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Raphaela Carvalho – 2024.2 Aula 04 – Patologias da Tireoide A tireoide é um órgão lobular – dividido em lobo direito, esquerdo, piramidal* e istmo – localizado acima da cartilagem cricóide da laringe. É um órgão que tem uma função endócrina responsável pela produção de T3(tri-iodotironina) , T4 (tiroxina) e calcitonina. *o lobo piramidal está presente somente em algumas pessoas, não é muito comum. Esses hormônios agem a nível sistêmico estimulando receptores nucleares, gerando um complexo hormônio-receptor que regula transcrições genéticas. Portanto, a tireoide promove a ativação do metabolismo celular, induzindo ao catabolismo de carboidratos e lipídios e promovendo a síntese proteica. A nível histológico, conseguimos observar 3 tipos celulares presentes na tireoide: • Colóide: nele está contida a tireoglobulina e a tireoperoxidase (enzima que catalisa o iodeto em iodo) • Células foliculares: produzem a tireoglobulina. Maioria dos tumores surgem a partir dessas células. • Células parafoliculares/C: células neuroendócrinas que produzem calcitonina. MÉTODOS DE AMOSTRAGEM 1º: Dosagem sorológica de hormônios tireoidianos. Objetivo: detectar hipo ou hipertireoidismo ou estados subclínicos. Os hormônios dosados são TSH, T3 e T4 total ou livre, TRH, Anticorpos, Tireoglobulina e Calcitonina. 2º: USG com doppler. Objetivo: investigação de lesão nodular ou cística de tireoide. É utilizado um sistema de classificação, chamado classificação de chamas, para determinar o padrão de vascularização tecidual. A USG guia a Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) ⇒ principal exame de amostragem p/ rastreio de lesões benignas ou malignas. 3º: Cintilografia. Objetivo: avaliar a atividade metabólica do tecido tireoidiano. Lesões potencialmente neoplásicas podem se apresentar nesse exame como massas ou formações císticas, havendo, então, a necessidade de amostragem pela PAAF guiada por USG que obtém o conteúdo dessa lesão de maneira minimamente invasiva. Com o conteúdo aspirado vai ser feita uma lâmina de esfregaço e em alguns casos pode ser feita a confecção de bloco celular. 4º: Amostragem parcial/biopsia incisional/biopsia por agulha grossa/lobectomia segmentar. NÃO é feito comumente porque outros exames menos invasivos já conseguem definir diagnóstico e conduta. Com o material colhido na PAAF é feita a lâmina e são avaliados critérios morfológicos das células a partir do SISTEMA DE BETHESDA para classificação dos exames citológicos de tireoide ⇒ PADRÃO OURO . Importante: exame citológico não diferencia neoplasia folicular maligna de benigna, mas o estágio IV confere um risco de 30% de malignidade. PATOLOGIAS NÃO NEOPLÁSICAS • HIPERTIREOIDISMO: a causa mais comum atualmente é a Tireoidite de Hashimoto e a Doença de Graves. Pode ser dividido em primário e secundário. É caracterizada pelo aumento na produção hormonal ou na resposta a eles ou até mesmo por ativação dos receptores por outros mecanismos. O quadro clássico está relacionado a tireotoxicose e tem como manifestação: agitação, irritabilidade, calor ou sudorese excessiva, taquicardia, velocidade de trânsito intestinal aumentada, insônia, tremores, queda de cabelo, fraqueza muscular, etc. A tireotoxicose é um estado hiper metabólico causado por altos níveis de T3 e T4 circulantes. Como essa condição geralmente é causada pelo estado hiperfuncionante da tireoide, é frequentemente associada ao hipertireoidismo. Assim, podemos concluir que o hipertireoidismo é somente a causa mais comum da tireotoxicose. Outras causas que não estão relacionadas ao hipertireoidismo são: tireoidite granulomatosa, tireoidite Linfocítica subaguda, teratoma ovariano com tireoide ectópica, etc. A doença de Graves é caracterizada pela tríade: TIREOTOXICOSE DERMOPATIA OFTALMOPATIA INFILTRATIVA Tireotoxicose – aumento difuso e hiperfuncional da tireoide. Oftalmopatia – exoftalmia. Dermatopatia infiltrativa – mixedema pré-tibial. Importante: os níveis de TSH podem estar normais porque sua liberação é modulada a depender dos níveis de T3, T4 e TRH. Quando existe uma produção insuficiente de T3 e T4 o TSH aumenta p/ tentar compensar e o contrário também é verdadeiro → isto caracteriza tanto o hipo quanto o hipertireoidismo subclínico, onde os níveis de T3 e T4 se encontram normais justamente pela regulação feita pelo TSH. A doença de graves ocorre mais em mulheres entre 20-40 anos, pode estar relacionada a fatores psicossomáticos e os sintomas iniciais estão relacionados ao hipertireoidismo. Podem estar presentes alguns anticorpos como: anti receptor de TSH, anti Igs estimulantes do crescimento da tireoide e anti Igs inibidoras da ligação de TSH. A nível microscópico observamos hiperplasia e hipertrofia: aumento no número de folículos tireoidianos e do número de células foliculares. • HIPOTIREOIDISMO: suas atuais causas principais são hipotireoidismo congênito e cretinismo tardio. O congênito pode ser causado por desde malformações do órgão até a síntese inadequada dos hormônios ou deficiência de iodo. Nas primeiras semanas de vida o bebê é assintomático devido aos hormônios tireoidianos maternos que ainda estão na sua circulação, o que faz com que o diagnóstico seja tardio. Devido as suas funções, a deficiência hormonal pode gerar danos irreparáveis no desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Atualmente é feito teste de Guthrie (teste do pezinho) como teste de rotina no período perinatal. O cretinismo tardio é gerado por uma deficiência de iodo na primeira infância (até os 6 anos). O quadro de hipotireoidismo é clinicamente denominado mixedema, tendo como sinais e sintomas: fadiga, apatia, letargia, alterações de humor, constipação, pele fria, bradicardia, sensação térmica de frio, queda de pelos, unhas quebradiças, aumento de LDL e colesterol e edema c/ acúmulo de componentes da MEC (edema firme) que pode acometer inclusive as cordas vocais causando mudança no timbre. O bócio difuso e multinodular é decorrente da síntese inadequada dos hormônios tireoidianos, sendo uma das causas mais frequentes antigamente a deficiência de iodo. Nos locais onde há pouca oferta de iodo na alimentação observamos o bócio endêmico, que é cada vez menos visto. Na grande parte dos locais observamos, com um aumento cada vez maior de frequência, o bócio idiopático (causa indeterminada) → investigação. Fisiopatologia: a deficiência de iodo causa um acúmulo de tireoglobulina no colóide, promovendo uma hipertrofia de folículos tireoidianos. Essa deficiência de iodo vai diretamente impedir a formação de T3 e T4, levando a um aumento reflexo do TSH que vai estimular a hiperplasia (maior nº) das células foliculares. Esse padrão de hipertrofia e hiperplasia configura o bócio difuso!!! No caso de bócio endêmico ele pode ser revertido parcialmente com o aumento da ingestão de iodo. Parcialmente porque o padrão que era difuso agora torna-se multinodular. Macroscopicamente diferenciamos os dois tipos de bócio pela formação de septos fibrosos no tecido, organizando os nódulos. Fora essa característica, eles são iguais. MICRO: Clinicamente, o bócio pode representar um diagnóstico diferencial de neoplasia tireoidiana, até pelo fato de ser um fator de risco para o seu desenvolvimento (1-5%). Pode ser feito exame citológico para acompanhar a sua evolução devido a esse fator de risco importante. Em muitos caos é feita a tireoidectomia radical, mas somente a presença do bócio não é uma indicação. • TIREOIDITES: as tireoidites em geral são decorrentes de processos imunomediados podendo ou não estar relacionado a doenças sistêmicas. A tireoidite infecciosa particularmentetem relação a manipulação local prévia ou com a progressão de uma doença de outro sítio que por via hematogênica chegou até a tireoide. Geralmente tem etiologia viral, mas também pode ter bacteriana (principalmente quando estamos falando de procedimentos invasivos). A tireoidite de Hashimoto ou Linfocítica é uma destruição gradual e autoimune do tecido tireoidiano, levando a uma insuficiência hormonal. É a causa mais comum de hipotireoidismo, mas inicialmente observa-se um hipertireoidismo transitório. No caso da tireoidite de Hashimoto é o diagnóstico é feito através da dosagem de anticorpos antitireoglobulina e antiperoxidase tireoidiana. Ocorre mais em mulheres entre 45-65 anos, geralmente portadoras de alguma outra doença autoimune (lúpus, DM I, sd. de Sjogren, esclerodermia, linfoma não Hodgkin), podendo ter tendência familiar. Pode-se manifestar por aumento e endurecimento do órgão de maneira progressiva, e tem relação com o desenvolvimento de carcinoma tireoidiano. Características: tamanho aumentado, coloração pardo acinzentada e de consistência firme. A micro das tireoidites tem algumas características peculiares, como: folículos tireoidianos atróficos (diminuídos de tamanho e com pouco ou nenhum coloide), metaplasia de células foliculares (citoplasma amplo e eosinofílico c/ células de Hurthle) e folículos linfoides ativados (centros germinativos pálidos c/ linfócitos periféricos). A tireoidite granulomatose subaguda também é conhecida como tireoidite de Quervain e pode cursar como hiper ou hipotireoidismo. Assim como na de Hashimoto, também acomete preferencialmente mulheres, mas aqui entre 30-50 anos. Acontece após um processo viral em qualquer lugar do corpo que desencadeia um processo imunomediados por linfócitos, ocasionando uma destruição do tecido tireoidiano. Essa destruição é feita por histiócitos e células gigantes, contudo é um processo autolimitado que regride espontaneamente. No início ocorre uma liberação e ativação da tireoglobulina, levando a um quadro de hipertireoidismo transitório. Posteriormente, há uma diminuição do colóide, levando ao hipotireoidismo autolimitado. A tireoidite de Riedel é uma das manifestações da Doença Relacionada ao IgG4, que cursa com intensa fibrose secundária a mediação inflamatória modulada pelo IgG. Pode ocorrer em outra partes do corpo como o retroperitônio. Causa aumento do volume e da consistência do órgão e aderência as estruturas adjacentes, simulando clinicamente uma neoplasia. PATOLOGIAS TIREOIDIANAS NEOPLÁSICAS • ADENOMA FOLICULAR É uma neoplasia benigna originada nas células foliculares. Não costumam ser metabolicamente ativos, gerando imagem de nódulo frio na cintilografia. Esses nódulos são sólidos, solitários, encapsulados, bem delimitados, de coloração semelhante ao tecido tireoidiano (castanho) ou brancacento. Microscopicamente, pode apresentar atipias celulares focais e ao exame citológico não é possível distinguir do carcinoma folicular pois ambos apresentam o padrão de microfolículos. Portanto, apenas olhando não é possível diferenciar se o tumor folicular é maligno (carcinoma) ou benigno (adenoma). Segundo o critério de Bethesda, caso seja achada uma neoplasia folicular não podemos classifica-la como benigna ou maligna apenas com exame citológico/PAAF. Porém, só de achar uma neoplasia já tem o risco de até 30% dela ser maligna. O que vai diferenciar esses tumores vai ser a presença ou não de invasão capsular e dos vasos sanguíneos. Havendo essas duas características, está diagnosticado o tumor carcinoma de células foliculares. Essa diferenciação é feita somente no exame do espécime cirúrgico em bloco de parafina. MACRO adenoma: MICRO adenoma: CONDUTA: presença de nódulo tireoidiano → PAAF guiada com USG → resultado de neoplasia → retirada CIRÚRGICA da lesão para avaliação da cápsula tumoral. • CARCINOMA FOLICULAR É responsável por 5-15% das neoplasias malignas da tireoide, pode estar relacionado ao bócio endêmico e é mais incidente em mulheres. Pode se disseminar tanto por estruturas peritireoidianas por contiguidade ou por via hematogênica. MUTAÇÃO: RAS, PI3K e PTEN • CARCINOMA PAPILÍFERO Corresponde a maior parte das neoplasias malignas da tireoide (cerca de 85%), apresenta características que o tornam possível de ser identificado no exame citológico/PAAF(alta sensibilidade). Está mais relacionado a mulheres próximas a 5ª década de vida, é mais agressivo que o carcinoma folicular, apresenta relação direta com exposição a radiação ionizante e a tireoidite de Hashimoto. Costuma acometer tecidos peritireoidianos e se dissemina via linfática, dando metástase em linfonodos cervicais principalmente. MUTAÇÃO: RET/PTC e BRAF. MACRO: Como seu próprio nome diz, esse tumor tende a formar papilas, mas não é uma característica obrigatória. Tem coloração pálida ou pardo clara, pode ter áreas císticas ou hemorrágicas, e sua delimitação varia. MICRO: Papilas com eixo fibrovascular; alterações nucleares: sobreposição, vidro fosco (órfã annie), pseudo-inclusões, fendas intra-nucleares; e corpos psamomatosos (pequenos grãos arroxeados). Existem algumas variantes do carcinoma papilífero. São elas: 1. Variante folicular: não forma papila, é análogo a um adenoma folicular (não tem invasão capsular). 2. Variante de células altas: é mais raro, porém mais agressivo que os demais carcinomas papilíferos. 3. Microcarcnioma papilífero: constitui tumor menor que 10mm. Tem ótimo prognóstico. • CARCINOMA MEDULAR É uma neoplasia neuroendócrina derivada das células C parafoliculares (produtoras de calcitonina – importante no diagnóstico e pós-op) Deposição de ptn amilóide • CARCINOMA ANAPLÁSICO São tumores indiferenciados do epitélio folicular, costumam ser bastante agressivos (crescimento rápido, extensão extra-tireoideana e metástase pulmonar) e tendem a aparecer em pacientes mais idosos. MUTAÇÃO: RAS, PI3K e PTEN
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