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Psicopatologia da orientação 1 🌌 Psicopatologia da orientação Created Tags Definições básicas Orientação é a capacidade de situar-se quanto a si mesmo e quanto ao ambiente. Desorientação autopsíquica → uma pessoa desorientada quanto a si mesma. Nome, idade, profissão, estado civil, com quem mora; Desorientação alopsíquica → uma pessoa desorientada quanto e quanto ao tempo (orientação temporal) e espaço (orientação espacial ou topográfica). Quando o paciente está desorientado em uma ou em todas essas dimensões da orientação, é frequente surgir concomitantemente a perplexidade. Os componentes da orientação não são necessariamente afetados de forma uniforme. A orientação autopsíquica pode estar alterada e a alopsíquica preservada, e vice-versa. Mesmo dentro da orientação alopsíquica, os distúrbios podem ser desiguais: orientação espacial normal, com orientação temporal prejudicada, por exemplo. @September 18, 2021 4:35 PM Psicopatologia da orientação 2 A capacidade de orientar-se requer, de forma consistente, a integração das capacidades de nível de consciência preservado, atenção, percepção e memória. Alterações de atenção e retenção (memória imediata e recente), moderadas ou graves, costumam resultar em alterações globais da orientação. Orientação alopsíquica Orientação espacial É investigada perguntando-se ao paciente o lugar exato onde ele se encontra, a instituição em que está, o andar do prédio, o bairro, a cidade, o estado e o país. Também é investigada a capacidade do indivíduo de identificar a distância entre o local da entrevista e sua residência (em quilômetros ou horas de viagem). Orientação temporal Essa orientação é, de modo geral, mais sofisticada que a espacial e a autopsíquica. A orientação temporal indica se o paciente sabe em que momento cronológico está vivendo, a hora do dia, se é de manhã, de tarde ou de noite, o dia da semana, o dia do mês, o mês do ano, a época do ano, bem como o ano corrente. É possível avaliar a noção que o paciente tem da duração dos eventos e da continuidade temporal. O examinador pode perguntar: há quanto tempo o senhor está neste local? Há quanto tempo trabalhou (ou se alimentou) pela última vez? Faz quanto tempo que o senhor não me vê? A orientação temporal é adquirida mais tardiamente que a autopsíquica e a espacial na evolução neuropsicológica da criança. A temporalidade (timing), em relação à espacialidade, é uma função que exige maior desenvolvimento cognitivo do indivíduo, além da integração de estímulos ambientais de forma mais elaborada. Por isso, em relação à orientação espacial, a orientação temporal é mais fácil e rapidamente prejudicada pelos transtornos mentais e distúrbios neuropsicológicos e neurológicos, particularmente pelos que afetam a consciência; do mesmo modo, costuma ser o último aspecto da orientação a se recuperar. Psicopatologia da orientação 3 Orientação autopsíquica A desorientação autopsíquica consiste em uma diminuição ou perda da consciência da identidade do eu. Na desorientação autopsíquica total, o paciente não sabe mais quem é, desconhece até o próprio nome. Isso ocorre no transtorno dissociativo conhecido como amnésiapsicogênica, e ainda em quadros demenciais extremamente avançados. Na desorientação autopsíquica parcial, o paciente pode, por exemplo, lembrar-se do próprio nome, mas não saber sua idade. Tal situação pode ser encontrada na amnésia psicogênica, na demência, no delirium e no retardo mental. Neuropsicologia da orientação A desorientação temporoespacial ocorre, de modo geral, em quadros psicorgânicos, quando três áreas encefálicas são comprometidas: 1. nas lesões corticais difusas e amplas ou em lesões bilaterais, como na doença de Alzheimer; 2. nas lesões mesotemporais do sistema límbico, como na síndrome de Korsakoff; 3. Em patologias que afetam o tronco cerebral e o sistema reticular ativador ascendente (comprometendo o nível de consciência), como no delirium e nas demais síndromes decorrentes de alteração do nível de consciência. Alterações segundo a alteração de base Geralmente a desorientação ocorre primeiro em relação ao tempo, só após o agravamento do transtorno que o indivíduo se desorienta quanto ao espaço, e por fim, quanto a si mesmo Desorientação por redução do nível de consciência → desorientação torporosa ou confusa. É aquela que o paciente está desorientado por rebaixamento ou turvação da consciência → FORMA MAIS COMUM DE DESORIENTAÇÃO. Desorientação por déficit de memória imediata e recente → desorientação amnéstica. O paciente não consegue reter as informações ambientais básicas em sua memória recente, o que o faz perder a noção do tempo, do deslocamento no espaço, passando a ficar desorientado temporoespacialmente. A desorientação amnéstica é típica da síndrome de Korsakoff. Já a desorientação demencial é Psicopatologia da orientação 4 muito próxima à amnéstica. Ocorre não apenas por perda da memória de fixação, mas por déficit de reconhecimento ambiental (agnosias) e por perda e desorganização global das funções cognitivas. Ocorre nos diversos quadros demenciais (doença de Alzheimer, demências vasculares, etc.). Desorientação apática ou abúlica → Ocorre por apatia marcante e/ou desinteresse profundos. O paciente torna-se desorientado devido a uma marcante alteração do humor e da volição, comumente em quadro depressivo grave. Por falta de motivação e interesse, o paciente, geralmente muito deprimido, não investe sua energia no mundo, não se atém aos estímulos ambientais e, portanto, torna-se desorientado. Desorientação delirante → estado delirante. Nesses casos, pode-se, eventualmente, observar a chamada dupla orientação, na qual a orientação falsa, delirante, coexiste com a correta. O paciente afirma que está no inferno, cercado por demônios, mas também pode reconhecer que está em uma enfermaria do hospital ou em um CAPS. Desorientação por déficit intelectual → pessoas com déficit intelectual grave ou moderado, por incapacidade ou dificuldade de compreender aspectos complexos do ambiente. Desorientação por dissociação ou histérica → quadros dissociativos graves, normalmente acompanhada de alterações da identidade pessoal (fenômeno do desdobramento da personalidade) e de alterações da consciência secundárias à dissociação associada ou não com personalidade histriônica (quadros dissociativos) Desorientação por desagregação → pacientes com psicose, geralmente esquizofrenia, em estado crônico e avançado da doença, quando o indivíduo, por desagregação profunda do pensamento, apresenta toda a sua atividade mental gravemente desorganizada, o que o impede de se orientar de forma adequada quanto ao ambiente e quanto a si mesmo. Desorientação quanto à própria idade → discrepância de cinco anos ou mais entre a idade real e aquela que o indivíduo diz ter. Tem sido descrita em alguns pacientes com esquizofrenia crônica e parece ser um fiel indicativo clínico de déficit cognitivo na esquizofrenia. Psicopatologia da orientação 5 Indivíduos com quadros de desorientação por lesão ou disfunção cerebral, o modo de recuperação do paciente, quando há reversão e cura do quadro e a lesão ou disfunção não produz sequelas definitivas, é o seguinte: 1) inicialmente recupera a orientação quanto a si mesmo; 2) depois recupera a orientação espacial; e, por fim, 3) recupera a orientação temporal. Pacientes com amnésia, além de desorientação, nos quadros de lesões neuronais leves, a recuperação da orientação tende a ocorrer antes da recuperação da amnésia. Nos quadros de lesão grave, a recuperação da orientação tende a ocorrer depois da recuperação da amnésia. Exame da orientação alopsíquica Interrogatório → Pacientes que vão sozinhos à consulta médica e chegam no horário certo provavelmente estão bem orientados. Psicopatologia da orientação 6 Expressão fisionômica → Uma fácies que expressa perplexidade indica desorientação. Orientação temporal → O fatode o paciente conseguir ordenar cronologicamente as informações que ele presta, especialmente as mais recentes, indica uma preservação da orientação no tempo. Um erro de um ou dois dias quanto à data é considerado normal. Mas um erro grosseiro ao informar a própria idade pode significar uma desorientação no tempo. Orientação espacial → Deve-se considerar se o local onde se encontra o paciente era previamente conhecido por ele. Estar espacialmente desorientado na própria casa é bem mais grave do que numa enfermaria em que ele está chegando pela primeira vez.
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