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LICENCIATURA EM PEDAGOGIA Governo Federal República Federativa do Brasil Ministério da Educação República de Moçambique Ministério de Educação PSICOLOGIA GERAL República de Moçambique Ministério de Educação ELABORA ÇÃO DE CONTEÚDO Jaime da Costa Alípio Manuel Magiricão Vale COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Cristine Costa Barreto SUPERVISÃO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Paulo Vasques de Miranda DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISÃO Mariana Pereira de Souza DESIGN GR ÁFICO - PROJETO EDITORIAL Cleomar de Souza Rocha Yannick Aimé Ferreira Taillebois COORDENAÇÃO EDITORIAL Fábio Rapello Alencar PROGRA MAÇÃO VISUAL Carlos Cordeiro André Guimarães de Souza ILUSTRA ÇÃO Equipe CEDERJ P974 Psicologia geral. – Brasília: Ministério da Educação; Moçambique: Ministério da Educação, 2010. 236p.; 18 x 24,5 cm. ISBN: 978-85-7648-716-6 1. Psicologia. 2. Psicofi siologia. 3. Psicologia evolutiva. 4. Processo psíquico cognitiva. I. Título. CDD: 150 Referências Bibliográfi cas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT. Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (GPT/BC/UFG) Copyright © 2011, Fundação CECIERJ Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização. DIREITOS DO AUTOR Este módulo de Técnicas de Expressão em Língua Portuguesa não pode ser reproduzido para fi ns comerciais. No caso de reprodução, deve ser mantida a refe- rência à Universidade Pedagógica e aos autores deste manual. APRESENTAÇÃO À COMMONWEALTH of LEARNING (COL), pela disponibilização do Template usado na produção dos Módulos. Ao Instituto Nacional de Educação à Distância (INED), pela orientação e apoio prestados. Ao Magnífi co Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento, pelo apoio prestado em todo o processo. ÍNDICE VISÃO GERAL Bem-Vindo às Técnicas de Expressão em Língua Portuguesa Objectivos da cadeira Quam deveria estudar este Módulo Como está estruturado este Módulo? Acerca dos ícones Precisa de apoio? Tarefas (avaliação e autoavaliação) Avaliação UNIDADE I – SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA Lição 1 – Conceito de Psicologia Lição 2 – Objecto e Objectivos da Psicologia Lição 3 – Os Métodos da Psicologia Referências Bibliográfi cas UNIDADE II – PSICOFISIOLOGIA Lição 1– A Evolução Filogenética do Psiquismo Lição 2 – As Bases Anatómicas e Fisiológicas da Conduta Lição 3 – Ligação entre o neurónio e o sistema nervoso Referências Bibliográfi cas UNIDADE III – PSICOLOGIA EVOLUTIVA E DE DESENVOLVIMENTO Lição 1– Desenvolvimento Humano 11 11 12 13 13 14 15 15 16 17 19 23 35 43 45 47 55 65 72 73 75 Lição 2 – Fases do desenvolvimento Lição 3 – O Desenvolvimento na Adolescência Referências Bibliográfi cas UNIDADE IV – PROCESSOS PSÍQUICOS COGNITIVOS Lição 1 – As sensações Lição 2 – Memória Lição 3 – Pertubação da memória Lição 4 – A atenção e percepção Lição 5 – Tipos de percepção Lição 6 – A relação entre a percepção e a sensação Lição 7– Como as informações sobre o meio são processadas Lição 8 – O processo da informação no cérebro Referências Bibliográfi cas UNIDADE V – PENSAMENTO E LINGUAGEM Lição 1– Conceito de pensamento Lição 2 – Tipos de pensamento Lição 3 – Linguagem Referências Bibliográfi cas UNIDADE VI – PERSONALIDADE Lição 1– Conceito de personalidade 83 91 97 99 103 109 117 121 129 137 143 151 161 163 167 175 181 189 191 193 Lição 2 – Teorias de personalidade Lição 3 – Teorias neufreudianas Lição 4 – Teorias Disposicionais ou Traços da Personalidade Lição 5 – Teoria behaviorista da personalidade Lição 6 – Factores que infl uenciam o desenvonvimento da personalidade Lição 7– Formas instrumentos utilizados na mensuração da personalidade Referências Bibliográfi cas 199 207 213 219 223 229 235 Visão Geral 11 VISÃO GERAL BEM-VINDO AO MÓDULO DE PSICOLOGIA GERAL Considerações Gerais Este módulo é constituído por cinco unidades nomeadamente: Unidade I, que se debruça fundamentalmente do surgimento da • Psicologia como ciência partindo das ideias dos grandes fi lósofos da Grécia antiga que deram o seu contributo para que esta se tornas- se de facto ciência do comportamento e das actividades mentais. Unidade II, que trata dos aspectos relacionados com o desenvol-• vimento do psiquismo e da consciência humana, explorando as bases biológicas do comportamento e aproximando a psicologia da fi siologia humana e da genética. Unidade III, que descreve as bases do desenvolvimento humano • tendo em conta os diversos factores que o infl uenciam discutin- do-os com base nas teorias dos diversos psicólogos que se debru- çaram sobre esta matéria. Unidade IV, a qual foca a sua atenção sobre os processos cogniti-• vos nomeadamente a sensação, percepção, memória, pensamento e linguagem. Estes processos permitem conhecer o mundo que nos rodeia através dos órgãos dos sentidos e refl exão sobre os fe- nômenos e objectos. Unidade V, onde analisaremos os conceitos e características de • pensamento e linguagem, reconhecendo a importância destes para a vida dos homens. Unidade VI, que descreve aspectos fundamentais da personali-• dade e seu desenvolvimento baseando nas teorias de eminentes psicólogos que discutiram esta matéria. 12 Psicologia Geral Cada uma destas unidades apresenta uma introdução na qual se des- tacam: visão geral da unidade;1. objectivos; 2. conteúdos principais a serem tratados nesta mesma unidade;3. tarefas a serem executadas pelo formando;4. recursos de apoio para estudar a unidade;5. duração em termos de tempo que irá necessitar para estudar a 6. unidade; referência do material que irá necessitar para aprofundar os co-7. nhecimentos; e metodologia de estudo de cada unidade.8. Objectivos da curso Ao completar este curso, esperamos que você seja capaz de: defi nir os principais conceitos em psicologia;• compreender a importância da psicologia no processo de ensino-• aprendizagem; reconhecer as relações existentes entre a psicologia e outras • disciplinas; identifi car e caracterizar os processos psíquicos; • relacionar os diversos saberes adquiridos em cada unidade;• expli• car as diversas teorias dos fenómenos psicológicos. Visão Geral 13 QUEM DEVERIA ESTUDAR ESTE MÓDULO Este Módulo destina-se à formação de professores em exercício que possuam a 12ª classe ou equivalente e inscritos no curso à distância, forne- cido pela Universidade Pedagógica. COMO ESTÁ ESTRUTURADO ESTE MÓDULO? Todos os módulos dos cursos produzidos por Universidade Pedagó- gica encontram-se estruturados da seguinte maneira: Páginas introdutórias Um índice completo.• Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-cha-• ve que você precisa conhecer para completar o estudo. Recomendamos vi- vamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo. Conteúdo do Módulo O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade, incluindo actividades de aprendizagem, um sumário e uma ou mais actividades para auto-avaliação. Outros recursos Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir livros, fi chas, artigos ou sites na internet. . Tarefas de avaliação, autoavaliação e actividades. Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno fi nal de cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as completar. Estes elementos encon- tram-se no fi nal do modulo. 14 Psicologia Geral Comentários e sugestões Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários serão úteis paranos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo. ACERCA DOS ÍCONES Ao longo deste Módulo, você irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identifi car diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específi ca do texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Os ícones usados neste Módulo são símbolos africanos, conhecidos por adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África Ociden- tal, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia. Você pode ver o conjunto completo de ícones a seguir, cada um com uma descrição do seu signifi cado e da forma como nós interpretamos esse signifi cado para representar as várias actividades ao longo deste Módulo. “Nó da sabedoria” Glossário Apoio/encorajamento [Ajuda-me] deixa-me ajudar-te Multimídia Leitura Unidade/relações humanas Actividade de grupo Comprometimento/ perseverança Actividade Resistência, perseverança Autoavaliação “Eu mudo ou transformo a minha vida” Objectivos “Qualidade do trabalho” (excelência/autenticidade) Avaliação/teste Visão Geral 15 PRECISA DE APOIO? Para estudar esta disciplina, você deve obedecer às seguintes reco- mendações: aprofundar os conhecimentos das unidades consultando o seu 1. tutor (através de mecanismos estabelecidos), colegas, bibliografi a recomendada disponível e sites especializados na internet; estudar a disciplina obedecendo a sequência das unidades;2. realizar as tarefas ou actividades recomendadas;3. só passar para unidade seguinte depois de certifi car se compreen-4. deu a unidade em estudo mediante uma avaliação; observar o tempo alocado para cada unidade e exercícios;5. conservar os materiais à disposição.6. TAREFAS (AVALIAÇÃO E AUTOAVALIAÇÃO) No fi nal de cada unidade, você encontrará testes de auto-avaliação, os quais deverá responder cuidadosamente Os testes foram elaborados pelos autores deste módulo, porém no caso de testes adaptados indicar-se-á a fon- te dos mesmos. Você deverá ter cuidado na utilização de ideias ou conceitos de outros autores. Neste caso deve se preocupar em primeiro lugar mencio- nar a fonte destas mesmas ideias. Vigilância/preocupação Atenção “Aprender através da experiência” Exemplifi cação “Pronto a enfr entar as vicissitudes da vida” Saiba mais Paz/harmonia Debate 16 Psicologia Geral As tarefas de auto-avalição serão as seguintes: 1. Exercícios de auto-avalição: O formando deverá realizar no fi m de cada unidade um teste que encontra em anexo. 2. Pequenas experiências: Ver as recomendações necessárias, reunir os materiais recomenda- dos e realizar as experiências. 3. Estudo em grupo e individual: Deve priorizar sempre que necessário a discussão com os colegas e aprofundar a matéria individualmente. 4. Apresentação de dúvidas ao tutor: Sempre que tiver duvida consulte o tutor. 5. Apresentação e discussão de casos específi cos: No estudo em grupo o formando apresenta os casos específi cos para a discussão. AVALIAÇÃO Ao realizar as actividades você não precisa correr ou ter pressa para terminar. É importante sim realizar cabalmente todas as actividades que são propostas em todas as secções dentro do tempo recomendado, pois só as- sim é que poderá compreender e consolidar melhor a matéria. Siga todos os passos recomendados para cada actividade. Se tiver alguma dúvida consulte o seu tutor ou tente discutir com um dos seus colegas. 1 SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA Jaime da Costa Alípio Manuel Magiricão Vale Objectivos da unidade Ao completar esta unidade, esperamos que você seja capaz de: 1. defi nir o conceito de psicologia; 2. estabelecer e explicar com palavras suas as diferentes correntes psicológicas; 3. descrever os principais métodos usados na psicologia; 4. identifi car as diferenças entre as principais correntes psicológicas. Para lhe ajudar a alcançar estes objectivos preparamos uma série de activi- dades parciais a partir das quais poderá entender melhor todo o processo do surgimento da psicologia. Palavras-chave: Psicologia; psíquico; consciência; empirismo; behavior- ismo; psicanálise. Conhecimentos prévios Para o estudo desta unidade você vai precisar de recordar ou mesmo ter acesso à Filosofi a, História da Grécia, conteúdos ou disciplinas do ensino secundário do SNE. 18 Psicologia Geral Introdução da unidade Seja bem-vindo à primeira unidade do módulo de Psicologia Geral. Para o estudo dessa unidade, você precisará de 9 horas. Falaremos nesta unidade essencialmente sobre: conceito e signifi cado da psicologia;1. objecto, objectivos e princípios da psicologia; 2. métodos e técnicas em psicologia;3. o pensamento psicológico e as principais correntes da psicologia. 4. Por que é que é importante estudar este tema? Todos nós sabemos ou ouvimos falar de psicologia e usamos fre- quentemente esta palavra no nosso dia a dia. O capítulo que vamos ini- ciar ajudar-nos-á a perceber como e quando surgiu esta palavra e como os eruditos a vêem e a discutem ao longo do tempo. Conheceremos também os caminhos por que este passou até se transformar em ciência. Este facto ajudar-nos-á a perceber as diferentes abordagens assumidas pelos estudio- sos do campo da psicologia. Surgimento da Psicologia como ciência 19 LIÇÃO 1– CONCEITO DE PSICOLOGIA Duração: 2 (duas) horas. Objectivos Ao terminar esta lição, esperamos que você seja capaz de: 1. defi nir o conceito de psicologia; 2. comparar os diversos conceitos de psicologia. Conceitos-chaves: psique, alma e mente. 1. Introdução Antes de compreender a importância da psicologia no processo de ensino-aprendizagem, é importante definir os principais conceitos em psicologia. Você já parou para pensar, por exemplo, o que significa termo “psicologia”? Cada ciência diferencia-se da outra pelas particularidades do ob- jecto de estudo. Assim por exemplo a biologia tem por objecto de estudo os seres vivos (plantas, animais incluindo o próprio homem), a georgrafi a estuda a terra. E a psicologia, estuda o quê? Nesta lição, iremos ver o que é a psico- logia e começaremos a ver o que ela estuda. 2. AFINAL, O QUE É PSICOLOGIA? No caso da psicologia, a questão da defi nição do seu objecto de estudo torna-se muito difícil quando comparado com outras ciências e a compreen- são do seu objecto de estudo depende da forma como as pessoas que estão ocupadas com esta ciência concebem o mundo. A difi culdade na delimitação do objecto de estudo da psicologia reside no facto de que desde há muito tem- po os fenomenos que se relacionam com a inteligência humana sempre foram considerados fenómenos particulares. 20 Psicologia Geral É, de facto, evidente de que a percepção por exemplo que voce tem de uma esferográfi ca poderá ser diferente da do seu colega ou uma outra pessoa qualquer. É certo tambem, que a percepção que nós temos sobre um objecto muita das vezes não tem nada a ver com o próprio objecto. Por exemplo o desejo que voce tem de ir ao futebol não possui nenhu- ma ligação com o próprio jogo de futebol. Por vezes, podemos desejar ir ao futebol para ver a nossa equipa a ganhar e acontecer exactamente o contrário. A pouco e pouco com a nossa experiencia vão se formando as noções sobre as diferentes classes de fenómenos. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1033829 Esses fenómenos geralmente relacionam-se com o nosso estado psí- quico ou descrevem propriedades de um processo. O desejo de ir ao futebol por exemplo é manifestação de um estado. A particularidade destes estados ou processos está em que eles se relacionam com o mundo interior do indivíduo e são diferentes dos objectos que o rodeiam (mundo exterior) e estão ligados ao campo da vida espiritual, ao contrário dos objectos e fenómenos reais. Estes fenómenos, agrupados pela denominação de pensamento, von- tade, memória, sentimento, percepção, etc., formam aquilo que nos designa- mos por “psique”, o mundo interior do indivíduo, a suavida espiritual. Surgimento da Psicologia como ciência 21 Do ponto de vista etimológico, isto é, do surgimento da palavra, “psico- logia” vem do grego “psyche”, que signifi ca alma, sopro ou espírito, e da palavra “logos”, que signifi ca razão, conhecimento, ou estudo. Estas duas palavras de- ram origem àquilo que nós designamos de psicologia. Portanto, a palavra psicologia signifi cava estudo ou conhecimento da alma. Ao longo do tempo a palavra psicologia foi tendo vários signifi cados de acordo com o período e concepções doutrinarias da época. Assim sendo, as de- fi nições da psicologia foram várias, algumas das quais tinham um carácter emi- nentemente subjectivo. Por exemplo, alguns entendidos defi niam a psicologia como sendo ciência da mente, da consciência, e da experiência consciente. Actualmente a psicologia é defi nida como sendo ciência do compor- tamento e da actividade mental. Esta defi nição encerra em si a dualidade de objecto da psicologia, ou seja, o estudo do comportamento e da actividade mental, ponto de vista que é até hoje assumido pela grande maioria de psicó- logos e que nos parece mais racional. Por comportamento se entende aqui como sendo todos os actos ob- serváveis no indivíduo ou no animal, incluindo a linguagem, e por actividade mental entende-se todo o desencadeamento de processos mentais tais como: a atenção, a percepção, a memória, o pensamento e outros. Estes dois aspectos (comportamento e actividade mental) fornecem bases para uma psicologia científi ca. Autoavaliação Marque com X as afi rmações que julgar correctas: a) A psicologia é uma ciência que estuda a alma e o espírito. b) A psicologia estuda o comportamento. c) A psicologia estuda o comportamento e a actividade da mente. 22 Psicologia Geral d) A psicologia estuda o comportamento dos animais e do homem. e) A psicologia é uma ciência fi losófi ca. Resposta Pelo que vimos nessa lição, as afi rmações corretas são: c) a psicologia estuda o com- portamento e a actividade da mente; e d) a psicologia estuda o comportamento dos animais e do homem Surgimento da Psicologia como ciência 23 LIÇÃO 2 – OBJECTO E OBJECTIVOS DA PSICOLOGIA Duração: 2 (duas) horas. Objectivos Ao terminar esta lição, esperamos que você seja capaz de: 1. defi nir o objecto de estudo da psicologia; 2. comparar as ideias dos diferentes fi lósofos em relação ao objecto da psicologia. Conceitos-chave: empirismo, consciência, actividade mental. 1. Introdução Agora que você já sabe qual o conceito de pisicologia, é importante que conheça também seu objecto e seus objectivos. Você já se perguntou o que ela estuda? E o que ela pretende? É isso que iremos discutir nesta lição. 2. OBJECTO DE ESTUDO Ao analisarmos o objecto de estudo da psicologia podemos tomar três atitudes fundamentais: a atitude ingênua, a atitude artística e a atitude cientí- fi ca, conforme ilustra a Tabela 1, que veremos mais adiante. Estas três atitudes são tomadas com relação à natureza da própria mente, ou seja, como a psique é vista e quanto à sua actividade. A atitude ingênua baseia-se nas opiniões e crenças para compreender os fenómenos. Por exemplo a crença de que a vida das pessoas é governada pelos espíritos dos nossos antepassados. Essa crença faz com que as pessoas acreditem, por exemplo, que as almas dos mortos vagueiam por entre os lu- gares escuros ou suspeitos e apareçem perante os nossos olhos em forma de fogo, vento, vozes, etc., atormentando os vivos. Para acalmar os ânimos desses espíritos deve-se praticar rituais próprios, como por exemplo uma missa onde são evocados todos os espíritos dos mortos. 24 Psicologia Geral Nesses rituais também se sacrifi cam animais e se derramam bebidas e realizam-se preces pedindo tudo que é de bom para a vida e afastando o mal. A nossa cultura em geral está carregada de crenças deste tipo. Esta forma de estar permite o indivíduo relacionar-se com o mundo e com os fenómenos da natureza, construindo a sua percepção, sentimentos etc. em relação a eles. Neste sentido o objecto da psicologia é o conhecimento intuitivo das pessoas. Às vezes dizemos aquela pessoa foi apossado por espíritos. Ela comporta-se assim porque tem espíritos. A outra atitude que se pode tomar em relação ao objecto de estudo da psicologia é a atitude artística. A atitude artística baseia-se na intuição e na representação. Os objectos da natureza são vistos como tendo vida. O artista maconde que esculpe uma madeira dá vida ao seu objecto. O pintor que pinta um quadro também dá vida ao seu quadro. Fala com ele, atribui acções a esse mesmo quadro. Aqui a psicologia tem como objecto analisar como as pessoas interpretam os fenómenos da natureza tomando como base o facto de que os diversos objectos que circundam o homem podem se lhes atribuir um sentido próprio. A atitude científi ca baseia-se na refl exão e na investigação duma forma objectiva dos fenómenos psicológicos usando a experimentação para colectar dados a serem analisados posteriormente. No nosso caso devemos tomar uma atitude científi ca para compreender os fenómenos psicológicos. Tabela 1: Resumo dos tipos de atitude Atitude Natureza essencial da mente (metafísica) Actividade da mente (empirismo) Ingênua (opiniões e crenças) Compreensão mitológica e religiosa Conhecimento intuitivo das pessoas Artística (intuição e representação) Animação artística do mundo e dos objectos Interpretação artística e representação da mente Científi ca (investigação e refl exão) Psicologia Filosófi ca Psicologia como ciência empírica Surgimento da Psicologia como ciência 25 Actividade I Vai à feira de artesenato, ou procure uma escultura, uma pintura e tente descre- ver o seu signfi cado. Peça ao seu colega também para fazer a mesma descrição em separado. Escreva a sua descrição e compare¬a com a do seu colega. Em que é que coincide? Quais sãos os aspectos diferentes da vossa descrição. Escreva no papel analise-os e discuta como seu tutor Resposta Por serem as descrições de uma mesma obra de arte, provavelmente elas terão aspectos em comum. Mas a representação mental de uma obra de arte e sua interpretação é subjetiva, ou seja, a sua descrição e a do seu colega terão também aspectos diferentes. Actividade 2 Faça um quadro comparativo do objecto de estudo das seguintes ciências: psi- cologia, antropologia, sociologia, biologia. Descreva os aspectos semelhantes em cada uma delas. Ex: Disciplina/ Ciência Objecto de estudo Similaridades Dissemelhanças Observações Psicologia Etc. Resposta Ao elaborar seu quadro, você deve ter percebido que a característica geral similar entre todas essas ciências é que elas estudam o ser humano. O que muda é o foco específi co de cada uma delas. 26 Psicologia Geral 2.1. Psicologia como ciência da alma A premissa de que a psicologia era o estudo da alma dominou todo o período que antedece o estabelecimento da psicologia como ciência. Estamos a falar concretamente do período que vai até meados do sé- culo XIX. A convicção de que o objecto da psicologia era a alma relaciona-se com a visão dos povos primitivos na qual havia falta de distinção clara entre o corpo e a alma. Esta visão baseou-se fundamentalmente na interpretação materialista primitiva (diferente do materialismo científi co) dos fenômenos da vida consciente, tais como o sono, a morte e o desmaio. Os sonhos eram tidos como impressões da alma que deixavam o corpo durante o sono. A alma era vista portanto como “sósia” do homem, quer dizer, as necessidades de sobrevivência desta eram as mesmas que as do homem. Por isso se considerava que as almas dos mortos constituíam as mes- mas comunidades que as dos vivos. Alguns materialistas primitivos defensores deste ponto de vista fo- ram Tales de Mileto (VII-VI, a.C.), Anaxímenes de Mileto (V a.C.), He- ráclito de Éfeso (VI-V a.C.). Estes materialistas primitivos comparavam a alma com as três formas primitivas do mundo (água, ar e fogo). Destaforma a alma era vista como um órgão material que dá vida ao corpo e, por isso, guiado por um princípio material. No período seguinte observou-se uma abordagem baseada no princí- pio da alma dando ênfase à sua essência, estrutura e sua relacão com o corpo. Dos que mais se evidenciaram nestas concepções se destacam Platão (428/427-347 a.C.), com a sua divisão da alma em três partes (alma intelec- to, alma coragem e alma sensual ou concupiscência), e Aristóteles (384-322 a.C.), que apoiando-se nas ideias de Platão, seu mestre, introduz a ideia do estudo da alma usando métodos experimentais (observação) para descrever as manifestações da alma. Surgimento da Psicologia como ciência 27 Figura 1: Busto de Platão Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Platon-2.jpg Glossário Platão foi um fi lósofo e matemático do período clássico da Grécia An- tiga, autor de diversos diálogos fi losófi cos e fundador da Academia em Atenas, a primeira instituição de educação superior do mundo ocidental. Juntamente com seu mentor, Sócrates, e seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os alicerces da fi losofi a natural, da ciência e da fi lo- sofi a ocidental. Fonte: adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Plat%C3%A3o 28 Psicologia Geral Figura 2: Busto de Aristóteles Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro: Aristoteles_Louvre.jpg As descobertas na medicina feitas por Herófi lo e Erasistrato (III a.C.) trouxeram novas abordagens em torno do objecto de estudo da psicologia. Com a descoberta dos nervos e a distinção destes dos ligamentos e dos tendões, permitiu o conhecimento entre as funções psíquicas (sensa- ções e movimentos) e o cérebro. 2.2. Psicologia como ciência da actividade mental ou da consciência No século XVIII surge uma nova época do desenvolvimento mar- cada pelo crescimento dos estudos biológicos e psicológicos. Com estes desenvolvimentos a ideia da união entre corpo e alma entrou em colapso, dando lugar a ideia de que o corpo era uma máquina que se organiza de acordo com os princípios da técnica e que para o seu funcionamento não precisava da alma. Surgimento da Psicologia como ciência 29 Com estabelecimento do primeiro laboratório de Psicologia Experi- mental por Wundt em 1879, o objecto da psicologia passa a ser o do estudo da actividade mental ou consciência. Glossário Wilhelm Maximilian Wundt (1832 - 1920) foi um médico, fi lósofo e psicólogo alemão. É considerado um dos fundadores da moderna psi- cologia experimental. Entre as contribuições que o fazem merecedor desse reconhecimento histórico estão a criação do primeiro laboratório de psicologia no Instituto Experimental de Psicologia da Universidade de Leipzig (Lipsia) na Alemanha, em 1879, e a publicação de Principles of Physiological Psychology (Princípios de Psicologia Fisiológica) em 1873, onde afi rmava textualmente que seu propósito, com o livro, era demarcar um novo domínio da ciência. Fonte: adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Wundt. Com o desenvolvimento da física, a psicologia encontra um suporte para o seu objecto de estudo. Foi a partir da física (Weber e Fechner) que nasceu a psicologia como ciência. Os investigadores que utilizam o método científi co fi zeram com que a experimentação se estendesse dos fenômenos exteriores aos pro- cessos mentais, de modo a que estes fossem entendidos não como magia ou especulação intelectual, mas sim como acontecimentos susceptíveis de serem medidos e avaliados. A psicologia ganha cada vez mais corpo como ciência e não poderá nunca mais voltar à psicologia introspectiva e à abstracção. Os avanços da investigação em neurociências e a melhor articulação e comunicação entre os diversos investigadores têm permitido que seja pos- sível ultrapassar o risco de fragmentação, susceptível de acontecer dada a complexidade do objecto da psicologia. 30 Psicologia Geral 2.3. Psicologia como ciência do comportamento A Psicologia como ciência tem sua origem na primeira metade do século XIX, a partir dos trabalhos dos grandes cientistas, como o anatomista Ernest Weber, o fi siólogo Herman von Helmholtz, os psicólogos Wilhelm Wundt, John Watson, Jean Piaget e o psicofi siologista Pavlov, entre outros. As pesquisas do século XIX procuraram formular teorias para expli- car como os órgãos dos sentidos captam as informações (cores, luzes, sons etc.), descobrindo também a determinação exacta da quantidade de dife- rença que um ser humano é capaz de distinguir quando lhe pedem para fa- zer a distinção entre dois pesos diferentes. Foi precisamente John Watson que revolucionou o objecto de estu- do da psicologia. Ele advogou a utilização de métodos objectivos como a observação, método experimental e testes para o estudo do comportamen- to. Quanto ao objecto, Watson defendia que a psicologia estudasse apenas os comportamentos observáveis como respostas a estímulos externos e não o aspecto interior subjectivo. Veja a seguir a tabela resumo sobre as mudanças que ocorreram em volta do objecto e métodos da psicologia. Actividade 3 A partir dos livros disponíveis na biblioteca da sua escola ou centro de consulta, identifi que os fi lósofos que se contribuíram no estabelecimento das premissas da psicologia como ciência. Descreva e compare as idéias fundamentais desses fi lósofos. Resposta Ao fazer esta atividade, você deve descrever, fundamentalmente, as ideias de Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Heráclito de Éfeso, Platão e Aristóteles. Se tiver difi cul- dades de obter informações, também pode pesquisar na internet. Surgimento da Psicologia como ciência 31 Tabela 2: Evolução do objecto e métodos de Psicologia Níveis Objecto, Métodos, Finalidade 4. Leis e mecansimos do psiquismo Objecto: fenômenos psicológicos (processos que acontecem em nosso mundo interno e que são construídos durante a nossa vida. São processos contínuos, que nos permitem pensar e sentir o mundo, nos comportarmos das mais diferentes formas, nos adaptaramos à realidade e transformá-la. Constituem a nossa subjectividade. Também pode ser objecto da psicologia o inconsciente, a personalidade, a aprendizagem.) Finalidade: descrever, explicar, prever, controlo e compreeder fenômenos psicológicos. Métodos objectivos e modernos: observação, experimental, testes etc. Interdisciplinaridade e surgimento de novas àreas de conhecimento implica a existência de novos objectos e métodos. 3. Comportamento e Processos Mentais Objecto: Estuda os fenômenos ou factos que não são exteriormente observáveis tais como o pensamento, o raciocínio, o sonho, o sono, a percepção, sensações, as atitudes, compreensão, memorização, etc são denominados de processos mentais. Finalidade: consiste em descrever, explicar, prever e controlar os fenó- menos psíquicos; compreender o que fazemos, como pensamos, sentimos, respondemos a problemas e crises, como aprendemos e nos desen- volvemos intelectual e moralmente, como interagimos com os nossos semelhantes. Comportamento é um conjunto de actos directamente observáveis tais como falar alto, correr, sorrir, chorar, beijar, agredir, dormir. Métodos objectivos: observação, experimental, testes etc. Principais teorias: (1) Behaviorismo de Watson, Skinner; (2) Refl exiologia de Pavlov 2. Consciência A partir de 1879 Início do perído expe- rimental e científi co. Estrutura da consciência (análise dos factos da consciêcia, a descrição dos seus elementos mais simples, como seja as sensações e as aimagens, o estudo das experiências, emoções e apercepções nos seus componentes mais simples). Fundado o primeiro laboratório de Psicologia em 1879 (Wilhelm Wundt). Objectivos: reduzir os processos conscientes nos seus componentes mais simples; determinar as leis mediante as quais esses elementos se associam; conectar esses elementos às suas condições fi siológicas. Os objectivos da psicologia devem coincidir com os das ciências naturais. Objecto de estudo é a experiência pessoal como é vivenciada pelo indivíduo.Método usado é introspecção (o sujeito descreve o que sente quando submetido a pequenas sensações de som e luz. Surge a primeira tentativa de separar os estados da consciência e as obsrvações sobre estes. Críticas: (1) o observador tem difi culdade em observar-se a si mesmo, visto que os fenómenos psíquicos possuem uma enorme mobilidade e não coincidem no tempo com a sua observação. Enquanto estão a ocorrer (dores, emoções), a rapidez e a sucessão destes fenómenos impedem, por vezes, que o observador tenha tempo de os analisar, de elaborar uma explicação, dado que os fenómenos não estão a espera de serem obser- vados ou estudados enquanto ocorrem; (2) a tomada da consciência de um fenémeno pode modifi car esse mesmo fenómeno; (3) o psicólogo não consegue observar ou estudar estados de espírito ou de consciência. O sujeito está a descrever o que se passa nele, sendo difícil a objectivida- de. Além disso, há factos que ocorrem no psiquismo e que escapam à área da consciência; (4) um doente mental, uma criança, um animal não dispõem de capacidades verbais e outras que lhes permitem analisar de consciência. 32 Psicologia Geral 1. Alma/Espírito Antes de 1879 Período pré-científi co. Parte imaterial e imortal do ser humano, inclui o pensamento, os senti- mentos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e percep- ção. Preocupação principal é saber o que separa o homem dos animais, segundo Sócrates é a razão cujo lugar ao nível do corpo é a cabeça e a medula seria o elemento de ligação da alma e o corpo. Depois da morte o corpo desaparece e alma fi ca livre para ocupar outro corpo. É princípio da vida. Existe em todos seres vivos (animais-sensitiva; plantas-vegetativa; e homem-racional). Dois momentos fundamentais: (1) era platônica – alma é imortal separa- da do corpo; (2) era aristotélica – a alma é mortal e seu pertencimento ao corpo. Atenção O principal foco da psicologia se encontra no indivíduo, em geral hu- mano, mas o estudo do comportamento animal é utilizado para fi ns de pesquisa e correlação, na área da psicologia comparada. O objecto de estudo da psicologia, como você viu, evoluiu ao longo do tempo, começando com a alma; consciêcia; comportamento e leis do psiquis- mo. Mais adiante vamos mostrar o pecurso e as principais mudanças em relac- ção ao objecto, métodos e a fi nalidade da Psicologia antes e depois de 1879. A diferenciação dos objectos de estudo da psicologia foram em gran- de medida infl uenciada: pelo uso da introspecção como primeiro método científi co;• pela separação recente da psicologia da fi losofi a;• pela diversidade de fenômenos psicológicos que não podem ser • acessíveis e estudos ao mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição, medi- da, controle e interpretação. 3. OBJECTIVOS DA PSICOLOGIA Quanto a objectivo fundamental da psicologia, ela descreve e explica os factores que condicionam e determinam o comportamento do homem e do animal. Surgimento da Psicologia como ciência 33 Autoavaliação 1. Indique as principais ideias de Anaxímenes em relação ao objecto de estudo da psicologia. Resposta: Anaxímenes, materialista primitivo, comparava a alma com as três formas primitivas do mundo (água, ar e fogo). Desta forma a alma era vista como um órgão material que dá vida ao corpo e, por isso, guiado por um princípio material. Acreditava que a alma era imortal e separada do corpo. 2. Compare as ideias de Platão com as de Anaxímenes e demarque a sua diferença. Resposta A diferença é que Platão concebia a divisão da alma em três partes (alma intelecto, alma coragem, e alma sensual ou concupiscência). 3. Assinale com X o que julgar correcto no conjunto das afi rmações abaixo: a) A psicologia como ciência surgiu no século XI. b) A psicologia só se tornou ciência graças aos trabalhos de Wilhelm Wundt, John Watson, Jean Piaget e Pavlov. c) A psicologia só se tornou ciência apôs a sua emancipação da fi losofi a. Resposta A alternativa correta é a letra c). 4. Faça um quadro resumo da evolução histórica do objecto de estudo da psicologia. Resposta O seu quadro resumo deverá ter os 4 níveis da Tabela 2. Não se esqueça de citar os principais nomes e as datas de suas contribuições para a história da Psicologia. Surgimento da Psicologia como ciência 35 LIÇÃO 3 – OS MÉTODOS DA PSICOLOGIA Duração: 2 (duas) horas. Objetivos Ao terminar esta lição, esperamos que você seja capaz de: 1. defi nir o conceito de método em psicologia; 2. descrever os principais métodos usados na psicologia. Conceitos fundamentais: método, introspecção, extrospecção. 1. Introdução Você sabe o que é método? Método é tido como uma regra ou pre- ceito estabelecido como apropriado para atingir um certo objectivo. E me- todologia? Metodologia seria conjunto de regras ou procedimentos estru- turados e coerentes que visam alcança um fi m ou objectivo. Como qualquer outra ciência, a psicologia usa métodos para descrever e compreender os processos e fenómenos psicológicos. 2. MÉTODO INTROSPECTIVO Os métodos da psicologia evoluíram e se diferenciaram à medida que esta ia abarcando diversos campos de saber. Contudo, aqui destacaremos os principais, isto é, aqueles que mais se destacam no estudo dos fenómenos e processos psicológicos. A Tabela 3 que você verá mais à frente apresenta al- guns dos métodos mais usados em psicologia e suas ramifi cações. De entre os métodos mais conhecidos se destacam o método da introspecção, tam- bém conhecido por método subjectivo ou método de observção interior. 36 Psicologia Geral Glossário Introspecção: exame íntimo da consciência; observação que uma pes- soa faz de seus próprios atos, de seu comportamento etc.; exame do interior. Por subjectivo pretende se referir aos factos psicológicos que ocor- rem no interior do indivíduo e que não são posssíveis de serem exteriori- zados. Por exemplo, ao pensar sobre alguma coisa ninguem poderá saber como tu o fazes, a não ser que exteriorizes este facto através de acções que indicam movimento ou através de palavras. Como exteriorizarias a dor pro- vocada por uma febre se não disseres que estás com febre? Ou como alguém perceberia que estás aborrecido com um dos teus alunos se não o dizes com palavras? O subjectivo é portanto aquilo que não pode ser observável. Há muitos factos e fenómenos e factos que não podem ser observados no indí- viduo, sobretudo os psicológicos, mas que ele os sente e os experiencia-os. O método de introspecção tenta buscar e compreender o que está no interior do indivíduo, os seus sentimentos emoções, etc., para explicar o comportamtamento deste. Este método baseia-se fundamentalmente na exploração da consciência do indivíduo, quer dizer, em tentar saber o que existe no interior deste que possa determinar o seu comportamento, quer através da lembrança de eventos passados contados pelos próprios indivídu- os, quer através da observação do conjunto de acções realizadas por este. Você já tentou dar signifi cado aos teus sonhos? Interessa pelo seu conteúdo? A análise de signifi cação dos sonhos é um dos exemplos da aplicação do método instropectivo. A designação de introspecção veio da psicanálise de Freud. Freud, para descobrir as causas dos distúrbios psico- lógicos dos seus pacientes pedia que eles contassem o que tinham sonha- do na noite anterior e, a partir da análise do conteúdo do sonho, descrevia as possíveis perturbações psíquicas dos seus pacientes. Este método, ape- sar de ainda ser usado, possui a desvantagem de não poder ser aplicado em crianças devido ao facto de que elas não seriam capazes de descrever o que lhes ocorrem no seu interior, apesar de se admitir que eles têm percepção dos factos psicológicos. Surgimento da Psicologia como ciência 37 Por outro lado este método não seria aplicável em animais, uma vez que eles não seriam capazes de descrever os seus sentimentos. Sabe-se que no estudo dos processos usam-se animais como comocobaias e os resulta- dos obtidos são depois generalizados e aplicados ao homem. Glossário Sigmund Freud foi um médico neurologista austríaco e judeu, fundador da psicanálise. Freud iniciou seus estudos pela utilização da hipnose como método de tratamento para pacientes com histeria. Ao observar a melhoria de pacientes, elaborou a hipótese de que a causa da doença era psicológica, não orgânica. Essa hipótese serviu de base para seus outros conceitos, como o do inconsciente. Freud também é conhecido por suas teorias dos mecanismos de defesa, repressão psicológica e por criar a utilização clínica da psicanálise como tratamento da psicopatologia, atra- vés do diálogo entre o paciente e o psicanalista. Freud acreditava que o desejo sexual era a energia motivacional primária da vida humana, assim como suas técnicas terapêuticas. Ele abandonou o uso de hipnose em pacientes com histeria, em favor da interpretação de sonhos e da livre associação, como fontes dos desejos do inconsciente. Fonte: adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Freud. 38 Psicologia Geral Figura 3: Freud Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Sigmund_Freud_LIFE.jpg 3. MÉTODO CLÍNICO O método clínico é conjunto de procedimentos usados para diag- nosticar e tratar pessoas que sofrem de problemas comportamentais e/ou emocionais. Este método não é, na sua essência, um método de pesquisa, excepto o método clínico-crítico de Piaget. Os procedimentos clínicos não se destinam a descobrir tendências gerais ou leis do comportamento. Ocupam-se geralmente de um único in- divíduo que precisa ou procura uma ajuda. O ponto de partida do estudo clínico centra-se fundamentalmente em como responder aos problemas comportamentais que uma pessoa apresenta. Os procedimentos científi cos do método clínico são como se seguem: normalmente começa-se por se estudar a natureza do pedido e • observar o comportamento do paciente; Surgimento da Psicologia como ciência 39 formula-se depois as hipóteses ou infl uências sobre o que • estaria a causar o sofrimento do paciente; passa-se depois à recolha de dados (onde se pode incluir a • história passada do sujeito, aplicação de testes, entrevistas com pacientes e/ou pessoas próximas); confi rmam-se ou refutam-se as hipóteses colocadas;• deduz-se depois qual o tratamento provável em função da • confi rmação ou não da hipótese. Actividade I Você reparou que o seu colega está amuado, triste e com falta de dinamismo. Como procederias para conhecer o seu estado psicológico? Descreva o pro- cesso numa folha de papel. Resposta O processo que você provavelmente usará deve ter alguns aspectos parecidos com o método clínico, começando pela observação do comportamento amuado, triste e com falta de dinamismo do seu colega. 4. O MÉTODO EXTROSPECTIVO O método extrospectivo ou de observação exterior é assim desig- nado pelo facto de apresentar duma forma objectiva (que todos possam ver) os factos psicológicos. Contrariamente ao método introspectivo, este metódo descreve e analisa os factos reais que possam ser observados por qualquer um. 40 Psicologia Geral Por exemplo, você está interessado em determinar o nível de leitu- ra dos seus alunos. Que faria? Nesse sentido seria ideal pegar num livro de português, convidar um aluno para ler uma lição e, à medida que ele vai len- do, você vai anotando os erros e falhas de leitura cometidos por este. Neste sentido estaria a testar a capacidade verbal do aluno, que é afi nal uma das formas da inteligência. Se por exemplo você prentende saber como os seus alunos brincam no intervalo, se utilizam objectos perigosos ou não, como procederia? É óbvio que terias que observar o seu comportamento durante o intervalo, ver as acções destes como brincam. A observação é portanto uma das formas do método extrospetivo. Na observação o pesquisador, através dos seus órgãos dos sentidos, observa e acompanha o decorrer de um processo. Como saberias se todos os alunos estão empenhados na resolução de problemas matemáticos na sala de aulas? Obviamente que você marca o exercício escrevendo-o no quadro, e pede para que eles o resolvam. À medi- da que eles vão executando a tarefa você vai medindo as suas reacções e nota que os seus alunos, quando resolvem problemas matemáticos, consultam outros livros, ou falam entre si ou pedem ajuda ao professor. Estas reacções perante um exercício matemático são perceptíveis através da observação contínua dos sujeitos. Glossário Extrospectivo: que diz respeito à extrospecção. Extropecção é a observação das manifestações exteriores. Tabela 3: Resumo dos métodos mais usados em psicologia Método Essência Vantagens Desvanta. Introspecção subjectivo, Observação interior Observação da consciência Aplicado no estu- do das sensações agradáveis e desagradáveis Não aplicável em crianças e animais Retrospectivo Lembrança dos eventos do passado Extrospectivo Observação Apresentação in loco dos factos psíquicos Estudo objec- tivo dos factos psíquicos Importante para psicologia animal e da criança Experimental Fenômenos modi- fi cados artifi cial- mente Surgimento da Psicologia como ciência 41 No método extrospectivo é comum muita das vezes trabalhar-se com pequeno grupo de indivíduos, especialmente quando por exemplo se pre- tende testar a efi cácia de um método de ensino. Neste caso o pesquisador poderá escolher um grupo restrito de indivíduos os quais vão participar na pesquisa. Estes indivíduos são submetidos a tarefas em condições restritas e muito especiais. Isto pode ser realizado em lugares apropriados chamados de laboratório. Glossário Laboratório: lugar onde se realiza uma simulação de factos que ocorrem em condições gerais; lugar equipado para a realização de pesquisas cien- tífi cas ou industriais, preparo de medicamentos, análises clínicas, traba- lhos fotográfi cos etc. O método experimental é uma das componentes do método ex- trospectivo que estuda os factos e fenómenos psicológicos sob condições estritamente controladas. Os cientistas que trabalham com os animais es- tudando o seu comportamento usam frequentemente este método, o expe- rimental, portanto. Você pode realizar o método experimental usando os seus alunos. Mas cuidado! Deve observar as condições éticas na realização da sua ex- periência. Suponhamos que você quer testar o efeito da voz do professor na melhoria da capacidade ortográfi ca dos seus alunos. Você pode escolher aleatoriamente duas turmas. O exercício a realizar seria um ditado. Ora, se é para testar o efeito da voz na compreensão clara das palavras, então uma das vozes seria de um indivíduo que não seria professor. Os dois trabalham (o professor e o não professor) nas duas turmas escolhidas cada um ditando aos alunos uma lição previamente escolhida. Feito o trabalho recolhem-se os testes e corrigem-se. Se os resultados mostrarem que os alunos da turma do professor obtiveram melhores resultados, signifi ca que a voz do professor tem efeitos na compreensão fonética das palavras. O método extrospectivo tem a vantagem, portanto, de se poder através dele estudar-se objectivamen- te os factos e fenómenos psíquicos. Contudo, ele só pode ser empregado em animais e crianças. 42 Psicologia Geral SUMÁRIO Dum modo geral, pode-se dizer que a psicologia passou por diversas fases até se tornar ciência. Graças ao avanço de outras ciências, esta ganhou ímpeto e se destacou como ciência autônoma com o seu objecto de estudo próprio, objectivos e métodos. Contudo, é necessário destacar que o estudo do comportamento humano é algo complexo envolvendo factores internos e externos. Para o conhecimento dos fenómenos psicologicos não nos devemos cingir apenas num único método, devemos combinar vários métodos. Porém, é preciso reconhecer que não existem métodos universais para o estudo dos fenóme- nos psicológicos. O método é escolhido consoante a natureza de estudo que pretendemos realizar. Actividade I Faça uma experiênciasemelhante ao que foi descrito acima e descreva os resul- tados. A que conclusões chegou? Resposta Uma das conclusões que você deve ter chegado após aplicar o método experimental é que ele permite o estudo objetivo dos fatos e fenômenos psíquicos. Autoavaliação 1. Caracterize os métodos estudados (introspecção, observação, experimental, clínico, psicanalítico, testes) destacando os aspectos negativos e positivos. Resposta A sua resposta deve citar as vantagens (aspectos positivos) e desvantagens (negativos) abordadas no quadro sobre os métodos. Surgimento da Psicologia como ciência 43 2. Destaque o objecto, objectivos, conceitos mais usados e métodos dos mo- vimentos ou correntes seguintes: Funcionalismo, Estruturalismo, Behaviorismo, Psicanálise e Gestalt. (Se tiver alguma dúvida, você também pode pesquisar na internet. Uma sugestão é o site http://www.wikipedia.org/). Resposta Para fi car mais fácil, faça um quadro com as seguintes colunas: correntes, objeto, ob- jetivos, conceitos e métodos. A partir disto, complete as linhas com esses aspectos de cada um dos movimentos citados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFRICAS 1. Davidoff, L. (1987) – Introdução à Psicologia – São Paulo – Brasil, Editora, McGraw-Hill Lda. 2. Walonn, H. (1980) – Objectivos e métodos de Psicologia – Lisboa, Portugal. 3. Petrovsky, A. (1980) – Psicologia Geral - Moscovo, Lisboa, Portugal, Editora, Progresso. 4. Mueller, F.L. (1976), Vol. I e II – História da Psicologia – São Paulo – Brasil, Publica- ções Europa/América. 5. Michel e François Gauquelin (1978) – Dicionário de Psicologia – São Paulo, Editora Verbo. 6. Rocha, A., Fidalgo, Z. (1998) – Psicologia – Lisboa, Portugal, Editora, Texto L.da. 7. Psicologia Moderna (1984) – Os grandes de Psicologia – (Pavlov, Watson, Skinner, Kohler, Lorenz, Binnet, Montessori, Piaget, Kinsey, Master e Johnson), Editora, Verbo, Lisboa, Portugal e São Paulo – Brasil. 8. Adelino Cardoso e Outros (1993) – Rumos de Psicologia – Lisboa, Portugal, Edito- ra, Rumos. 9. Witting, A.(1981 – Psicologia Geral – São Paulo – Brasil. 10. Mueller, F.L. (1976), Vol. I e II – História da Psicologia – São Paulo – Brasil, Publica- ções Europa/América. 11. Michel e François Gauquelin (1978) – Dicionário de Psicologia – São Paulo, Editora Verbo. 12. Rocha, A., Fidalgo, Z. (1998) – Psicologia – Lisboa, Portugal, Editora, Texto L.da. 13. Norman A. Sprintahall e Richard C. Sprintahall (1993) – Psicologia Educacional, Portugal. 44 Psicologia Geral 14. Saraiva, Augusto (…) – Psicologia – Editora Educação Nacional, Porto. 15. Gameiro, Aires (1968) – Notas de Psicologia, Editora, Telhal. 16. Helder Martins (1999) – Metodologia de Aprendizagem por solução de problemas – Maputo. 2 PSICOFISIOLOGIA Jaime da Costa Alípio Manuel Magiricão Vale Objectivos da unidade Ao completar esta unidade, esperamos que você seja capaz de: 1. esclarecer as bases biológicas do comportamento para além de outros aspectos como a genética, meio social e sistema endócrino e hormonal; 2. demonstar que o comportamento humano é resultado da complexi- dade do funcionamento do sistema nervoso; 3. distinguir as diferentes funções do sistema nervoso. Conhecimentos prévios Como deve saber o estudo do comportamento do homem começa com o conhecimento do funcionamento geral do organismo, assuntos tratados no ensino secundário. Por isso, no estudo deste capítulo deverá recorrer aos conhecimentos da biologia da 8ª, 9ª e 10ª classes, sobretudo no que diz respeito ao sistema nervoso, à genética e ao sistema hormonal ou endócrino. 46 Psicologia Geral Introdução da unidade Assim que terminou o estudo da primeira unidade com sucesso, está nas suas mãos a segunda unidade. O objectivo fundamental nesta unidade é esclarecer os fundamentos biológicos do comportamento. Ela não deve ser vista como um ramo da psicologia, mas como um conjunto de conhecimen- tos interdisciplinares que englobam, para além dos saberes psicológicos, um conjunto de dados científi cos da medicina, da biologia e da genética. O tempo total de estudo desta unidade é de 12 horas e ela encontra-se subdividida em quatro lições. Nesta unidade falaremos essencialmente de: 1. bases anatómicas e fi siológicas da conduta; 2. ligação entre o neurónio e o sistema nervoso; 3. sistema nervoso humano, suas partes fundamentais e funções; 4. sumário; 5. alguns exercícios. Vários cientistas têm desenvolvido importantes pesquisas sobre as artérias cerebrais e sobretudo com ajuda das intervenções psicocirúrgicas. Psicofi siologia 47 LIÇÃO 1 – A EVOLUÇÃO FILOGENÉTICA DO PSIQUISMO Duração: 2 (duas) horas. Ao terminar esta lição, esperamos que você seja capaz de: conhecer as diferentes fases da evolução do psiquismo;• descrever as diferentes partes da formação do sistema nervoso;• Conceitos fundamentais: sistema nervoso reticulado; sistema ner- voso ganglionar; sistema nervosos central. 1. Introdução Para estudar esta lição, é importante que você conheça o conceito de psiquismo. Você sabe o que é isso? Psiquismo é o conjunto de característi- cas psicológicas de um indivíduo, ou o conjunto de fenômenos psíquicos e processos mentais. Sabe-se que todos os corpos do Universo, em especial os seres vivos, possuem magnetismo (radiestesia). O psiquismo é a força inteligente que comanda essa energia magnética que possuímos. Assim, quando em har- monia, o psiquismo gerencia e coordena o nosso magnetismo, de forma a realizar nossos desejos, a partir dos pensamentos que geramos. Vejamos agora em que tipos de organismo podemos dizer que existe o psiquismo. 2. A VIDA VEGETATIVA Uma das condições fundamentais do surgimento da vida está ligada ao surgimento de pequenas mas complexas moléculas albuminosas. Estas moléculas interagem com o meio ambiente buscando nutrientes para a sua sobrivivência segregando àquelas que não são necessárias ao seu organis- mo. Estes dois processos – assimilação e desassimilação - constituem parte integrante do processo do metabolismo destas células albuminosas. As célu- las albuminosas são organismos que possuem a capacidade de reagir posi- 48 Psicologia Geral tivamente aos estímulos de luz e de calor por estes serem o principal meca- nismo para desencadear o processo do metabolismo. Isto signifi ca que estes organismos só reagem positivamente aos estímulos de luz e calor porque é a partir destes estímulos que eles se alimentam. Glossário Albuminosa: que contém albumina ou possui as propriedades da albumi- na. A albumina é uma proteína que se dissolve na água, coagula-se por aquecimento, e tem como função a manutenção do equilíbrio osmótico. Está presente na clara do ovo, no leite, no sangue e em plantas. Por outro lado, estímulos superfortes, tais como sons efeitos quími- cos não contribuem para o processo do metabolismo para estes organismo. Portanto há uma reacção negativa perante sua presença. Isto signifi ca que os coacervatos ou células albuminosas se orientam no meio ambiente atra- vés do processo de excitabilidade ou de irritabilidade, que é a capacidade de reagir só aos estímulos que provocam o processo do metabolismo e não re- agem àqueles que não provocam esse processo. Fazem parte deste grupo as plantas e as algas marinhas (vida vegetativa). Estes organismos, por exem- plo, se alimentam da luz solar, isto é, a luz do sol é a fonte principal para o desencadeamento do processo do metabolismo. Pense, portanto, na planta que está em sua casa. Para ela sobreviver você deve colocá-la em direcção à luz solar; caso contrário ela morre, mes- mo que a fonte de luz esteja muito próxima. Estes organismos têm por outro lado a capacidade de conservar e transmitir este elementos de uma geração para outra, o que deixa anterver que eles possuem uma espécie de memória primitiva. Neste nível de desenvolvimento dos organismos não se pode falar de existência do psiquismo. 3. ESTÁGIO DE VIDA ANIMAL Na vida animal, começando mesmo pelos protozoários, os organis- mos reagem não sóàs substâncias que integram o processo imediato de me- tabolismo, mas também a todos os estímulos que anunciam esse processo. Psicofi siologia 49 Isso quer dizer que na vida animal existe um processo de procura. Os orga- nismos podem se deslocar à procura de alimentos para a sua sobrevivência. Esta capacidade observa-se em organismos mais minúsculos da vida animal, como é o caso dos protozoários. Figura 4: Protozoários Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Protist_collage.jpg Sabe-se que o que desencadeia o processo de metabolismo nos pro- tozoários é o calor. Foi confi rmado que estes organismos, em circunstâncias onde existe a luz e sabendo-se que a luz é também fonte de calor, podem se deslocar e concentrarem-se no ponto de incidência de luz, esperando-se que se produza um calor sufi ciente que desencadeie o processo de metabo- lismo. Este nível de desenvolvimento é chamado de sensibilidade – a capa- cidade que os oraganismos tem de reagir aos estímulos que dão sinal para o surgimento de substâncias que integram o processo de metabolismo. Neste nível de desenvolvimento já se pode falar do indício biológico e objectivo do surgimento do psiquismo, diferentemente do estágio da vida vegetal. O que diferencia os dois níveis é que no estágio animal desencadeia- se o processo de resposta aos estímulos que sinalizam o aparecimento de substâncias que integram o metabolismo, enquanto que no estágio vegetal a planta pode morrer tento por perto uma bacia de água. 50 Psicologia Geral 4. ORIGEM DO SISTEMA NERVOSO E SUAS FORMAS MAIS SIMPLES O sistema nervoso começa com a transição dos organismos unice- lulares – que têm uma célula (os protozoários, por exemplo) - para os plu- ricelulares (que tem mais que uma célula). Estes organismos pluricelulares orientam-se activamente pelo meio à procura de comida. Para tal estes orga- nismos devem estar dotados de mecanismos para executar movimentos espe- ciais que lhes facultam a obtenção do alimento desejado. Isto signifi ca que a estrutura do seu corpo deve ser mais complexa para se adaptar às condições do meio. Pertencem a esta classe medusas, anêmonas-do-mar, estrelas-do- mar, que possuem já o indício do sistema nervoso que ainda não é centraliza- do. Contudo o seu sistema nervoso é descrito como sistema nervoso reticulado ou difuso (em forma de rede) e não possui uma extremidade. Cada ponto que se lhe toca transforma-se no principal centro de excitação. Figura 5: Alguns exemplos de anêmonas-do-mar Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Actiniaria.jpg 5. O SISTEMA NERVOSO GANGLIONAR A fase seguinte de desenvolvimento do sistema nervoso está relacio- nada com o desenvolvimento de gânglios frontais em alguns organismos da vida animal. Se reparar numa minhoca notará que ela possui um glânglio Psicofi siologia 51 frontal na sua extremidade composto por antenas hidroreceptoras que lhe permitem identifi car a umidade. A actividade de procura obedece essas ca- racterísticas, isto é, a minhoca se desloca em direcção à humidade, onde vai encontrar os seus alimentos. É nas minhocas onde começa a surgir o princí- pio de centralidade do sistema nervoso. A extremidade nervosa da minhoca se localiza no gânglio frontal desta. Aí é que constitui o centro da actividade nervosa, o sistema nervoso centralizado. Exemplifi cação Se estiver perto do mar procure encontrar uma medusa ou uma estrela-do-mar. Analise e descreva as suas formas de comportamento. Se estiveres perto de um rio, lagoa ou pântano procure uma minhoca e identifi que o seu gânlglio frontal e as antenas hidroreceptores de humidade. 6. O SURGIMENTO DE FORMAS COMPLEXAS DE COM- PORTAMENTO: O COMPORTAMENTO INSTINTIVO Se você olhar para um insecto (mosca, abelha, vespa, etc.) notará uma diferença em relação aos outros organismos já estudados. Notará que na extremidade frontal da mosca aparece um aparelho de recepção da luz: o olho. Este aparelho permite assimilar a informação altamente especializada que provém do mundo exterior. 52 Psicologia Geral Figura 6: Mosca Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1220531 Para além do receptor de luz os insectos possuem vários outros re- ceptores altamente especializados. Eles possuem também receptores quí- mico-tácteis especializados que se situam nas antenas, os receptores de sa- bor localizados na cavidade bucal e nas patas, e os receptores de vibração que se localizam nos tímpanos das pernas que permitem receber vibrações ultra-sónicas de mais de 600.000 vibrações por segundo. Esses aparelhos receptores permitem transmitir estímulos até ao gânglio frontal para a sua descodifi cação. O insecto reage posteriormente. O comportamento dos insectos permitiu especular que fosse um comportamento racional, contudo conclui-se que este tipo de de compor- tamento é apenas instintivo e não racional. O que acontece é que estes or- ganismos estão dotados de progamas congênitos (hereditários) que lhes permitem executar movimentos complexos que se confundem com actos inteligentes. 7. O COMPORTAMENTO INDIVIDUALMENTE VARIÁVEL DOS ANIMAIS VERTEBRADOS E O APARECIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL A vida dos vertebrados é totalmente diferente da dos invertebrados tanto nas formas de comportamento como na sua constituição. As condi- ções de alimentação são mais complexas. O alimento deve ser preparado Psicofi siologia 53 antes de ser consumido. Tudo isto eleva a actividade mental destes seres, bem como a estrutura do sistema nervoso. Nos vertebrados os estímulos são captados pelos órgãos nervosos e transportados para o cérebro, onde são analisados e estabelecidas novas co- nexões. Isto equivale dizer que a informação recebida não é consumida tal como está, mas senão analisada e estabelecidas novas ligações apropriadas para cada animal. Isso permite a que cada um reaja de acordo com as suas necessidades. O órgão especializado que se encarrega em fazer estas análises é o cé- rebro. As respostas aos estímulos do exterior são diversifi cadas dependendo do tipo de vertebrado. Mas importa dizer que a diferença parte mesmo dos invertebrados inferiores até os superiores, incluindo o homem. Autoavaliação Caça uma abelha ou procure uma amostra no laboratório de psicologia. Observe atentamente as suas patas e descreva o que você viu. Realiza esta actividade com ajuda do seu colega para que possam discutir juntos. Resposta A sua descrição deve ser detalhada, sobre todas as partes da anatomia da abelha. Basicamente, ela é dividida em cabeça, abdômen e tórax. Dentre as outras partes, você deverá ter destacado, além das pernas, a língua, antenas, ferrão, asas e olhos. Psicofi siologia 55 LIÇÃO 2 – AS BASES ANATÓMICAS E FISIOLÓGICAS DA CONDUTA Duração: 2 (duas) horas. Objectivos Ao terminar esta lição, esperamos que você seja capaz de: 1. conhecer as diferentes partes que constituem o cérebro; 2. identifi car as principais partes que constituem um neurônio. Conceitos fundamentais: cérebro; neurónio. 1. Introdução Como dissemos anteriormente, este capítulo requer que você se re- corde dos aspectos básicos que aprendeu no ensino secundário em matéria de biologia, especialmente no estudo da célula, apesar de neste estudarmos apenas a célula nervosa nos homens. Antes de fazermos uma abordagem profunda sobre os temas propos- tos, iremos fazer referência a um historial das descobertas realizadas por di- versos cientistas no estudo da célula. 2. DESCOBERTAS SOBRE AS CÉLULAS Em 1667, o físico inglês Robert Hooke, experimentando o seu mi- croscópio composto, verifi cou que a cortiça não é homogénea como o vi- dro, ou qualquer metal, mas que nela existiam numerosas cavidades, seme- lhantes aos alvéolos de um favo de abelhas. A essas cavidades deu o nome de células (pequenas celas). 56 Psicologia Geral Figura 7: Cortiça Fonte: http://www.sxc.hu/photo/941800 Em 1671, o sábio italiano Malpighi confi rmou a observação de Hooke, e verifi cou também que vários vegetais são constituídos por pequenascavida- des muitas das quais, ao contrário das da cortiça, são cheias de líquido. Em 1831 o botânico inglês Robert Brown, examinando a epiderme de várias plantas, descobriu que cada célula tem no seu interior um suco em movimento constante, e um corpúsculo arredondado e refringentes a que deu o nome de núcleo. Em 1838 o botânico alemão Schleiden demonstra que todas as plan- tas são formadas por unidades independentes, com a sua vida própria e que a vida da planta inteira é a soma da actividade vital de todos os seus elemen- tos. Schleiden é assim considerado o fundador da teoria celular. Em 1839 o zoologo Schwann demonstrou haver o mesmo processo nos seres animais. Assim, hoje todos os seres vivos são constituídos por uma célula ou por um conjunto de células. O conjunto de células forma o tecido, o conjunto de tecidos forma o ór- gão e o conjunto de órgãos desempenhando a mesma função forma o sistema. Psicofi siologia 57 3. O CÉREBRO O cérebro tem a funcão de coordenar todas as acções conscientes (voluntárias) e as inconscientes (involuntárias) desenvolvidas pelo indiví- duo. Divide-se em duas partes ou hemisférios: hemisfério esquerdo e he- misfério direito. Os dois hemisférios têm, no entanto, funções diferentes. Figura 8: Cérebro de um chimpanzé Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rebro O hemisfério esquerdo é o hemisfério da linguagem, sendo respon- sável pelas representações lógicas e analíticas que desenvolvemos da reali- dade que nos rodeia. O hemisfério direito parece ser especializado na compreensão holís- tica dessa realidade, na construção de conceitos abstractos e reconhecimen- to de padrões. 58 Psicologia Geral Os hemisférios cerebrais encontram-se envolvidos por uma camada muito fi na designada de córtex cerebral. Nesta camada normalmente distin- guem-se duas áreas fundamentais, entre elas a de projecção e a de associação. Nas áreas de projecção motoras, ou sensoriais, encontram-se “pro- jectadas” ou representadas as informações referentes aos movimentos ou às sensações. As áreas de associação estão provavelmente implicadas nos processos mentais superiores. O cerebelo é uma outra componente do sistema nervoso cuja res- ponsabilidade é coordenar os movimentos e intervir no equilíbrio do corpo e na orientação. Esta componente desempenha ainda duas funções fundamentais: a) coordenação da actividade motora; b) manutencão da harmonia dos movi- mentos do nosso corpo, isto é, mantém a posicão do equilíbrio do corpo. O bulbo raquidiano controla as funções ou respostas orgânicas so- máticas, como por exemplo o ritmo respiratório e a circulação sanguínea. Também controla actividades refl exas vitais como engolir, tossir, vomitar e espirrar. As drogas tais como a cocaína, heroína e anfetaminas danifi cam o bulbo raquidiano, impossibilitando o controle dessas acções refl exas. O tronco cerebral recebe informações da pele e dos músculos da ca- beça e também grande parte da informação dos sentidos especiais como a audição, o equilíbrio e o gosto. Controla também a saída motora dos mús- culos da face, pescoço e olhos e determina os níveis de vigília de alerta. Psicofi siologia 59 Figura 9: As partes do sistema nervoso Fonte: www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervoso/encefalo/encefalo.html 4. BASES ANATÓMICAS E FISIOLÓGICAS DA CONDUTA Para se estudar e compreender o comportamento humano importa compreender também a constituição do organismo, isto é, o seu funciona- mento do ponto de vista fi siológico. Dos diferentes sistemas que constituem o organismo humano destaca-se o sistema nervoso, capítulo que estamos agora a tratar. O sistema nervoso compreende o conjunto de órgãos que transmi- tem a todo o organismo os impulsos necessários aos movimentos e às diversas funções, e recebem do próprio organismo e do mundo externo as sensações. A Figura 10 representa as partes consituintes do sistema nervoso. Figura 10: O sistema nervoso central humano e suas partes: (1) cérebro – (2) sistema nervoso central – (3) espinha dorsal. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_nervoso 60 Psicologia Geral O sistema nervoso constitui, portanto, o centro da actividade com- portamental do ser humano. Ele é constituído por uma rede complexa de células nervosas cuja função é regular as reacções ou respostas dos estímu- los do mundo externo. Pode-se dizer que tudo o que o homem faz é coordenado e proces- sado por este sistema. O sistema nervoso como um todo é constituído por células nervosas chamadas neurónios. Estas células são responsáveis pela condução de im- pulsos nervosos de e para o sistema nervoso. Cada neurónio funciona como um gerador de impulsos, isto é, em cada instante cada neurónio “decide” emitir ou não um impulso nervoso em função das informações fornecidas por outros neurónios. Faça uma breve pausa na sua leitura e olhe atentamente para a Figura 11. Repare nas ligações complexas estabelecidas entre os neurónios. Pense. Quantas ligações destas estão no nosso cérebro? Atenção Lembre-se que o neurónio é a unidade básica funcional dos sistemas nervoso central e periférico. Psicofi siologia 61 Figura 11: As partes constituintes de uma célula nervosa: o neurónio Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Complete_neuron_cell_diagram_pt.svg Como se pode notar na Figura 11, o neurónio é constituído por di- versas partes entre elas o núcleo, axónio, dentrites, membrana celular, corpo celular, bainha de mielina e ramifi cações do axónio. O núcleo é a parte do neurónio que contém a informação genética sob a forma de ácido – ADN (ácido desoxirribonuleico) – que determina a feição ou forma e a função da célula. Os neurónios, como qualquer outra célula, são constituídos também de uma substância incolor chamado protoplasma que tem a função de con- verter os alimentos e o oxigénio em energia e fabricam neurotransmissores cujo o papel é a transmissão de mensagens. Portanto os neurotransmissores têm um papel importante na con- versão dos estímulos recebidos do mundo exterior em impulsos nervosos. Uma das componentes importantes do neurónio é o axônio. 62 Psicologia Geral Esta componente transporta a informação proveniente do corpo ce- lular para as adjacentes. O axônio é às vezes cercado por estruturas gorduro- sas chamadas bainha de mielina. A bainha de mielina tem função de isolante e permite que a mensa- gem passe mais depressa de um neurónio para outro. Uma outra componente importante do neurónio são os dentrites. Os dentrites são fi bras em forma de árvore (ver fi gura) que se ramifi cam e cuja funcão é colher informacões dos neurónios próximos e de outras células, oca- sionalmente transmitir mensagens. Os neurónios ligam-se entre si através de estrutura apropriada que se chama de sinapse, que é uma pequena abertura que permite a passagem do impulso de um neurónio para o outro. Olhando atentamente para esta ligação dá a sensação de que há curto circuito quando dois neurónios se ligam entre si. Na verdade este “curto circuito” é o que dá origem portanto ao impulso nervoso. Repare atentamente na fi gura. Autoavaliação 1) Nesta lição você viu quais são as partes que constituem um cérebro. Você saberia dizer quais são? Resposta: O cérebro divide-se em duas partes ou hemisférios: hemisfério esquerdo e hemisfé- rio direito. Os hemisférios cerebrais encontram-se envolvidos por uma camada muito fi na designada de córtex cerebral. O cerebelo é uma outra componente do sistema nervoso cuja responsabilidade é coordenar os movimentos e intervir no equilíbrio do corpo e na orientação. O bulbo raquidiano controla as funções ou respostas orgânicas somáticas, como por exemplo o ritmo respiratório e a circulação sanguínea. O tronco cerebral recebe informações da pele e dos músculos da cabeça e também grande parte da informação dos sentidos especiais, como a audição, o equilíbrio e o gosto. Controla também a saída motora dos músculos da face, pescoço e olhos e determina os níveis de vigília de alerta.Psicofi siologia 63 2) Quais são as prinipais partes constituintes dos nerónios? Resposta: O neurónio é constituído por diversas partes, entre elas o núcleo, axónio, dentrites, membrana celular, corpo celular, bainha de mielina e ramifi cações do axónio. Psicofi siologia 65 LIÇÃO 3 – LIGAÇÃO ENTRE O NEURÓNIO E O SISTE- MA NERVOSO Duração: 2 (duas) horas. Objectivos Ao terminar esta lição, esperamos que você seja capaz de: 1. conhecer as diferentes partes que constituem o Sistema Nervoso Central. Conceitos fundamentais: Sistema Nervoso Central; Sistema Nervoso Periférico. 1. Introdução O sistema nervoso, como referimos anteriormente, é um sistema altamente organizado em virtude da combinação de células especializadas chamadas de neurónios (nervos) motores, neurónios sensoriais e de cone- xão. Certa literatura designa os neurónios de conexão como sendo de asso- ciação ou mistos. Os neurónios motores, conhecidos também por eferentes, têm a fun- ção de transportar mensagens do sistema nervoso central para os músculos nos quais se produz a resposta em forma de movimento ou contracção. Pen- se por exemplo numa tomada electrica a partir do qual se pode ligar uma fi cha e fazer funcionar a máquina. Atenção, não estamos a tentar comparar o funcionamento do organismo com uma máquina. Estamos apenas a dar exemplos ilustrativos do mecanismo de funcionamento deste. Os neurónios sensoriais, também designados de aferentes, têm a fun- ção de conduzir os impulsos captados pelos receptores dos órgãos senso- riais para o sistema nervoso central. Os neurónios de conexão estão ligados ao processamento de informa- ções mais complexas e estabelecem a mediacão entre os neurónios senso- riais e motores. Portanto parece que tudo funciona num sistema de circuito fechado, matéria que aprendeste na física no ensino secundário. 66 Psicologia Geral 2. SISTEMA NERVOSO HUMANO: SUAS PARTES FUNDAMENTAIS E FUNÇÕES Figura 12: As partes constituintes do sistema nervoso Do ponto de vista anatómo-funcional o sistema nervoso divide-se em: a) Sistema nervoso central Regula todas as interacções entre o organismo e o meio externo, isto é, recebe e processa a informação proveniente do meio exterior e co- manda a resposta. O sistema nervoso central é constituído por encéfalo e espinal medula. A função de espinal medula é conduzir impulsos de e para o encêfalo e coordenar actividades refl exas que se resume em transmitir sinais entre o corpo e o encéfalo; dos órgãos dos sentidos e dos músculos para o cérebro; envia para o cérebro informações referentes a estimulação táctil. Permite a execução de respostas motoras rápidas, instantâneas, autó- nomas que antecedem à consciência de um estímulo. Psicofi siologia 67 Uma lesão nesta região pode originar a incapacidade em controlar as pernas, os braços, os intestinos ou a bexiga uma situação de paraplégica. Figura 13: As partes que compõem a espinal medula. Fonte: www.corpohumano.hpg.ig.com.br/sist_nervoso/medula_espinhal/med_espinhal.html b) O sistema nervoso periférico O sistema nervoso periférico é uma das partes do sistema nervoso que é constituída por todos os nervos que se encontram fora do cérebro e da medula espinal e estende-se por todo corpo. Ele é constituido pelo Sistema Nervoso Somático e Sistema Nervoso Autónomo. Sistema Nervoso Somático:• Pense por exemplo num sistema electrico da sua casa. Os cabos que se conectam às lampadas ou que derivam a energia para as tomadas estão ligados ao quadro central. Estes cabos extraem energia do quadro central para acender a lâmpada e ao mesmo tempo mandam sinais da lâmpada ao quadro central. Da mesma forma, o Sistema Nervoso Somático é constituído de nervos que se ligam directamente aos músculos e aos receptores voluntários. Estes recep- tores assemelham-se aos cabos que carregam a informação dos receptores da pele e dos músculos e levam-na ao sistema nervoso central e este por sua vez emite ordens aos músculos. 68 Psicologia Geral Por exemplo, se se toca no olho ele começa a lacrimejar. Mas antes deste processo, o estímulo foi conduzido ao sistema nervoso central de re- ceptores para o sistema nervoso central para ser reconhecido e só depois se manda a resposta adequada. Os receptores da informação são constituídos por dois tipos de fi bras nervosas: – fi bras aferentes, que são os axônios que levam a informação directamen- te para o sistema nervoso central a partir da periferia do corpo; e – fi bras eferentes, que são os axônios que devolvem a informação do sistema nervoso central para a periferia do corpo. Cada nervo do corpo é constituído por vários axônios de cada um destes dois tipos mencionados acima. Pode-se dizer que os nervos somáti- cos são como um sistema electrico que é constituído por dois fi os, um ne- gativo e um positivo. O sistema nervoso somatico permite-nos o contacto com o mundo exterior. Sistema Nervoso Autónomo:• Este tipo de sistema nervoso é constituído por nervos que se ligam ao coração, aos vasos sanguíneos, aos músculos lisos e às glândulas. Embora seja controlado pelo Sistema Nervoso Central, o Sistema Nervoso Autóno- mo ele funciona separadamente. Como o próprio nome indica ele é autô- nomo. Ele controla as funções automáticas, involuntárias e das vísceras do nosso corpo. Imagine por exemplo o funcionamento do coração, dos rins, pulmões, etc., que não depende da nossa vontadade. O Sistema Nervoso Autónomo é o mediador das funções fi siológicas que acontecem quando uma pessoa experimenta emoções. Pense por exemplo que você às vezes tem uma discussão desagradável com uma outra pessoa. Se você se aborre- ce-se com isso, o seu ritmo cardíaco, quer dizer, as batidas do teu coração aumentam de intensidade e isso pode aumentar a sua pressão sanguínea, que se pode algumas vezes se transformar em arrepios ou transpirações. O Sistema Nervoso Autónomo subdivide-se ainda em sistema ner- voso simpático e sistema nervoso parassimpático. O Sistema Nervoso Simpático é o responsável pelo transporte do san- gue e do oxigenio para todas as partes do corpo, preparando o corpo para a acção, enquanto que o parassimpático diminui a acção energética do corpo. Psicofi siologia 69 Este tipo de sistema nervoso é que é responsável pela diminuição do ritmo cardíaco quando o nosso coração se acelera e promove a redução da pressão sanguínea e da disgestão. Isto signifi ca que depois de uma pessoa se emo- cionar muito, para voltar para o seu estado normal, precisa que o sistema nervoso parassimpático actue. Figura 14: Sistema Nervoso Simpático e Parassimpático www.afh.bio.br/nervoso/nervoso4.asp O Sistema Nervoso Parassimpático (SNP), como se referiu anterior- mente, funciona como refreador do Sistema Nervoso Simpático. O SNP actua sobre os órgãos tais como o coração, os brônquios, os intestinos, a bexiga e outras glâdulas secretórias estabelecendo as suas funções normais. 70 Psicologia Geral Actividade I Identifi que as partes que compõem o Sistema Nervoso Central. Resposta: O Sistema Nervoso Central é dividido em Sistema Nervoso Central e Sistema Nervoso Periférico. O Sistema Nervoso Periférico, por sua vez, é constituído por Sistema Nervo- so Somático e Sistema Nervoso Autónomo. Este último divide-se em Sistema Nervoso Simpático e Sistema Nervoso Parassimpático. Nesta unidade abordamos questões fundamentais relacionadas com a constituição e funcionamento do sistema nervoso. Rerferimo-nos ao facto de que o sistema nervoso era constituído por diversas partes, entre as quais o sistema nervoso central e suas ramifi cações, bem como o sistema nervoso periférico, com suas respectivas divisões. Na abordagem desta matéria é essencial compreender que o funcio- namento do sistema nervoso está intimamente ligado à compreensão da es- trutura e função da célula básica do sistema nervoso que o neurónio. Um dado estímulo presente no meio vai excitar os receptores (células que transformam os estímulos em impulsos nervosos). Em
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