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DERMATOLOGIA LUCAS SANTANA – MEDICINA UFMA SÍFILIS INTRODUÇÃO A sífilis consiste em uma infecção sistêmica com polimorfismo lesional, sendo uma doença exclusiva do ser humano, compreendendo um grave problema de saúde pública Tem como característica o “liga-desliga-liga”, ou seja, períodos de doença ativa (liga), período de remissão, sem sintomas (desliga) e de nova manifestação (liga). Esta reação depende do agente etiológico e de sua interação com o sistema imunológico do hospedeiro ■ Agente etiológico: ▪ Provocada pelo agente Treponema pallidum, uma espiroqueta microarófila móvel GRAM- ▪ Possui genoma pequeno, é uma bactéria delicada mas extremamente agressiva ▪ As necessidades metabólicas da bactéria são supridas pelo aparato celular do hospedeiro (semelhante a um vírus), por isso não é possível cultivá-la in vitro ■ Epidemiologia: ▪ Provavelmente de origem americana, espalhando- se para o resto do globo ▪ Problema de saúde pública no mundo ■ Transmissão: ▪ Essencialmente por via sexual ▪ A via não sexual compreende a uma exceção: - Transfusão sanguínea - Inoculação acidental - Instrumentos contaminados ▪ Transmissão vertical Pode ocorrer: - Por via intraútero ou transplacentária (80%): » Pode causar morte in útero, parto pré-termo ou morte neonatal » Quanto mais recente for a infecção da gestante pela sífilis, maior a chance de transmissão ao feto devido à alta carga parasitária e a baixa resposta imunológica materna » A gravidade da doença varia de acordo com a idade gestacional. Se o feto estiver no último trimestre, por exemplo, as manifestações da sífilis congênita serão mais brandas - Pelo canal de parto Logo: a transmissão é inversamente proporcional ao tempo de duração da doença. ■ História natural ▪ O contato com o treponema proporciona a sua inoculação à pele/mucosas íntegras, sem necessidade de soluções de continuidade ▪ A primeira manifestação, apesar de já ser uma patologia sistêmica, dá-se de forma localizada (no local de penetração do parasita) na forma de protossifiloma (sífilis primária), seguida de linfadenectomia regional ▪ Geralmente, após a primeira manifestação, a lesão regride espontaneamente, independente do tratamento ▪ Após a regressão, a doença entra em período de latência, que pode durar de 3-10 semanas, além de ocorrer disseminação hematogênica ▪ Posteriormente, ocorrem as manifestações da sífilis secundária. As primeiras manifestações são mais exuberantes, duram mais tempo e com mais chances de infecção. Já das demais são menos exuberantes e duram menos tempo, até entrar em um período de latência. Essas manifestações recorrentes são provocadas por um desequilíbrio entre agente-hospedeiro-ambiente que desencadeiam as manifestações da sífilis secundária novamente (mecanismo de reentrada) ▪ Após a remissão, a doença pode entrar em um período de latência pelo período de 2-20 anos, podendo seguir 2 caminhos: ou período de latência eterna (cura) ou evolução para sífilis terciária ▪ Na sífilis terciária, há manifestações imunológicas contra o agente, ocorrendo principalmente na pele, mas também em outros órgãos, como coração, SNC, etc Atenção: geralmente, a sífilis é diagnosticada na sua forma “desligada”, ou seja, quando não há manifestações. Dessa forma, é detectada por meio dos testes sorológicos ■ Manifestações clínicas ▪ Sífilis adquirida: - Recente (até 1 ano de evolução) . Primária . Secundária - Tardia (mais de um ano de evolução) . Secundária . Terciária DERMATOLOGIA LUCAS SANTANA – MEDICINA UFMA Obs.: A sífilis latente engloba tanto a recente quanto a tardia - Sífilis/HIV ▪ Sífilis congênita ▪ Sífilis Primária - O período de incubação varia de 7-90 dias (média de 21 dias), ou seja, quanto maior a carga parasitária, menor a duração do período de incubação; e quanto menor for a carga parasitária, maior a duração do período de incubação - Manifesta-se por meio do Protossifiloma (cancro duro), podendo estar associado com uma micropoliadenopatia - O protossifiloma é altamente contagiosa: . Mulher: colo uterino e vulva . Homem: sulco balanoprepucial e glande . Localizações extragenitais ( - Involução espontânea: 1-6 semanas (média de 10 dias) ▪ Características do protossifiloma: - Lesão ulcerada geralmente única de fundo limpo e seco, de coloração avermelhada, amarelada ou acinzentada, de bordas bem delimitadas e completamente indolor Observações: → Sífilis decapitada: - Corresponde à não manifestação da sífilis primária (ou seja, não há protossifiloma) devido à baixa carga parasitária ou supressão da manifestação devido ao uso de antibióticos para outra doença → Cancro misto de Rollet: - Corresponde a uma associação cancro duro com cancro mole (cancroide, sendo uma úlcera dolorosa, secretiva, odor característico e sem regrressão espontânea). Apresenta “contaminação em espelho” por meio de autoinoculação → Pode ocorrer também a associação do protossifiloma com as exsulcerações do herpes simples genital. ▪ Sífilis secundária - Aparece entre 4-12 semanas após o cancro (média de 2 meses) - Erupção generalizada, simétrica, assintomática, e de aspecto variável, com regressão espontânea. As manifestações podem apresentar diferentes padrões no decorrer das manifestações subsequentes - Apresentações: . Roséolas sifilíticas – lesões maculopapulares, ligeiramente infiltradas de coloração rosa-pálido, assemelhando-se a uma “alergia”, e por isso deve- se questionar uso prévio de medicamentos . Sífílides papulosas ou papuloescamosas (colarete de Biett – colarete descamativo) – pápulas infiltradas com colarete descamativo ao redor deles . Sifílides maculares – máculas eritematosas ligeiramente infiltradas variando entre avermelhado-acastanhados ou hipocrômicas . Sifilídes palmoplantares – compreendem às papuloescamosas nas palmas e plantas. Possui diagnóstico com o Eritema Multiforme . Sifílides elegantes – possui aspecto circinado/anular com fundo ligeiramente atrófico e bordas infiltradas e quase que exclusivamente manifesta-se em indivíduos de fototipos altos. Geralmente ao redor da boca e no colo . Placas mucosas – lesões ligeiramente infiltradas nas regiões de mucosas. . Sinal de Cornill - corresponde à presença das placas mucosas língua, acarretando no depapilamento . Condiloma plano – lesões pápulo-achatadas comumente nas regiões perineal/perianal de cor rosada-esbranquiçada, indica coinfecção com o HIV. Faz diagnóstico diferencial com o condiloma acuminado. É uma das manifestações da sífilis congênita precoce . Alopecia em clareiras – rarefação dos pelos no couro cabeludo, que se entremeia com as áreas não afetadas. Geralmente mais visível em homens ▪ Sífilis terciária As manifestações independem da carga parasitária, e sim da reação imunológica. Aqui, a chance de contágio é baixa - Manifesta-se em pacientes não tratados: . 37% evoluem para sífilis terciária (em 2-30 anos) . 60% evoluem para cura espontânea - Dos que desenvolvem sífilis terciária: . 16% apresentam lesões tegumentares: * Únicas ou pouco numerosas, assimétricas e destrutivas. São descamativas (PLECTsc) * Deixam cicatrizes atróficas e não retráteis * Não involuem espontaneamente * Ótima resposta ao tratamento específico - 10% podem apresentar manifestações cardiovasculares (aortite significativa) DERMATOLOGIA LUCAS SANTANA – MEDICINA UFMA - 6% apresentam neurossífilis (rara, mas acomete geralmente indivíduos HIV+, com manifestação precoce) - 10% morrem - Apresentações da sífilis terciária (Sífilis benigna tardia) » Placa nódulo-ulcerativa – presença de nódulos subcutâneos que se liquefazem,formando a goma (goma sifilítica) » Lesões túbero-circinadas – tubérculos brilhantes inespecíficos, correspondem a granulomas » Placas psoriasiformes – placa eritêmato- descamativas e bem delimitadas » Nódulos subcutâneos » Goma sifilítica » Cancro Redoux – lesão nodular no local de inoculação da lesão primária ▪ Sífilis latente - Não há sinais e sintomas clínicos. - Duração indefinida - Diagnóstico exclusivo por testes sorológicos (cicatriz sorológica = indivíduo tratado que apresenta reatividade no exame VDRL em títulos baixos: 1:2 e 1:4) - Sempre avaliar aorta e líquor - Pesquisar HIV, HCV e HBV - Classificação: . Latente recente (<01 ano) . Latente tardia (> 01ano) . Latente indeterminada (exame sorológico negativo e posteriormente positivo no período menor que 1 ano) ▪ Sífilis e HIV - Evolução semelhante aos pacientes sem HIV - Mais frequente: . Persistência do protossifiloma (cancro com secundarismo) . Neurossífilis de instalação mais rápida - Punção liquórica é recomendável, não obrigatória - Tratados com os mesmos esquemas e dosagens - Falhas terapêuticas são mais comuns . Controle clínico e sorológico rigoroso . Mensalmente nos primeiros 6 meses - Pacientes alérgicos devem ser dessensibilizados - Manifestações Sífilis+HIV » Sífilis maligna precoce: → Lesões nódulo-ulcerativas (características das lesões terciárias), numerosas, generalizadas, simétricas e muito exuberantes (características semelhantes às lesões secundárias) → Cancro e lesões palmares ■ Diagnóstico ▪ Pesquisa direta: São úteis apenas quando há presença de lesão (protossifilomas ou lesões iniciais da sífilis secundária) - Microscopia em campo escuro . Realiza-se escarificação da lesão, onde é colhido material do fundo da úlcera . Não é útil para mucosas oral e anal, pois como o trato está repleto de espiroquetas saprófitas, não haverá diferenciação - Impregnação pela prata . A espiroqueta colora-se de preto - Imunofluorescência direta . Uso de antígenos específicos do treponema. É útil para as lesões genitais - PCR ▪ Sorologia: - Reações não treponêmicas - Reações treponêmicas ▪ Exame do líquor ▪ Exame histopatológico » Sorologias ▪ Reações não treponêmicas (antilipídicas): - Rastreio (baixo custo e fácil execução) - VDRL; RPR - Positivam a partir de 4 a 5 semanas após a infecção - Tendem a negativar - Exame de característica qualitativa e quantitativa, utilizado para acompanhamento do tratamento e parâmetro de cura - Títulos altos (≥1/32: infecção ativa) - Títulos baixos (≤1/4: “cicatriz sorológica” ou SLT) → Falso negativo: - Infecção recente - Imunossuprimidos (raro) - Eeito Prozona (resultado negativo por possuir altíssima carga parasitária) Obs.: todo teste não-treponêmico precisa ser rediluído, ou seja: 1:2 significa dizer 1 quantidade de soro para 2 diluições → Falso positivo: - Permanente /Transitórias - Reações cruzadas (SAAF/LES/MHV/TB/Malária) - Gravidez/Idade avançada - Manifesta-se baixos títulos (1:8 requer tratamento) DERMATOLOGIA LUCAS SANTANA – MEDICINA UFMA ▪ Reações treponêmicas específicas - Confirmação (alto custo/difícil execução) - FTA-ABS (absorção de anticorpos treponêmicos com cepas de tratamento de Nichols); - TPI (Teste de imobilização de treponema) - TPHA (Teste de hemaglutinação do T. pallidum) - Qualitativos, ou seja, diagnostica como “positivo” ou “negativo”, apenas - Positivam 3 semanas após a infecção - Reatividade permanente - Resultados falsos são incomuns ■ Tratamento ▪ Penicilina para todas as formas, especialmente: . HIV/Neurossífilis . Sífilis congênita . Sífilis em gestante ▪ Não há estudos controlados com outras medicações ▪ Sem resistência à penicilina até o momento ▪ Esquema de tratamento para Sífilis: » Sífilis recente (primária, secundária e latente recente): . Penicilina G Benzatina: 2,4 milhões UI, IM, dose única (1 ampola de 1,2m UI em cada glúteo) . Alternativa (exceto para gestantes): * Doxiciclina 100mg, 2x/dia, por 15 dias » Sífilis tardia (secundária, terciária latente tardia e indeterminada): . Penicilina G benzatina: 2,4 milhões UI, IM, por 3 semanas consecutivas (1,2m UI em cada glúteo) . Ao final de 3 semanas, total: 7,2 milhões UI, ou seja 6 doses . Alternativa, exceto para gestantes: * Doxiciclina 100mg, 2x/dia, por 30 dias ▪ Sífilis e gestação - Tratamentos não penicilínicos são inadequados e usados somente nas CI absolutas à penicilina - Gestantes comprovadamente alérgicas à penicilina devem fazer dessensibilização - O estearato de eritromicina era uma alternativa terapêutica mas não e mais comercializada no Brasil ■ Complicações ▪ Reação de Jarisch-Herxheimer: - Típica da sífilis secundária, principalmente no tratamento das primeiras manifestações (final da primeira dose). A morte do parasita provoca a liberação de uma quantidade maciça de antígenos, provocando uma reação inflamatória sistêmica, causando: . Febre, calafrios, artralgias e mialgias . Exacerbação das lesões de 4 a 12 horas - Prevenção: . Administração de Prednisona 20mg/dia + Tetraciclina 1g/dia por 2 a 3 dias antes do início da terapia ▪ Reação de Hoigne: - Taquicardia, elevação da PA, distúrbios audiovisuais, sintomas psicóticos e convulsões - Dura cerca de 30 minutos - Provocado pela Penicilina procaína (1:1000 casos) ▪ Reação paradoxal: - Liquefação das gomas devido ao tratamento. Deve-se investigar sistema cardiovascular e SNC - Agravamento do quadro clínico - Manifestações relacionadas com a estrutura acometida ▪ Controle da cura: » Sífilis adquirida: - VDRL: 3 em 3 meses no 1º ano e 6 em 6 meses no 2º ano - É esperada a redução da titulação 2x em três meses e 3x em seis meses - A cura é tida com redução de 4x ou negativação em 6 a 9 meses - Deve-se retratar quando não houver queda ou se houver aumentado 2x da titulação - A dose de retratamento corresponde à sífilis tardia » Gestantes/pessoas que convivem com HIV: - VDRL mensal até o fim da gestação ou por 6 meses » Nunca se deve dosar VDRL imediatamente após o tratamento DERMATOLOGIA LUCAS SANTANA – MEDICINA UFMA Sorologias, em qual momento da manifestação devo solicitar? ▪ Microscopia de campo escuro e outros exames diretos: sífilis primária, no momento em que se manifesta o cancro; já na secundária é pouco útil ▪ FTA-abs: pode positivar até antes das manifestações, mas em média, junto com as primeiras manifestações. A positividade mantém- se constante pelo resto da vida do indivíduo ▪ VDRL: geralmente apresenta positividade um pouco após o aparecimento do cancro, tendendo a diminuir sua sensibilidade no decorrer do tempo. Pode tornar-se negativa na sífilis terciária Fluxograma do Ambulatório de Dermatologia do HU-UFMA Nota: ▪ Deve-se notificar compulsoriamente a Sífilis apenas quando confirmada * A Sífilis latente recente corresponde ao paciente que possui, no momento do exame, um teste VDRL negativo e um VDRL posteriormente positivo no período inferior a um ano (12 meses) * A Sífilis latente tardia refere-se ao paciente que possui, no momento do exame, um teste VDRL negativo e um VDRL posteriormente positivo após o período de 2 anos (24 meses) * A sífilis indeterminada refere-se ao paciente que possui, no momento da consulta um VDRL positivo e que não apresenta sintomas. No esquema, é tratado como sífilis tardia.
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