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Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria → Campbell (1986) – psicopatologia: ramo da ciência que trata da natureza essencial da doença ou transtorno mental (causas, mudanças estruturais e funcionais associadas a ela ou as suas formas de manifestação) → Não há julgamento moral → busca-se a observação, identificação e compreensão dos elementos do transtorno mental (TM) → Não é uma verdade pronta e intocável → requer, permanentemente, revisões, críticas e reformulações → É uma ciência autônoma; não se resume a uma ciência natural dos fenômenos relacionados com áreas associativas do cérebro lesado → Para Karl Jaspers: ciência básica que serve de auxilio à psiquiatria e à psicologia clínica • Limites da psicopatologia: consistem precisamente em nunca se poder reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos • Na pratica profissional somam-se ainda as opiniões instintivas/ intuição pessoal → Sintomas psicopatológicos têm dois aspectos básicos: FORMA e o CONTEÚDO • Forma: estrutura básica → alucinação, delírio, ideia possessiva, fobia • Conteúdo: o que preenche a alteração estrutural → conteúdo de culpa, religioso, de perseguição, etc. • De acordo com Karl Birbaum, a forma dos sintomas se relaciona com a patogênese – processo de como os diferentes sintomas da psicopatologia se formam e se estruturam → CORRENTES DA PSICOPATOLOGIA: • Psicopatologia descritiva: descrição das formas de alterações psíquicas, da estrutura dos sintomas. • Psicopatologia dinâmica: conteúdo das vivencias, movimentos internos de afetos, desejos e temores do indivíduo, sua experiencia pessoal, não sendo necessariamente classificável em sintomas previamente descritos • Psicopatologia médica: trabalha com a percepção do ser humano centrada no biológico | adoecimento mental → mau funcionamento do cérebro (desregulação) • Psicopatologia existencial: paciente visto como biológico em sua dimensão elementar, mas também histórico e humano, sendo construído das experiencias particulares | TM visto como um modo particular de existência, um destino construído pelo ser de forma dolorosa • Psicopatologia comportamental e cognitivista: ser humano é um conjunto de comportamento observáveis, e este se baseia em leis e determinantes do aprendizado; a perspectiva cognitivista tem foco na cognição de cada indivíduo, sendo estas essenciais para o funcionamento normal ou patológico da mente • Psicopatologia psicanalista: ser humano é sobredeterminado, dominado por aspectos inconscientes | sintomas e síndromes mentais são considerados formas de expressão de conflitos, em sua maioria inconscientes, desejos não realizados e temores. (psicanálise: afetos dominam o psiquismo) • Psicopatologia categorial: doenças mentais especificas podem ser compreendidas como entidades completamente individualizadas, com contornos bem demarcados, essa configuração determinaria as categorias diagnosticas diferentes e discerníveis em sua natureza básica • Psicopatologia dimensional: há dimensões/ espectros, incluindo as diferentes formas da doença • Psicopatologia biológica: enfatiza os aspectos cerebrais, neuroquímicos e neurofisiológicos, onde as doenças e sintomas mentais são decorrentes de alterações de mecanismos neurais e de áreas e circuitos cerebrais • Psicopatologia sociocultural: transtornos surgem de comportamentos desviantes que tem origem em fatores socioculturais como pobreza, estresse, discriminação, etc. • Psicopatologia operacional-pragmática: as definições de transtornos mentais e sintomas são formuladas em função de sua utilidade clínica ou orientadas à pesquisa. Nesse modelo, não se questiona a natureza do sintoma ou doença, nem fundamentos filosóficos | modelo utilizado no DSM- 5 e CID-11 • Psicopatologia fundamental: centra a pesquisa psicopatológica nos fundamentos históricos, tradições literárias, artísticas e de outras áreas humanísticas e não apenas na tradição médica. Tem ênfase na doença mental como “pathos” – sofrimento, paixão e passividade Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria → CRITÉRIOS DE NORMALIDADE – depende de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional e da instituição de saúde • Normalidade como ausência de doença: indivíduo que não é portador de um transtorno mental definido → falho e precário – baseia-se em uma definição negativa, define-se a normalidade por aquilo que lhe falta • Normalidade ideal: normalidade utópica, baseada em uma norma ideal e que depende de critérios socioculturais, ideológicos arbitrários e, às vezes, dogmáticos e doutrinários • Normalidade estatística: o normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência, indivíduos que se encontram fora da curva de distribuição normal → anormais ou doentes − Critério falho → nem tudo que é frequente é necessariamente saudável e nem tudo que é raro, é patológico • Normalidade como bem-estar: OMS – saúde como completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença → muito amplo e utópico • Normalidade funcional: baseia-se em aspectos funcionais e não quantitativos → o fenômeno é patológico quando é disfuncional e produz sofrimento para o próprio individuo ou para seu grupo social • Normalidade como processo: considera-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises e de mudanças nos períodos etários • Normalidade subjetiva: percepção subjetiva do próprio individuo em relação ao seu estado de saúde → falho, pois muitas pessoas se consideram bem e saudáveis, mesmo apresentando um transtorno mental grave (ex: fase maníaca do transtorno bipolar) • Normalidade como liberdade: doença mental como perda da liberdade existencial • Normalidade operacional: critério arbitrário e com finalidades pragmáticas explicitas, busca-se definir o que é normal e o que é patológico − CID e DSM emprega critérios operacionais e pragmáticos na definição de transtornos mentais → AVALIAÇÃO DO PACIENTE: a psicopatologia descritiva tem como base o conceito filosófico da fenomenologia, que é um método de investigação, onde se direciona a atenção para os fenômenos propriamente ditos, sem juízos de valor → Tem por base a entrevista psiquiátrica (anamnese), exame físico (deve ser realizado, uma vez que indivíduos com transtorno mental tem um risco elevado de problemas físicos, que muitas vezes são negligenciados na avaliação), exame do estado mental e exames complementares → ANAMNESE: identificação, fonte e grau de confiabilidade (dados revisados e confirmados por terceiros) dados sociodemográficos, queixa/ problema principal, antecedentes familiares (histórico de psicoses, alcoolismo, epilepsia, abuso de drogas, suicídio, consanguinidade, adoção, etc.), antecedentes pessoais (história do desenvolvimento desde a infância, rendimento escolar, presença de doenças, história sexual de cada etapa da via [infância, adolescência, vida adulta], relação com trabalho, conflitos, modificações psicofisiológicas, perda de amigos e familiares, etc.) traços de personalidade pré-mórbida (atividades, hobbies, afetividade, irritabilidade, autoconfiança, emotividade, autonomia, traços constitucionais, traços de temperamento, etc.) constelação familiar e ambiental (situação da famílias, pais casados, separados, abandono do lar, família de origem, família nuclear, filhos, condições de residência), ambiente social e dia ambiental (descrever um dia comum na vida do paciente ) → EXAME DO ESTADO MENTAL (EEM): é o exame físico psiquiátrico que explora todas as áreas de funcionamento mental e mostra evidências de sinais e sintomas de doenças mentais. Os dados são obtidos por meio da observação e questionamentos ao longo de toda a entrevista, considerando o que o paciente está vestindo e sua apresentação geral. É útil nas visitas subsequentes para comparar e monitorarmudanças ao longo do tempo. Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria • A avaliação cognitiva mais comum é o Miniexame do Estado Mental (MEEM), que não deve ser confundido com o EEM global. → ASPECTO GERAL: aparência, tipos de vestes, acessórios, maquiagens, perfumes, odores, marcas corporais, atitude em relação ao terapeuta • Comunicação não verbal: mimica da face, movimentos da boca, postura, gestos, tom e qualidade de voz, marcha, olhar → CONSCIENCIA: estado de ciência que o indivíduo tem em relação a si a ao meio. Caracteriza-se por: apresentar vivencia interna, ter relação com a distinção do eu/não eu, ter intencionalidade (dá significado às coisas, ser reflexiva (refletir sobre os próprios conteúdos psíquicos) Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria • Vigilância ou nível de consciência – relacionado com as capacidades neurofisiológicas → possibilitam o estar em vigília, alerta e com o sensório claro − Alterações: rebaixamento do nível de consciência – alteração quantitativa: obnubilação, torpor e coma; em casos leves, pode-se observar sonolência patológica • Lucidez da consciência: estado claro da consciência, diferente do sono e do coma → processos psíquicos experimentados na intensidade adequada • Campo da consciência: dimensão horizontal da consciência, relacionada a quantidade de conteúdos abarcados em determinado momento → ATENÇÃO: é a direção da consciência e depende do interesse que o indivíduo tem em determinado objeto, ou seja, é concentração da atividade mental sobre determinado ponto, traduzindo esforço mental. A atenção pode ser voluntária (ativa e intencional – capacidade de ler um livro, por exemplo) ou espontânea (por algum interesse incidental – capacidade de parar de ler o livro para focar em algum barulho que acontece no momento). A vigilância refere-se ao estado de alerta difuso para estímulos vindos do ambiente, e tenacidade é definida pela concentração da atenção ou foco da consciência em determinado estímulo. • Euprosexia: estado de atenção normal. • Hipoprosexia: diminuição global da atenção. • Hiperprosexia: estado de atenção exacerbada. • Aprosexia: abolição total da capacidade de atenção. • Distração: atenção voltada, demasiadamente, a algum estímulo específico, com diminuição da atenção espontânea. Observa-se uma hipertenacidade associada a uma hipovigilância. Encontra- se em quadros obsessivos e síndromes depressivas. • Distraibilidade: atenção afastada com demasiada rapidez do estímulo específico, com diminuição da atenção voluntária, ou seja, a atenção é facilmente desviada, há dificuldade para se fixar em um objeto. Apresenta hipotenacidade e hipervigilância, podendo ser observado em estados maníacos, uso de anfetaminas e situações de intensa ansiedade. → ORIENTAÇÃO: é a capacidade de ter consciência sobre a situação real em que nos encontramos, situar- se quanto a si mesmo (orientação autopsíquica) e quanto ao ambiente (orientação alopsíquica). A orientação alopsíquica é dividida em orientação temporal e espacial. Em geral, o 1º sentido de orientação perdido é o do tempo; depois, o do espaço, que envolve deslocamento e localização e, num estado mais grave, a “desorientação do próprio eu” (identidade e corpo). Existem vários tipos de desorientação, segundo a alteração de base que a condiciona: desorientação torporosa, por deficit de memória, desorientação esquizofrênica e dissociativa. → SENSOPERCEPÇÃO: a sensação é um fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos ou biológicos variados, que produzem alterações nos órgãos receptores. Percepção é a tomada de consciência do estímulo sensorial. Podem ocorrer: • ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS: − Hiperestesia: ocorre nas intoxicações por alucinógenos e alguns tipos de epilepsia. − Hipoestesia: observada em alguns quadros depressivos. − Anestesia: é a abolição de todas as formas de sensibilidade. • ALTERAÇÕES QUALITATIVAS: incluem: − Ilusão: é a percepção alterada de um objeto real e presente, uma interpretação errônea do que existe. Ocorre em três condições: rebaixamento do nível de consciência, fadiga grave e esgotamento afetivo. − Alucinação: é a percepção real de um objeto inexistente, sem que este objeto esteja presente. Podem ser classificadas em: auditivas (há sonorização do pensamento, quando o paciente ouve os próprios pensamentos - há publicação do pensamento, quando o paciente sente que as pessoas escutam o que ele pensa), visuais, táteis, olfativas/gustativas, cenestésicas (sensações anormais no corpo, como sentir que “a cabeça está encolhendo”), cinestésicas (alucinações de movimentos, como o “corpo flutuando”), e sinestésicas (envolvem mais de um sentido). Podem ser caracterizadas também alucinações funcionais, isto é, que são desencadeadas por estímulos sensoriais, como o paciente que ouve vozes ao abrir o chuveiro; e alucinações visuais extracampinas, definidas por ocorrerem fora do campo visual. Outras alterações da sensopercepção incluem pareidolias (ver imagens em lugares inusitados), Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria heautoscopias (ver seu corpo fora de si) e alucinações hipnagógicas (ao adormecer) e hipnopômpicas (ao despertar). − Pseudoalucinação: são alucinações menos nítidas, não apresentam aspectos vivos e corpóreos. Ocorrem em casos de psicoses, intoxicações ou estados afetivos intensos. − Alucinose: quadros alucinatórios sem perda de consciência da realidade, o paciente percebe a alucinação como estranha à sua pessoa. Podendo ocorrer em casos de alcoolismo. − Despersonalização: paciente tem sensação de que seu corpo não lhe pertence. − Desrealização: o ambiente ao redor parece estranho e irreal. → MEMÓRIA: capacidade de registrar, manter e evocar fatos passados, e está intimamente relacionada com o nível de consciência, atenção e interesse afetivo. Possui 4 funções: percepção (percepção dos fatos e atitudes e reconhecimento psíquico), fixação (capacidade de gravar imagens na memória), conservação (tudo que é guardado na memória pelo resto da vida) e evocação (atualização dos dados fixados, porém nem tudo pode ser evocado). Pode ser dividida em memória imediata (capacidade de reter a informação imediatamente após ser percebida), recente ou de curto prazo (capacidade de reter a informação por um período curto, de minutos a uma hora) e remota ou de longo prazo (capacidade de evocação de acontecimentos ocorridos no passado, após meses ou anos). É avaliada quando a rapidez, precisão e cronologia das informações oferecidas pelo paciente. • ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS: − hipermnésia, relacionada a uma ac eleração psíquica global; − hipomnésias e amnésias: classificadas em psicogênicas ou orgânicas. Podem ser anterógrada (paciente não consegue fixar memória a partir do evento que causou o dano cerebral, avalia-se perguntando “o que você fez hoje?” ou dizer um número de 5 algarismo e perguntar após minutos) ou retrógrada (perda da capacidade de evocação, perda da memória para fatos ocorridos antes do trauma, avalia-se perguntado sobre o passado do paciente e data de acontecimentos importantes). Pode também haver amnésias lacunares (ou seletivas). • ATERAÇÕES QUALITATIVAS (paramnésias): lembranças deformadas que não correspondem à sensopercepção original. Os principais tipos são ilusões mnêmicas (acréscimo de elementos falsos a uma lembrança verdadeira), alucinações mnêmicas (criações imaginativas) e confabulações (dados fantasiosos que preenchem vazios de memória) - podem ocorrer na síndrome de Korsakoff (síndrome neuropsiquiátrica devido a carência de vitamina B1 – tiamina) e criptomnésias (registros de memória que aparecem como se fossem ideias novas). Fenômenos de déjà vu (já visto) e jamais vu (jamais visto) também são caracterizados como alterações qualitativas. → AFETIVIDADE: é o que dá o tom a todas as vivências humanas, inclui sentimentos, ânimo, humor, emoção e paixões. Determina a atitude geraldo indivíduo, promove impulsos motivadores e inibidores, determina sentimentos que oscilam entre 2 polos: depressão e euforia. Observados através da expressão facial, tom de voz e movimentos corporais. Divide-se em: • HUMOR: é um estado de ânimo, tônus afetivo do indivíduo em um determinado momento. As alterações são: − Eutimia: humor normal; − Distimia: alteração do humor, tanto no sentido de inibição (hipotimia) quanto de exaltação (hipertimia). Não confundir o sintoma distimia com o transtorno distimia, que é um transtorno depressivo leve e crônico; Hipertimia: humor elevado, euforia. É uma excitabilidade afetiva em que ocorre uma reação emocional desproporcional ao estímulo. Hipotimia: humor diminuído, depressão. É um estado de apatia e redução global das emoções. − Humor triste e ideação suicida: ideias relacionadas à morte, ideias suicidas, planos e tentativas de suicídio devem ser sempre avaliadas com cuidado em pacientes com o humor deprimido; − Disforia: irritabilidade, mau humor. − Irritabilidade patológica: hiperreatividade desagradável, hostil e, eventualmente, agressiva a estímulos do meio exterior; − Ansiedade: estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro. Outras alterações afetivas: • AFETO: é o tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental. − Labilidade afetiva: estado de instabilidade emocional com mudanças súbitas e imotivadas do humor. O indivíduo oscila de forma rápida e inesperada de um estado afetivo para outro, sem conter suas reações afetivas; Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria − Ambivalência afetiva: coexistência de estados emocionais incompatíveis, simultâneas e caracteristicamente esquizofrênica; − Ambitimia: refere-se aos estados de simultaneidade de sentimentos opostos, conflituosos, porém sem que haja cisão da personalidade; − Puerilismo: estado de regressão ao comportamento infantil, que pode ocorrer em quadros hebefrênicos (próprio do adolescente) ou dissociativos; − Paratimia: inadequação afetiva do esquizofrênico com reações emocionais incompreensíveis ou paradoxais; − Neotimia: surgimento repentino de sentimentos novos, inusitados, vivenciados por pacientes esquizofrênicos. São afetos muito estranhos e bizarros para a própria pessoa que os experimenta; − Embotamento afetivo: perda de todo tipo de vivência afetiva. Há ausência dos nexos afetivos devido a lesão cerebral, em quadros autísticos e nos quadros de esquizofrenia com sintomas negativos. − Apatia: diminuição da excitabilidade emotiva e afetiva. O paciente torna-se hiporreativo. Estado afetivo próprio dos quadros depressivos; − Hipomodulação do afeto: incapacidade do paciente de modular a resposta afetiva, indicando rigidez do indivíduo na sua relação com o mundo; − Anedonia: incapacidade de sentir prazer em atividades da vida antes prazerosas. É um sintoma central das síndromes depressivas, podendo também ocorrer em quadros esquizofrênicos. → PENSAMENTO: organização do fluxo das ideias. Permite a elaboração de conceitos, juízos, construção e solução de problemas, elaboração de ideias, transformação e criação. Deve ser avaliado quanto ao: • CURSO: aceleração (taquipsiquismo), lentificação (bradipsiquismo), aumento do tempo de latência da resposta e bloqueio do pensamento (súbita interrupção, que pode ser evidência de atividade alucinatória). Pode ocorrer também roubo do pensamento, que é uma vivência associada ao bloqueio do pensamento, na qual o indivíduo tem a sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente. • FORMA: − Fuga de ideias: pessoas afetadas mudam de assunto a todo instante, sem concluí-los ou dar continuidade. É uma forma extrema do taquipsiquismo, comum na mania. − Afrouxamento das associações: apesar de menos articuladas, as ideias ainda apresentam uma lógica; − Descarrilhamento: há mudança súbita do que se está falando, comum na esquizofrenia. − Arborização: perda da direcionalidade, sem conclusão do raciocínio, encontrada na mania; − Perseveração: dificuldade de mudança do tema, repetição dos mesmos conteúdos de pensamento, comum nas demencias; − Circunstancialidade: raciocínio do paciente “dá voltas em torno do tema”, sem entrar na questão essencial, pode ocorrer em casos de transtorno obsessivo-compulsivo; − Prolixidade: discurso detalhista, cheio de rodeios e repetições. Há introdução de temas e comentários não pertinentes ao que se está falando. − Interceptação ou bloqueio: há interrupção brusca do que vinha falando, e o assunto pode ser retomado como se não o tivesse interrompido, comum na esquizofrenia. − Desagregação: profunda e radical perda dos nexos associativos com total perda da coerência. − Outras alterações: tangencialidade, pensamento vago e concretude (dificuldade de abstração) do pensamento. • CONTEÚDO: as alterações do conteúdo dizem respeito ao tema do pensamento e podem estar associados com fobia, obsessões e delírios. − DELÍRIO: é uma convicção íntima e irremovível, contra qual não há argumento que se distancia da realidade compartilhada. Possui 3 aspectos: (1) incorrigibilidade, não há como modificar a ideia delirante por meio de correções; (2) influenciabilidade, o delirante pode influenciar a pessoa dita normal; (3) incompreensibilidade, não pode ser explicada logicamente. Podem ser: − DELÍRIO PRIMÁRIO ou VERDADEIRO – IDEIA DELIRANTE: são juízos patológicos falsos que ocorre com lucidez de consciência, não é consequência de qualquer outro fenômeno. Podem ser divididos em sistematizados e não sistematizados e incluem diversos tipos: persecutório, de autorreferência, de influência, de grandeza, místico, de culpa, de ruína e de ciúme. Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria − DELÍRIO SECUNDÁRIO – IDEIA DELIROIDE: é secundário à perturbação do humor ou situação afetiva traumática, existencial grave ou uso de droga. Há compreensão dos mecanismos que a originaram. − Outras alterações: humor delirante, paciente experimenta aflição e ansiedade intensas, como se algo terrível fosse acontecer, apresentando grande perplexidade e estranheza, caracterizando-se como um estado pré-delirante; percepções delirantes são atribuições de significados delirantes a percepções reais ou fatos ocorridos; cognições delirantes, em que um significado delirante se impõe à consciência, como uma espécie de intuição. Ideias sobrevaloradas ou prevalentes são aquelas em que ocorre uma distorção da realidade (que não chega a se configurar delírio), causada por uma predisposição afetiva. → LINGUAGEM: atividade humana fundamental na elaboração e expressão do pensamento. Processo dinâmico que se inicia na percepção e termina na palavra falada ou escrita, se modifica constantemente. • Alterações secundárias à lesão neurológica: AVC, tumores cerebrais, malformações vasculares etc. − Afasias: perturbações por danos cerebrais que implicam dificuldade ou incapacidade de compreender e utilizar os símbolos verbais. − Disartrias: má articulação das palavras. • Alterações associadas a transtornos psiquiátricos: − Logorreia e taquifasia: falar sem parar, podendo haver “pressão ao falar”. Frequente nos episódios maníacos; − Bradifasia: comum nos quadros depressivos, esquizofrenia com sintomas negativos e quadros demenciais; − Mutismo: forma verbal de negativismo, de tendência automática a se opor às solicitações do ambiente, no que concerne à resposta e à produção verbal. Observado em quadros de estupor catatônico ou depressivo grave. Pode haver também mutismo seletivo, de caráter psicogênico, e mutismo acinético, ou coma vígil; − Perseveração e estereotipia verbal: repetição automática de palavras ou trechos de frases, de forma quase mecânica, comum em alguns casos de esquizofrenia; − Ecolalia: repetição da última ou das últimas palavras que o entrevistador falou ao paciente, encontrada principalmente nos quadros de esquizofrenia catatônica; − Palilaliae logoclonia: repetição da última ou das últimas palavras que o próprio paciente falou, encontrada principalmente nos quadros demenciais; − Tiques verbais: produções de fonemas ou palavras de forma recorrente, imprópria e irresistível. A coprolalia é a emissão involuntária e repetitiva de palavras obscenas. São sintomas característicos da síndrome de Tourette; − Verbigeração: repetição de forma monótona e sem sentido aparente de palavras ou trechos de frases; − Mussitação: produção repetitiva de uma voz muito baixa, murmurada, sem significado comunicativo, o paciente “fala para si”. Verbigeração e mutismo são formas de automatismos verbais comuns na esquizofrenia; − Pararrespostas: respostas diferentes do que foi perguntado; − Neologismos: criação de palavras novas, desprovidas de sentido comum; − Jargonofasia: fala incompreensível, incoerente, ininteligível, também denominada salada de palavras. → VONTADE: é a disposição (energia) interior com o princípio de alcançar um objetivo (desejo) consciente e determinado, por meio do livre-arbítrio. Pragmatismo é a capacidade de exercer plenamente o ato volitivo. A vontade normal é normobúlico. • Hiperbulia: pacientes sentem-se dotados de poder e disposição extraordinários, tipicamente observada nos quadros maníacos. • Hipobulia: sentimento de completa impotência e tudo parece ser inalcançável, cansativo e desanimador, como nos casos de depressão. • Negativismo: oposição do indivíduo às solicitações do ambiente, há resistência automática e obstinada. Na forma ativa, o paciente faz o oposto ao solicitado; na forma passiva, o paciente simplesmente nada faz quando solicitado. Observado nos quadros catatônicos. • Sitiofobia: recusa sistemática de alimentos, pode estar associada a formas graves de negativismo; Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria • Obediência automática: reponde a solicitações repetidas e excessivas. Oposto ao negativismo, revela uma profunda alteração da atividade volitiva, na qual perde a autonomia e a capacidade de conduzir seus atos volitivos; • Sugestionabilidade patológica: concorda com tudo o que é dito, mesmo que sejam juízos contraditórios; • Dúvida patológica: duvida exageradamente do que quer; • Fenômenos em eco: o indivíduo repete de forma automática as palavras ou ações do entrevistador, denominadas ecolalia e ecopraxia, respectivamente. Frequentes nos quadros catatônicos e orgânicos. • Atos impulsivos - compulsão: ações automáticas súbitas e incoercíveis as quais o indivíduo tem dificuldade de resistir, como a dromomania (impulso de “fuga”), a piromania (impulsos incendiários), a cleptomania (impulso de furtar), a frangofilia (impulsos destrutivos), a dipsomania (embriaguez periódica) e as toxicomanias. • Outros: perversões alimentares, disfunções sexuais e parafilias. → PSICOMOTRICIDADE: é a execução do ato volitivo. • Hipercinesia: agitação psicomotora, há aceleração e exaltação de toda a atividade motora do indivíduo, e está comumente associada a hostilidade e heteroagressividade. • Hipocinesia: lentificação psicomotora, há inibição de toda a atividade psíquica, podendo haver um período de latência entre uma solicitação ambiental e a resposta motora. • Acinesia: inibição psicomotora, há perda de toda a atividade espontânea, caracteriza o estupor, que pode ser catatônico, maníaco, depressivo ou dissociativo. • Catatonia: ocorre a catalepsia (hipertonia com redução da mobilidade) e flexibilidade cérea (tendência do paciente a se manter na posição em que é colocado). • Cataplexia: é a perda abrupta do tônus muscular, geralmente acompanhada de queda; está presente na narcolepsia; • Estereotipias motoras: repetições automáticas e uniformes, realizadas mecanicamente muitas vezes em um mesmo dia. • Maneirismos: tipo de estereotipia motora, há movimentos bizarros, repetitivos e geralmente complexos. • Movimentos estereotipados: podem ser observados em pacientes esquizofrênicos. • Tiques motores e alterações da marcha também são considerados alterações da psicomotricidade. → CONSCIÊNCIA DO EU: capacidade de ter a consciência dos próprios atos psíquicos, a percepção do seu eu, como sujeito apreende a sua personalidade. Pode ser dividida em atividade, unidade, identidade e oposição do eu em relação ao mundo. • Alteração da atividade: suspensão da sensação normal do próprio eu, corporal e psíquico. Além disso, o paciente pode sentir que seus pensamentos são feitos e impostos por alguém ou algo externo. São também denominadas vivências de influência. • Alteração da unidade: indivíduo sente que é mais de uma pessoa ao mesmo tempo. • Alteração da identidade: paciente não reconhece a si próprio, podendo considerar que é outra pessoa, ou experimentar um sentimento de estranheza em relação a si próprio, este último chamado despersonalização. Frequentemente, apresenta-se associada ao fenômeno de desrealização, é caracterizada pela perda de relação da familiaridade com o mundo, no sentido de um estranhamento ao que era familiar. • Alteração da oposição do eu em relação ao mundo: desaparecem os limites entre o indivíduo e o mundo externo. Inclui vivências de publicação, sonorização, eco e roubo do pensamento. → INTELIGÊNCIA: capacidade de resolver problemas de qualquer natureza. A avaliação por meio de testes tem o objetivo de constatar se o paciente está dentro do padrão de normalidade, conseguindo resolver os problemas básicos da vida. Deve-se considerar o contexto sociocultural e a escolaridade do paciente, e as questões devem ser relevantes à sua bagagem cultural e educacional. Alguns testes são solicitar ao paciente que realize contas simples, que poderemos complicar à medida que ele responde corretamente. O pensamento abstrato é a capacidade para lidar com conceitos. Os pacientes podem explicar semelhanças e o significado de provérbios simples. Os principais quadros que são caracterizados por déficit intelectivo incluem o retardo mental e quadros demenciais Leticia S. Cordeiro | Psiquiatria → PROCEDIMENTOS COMPLEMENTARES: quando necessário ao diagnóstico. → Exames Laboratoriais e neuro-radiológicos: Liquor, eletroencefalograma, tomografia computadorizada, RX de Crânio e outros exames laboratoriais (ex. Gama GT, transaminases. pesquisa de substâncias psicoativas). → Testes psicológicos: Testes psicométricos, para avaliação de nível intelectual e de personalidade, para detectar traços de personalidade, conflitos. Dentre eles destacam-se os testes projetivos. → Escalas → MINI-EXAME MENTAL → Fontes adicionais de informação – família, amigos, escola, trabalho, clínicas... → IMPRESSÃO DO ENTREVISTADOR – a contra-transferência → SÚMULA: Resumir os dados obtidos durante a anamnese, agrupá-los em grupos de sintomas (síndrome) para a discussão do diagnóstico, prognóstico e elaboração do tratamento adequado. → DIAGNÓSTICO: Deverá ser feito com base na Classificação Internacional de Doenças (CID 10/ CID 11 ou DSM 5- Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais-5. O DSM-4 categorizava o diagnóstico em multiaxial, considerando cinco eixos, a saber: Eixo I – a patologia mental primária; Eixo II – a personalidade e o nível mental; Eixo III – comorbidade clínica; Eixo VI – fatores psicossociais desencadeantes ou mantenedores do quadro ; Eixo V – o funcionamento social: incapacitação nas AVD, habilidades, trabalho, competências e interesses. A qualidade de vida. → PROGNÓSTICO - Avaliação de gravidade do caso, com verificação de riscos específicos (sócio-familiar e/ou pessoal). → PLANEJAMENTO TERAPÊUTICO PERSONALIZADO- Estabelecimento das diretrizes de tratamento para o caso avaliado, direcionadas pelos problemas presentes e sintomas alvoscia e o insight
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