha e os resultados não são sensivelmente alterados é atingida a independência de malha e então a malha que será usada é aquela que irá possuir uma menor quantidade de elementos (ANSYS, 2015). As tabelas 4.3 e 4.4 mostram os valores dos coeficientes de arrasto obtidos para 3 malhas diferentes em cada caso. Tabela 4.3 – Independência de malha Caso 1. Malha Número de Volumes Coeficiente de Arrasto (𝑪𝑫) 01 3.600.000 0,2860 02 5.200.000 0,2905 03 6.900.000 0,2909 Fonte: O Autor Tabela 4.4 – Independência de malha Caso 2. Malha Número de Volumes Coeficiente de Arrasto (𝑪𝑫) 01 6.800.000 0,2632 02 10.400.000 0,2704 03 12.000.000 0,2715 Fonte: O Autor Como pode-se observar nas tabelas 4.3 e 4.4 as duas últimas malhas apresentaram valores semelhantes para o 𝐶𝐷. Dessa forma, seguindo o critério de escolha a malha selecionada foi a malha com 5.200.000 volumes para o caso 1 e 10.400.000 volumes para o caso 2. Na simulação do caso 3 foram mantidos os mesmos parâmetros do caso 2 e não foi realizada nova independência de malha. As informações complementares ilustrando o comportamento do 𝑦+ em relação a qualidade da malha dos casos simulados estão no apêndice A. 295. RESULTADOS E DISCUSSÕES Nesta seção são apresentados os resultados obtidos na análise numérica realizada no corpo de Ahmed (caso 1), para o automóvel (caso 2) e para o automóvel com o uso do spoiler (caso 3). Na leitura dos resultados utilizou-se da ferramenta CFD-POST presente no software ANSYS. O principal objetivo é analisar os coeficientes aerodinâmicos de cada caso e a influência do uso do spoiler. 5.1. Distribuição de pressão, velocidade e linhas de corrente Serão apresentados os resultados da distribuição de pressão, velocidade e as linhas de corrente no plano de simetria para cada caso analisado, possibilitando a visualização dos vórtices gerados e o comportamento do escoamento. Além disso, é realizada uma comparação qualitativa dos resultados com os encontrados na literatura. 5.1.1. Caso 1 As figuras 5.1 e 5.2 ilustram as distribuições das linhas de corrente e velocidade no plano de simetria. As linhas de corrente fornecem informações importantes sobre o escoamento de ar em torno de um corpo, dentre essas informações destacam-se as separações de escoamento e os vórtices gerados. É possível observar a separação de escoamento que ocorre na parte traseira e a formação de dois vórtices na esteira. Na parte frontal pode se observar a formação do ponto de estagnação, essa região apresenta velocidade nula. Também pode ser visto que o maior valor de velocidade é encontrado nas extremidades da região frontal do corpo onde as pressões estáticas são menores. Percebe-se que o comportamento do escoamento em torno do corpo pode ser relacionado com a figura 3.2. Logo no início do escoamento o comportamento do fluido é laminar, mas devido ao ponto de separação em função do ângulo da parte traseira as partículas fluidas se agitam e o escoamento se torna turbulento, a partir deste ponto a teoria da camada limite não é mais utilizada e ocorre a formação da esteira. A separação é caraterizada por um gradiente adverso de pressão, onde as partículas de fluido perdem energia cinética devido ao 30 atrito e a este gradiente. Essa situação pode gerar anulação da velocidade e também inversão do sentido do fluxo. Figura 5.1 – Linhas de corrente Caso 1. Fonte: O Autor Figura 5.2 – Distribuição de velocidade Caso 1. Fonte: O Autor A figura 5.3 apresenta a distribuição de pressão no plano de simetria e ressalta de forma clara qual o comportamento da pressão durante o escoamento em torno do corpo. No ponto de estagnação do ar da região frontal observa-se que há uma zona de alta pressão, por consequência, o valor do coeficiente de arrasto tem sua maior parcela devido ao arrasto de pressão. A distribuição da pressão se comporta de maneira inversa ao que ocorre na figura 5.1 31 com os vetores de velocidade, ou seja, quando a pressão diminui devido a inclinação do corpo a velocidade da região aumenta. Figura 5.3 – Distribuição de pressão Caso 1. Fonte: O Autor A distribuição de pressão e velocidade encontrados para um ângulo de rebaixo de 30º estão de acordo com os resultados esperados. O ponto de estagnação e a formação da esteira assim como as regiões que apresentaram as maiores velocidades, concordam com os resultados apresentados por Rocha (2016) e Zucco (2017). A formação de dois vórtices na parte posterior no plano de simetria também está de acordo. 5.1.2. Caso 2 As distribuições de linhas de corrente e velocidade sobre o automóvel, são visíveis nas figuras 5.4 e 5.5, respectivamente. Nota-se que na figura 5.4 as linhas de corrente possuem um escoamento suave estimulando o fluxo de ar que seguem os contornos do carro formando um escoamento laminar na face frontal e ao longo de sua superfície, mas na parte traseira há separação do escoamento onde o fluido passa por uma transição, agitando as linhas de corrente e tornando o escoamento turbulento, ocasionando a formação da esteira, nessa região de esteira ocorre a formação de vórtices. Observa-se também o ponto de estagnação na parte frontal, as maiores velocidades no teto do veículo e as menores velocidades na esteira formada logo após o escoamento passar pelo carro. 32 Figura 5.4 – Linhas de corrente Caso 2. Fonte: O Autor É evidente a influência do ponto de separação no depoimento de sujeira na parte traseira, a transição suave do veículo estimula o fluxo de ar a seguir os contornos do carro impedindo que a sujeira seja depositada no vidro traseiro obstruindo a visão do condutor, como evidenciada na figura 3.7b. Figura 5.5 – Distribuição de velocidade Caso 2. Fonte: O Autor O arrasto de pressão aumenta significativamente se a separação do fluxo ocorrer, que é quando a camada limite se desprende do corpo, como visto na figura 3.2, criando uma esteira 33 de fluxo recirculante na parte traseira do automóvel. Isso cria uma área de baixa pressão atrás do corpo chamado de região de separação, resultando em uma grande força de arrasto. Outra componente que é responsável pelo arrasto é a altura do solo, ou seja, a parte inferior da carroceria é uma área crítica para a sustentação aerodinâmica. Wang et al. (2017) comprovou que em alta velocidade, o distanciamento do solo quando for relativamente pequeno o fluxo de ar na parte inferior do corpo é acelerado, diminuindo a pressão e reduzindo a sustentação aerodinâmica. Ao mesmo tempo, o fluxo de ar acelerado impacta os vórtices da parte traseira do automóvel gerando um menor coeficiente de arrasto, ou seja, quanto menor for essa altura do solo menor vai ser esse coeficiente. A figura 5.6 mostra a distribuição de pressão no plano central. Deve-se notar que as maiores pressões se encontram na parte frontal, que as pressões são positivas na base do vidro frontal e negativas no teto do veículo. Figura 5.6 – Distribuição de pressão Caso 2. Fonte: O Autor Analisando a figura 5.6 é notório que a distribuição de pressão no veículo foi muito próxima do encontrado na literatura (figura 3.5). 5.1.3. Caso 3 Neste caso, foi adicionado o spoiler para o modelo do automóvel e a simulação manteve os mesmos parâmetros do caso 2, podendo assim realizar a comparação. As figuras 5.7 e 5.8 34 representam a distribuição de linhas de corrente e velocidade respectivamente, no qual apresentam uma similaridade demonstradas nas figuras 5.4 e 5.5. Porém na região da esteira observa-se que as linhas de corrente têm uma variação de amplitude menos significativa, isto se deve ao fato do fluxo mais organizado após a adição do spoiler. Figura 5.7 – Linhas de corrente Caso 3. Fonte: O Autor Figura 5.8 – Distribuição de velocidade Caso 3. Fonte: O Autor A distribuição de pressão é ilustrada na figura 5.9, e comparando com o caso 2 pode-se notar a influência do spoiler no campo de pressão. Nessa região houve um aumento de pressão 35 (pressão positiva mais elevada), sendo assim, espera-se um coeficiente de arrasto menor e um coeficiente de sustentação maior. Figura 5.9 – Distribuição de pressão Caso 3. Fonte: O Autor 5.2. Coeficientes de arrasto, sustentação e pressão Na sequência serão apresentados os resultados dos coeficientes de arrasto, sustentação e pressão de cada caso, e comparados com a literatura. 5.2.1. Caso 1 Para a análise do corpo de Ahmed o número de Reynolds utilizado foi 5,18x105, obtendo um coeficiente de arrasto de 0,2905 e coeficiente de sustentação de 0,2487. A tabela 5.1 apresenta os valores dos coeficientes de arrasto e sustentação obtidos nas simulações. Tabela 5.1 – Coeficientes de arrasto e sustentação Caso 1. Coeficientes Numérico Experimental (DOBREV e MASSOUH, 2014) 𝑪𝑫 0,2905 0,32 𝑪𝑳 0,2487 0,224 Fonte: O Autor 36 Para esta condição são esperados resultados semelhantes encontrados em Dobrev e Massouh(2014), no qual usaram um Reynolds igual a 4,51x105. Comparando os resultados numéricos da tabela 5.1 com a literatura os coeficientes de arrasto e sustentação condizem com os valores encontrados com uma diferença de aproximadamente 10% no 𝐶𝐷 e 3% no 𝐶𝐿. Essa diferença entre os resultados no túnel de vento e numéricos podem ter origem na simulação, como na qualidade de malha utilizada, erros da aproximação numérica, modelagem ou incertezas de medição no túnel de vento. A figura 5.1 apresenta a curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície do caso 1 no plano central, calculado a partir da equação 3.5. Percebe-se que o coeficiente de pressão mais elevado ocorre na face frontal do modelo, devido à curvatura das linhas de corrente na região em que a velocidade é baixa. O menor coeficiente acontece nos cantos onde existem as maiores velocidades do fluido. Repara-se também uma queda brusca do coeficiente de pressão na parte traseira do corpo, onde o plano está inclinado em 30º, isso acontece devido à desaceleração do fluido e a separação da camada limite nessa região. Figura 5.10 – Curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície no modelo do caso 1. Fonte: O Autor Da mesma maneira que foi observado na análise Varela (2013), mediu a pressão em cada ponto do corpo experimentalmente e encontrou resultados semelhantes para a distribuição de pressão no corpo de Ahmed com a inclinação traseira de 30º, onde foi possível comparar que a pressão é alta na face frontal, menor nos cantos onde existem grandes acelerações e a queda brusca do coeficiente de pressão no início da inclinação. 37 5.2.2. Caso 2 Na análise do automóvel o número de Reynolds utilizado foi de 3,1x106 com velocidade de 72 km/h, os coeficientes aerodinâmicos foram monitorados obtendo um coeficiente de arrasto de 0,2704 e o coeficiente de sustentação de 0,0251, ilustrados na tabela 5.2. Tabela 5.2 – Coeficientes de arrasto e sustentação Caso 2. Coeficientes Numérico Numérico (WANG et al., 2017) 𝑪𝑫 0,2704 0,235 𝑪𝑳 0,0251 0,039 Fonte: O Autor Os resultados demonstrados na tabela 5.2 podem ser comparados com os encontrados em Wang et al. (2017) que utilizaram um Reynolds de 4,3x106 com velocidade de 120 km/h. Os coeficientes de arrasto e sustentação mostram uma diferença de aproximadamente 15% no 𝐶𝐷 e 25% no 𝐶𝐿. Essa variação pode ter origem com a qualidade de malha, na configuração utilizada durante as simulações ou também no modelo do automóvel estudado, pois suas características em alguns pontos são diferentes do oficial, como as rodas, altura do solo, entre outros. Esses coeficientes de arrasto e sustentação são resultados da distribuição de pressão sobre o veículo, demonstrada na figura 5.11. Figura 5.11 – Curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície no modelo do caso 2. Fonte: O Autor 38 Na figura 5.11, a curva mostra o desenvolvimento do coeficiente de pressão na linha de simetria do automóvel, demonstrando um comportamento próximo do encontrado em Wang et al (2017). Os maiores coeficientes pressão acontecem na parte frontal e na base do vidro frontal, e os menores coeficientes se iniciam no teto do veículo. Na região traseira aconteceu um aumento do coeficiente e em seguida uma queda brusca devido a desaceleração do fluido e a separação da camada limite. 5.2.3. Caso 3 Neste caso o veículo em análise é o mesmo que o caso 2, porém executou-se a adição de um spoiler na região traseira (figura 4.5). A tabela 5.3 mostra os resultados dos coeficientes de arrasto e sustentação para o caso 3, observou-se que houve uma diminuição do coeficiente de arrasto e um aumento no coeficiente de sustentação em relação ao caso 2. Também é ilustrada a distribuição de pressão deste caso na figura 5.12. Tabela 5.3 – Coeficientes de arrasto e sustentação Caso 3. Coeficientes Numérico 𝑪𝑫 0,2656 𝑪𝑳 0,0311 Fonte: O Autor Figura 5.12 – Curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície no modelo do caso 3. Fonte: O Autor 39 A curva do coeficiente de pressão ao longo da superfície no modelo do caso 3 ilustrada na figura 5.12, apresentou altos valores na região frontal e também na base do vidro, semelhante ao que aconteceu no caso 2. Após a adição do spoiler houve um aumento da pressão nessa região e logo em seguida uma queda, porém essa queda do coeficiente de pressão não foi tão relevante quanto ao do caso 2. 5.3. Discussões O estudo e as simulações através do corpo de Ahmed caso 1 serviram como ponto de partida e treinamento para dar continuidade do trabalho em um automóvel real. Dessa forma, as simulações realizadas para os casos 2 e 3 mostraram uma concordância com a teoria estudada. A tabela 5.4 compara valores encontrados para os casos 2 e 3, apresentando que o coeficiente de arrasto encontrado no caso 3 teve uma redução de aproximadamente 1,8% comparada com a do caso 2. O coeficiente de sustentação no caso 3 teve um aumento de aproximadamente 24% e como consequência obteve o aumento do downforce, logo, melhorando a estabilidade do veículo e sua performance em curvas. Tabela 5.4 – Comparação de coeficientes de arrasto e sustentação. Coeficientes Caso 2 Caso 3 𝑪𝑫 0,2704 0,2656 𝑪𝑳 0,0251 0,0311 Fonte: O Autor Como visto na figura 3.6, os coeficientes aerodinâmicos são fortemente afetados devido aos designs dos automóveis e o coeficiente de arrasto em carros comuns ficam na faixa de 0,30 e 0,40. Portanto nesta análise, estamos falando de um automóvel com performance elevada quando comparado com outros carros, com isso o aprimoramento de um veículo que já possui uma boa aerodinâmica fica cada vez mais difícil, mesmo assim foi possível obter uma diminuição do arrasto com a utilização de um auxiliar aerodinâmico. Pode-se observar que nas distribuições de pressão, velocidade e linhas de corrente apresentadas no caso 2 demonstrou um comportamento similar até a região do spoiler apresentada no caso 3, mas na região de esteira nota-se a influência do auxiliar aerodinâmico, que modificou o escoamento tornando-o mais suave e menos turbulento. A figura 5.13 40 exemplifica com clareza a comparação das linhas de corrente e os vórtices formados na região traseiras dos casos 2 e 3. Repara-se que a separação do escoamento do caso 2 gerou uma recirculação de vórtices mais intensa que o caso 3, acarretando um maior coeficiente de arrasto. Sendo assim, com essa intensidade maior dos vórtices ocasiona sobre o sistema maior diferença de velocidade sobre a superfície, sendo está uma justificativa para o modelo com o uso do spoiler proporcionar um menor coeficiente de arrasto, apresentando um escoamento mais uniforme e suave. Figura 5.13 – Comparação das linhas de corrente caso 2 e 3. Fonte: O Autor A figura 5.14 apresenta um comparativo do coeficiente de pressão dos casos 2 e 3. Como pode ser observado após a adição do spoiler o coeficiente de pressão nessa região teve um aumento e não houve uma queda significativa, pois o início do descolamento da camada limite se tornou mais lento. Dessa forma, ocorreu o aumento da sustentação pelo fato de que a força normal aplicada sobre a superfície da região traseira é maior com o uso do spoiler e desse modo o caso 3 obteve maior downforce se comparado com o caso 2. Geralmente, o aumento do downforce provoca um aumento de arrasto e de tal modo aumentando o consumo de combustível porem, nesta análise, com a utilização deste auxiliar aerodinâmico, ocorreu uma diminuição do arrasto. Sendo assim, o uso do spoiler mostrou-se vantajoso, mas um próximo passo importante é desenvolver uma abordagem que pudesse calcular o quanto essas mudanças do arrasto e sustentação com a adição do spoiler influenciaram no consumo de combustível do veículo. 41 Figura 5.14
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