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ASSEPSIA E ANTISSEPSIA – TÉCNICA OPERATÓRIA MILENA BAVARESCO INTRODUÇÃO ▪ A preparação para o ato operatório envolve cuidados com material cirúrgico, equipe cirúrgica, local da operação e posicionamento do paciente e da equipe. ▪ Como fundamento para a preparação do ato operatório, assim como para sua efetiva realização, realizam-se os procedimentos de assepsia e anti-sepsia. ASSEPSIA ▪ Esse ter mo advém do grego a - negação + séptico - putrefação, significando ausência de matéria séptica, estado livre de infecção. ▪ Trata-se do método que impede, especialmente através de meios físicos e químicos, a entrada de microorganismos patogênicos no corpo humano; método físico (e também químico) para prevenção do desenvolvimento de infecções mediante a destruição dos agentes infecciosos; impedimento da penetração de microorganismos em local que não os contenha, um local estéril. ▪ Essa denominação engloba o preparo adequado do ambiente cirúrgico, da equipe cirúrgica, do instrumental a ser utilizado, bem como do campo operatório. ▪ Consiste, então, na tentativa de eliminação de qualquer fonte potencial de infecção. ▪ Deve-se ressaltar que não há possibilidade de se chegar à assepsia total na prática cirúrgica, isto é, à ausência total de ger mes. No entanto, essa situação deve ser sempre perseguida, aproximando-se, ao máximo, desse estado ideal. ▪ No que se refere à sala cirúrgica, a assepsia está representada pelo uso da vestimenta estéril pelos membros da equipe cirúrgica (aventais e luvas assépticos), pela delimitação do campo operatório por coberturas estéreis e pelo uso de instrumentos cirúrgicos submetidos ao processo de esterilização. ANTI-SEPSIA ▪ Esse termo advém do grego anti-putrefação, significando o conjunto de procedimentos e práticas destinados a impedir a colonização por micro-organismos patogênicos ou que visam à destruição desses microorganismos, por determinado período de tempo, em especial mediante o uso de agentes químicos. ▪ Consiste em empreender todos os esforços que possibilitem o controle, total ou parcial, da proliferação de microorganismos patogênicos, ao menos por um determinado período de tempo. A eliminação total de microorganismos não é necessária e, muitas vezes, nem possível. ▪ Constitui método profilático, haja vista que resulta do emprego de agentes germicidas (anti-sépticos) contra patógenos no tecido humano. ▪ Assim estamos praticando a anti-sepsia quando utilizamos agentes anti-sépticos para eliminação da maioria dos microorganismos que habitam as mãos, antebraços e cotovelos da equipe cirúrgica, mediante um processo mecânico e químico conhecido como escovação cirúrgica. ▪ Apesar de a equipe cirúrgica utilizar luvas estéreis (assépticas), um furo microscópico pode per mitir a passagem de microorganismos e levar à contaminação do ato cirúrgico. ▪ Assim, tendo-se previamente realizado a anti- sepsia das mãos, a proteção se toma maior. Também se refere à anti-sepsia o preparo da área a ser operada, com o emprego de substâncias anti- sépticas. ▪ A anti-sepsia, entretanto, não pode ser descrita como sinonímia para desinfecção. Esta consiste no combate aos microorganismos que se assentam ASSEPSIA E ANTISSEPSIA – TÉCNICA OPERATÓRIA MILENA BAVARESCO sobre a superfície de objetos inanimados, com o uso de agentes denominados desinfetantes . ▪ De uma maneira simplista, pode-se dizer que, em Cirurgia, a assepsia é sempre desejada, perseguida. Ou seja, idealmente deveríamos trabalhar em condição totalmente isenta de microorganismos, asséptica. ▪ Nessa situação, toda a pele e mucosa visíveis da equipe cirúrgica seriam estéreis, o ar que expiramos seria idealmente filtrado pela máscara cirúrgica, o ar que inspiramos (o ar circulante da sala cirúrgica) também estaria isento de microorganismos, a sala seria lacrada cor no um ambiente estéril e todo o material nela constante também teria sido esterilizado. ▪ Como essa eventualidade não é possível de ser atingida e só pode ser vislumbrada mediante o emprego dos itens passíveis de esterilização (vestimenta, luvas e instrumentos), são utilizados alguns agentes (anti-sépticos) com o intuito de se buscar a "inatingível" assepsia. • ▪ m outras palavras, quando realizar a anti-sepsia, por exemplo, do campo operatório, almeja-se atingir o estado mais próximo possível da assepsia. ANTI-SÉPTICOS ▪ As substâncias providas de ação letal ou inibitória da reprodução de microorganismos são designadas, genericamente, como anti-sépticos. ▪ Destinam-se à aplicação em pele e mucosas visando à redução do índice de colonização microbiana e, por conseguinte, de infecção do campo operatório. ▪ Sistematicamente, devem dispor de algumas propriedades essenciais: 1. Ação bactericida - destruição dos microorganismos patogênicos; 2. Ação bacteriostática - inibição da proliferação de microorganismos; 3. Persistência de ação durante várias horas; 4. Ausência de causticidade; 5. Baixo índice de reações de hipersensibilidade; 6. Baixo custo. ▪ Entretanto, não se dispõe de um anti-séptico ideal que reúna todas essas condições de forma absoluta. ▪ Os agentes anti-sépticos mais comumente utilizados em nosso meio para preparo da pele na vigência de uma operação são os iodóforos, compostos alcoólicos e a clorexidina. LODO ▪ O composto de iodo mais conhecido e, até certo tempo, comumente utilizado no preparo da pele é o álcool iodado a 0,5% ou 1% (anterior mente, era utilizado em soluções aquosas ou alcoólicas a 5% e 7%). ▪ Ação: facilidade em penetrar na parede celular dos microorganismos, inibindo sua síntese vital, oxidando e substituindo o conteúdo microbiano por iodo livre. ▪ Função: bactericida, virucida, micobactericida, e fungicida, mas só começa a ter alguma ação sobre esporos bacterianos após longo tempo de exposição. ▪ Seu uso foi drasticamente limitado no decorrer dos últimos anos, por sua baixa potência e por ocasionar queimaduras, bem como irritação de pele e mucosas. LODÓFOROS ▪ Betadine®, Don-Dyne®, Laboriodine®, Marcodine®, Riodeine® etc. - São combinações estáveis de iodo ou triocteto adicionadas a um veículo carreador de alto peso molecular. ▪ Esses veículos são polímeros neutros, tais como: polivinilpir-rolidona, polieterglicol, polivinilálcool, álcool poliacrílico, poliamidas, polioxialcalinos e polissacarideos. ▪ Ação: atuam carreando moléculas de iodo que são liberadas gradativamente em baixas concentrações, mantendo o efeito germicida próximo do iodo, mas reduzindo sua toxicidade. ▪ Necessitam de cerca de dois minutos de contato para a liberação do iodo livre, atingindo, assim, nível anti-séptico adequado, exibindo efeito residual duas a seis horas. ▪ A presença de matéria orgânica inibe rapidamente a sua liberação. São encontrados em formulações degermante, alcoólica e aquosa, em concentração de 10% com 1% de iodo livre. ASSEPSIA E ANTISSEPSIA – TÉCNICA OPERATÓRIA MILENA BAVARESCO ▪ Constituem-se nos anti-sépticosmais comumente utilizados entre nós. Em nosso meio, o agente solubilizante e carreador mais empregado é a polivinilpirrolidona (PVP), compondo o pofivinilpirrolidona-iodo (PVP-1), constituindo-se no anti-séptico mais comumente utilizado. ▪ Quando o paciente apresenta história conhecida de alergia a compostos iodados, optamos pela solução de clorexidina; também disponível em preparado alcoólico. ▪ Quando também apresenta reações adversas à clorexidina, ou na falta dessas soluções, utilizamos solução de álcool a 70%. HEXACLOROFENO ▪ Fisohex®, Soapex® etc. - Possui atividade bacteriostática marcante, poré m lenta, exigindo a atividade contra gram-negativas, fungos e vírus, porém pequena ação contra micobactérias. ▪ Consiste em um sal incolor, inodoro e fortemente básico. ▪ Suas principais características são: 1. Atua mesmo na presença de sangue ou exsudatos; 2. Apresenta atividade por até seis a oito horas, determinada por sua alta afinidade com a pele; 3. Pode ser inativada, na dependência do pH; 4. Tem baixa toxicidade e irritabilidade, sendo segura, inclusive, para uso em recém-natos; 5. Dispõe de importante efeito cumulativo; 6. Constitui uma excelente alter nativa para aqueles pacientes com sabida intolerância ao iodo. ▪ Não deve ser utilizada no globo ocular ou para instilação em ouvido médio, pela possibilidade de lesão de córnea e ototoxicidade. ▪ Causa manchas marrons em roupas alvejadas com produtos à base de cloro. Apesar de ter ação mais lenta do que o álcool, diversos estudos demonstram sua ação após 15 segundos de lavagem das mãos. ▪ Constitui-se em anti- séptico significativamente mais eficaz do que os iodóforos. ÁLCOOL ▪ Ação: desnatura as proteínas e tem boa ação bactericida e micobactericida. Também possui ação contra os principais fungos e vírus, incluindo vírus sincicial respiratório, vírus da hepatite B e HIV. ▪ É um dos mais seguros e efetivos anti-sépticos, reduzindo rapidamente a contagem microbiana na pele. ▪ Pode ser utilizado na for ma de álcool isopropílico ou etílico (o isopropílico é discretamente mais tóxico e menos eficaz como microbicida do que o etílico). ▪ Concentrações entre 60% e 90% são adequadas, e 70% têm sido a concentração mais indicada, por causar menor ressecamento da pele. Raramente, é utilizado sozinho, mas em associação a clorexidina ou iodopovidina. ▪ Propicia grande desidratação tecidual e é altamente inflamável, devendo, portanto, ser totalmente enxuto antes de procedimentos que utilizem bisturis elétricos ou laser. ▪ Outras desvantagens incluem a ausência de efeito residual e pequena inativação por matéria orgânica. Por ser volátil, deve ser estocado em local fresco e bem ventilado. PARACLOROMETAXILENOL (PCMX,) ▪ Também descrito como cloroxilenol. ▪ Ação: atua pela destruição da parede celular e inativação de enzimas. ▪ Possui boa ação contra bactérias gram-positivas, porém baixa atividade contra as gram-negativas, micobactérias, fungos e vírus. ▪ Não agride a pele e propicia efeito residual por algumas horas. Tem sido utilizado em soluções degermantes para lavagem das mãos, em concentrações que variam de 0,5% a 4%. ASSEPSIA E ANTISSEPSIA – TÉCNICA OPERATÓRIA MILENA BAVARESCO TRICLOSAN ▪ Também denominado Irgasan DP-300; faz parte do grupo de bifenóis sintéticos. É um anti-séptico de ação lenta que possui boa ação contra bactérias gram-positivas e a maioria das gram-negativas (exceto Pseudomonas aeruginosa), baixa atividade fungicida e ações micobactericida e virucida ainda não bem documentadas. ▪ É utilizado na composição de produtos deger mantes para lavagem das mãos em concentrações que variam entre 0,3% e 2%. OUTROS ▪ Diversos produtos utilizados no passado não mais encontram indicação para uso como anti-sépticos. ▪ Dentre eles, encontram-se hexaclorofeno (vide anteriormente), mercuriais orgânicos, quaternários de amônia (cloreto de benzalcônio, cloreto cetilpiriatino e outros), hipoclorito de sódio (líquido de Dakin), água oxigenada, éter, clorofórmio e acetona.
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